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RESUMO INFORMATIVO DO TEXTO “RACISMO E SEXISMO NA CULTURA

BRASILEIRA”, DE LÉLIA GONZALEZ

Resumido por Gustavo Carvalho da Silva.

GONZALEZ, Lélia. Racismo e sexismo na cultura brasileira. In: Revista Ciências Sociais
Hoje. São Paulo: ANPOCS/Cortez, 1984. pp. 223-244.

Resumo: Lélia Gonzalez, em seu artigo científico “Racismo e sexismo na cultura brasileira”
(1984), objetiva indagar sobre como a mulher negra é situada e identificada no discurso do mito
da democracia racial sob a articulação violenta dos fenômenos de racismo e sexismo e a partir
das noções de mulata, doméstica e mãe preta. A autora inicia ironizando a identificação do
dominado com o dominador e informa que o artigo tentará indagar o porquê dessa identificação.
De seu lugar como mulher negra, interpreta que o racismo se constitui como a sintomática que
caracteriza a neurose cultural brasileira. Gonzalez (1984) busca suporte epistemológico na
psicanálise de Freud e Lacan, para os quais a análise se constitui nos descartes da lógica. Neste
sentido a autora questiona na ótica da psicanálise por que o negro é a parte que a lógica da
dominação tenta domesticar. A autoria ironiza a naturalização e a alienação do racismo.
Gonzalez fala das noções de consciência como lugar do encobrimento que tenta excluir,
esquecer a história da pessoa negra em um jogo, ou dialética, mas a memória, lugar da
emergência da verdade, o não-saber que conhece, fala através dos equívocos do discurso da
consciência. A segunda parte do texto traz o argumento que no momento do rito carnavalesco,
o mito da democracia é atualizado com toda sua força simbólica. Gonzalez constata que o mito
da democracia racial oculta sua violência simbólica sobre a mulher negra, pois o outro lado do
endeusamento carnavalesco ocorre no cotidiano dessa mulher, onde se transfigura na
empregada doméstica. A mulher negra é nomeada mulata ou doméstica a depender da situação
em que é vista. A autora apresenta a definição de mucama do Aurélio, chamando atenção para
o deslocamento do significado no dicionário que neutraliza, esvazia o sentido original
proveniente da língua quimbunda. Gonzalez cita dois textos e a partir destes constata que o
engendramento da mulata e da doméstica se fez a partir da figura da mucama. Neste sentido,
expõe que a doméstica é a mucama permitida, que suporta o peso da sua família e a dos outros
e está no lado oposto da exaltação; porque está no cotidiano. Exemplifica criticando a
discriminação de mulheres negras da classe média. A autora analisa Caio Prado Junior e
apresenta a expressão neurose cultural brasileira, observando que no momento em que fala de
alguma coisa, negando-a, ele revela como desconhecimento de si mesmo. Nessa perspectiva,
declara que ele nega o estatuto de sujeitos humanos e objetifica as pessoas negras. Para
Gonzalez, a empregada doméstica só faz cutucar a culpabilidade branca porque ela continua
sendo a mucama com todas as letras. Expõe também como o racismo camufla xingamentos que
se referem diretamente ao fato da pessoa se preta em “elogios”. Assim, esclarece o xingamento
negra suja, com origem em prática da vida sexual do homem branco. Gonzalez reproduz outro
trecho do livro de Caio Prado Junior e conclui que ele desteta a pessoa negra e está afirmando,
esquecidamente, que o amor da senzala só realizou o milagre da neurose brasileira, graças ao
desejo. A autora também mostra que a figura da “mãe-preta” é a verdadeira mãe, porque a
branca, na verdade, é a outra. E assim, essa mãe, nos passa o que chamamos de linguagem, e
graças ao que ela passa, a pessoa negra entra na ordem da cultura, porque é ela quem nomeia o
pai. Na terceira e última parte do texto, Gonzalez entende que uma série de falas contra o negro
são como modos de ocultação, de não assunção da própria castração e questiona o cunho
pejorativo e negativo associado verbete negro ou preto, questionando também a vergonha que
o racismo brasileiro tem de si mesmo. A autora indica que o discurso da consciência quer impor
a crença de que todos são brasileiros, de ascendência europeia e culmina no orgulho de afirmar
uma democracia racial e se contradiz quando se nega essa afirmação e responde xingando a
própria pessoa negra de racista. Gonzalez assinala que diferentes lugares da cultura brasileira
são caracterizados pela presença do elemento africado, termo apresentado por M. D. Magno, e
que os hospícios, as prisões e as favelas são lugares privilegiados da culpabilidade enquanto
dominação e repressão e essa culpabilidade é colocada em prática através da chamada ação
policial. Por fim, a autora destaca que a batalha discursiva, em termos de cultura brasileira, foi
ganha pelo negro e o europeu, branco dominador, desbancando do lugar do pai, só pode ser,
como diz Magno, o tio ou o corno; do mesmo modo que a europeia acabou sendo a outra.

Palavras-chave: Neurose cultural brasileira. Racismo. Sexismo. Mulher negra. Mito da


democracia racial.

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