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- Entre os meados do século XIX até as últimas décadas do século XX, os estudiosos do processo
civil defenderam a sua existência de forma completamente autônoma ao do direito material,
exacerbando a sua existência para um fim em si mesmo. A evolução do estudo do direito processual
civil levou sua existência a aproximar-se do direito material, tendo em vista que o processo existe
como forma de “concretização do direito material”. Ou seja, o direito processual civil não existe
para servir a si próprio, mas para auxiliar a concretizar, a tornar real o direito material, para fazê-lo
acessível a quem de direito.
No CPC/73 era perceptível a ideia do direito processual civil como um fim em si mesmo, isolado do
direito material, uma vez que várias eram as lacunas processuais que resultavam na extinção do
processo, sem qualquer tentativa de preservação daquele por meio do saneamento de aludido vício.
O CPC/2015, por sua vez, fruto da evolução da doutrina processualista, traz a nova perspectiva do
direito processual civil, voltada para auxiliar na concretização do direito material, visa, sempre que
possível, o saneamento das lacunas processuais e a preservação do processo. Não podemos esquecer
que se o processo for extinto sem resolução do mérito, o litígio persistirá no seio da sociedade, de
modo a não existir efetivamente a prestação jurisdicional. Vejamos:
Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código, incumbindo-
lhe:
IX - determinar o suprimento de pressupostos processuais e o saneamento de outros
vícios processuais;
Art. 317. Antes de proferir decisão sem resolução de mérito, o juiz deverá conceder à
parte oportunidade para, se possível, corrigir o vício.
- Segundo Cassio Scarpinella Bueno, “...não tem sentido estudar o direito processual civil se
não na perspectiva de viabilizar a concreta prestação da tutela jurisdicional a quem faz jus a ela na
perspectiva do plano material”. Assim, é imprescindível entendermos que “... tão importante quanto
o reconhecimento do direito aplicável ao caso é torna-lo realidade, mesmo contra ou a despeito da
vontade de seu destinatário. É, portanto, concretizá-lo”.
- Aquele doutrinador menciona que quatro institutos fundamentais precisam ser observados
quando do estudo do direito processual civil, são eles: a jurisdição, a ação, o processo e a defesa.
a) Jurisdição – é a função típica do Poder Judiciário, voltado para dirimir conflitos brotados no seio
da sociedade. É o dever-ser de prestar tutela jurisdicional a todo cidadão.
1 CINTRA, Antônio Carlos de Araújo. GRINOVER, Ada Pellegrini. DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria geral do
processo. São Paulo: Malheiros, 2010, p. 132.
2 BUENO, Cassio Scarpinella. Manual de direito processual civil: volume único. 4ª. ed. São Paulo: Saraiva, 2018, págs.
74 e 75.
- Visa alcançar, ao seu final, declarar a existência ou inexistência do direito material afirmado
pelo demandante, através da concessão de uma tutela jurisdicional concedida ao autor, ou mesmo
ao réu, a depender do resultado do processo.
- Existência de processos que não são judiciais (processo administrativo, processo legislativo,
processo disciplinar);
d) Defesa – direito subjetivo público de o réu pedir ao Estado-juiz, tutela jurisdicional (pedido de
proteção a um direito lesado ou ameaçado).
Se ao autor resta assegurado o direito constitucional de ação, previsto no art. 5º, inc. 35 da CF/88,
ao réu, por sua vez, resta assegurado, em contrapartida, o direito a ampla defesa, inc. LIV da CF/88.
PROCESSO DE CONHECIMENTO
- Processo de conhecimento (fase cognitiva + fase executiva – esta última conhecida no direito
brasileiro por cumprimento de sentença).
• Fase cognitiva – análise de alegações e provas.
• Fase de cumprimento de sentença – fazer ser cumprida a decisão judicial, caso a parte
vencida não cumpra sua obrigação espontaneamente. Possibilidade de constrição
patrimonial (penhora) e pessoal (prisão civil).
- Daí, existem procedimentos mais céleres e outros mais longos, objetivando, em todos os casos, a
concessão de uma tutela estatal ao final.
Ex.: no procedimento do mandado de segurança, por tutelar direito líquido e certo, não se admite
produção de provas e requer um procedimento mais célere, considerando a natureza do direito
tutelado. De modo contrário, caso a parte não consiga provar de plano e documentalmente seu
direito, fazendo-se necessário a produção de provas por outros meios (que não apenas o
documental), precisará lançar mão do procedimento comum.
- Conforme dispõe o art. 318 do Código de Processo Civil, o procedimento comum é aplicável em
todas as causas, constituindo-se num procedimento padrão.
- Os procedimentos especiais estão elencados entre os arts. 539 a 770 do Código de Processo Civil.
- Os procedimentos especiais têm regras próprias acerca da realização dos atos processuais.
- Se a causa a ser ajuizada tiver procedimento especial tipificado no CPC, o autor deverá observálo;
mas, se não tiver procedimento específico, a causa tramitará pelo procedimento comum, que é a
regra geral.
- Na hipótese de, por equívoco, for ajuizada a demanda pelo procedimento comum, quando houver
procedimento especial próprio, o juiz determinará a emenda da petição inicial para se adequar ao
procedimento correto, sob pena de extinção sem resolução do mérito.
- Petição Inicial
- Despacho inicial
- Fase de saneamento (o juiz irá preparar o processo para seguir para a fase de instrução/probatória)
Art. 364. Finda a instrução, o juiz dará a palavra ao advogado do autor e do réu, bem
como ao membro do Ministério Público, se for o caso de sua intervenção,
sucessivamente, pelo prazo de 20 (vinte) minutos para cada um, prorrogável por 10
(dez) minutos, a critério do juiz.
§ 1o Havendo litisconsorte ou terceiro interveniente, o prazo, que formará com o da
prorrogação um só todo, dividir-se-á entre os do mesmo grupo, se não
convencionarem de modo diverso.
§ 2o Quando a causa apresentar questões complexas de fato ou de direito, o debate
oral poderá ser substituído por razões finais escritas, que serão apresentadas pelo
autor e pelo réu, bem como pelo Ministério Público, se for o caso de sua intervenção,
em prazos sucessivos de 15 (quinze) dias, assegurada vista dos autos.
- Sentença
Art. 366. Encerrado o debate ou oferecidas as razões finais, o juiz proferirá sentença
em audiência ou no prazo de 30 (trinta) dias.
- Petição Inicial
- Audiência
ADAPTAÇÃO PROCEDIMENTAL
- Vale lembrar que o processo (ou o direito processual civil) não é um fim em si mesmo, mas
existe para possibilitar o exercício da prestação jurisdicional pelo Estado. Logo, este pode adaptar-
se ao direito material discutido em juízo, respeitada a integridade e finalidade do processo como
meio de exercício da função jurisdicional.
NEGÓCIO PROCESSUAL
- Além da adaptação procedimental ajustada pelo juiz, o CPC possibilita, ainda, as partes, que
negociem entre si, de modo a alterar a ordem dos atos do procedimento comum ou até mesmo
excluir alguns (atos), para que o processo tramite observando os atos processuais previamente
definidos pelas partes, conforme disposto no art. 190.
Art. 190. Versando o processo sobre direitos que admitam autocomposição, é lícito
às partes plenamente capazes estipular mudanças no procedimento para ajustá-lo às
especificidades da causa e convencionar sobre os seus ônus, poderes, faculdades e
deveres processuais, antes ou durante o processo.
Parágrafo único. De ofício ou a requerimento, o juiz controlará a validade das
convenções previstas neste artigo, recusando-lhes aplicação somente nos casos de
nulidade ou de inserção abusiva em contrato de adesão ou em que alguma parte se
encontre em manifesta situação de vulnerabilidade.
- Regra inovadora e sem precedentes em nossa cultura processual, mas que pode contribuir muito
para o bom funcionamento da administração da Justiça. Exatamente por este motivo, a doutrina
diverge quanto a amplitude de questões a serem objeto da negociação processual. Para parte da
doutrina, como Cassio Scarpinella Bueno, as regras processuais voltadas ao modo de atuação do
Estado-juiz não podem ser objetivo de negociação, v.g., dilação de prazos (entende ser possível
redução), extinção da fase probatória (produção de prova oral, pericial).
- Poderá ser realizado somente por pessoas capazes e versar sobre direitos que admitam
autocomposição (não confundir com direitos indisponíveis, mas que admitem autocomposição,
como é o caso dos alimentos).
- Para evitar desiquilíbrio entre as partes e impedir que uma delas fique vulnerável, se faz
necessário que ambas as partes estejam acompanhadas de seu advogado (Enunciado nº 18 do
FPPC). Essa interpretação está de acordo com o princípio da isonomia processual (art. 7º do CPC).
- O negócio processual somente terá validade para as partes que participaram do mesmo (ou seja,
havendo litisconsórcio, todos os envolvidos (partes) precisarão pactuar ou anuir com o negócio
jurídico).
- Uma interpretação literal do art. 190 do CPC afastaria a possibilidade de se realizar negócio
processual nos casos em que a Fazenda Pública for parte. No entanto, a doutrina tem se
posicionado no sentido de dar à regra uma interpretação extensiva para abarcar, também, os casos
em que o Poder Público seja parte. Os Enunciados nº 253 e 256 do Fórum Permanente de
Processualistas Civis (FPPC) admitem, de maneira expressa, a possibilidade de realização de
negócio processual nos casos em que o Ministério Público e a Fazenda Pública, respectivamente,
são partes.
• pacto de impenhorabilidade;
• acordo de ampliação de prazos das partes de qualquer natureza;
• acordo de rateio de despesas processuais;
• dispensa consensual de assistente técnico;
• acordo para retirar o efeito suspensivo de recurso;
• acordo para não promover execução provisória;
• pacto de mediação ou conciliação extrajudicial prévia obrigatória, inclusive com a correlata
previsão de exclusão da audiência de conciliação ou de mediação prevista no art. 334;
• pacto de exclusão contratual da audiência de conciliação ou de mediação prevista no art.
334;
• pacto de disponibilização prévia de documentação (pacto de disclosure), inclusive com
estipulação de sanção negocial, sem prejuízo de medidas coercitivas, mandamentais,
subrogatórias ou indutivas;
• previsão de meios alternativos de comunicação das partes entre si;
• acordo de produção antecipada de prova;
• escolha consensual de depositário-administrador no caso do art. 866, §2º;
Art. 866. Se o executado não tiver outros bens penhoráveis ou se, tendo-os,
esses forem de difícil alienação ou insuficientes para saldar o crédito
executado, o juiz poderá ordenar a penhora de percentual de faturamento de
empresa.
§ 1o O juiz fixará percentual que propicie a satisfação do crédito exequendo
em tempo razoável, mas que não torne inviável o exercício da atividade
empresarial.
§ 2o O juiz nomeará administrador-depositário, o qual submeterá à
aprovação judicial a forma de sua atuação e prestará contas mensalmente,
entregando em juízo as quantias recebidas, com os respectivos balancetes
mensais, a fim de serem imputadas no pagamento da dívida.
§ 3o Na penhora de percentual de faturamento de empresa, observar-se-á, no
que couber, o disposto quanto ao regime de penhora de frutos e rendimentos
de coisa móvel e imóvel.
- As partes também podem realizar negócios processuais que não tenham sido previstos pelo
código, utilizando, para tanto, a regra do art. 190 - negócios processuais atípicos.
CALENDÁRIO PROCESSUAL
- O art. 191 do CPC autoriza o juiz e as partes a fixarem um calendário para a prática de atos
processuais.
- Pode ser realizada a partir de negócio processual ou em comum acordo entre as partes,
mesmo no âmbito do procedimento comum.
- Uma vez fixado o calendário para a prática dos atos processuais, as partes ficam a ele
vinculadas, não se admitindo modificação sem prévia justificativa (art. 191, §1º do CPC).
- Essa inovação processual trazida pelo CPC/2015 contraria a cultura processual brasileira,
pois dispensa a intimação das partes para os atos previstos na calendarização (art. 191, §2º do CPC).