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Resumo O texto bem organizade é refratdrig 4 auséncia de regras, bers come ao infinite das possibllidades ou 4 Lberdade total em relagSo a limites (GUIMARAES, 1993, p. 21). 1 Conceito de texto Para Orlandi (1987, p. 189), texto ¢ uma “unidade complexa de significa- ¢4o". E continua: Ortexto pode ter qualquer extensiio: pode ser desde uma simples palavra até um conjunte de frases, O que o define nao é sua extens3o mas o fato de que ele é uma unidade de signifieagia em. relagie 3 situacdo. E mais adiante, 4 pagina 180: “Texto é o lugar, o centro. comum que se faz no processo de interagao entre falante e ouvinte, autor ¢ leitor.” Assim, um Eragmento que trata de diversos a: Tk ode ser considerado texto. Da mesma forma, se The falta coer€ncia, se as idéias itérias, também nao constituira um texto. Se os elementos da frase tam a transic¢#o de uma idéia para owcra nfo estabelecerem coesio ‘entre as partes expostas, o fragmento néo se configura um texto, femme 133 _ Made nidde cota comin ~ so een pre extata dum O camaval carioca uma beleza, mas mascara, com seu lio, a miséria social, cans politica, o desequilfbrio que se estabelece entre o morro ea Sapucal, Embara vedes possam recomhecer os mérites de artistas plisticas que ali trabalham, e povo samba na avenida como um herdi de uma grande jornada, E acrescente-se: hd mani- festagdo em prol de processos judiclals contra sostumes que ofendem a moral ¢ agri- dem a religiosidade popular O carnaval carioca, porque se afasta de sua tradi¢3o, esta cormando-s¢ desgraciosa, disforme, feio. . Trata-se de um fragmento que no se constitui em um texto, Falta-lhe coe- réncia entre a afirtativa inicial € a final. A oragdo subordinada que se inicia com embora ndo apresenta coesdo em relagae a oragio principal; ndo é possivel enten- der 6 que esse "texto" quer dizer. Como ele apresenta varias informages, varias diregées (moral, politica, social, religiosa, estética), acaba por ndo constituir um todo. Nao h4 completude, inteireza, unidade. também ser constituide por um desenho, uma Luma figura. Neste ponto, pode-se lembrar da publicidade, que se vale da utilizagso de imagens para veicular idéias. Um texto ¢ mais ou menos eficaz dependendo da competéncia de quem o Preduz, ow da interagio de auter/leitor, ou emissor/receptor, O texto exige de- terminadas habilidades do produto, como conhecimenta do cédigo, das normas gramaticals que regem a combinagio dos signos. A comperéncia na utilizagio das signos possibilita melhor desempenho na elaboragao de um texto. 2 Contexto. basta a leitura do texto, é rodua: Assim, Preciso retomar os elementos do contexto, em que cle Num caso, o leitar busca o primeiro sentido produzido pelas oragGes; no outro, ¥asculha a visto de mundo que informa o texto. ASdRedugio Cienutica = bedelnos A produgio ¢ a recepgio de um texto este condicionadas & situagio; dal a import&ncia de o leitor conhecer as cifcunstiinelas ¢ o ambiente que motivaram a ma pode despertar determinadas ica Alvares de Azeveda, j4 prenuncia uma visio de mundo centralizeda no eu. Esta subjetividade e individualidade, caraetevisticas roménticas por exceléncia, junta com o tema sonho, também de matiz romiinticn, enderegam o leitor para uma atmosfera estética romantica. , para malor eficdcia da leitura que se imprime ao texto. Agora se exige uma postura ativa do leitor. O texto é entéo enriquecido, as vezcs reinventado, recriado, © conhecimento, por exemplo, do choque provocado pelas revolugdes politicas ¢ sociais do século XIX permite, muitas vezes, uma leirura mais adequada de textos ditos pessimistas, 0 proprio escapisme romantico pode ser lido como um desencante com relagdo 4s reformas propagedas, mas nao con- cretizadas. 3 Intertexto ———=7~~ A pardfrase’ pode ser ideolégica ou estrutural. No primeiro caso, 0 desvio é minimo: varia a sintaxe, mas as idéias sio as mesmas. H4 apenas uma recriaco das idéias, Pode-se entender a pardfrase idealégica como simples tradugio de va- edbulos, ou substituigdo de palayras por ourras de significado equivalente. Nesse caso, a pardfrase registra o menor desvio possivel em relagao a0 texto original. No segundo caso, hd uma recriagao da texto e do cont Didaticamente, para efeito de exercicio de pritica de redagio, pode-se falar em graus de pardfrase: primeiro grau {simples substituigo de palavras por au- 2 “Yer outras informagées no Capitulo 9. Resuey 185 tras de sentido equivalent}; segundo grau (resumo); terceiro grau (comenta- ries}; quarto grau (exposigdo de apreciagao, de juizo de valer). A estilizagaio exige recriagko do texto, considerando sobretude procedi- menitos estilisticos. O desvio em relagdo ao texto original é maior do qie no caso da pardfrase. Na parddia, o desvio é total; as vezes, invertem-se as idéias, vira-se o texto do avesso. H4 uma ruptura, uma deformacdo propasitada, tendo em vista mos- tara inocéncia do texto original, ou simplesmente apresentar outras idéias que © texto original omitiu ou nao se interessou em expor. A parédia tanto pode ser sétia come jocosa, ¢, em geral, ataca instituigées ¢ pessoas, como govern, poli- doos, clero, escola. 4 Elementos estruturais do texto io geral, 0 lo introdugio, um local ‘ilegiado para a negociactie com o Leiter. Exemplificando: ‘Nao é fieil escrever ou falar sobre seu proprio pai; no minimo se correrd 6 risco de ser sentimental, especialmente quando a perionagem teve a cstatura que Julio de Mesquita foi aos pauegs adquirindo mereé de sua agio © da difusio de seu pen- SAMENTO, UNDA € Out sempre polémics, marcando, came nao poderia deixar de sex, todos nds que crescemos sob o influxo de seus ensinamentos, ou vivendo 0 afasta- mento imposte pelo exilio, ou a angistia de no saber quando suas incursSes pela politica, que muitas vezes tinham fonteira com a revolugSo, o levariam de nova a prisie (O Estata de $. Paulo, So Paulo, 15 fev. 1992, Suplemento Cultura, p. 2). Nilo ¢ dificil admitir que a informagiio que vai de “nao é ficil escrever sobre seu proprio pai” até “sentimental” pertence ao saber partilhado. O emissor ne- gocia com o leitor, coloca-sé num nivel de entendimento, estabelece um acordo, para, em seguida, expor informagies novas, Sem ela, ‘hd faziio para o emissor escrever nada. Um texto sé se configura texto quando veicula uma informado que nia era do conhecimento do leitor, ou que nao o era da forma como serd exposta, o que implica, natural- mente, matizes novos e, col Gentemente, uma neva maneira de ver os fatos. ‘Alformaeio nos ne sie egies nln scm trate que o leisor faz com o ficcionista, Ninguém, ao ler Dam Casmerra, estar interessado em saber se os acontecimentes relatados so reais, se houve naquele 136 hedupin Ciemitiea ~ Modcinas tempo c naguele espaco uma pessoa que se identificasse com a personagem do livro. © leitor entra em acordo com o narrador, admitinda como verossimeis os acontecimentos relatados, Da mesma forma, o leitor de Memdrias pdsremos de Bris Cubas nao contesta a possibilidade de um defunto marrador Aceita o fate & da prosseguimento 4 leirura, No caso do exemple apresentado, admitimos como informagéo nova 03 por- menores que o autor do texto expée: o pai era homem de agio, que buscava difundir seu pensamento, era polémico, foi exilado, era pessoa que atuava pali- ticamente. A informagio nova serve para desenvolver o texto, expandi-lo, O autor can- sidera-a como no sendo do conhecimento de todos e, portanto, capaz de €stix mular o leitor a concinuar na leirura. A existéncia de um texte implica ter algo de novo para dizer. primeira pessoa) constitui-se numa prova, Trata-se de alguém que comviveu com Julio de Mesquita Filho. E acrescenta mais 4 frente do artigo: Julio de Mesquita Filho sempre fol um ser combativo: néo apenas isso, no en- tanto. Foi desde cedo um rebelde. Esse trac de cardter poderia ter produzide ape- nas um revoltade a mais num meio sacial acanhado, Ele weve, porém, a sorte de ser rebelde demais. [...] O rebelde paulista, ao cruzar seus passos com o3 de Trotski, ‘no se deixa influenciar pela personalidade, que deve ter sido fascinante, de futuro companheiro-de Lénin, © cruzar caminhos deve, no entanto, ter deivado marcas; om 1925, quando publica A crise nacional, suas referéncias A revolugio massa nia vém carregadas de anticemunisme comum 4 épaca, em Sia Paulo, no meio social em que entio passou a sero seu. Para demonstrat a personalidade de Julio de Mesquita Filho, 0 autor do texto clta como prova de suas afirmagées 0 livro A crise nacional. Se o leitor duvidar de suns assercGes, poderd recorrer ao livro e chegar 4s mesmas conclusées que ele. na Siqueira (1990, p. 32). No caso do texto em exame, parece que a inteneo é transmitir uma imagem positiva da pai: um homem de rebeldia cvities, um homem de agdo. Nao sé um homem de palavras, mas um cidad&o que conhecia a realidade mundial ¢ a Jocal ¢ que trabalhou para insetir o Brasil no contexto das na europé: saber qual interrogar-se: de q para eanhecé-lo melhor, o leitor deve interro- Reume 137 gar-se: sob que perspectiva o texto foi construido? No caso que estd servindo de exemplo, a referéncia é 0 pai do emissor: Julio de Mesquita Filho, O tema siio os tragos de sua personalidade, Texto de Iecitura fundamental para 0 aprofundamento das nogées aqui expas- tas ¢ A articulagéo do texto, de Elisa Guimaraes. 5 Resumo: a Norma NBR 6028:2003 Embora jd vistos 0 conceito e alguns elementos prdticas de realizagao de re- sumos {ver tépico Fichementa de resumo), hd outras informagies que devem ser consideradas, ANorma NBR 6028:2008, da Associegdo Brasileira de Notmas Técnicas, def aa a sucinta, eae dos pontos mais importantes de um Ext. m aparecer as principais idéias do auvor do texto. © resumo abrevia o tempo dos pesquisadores; difunde informagdes de cal mede que pode influenciar ¢ estimular a consulta do texto completo. Em sua tlaboragdo, devem-se destacar quanto ao contetida: Oo assunto do texto; 9 objetivo do texto; G1 a articulagdo das iddias; @ as conclusdes do autor do texto objeto do resume, Formalmente, o redator do resumo deve atentar para alguns procedimentos: © ser redigido em linguagem ebjetiva; @ evitar a repetig#o de frases inteiras do original: OF respeitar a ordem em que as iddias ou Fates so apresentados. Finalmente, o resumo: Ondo deve apresentar juizo valorative ou critico (que pertencem a outro tipo de texto, a resenha); O deve ser compreensfvel por si mesmo, isto é, dispensar a consulta ao ori- ginal. USB Redugio Cientitiea - Medcivea Para o pesquisador 9 resumo é um instrumento de trabalho. ‘Os procedimentos para realizar um resumo incluem, em primeire lugar, des- cobrir o plano da obra a ser resumida. Em segundo lugar, a pessoa que o esta realizando deve respondes, no resumo, a duas perguntas: o que o autor pretende demonstrar? De que trata © texto? Em terceiro lugar, deve-se ater As Idéias prin: cipais do texto ¢ a sua arriculagao. Muite importante nesta fase é distinguir as di- ferentes partes do texto. A fase seguinte & a de identificago de palavras-chaves. Finalmente, passa-se & redag3o do resumo. ém como descritivo. Refere-se as partes mais importantes ROCCO, Maria Theresa Praga, Crise ne-finguagem: a redagio no vestibular. $80 Pau- lo: Mestre Jou, 1981. 184 p. Estudo realizado sabre redagies de vestibulandos da FUVEST. Examina os textos com base nas novas tendéncias dos estudos da linguagem, que buscam e gramatica do texto, uma teoria do texto. Sio objeto de seu estudo a coesio, o cliché, a frase Feita, 0 “ndo-texto” ¢ 0 discurso indefinido, Parte de conjecrurase indagagées, apresenta og critérios para a andlise, informagdes sobre o candidato, o texto e fara exemplificagio. emplo: ROCCO, Maria Theresa Praga, Crise ne linguagem; a redagio-no vestibular. $30 Pau- Io: Mestre Jou, 1981. 284 p. Evamnina 1.500 redagées de candidates a vestibulares (1978), abtidas da FUVEST. 0 livro resultow de uma tose de dowtoramento apresentada 4 USP em maio de 1982. Objetiva caracteriear 9 linguagem escrita dos vestibulandos € 2 existéncia de uma crise na linguagem escrita, particularmente desses individues. Escolhew redagdes de vestibulandes pela oportunidade de obtengio de um corpus homagéneo. Sua hipétese inicial ¢ a da existéncia de uma possivel crise na linguagem e, através do estudo, estabelecer relacdes entre os textos € o nivel de estruturagao mental de seus Produtores, Entre os problemns, ressaltam-se a caréncia de nexos, de continuidade e quantidade de informagies, austncls de originalidade. Também foram objeto de Resume 139 andlise: condigdes externas como familia, escola, cultura, fatares socinis ¢ econémi- cos. Um dos critérios utilizados para a andlise ¢ a utilizagdo do conceito de ooesao. A autora preocupa-se ainda com a progressan discursiva, com o-discurso cauteldgico, as contradigties ligicas evidentes, 0 nonsense, os clichés, as frases feitas, Chegou & conclusio de que 24,8% dos vestibulandos demonswam ineapacidade de dominio dos termos relacionais; 16,946 apresentam problemas de contradigdes Ligicas evi- dentes. A redundéncia oxoren em 15,25 dos textes. O uso excessive de clichés © frases feitas aparece em 69.0% dos textos. Somenne em 40 textos verificause a pre senga de linguagem criativa, As vezes o discurse estrutura-se com frases bombisté- ‘cas, precensamente de efeito. Recomenda a autora que uma das formas de combater a crise estaria em se ensinar a refazer o discurso falho # a buscar a ariginalidade, valorizande o devaneic. Segunda a NBR 6028-2003, da Associacao Brasileira de Normas Técnicas, deve-se evitar o uso de pardgrafos no meio do resume. um capitulo leste livro. 6 Regras de apresentacio eee le neia: FLUORES, Valdir do Nastimento; TEMEIRA, Marlene, Intradupao a lingtitstica da enun- ciagdc, Sio Paulo: Comtexto, 2005. Em seguida & referéncia, apresenta-se o resume, ‘O resumo ¢ composto de uma sequéncia de frases concisas (sujeite, verbo ¢ objeto direto ou indireto, au ambos; em getal, com menas de 30 palavras), afir- mativas. Nao é uma enumeragio de tipicos. E recomendado o uso de um tinico pardgrafo. A primeira frase do resumo deve explicar o assunto do texto, Em seguida, deve-se especificar a categoria do tratamento: ¢ uma meméria, ou ¢ um estude de caso, ou é uma andilise da situagao, ow é um ensaio? 140 Redasdo Ciernilica + Medeiros As frases so compastas com verbo na voz ativa ¢ na terceira pessoa do sin- gular. Exempla: O livro introdupio é lingiidéréca de enunciagito spresenta as teorias que sig a base da pesquisa lingtisties, & analisade de moda comparative na obra o pensamento de autores como Cjharles Blty, Emile Benveniste ¢ Mikhail Bakhtin, entre outros. © Jivro oferece também um roteiro de Ieitura das teorias da enunciaySe que em ampla sirculagio no Brasil, Voz ativa: “O livra Introdugdo a lingiiistica da enunciagio apresenta as teortas..." ‘Voz passiva: “No livra Inmadugdo 4 linghistica da enunciagde sdo apresen- tadas as teorias.. Primeira pessoa: Apresento em Introdugio & lingiifstica da enunciagdo as Terceira pessoa: O livra Inteoduco & lingiiistica da enunciagdo apresenta.... Exemple: Palavras-chave: Lingiiistica. Pesquisa lingiiistica. Polifonia, Dialogismo. No resuma, devem-se evitar: simbolos ou contragies de uso nde corrente; formulas, equacées, diagramas ctc., desde que nfo sejam necessirios, Se seu emprego for imprescindivel, deve ser definidos na primeira vez que aparecerem, Extensao do resumo. Devem ter: a) de 150 a $00 palavras os trabalhos académicos (teses, dissertagdes e ou- tos) ¢ relatérios técnico-cientificos. b) de 100-2 250 palavras os artigos de periddicos; ¢) de 50a 100 palavras os destinados a indicagGes breves. Resuire 14d 7 Técnicas de elaboracao de resumo QO resuma deve destacar: © Elementos bibliograficos do texto; sua ficha técnica: = Sobrenome do autor, nome, - Titulo da obra, ~ Local de publicacae do texto. - Editora. ~ Ano. ~ Paginas. Tipo de texto, 0 género a que s¢ filia (literdrio, diddtico, académico). Resumo do contetido: assunto do texto, objetive, mérodos, critérios utili- zados, conclusées do autor da obra resumida. Rebeca Peixoto da Silva e outros (sd. p. LOS} indicam que para resumir um trabalho 4 fundamental compreender sua ot im, a preacupagae inicial verificar o enfoque que o autor di ao-assunto: filosdfico ou cientifico? Socio- Iégico ou psicolégico? Quantitative ou qualitative? Para a autora citada e sews co-autores (s.cL, p. 109), o resumo “qué guarde 1/3 ou 1/4 da extensio primitiva pode preservar 05 pontos essenciais". A re- dugde excessiva, no entante, pode prejudicar a comunicagao. Ao redator cabe atentar para verbos como: ¢ deve, pode e circunsténcias como: somente, quase, fia mater parte; conjungdes come: se, a menos que, para que o sentido jamais seja prejudicado, A pritica do resumo cetceia o pldgio involuntario, além de assegurar ao leitor que 6 Cexta foi entendido ¢ convertide a uma linguagem prdépria, Segundo Rebeca Peixoto da Silva # outros (s.d., p. 110), que compreende varios passos, como: encontrar a idéia-épice do pardgrafo. Sea idéia principal estiver subentendida, serd necessiirio isolar as frases-chaves para ‘encontrar a idéia central. Em seguida, o leitor climinara as idéias secunddrias ow que néo sejam essenciais para a compreensae da id¢ia central, Ha passagens den- tro de um texto que server apenas para esclarecer e constituem, pois, pardfrases de passagens anteriores. Passa-se, entio, & fase de primeira redagio do resumo, vescolhende-se sempre a palavra mais simples e mais breve. Coloca-se o-original 4 1G2 notupha Ciesettice + Meier parte, ¢ péc-se a escrever segundo o que se compreendeu. Acompanhando 4 texto enquanto se estreve o resurno, Corre-s¢ o riseo de copiar frases do texto original oude cairna simples pardfrase. Finalmente, compara-se o resuma com o-original. Para evitar cépias, transcrigées, utiliza-se a selecao de iddias, distribuidas num quadro sindptico, ou num plano {esquema). José Luiz Fiorin ¢ Francisco Platio Savioll, em Para engender o texto (L990, p. 420), também cxaminam o resumo. Depois de defini-lo, recomendam que nao se devem perder de vista wés elementos: O cada uma das pares fundamentais do texto; O a progressao das iddias apresentadas; i 2 correlagdo das partes do texta. Para reduzir as racéo de resumes, recomenda-se ler o texto do comego ao fim, sem inter- Tupgdes. Nesta fase inicial, responde-se a questo: de que trata o texto? Na se- funda leitura, descodificam-se frases camplexas, recorve-se at diciondrig para solugio do vecabuldrio, As palavras relacionais, os nexos serao observados com: rigor (mas, embora, ainda que e outros). Em terceire lugar, segmenta-se @ texto, dividindo-a em blocos tematicos, de iddias (ou de espago, ou de tempo, ou de personagens) que tenham unidade de significacao. Finalmente, redige-se o resu- mo com as préprias palavras, “procurande nfo sd condensar os segmentos mas éneaded-los na progressio em que se sucedem no texto ¢ estabelecer as relagies entre eles” (FIORIN; PLATAO, 1990, p. 421) Joao Hilton Sayeg de Siqueira (1990, p. 59-63), em © texto: movimentos de leitura, titicas de pracugao, critérios de avaliagéo, examina o resume no Capitulo 7. E ainda acrescenta que a pratica ne se dererminam a referéncia (assunto do texto) ¢ o tema (enfoque) do original, Nao se dispensa a recuperagao das re- lagdes légicas existentes entre as partes. Atitulo de exemplificagio, tome-se a texto de Asti Vera (1983, p. 129-124); A. documentagio pode consistir em: (a) transceigées; (b) resumos; (c) sintese @ (d) referéncias. As transcrigées teartuais serao Feitas quande os respectives exreatos tiverem que ser ineluides nv traballso por gua eendigaio ee fantes ou por constitulrem um elemen- to de prova, No caso j4 citado do estudo sobre Parménides, poderia ser conveniente transcrever alguns fraginentos da texto “Sobre a natureza", com o objetivo de reali-- Revere 140 za um estudo sobre as notaveis diferengas de estilo existentes entre o Proémio #4 Primeita Parte. Nao 36 por madesestilisticas, mas, além dissa, porque deste cotoja de textos se poderd clucidar o sentido da obra a intenglio do autor © Prodinio escrito numa linguagem rcligiosa, quase mistiea € muite pactica, ¢ o resto usando expres: sbes ldgicas, racionais A fungio basica dos resumes 6 instrumental, ¢, por isso, devem-se fazer quando as obras (ou as partes das tesinas) utilizadas pertencem a uma biblioteca publica, 4 qual deverio ser devolvidas depois de lidas. ‘A sintese — que nfo deve ser confundida ¢om o resumo —€ o trabalho mais itt portant, mas também o mais dificil; €-o fim Meal da dacumentagia. Consiste em expor ag idéias contrais de um texto, sua significagio ¢ sua unidade de sentido. Q trabalho de sintese intervém na parte basica do trabalho de pesquisa, sobetudo no desenvolvimento, na fundamentagdo € na conclusse, As referencias — breves ¢ concisas ~davers cansignar-se quando se tata de abras conhecidas e de fil acessa. Para as transcrigiies © of resumos de certa extensiia, rorna-se pratico utilizar folhas grandes, das chamadas tamanho “oficio", ou pequenos cademos que se acres+ centario a fichas respectivas. O valor da técnica das fichas, como de todo mérodo, depende também de quem 0 pée om pratica. Além disso, assinalaremas alguns de seus Inconvenientes mis fobdtios: um deles ¢ a “fichamania”, isto é, a estérll acumulacio de fichas que nunca seco aproveitadas num tabelke final. Em disciptinas histéricas, onde a documenta- io € fundamental ¢ nia se pode prescindir da heuristics, pade-se correr este risco. Dai a importancia do estudo da fllosofia da hist6ria, ¢ inclusive de considerar a re- constragéo histérica com um critérie filoséfico, como sustentaram historiadores do porte de Toynbee ¢ Marrou. Gutras vezes, 0 compilader das fichas limita.se a um mero trabalho de trans. crigdo das notas das mesmas. Finalmente, citaremos come uma situagio extrema, dentro destas tendéncias, a destas mouageafias interminiveis que se apcesentain como um subproduto de manumentais colegdes de fichas, mas onde, em suma, nem ‘autor nem ¢ leitor sabem por fim “a que se ater”, ‘O resumo do texto apresentada segue os seguintes passos: Avreferéncia do texto € a documentagéio de uma pesquisa bibliogriifica. Todo trabalho escrito, sc realizado segundo critérios rigidos de metodologia cientifi- 2a, apdia-se em pesquisa decumental. Segundo Asti Vera, a documentacSo pode ocorrer através de transcrigdes (clacbes diretas), resumos, sinteses e veferéncias. ‘0 fragmento desenvolve cada uma dessas modalidades de documentagio. Camo ¢ rematizada essa referéncia? E tematizada de perspectiva formal-«metodoldgica, isto ¢, come proceder para documentar uma pesquisa, A situagéo inicial afirma em que consiste a documentagio: manscrigSes, re- sumos, sinteses, referencias, isto é, define as varias modalidades pelas quais se pode valer de informagdes colhidas em uma obra. Trata-se de um conhecimento partithado pela comunidade que realiza pesquisa. 144 Pedagtio Gemifica + ptedeius A informagiio nova do texto € 0 estabelecimento do uso de um ou outro tipo de documentagao: quando usar a transcrigio, o resumo, a sintese, a simples refe- réncia. A transerigae textual justifica-se quando se tem necessidade de uma pro- va. O resume tem fungo instrumental e é usado quando ge se tem ma propria biblioteca a obra utilizada. A sintese, que Asti Vera distingue de resumo, consiste na exposigda das “idelas centrais de um texto". As referéncias sio utilizadas no caso de obras conhecidas e de acess facil. As justificatives para a re: ao de pesquisa decumental resumem-se em: necessidade de provas (transcrigSo); obras de bibliotecas piblicas devem ser re- sumidas, justamente parque nao se tem acesso a elas com facilidade; realizagao do objetivo da pesquisa (sintese das idéias fundamentais); no caso de obras de facil acesso e conhecidas, basta uma simples referéncia. A conclusdo ressalta que o trabalho cientifico no deve limitar-se a uma cole- Go de fichas que deixa o autor sem saber que fim tem em vista, ‘Com esta exposicio, verifica-se a organizacdo do texto. Hd unidade tematica do inicio ao fim: que procedimento adotar na documentagdo de uma pesquisa. areferéncia é a pesquisa documental; a tematizagdo é a metodologia de utilizagie da pesquisa documental; a situagie inicial: em que consiste a pesquisa documental; quais sao suas formas; a informacao nova: quando utilizar cada ripo; conelusiio: o que evitar Assim, pode-se dizer que um possivel resumo do texto de Asti Vera é: A pesquisa documental vale-se de wanscriedo, resume, sintese e referencia. As fichas no devem constimuir-se em fim ¢ so de quatro modalidades: transcrigéo, resume, sintese, referéncia, As transcrigges textuais sip limitadas aos casos de neces- sidade de prova. © resume ¢ utilizado no caso de a bra perencer a uma biblioteca publica. A sintese constituige num modo ideal de documentagio. Através dela, ex- péem-se as idéias fundamentais do texto, seu significado ea unidade de seu sentido O trabalho cientifico nfo se constitui numa colegio de fichas que nia permitem 20 autor ¢ leitor identificar o abjetive da pesquisa, Nesta fase do resume, agrupam-se as iddias afins, Entao selecionam-se novos elementos da situagao inicial: ‘A pesquisa dacumental vale-se de manscrigdo, resumo, sintese, referéncia. As justificativas compreendem vatiadas necessidades de apoin da pesquisa: hii casos. em que € preciso transcrever, cases em que se deve resumit, sintetizas, referenciat A con- Resume 145 clusdo afirma que as fichas nfo devem constituir-se em fim em si mesmas (mania), pois uma colegao de fichas née resulta numa obra, Adaptando-se as idéias expoctas, tet-se-ia: As informagées colhidas na pesquisa ctocumental sig fichadas através de trangeri- cdo, resume, sintese, referéncias, A fichamania deve ser evitada se o-pesquisader de- soja que-a obra ni seja desconexa, pois uma colegio de fichas no resulta numa obra. Ag justificativas compreendem variadas necessidades de apoio da pesquisa: bd casos em que ¢ preciso transcrever, casos em que se deve resumir, sintetizas, referenciar Qual o ponte de vista do autor? Qual a sua conclusdo? A que leva o texto? Talvez se pudesse dizer que o fragmento apresentado leva a coneluir que 6 autor, embora considere a Gocumentagdo uma necessidade, estabelece normas para a utilizagao das fontes de pesquisa. Poder-se-ia dizer que ¢ pragmatico, abjetivo, uma vez que salienta inconvenientes que o ate de fichar pode acarretar: a ficha- mania, a mera transcrigio de notas, as monografias intermindveis, resultado de colegio de fichas que deixam o autor ¢ o leitor sem saber "a que se ater”. Reeserevendo o resumo na integra, tem-se: Os procedimentos para a pesquisa documenta! compreendem a transcrigi, 0 resumo, a sintese, a referéncia. A transcrigSo limita-se aos casos de necessidade de prova, enquanto a sintese se constitul no ideal de documentagao. Se a documentagao se reduz a mera transcriggo de notas, ow A acumulagde de fichas que levam a ceall- zacie de obra interminavel, este procedimento revela-se laconveniente ¢ estéril, nic permitindo ao autor nem ao leitor identificar com que deve preocupar-se. Se se aptar pelo modelo de Fiorin para a realizagdo de resumas, responde-se inicialmente & questéo: De que trata o texto? ‘Trata de procedimentos metodoligicos ce utilizagdo de fonves de informagao na ~ a como e quando utilizar a citagSo direta e a indireta. © primeiro parégrafo define em que consiste a documentacio: 05 parigrafes 2-6 cstabelecem mormas sobre quando usar um ou outro procedimento; es pardgrafos 7 e 8 falam do walor do fichamento ¢ de seus inconvenientes. Assim, apds dizer que a documentagio pode ser realizada segunde quatro modalidades: a transerigao, @ resumo, a sintese, a referénela, estabelece norma para a utilizacdo da citaedo direta: sé deve ser usada em caso de necessidade de provas. Ressalta que a documentagao deveria ser feita, de preferéncia, por meio de sinteses, ¢ nao por meio de meros resummos indicatives ou simples referéncia. Finalmente, previne o estudioso dos inconvenientes que o procedimento do ficha- 146 Redapde Clenuics » Medeiias mente pode acarretar. De grande utilidade (valor) para a pesquisa, pode transfor- mar-se em procedimento estéril. , Passande pela exposi¢do das modalidades ¢ usos formais, até a conclusio de que o fichamento é uma faca de dois fios (tanto pode constituir-se num valor, como, s¢ cal-utilizado, em inconveniente e estéril), foi mantida a unidade temdtica, Agora, pode-se escrever o resumo. Outro modelo para 2 pratica do resumo ¢ o apresentade por Siqueira (1990, p. 63) e Serafini (1987, p. 188-199), esta ditima autora jd foi vista na segiio 2.2 do Capitulo 6. Em primeiro lugar, diga-se: um resumo deriva da capacidade de leitura da- quele que vai realizi-lo. A compreensio de um texto depende da competéncia da receptor, Essa competéncia envolve recursos culturais, experiéncia anterior, conhecimento prévio armazenade na memdria. Além disso, o leitor pode contar com pistas lingiiisticas distribuidas pelo texte. Nao se dispensa a capacidade de rachocinar do Heitor, im leitor que wu 4Sua5 podprias palavras demonstra ter compreendido as expostas. Para Siqueira (1990, p. 15), um leitor, se competente, deve, de um texto, detectar quando ele esta interrompide ou completo ¢ conseguir, no caso de estar interrompide, completé-lo. Além disso, uma pessoa pode ser capaz de parafrasear um texto, resumi-lo, dar-lhe um ttulo ou, a partir dé um titulo, desenvolver um todo textual”, regras mais comumente aplicadas para a prdtiea de resumo sho: mento de elementos redundantes e superfluas ou nie relevanies. Ine Huis neste caso supressao de adjetivos e advérbios. ‘eneralizagde de iddias do texto. O leitor deve ser capag de, desprezando idéias particulares, registrar informagies de ordem geral, Este conceito aproxima-se do de tematizagao, Selepdo das idéias principais, Gombinapdo de dois ou trés tdpicos frasats de diferentes pardgrafos quando repeten @ mesma idéia, Dispensdvel, j4 que pode ser feita pela invengdo-do- RAVE reNtO, Invengdio ot construgio, Deve o leitor construir frases que incluam vérias idéjas expostas no texto, ¢ fazé-lo de forma sintética. quatre regras para a red: Resso 147 i (1987, p. 188-189) ensina de resumes: cancelamento, generalizagio, selegdo e construgdo. Cancelamas palavras que se referem a pormenores que no sao necessarios 4 compreensiio de outras partes do texto. Pelo processo de genera- lizagfo substituimos “alguns elementos por outros mais gerais que os incluam". Pela selegdio eliminames og “elementos que exprimem detalhes dbvios". Durante a fase de construgdo, substituimes oragdes por outras novas. ‘Tomemos o seguinte texto como exemplo: No paine] rednem-se varias pessoas para exporem suas idéias sobre determina- dp assunto ante um auditério, No painel, a conversagao é basicamente informal, os membros nilo atuam como ordores, nio expiem. [...1 Or membros do painel (painelistas) devem preparar a material necessrio acer- ea do assunro a ser discuride, procurando orientar a discusslic através de um racio- cinio metédico ¢ ao alcance do publico, Dever saber ouvir com atengao o que t&m a dizer os outros participantes € terrompi:los quando oportune, esperando o momento spropriade para sso. N&o se devem aferrar a um ponto de vista, sé porque ¢ o-que defendem, ¢ sim imudar de opiniio sempre que os fatas ou a légica pravarem que esti erradtos. Nao dever ot painelistas monopolizar a discussio, pois codes t&m Iguals opar- tunidades de falar. Convém, por isso, estabelecer que a duragdio maxima de cada in- tervencdo serd de dois ou més minutos, 0 coordenador deverd interferir sempre que um painelista ultrapassar os limites permitidos ou estender-se muito em digressies que nao contribuam, para c-esclarecimenta da discustie, Falar apenas sobre o assunto proposto deve ser um das lemas dos participantes do painel. Outro objetiva que deve ser norma para ax participantes ¢ de que a atmostera de discussdo informal ¢ o didlogo deve procestarse em tom de conversa. Nada de dizcursos, de stitudes teatrais para a platéia au de uso @ abuso de expressdes de efeite (MINICUCCI, 1992, p. 134-135). Aplicando as regras para elaboracSo de resumo, tem-se: Quanto oo apagamenco Cancelam-se palavras que podem ser dispensavels: Painel: reunifio de pessoas para exporem suas jas sobre um ascun- ‘to, diante de um auditério, A conversagao ¢ informal. Os membros de um painel preparam o material, orlentando a discussdo pelo raciocinio metédi- 148 Nedogtn Ciemiicn = Medias co, Devem ouvir og outros participantes e interrompé-los quando oportuno. Devem mudar de opiniio se os fatos ou a légica provarem que esto erradas. Nao devem monopolizar a discussio, Cada intenrencio sera de dois ou trés nos, 0 coordenador deve interferir no caso de um painelista ulerapassar @ tempo. Os painelistas devem falar sobre o assunto proposto, O didlogo deve processar-se em tom de conversa, Evitar discurses ou atitudes teatrais. 2. Quanto é generalizapao Pela generalizagao, devem-se substiir enunciados especifices por ge- rais, Assim, se uma pessoa diz que refermou o banheiro, a cozinha, a sala, 0 telhade de sua casa, pode-se dizer que ela “reformou sua casa”. A expresso agora ¢ generalizadora, No texto apresentado de Minicuccl, as possibilidades de generalizagdes no si assim vio palpdveis, mas pode-se dizer, generali- zando, que cle apresenta regras para a realizacdo de um painel. 3. Quarto a selegdio de tdpicos frasais ¢ combinagao deles No painel, varias pessoas expdem suas idéias para um auditério, A guagem ¢ Informal © os membros. que dele participam padem intettomper seus colegas quando oportuno. Cada intervenciio, regulada pelo coordena- doy, pade demorar de dois a irés minueas. Os painelistas devem ater-se ao Tema proposta, Assim, o leitor pode verificar que o primeiro parigrafo apresenta duas idéias importantes: o painel é uma técnica de apresentagao de comunicagio da qual participam varias pessoas; o tom da apresentacio é informal. © se- gundo pardgrafo cuida da adaptagio da exposigio & audiéncia. © terceira @ 9 quarto pardgrafos podem ser fundidos: o painelista apresenta suas id © ouve observagdes dos colegas. 0 quinto pardgrafo ¢ uma explicitagio des dois anteriores ¢ pode ser eliminado. Q sexto pardgrafo ocupa-se do impedi« Menta de digtessdes ¢ 0 ultimo afirma, repetindo idéias do primeiro pardgra- fo, que o vom da apresentagdo é o informal, 4. Quanto 4 invenpdo ow construptio Aqui, recria-se o cexto de Minicueci: Q painel, técnica de trabalho em grupo, consiste em variados partici- pantes, diante de um auditéria, apresentarem para discussiio assuntes pre- viamente ¢stabelecidos. Entre as regras do painel, destacam-se: adaptar a exposigiio & audiéncia, ouvir o¢ colegas ¢ interrompé-los apenas quando oportuno, ser flexivel na defesa dos préprios pontos de vista, permitir que os colegas exponham suas idéias, evitar digressées e avirudes teatrais, j4 que 0 tom do didlogo é informal, Ao coordenador caberd estabelecer tempo de _ duragao das intervengSes e manter a ordem. Aewuma 169 1. Segmencar o seguinte rexto de Ingedare Grunfeld Villaga Koch ¢ Luis Carlos Tra~ vaglia (1989, p. 11-14): Antes de mais nada, & preciso observar que nenhum des conceitos en- contrados na literatura ¢ capaz de conter em si todas os aspectos que consi- deramos como definidores da coerdneia, Vamos, por isso, elencar, de forma sumiéria, os tragas que tim sido mais comumente apontados, Accoeréncia teria a ver coma “boa formagio” do fexto, mas num sentido que née tem nada a ver com qualquer idéia assemelhada 4 nogdo de gra- maticalidade usada no nivel de frase, sendo mais ligada, talvez, a uma boa formagio em termos de interlocugdo comunicartiva. Portanta, a coeréncia & alge que s¢ estabelece na interacdo, na interlocugdo, numa situagde comunl- cativa entre dois usuarios. Ela ¢.o que faz com que o texto faca sentido para os usudrins, devends ser vista, pois, como um prinefpio de interpretabilidade do texto. Assim, ela pode ser vista rambém como ligada 4 inteligibilidade do texto numa sicuagdo de comunicaggo 2 & capacidade que o receptor de texto {que o interpreta para compreendé-lo) tem para calcular o seu sentida. A coeréncia seria a po: dade de estabelecer, no texto, alguma forma de uni- dade ou relagdo. Essa unidade ¢ sempre apresentada como uma unidade de sentido no texto, o que caracteriza a coerfncla como global, isto é, referente ao texto come um todo. A coerénca € vista também como uma continuidade de semtidos per- ceptivel no texto, resultando numa conexio conceitual cognitiva entre ele- mentos do texto. Essa conexio ndo é apenas de tipo ligico e depende de fatores socioculwurais diverses, devendo ser vista ndo sé come o resultado de processos cognitives, operantes entre os usuarios, mas também de fatores interpessoais cama as farmas de influéncia do falante na situagio de fala, as intengdes comunicativas dos interlocutores, enfim, tudo 0 que se passa ligar a uma dimens3o pragmética da coeréncia. Os processos cognitivas ca- racterizam a eoeréneia 4 medida que possibilitam criar um mundo textual em face do conhecimento de mundo registrade na meméria, o que levaria & compreensio do texto, ‘Como se pereebe, a coeréncia é, a0 mesmo tempo, sentdirica e pragradti- ca; mas, para alguns, embora esses caracteres predominem, a coeréncia tem também uma dimensio sincitica (gramatical, lingiiisticay que discutiremos mais adiante. Contudo, ndo se deve deduzir dai que a coeréncia tenha a ver com a superticie lingiiistica do texto: todos os estudos procuram demonstrar que a cocréncia é profunda, subjacente a superficie textual, no linear, ndo marcada explicitamente na estrutura de superficie. Além disso, ¢ global ¢ hierarquizadora dos elementos de texto (os sentidos desses elementos se 150 netiscio Clenvitiey + Medeiros subordinam ao sentide global unitdrio, os atos de fala que realizam se subor- dinam ao macroato de fala que o texto como um todo representa). Por tudo isso é que se pode dizer que a coeréncia ¢, basicamente, um principio de inverpretabilidade e compreensiio do texto caracterizado por tudo de que o proceso al implicado possa depender, Como veremos, a coerEncia tem a ver também com a produgio da texte 4 medida que quem o faz quer que seja entendido por seu interlocutor, conforme se supde pelo principio de eooperagic, O estudo da cocréncia poderia ser visto como uma teoria do sentido do texto (seja ele uma frase ou um livro todo, no Importa a dimensio), dentro de um ponto de vista de que o usuario da lingua tem competéncia textual e/ou comunicativa e que a lingua sd funciona na comunicagio, na interlo- cugao, com todos os seus componences (sintations, s¢miinticos, pragmaticos, socioculturais ete,), Estamos entendendo sentido coma a atualizagao seletiva no texto de significados virtuais das expressdes lingilisticas. Paralelamente ao conceito de coeréncia, formando com ele uma espécie de par cposidve/distintive, entontramos nos estudos textuais o conceito de coesao. Ao contrario da coeréncia, a co¢sio ¢ explicitamente revelada através de marcas lingilisticas, indices formais na estrutura da sequéncia linglifstica ¢ superficial do texte, sendo, portanto, de cardrer linear, i que se manifesta na organizagiie seqtiencial do texto. E nitidamente sintatica e gramatical, mas ¢ também semAntica, pois, come afirma Halliday ¢ Hasan. (1976), a coesio é a relacio semAntica entre um elemento do texto ¢ um ou- tro elemento que ¢ crucial para sua interpretapdo. A coesio ¢, entdo, a ligagdio entre os elementos superficiais do texto, o modo come eles se relacionam, o modo como frases ou partes delas se combinam para assegurar um desenvol- vimento proposicional. Muites autores nao distinguem entre coesdo e coeréncia, utilizando um terme ou @ outro para os dois fendmenos. Alguns fazem a distingdo usando expressdes como “coeréncia microestrutural” ou “coeréncia local”, quando querem se referir ac que foi definida no pardgrafo anterior come “corso” ¢ expresses como “coeréncia macroestrutural” ou “coeréncia global", quan- do descjam se referir ao que foi definide nos pardgrafos iniciais deste ier como “coeréncia”. E o caso de Charolles (1987a) e de Van Dijk ¢ Kinisch (1983), por exemplo. Ja Charolles (1987a) subdivide a coesdo em “coesio" e"conexio”. Essas observagies objetivam alertar o leitor para flucuacdes ter- minaldgicas ou de outro tipo que exigem que se preste atengao sobretude as conceltuaghes dadas ¢ ndo apenas aos nomes utilizadas. 2. De que trata o texte de Koch ¢ Trawaglia? 3, Qual éa informagdo nova do texto? 4. Quis so es justificarivas do texto? 5. Qual a conelusdo das autores? 6. Quel a referéncic do texto? 7. Qual a tematizagde da texto? 8. Redigir-o resumo de texto apresentada, segeinda o madele de resemo de Moria Teresa Serafini. 9. Redigir um reseemo indicative de um tivro de seu interesse, 10, Redigir am ressemo informative de um liveo de sese interesse. U1, Resumir o seguinte texto: Alfonso Quejana, sujeite de aproximadamente 50 anos, era um fidelgo espanhol de familia tradicional; sem ser rico, vivia parcimoniosamente da renda de sua terra, situads em algum lugar da Mancha. Contava com a cam- panhia de uma criada e da sebrinha, ¢ a amizade do cura ¢ do barbeiro, Nao cultivava os prazeres de sua classe social: em vez de participar de cagadas ou festas, preferia ler livres de cavalaria; o goste por eles cra tanto, que chegava a vender partes de sua propriedade, para comprar volumes e mais volumes desse género de obra, A leitura o envelvia de tal modo, que passava noites em claro; ¢, como lembra o seu bidgrafo, "do pouce dormir e da muito ler, secou-se-lhe o cérebro, de mancira que veio a perder o juizo”. Ato continuo, resolveu ajustar sua vida ao mundo dos livros e, assim procedendo, procla- mou-se, ele mesmo, cavaleiro andante, sob o nome de Bam Quixote, o mais tarde designado Cavaleiro da Triste Figura. Miguel de Cervantes, autor de 0 engenhose fidalge Dor Quixote de fa Mancha, criow sua imortal personagem cm obra publicada em 1605. A tipo- grafia era entio uma invengio /i centendria, pols a prensa mecdnica, ino- vyaeao atribuida a Gutenberg, aparecera em torn de 1450, na Alemanha, € espalhara-se com razodvel rapidez ao longo do séeulo XV No entanta, livros impressos comecaram a ser publicados em quantidade somenre no século XI, mas, dai em diante, o processo nao se interrompeu. Dom Quixote, ele mesmo, foi um grande sucesso editorial, gerando imitacdes, comoa de Alonso Femindes de Avellaneda, de 1614, que s¢ adonou da personagem ¢ propés uma continuagSo, razZo por que Cervantes tratou de elaborar, em 1615, 6 segundo volume de seu livre, garantindo a propriedade de sua inven¢io. ‘No mesmo perioda, edicdes do romance original se sucederam, tanto legais, quanto piratas, registrando-se langamentos da obra em lugares diferentes € distanciados, como Bélgics e Portugal, sempre com éxito. Cervantes, da sua parte, buseou proclamar o prestigio de seu trabalho no interior das falas das YSZ Redasiotientifica + medeiror Personagens, que comentam terem sido vendidos 12 mil exemplares do livro, cifra respeitdvel na época ¢, para muitos casos, ainda nos nessos dias. A consolidagde do livro, na forma fisica em que tle ainda se apresenta, date de periodo anterior ao de Cervantes: o eddex, de aparéncia similar, substituiu os volumes.em rolo ainda na Antigiidade, facilitando a manipula- do € 0 consumo, Mesmo nesse formato, contudo, © acesso ao material que circulava por escrito restringia-se a religiosos, ao longo da Idade Média, ¢ a ‘estudantes, no final desse perfodo, quando se estabelecem as primeiras uni- versidades na Europa, Com a expansio da prensa mecdnica naseem as pri- meiras tipografias, amplia.se o comércio livreira e aumenta o piiblico leltor, néo mais restrito a letrados © sacerdotes. aio ¢spanta, portante, que, nos primeiros anos do século XVII, um mo- velista pudesse apresentar uma figura ficticia viciada cm leitura, a ponto de preferir livros a qualquer outra atividade, mesmo as lucrativas, come a administracéo-da fazenda, ou hidicas, como a caca. O que surpreende ¢ a de- claragao do narrador, estampada nos primeires pardgrafos da obra; 0 leitor, entregue 4 fantasia contida nos livros de leitura, perde o julzo, a ponto de abrir mao de sua identidade ¢ criar, para ele mesmo, uma nova personalida- de, construida.a partir das personagens a que fora apresentado por meio das paginas impressas. A leitura intensiva se atribui grave delito: ela cranstorna e transforma seu leitor. Ao relerir o crime atribuido a leitura, Cervantes nfo esta sendo original: com efeito, ele parece reproduzir, de modo irdnico e pardédico, o que ji passava na sociedade européia do século XVI. Periodo caracterizado pelos conflitos religiosos - de um Jado, a Reforma, proclamada por luteranos, calvinistas ¢ anglicanos, de outro, a Contra-Reforma, resposta catdlica aos descontentes do Norte da Europa =, foi marcado pela radicalizagic ideold- gica e violéncia. Adversdrios, contudo, seus adepros adotarany uma prética similar, n&o importando que teses teolégicas professassem: grupos contrérios ou favordveis 4 Igreja concdenavam a leitura. Martinho Lutera valoriza a lei- tura individual da Biblia, mas denuncia os perigas advindas de sua edigao em lingua verndcula; a Igreja reage aos perigos da heresia religiosa com a reativacéo do Tribunal do Santo Oficio e a publicariio, em 1564, do Index Librorem Prohibitorum, rol de textos imterditados ¢ apartados dos fitis, se ndo queimados em praca publica. Cervantes reproduz a cena persecutéria logo nos capitulos Inicials da novela: aproveitande que Dom Quixote dorme, seus dois amigos letrados, o cura ¢ o barbeiro, invadem a biblicteca do fidalgo e eliminam as obras de- saconselhaveis, Ao entrarem, os dois homens esto acompanhados pela ama, que, contudo, recua, voltande loge em seguida acompanhada de dgua benta ¢ hissope, com o fito de pedir ao padre que exorcize o local. A criada treme que of livros carreguem consigo algum feiticn que possa contamind-los, assim como ja haviam embruxade Dom Quixote (ZILBERMAN, 2001, p. 19-22)

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