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Resumos de TRI I
Resumos de TRI I
Antes das Grandes Guerras, o Mundo era muito estatocêntrico. Atualmente, há muitos
atores internacionais: OI’s, corporações, sociedade civil, indivíduos, terroristas, etc. Os
atores não são só nacionais, mas transnacionais, e variam em muitas categorias sociais.
Nas RI, os debates têm vindo a evoluir – são 4 grandes debates históricos:
- 1º debate (ontológico) – situa-se no período entre Guerras;
- 2º debate (epistemológico) – situa-se nos anos 50 e 60 e vai-se consolidando até hoje;
- 3º debate (interparadigmático) – começa a consolidar-se nos anos 60, 70 e 80;
- 4º debate (pós-positivista) – surge na década de 90 e ainda hoje está a desenvolver-se.
Construtivismo
Para os Construtivistas, é impossível prever as acções dos Estados pois estes não se
conduzem apenas por motivações racionais. No Construtivismo, existe um debate
agência/estrutura: as teorias neo-realista e neo-liberal concentram-se na estrutura, mas
o construtivismo foca-se nos agentes, enfatizando os processos de interacção social.
No entanto, agente e estrutura são co-constitutivos, nenhum precede o outro. Afastam-
se da questão da antecedência ontológica pois ambos se influenciam e determinam.
Os agentes estão sujeitos às normas da estrutura, mas a estrutura também é influenciada
e moldada pelos agentes.
Teoria Crítica
A sociedade civil, que para os realistas não tem qualquer poder, para Gramsci tem
enorme relevância. A sociedade civil constitui redes formais e informais, instituições e
práticas culturais que medeiam e servem de intermediárias entre o indivíduo e o Estado.
Considere-se as igrejas, escolas, organizações de cariz social, etc etc.
Mas o consentimento é recriado através de hegemonia nas instituições da sociedade
civil, ou seja, a sociedade civil é vista como uma arena onde movimentos hegemónicos
e contra-hegemónicos competem entre si. É um ator com agência, mas também uma
arena.
A Teoria Crítica é, assim, uma extensão da crítica social ao sistema internacional, mas
também uma reacção ao trabalho realista de Kenneth Waltz (à sua teoria tradicional).
Robert Cox diz: “A teoria é sempre para alguém e com algum propósito”. Defende,
assim, a subjectividade das teorias e, para além disso: rejeita a imutabilidade das
estruturas (acredita na possibilidade de mudança); sublinha a existência de tendências
contra-hegemónicas; defende a emancipação (“freeing people from those constraints
that stop them carrying out what freely they would choose to do”).
Cox afirma ainda que toda a realidade muda e que, à medida que ela se transforma,
velhos conceitos têm de ser ajustados ou rejeitados e novos conceitos devem ser
forjados num diálogo entre o teórico e o mundo real/mundo prático que ele tenta
compreender.
A teoria pode servir 1 de 2 propósitos: ou ser um guia para ajudar a resolver os
problemas impostos por uma determinada perspectiva através da qual se vê a realidade;
ou ter um propósito mais reflexivo, relacionado com a origem da própria teoria. Por
quem é que ela foi criada? Em que contexto (temporal, social, cultural? Para quê? O
primeiro propósito dá origem à problem-solving theory; o segundo à critical theory.
Cox pergunta-se ainda como é que o Marxismo se relaciona com uma teoria de ordem
mundial. Distingue duas vertentes: o materialismo histórico (que funciona com base na
história e procura explicar/promover mudanças nas relações sociais); e o marxismo
estrutural (que ignora a moldura histórica a favor de uma conceptualização mais estática
do modo de produção).
O materialismo histórico é tido como uma fonte muito importante para a Teoria Crítica,
pois corrige o neo-realismo em 4 aspectos principais:
a) Dialética. Tanto o realismo como o materialismo histórico prestam atenção ao
tema dos conflitos. O neo-realismo vê o conflito como inerente à condição humana e
um fator constante que deriva directamente da essência humana que busca
permanentemente o poder. O materialismo histórico vê no conflito o processo de
redefinição contínua da natureza humana e a criação de novos padrões de relações
sociais que mudam as regras do jogo social.
b) ao focar-se no imperialismo, o materialismo histórico acresce uma dimensão
vertical de poder à dimensão horizontal de rivalidade entre os Estados mais poderosos,
que é a perspectiva principal do neo-realismo. Esta dimensão é a de dominação e
subordinação do centro sobre a periferia.
c) o materialismo histórico expande a perspectiva realista através da sua
preocupação com a relação entre Estado e sociedade civil. Os marxistas dividem-se
entre aqueles que vêem o Estado como uma mera expressão dos interesses particulares
da sociedade civil e aqueles que vêem o Estado como uma força autónoma que exprime
uma determinada forma de interesse geral.
d) O materialismo histórico centra-se no processo de produção como um
elemento crítico na explicação da forma histórica particular que assume o complexo
Estado/sociedade. O neo-realismo, em contraste, ignora quase totalmente o processo
produtivo.
Feminismo
2 – Tickner salienta que, nos anos 70, o debate sobre as diferenças Norte-Sul,
especialmente sobre a justiça global, não era um dos debates mais populares no campo
das RI (o que é interessante se considerarmos que nos encontrávamos no período de
descolonização ou logo após). Também aponta que, nos anos 80, quando começou a
ensinar, as RI eram maioritariamente populadas por homens. As RI teriam, por
conseguinte, um pendor provavelmente realista e conservador, que necessitava ainda de
contributos futuros como o construtivismo ou a teoria crítica de Cox.
(Estes contributos traduzir-se-iam inclusivamente em factores como a definição de
género, que o construtivismo veio classificar como uma construção social).
3 – Salienta a predominância das perspectivas americanas no estudo das RI e como é
positivo e importante procurar contribuições dos estudos sobre as RI não-ocidentais.
5 – Tickner afirma que, como os debates mainstream no campo das RI ainda não
incluem muito as perspectivas feministas, certos mal-entendidos que dividem as/os
feministas e os teóricos tradicionais das RI continuam a proliferar. Em debates sobre as
perspectivas feministas, Tickner nota que a maior parte dos participantes são feministas.
Ora, se se tem interesse em eliminar mal-entendidos, é necessário que outras partes
(nomeadamente aquelas que absorvem esses mal-entendidos) estejam envolvidas nos
debates com os/as feministas, para poder desconstruí-los.
O primeiro mal-entendido que Tickner refere é o da própria noção de género. Neste
sentido, não foram as teorias tradicionais de RI que trouxeram contribuições para a
compreensão deste conceito, mas sim teorias progressistas como, nomeadamente, o
construtivismo. O construtivismo defende que o género é uma construção social, tal
como os próprios Estados, atores internacionais, etc, o que cria toda uma nova dimensão
de debate sobre o que é o género e como deve ser encarado nas ciências sociais.
Em relação ao segundo mal-entendido, Tickner refere que tem começado a haver uma
maior contribuição de estudos feministas para as RI porque os acontecimentos do
mundo real (relacionados com violência sexual, tráfico e direitos humanos) têm
chamado a atenção para as perspectivas feministas. Ora, isto comprova que as RI só têm
a ganhar (com novas contribuições, novas perspectivas e novas teorias) ao estudarem a
prática, o mundo real, “o que se passa no terreno”, em vez de se concentrarem apenas
em debates teóricos, substantivos e metodológicos, como Tickner referiu anteriormente.
Pós-Colonialismo
Esta teoria assume que a soberania moderna emergiu na Europa e foi depois exportada
para o resto do Mundo. Hobson contesta esta ideia, falando do papel fundamental
desempenhado pelo Oriente e pela “descoberta” do novo Mundo na emergência dos
Estados soberanos modernos. Hobson mostra que não é o Estado soberano que veio
primeiro, e depois foi globalizado, mas sim que a globalização foi uma pré-condição
necessária para a ascensão da soberania; que a globalização que fez a soberania possível
foi uma globalização oriental, centrada nas rotas comerciais do Leste asiático
muçulmano e da China, com o pequeno continente Europeu ligado a elas. Estas ligações
deram à Europa acesso a recursos materiais, tecnológicos e intelectuais que se
mostraram de central importância para a emergência de Estados soberanos na Europa.
Construtivismo:
2 – Nomes de referência são Nicholas Onuf ou Alexander Wendt. Onuf defende que os
Estados são seres sociais tal como nós, indivíduos. Eles são socialmente construídos,
com identidades subjectivas que dependem do contexto e do sujeito que as interpretam.
Wendt contesta o materialismo, defendendo que as interacções entre indivíduos são
mais culturais do que materiais. Não nega a existência ou o poder de fatores materiais
(como as armas nucleares) mas afirma que “entendimentos partilhados”, ideologias,
culturas e poderes discursivos são mais influentes (exemplo das 500 armas nucleares
britânicas e 5 armas nucleares norte-coreanas).
3 – Contributos do construtivismo:
1. Agente e estrutura são co-constitutivos, influenciam-se mutuamente.
2. A anarquia internacional é um conceito subjectivo. (Direito Internacional)
3. As identidades são subjectivas. (EUA e as suas várias identidades).
4. As normas e as práticas sociais têm mais poder do que o poder material.
(Realismo vê poder material, militar e económico; construtivistas vêem poder
discursivo)
Teoria Crítica:
1 – É uma teoria que surgiu do descontentamento com a realidade – Escola de
Frankfurt, autoritarismos crescentes na URSS, fascismos em ascensão na Europa
(1923). Tem influências do Marxismo, de Gramsci, Cox, Linklater, Horkheimer,
Adorno, Erich Fromm, Herbert Marcuse, Habermas…
Feminismo:
2 – A inclusão das teorias feministas no estudo das RI pode trazer vários contributos. 3
são os principais:
1 – como Sandra Harding defende (e Tickner explora), o conhecimento depende
sempre do sujeito investigador/questionador. Se, nas RI, a maior parte das pesquisas e
questões têm sido feitas e colocadas por homens, então o foco tem sido a vertente
masculina. Logo, a adição do conhecimento feminino à esfera de conhecimento
masculino pode proporcionar um quadro mais completo e realista da sociedade.
2 – como Tickner defende, termos como “racionalidade”, “objectividade”,
“público” e “forte” são associados ao género masculino, e termos como
“subjectividade”, “emocionalidade”, “privado” e “fraco” são associados ao género
feminino. Esta polarização opõe os géneros, criando estereótipos que são prejudiciais
não só para as mulheres, mas também para os homens.
3 – pela sua própria natureza, o feminismo permite a luta pela emancipação de
diferentes categorias sociais oprimidas: gays, negros, pobres, Sul Global, etc. Se a sua
principal preocupação é a desigualdade de género, esta não é mais do que uma
desigualdade de direitos/inferiorização de um grupo perante outro. E os temas centrais
que trata (discriminação, opressão, objectificação, patriarcado, estereótipos, estética,
etc) são associáveis a diferentes grupos sociais, não só a questões de género.
Pós-Colonialismo:
6 – John Hobson chama a esta versão dominante dos acontecimentos históricos “a teoria
eurocêntrica do Big Bang da política mundial”. Contesta a ideia de que a soberania dos
Estados emergiu primeiro na Europa e daí foi globalizada para o resto do Mundo, e
defende que, na realidade, a globalização veio primeiro, para depois permitir a
emergência da soberania estatal. Fala do Oriente como jogador fundamental neste
quadro, sendo as rotas comerciais muçulmanas, asiáticas e chinesas as responsáveis
pelos contactos iniciais com uma Europa mais pequena e menos relevante, que aí terá
ganho recursos materiais, tecnológicos e intelectuais para se desenvolver e permitir a
ascensão de Estados soberanos.