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4s Gérard Lebrun A filosofia e sua histéria Apresentagio de Carlos Alberto Ribeiro de Moura 2 ayinier Wh" COSACNAIFY igerso,é que ele estima ser normal comportar-se come de tal modo que sua interpretagio do que: ip vestado de natureza” perdura, absurdamente ‘se Hobbes se separa de Platio, no 6, pois, absolur, retorna a Protigoras. Muito a0 contario ~ Que &, com efeing PR zar’? B, antes de tudo, crer-se em medida de contemplar agus hit ‘ro universal; é, portanto, ainda © sempre, pSr-se, mesmo in ec Fete, como meron. Asin, 0 Saber ess FErmula que os gry dentes” encontraram para suplantar (idealmente) a diseo nine tb fat, curso dos séculos, seo a mais alta manifestagio dh men medida” (“esses filésofos sbricavam as regras do bom @ do men Forme Squilo que, pescoalmente, gostavam € do gostavam”). ee silenciosamente ganhou a partida, gragas dqueles mesmos que pe oe téclo vencido. Ruptura com Platio, portanto, mas somente por ek havia subeticaido o "homem-medida” pelo “filésofo-medida”. Aue dia amais é exinta ea universalidade, realizada, a nfo ser onde calaun hdia da condigdo de méirone, especialmente, de sua pretense pela legiferar “no universal” — onde tados consentem em viver nalinguagen ‘eno Commonwealth tais como foram énstituidos, isto é, Ingo te inpiem 208 homens. Ao deslocar a realizagao da “verde” de Saber para a Insituigdo, a0 fazer permutar a pls € 0 nimos, Hobbes realiza assim o mais audacioso salvamento do platonisma, Nietesche colocava Hobbes entre aqueles que “aviltaram ou desva lorizaram 0 conceito de filésofo”. Nao seria malevoléncia de sua parte para com um admirador de Tucidides? — Ainda dessa vez @ fara de “genealogista” de Nietzsche nao © enganou. 5326 Hibes a nstiuipio da venlade spuragao da obra de arte A raaremes aqui da mutagao da obra de arte: nio, porém, da Teja nee século das formas de arte, mas da que se efere 20 sentido dhexpressio “uma obra de art profanda que possa estar dando & palavra “arte”, sem o perecbermos, um Tinide que jé nao tenha nada que ver com 0 corrente no século passado, Essa mutagio, devida a técnicas novas (disco, vidio) e artes no- reprodutiilidade técnica”! Partindo de Benjamin procura ver, com base em alguns exemplos, como as técnicas novas podem chegar a transformar “a propria nogio da arte”. E todos os ‘penplon que analisaconvergem pars 0 que cle designa com 0 d defn” decade ar, © que devemos entender por isso? Uma fase de déry nos encaminha para esta nogao: : re sugore padeeagatila ou Ailenbron Gan ii oe 2, pensamerno ou aso gue possa enular-the efieo rneciramance do se poder? - Aus cesigna 0 Para que nenhuma to de que a coisa se dai como enigma mplagao possa esgotar sua ipoderseia defini-la como 2 Sinica aparigio dum ey Penis proxima que csc”. Ora, por queg pine login meus sens aenenegotv acdc deg he porns mex, cada Yer menos preocupado com a ainguleyen seine da obra de arte? Hi. um aorismo de Niewsche que ge ® 8 ae aque Benjamin dard acsa Guesdo oes dade ee refeinca ava rk sper des vse: cena ee fap 1 envlvia © monumento como um véa magi, cs nero ‘i Sewiena fndemena/ de une relilade eblne entrant, conap ee pela pres ina pele magia: «belece quando muita tempera horn poate har senpreearaprstposto.- En ge cowisteparané, eon, de wm monamento? No gue um belo rsto de muller em opi sara espe de méscara: Nessa linhas, Nictesche implicitamente distingue duas eras da obra de arte: ada vereragio ea da beleza pura. A era da veneracio ence s¢ a0 nascer a estética, enquanto reflexio filoséfica e, mais ainda, ex (quanto ciéncia, Como bem exprime a frase de Hegel: “H. inas, as obras de arte”. 5 muito longe de venerar, como culto de que era essencialmente instrumento, a obi ida ao “prazer puro” ~simples objeto de consumo mostrar que uma tal figura cultural é insepardvel do desenvolvimento da economia de mercado). E esta a segunda era da obra de arte ~ era cujo declinio Walter Benjamin assinala. Na primeira, é ella que predomina. Na segunda, que se abre no século xvrer, € uma relagio le prayer qui valor da obra. ope Wer Dr src, ecom prof, Ee Corte nio é, porém, tao nitido. A aura que se concede (ou queso cedia) a obra bela ¢ justamente o sinal de que esta obra, por aici que seja, nem por isso se vé dessacralizada. Fo que Kant ja desc me 30 definir “o génio artistico” como a faculdade das Idéias este © que é uma Idéia estética? E “uma representacio da imaginagae @ Hemera tied 3 Friedrich Nietsche, Menschlick-llwmenschliches, 0 218 fed. brass Bema, Pal Clr de Sot, So Pau: Companhia ax Lets, 20°) B24 A rategindechra de ome insar, sem que nenhum pensamento ito 8 Pe ua ex- NPacto que a obra produz em mim.” acterizada por este desatio de 2, pode-se perguniar se a repre- inimo religioso. Sem diivida, seria screver a historia do Belo, no século xix, como sendo um fo sentimento religioso: 0 estetismo, o culto da genialidade igiosidade religiosa nfo bastaria para detinic a she dele no sentido kantano. Esta 6, simltancamente, um tema de ene ramento.¢ um tema de “simples prazer” — endo é seguro que esas das componentes no sejam, a longo termo, divergentes, Na ideologia ds eles, observa Walter Benjamin, cpunham-se dois ftores: por um Indo, o valor que se continuava atribuindo & obra enquanto objeto de fascia, mediacdo do Absoluco — por outro, aidéia de que a obra é uma r,€ depois, gragas ao progresso téenico, a divulgar—e a.um pablico eada ver. mais amplo, Habermas mostrou ,. bem, no seu livro a Mudanga estrutural da esfera piblica,’ como os cone caro: abertos a um pablieo pagante, os museus, as exposigdes (coisas gee, hoje, nos parecem to Sbvias) foram, no séeulo xv, conquistas polscas de burguesia.E esta observagdo vai muito além da sociologia deans: dia respeito a propria esséncia da obra de arte. No se pinta arto mercado como se pintava para um mecenas. Nio se concebe o cenzro Beaubourg® como se concebia um castelo de recreaclo do rei, i » “decoragzo” podem permanecer, de produgio. evidente que tal preocupagio (tantas veres de origem xibire divalgar é incompativel com a conservagio do halo "8 om 4 manutensao da aura. Como, por exemplo, o valor de a divulgar nercial) de autenticidade que se prende a uma obra pod tempo (excetuado © caso dos colecionadores) ae as aperfeigoadas? Por que fazer uma pere disis-me receatemente uma senhora sensata, scr dao e correro isco de me roubarem a bs ferecido num tinico lugar ¢ 0 duas vexes”) & substituico pelo da partitura mest} que pode ser executada por uma infinidade de orquestras. O modelo dg “monstro sagrado” que era preciso ver, pelo menos uma vee, “ci carne 2.0880", no paleo, é substitufdo pelo da imagem il condigdes, poderia cor critério da autenticidade? Mas com isso, acrescenta Walter Benj “toda a fungio da arte é subvestida”. A. Jor princlpio, nio & uma forma da cultura que nos convoca & contem Isso é sinal da sua degenerescéncia? Isso quer dizer que nossa “*materalista” e “teenicista”, s6 poderia deixar eclodir umaarte impletada por algumas elucubragBes de estetas? Um dos gras os de Walter Benjamin foi prevenir-nos contra um diagndstico tio apressado — jé por citar esse texto, tio in- pressionante, de Brecht: Desde gue a obra de arte se torna marcadoria, essa nosi (de ora de at) G0 pode mais serthe aplicada; axsim senda, davemos, com pradinca (pr 3 nogto de obra de arte, at ie 1 designada. Trata' aoe ge xugéo rs sem re reser ua fsa dena depp ts fie yb pra crvesvar vem dings, ere E* ita de and 2 uma tranfrmasio fundamental do objet © 8 7 set pedagogue cto anor ogo dev tenet Por jue néo?—ndo evocard mais quaisguer das lembrangas vince 7 Rew Bech, pu W. Benjamin in op. cit, pa. 330 Amos da chs deore em comum, te? Essa obsorvagao pode parecer exiremista * pareceré um pow 20, profetizava a ] Acre é pare Tudo 0 guest ce, ra vedo ofrmar a sna necisidade no reel oviparnaeo lupare no met eet relegado d nossa cepresentagio* ja de autentisamente verdadeira vivo se Iegar mets al, agora €apencs a [fine o texto de Brecht e esse de Hegel hd, pelo menos, uma diferenga “Enquamto Brecht admite que uma “arte” inteiramente nova pode suce- der iquilo que 0 séeulo 7x chamava de “belas-artes", Hegel no mose | samesma amplidao de espirito, Para ele, a “arte” é uma formagao tao {ben determinada de uma vez por todas que, se perecer, nada poder "5 nem sequer (fe otermo “obra de arte” poderia designar, no futuro, c tiramente distintos, or 2 80 nosso seulo xx é mais ‘order que 0 nosso conceito de “obra {Be ddistingdo entre artista € artesdo si mm de san ¢ eum grego do século sv a. tum monge do séeulo ‘fo tnham a sen: con nm ASeOAgo de de arte” & de formagao recente e imps apenas no fim do si sia” enquavo esudo da beleza na arte. Kant qu, sestético” de um objeto pelo £at0 de ser ee ado 0 percebO, Um Prayer pr, Isto, um prans Argues morivago ineressida (ieolbgiea, ae Fpanic deste momento, a ob de arte engu “A palavrad um produto que édestinadoa ger ‘ou ainda: 2 ser contemplado, Pois asda’ vo. Enquanto 0 desejo”,escreve Schiller, “aprcende a contemplagio afasta o seu e fazdeleams, por to-somente st ry90, dete capaz de dar-mes 4 independente de ria, erdtica ete) coisas dio no m jmediatamente 0 seu objet ropriedade auténtica © irrevot deme mrp acrsconta que a contemplasao é “das est iberle Vert a primeira aude liberal] do homem para com o mn Uo hee (ee ‘0 que hoje entendemos por “obra de arte” continua essen. ¢mplaga0, como pensavam Kant, ado a essa atituce de co | cialmente |sehillerou Hegel. vip ; + Se nio mais isso nao deverd surpreender ou escandalizar, ido naquela época estava mare 5, © até mesmo por varios partis pris, Nao € qualquer espécie de obra que suscita essa atragdio mesclada derespeito que se chama conemplasio. Acontece tratar-sey por exe. tla, de uma obea visual: eta a partir da esculrura e pinture antigns que ‘Winckelmann definia o cdnone da beleza —e sabe-se que, para He ceccultura grega representa 0 momento em que a arte atinge melhor (seu equlbrio ¢realiza melhor 0 scu conceie, Passado esse 2pORr is? ante 66 poderi declina, Pois a Axetica de Hegel & tanto a histbria dese Jugio da arte como a do seu declinio inevitavel: a arte se disige pars pponto em que a sua missio espiritual sera consumada ~em que 35%" ‘obras no sero mais que objetos oferecidos & curiosidade histériea —Por que, segundo Hegel, deve ser assim? E que Hegel sé faz justiga a arte dentro dos limites, afinal de contas to estreitos, do seu raci Ja aparéncia’ i segundo el, é libertar-nos da aparénci No quadro de um mestre holandés, nao é a exata ceprodusie tos que nos agrada: € que “a magia da cor e da ihuminaga0” transfige’ 332 A muti de ore de ane fascinante 6 q\ presentagio ar é mas essa figurago precisa cada vez menos de matéra; torwa-se rise mais ascética. Esa ascese, observa Hegel, vai crescendo em cada dima das grandes formas de arte caracteristicas da modernidade: « de trés dimensées” € se conf a com uma “m suporte material permanente € se co eefémera; a poesia, finalmemte, que redux ridade a palavra leangamos mite da arte — 0 ponto além ito tipo de 3 ai de arte que no aquela cujas obras se propoem endentes e que nos confrontam — uma arte que tr eeptores em es chida int "m espectadores. Desde que essa condigio no seja m tciramente, a obra de art da contemplagio pela comunicagio caracterizasse, de arte enquanto tal... Antes de deivarmos 0 s& ide, a0 falar do “ ossos sentidos, diz, se 1€ no mais o que isso & dogam “o que isso Disso nde, 0 que decorre? Quanto mais 0 ofho € 001 samento, mais se opreximam do li a alegriareivonte no cérebro(..] coisa. [Mar Nieeacke acresenta, imediacamence (mostrando gue etd mas por este via, chegamas a bolo rorua cada vei mois 0 lugar de porte da etivca classica do que acreditava} borbérie, tbo weguramente uanto por gualquer (ee Benjamin, em certa medida, retomou esses ternas. Mas a sua in- ‘engdo ¢ inteiramente distinta: loge de anunciar igualmente o declinia dda Arte ou o advento da barbirie, pretende dar exemplos da mutegio que ante sofrew no século xx, Enquanto é de bom tom, na década de 193%,

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