Diante dos evidentes impactos negativos da ação humana na natureza,
a preocupação com o desenvolvimento sustentável tem se tornado cada vez mais frequente em vários setores, inclusive na arquitetura. Arquitetura sustentável é a prática de projetar com o objetivo de minimizar o impacto ambiental das construções. Não é novidade dizer que o setor da construção civil é um dos que mais impacta o meio-ambiente pré e pós-ocupação. No Reino Unido, por exemplo, cerca de metade das emissões de carbono (co²) são provocadas pelos edifícios. No mundo todo, a arquitetura é responsável por 40%-50% dos resíduos em aterros e por 20%-30% da emissão de gases que intensificam o efeito estufa. A construção civil é responsável por mais de 35% do uso de energia e 40% da emissão de gases relacionados ao uso dessa energia. O uso de energia solar, materiais recicláveis e estruturas pré-moldadas são alguns dos exemplos de ações sustentáveis na arquitetura.
2. VANTAGENS
a) Preservação do meio ambiente:
O setor da construção civil é um dos principais responsáveis pelos
impactos ambientais no mundo. Segundo dados do Conselho Brasileiro de Construção Sustentável, o setor consome 75% dos recursos naturais, 20% da água nas cidades e gera 80 milhões de toneladas/ano de resíduos. b) É mais justa socialmente: A construção de um ambiente sustentável traz autonomia às comunidades, já que elas se tornam capazes de satisfazer as suas próprias necessidades sem depender de terceiros. c) Traz maior bem-estar e benefícios para a saúde: Além de reduzirem a quantidade de poluição, que certamente tem impacto na saúde de todos ao redor, esse tipo de construção melhora a saúde física e mental e o bem-estar dos ocupantes e da vizinhança. d) É mais eficiente: Essas construções se preocupam com a eficiência energética e hídrica, além de focar na diminuição dos desperdícios de materiais e nas distâncias que eles percorrem para chegar na obra. e) É um investimento: Edificações sustentáveis têm maior valor no mercado imobiliário. Para quem compra ou aluga, além de colaborar com as práticas de ESG (Governança Ambiental, Social e Corporativa), a redução de custos operacionais é um grande atrativo. Com fontes de energia limpa e reciclagem de água o custo com energia e água, por exemplo, caem consideravelmente. (Fonte: EXAME).
3. ECOLOGIA E ARQUITETURA
Apesar da similaridade entre os termos arquitetura ecológica e
sustentável, existem algumas diferenças entre os conceitos. Esses dois tipos de arquitetura não são antagônicos, mas sim complementares. As construções de casas, edifícios e estabelecimentos podem ser ecológicas e sustentáveis – mas não serão sustentáveis sem serem ecológicas. (ECOTELHADO, 2021). O termo ecologia, segundo o dicionário, significa “ciência que estuda as relações dos seres vivos entre si ou com o meio orgânico ou inorgânico no qual vivem”. (ECOTELHADO, 2021). A arquitetura ecológica, portanto, preza pela integração das construções com o meio ambiente, no intuito de causar o mínimo de impacto possível. Já a arquitetura sustentável, assim sendo, refere-se ao cuidado em preservar a natureza e minimizar os impactos no meio ambiente, mas de forma que as construções sejam altamente duráveis. (ECOTELHADO, 2021). Esse tipo de arquitetura conta com materiais naturais como bambus e tijolos ecológicos, por exemplo; sistemas de captação de água da chuva, iluminação e ventilação natural, telhados verdes, jardins verticais, painéis de energia solar e sistemas de energia eólica. (ECOTELHADO, 2021). 3.1 Projeto no Brasil
A Casa 1, localizada no Rio de Janeiro, faz parte de um projeto-piloto
do Movimento Terras, focado na sustentabilidade, o projeto é reconhecido como pioneiro. “Ele representa a primeira vila ecológica implantada em uma região de loteamentos com infraestrutura e licenciamentos, dotada de parâmetros ambientais compatíveis com a realidade atual”, explica o arquiteto Sérgio Conde Caldas, titular do escritório Sérgio Conde Caldas Arquitetura. (VICTORIANO, 201?). A Casa 1 é sustentável não apenas ecologicamente, mas também por iniciar um movimento de melhorias para a região. O arquiteto conta que a partir dessa iniciativa, a região poderá começar a ser vista como um local receptivo a outros projetos ambientalmente corretos. (VICTORIANO, 201?). Os requisitos sustentáveis da Casa 1 começam desde a construção, com vigas e pilares moldados com aço especial, feito com 82% de sucata do metal. Os tijolos que compõem as paredes são feitos de barro prensado, com blocos produzidos sem queima. (VICTORIANO, 201?). Os revestimentos utilizados no interior da casa foram produzidos utilizando 25% de material reaproveitado. Exemplo disso são as pastilhas (3 x 3 cm) dos banheiros íntimos, que possuem em sua composição estilhaços de lâmpadas fluorescentes. E, para auxiliar no funcionamento da residência, a chuva é captada e reaproveitada para regar as plantas. Já os dejetos são recolhidos na fossa séptica capaz de tratar até 90% da água, que, limpa, volta ao meio ambiente. (VICTORIANO, 201?).
4. ECOURBANISMO
Urbanização designa o processo pelo qual a população urbana cresce
em proporção superior à população rural. Não se trata de mero crescimento das cidades, mas de um fenômeno de concentração urbana; portanto, um fenômeno moderno da sociedade industrializada. O planejamento urbano surge no final do século XIX na Inglaterra com o intuito de resolver problemas das metrópoles industriais. (ECOURBANISMO, 2018). A primeira abordagem do planejamento urbano focou-se na reforma sanitária e na atuação voltada para o desenho urbano, ou seja, na estrutura física das cidades. (ECOURBANISMO, 2018). Assim, sustentabilidade passa a ser discutida a nível internacional, em uma série de conferências que ocorreram nas décadas seguintes. Dessas reuniões surge o ecourbanismo, um campo integrador do conhecimento em relação às aglomerações humanas, que busca possibilitar a conciliação entre a capacidade suporte do ambiente urbano e a prática de desenvolvimento da cidade. (HONORIO, 2019). Essas reuniões impulsionaram uma série de iniciativas dos governos para adaptar o planejamento e gestão urbanos às novas demandas socioambientais. Nesse sentido, observa-se que o ecourbanismo, em seus princípios e variáveis, só pode ser aplicado com sucesso se a incorporação de tecnologias verdes às estruturas urbanas ocorra concomitantemente ao desenvolvimento de políticas públicas, parcerias com a iniciativa privada e participação popular. (HONORIO, 2019). Durante o planejamento de um empreendimento sustentável, também é importante que exista uma melhor seleção do material utilizado, optando sempre pelos que possuem menor impacto ambiental. Estes materiais, inclusive, devem facilitar a sua reutilização. (PENSAMENTO VERDE, 2014). Trata-se de um desafio que precisa ser enfrentado por aqueles que buscam o crescimento por meio da construção civil. No entanto, também é necessário o auxílio de governos capazes de cooperar e gerir a administração destes novos conceitos. Um exemplo a ser seguido é a capital paranaense, Curitiba, que obteve o certificado de cidade mais sustentável do planeta, em 2010, graças a diversas iniciativas de sucesso no âmbito da sustentabilidade e, principalmente, no urbanismo, pois possui muitas áreas verdes e parques; 70% de todo o seu lixo é reciclado; o tráfego de automóvel diminuiu 30% nos últimos 20 anos mesmo com o aumento da população; e, segundo 99% de seus habitantes, é uma boa cidade para se viver. (PENSAMENTO VERDE, 2014).
5. ESCRITÓRIO MVRDV MVRDV é o nome da empresa, e esta sigla é uma junção das iniciais dos sobrenomes dos fundadores Winy Maas, Jacob van Rijs e Nathalie de Vries. O escritório fundado em 1993, que tem sede em Roterdam na Holanda, faz projetos arquitetônicos e urbanos contemporâneos pelo mundo inteiro. (CONTEÚDO, 2020). O escritório ficou bastante conhecido na arquitetura mundial após a construção do WoZoCo’s um conjunto habitacional no subúrbio de Amsterdã. O projeto deveria abranger muitos apartamentos para idosos, em um projeto com restrições urbanísticas de altura e taxa de ocupação do solo. Contudo a solução criada por eles foram apartamentos em balanço na estrutura, como caixas que saem do corpo principal do prédio e flutuam muitos metros acima do solo, conseguindo assim acomodar todos os apartamentos requisitados. O uso de vidro colorido nas varandas certamente criou uma identidade para cada apartamento e coloriu a fachada de maneira elegante. (CONTEÚDO, 2020). A nova criação do escritório holandês está composta por sete edifícios residenciais sustentáveis na Ilha de Oostenburg, a leste do centro da capital. A proposta desenvolvida pela equipe do MVRDV organiza os edifícios paralelamente como em um 'código de barras' verde, dando forma a um conjunto coeso porém diverso, conformado por distintos acabamentos de fachadas como madeira, vidro, tijolo reciclado além de integrar compostos de origem orgânica e biológica. (STOUHI, 2021). Os edifícios escalonados vão crescendo em altura até culminar em uma torre em uma das extremidades. As coberturas dos edifícios mais baixos incluirão diversos jardins acessíveis, como um pomar de maçãs e outros espaços para a prática da agricultura urbana. Essa infra-estrutura verde, de modo geral, permitirá equilibrar e balancear as emissões de gases derivados do carbono—uma abordagem holística e sustentável. A equipe de arquitetos responsáveis também esteve focada em garantir que o projeto do plano diretor fosse desenhado para as pessoas, pensando sempre no bem estar e na qualidade de vida de toda a comunidade. (STOUHI, 2021). Abrangendo uma área de praticamente 14.000 m2, o empreendimento consistirá em 144 unidades habitacionais, mais de 1.000 m2 de espaços comerciais e serviços, incluindo um mercado orgânico, um pequeno cinema privado e uma “fábrica de impacto social”. A construção está prevista para começar no final de 2022. (STOUHI, 2021). 6. ARQUITETURA VERNACULAR
A arquitetura vernacular corresponde a uma forma de se construir a
partir de conhecimentos empíricos, e decorre a partir das condições locais e dos materiais disponíveis na região, ou seja, “é influenciada por condições geográficas, climáticas, por aspectos culturais específicos e, por esse motivo, sua manifestação ocorre de maneira diferenciada e singular em diversas partes do mundo” (WEBER; YANNAS, 2014; SINGH, 2008). Esse modo de se construir data-se dos primórdios da humanidade, e a partir do processo de sedentarização, se tornou ainda mais utilizada. Entretanto com a evolução dos materiais, a invenção do cimento, e a evolução dos métodos construtivos, a arquitetura vernacular caiu em desuso e começou a ser relacionada à algo decadente. Com o crescimento das técnicas construtivas mais elaboradas, veio em conjunto o crescimento da degradação do meio ambiente, tanto devido a exploração cada vez maior dos recursos naturais sem a devida reposição, quanto a inserção de elementos industrializados que geram resíduos cujos quais a natureza não consegue se livrar rapidamente. É perante a esses fatos, que atualmente tem-se conferido uma necessidade de reinventar a forma de se construir, trazendo a tona então as chamadas bioconstruções, que combinam materiais de baixo impacto ambiental, o tratamento dos resíduos e a re- implementação da arquitetura vernacular no nosso cotidiano visto que, não só traz uma maior sustentabilidade (as condições bioclimáticas são exemplos de tal), como também relembra a população de um aspecto de sua cultura (eco- cultura). Posto que, a arquitetura vernacular depende das condições regionais, e lembrando que além de extenso territorialmente, o Brasil, tem diferentes biomas e foi ocupado por diferentes povos, é possível verificar a presença de diferentes técnicas construtivas em todas as regiões. No sul, por exemplo, podemos presenciar o enxaimel. Já na região norte, especificamente na Amazônia, ocorrem as casas flutuantes e as palafitas. No sudeste os opys, o pau-a-pique e a taipa de pilão, que também ocorriam no nordeste em conjunto do adobe. No centro-oeste, a arquitetura indígena, a taipa e algumas palafitas também. Um dos nomes importantes que surgiram hoje quando se fala sobre arquitetura vernacular em âmbito mundial é o Diébédo Francis Kéré, arquiteto burquinês e primeiro ganhador negro do Pritzker. Nasceu em 1965 em Gando na Burkina Fasso. Formou na Technische Universität Berlin após ganhar uma bolsa de estudos.
6. MATERIAIS SUSTENTÁVEIS
Para além da necessidade de uma técnica construtiva que seja
sustentável, outro recurso que vem sendo estudado para a aplicabilidade, são os chamados materiais sustentáveis, que buscam diminuir os impactos ambientais, ou diminuindo a necessidade do processo industrial (a queima), ou diminuindo a produção de resíduos. 1. ADOBE: Tijolo de terra crua, água, fibras naturais (esterco de vaca). Sua principal vantagem é seu cozimento no sol, dispensando assim as queimas industriais, além da boa isolação térmica. Sua desvantagem está na necessidade de se proteger de muita umidade e da chuva, além de não suportar construções de mais do que um patamar. 2. TIJOLOS SUSTENTÁVEIS: São vários tipos na verdade. Tem o solo- cimento, constituído de cimento+água+cimento compactado por prensa manual ou hidráulica. Tem o btc que segue a mesma idéia do adobe porém não passa pelo processo de queima.em Nairóbi, a engenheira de materiais Nzambi, criou um tijolo 7 vezes mais forte que o concreto, feito de resíduos de plástico e areia. 3. TIJOLO RESPIRÁVEL 4. TELHA ECOLÓGICA: São de vários tipos também. Tem o de fibra vegetal, fabricados a partir de madeiras como eucalipto, pinho, bananeiras, ou de coco. Telha de garrafa pet, feita de garrafas recicladas. Telha tetrapak feitas de caixa de leite. E a de papelão, que é a mais conhecida. 5. OUTROS ESTUDOS: Em Nairóbi, a engenheira de materiais Nzambi, criou um tijolo 7 vezes mais forte que o concreto, feito de resíduos de plástico e areia. Professora Doutora Mariana Felicetti Rezende desenvolveu uma pesquisa sobre a possibilidade da troca do cimento portland pela cinzas de bagaço da cana de açúcar.
REFERÊNCIAS
CA2. Arquitetura Sustentável - O que é, vantagens e como projetar. Disponível
em: https://ca-2.com/arquitetura-sustentavel-o-que-e-quais-suas-vantagens-e- como-projetar/ Acesso em 02 de junho de 2022. CONTEÚDO. O criativo escritório holandês MVRDV. Disponível em: https://somosconteudo.com.br/mvrdv/#:~:text=MVRDV%20(%40mvrdv) %20%C3%A9%20o,urbanos%20contempor%C3%A2neos%20pelo%20mundo %20inteiro. Acesso em 13 de junho de 2022. ECOTELHADO Design Biofílico. Veja a diferença entre arquitetura ecológica e sustentável. Disponível em: < https://ecotelhado.com/veja-a-diferenca-entre- arquitetura-ecologica-e-sustentavel/> Acesso em 07 de junho de 2022. ECOURBANISMO. Como surge o planejamento urbano. Disponível em: https://cirandas.net/ecourbanismo/blog/como-surge-o-planejamento-urbano Acesso em 13 de junho de 2022. IAS. Arquitetura Sustentável: O que é e quais as vantagens?. Instituto Agua Sustentável. Disponível em: https://www.aguasustentavel.org.br/conteudo/blog/148-arquitetura-sustentavel- o-que-e-e-quais-as-vantagens Acesso em 02 de junho de 2022. HONORIO, Suzana. Estudo da Relação do Ecourbanismo com os planos diretores municipais: O caso de Araraquara – SP. Orientador: Prof. Dr. Luiz Antônio Nigro Falcoski. 2019. 148 f. Dissertação (Mestrado) – Engenharia Urbana, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2019. Disponível em: https://repositorio.ufscar.br/bitstream/handle/ufscar/12085/Disserta %c3%a7%c3%a3o%20Suzana%20Final.pdf?sequence=1&isAllowed=y Acesso em 13 de junho de 2022. PENSAMENTO VERDE. Urbanismo Sustentável no Brasil. Disponível em: https://www.pensamentoverde.com.br/sustentabilidade/urbanismo-sustentavel- brasil/ Acesso em 13 de junho de 2022. STOUHI, D. MVRDV apresenta novo projeto de bairro sustentável para a cidade de Amsterdã. ArchDaily. Disponível em https://www.archdaily.com.br/br/963457/mvrdv-apresenta-novo-projeto-de- bairro-sustentavel-para-a-cidade-de-amsterda Acesso em 13 de junho de 2022. VICTORIANO, G. Pautada pela Sustentabilidade. Galeria da Arquitetura. Disponível em: https://www.galeriadaarquitetura.com.br/projeto/sergio-conde- caldas-arquitetura_/movimento-terras-casa-1/1960 Acesso em 13 de junho de 2022.