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DECLARAGAO DE PRINCIPIOS E PROGRAMA D0 PARTIDO SOCIALISTA Setembro 1973 ra ‘Koala DECLARACAO DE PRINCIPIOS E PROGRAMA DO PARTIDO SOCIALISTA Textos « Portugal Socialista » Setembro 1973 DECLARAGAO DE PRINCIPIOS 1. O Partido Socialista é a associacao politica dos por- tugueses que procuram na democracia socialista a so- lugdo dos problemas nacionais e a resposta ds exigén- clas historicas do nosso tempo. 2. © Partido Socialista tem por objectivo a edificacéo em Portugal de umo sociedade sem classes, em que os trabalhadores serdo produtores associados, 0 poder, ex- pressdo da vontade popular e a cultura, obra da capa- Gidade criadora de todos; entende o Partido Socialista que essa finalidade, implicando uma nova concepgao de vida, $6 pode ser alcancada mediante a construcao do poder dos trabalhadores, no quadro da colectivizacao dos meios de producéo e distribuicao e do planea- mento econémico com pluralidade de iniciativas. Sem excluir 0 que a democracia burguesa trouxe de progressivo — legado que olids a burguesia hoje renega —. 0 Partico Sociclista luta pela edicicacao de uma nova sociedade que néo tenha como fundamento o sa- lariato © 0 lucro, a alienagdo dd trabalho ou da cons- ciéncia, 0 império das categorias mercantis e das relagoes. juridicos coercitivas, a exploracdo @ a mani- pulacéo do homem pelo homem 3. Herdeiro de toda uma tradicdo de iuta das classes trabalhadoras pelo socialismo democratice, consubstan- ciado em diversas correntes que ao longo do ultimo século combatido contra a opressdo capitalista, o Partido Socialista propée-se reclizar a sintese dos varias correntes que aspiram ao socialismo em liberdade. Tanto as que acentuom a necessidade de instituicdes que garantom o pluralismo politico e ideolsgico, 0 exercicio do poder por delegacéo representativa do sufrdgio universal, a separacdo dos poderes, 0 controle do exe- cutivo pelo legislative, como as que detendem a exi- géncia da detmocracia focal, da democracia directa na base, da iniciativa sindical, dos conselhos operdrios, do cooperativismo, da autogestéo. O Partido Socialista en- tende, com efeito, que uma democracia de Estado sem democracia de base corre o risco de se cfastar do Povo, e que uma democracia de base sem demacracia do Estado corre 0 risco de cair ou na inoperatividade ou no totalitarismo. Fontes para a Historia 0 Pe Saale 4. Sob © impacto da experiéncia internacional do socia- lismo e criticamento atento as suas ligdes, 0 Partido Socialista considera como inspiracdo tedrica predomi- nante o marxismo, permanentemente repensado como guia para a accdo e nunca concebido como corpo dogmatico, © reconhece a validade da contribuicéo dos cristéos empenhados na luta pelo socialismo. 5. Considerandc a revolucéo socialista soviética como marco fundamental na historia da humanidade, e¢ 0 imponténcia das revolucdes sociais realizadas na China na Jugoslavia, em Cuba e no Vietnam, entre outras, ‘assim como a originalidade da experiéncia da Unidade Popular no Chile, 0 Partido Socialista propoe um socia- lismo que acolha e desenvolva © pluratismo, no respeito da dignidade do homem, na pratica da livre critica. no exercicio da cidadania e na organizacao de um Estado de Direito, Entende que a caminhada para o socialismo comporte diversidade de vias, dependendo fundomen- talmente das estruturas econémico-seciais e politicas de que parte e das formas de mentalidade e caracteristicas de civilizacéo dos povos a que respeita. Inscrevendo-se contra os modelos burocraticos e totolitarios que, por razdes historicns e@ contraditoriamente a inspiracao es- sencial do marxismo, o socielismo seguiu em certos paises, 0 Partido Socialista propée-se procurar, no de- bate das ideics e na acca popular e proletéria, a via portuguesa para o sosialismo em liberdade. aproveitando a experiéncia de outros povos e atendendo ao codicio- palismo da Peninsula tberica 6 © Partido Sociaiista combate o sistema copitalista e @ dominacdo burguesa. Recuso os metodos tecnocraticos @ esta certo de que, em parte alguma, © neocapitalismo conseguiré instaurar uma sociedade inspirada pelos ideais da igualdade social, antes vai agravando, sob formas insidiosas, a _exploragdo do maior nimero pela ‘minoria. O Partido Socialista repudia enganadoras mi- ragens de sociedades que so formalmente se apresentam como democrdticas, e se definem como sociedades de consumo, quando na realidade reforcam a desigualdade entre os homens e frustram as suas mais legitimas ospiragdes, nem sequer oferecendo uma solucdo cabal a0 problema da miséria mesmo em regides altamente desenvolvides no plano tecnolégico. 7. © Partido Socialista repudio o cominho daqueles mo- vimentos que, dizendo-se social-democratas au até so- ciglistas acabam por conservar deliberadamente ou de facto, as estruturas do capitalismo e servir os interesses. do imperialismo 8. Membro da Internacional Socialista, associagao de partidos socialistas e social-democratas, sem poderes de interferéncia na definigéo da linha prépria de cada partido membro, o Partido Socialista declara-se so! dério de todas as forcas que no mundo lutam pelo 6 Fontes para atistcra 2 alata socialismo democratico, contra o capitalismo e 0 im perialismo, A confianca que o Partido Socialista tem na sotidarie- dade humana envolve todos 0s provos e, portanto, o Partido Socialista procura a colaboracdo de todos na luta pela construcdo da sociedade socialista universal, na luta pela poz @ pela convivéncia entre as nacdes 9. O Partido Socialista definindo-se como radicalmente enti-colonialista, defende 0 direito o outodeterminacao e& © independéncio dos pavos sob dominacao colonial. Assim, denuncia como um dos mais graves crimes da ditadura fascista a politica de exploracdo e de opressdo dos povos dos colonias portuguesos, responsavel_pela eclosdo das guerras em Angola, Mocombique e Guine. Ferante uma tal situacdo, que se arrasta infindével, e que pode alargar-se ainda a outros territorios, o Par- tido Socialista preconiza o abertura imediata de nego: ciagdes com os movimentos nacionalistas africonos, como meio de acabar com uma guerra profundamente injusta © opressora dos povos das colénias e que, ao mesmo tempo, sacrifica © Povo Portugués — e espe- cialmente a juventude — para servir os interesses dos. grandes monopélios nacionais e estrangeiros. . 10. O Partido Socialista segue atentamente e considera de grande importancia as experiéncias dos Partidos Co- munistas que se propdem respeitar os valores do so- cialismo democratico assim como a contribuicdo trazida a0 movimento socialista pelos sectores inovadores da Nova-Esquerda. 11. © Partido Socialista propée-se desenvoiver a luta das classes trabalhadoras pela sua propria emancipacao @ entende que Ihe cumpre organizar para esse combate ‘operarios e empregados, camponeses e assalariados ru- rais, estudantes. pequenos empresarios e quadros, pro- fessores ¢ intelectuais. e todos aqueles que nao disso- ciem os valores do progresso da luta coerente pelo socialismo, 12. Consciente de que 0 fascismo e 0 coloniatismo séo as formas mais opressivas e brutais que reveste o copitalismo, 0 Partido Socialista considera que, no momento actual da vida portuguesa, o combate onti- fascista e anti-coionialista € condicéo da destruicdo da sociedade capitalista e da construcdo do socialismo, Esse combate, visando a eliminacdo dos suportes so- ciais do foscismo e do colonialismo, considera o Par- tido Socialista dever realiza-io em unidade de accdo com todas as outras forcas que se reclamam dos mesmos objectivos. 13. O Partido Socialista é@ uma organizacdo dirigida para a accao, essenciaimente preocupada com a for- magéo politica das massas trabalhadoras e com a sua intervencao na vida do pais. Rege-se por métodos de- mocraticos e reconhece plena liberdade de critica e de 7 Fontes a Historia 0 Pe ata opinido aos seus militantes; estes, porém, comprometem- se @ aplicor a orientacdo do partido e as decisdes dos seus orgdos directivos. eleitos e controlados pela base. 14. O Partido Socialista néo é uma organizacao secreta. E, peio contrario, uma organizacdo que aspira a uma vida legal feita inteiramente & luz da publicidade. No entanto, dadas as condi¢des anormais da vida politica portuguesa, a repressdo policial e a auséncia de ga- rantias efectivas que protejam os cidaddos contra os abusos do poder, € uma organizacdo que exige dos seus militantes 0 sigilo, como forma de defesa contra as perseguicdes fascistas, A resisténcia & represséo policial, o nao falar perante a policia politica, sao titulos de honra e deveres indeclindveis de todos os militantes do Partido Sociatista Fontes a Historia 0 Pe tata Fontes para Historia "eearaeta INTRODUCAO Fontes para a Historia to Pade INTRODUCAO Fazer um programa é um acto grave na vida de um partido, Grave mas ne cessario. Na verdade, 0 programa 6 uma carta de opcdes e representa o conjunto das solucdes preconizadas, das diferentes metas que 0 partido se propde atingir, ao mesmo tempo que serve como cimento parc unir militantes, aderentes e simples simpatizantes numa mesma comunidade de objectivos. Nao € nunca um trabalho facil elaborar um programa politico, Porem, nas con- dicgées de anormalidade em que decorre a vida publica portugueso, pode alirmar-se que @ mesmo uma tarefa arriscada, quase temerdria. Com efeito, taltam entre nés, quase em absoluto. os estudos de base. sco conhecidas as imperfeicées, insuficiéncias e atrazos das estatisticas oficiais.. e nao abundam, igualmente, os outros elementos directos pora um conhecimento concreto da reciidale nacional. © Governo, reservando-se 0 monopélio da infor- macéo, que filtra e manipula segundo as suas proprias conveniéncias, recusa 4 generalidade dos cidada@os 0 acesso ao conhecimento dos dossiers que mais im- portam a vida do Pais. Poucos sao pois os portugueses verdadeiramente informados do que se passa na sua terra e raros, rarissimos mesmo — e sempre escothidos em tuneGo da sua incondicional fidelidade ao regime — sd0 aqueles a quem é Garantido 0 direito de intervir na vida publica. A sociedade portuguesa, no seu Conjunto, representa assim a expressdo caracteristica de uma colectividade alienada, entregue aos «Senhores » do regime, que mandam tudo sent consultor o Pais, e sem ihe prestar contas, negando ha longos anas aos seus concidadaos, como se fossem subditos, as garantias minimas e o liberdade indispensdveis a uma verdadeira participacao. ‘A elaboragdo de um programa politico pressupde © conhecimento exaustivo da realidade sobre que se pretende agir e um certo treino @ familiaridade com os problemas e 08 assuntos piblicos. E a partir dai, dessa base de facto, que se pode caminhar — arquitectando as traves mestras do projecto, as solucoes de conjunto capazes de modificar essa mesma realidade e buscando remédio seguro para os males, as caréncias e as insatisfacdes ressentidas pela colectividade. Oro, se estas sGo bem conhecidas dos portugueses, nos seus efeitos persistentos @ depressivos, a verdade 6 que o conhecimento prévio indispensdvel da Fealidade subjacente € muitas vezes incompleto e tragmentario Mas para além desta primeira grande dificuldade — que importa nao perder de vista — deparou-se com outra ndo menos grave. O Partido Socialista gostaria de poder ter seguido na elaboracdo @ no processo de aprovacdo do seu programa um método inteiramente democratico, Gosteria de o ter feito discutir por todos ‘08 militantes, sem excepcao, e de 0 ter feito depois aprovar num Congresso piiblico, amplamente representativo das bases do Partido. Porém, nas condicdes de rigorosa clandestinidade em que esté condenado o viver — como alids sucede a todas ‘as outras organizacdes democraticas portuguésas — isso ndo @ praticavel_nem, ‘em definitivo, possivel. Reunir em Portugal dez ou vinte cidadaos, para pensar ¢ lazer politica, com uma certa regularidade, representa desde fogo um grande risco policial. Reunir com elementos de estudo e de consulta a mao, em boas 1 ‘Boats Fontes para a Historia 0 Pe Saale condi¢des de trobalho — e com tempo G disposigéo para discutir e confrontar opinides — significa, nas condigées actuais, um objectivo muito dificil de alcancar. NGo foi assim nada facil pér em funcionamento algumas das comissdes de trabalho Previstas. Reunides programadas, por motivos diversos, nao puderam realizar-se Houve elementos de informacdo importantes que ndo foram fornecidos a tempo de poderem ser utilizados. E, acima de tudo os debates ndo tiveram, muito longe disso, nem @ extensdo nem a profundidade desejadas. Mesmo assim, num periodo de tempo record, recorrendo a colaboracdes bastante Voriadas e valiosas, cumpriu-se 0 mandato do Congreso de Maio de 1973, gracas a dedicacdo @ ao espirito de sacrificio das duas ou trés dezenas de militantes mais directamente ligados 4 factura do progroma. Néo se trata pois de uma obra Qcabada, nem muito menos ainda tecnicamente perteito. Trata-se, contudo, de um trabalho sério que foi téo longe quanto se podia ir — no momento actual e dado © condicionalismo vigente — na concretizagao dos problemas e das salucées que se entrega, confiadamente, @ reflexdo critica de todos os camaradas, membros © simpatizantes do Partido, para que o discutam, 0 corrijam @ 0 completem. Em alguns pontos concretos acolheram-se mesmo sotugdes controversas de tipo parti cularmente polémico que estao longe de fazer a unanimidade dos votos expressos. Preferiu-se, porém, a adepcao de um critério de choque, susceptivel de provocar reacedes e de suscitar o debate no seio do Partido. ao refiigio nas vagas genera- lidades aceites por todos até na medida em que cobrem solucdes de compromisso gue normaimente deixom em aberto, sem os resolver, os problemas e as dificul dades_reais. © programa do Partido Socialista apresenta-se pois como um instrumento de trabalho, ndo definitive, como um projecto e uma referéncia necesséria para a orientacdo dos militantes, O seu objective contessado é 0 de contribuir para apro- fundar a discussdo ideoldgica e 0 estudo e consciencializacéo dos problemas reais do Pais entre os membros € simpatizantes do Partido. Nesse sentido, aberto como esté a todas as correccées, representa 0 contrario de um catecismo ou de um catélogo de solugdes acabadas Naturalmente, para a elaboracéo do programa, partiu-se de uma andlise da siluacdo portuguesa, acerca da qual existe, nas suas grandes linhas, unanimidade entre os socialistas. Portiu-se da condenacdo moral e politica do fascismo e do colonialismo da verificagao das tremendas responsabilidades do regime corporativo no estado de decadéncia e de ctrazo incontestéveis do Pais, relativamente-as outras nacoes europeias. Partiu-se do reconhecimento de que a sociedale portuguésa actual se caracteriza por uma durissima deminacdo de classe. Com efeito, enquanto © populacdo trabathadora falta tudo ou quase tudo (alimentacdo, instruedo, habi- $60, Seguranca no trabatho, na doenca, na invalidez @ na velhice, assisténcia médica © hospitalar, transportes e equipamentos colectivos) impondo-se-ihe ainda condicdes ‘de trabalho excepcionalmente violentas, tem-se deixado prosperar, @ sombra pro: tectora do regime, um punhado de banqueiros, de exploradores, de latifundidrios. de empresdrios € de politicos profissionais — 0 baronato politico-corporativo, espe- cializado no tréfego de influéncias e na corrupcdo — que se comporta relativa- mente ao Pais como se Portugal fosse uma quinta que, em exclusivo, the perten- esse. Esta situacdo, geradora de injusticas sociais gritantes, que alids se vem Ggravando, sem remédio, de ano para ano, s6 tem sido possivel perpetuar se, contra toda a ldgica, em virtude do regime violentamente opressivo a que tem estado sujeito 0 Povo Portugués, privado das liberdades politicas e sindicais, € ela que explica, de resto, a fuga da popuiacéo para o estrangeiro, em proporcdes que constituem uma catdstrofe nacional, mas que representa, por outro lado, uma forma de reaccdo contra a miséria e a opresséo em que vive a esmagadora maioria dos portugueses. Essa extrema dominacdo de classe exerce-se no contexto de uma sociedade ‘Subdesenvolvida, assente na exploracao das colénias, onde a expansdo das re- 12 lacées copitalistas ndo 6 acompanhada pelo correspondente crescimento das forcas produtivas. Na verdade, o capitalismo portugués, impotente para vencer a atrofia da actividade produtiva, continua a desenvotver-se por meios artificiais que relevam do puro parositarismo. Representa uma estrutura ‘incrustada na sobrevivéncia da sociedade senhorial Considerou-se porém que no programa nao interessava insistir sobre a andlise critica da situacdo presente (objecto de alguns estudos importantes ultimamente ‘aparecidos) nem sobre os perspectivas imediatas que podem abrir-se ao Pais, em consequéncia da crise profunda que atravessa o regime, tanto mais que essa andlise € essa avaliacdo foram feitas, em termos que o Congresso do Partido perfilhou integralmente, no relatério apresentado pelo secretério geral e publicado pelos «Textos Portugal Socialista» sob o titulo «Destruir o sistema, construir uma nova vido». Assim, considerou-se que o programa deveria reduzir ao minimo os feteréncias criticas 4 situacéo actual e, pelo contrério, apontar desde {4 para o fealizacdo de uma sociedade de democracia socialista, tal como a entendemos. © objectivo principal do Partido Socialista consiste, com efeito, em construit umo sociedade sem classes onde desapareca a exploracéo do homem pelo homer e posse florir, em plenitude. a liberdade. Para o Partido Sociolista os conceitos de democracia politica e de democracia econémica nao s6o sepordveis e. por isso, considera que a autogestdo, entendida esta na sua mais lorga acepcéo, ¢é a finali- dade central da sociedade socialista. Contudo, & luz da experiéncia histérica dos outros povos, que marcham ero direccdo G0 socialismo, hoje to rico e variada, ndo pode o Partido Socialista ignorar que o caminho que leva é realizacdo do sacialismo @ longa e ericado de dificuldades. Ora a sociedode portuguesa, dada a crise profunda que no momento ‘actual atravesso, propée problemas instantes que urge resolver prioritériamente. Antes de tudo, é necessdrio desembaracd-la rapidamente do fascismo e do colo- nialismo, causas principais do decadéncia de Portugal e sem o que nenhuma perspectiva de futuro e de progresso pode sequer, seriamente, ser encarada. ‘Ao mesmo tempo, 0 Popo Portugués — em confronto com os outros povos europeus — ressente hoje caréncias, necessidades e aspiracées vitais que importa satisfazer quanto antes. NGo seria justo, em atencao a perspectivas: de futuro se- quramente exaltantes mas incertas e afastadas no tempo, pedir novos sacrificios do Povo Portugués, adiando a solucéo de problemas imediatos e iludindo aspira- des, que podem e@ devem ser satisteitos imediatamente. Nesse sentido, o Partido Socialista no exclui a hipdtese de uma eventual participacéo num Governo Demo- Crético de Salvacéo Nacional, que as circunstdncias venham a impor, a curto ou médio prozo, para evitar, ou em consequéncia. de uma catéstrofe nacional que o ‘agravamento e 0 adiamento constonte dos problemas tornam muito provével © Partido Socialista propée-se lutar pela reolizacéa de certos objectivos imediatos, anteriores @ construcdo do socialismo, e que, além do mais, tém um caracter desde logo irreversivel. Podem ser resumidos nos cinco pontos seguintes: 1. destruir © fascismo, nao sé no plano das instituicées como através das suas bases sociais de suporte @ construir uma democracia pluralista; 2. liquidar a organizacéo corporativa, orrancor o poder @ oligarquia e construir a democracia econdmica (nacionalizacdes, planificacdo, autogestéo); 3. elevar o nivel de vida das classes trabalhadoras (mediante a realizacdo de um plano acelerado que satisfaca prioritériamente as necessidades de habitacdo, trabalho, educacdéo e seguranca social de todos) e, desse modo, assegurar condicdes de fegresso aos emigrantes; 4. ocabar com as guerras coloniais reconhecendo aos povos das colénias © direito @ auto-determinagéo e & independéncia; 13 Fontes para Historia to Pardo ‘Boalt Fontes para a Historia 0 Pe Saale 5. restaurar 0 prestigio de Portugal no Mundo pela reclizacéo de uma politica de paz e de progresso, 0 que implica relacdes diplomaticas com todos os paises, independentemente dos seus sistemos politico-sociais e uma cooperacao leal com a ONU e com todas as outros organizacées internacionais. © Partido Socialista tem consciéncia de que, por si sé ndo tem forca bastante Para operar uma tal trastormacdo da sociedade portuguesa, que abrird, aliés, o Camino irreversivelmente 4 construcao do socialismo, Por isso considera que urge realizar a unidade, na accdo @ nos objectivos, com todas as forcas demacraticas @ de progresso interessadas nessa transformacao. Nao tem sido dificil, em determinadas conjunturos, especialmente de tipo eleitoral, chegar a uma plataforma politica minima que possa ser subscrita por todas as forcas que se opdem ao fascismo e ao colonialismo. Essa unidade cir- cunstancial @ efémera nao @ porém suficiente, como esta provado. O Partido So Cialista propée-se ir mais além e chegar com os outros partidos e forcas politicas de esquerda @ elaboracdo de um verdadeiro Programa Comum de Governo de Unidade Popular, que assegure a transformacdo democratica do Pais e abra a via ireversivel para’ socialismo. Nao ignora 0 Partido Socialista as dificuldades de um tal objective, que as circunstancios nacionais impéem, entretanto, como absolutamente necessdrio. AS forcas politicas portuguesas que compéem a Oposicao Democratica, divididas em capelas rivais. por vezes mesmo inimigas, néo tém o hdbito do trabalho nem da reflexdo em comum e manifestam, com frequéncia, a tendéncia funesta para transformar as discussées ideolégicos e politicas ({normais} em querelas pessoais Ou inter-groupos. perdendo de vista 0 que é essencial e salientando to 86 0 acessorio. © 0 cifcunstancial. Ora o estado do Pais, a gravidade dos problemas e as caréncias Fessentidas pelo Povo Portugués exigem de todas os forcas democraticas a con. centracdo dos. esforcas no que € essencial e urgente: a libertacdo da Pétria (que @ todos pertence) do ignominia do fascismo e do colonialismo © Partido Socialista_néo pretende fazer a pedagogia da boa moralidade politica, entre as outras forcas oposicionistas, nem erigit-se em conselheiro de quem nunca Ihe solicitou conselhos. Pretende tGo somemte, no respeito mituo e na igualdade, encontrar com todas outras forcas politicas de esquerda 0 caminho da unidade, sem descriminagdes, Esse caminho, parece-Ihe, passa por uma correcta definicdo prépria, té0 aprofundada quanto possivel. & essa definicdo que se pre- tendeu atingir com_o programa que ora se apresenta e que ficara sendo, além do mais, a contribuicdo dos socialistas pars a obra de consertacdo colectiva que sera um dic _o Programa Comum das Forcas de Esquerda para a construcdo do Socialismo em Portugal 4 UMA POLITICA ECONOMICA AO SERVICO DO TRABALHADOR Fontes para atisora UMA POLITICA ECONOMICA AO SERVICO DO TRABALHADOR 1. Objectivos A politica econémica do Partido Socialista propoe-se duas ordens de objectivos. 1.1 A longo prazo 1.4.1 Assentar as bases materiais que permitam a todos 6s homens a livre escotha e fruigao dos bens necessérios 4 sua plena realizacdo. 1.1.2 Organizar a produgdo no sentido da desalienacdo do trabalho, para que, o trabalhador se manifeste na sua actividade como cidaddo inteiramente responsdvel @ autonémo, ao servico da comunidade, gracas 4 eliminagdo de todas as formas de exploracco do homem pelo homem, 4 pratica autogestionaria e 4 superacao na medida do possivel da diviséo do trabalho. 14.3 Crior as condi¢des técnicas e sociais para a diminuicae substancial do tempo de trabalho e consequente aumento dos tempos livres, de forma a permitir © desenvolvimento das actividades culturais, artisticas e lidricas, e 0 possibilitar a intervencdo de todos na gestao da sociedade a todos os niveis. 1.2, A médio e curto prazo 1.2.1 Arrancar Portugal de uma economia atrazada e dependente, lancando-o num processo de desenvolvimento econdmico rapido, apoiado numa planificagao demo- crética, na reforma agrdria, nas nacionalizagdes de empresas e numa politica de desenvolvimento regional diferenciado com a dinamizacéo e criacdo de actividades econémicas nas regides mais atrazadas do pais, sem que se descure, entretanto, @ defesa do meio natural. 1.2.2 Transtormar as relacées de trabalho dentro das empresas, feconhecendo ao trabathador 0 direito de as gerirem democraticamente, e de controlarem as suas condicées de trabalho, de forma a evitar as arbitrariedades autoritdrias, a disciplina repressiva, as cadencias excessivas, a percelizacdo embrutecedora das tarefas e, de uma forma geral, tudo © que torne o trabalho na empresa um fardo dificilmente suportavel. 1.23 Levantar répida e substancialmente 0 nivel de vida do povo portugués, em especial das suas amplas camadas trabalhadoras, com redugéo drastica das desiguaidades sociais e rapida promocao das classes actualmente mais exploradas, de modo a assegurar-Ihes a possibilidade de trabalhar e viver dignamente na sua propria terra, 1.2.4 Estruturar, alargar e submeter ao controle dos trabalhadores 0 sector publico, cujo peso na economia do pais deve ser decisivo e constituir o principal alicerce da sociedade socialista, tornando-se exemplar na eticiéncia dos investimentos, na capacidade gestiondria @ no progresso técnico, e instaurando, assim, uma dinamica social baseada na cooperacéo dos homens e ndo no Império dos lucros. 17 ‘Boalt Fontes a Historia 0 Pe aata 1.2.5 Reduzir o sector privado aos dominios nao decisivos no processo de desenvol- vimento econémico, subordinando-o ao pianeomento gerat, obrigando-o a dirigir 0s seus capitais para fins produtivos ¢ socialmente Uteis e submetendo-o ao controle dos trabalhadores. 2, Relacées de trabalho 2.1 Liberdade sindaca! e direito a greve 2.1.1 O PS. tera como primeira preocupacdo, em relagao aos trabolhadores, acabar com 0 opressdo de que sdo alvo, abolindo 0 corporativismo e impedindo qualquer forma de repressdo patronal. Os trabaihadores deverdo pois, desenvoiver livremente os seus direitos na fabrica e no local de trabalho, democratizando a gestao da empresa € nela participando activamente 2.1.2 A construgdo do poder dos trabalnadores implica a liberdade de criar sin dicatos da sua escolha, aderit a eles livremente e geri-los da forma mais conve niente para os seus interesses. Igualmente implica a liberdade de constituir fede- racdes @ confederacdes sindicais que se apresentem perante as empresas privadas, as nacionalizadas e os orgaos do poder politico, como organizacées representa tivas com o objectivo de exercer 0 poder democratico dos trabalhadores e como contribuicdo para a criagdo de uma verdadeira sociedade socialista. 24.9 Sera garantida a liberdade de sindicalizacdo e 0 efectivo exercicio dos direitos sindicais a todos os trabolhadores do estado @ a todas as instituicces locals administrativas 2.1.4 As organisacées sindicais poderdo estabelecer relacdes com organizacoes internacionais € nelas se filiarem 24.5 Igualmente se assegurara aos trabalhadores o direito de criar e manter orgaos de informacdo nos seus sindicatos ou no propria empresa 2.1.6 O direito @ greve sera assegurado como meio eficaz dos trabaihadores defen- derem os seus direitos € interesses no empresa ou em qualquer focal de trabalho Sera asseguredo aos trabalhadores 9 exercicio dos seus direitos sindicais na empresa, através do criacdo de seccdes sindicais ou de delegados que possam reunir @ discutir entre eles e com a direccdo da empresa as suas condicoes de trabalho, no sentido mais amplo desta expressdo. 21.7 Os trabalhadores poderdo negociar, com a empresa ou com o sector de actividade, conforme julgarem mais conveniente, a nivel colectivo das suas organi- zagdes sindicais, as condicdes de trabalho, sem quelquer restriccdo. 22 Gestdo dos trabalhadores 2.2.1 O conceito socialista de trabalho implica que o acio de producdo seja também uma afirmacdo da personalidade. A propria empresa deverd ser uma organisacéo: democratica, Tol orientacdo supoe que os trabathadores conquistem o direito de plonear, executar e controlar a politica econémica e social, através a sua parti- cipacdo real nos orgdos de odministracdo publica e na Gestdo das empresas. 222 © controle dos trabathadores dentro da empresa sera o primeiro passo da Sua intervencdo autogestiondria e serd aplicado tanto nos empresas nacionalizadas como no sector privado. Para além da progressiva eliminacao da propriedade pri- vada dos meios de producdo, os trabalhadores devem manter todos os meios Ge contestacao de novas formas de repressdo, exploracao, esbanjamento ou des Perdicio, resultantes de abusos ou nogligéncias da burocracia empresarial e publica. 22.3 Nas empresas nacionalizadas os trabaihadores participarao directomente na gestéo, mediante eleicao poro os corpos gerentes. Na gestao da empresa os tra- balhadores nunca poderdo estar em minoria. 18 Fontes para Historia to Paice 2.24 Nas empresas privadas, os trabalhadores participaréo na gestéo através de comiss6es constituidas e geridas democrdticamente, e que se desdobrarao em comissoe de estabelecimento e delegados de oficina ou de seccdo. Estas co- missdes serdo obrigatoriamente ouvidas em tudo 0 que respeite as condigoes de trabalho, no seu sentido mais amplo, e ainda em tudo o que diga respeito 4 gestao administrativa e financeira da mesmo empresa. Poderdo assim indicar os meios e objectivos que devem ser seguidos na gestéo e interpelar a direccdo da empresa sobre os motivos por que, eventualmente, ndo adoptou a linha preco- nizada pelos trabalhadores. 2.2.5 Nomeadamente as comissdes serdo informadas da gestéo da empresa e em particular terao acesso 4 consulta dos programas de investimento e de financia- mento, balanco, resultados e contas de exploracdo, plano de desenvolvimento de empresa, politica de saldrios, de farmacdo, promocao e classificacdo professional dos trabalhadores, etc... Estas informacdes e 0 acesso aos documentos deverdo ser facultados de forma a que as comissdes se possam pronunciar sobre as medidas @ tomar antes da sua execucdo. 2.2.6 As comissdes terdo ao seu dispor, na empresa, um local de reunido e meios para submeter aquelas informagdes 4 discusséo de todos os trabalhadores. 2.2.7 No que respeita 4 admissGo de pessoal, permanente e adventicio, sancdes, despedimentos, classificacdes e remuneracées, definicdo da escala hierdrquica de tados os postos do empresa e condicdes de trabalho, as comissées @ os delegados do pessoai poderGo condicionar ou suspender qualquer decisdo da direcedo da empresa e tentar, por acordo, solucionar com esta qualquer conflito sobre esses assuntos. Todos os conflitos entre a comissdo de empresa ou comissdo de estabelecimento e a direccdo, serdo derimidos pela jurisdicao do trabalho, tendo este recurso efeito suspensivo sobre quaisquer decisoes que hajam sido tomadas e sejam origem do pleito. 2.28 Igualmente serdo ampliados e garantidos os direitos dos comissées de higiene e de seguranca em cada empresa. Nas grandes unidades industriais {mais de 200 trabaihodores) seré nomeada uma comissao tripartida (delegados do entidade patronal, dos trabalhadores e ergonomos dos servicos oficiais) cujo conselho e decisdo serd atendido no que respeite a instalacdo e funcionamento de novos equipamentos, higiene, seguranca e poluicéo interior e exterior proveniente da laboracdo da unidade fobrit. 2.3 Legisiagéo do trabalho 2.3.1 O direito ao trabalho sera assegurado mediante legislacdo social adequada @ estritamente aplicada, nomeadamente no que respeita a condicées e duracdo do trabalho, despedimehtos, férias, formagéo professional e estagios de educacdo professional e de educacdo geral e sindical pagos como trabalho, emprego e desemprego, emigracdo, trabalho de mulheres, etc. 2.3.2 Serdo asseguradas, através eficiente inspeccdo do trabalho, a8 condicdes de higiene © de seguranca nas empresas, por forma a ndo existirem tolerancias ou deficiéncias graves nessos condicdes, essenciais para a execucdo do trabalho. 2.3.3. A duracdo do trabalho sera diminuido, a fim de se garantir a duracdo méxima de 40 horas semanais, com dois dias de descanso, sem qualquer discri Minacdo entre trabathadores ou categorias profissionais. 2.3.4 Sera abolido o direito absoluto dos patrées de despedir, devendo qualquer decisao de despedimento, individual ou ¢olectivo, ser discutida e aprovada pela comissdo que os trabalhadores tiverem constituido na empresa. 2.3.5 A nova legislacdo social asseguraré um periodo minimo anual de férias nao inferior a um més, sem qualquer discriminagéo baseada na antiguidade, categoria Profissional ou profissdo. 19 ‘Boats Fontes para a Historia 0 Pe ata 2.3.6 Todos os estdgios ou cursos de educacéo e formacéo profissional geral @ sindical serdo pagos e garantidos pelo Estado e pelas empresas, em sistema de educacéo permanente, possibilitando a melhoria da copacidade profissional_e as requalificacdes que forem juigadas necessdrias, bem como a oifabetizacdo de todo o pessoal 2.3.7 Serd igualmente garantido o emprego dos diminuidos fisicos e mentais, sem que estes se possam sentir discriminados em relacdo aos demais trabalhadores e por forma o atingir uma progressiva e plena integracdo sociat dos diminuidos. 2.3.8 A idade para ter direito a reforma sera fixada em 60 anos mas os trabalha- dores nao poderao ser compelidos 4 reforma e portanto, continua a ser-lhes garantido, @ partir dessa idade, o direito ao trabalho, se néo for dectarado qual- quer factor de incapacidade. 23.9 Serao criados e garantidas as condi¢des pora o regresso @ emprego dos emigrantes, como objectivo essencial para um pleno desenvolvimento sociatista da producdo @ para a realizagao de um direito fundamental 2.3.10 Serd eficazmente aplicade o principio «a trabalho igual saldrio igual» tanto no que fespeita aos jovens como no que respeita as mulheres, assegurando-se em relacéo o estas, quanto @ promocdo, qualificacdo ou remuneracdo do seu trabalho, que ndo sofra qualquer limitacdo derivada da sua situacdo ao casamento, aos filhos ou ao sexo. Assegurar-se-4 contudo, em relacdo ds mulheres, condicoes de trabalho adequadas 4 situacdo de gravidez e maternidade. 23.11 No Gmbito da alteracéo profunda e necesséria do legislacdo do trabatho, ter-se-d ainda em especial atencdo a modificagao estrutural dos tribunais do Trabalho que deveréo ser integrados como tribunais comuns para jutgamento das questées de trabalho, assistidos por um juri de trabalhadores, ossegurando-se desde logo a independéncia e inamovibilidade dos juizes, que ndo poderdo ficar nem ser colocados em situacdo de dependéncia do poder executive 2.4 Aumento do poder de compra 2.4.1. Seré assegurado um aumento regular do poder de compra dos trabalhadores Ter-se-d em conta, fundamentalmente, a subida répida dos salérios, o olarga- mento e methoria das prestacdes de Seguranca Social ec diminuicdo da carga fiscal que afecta os pequenos e médios contribuintes. 25 Salarios 2.5.1. Os aumentos de salérios incidirao, com prioridade sobre os mais baixos e sobre 0s que remunerem trabathos mais penosos, toxicos @ perigosos. 2.5.2 Sera criado € gorantido um saldrio minimo para todos os trabalhadores que nao devera ser inferior a 4000 escudos de acordo com o indice de custo de vida em 1973. 2.5.3 Sera delerminada @ garantida uma tabela de diferenciagdes salariais méximas entre as varias qualificacdes profissionais, de forma a reduzir, drasticamente os disparidades entre os salérios, Ndo se aceitaréo iguaimente descriminacées com base na localisacdo geogratica e na promessa de garantia de continuidade de emprago. 2.5.4 © salario minimo, bem como todos os niveis salariais a inscrever na tabela. oumentardo regularmente de acordo com um indice de precos, a organisar juntamente com 0s sindicatos, 0 qual saré periddicamento revisto @ actualisado. 2.5.5 Ao mesmo tempo que se promoverd a estabilidade dos precos, garantir-se-a através da referida escala movel de saldrios, 0 poder de compra de todos os trabaihadores. Todos os produtos Glimentares que sejam essenciais 4 vida, terao um preco administrative, quando necessdrio, para defender o poder de compra do trabalhador. 20 Fontes para a Historia to Pade 2.6 As prestagdes da Seguranca Social 2.6.1 Serao aumentades e eficazmente garantidas todas os prestacdes directas da Seguranca Social (assisténcia, subsidio pecuniario na doenca, maternidade, abono de familia, pensdes por invalidez, velhice @ sobrevivéncia, acidente e desemprego). 2.62, Para além do que seré definido nos capitulos relativos @ Seguranga Social € G Habitacdo, © abono de familia sera substancialmente aumentado, tendendo o garantir a cobertura dos encargos que a crianca ocasiona na familia. 2.6.3 As pensoes de invalidez e de reforma por velhice serdo também aumentadas, por forma a garantir-se, no minimo, 80% do sclario médio dos ultimos 3 anos com remuneracées mais elevadas, salvo no que toca és pensdes de invalidez absoluta, que sera do montante igual é média attaz referida 2.6.4 As pensdes de sobrevivencia serdo calculadas também sobre esse saldrio médio e por forma a ndo serem inferiores a 60% do mesmo saldrio. Estas pensdes serdo actualizadas automaticamente de acordo com o aumento do custo de vida, tal como se prevé no capituo reativo 6 Seguranca Social 2.6.5 Serdo negociados novos acordos com os paises europeus onde haja emigracao portuguesa. nivelando a cobertura de riscos, dos subsidios e dum modo geral de todos os direitos sociais, pelos que auferem os trabalhadores naturais desses paises, acordos esses que substituirdo os vigentes firmados pelo governo fascista que aceitou a nivelacdo pelos quantitativos practicados actualmente em Portugal, dando com isso a prova evidente do abandono a que vota os emigrantes. 3. Accéo dos consumidores Os consumidores intervirGo activamente nas opeées do producdo e do critério da producdo e da distribuicao que devem ser decididas pelo critério da satisfacao das necessidades e nao pelo critério do maior lucro. Serao fomentadas associacdes de consumidores que garantam a sua defesa eficaz e a sua capacidade de in- tervencdo nas decisdes, assim como cooperativas de consumo a cujo incremento se dard especial relevo tanto aos estabelecimentos de base como aos ormazens abastecedores, aos orgaos de producdo propria e ds superestruturas de coordenacéo da actividade do sector cooperativo. 4, Planecmento, sector publico e accdo do Estado 4.1 Ao estado competiré néo sémente planear e montar infrastruturas econémicas @ sociais mas tambem executar projectos agricolas, industriais e comerciais capazes de impulsionar decisivamente 0 desenvolvimento e @ socializocéo da economia 4.2. O planeamento néo sera indicativo mas determinative das quantidades globais para o conjunto do territério e das actividades, evitando contudo a rigidez ou @ excessiva miniicia das decisées centrais. 4.2.1 Na sua elaboracdo seguir-se-a 0 caminho democratico, com amplas consultas aos trabalhadores e cheles de empresa, e discussdes em comissoes de diver- SOs niveis. 4.2.2 Essa elaboracdo assentara nos projectos empresoriois, sectoriais, tocais, regionais, etc., e na expressdo livre e aberta a todos das necessidades, numa perspectiva de descentratizagao administrativa e econdmica. 4.2.3 A sua execucdo ira sendo corrigida em fungdo das criticas oriundas dos liversos escalées © orgdos pliblicos @ privados. 4.3 © organismo incumbido da organizacéo do Plano o Instituto de Planificacdo Democratico dependera do governo do ponto de vista administrative, mas tera um estatuto autonome como orgdo superior do Estado, 4.4 Os investimentos pUblicos deverao processar-se a todos os niveis e em todos os sectores, fundamentalmente nos figados @ dinamizacéo da agricultura, implantacdo 21 ‘Rotates Fontes a Historia 0 Pe atata de industrios de base, desenvolvimento de industrias de ponta e, muito em especial expansdo racional dos infraestruturas, equipamentos colectivos, ¢ srrvicos so ciais e@ culturais. 4.4.1 A politica de investimentos a médio e longo prazo sera executada pelo Bonco Nacional de Investimentos, instituigdo estotel a criar para centralizar « fomentor esta actividade. 45 A administracdo do sector piiblico, até agora dispersa e objecto de escandaioso favoritismo politico € de subordinacdo aos interesses da oligarquia, compotir a Organizacdo Auténoma do Sector Publico (ORGASEP) entidade de direito pliblico que englobara todas as participagdes do Estado, tanto as ja existentes come oquelos que venham a resultar da socializagdo de empresas privadas, especiaiments dos estabelecimentos bancarios, de crédito, e sociedades para-financeircs Tanto a ORGASEP como as empresas nela integradas poderao mobilisar « poupanca privada pare atingir e desenvolver o seus objectivos econdmicos. 4.6 Os trabathadores, incluindo 0s quadros tecnicos @ administrativos das emipreseis administradas pela ORGASEP, participaréo na gestdo dos restantes orgéas wublices directamente relacionados com actividades econdmicas e financeiras 4.7 Ao Estado compete. além das funcdes definides, um papel fiscalizador do cumprimento pelo sector privedo das linhos vectoras da politica industrial, co mercial e agricola e das relacionadas com a importacao e a exportacao. 48 O recurso aos investimentos estrangeiros sera orientado em conformidade com © planeamento nacional, Estes investimentos serdo aplicados em sectores de terminados pelas exigéncias do desenvolvimento do pais. Impedir-se-0 0 controic dos capiiais estrangeiros sobre as empresos e estabelecer-se-do criténios rignroses de auto-financiamento -e expatriacado dos lucros. Numa planiticacdo socialsta © secior industrial ocupa uma posicao primordiai © @ um factor determinante do desenvolvimento econdmico nacional ¢ da elevacde de nivei de vida das ciasses trabalhadoras, 5.1 O PS preconisa assim uma politica industrial que, apelando pare uma técnica avaneada e sem exploragdo purasitéria de mao de obra, assegure um produto que Salisiaca @ procura interia em concorréncia de preco e qualidade com a industria estrangeira @ permita o desenvolvimento industrial em condigdes de concorréncia no mercado euroveu, sendo ainda competitivo internacionalmente. 52 0 PS. considera que uma economia de pequéna dimensdo, como é a portuguesa tem de tomar o caminho da especializacéo de actividades industriais que permitam um peso especifico de competitividade internacional e preconisa 5.21 Uma politica selectiva subordinada ao critério do autonomia de rentabilidade financeira, com base no mercado interno real e virtual @ no mercado internacional, para as indistrias pesadas de base que se apoiam na riqueza do sub-solo nacional — mineiras, quimicas, e quimico-metalurgicas —- que sejam indispensdveis ao desenvolvimento economico nacional, 6.2.2 A criacéo duma industria aiimentar que os caracteristicus da producco agro silvicola, pecucria e pesca, do sector primario, aconselham e que asseguram simul taneamente o emprego duma grande quantidede de méo de obra, assim como uma indusiria complementar que valorise comerciaimente as matérias primas. cuja quo lidade as tornam conceituadas no mercads mundial 5.2.3 A restruturacdo, pola concentracéio em base cooperative, das induistrias tro dicionalmente enraizadas na economia portuguesa ou que actualmente se encontram froqmentadas em pequenas unidades, € que ocupam grandes contingentes da populacdo activa, equipando-es com navas maquinas e apetrechamentos técnicos. 22 Fontes para Stistcrl to Pardo instalando-os de forma adequada, para ines aumentar a productividade, de acordo com a investigacéo tecnoldgica e cientifica e com os métodos modernos de gestéo e comercializacao dos produtos. 5.3 O P.S. dard um especial relevo ao desenvolvimento das instatagdes portudrias e duma politica de transportes aliadas com a criacao de complexos industriais com utilizagéo intensiva de mao de obra e de técnicas avancadas. A posicdo geografica de Portugal, como testa de ponte da Europa no Atléntico, confere-Ine uma posic¢do privilegiada que tende cada vez mais a aumentar com a tendencia geral para a deslocacdo das grondes industrias quimicas e metalurgicas para a orla maritima, 5.4 O P.S. considera o desenvolvimento desta politica numa perspectiva demo crdtica e socialista dos povos ibericos. 5.5 A politica industrial sera concebida dentro do principio do desenvolvimento yarmenico do todo geogratice nacional, com a aceleragao do desenvolvimento regional das zones mais atrazadas do interior do pais e com prioridade de pro- mocéo social e econdmica das camadas da populacéo mais exploradas. Esta politica sera conjugada com ume politica geral de ordenamento do terntério, no que respeita G localisagao das indistrias, com vista a eliminar as diferencas entre a populacdo do interior do pais e a populacdo dos centros urbanos da faixa costeira 6. Nacionalizacoes: © plano de nacionalisagées sera escalonado e iniciar-se-4 pela nacionalisacdo dos bancos, dos holdings financeiros, das empresas necessérias & promocdo © arranque de regides atrasadas, das empresas dependentes do privilégio politico, e das grandes empresas que exptoram @ producdo e distribuicao de energia, 0 armamento, as comunicagées € O& transportes, nomeadamente © grupo CUF. a siderurgia nacional. © complexo petroquimico de Sines e a SACOR. Ampliar-se-d depois o sector publica mediante @ nacionalizacéo das restantes industrias de base. tanto extractivas como \ransformadoras, e de um modo gerai, das empresas que se dirigem @ satistacdo das necessidades colectivas. Empreender-se-d entao a sociclizacao dos restantes meios de produgdo ¢ distribuicdo. Serdo respeltadas os posi¢des dos pequenos accionistas das empresas nacionalizados e impedides as manobras financeiras fraudutentas, em especial o especulacdo @ o fuga de capitois para o estrangeiro. Para além das expropriacées que vierem a ser efectuadas. quando houver lugar a indemnizacdo, serdo estas sctisfeitas através de litulos da divida plblica, amorti zaveis a longo prazo. Aos antigos emprescrios sera assegurado o exercicio de funcoes compativeis com a sua competéncia técnica e com a disposicéo que manifestem de se integrar nos objectivos do politica econdmica definida Qs trabalhadores parteciparao na gestao das empresas segundo formulas e estrutu- ras a ensaiar, que irao desde a participacdo na gestdo até a autogestao. Para além das instituig¢des estatais especializados a criar, a Assembleia dos Repre- sentantes do Povo sera 0 orgao méximo do contrale dos empresas nacionalizadas. 7. Reforma agréria 7.1 A reforma agrGria prosseguira dois objectivos fundamentais. 7.1.1 Promover a melhoria da situagdo social e econdmica dos trabalhadores rurais @ dos camponeses, pela transformacéo das estruturas da propriedade; 7. 1. 2 Vencer a crise crénica da agricultura, dotando-a dos meios tecnicos e humanos necessdrios ao aumento da produtividade e do volume e voriedade do produto, 7. 2 Para a concretizacdo destes objecvtivos impée-se: 23 ‘Rotates Fontes para a Historia 0 Pe atata 7. 2, 1 Nas zonas latifundidrias, a expropriagdo das terras acima de determinadas dimensées e das coutadas, por um preco em que nao entre a valorizacdo provocada pelas obras de rega ou por outras beneficiacdes feitas com dinheiros ptblicos, acompanhada por medidas que visem um _redimensionamento dptimo das esplo: racées; deverd evitar-se o erro da distribuicdo de pequenas propriedades a colonos, optando-se pela exploracéo em herdades colectivas ou através de cooperativas agricolas. 7. 2. 2 Nas zonos de minifundio, a associacéo em cooperativas, para dispor de méquinas, assistencia técnica e crédito para comprar motérias primas e comercialisar 0s produtos, acompanhada de medidas de emparcelamento das formas de cultura em situacdes ecologicamente afins ou de exploracdes economicamente inwidveis por demasiado exiguas. Para esse fim, o P.S. levard a cabo uma accdo social @ pedagégica para desenvolver o espirito associative do pequeno produtor individual, ‘aproveitando as estruturas novas de cooperacdo, na producdo, comercialicéo @ industrializacao dos produtos agricolas. na formacdo profissional permanente, na contabilidade @ gestdo dos exploragdes agrdrios. 7. 2. 3 A reforma promoverd 0 modificacdo das técnicas de producdo e adaptacdo das culturas aos solos; determinara a distribuicdo das actividades pecudrias e florestais em funcdo do condicionamento geogrdfico; e introduzira novas culturas de plantas industriais até agora dificultadas em Portugal, pelas companhias monopolistas das colénias, tais como: o algoddo, o tabaco, o beterrabba sacarina, a soja, etc., cuja auséncia na gama dos produtos agricolas portuguéses muito tem contribuido para © baixo rendimento e atrazo da lavoura nacional 7. 2. 4 As transagées da propriedade fundiGria a que dé origem a expropriacdo dos latifindios e © parcelamento dos minifindios sero conduzidos pelo Instituto da Reforma Agraria, IRA. Ao IRA competiré, além disso, a assisténcia técnica das exploracées, a formacao profissiona! permanente dos agricultores e a supervisdo da ica agraria; 7. 2. 5 A Reforma Agréria eliminara todos os vestigios semi-feudais da exploracéo agricola, tais como foros parcerias, quaisquer que sejam as modalidades actuais, tendo em vista 0 principio de que a terra pertecence a quem a trabalha. 8 Desenvolvimento regional & 1 A politica de desenvolvimento regional sera dinamizada pelos seus mais directos interessados — os trabalhadores @ as autarquias locals — e@ terd em vista a organizacdo racional do espaco através do éptimo aproveitamento de todas as suas potencialidades 8. 2 Serdéo implantados de forma apropriada equipamentos econdmicos e sociais que constituam polos de atraccdo e, por esse facto, promovam um ordenamento especial da populacdo de acordo com as necessidades e interesses de modo a eslabeleces-se uma relacdo odequada entre os recursos naturais e a cobertura Populacional, condicdo de bem-estar, de progresso social e de integracdo de todos na vida nacional. Para se efectivar essa orientagdo sera inventariado 0 equipa- mento econémico existente — estrutura dos diferentes sectores de actividade, niveis de emprego e populagdo — fluxos de pessoas e bens e estruturas administra- tivas, sempre com a participacdo activa das populacdes locais e tendo em consideracdo as vocagées e potencialidades das regides 8 3 A politica de desenvolvimento regional considera prioritérios os investimentos nas zonas criticas, onde os sintomas de retrocesso social e econémico sao particularmente graves, nos «polos de desenvolvimento », em redes de comunica- des répidas, na criacao de infra-estreturas e de centros culturais e sociais, 8 4 Simulténeamente com a criagao de grandes complexos industriais, alguns em conexdo com a produgdo agricola, justificados por razdes de especializacdo técnica, 24 Fontes | a Historia to Pade desenvolver-se-0 no pais varios polos de industrializacdo que criem postos de trabalho para a populacéo libertada das actividades tradicionais. Para isso terd de se incentivar o lancamento de unidaddes industriais dotadas de eticiéncia tecnologica, que aliem o aproveitamento dos recursos naturais 4 sotisfagao das necessidades regionais e nacionais. 8. 5 Serdo criados organismos de coordenagdo e excecugéo, a nivel nacional e regional. A nivel nacional, organismos de orientagdo e apoio técnico; a nivel local organismos de gestao coordenacdo e accdo técnico-financeira, Tais organismos serao efectivamente representativos dos interesses dos trabathadores e, portanto, eleitos por sufragio directo das populacdes locois. 9. Reforma fiscal 9.1. O P. S. propde-se promover uma reforma fiscal, que abrania a totatidade dos actuais impostos, taxas e contribuicdes, que elimine as distorcdes ¢ injusticas a que tem dado origem, por toda a parte. o copitalismo {agravadas pelo sistema fascista-corporativo, que fez de Portugal um «paraiso fiscal» para os ricos) ¢ que seja um factor importante de correceéo das desigualdades e de justica social 9. 2 A incidéncia da imputacdo fiscal tem de cair principalmente sobre os impostos directos, de toxa fortemente progressiva, e tem de visar o rendimento de preferéncia @ producdo, distinguindo ainda entre rendimento do trobalho’ e do Capital (monetério, financeiro, industrial, imobilidrio € comercial) . 9. 3 A reforma fiscal integraré o actual imposto profissional no imposto de rendimento, elevando neste os limites de isengdo sobre os saldrios € os ardenados, e tera como objectivo defender os trabaihadores e alivicr os artesdos, os pequenos agricultores, os pequenos industriais e os pequenos comerciantes, da carga tributéria que sobre cles peso. 9. 4 Os impostos indirectos sobre 0 consumo serdo profundemente reestruturados com 0 objective de que a carga fiscal incida predominantemente sobre os consumos sumptudrios € alivie os consumos ordindrios essenciais 4 vida do povo portugués. 9. 5 Serdo estruturalmente recrganisadas as contribuicdes que incidam sobre as sociedades comerciais, unificando-as pelo critério de impostagéo progressiva dos lucros realizados, com base na normalizagdo geral da contabilidade e na definicéo de critérios rigidos quanto @ autorizacao, formacao de fundos, despesas adminis- trativas e outras formas de fuga co imposto As sociedades econdmicas e 0s «holdings » serao sujeitos a uma regulamentacéo que evile que se transformem em meios correntes de » camoutiar » lucros feoninos. 9.6 As sociedades multi-nacionais instaladas em Portugal serdo sujeitas a uma fiscalizagao escpecial de forma a impedir a fuga dos lucros do imposto, realizado por meio de transteréncias cbusivas para outras tiliais situadas em paises diferentes. 9.7 O imposto sucessério sera corrigido por forma a deixar de ser, como até agora, uma fonte escandaiosa de injusticas. Impedir-se-a a classe oligarquica de se furtar 0 imposto sucessério mediante o expediente da criagdo de sociedades andnimas onde as acgées se transferem de pais a filhos sem pagar imposto, A taxa de imposto sucessério seré acentuadamente progressiva para as grandes herancas e aliviada em relacdo aos pequenos patrimidnios, principaimente no que se retere aos filhos, conjuges e ascendentes. 9.8 No tributacdo da propriedade ter-se-¢ em consideracéo nao sémente o rendimento obtido e dectarado mas também a capacidade de rendimento desper- dicado pelo nda aproveitamento das suas potencialidades, por negligéncia ou absentismo do proprietério 9.9 A descentralizacdo administrativa e econémica, aliada uma estratégia de desenvolvimento regional, que sao as morcas fundamentais do programa do P. S. implica uma descentraiizacao fiscal para que as financas loca's, do concelho e da 25 ‘Rotates Fontes para a Historia 0 Pe ata frequesia, disponham de receitas préprias Para tanto a fiscalidade nacional sera estruturalmente alterada pela cedéncia as autarquias locais de parte importante das receitas gerais e a criacéo de impostos e taxas facultativos. 10. Potitica monetaria 10.1 O P.S. preconiza uma politica monetaria de reforma estrutural da moeda, do crédito e dum modo geral de todo o sistema bancdrio, com o tim de assegurar a estabilidade da moeda e orientar os investimentos, 10.2 O PS. propée-se integrar_o sistema bancério e dum modo geral todas as actividades financeiras num SERVICIO PUBLICO DA MOEDA E DO CREDITO {S.P.M.C,) cuja funcdo é a de alimentar com capitais crédito e servicos as ac vidades econémicas, tanto do sector puiblico como do sector privado e, preferen- temente, as que se encontrem ligadas a fins pradutivos 10.3 © Banco Central terd o exclusivo da emisséo do papel moede, o controle da moeda escriptural em colaboracdo com S.P.M.C. e, dum modo geral, a regula. rizacdo da liquidez do sistema monetério nacional 10.4 Os circuitos financeiros originados no comércio externo © © financiamento das respectivas operacdes serao executados @ controlados pelos S.PMC. e Banco Central 10.5 Considerando o papel importante que as sociedades multinacionais, instaladas em Portugal podem assumir como instrumento de actividades financeiras espe culativas, por meio de transferéncias de capitai e emissoes « selvagens » de euro- dolares ou eurodivisas. as transacdes financeiras dum modo geral, e as das so- ciedades multinacionais.em especial, ficam sujeitas ao controle do Banco Central e do SPMC. 10.6 A especulacdo contra a moeda seré considerada um delito detinido por lei e tomar-se-do medidas para subtrair o mercado financeiro @ accdo dos especuladores. 10.7 A selectividade do crédito ¢ a fixagdo de toxas de juro diferenciais sera estabelecida em fungdo das actividades consideradas prioritarias pelo Plano. 10.8 A mobilizacdo da poupanca seré dirigida para investimentos colectivos e produ- tivos, equitotivamente remunerada e garontida contra a alta dos precos. 26 UMA POLITICA SOCIAL AO SERVICO DO POVO Fontes para a Historia oo Pari UMA POLITICA SOCIAL AO SERVIGO DO POVO Uma politica social inspirada nos ideais socialistas propée-se integrar num todo harmonioso as diversas actividades das pessoas, dando-ihes condicdes para o pleno desenvolvimento das suas copacidades. Do tabalho 4 vida cultural e artistica da educacdo @ investigacdo, do turismo 4s actividades ludricas, propor-se-d cons. truir, nd0 apenas uma vida materialmente methor, mas também uma vida quali- tativamente diferente. | - Educacao e ensino 1. Principios gerais 1.1 Sergo garantidas a todos os portugueses iquais oportunidades de formacao Mental @ fisica, igual respeito pelas aptiddes demonstradas, acesso livre ao ensino e@ @ cultura de forma a que todos possam desenvolver plenamente a sua perso- nalidade e contribuir para a construcae da sociedade socialista 12 Tois garantias seréo ajustadas as opcées livres feitas pelos cidaddos e a Programacao geral da politica educacional, enquadrada na politica global socio- scondmica e tendo em conta particularmente as necessidades e caréncias pressen- tidas nos diversos sectores profissionais da vida colectiva 1.3 Para tanto, impde-se reorganizar profundamente o ensino, a todos os niveis, ‘Os instituicdes de investigacdo e de cultura e promover uma politica de auténtica educacdo popular, ¢ de tormagde profissional permanente. importa dar ca homem 0s meios de prosseguir indefenidamente a sua formacdo moral e cultural, ao \rabaihador as condigdes de desenvolver o seu aperfeicoamento técnico-professio- nal e ao cidadGo a capacidade de intervir de maneira consciente e directa na gestéo da vida publica 1.4 © Partido Socialist, em matéria educacional, inspira-se na Declaracéo Uni= versal dos Dirsithos do Homem que prescreve no seu art. 26 n. 1: «Toda o pessoa tem direito 4 educacdo. A educagdo deve ser gratuita, pelo menos no que fespeita ao ensino elementar e fundamental, O ensino elementar € obrigatorio, O ensino tedrico e professional deve ser generalizado. O acesso aos estudos supe- riores deve ser aberto a todos, em plena igualdade, e em funcdo do seu mérito» 1.8 Para o Partido Sociatista a escola tera de estar ao servico do Povo e sera faica, gratuita e auto-gerida, O desenvolvimento e generalizacéo da educacdo, da formacae profissional permanente e da cultura popular sdo objectivos prioritarios do Partido Socialista, na propria medida em que se considera como condigées funda- mentais para uma mudan¢a qualitativa da vida. 1.6 © Partido Socialista estabelece como prioridade das prioridades, em matéria de educacdo nacional, a tiquidacdo radical do analfabetismo mancha vergonhosa 29 ‘Koala Fontes para Historia to Pardo a que 0 fascismo ndo soube ou ndo quiz dar solucdo durante quatro longas décadas. Para tanto propée a realizacéo de uma campanha nacional que mobilize o sector ptblico e privado, as autarquias locais e as diferentes associacdes e colectividades, de forma o alfabetizar num prazo maximo de tras anos toda a populacao adulta. 2. Finalidade do ensino © organizacéo da escola 21 O ensino na nova sociedade socialista visa 0 completo desenvolvimento da personatidads de cada educando com a formacao da consciéncia do cidaddo e do trabalhador, isto 6, os dois vectores fundamentais da formacdo integral do homem, educagdo como personalizacdo. 2.1.1 O ensino néo 6 mera transmissdo de cultura feito, ndo ministraré um corpo fechado e estdtico de conhecimentos considerados definitivos: partira, sim, de pro- blemas, numa atitude de constante indagacdo, seguiré na medida do exequivel a actividade de descobrir, arquitectar hipdteses, verificd-las, discuti-las, discutir conclusées e caminhos; sempre impregnado do espirito de pesquiso, numa orien- tacdo critica, incutiré o sentido de que os conhecimentos e toda a cultura se criam, e continuarao a criar, de maneira inconformista, inovadora 22 A escola constituira uma pequena sociedade, de que sdo eliminados quanto possivel os defeitos da sociedade adulta, mas em que se preparam os educandos: para fozer frente a esses defeitos. Educa-se, pois, para uma civilizacéo em mudanca e para que cada futuro cidaddo seja um factor consciente de transfor- macdo ao servico da sociedade socialista, 2.2.1 Como pequena sociedade, abrangeré a escola todas as actividades: trabalho Manual, trabalho intelectual, desporto € educagdo fisica, diversdes, actividades associativas, convivio, fruigéo e criacdo artistica, etc. (principio da educacéo in- xegral e da educacdo como vida e néo como simples preparacdo para a vida). 2.3 A aprendizagem néo seré recepcéo passiva da licdo do mestre, mas sim ‘actividade criadora, sempre que passivel esponténea, do educando, sob a ori- entacdo ndo impositiva e com a colaboragdo do professor, O educando teré o ensejo de iniciativa na escolha das suas actividades, que se procurard brotem ao maximo dos seus interesses, despertando forte motivacdo (principio do inte- resse e da escola activa, da educacdo funcional). 24 Deve procurar-se fazer desaparecer o ensino dirigido a uma multiddo anénima (© que obriga imediatomente a reduzir o numero de alunos por turma), a fim de passar a considerar-se de per se a personalidade de cada educando (principio da individualizagdo do ensino ou da escola por medida) 2.5 Os alunos e os estudantes trabalhardo o mais possivel em tarefas de colabo- racao, a escola funcionaré como uma sociedade em que se dividem fungdes num exerciclo soliddrio (principio da socializacdo da educacdo) 2.6 Adimitindo-se que a co-instrucdo seja evitada nos casos em que haja contra- indicagGo biolégica, psicolégico ou profissional, «em todos os grupos do ensino vigorara a co-educacao, regime favordvel & existéncia de atitudes sds, assentes no conhecimento, compreensdo e respeito reciprocos dos rapazes e das raparigas @ exigido pelo facto sociolégico de uma presenga nova da muther no mundo do trabalho, das responsabilidades sociais e culturais (principio da co-educacdo} 2.7 A responsabilidade dos docentes e discentes impde a sua participacdo efectiva no governo da escola e de todas as instituicSes escolares e periescolares; os seus representantes devem ser eleitos sem qualquer discriminagao, e ds suas asso- Giagées assugurar-se-6 ampla autonomia, com recusa de qualquer intromissdo © garantia de poderes definidos (principio do self-government, de educacéo pela cidadania). 30 ‘Boats Fontes para a Historia oo Pari 3. Educacdo e cultura de base 3.1 Perante a escola todos tém que ser socialmente iguais: a} todos tém direito a receber a educacdo e a instrucdo até ao nivel a que [hes possibilitem chegar as suas capacidades intelectuais e as caracteristicas da sua personalidade; b) todos 28 que recebem a educagéo e a instrucdo referidas estao. por isso, dispensados de outro trabalho para ganhar a vida. Assim, todos receberdo bases de educacdo e cultura iguais antes da especializacdo profissional, as diferencas resultardo ‘apenas das tendéncias fundamentais da personalidade de cada qual 3.2 © ensino serd obrigatério nos escaldes elementares e@ médios (bases gerais de educacdo e cultura), isto é, dos 3 aos 15 anos. Este limite superior devera ser levantado, o mais rapidamente possivel, para os 18 anos, de acordo com as possi- bilidades crescentes do desenvolvimento global do pais. 3.3 A escolaridade obrigatéric, iniciada_a partir do ensino infantil, assumird os escalées necessdrios adaptados 4 evolucdo psicolégica dos alunos, e sera ministrada em edificios que cobrirao, em rede rigorosamente ploneada, toda a area do pais. 3.4 © ensino serd inteiramente gratuito em todos os seus graus. Inicialmente praticar-se-d uma ampla politica de concessdo de bolsas aos estudantes de _menores recursos econémicos. Posteriormente instituir-se-G 0 regime de pré-salério. 3.5 A movimentacéo dos alunos no esquemo do ensino deve ser regulada apenas pela vocacéo e pela capacidade de bem empregar os dotes préprios. Para isso cumpre garantir: 3: Uma adequoda distribuicdo geografica da rede escolar; . 3.5.2 Medidos eficazes de proteccéo social escolar; 3.5.3 Conselhos de orientacéo alicercados no exame cientifico das caracteristicas mentais dos alunos e na consideracéo do seu aproveitamento escolar {individual e grupal); particularmente nos dois ou trés Ultimos anos de escolaridade obrigatoria dever-se-do tomar em conta 0 conjunto de observacées feitas, os diagondsticos motivacionais conhecidos e a estrutura ocupacional do emprego a médio e longo prazo, para que a escolha do carreira seja o mais ajustada aos desejos préprios @ aos interesses da colectividede; 3.5.4 A flexibilidade do esquema do ensino, que permita ‘a reorientacéo do rumo escolar € © reingresso no ensino daqueles que se lancaram cedo de mois no vida activa; 3.58 Promover-se-6 um amplo desenvolvimento do ensino nocturno que permita as Classes trabalhadoras superar as discriminacdes de que foram anteriormente vitimas e aceder a graus mais elevodos do ensino. 4, Programas de ensino 4.1 Os programas visaréo umo adequada e permanentemente actualizada formacéo profissional. 4.2 Os programas terao em conta, igualmente, as necessidades de preparacdo para 0 exercicio de uma participacdo efectiva na gestéo da sociedade socialista, a todos 0s niveis, desenvolvendo 0 espirito critico, de iniciotiva e de trabalho colectivo {principio de democratizagéo do conteido do ensino e da cultura) 4.3 No ensino, que serd Iaico, néo poderd consentir-se em nenhuma discriminacao que tenha por fundamento a atitude dos pais e do educando perante or . INenhuma coaccao sera permitida a favor do ensino exclusivo de dada retigido. © ensino religioso, seja qual for a religiéo, poderd ser ministrado na escola a rogo dos educandos ou dos pais dos educondos. 4.4, Os programas deverdo ter em conta a evolugdo natural das capacidades, dos interesses e das formas de actividade do educando. 31 ‘Koala Fontes a Historia to Pade 5. Estatuto da carreira docente A obra de formacdo educacional e cultural da juventude e do povo implica a decisiva promocdo social ¢ moral da tuncdo educativa, designadamente a pro- mocdo dos professores. A vaiorizacao da carreira deve firmar-se na revisdo da condi¢éo material ¢ juridica do oficio de ensinar, da formacdo e@ actualizacdo profissional do magisterio, bem como na contribuicdo activa deste para a elaboragdo de uma politica nacional de educa¢ao e cultura 5.1 Ao professor exige-se idoneidade moral e civica, competéncia cientifica e compeléncia pedagdgico-diddctica. Por idoneidade moral e civica nunca podera entender-se a conformidade com a politica do Poder seja ela qual for. Sao de recusar todas e quaisquer discriminacdes a partir dos ideias professades e da acco civica exercida, Nunca a escolho do pessoal docente ou administrative pode estar subordinada a informacéo ou parecer de entidade ndo estritamente cientifica @ pedagagica. A seleccéo desse pessoal deve assentar essencialmente no curri- culum vitae (formacao acodémica e profissional, estudos e tarefas realizadas, etc.) 5.3 A direccdo pedagdgica dos escolas pertencerd sempre ao professor eleito pelo menos pelo corpo docente, de todas as categorias e tera base colegial. 5.4 A orientacdo administrativa da escola pertence a um orgéo colegial com parti cipacdo dos representantes dos corpos docente e discente e do pessoal. Visara @ libertar professores, investigadores e criadores das preoccupacdes administratwas, mas nunco thes podera ditar normas, ficando pelo contrario, subordinada 4 direccao cientifica e pedagogica 6. Educacao permanente Todos os homens, sejam quais forem as suas profissdes e os graus de ensimo a que tenham podido chegar, tém direito a melhorar a sua posicdo sécio-profissional e@ a enriquecer os seus Gcios, fruindo e participando na criacdo de todos os be- Neficios da cultura € da vide ‘colectiva (principio da educacdo permanente} 6.1 Organizar-se-G0 cursos de aperteicoamento profissional e de actualizacao especial € geral a que voltem varias vezes na vida os trabathadores de todos os niveis, bem como cursos que proporcionem aos que o merecerem o reingresso numa carreira escolar que os leve a um grau superior aquele a que chegaram. 6.2 Uma organizacdo cultural e civica pos-escolar fortolecera em todos a consciéncia do cidadéo ¢ do trabalnador na sociedade socialista, abrindo-Ihes os horizontes de todas as formas de cultura e de criacéo colectiva da musica 4 ciéncia, das artes plasticas 4 Iteratura, do teatro ds viagens, da politica ao desporto, etc 63 O Estado obrigando-se a sotistazer as exigéncias colectivas, teré a sua propria rede: de centros de cultura, bibliotecos, museus, teatros, cinema de Ensaio € ClGssico, exposicdes, cursos & conferéncias, etc, € subsidiard ou auxiliara empreendimentos privados. congéneres 6.4 O Estado chamard a si, ou encorajara, a formacdo de cnimadores culturais, indispensdveis a muitas das actividades de educacGo permanente. 6.5 Serao estimuladas as colectividades de cultura @ recreio a nivel local, regional ou de empresa, como formas dé outogestao cultural e dos tempos livres, conte- rindo-se-Ihes os meios indispensdveis parc levarem a cabo a sua accdo. Parti- cularmente incentivar-se-6 a ua interpenetracdéo constante com as universidades, 8 conservatorios, os institutos culturais e técnicos e oulras unidades de ensino, Para que estas nGo se fechem sobre si mesmas, antes se alarguem a toda a populagdo. 66 Actualidade e futuro. E' impreterivel trazer a cultura, a escola e a pesquisa @ actualidade, banhé-las nos problemas dos vivos e ndo deixd-las no mundo dos 32 ‘Koala

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