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UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE

Faculdade de Direito
Direito dos Registos e Notariado
Primeiro teste. Guião de correcção incluso

1. O direito registral civil está ao serviço dos direitos subjectivos de família, sucessões,
reais e direitos fundamentais. Comente e exemplifique para cada elemento. 6v.
A finalidade jurídica do registo orienta-se pela publicidade do estado civil ou seja
dos atributos jurídicos que rodeiam a pessoa singular desde o início da sua
personalidade ao termo, tornando-a susceptível a sujeitos das relações jurídicas.
Da base do efeito consolidativo do registo expressando que os factos sujeitos ao
registo embora tenham uma constituição substantiva, a falta do registo impede a
sua legal atendibilidade ( vide artigo 2 do Código do Registo Civil). Desta sucinta
análise, conclui-se que sem o registo a pessoa singular não teria a prontidão
jurídica para ser sujeito das relações jurídicas de família, das sucessões, dos
reais, das obrigações e quanto aos direitos fundamentais, o registo é uma porta de
acesso operativa. Os direitos fundamentais por inerentes à pessoa são invocáveis
mesmo sem o registo mas a falta da publicidade pode dificultar a sua maturação
na vida das pessoas: exemplo do direito ao nome como alavanca para a protecção
de toda a essência dos direitos pessoais.

2. Patrício Ferreira, viveu com a sua namorada Rita durante 4 anos, tendo se separado
recentemente. Durante a vida conjunta nasceu um filho, hoje com 2 anos. Pelo ambiente
conflituoso gerado após a separação, Patrício recusou-se a reconhecer a paternidade e
por conta disso, a namorada também não aceitou ir registar. Joel, pai da namorada, com
quem ficou a guarda da criança, acabou declarando o filho como seu e da sua
companheira Laura. Apercebendo-se da atitutde do Joel, Patrício pretende corrigir a
situação. Ajude-o e se pronuncie quanto à manutenção do posicionamento da Rita em
face da pertinente busca da verdade da maternidade. 6v.
Neste episódio está em causa corrigir a filiação que não corresponde a verdade e
repor a correcta. Dos elementos enunciados, constata-se que o estabelecimento
da filiação foi feito com base em declarações prestadas na Conservatória do
Registo Civil por pessoas que detinham a guarda da criança. Urge qualificar a
atitude dos declarantes à luz das formas legalmente estabelecidas para o efeito.
As formas do estabelecimento da filiação estão na Lei da Família. Deduzindo por
partes, quanto à maternidade, partindo do artigo 223 e seguintes extrai-se que a
declaração seria o ponto de seguimento. A Laura ao declarar-se mãe gerou um
estado civil que ao abrigo do artigo 4 do Código do Registo Civil só pode ser
contrariado por uma decisão judicial transitada em julgado. A Laura fez uma
declaração de vontade que não corresponde a verdade, desviando-se do espírito
do que determina a alínea a) do número 1 do artigo 119 CRC quanto à qualidade do
declarante: pais. Não sendo ela a mãe, e consciente desta situação, a sua atitude
qualifica-se como um vício do registo e por isso prejudicial ao valor jurídico do
próprio registo conforme emana do artigo 106 do CRC. Em termos técnicos, o
vício é o da nulidade ( artigos 110 e 111 do CRC), fundado na falsidade, sendo a
sua correcção por meio do processo comum de justificação judicial
operativamente explicado nos artigos 292 e 306 do CRC. Só após a decisão
judicial sobre o processo poderá ser feito o cancelamento da maternidade. A
reposição da verdade da maternidade perante a recusa da progenitora só ocorrerá
pela investigação nos termos dos artigos 233 e seguintes da Lei da Família. No
concernente a paternidade, entende-se dos dados do episódio que o Joel
comportou-se tal como a Laura, gerando um estado civil falso, seguindo o mesmo
filtro processual a sua correção. A reposição da paternidade seguirá a perfilhação
nos termos previstos nos artigos 267 e seguintes da Lei da Família.
3. Johanes Muller Mugabe, nacional de Moçambique e do Zimbabawe, 29 anos e Sandriela
Mosh, egípcia de 17 anos, vivendo em Moçambique, aonde os pais de ambos residiram
até a morte, contraíram o matrimónio em Maputo. O casamento foi religioso e celebrou-
se directamente na Mesquita e só depois enviada cópia do assento religioso para a
Conservatória mas esta entidade antes não tomara conhecimento do assunto e mesmo
assim transcreveu porque os sujeitos interessados justificaram que foi um casamento
urgente motivado pela gravidez da Sandriela. Os documentos que instruíram o
casamento na Igreja foram a certidão de nascimento do Johanes, emitida em língua
inglesa por uma entidade do Zimbabwe, a sentença, original, judicial decretando o
divórcio de Johanes do seu casamento anterior com Ruth Botha proferida pelo Tribunal
de Gauteng na Àfrica do Sul e a certidão de nascimento da Sandriela, emitida em árabe
por uma entidade egípcia. Emita um parecer orientado a corrigir os aspectos
substantivos e registrais patentes no relatado acima: 8v
Estamos perante uma intenção de casamento religioso. Iniciando com a
qualificação dos sujeitos, percebe-se que urge deduzir a lei aplicável. Ao Johanes
vai prevalecer a nacionalidade moçambicana nos termos do artigo 33 da
Constituição da República. À Sandriela será chamada a Lei pessoal nos termos do
artigo 49 do Código Civil pelo processo registral fixado no artigo 201 do CRC.
Na qualificação substantiva, o Johanes deve seguir ao processo preliminar das
publicações munido de documentos fixados nos artigos 164 e seguintes do CRC.
Para o caso, os documentos emitidos no estrangeiro e em língua estrangeira
devem passar pela tradução e legalização nos termos respectivos dos artigos 60
do CRC, 59 do CRC este conjugado com o artigo 540 do C. Processo Civil e com a
particularidade de a sentença judicial estrangeira dever passar por revisão e
confirmação tal como fixam os artigos 7 do CRC, 1094 e 1095 do C Processo Civil
antes da sua transcrição na Conservatória dos Registos Centrais. A Sandriela
juntará ao processo o certificado referido no artigo 201 do CRC. A gravidez não
justifica a urgência matrimonial como se vê dos fundamentos legais taxativamente
apostos no artigo 46 da Lei da Família.
A avaliação dos requisitos substantivos para o almejado casamento será feita em
Despacho do Conservador no culminar do processo preliminar de publicações( ver
artigo 175 do CRC a conjugar com o artigo 29 da Lei da Família). Ao
Conservador incumbe emitir o certificado matrimonial decorrente da previsão do
artigo 29 da Lei da Família para que se celebre a cerimónia religiosa finda a
qual, o dignatário lavrará o assento em duplicado, sendo um de remessa
obrigatória para a transcrição no registo civil ( ver os artigos 202 e seguintes
do CRC).

Boa sorte, 14102022 M. Didier Malunga

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