ELECTROMAGNETISMO
Departamento de Fı́sica
2005
ii
Conteúdo
1 Electrostática 1
1.1 O conceito de campo e o estudo dos fenómenos electromagnéticos . . . . . . . 2
1.2 Campo eléctrico e campo magnético . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1.3 Campo eléctrico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.3.1 Lei de Coulomb . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.3.2 Potencial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
1.3.3 Linhas de campo e equipotenciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
1.3.4 Dipolo eléctrico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
1.3.5 Distribuição arbitrária de cargas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
1.3.6 Presença de condutores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
1.4 Lei de Gauss e aplicações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
1.4.1 Lei de Gauss . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
1.4.2 Condições fronteira para o campo E ~ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
1.4.3 Algumas aplicações simples da lei de Gauss. . . . . . . . . . . . . . . . 21
1.4.4 Influência eléctrica: elementos equivalentes . . . . . . . . . . . . . . . 24
1.5 Capacidade de sistemas de condutores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
1.5.1 Capacidade de um condutor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
1.5.2 Coeficientes de capacidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
1.5.3 Condensadores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
1.5.4 Condensador plano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
1.5.5 Condensador esférico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
1.6 Equações de Poisson e Laplace . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
1.6.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
1.6.2 Solução da equação de Laplace a uma dimensão . . . . . . . . . . . . . 29
1.6.3 Soluções gerais da equação de Laplace . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
1.6.4 O método das imagens . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
1.6.5 Soluções numéricas da equação de Laplace . . . . . . . . . . . . . . . . 41
1.7 Dieléctricos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
i
ii CONTEÚDO
1.7.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
1.7.2 Polarização de um dieléctrico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
1.7.3 Vector deslocamento. Permitividade de um dieléctrico . . . . . . . . . 50
1.7.4 Condições fronteira na superfı́cie de separação de dois dieléctricos . . . 51
1.7.5 Aplicações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
1.8 Energia do campo electrostático . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
1.8.1 Energia dum sistema de cargas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
1.8.2 Energia dum sistema de condutores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
1.8.3 Expressão de Maxwell para a energia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
1.8.4 Energia de um dieléctrico colocado num campo exterior . . . . . . . . 66
1.8.5 Energia dum dipolo num campo exterior . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
1.8.6 Raio clássico do electrão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
Problemas Capı́tulo 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
2 Magnetostática 79
2.1 Corrente eléctrica estacionária . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80
2.1.1 Densidade de corrente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80
2.1.2 Intensidade de corrente I . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
2.1.3 Equação da continuidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
2.1.4 Lei de Ohm . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
2.1.5 Resistência dum condutor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
2.1.6 Força electromotriz (f.e.m.) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
2.1.7 Lei dos nós . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
2.2 Lei de Biot-Savart . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
2.3 Força magnética . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91
2.3.1 Força sobre cargas eléctricas em movimento . . . . . . . . . . . . . . . 91
2.3.2 Forças sobre correntes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92
2.4 Lei de Ampère . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94
2.5 As equações fundamentais da magnetostática. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97
2.5.1 O potencial vector . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97
2.5.2 Unicidade de A ~ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99
2.5.3 Dedução da lei de Ampère . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104
2.5.4 A divergência de B. ~ As equações da magnetostática . . . . . . . . . . 105
2.6 Fluxo magnético. Coeficientes de indução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105
2.6.1 Fluxo magnético Φ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105
2.6.2 Coeficientes da indução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106
2.7 Dipolo magnético . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108
2.7.1 O potencial e campo do dipolo magnético . . . . . . . . . . . . . . . . 108
2.7.2 Acção dum campo magnético uniforme sobre um dipolo magnético. . . 111
2.8 Substâncias magnéticas. Vector campo magnético . . . . . . . . . . . . . . . . 112
CONTEÚDO iii
Electrostática
1
2 CAPÍTULO 1. ELECTROSTÁTICA
De uma forma muito geral podemos dizer que no electromagnetismo se estudam as interacções
entre cargas eléctricas em repouso ou em movimento e as propriedades gerais do campo
electromagnético no espaço. A importância deste estudo resulta óbvia se nos lembrarmos da
variedade de situações em que nos aparecem forças de natureza eléctrica e magnética: forças
entre os electrões e o núcleo no interior dos átomos, forças entre átomos e entre moléculas,
forças de coesão nos sólidos, isto para não falarmos da imensa variedade de aplicações das
leis que regem estas forças, motores eléctricos, telecomunicações, etc.
Vital no desenvolvimento da teoria e da compreensão destes fenómenos foi a introdução
da noção de campo, devida a Faraday, fı́sico inglês da primeira metade do séc. XIX. Faraday
descobriu que, ao estudarmos as forças eléctricas entre corpos carregados, terı́amos de atender
não só às cargas eléctricas existentes nesses corpos, mas também aos fenómenos que se pas-
savam no espaço separando estes corpos. Que algo se passa neste espaço torna-se evidente
quando, ao introduzirmos um material isolador entre dois corpos carregados, verificamos
haver uma variação na força que eles exercem entre si. Simultaneamente, observa-se o apa-
recimento de cargas eléctricas induzidas no material isolador, as quais desaparecem quando
ele é retirado. Não tendo à sua disposição o arsenal matemático que nós hoje possuı́mos para
descrever estes fenómenos, Faraday tentou descrevê-los com o auxı́lio da noção de linhas de
campo (ou linhas de força), linhas que em cada ponto têm a direcção da força eléctrica exer-
cida sobre uma carga-teste aı́ colocada. Para representar a intensidade dessa força, Faraday
convencionou que o número de linhas de campo atravessando a unidade de área perpendicu-
lar, o fluxo da força através dessa superfı́cie, seria proporcional ao valor local da força. As
linhas de campo partiam das cargas positivas e iam terminar nas cargas negativas. As linhas
de campo apresentavam-se como uma visualização do campo eléctrico existente no espaço em
torno das cargas eléctricas. O mesmo tipo de descrição foi depois generalizado por Faraday
para os fenómenos magnéticos, com o conceito de campo magnético.
A teoria que iremos desenvolver não é mais do que o estudo das leis que regem os campos
eléctrico e magnético, e cuja formulação matemática está contida nas chamadas equações
de Maxwell. Foi Maxwell quem deu ao electromagnetismo a sua forma moderna, e com ele
a noção de campo provou a sua superioridade relativamente à noção, que até aı́ permeava
a fı́sica, de acção à distância entre massas ou entre cargas, superioridade que se manifesta
especialmente no caso de estarmos em presença de campos rapidamente variáveis no tempo.
Utilizaremos o sistema Giorgi racionalizado de unidades, também designado por sistema
internacional (SI), onde as unidades fundamentais são: metro (m), quilograma (kg), segundo
(s), ampere (A).
1.2. CAMPO ELÉCTRICO E CAMPO MAGNÉTICO 3
São as cargas e as correntes eléctricas as fontes dos campos eléctrico e magnético. Para
vermos como se chegou à necessidade de introduzir dois tipos de forças, dois tipos de cam-
pos, imaginemos uma pequena carga-teste q (ou seja, uma partı́cula com uma pequena carga
eléctrica q) numa região do espaço onde se manifesta a influência de uma distribuição de
cargas e de correntes sob a forma de uma força actuando sobre q. Supomos q suficiente-
mente pequena para não afectar essa distribuição. Verifica-se, experimentalmente, que essa
força se pode decompor em duas: uma força, que designaremos por eléctrica, independente
da velocidade ~v da carga, e uma outra força, força magnética, proporcional a ~v e actuando
perpendicularmente a ~v ; se ~v = 0, verifica-se que a força magnética se anula. Estas carac-
terı́sticas permitem-nos separar claramente os dois tipos de forças e os seus efeitos. Qualquer
destas forças é proporcional ao valor da carga q. A carga é expressa em coulomb (C) no
sistema internacional.
~ e a força magnética, a um campo
A força eléctrica é devida a um campo eléctrico E,
de indução magnética B, definidos de tal maneira que a força total electromagnética F~ que
~
actua na carga q vem dada por
F~ = q(E
~ + ~v × B)
~ . (1.1)
Se a carga estiver em repouso (~v = 0), a segunda parcela anula-se e o campo eléctrico vem
dado por E~ = F~ /q.
O campo E ~ mede, pois, em cada ponto do espaço, a força que se exerce sobre a unidade
de carga positiva colocada em repouso nesse ponto. As unidades de E ~ são o newton por
coulomb (N/C), que mais tarde veremos ser equivalente a volt por metro (V/m), a unidade
utilizada no SI. Da expressão (1.1) tiram-se as unidades de B ~ como sendo newton vezes
segundo por coulomb e por metro, que designamos por weber por metro quadrado (Wb/m 2 )
ou ainda tesla (T), a unidade utilizada no SI; volt e weber são unidades cujo significado será
dado na altura devida. A força (1.1) é conhecida por força de Lorentz.
Na realidade, os dois campos E ~ e B
~ introduzidos acima não são independentes um do
outro. Será um dos pontos altos do nosso estudo compreender quão intimamente estas duas
entidades se relacionam uma com a outra. Apesar disso, é conveniente começar o estudo do
campo electromagnético no caso limite de termos cargas em repouso e correntes estacionárias
~ e B,
(não variáveis no tempo), situação em que E ~ isto é, os fenómenos eléctricos e magnéticos,
se podem estudar independentemente. Este estudo constitui os capı́tulos de electrostática,
com que começaremos, e de magnetostática. Neles veremos como calcular os campos E ~ e B,
~
dadas distribuições de cargas em repouso e de correntes estacionárias.
4 CAPÍTULO 1. ELECTROSTÁTICA
~ r) = 1 q ~r − ~r0
E(~ 2
, (1.2)
4π0 | ~r − ~r0 | | ~r − ~r0 |
PSfrag replacements z
~r − ~r0 P(x, y, z)
q
~r0
~r
y
x
Figura 1.1: Campo eléctrico devido a uma carga q situada num ponto de coordenadas ~r0 .
~
r −~
r0
onde |~
r−~ é um vector unitário orientado no ponto ~r segundo o sentido radial associado
r0 |
à carga q (Fig. 1.1). Se a carga q for positiva, E~ será paralelo a ~r−~r0 ; se for negativa, E
~
|~
r −~
r0 |
apontará no sentido da carga. A constante 0 é a permitividade do vazio. Quando fizermos
o estudo dos meios isoladores (dieléctricos), teremos ocasião de introduzir a permitividade
do meio em causa. No sistema SI 0 é expressa em farad por metro (F/m), e tem o valor
1 qq 0 ~r − ~r0
F~ = . (1.4)
4π0 | ~r − ~r0 |2 | ~r − ~r0 |
A força é atractiva, se as cargas forem de sinal contrário, e repulsiva se forem do mesmo
sinal.
1.3. CAMPO ELÉCTRICO 5
A lei de Coulomb é uma lei experimental e é a base dos desenvolvimentos que se seguem.
Existe uma outra propriedade fundamental do campo eléctrico (e magnético, também), muito
importante, muito simples e raras vezes explicitada. É o chamado princı́pio da sobreposição.
Se tivermos várias cargas pontuais, o campo eléctrico total é a soma vectorial dos campos
devidos a cada uma das cargas:
X
E~ = E~i (qi ) . (1.5)
i
Este princı́pio traduz-se na natureza linear das equações que regem o campo electromagnético,
como veremos mais tarde.
Vamos dar alguns exemplos de aplicação, calculando o campo eléctrico de distribuições
simples de cargas. É sabido que a carga de qualquer corpo é um múltiplo inteiro de carga
do protão (e = 1.6 × 10−19 C). O valor de e é tão pequeno que na prática podemos, muitas
vezes, esquecer o carácter granular da carga do corpo macroscópico e admitir que estamos na
presença de uma distribuição contı́nua de carga. Introduz-se neste caso a noção de densidade
volumétrica de carga, ρ, que se exprime em C/m3 . A distribuição é dividida matematica-
mente em pequenos elementos de volume dV , com carga ρ dV , a cada um dos quais se aplica
a lei de Coulomb, Eq. (1.2), com q substituı́do por ρdV , como se indica na Fig. 1.2. Aplica-se
P ~ R
em seguida o princı́pio de sobreposição, com Ei → dE. ~
i
PSfrag replacements z
ρdV ~r − ~r0 P(x, y, z)
~r0
~r
y
x
Figura 1.2: Campo eléctrico produzido por uma distribuição de carga em volume.
Exemplo 1.1 No primeiro exemplo vamos calcular o campo eléctrico de um fio rec-
tilı́neo muito comprido (teoricamente infinito)∗ , carregado uniformemente com uma
∗ Em fı́sica usamos muitas vezes casos limite em que os cálculos são mais simples. Dizer, por exemplo, que
o fio é infinito será uma boa aproximação para fios de comprimento muito maior que a distância de P ao fio.
6 CAPÍTULO 1. ELECTROSTÁTICA
PSfrag replacements
x + dx λdx
x
d
α P
O ~
dE
R
R = d cos α
x = R tan α
~ · ~eρ = 1 λ dx
dEρ = dE cos α , (1.6)
4π0 d2
onde ~eρ é o vector unitário perpendicular ao fio. Não temos mais do que integrar esta
expressão para obtermos o campo resultante E ~ = Eρ ~eρ , e
Z Z π/2
1 λdx 1 cos2 α R
Eρ = cos α = λ cos α dα
4π0 f io d2 4π0 −π/2 R2 cos2 α
Z +π/2
1 λ λ
= cos α dα = . (1.7)
4π0 R −π/2 2π0 R
do campo produzido por uma carga pontual, q. O campo E ~ é normal ao fio, saindo
radialmente deste, o mesmo acontecendo com as respectivas linhas de campo.
Exemplo 1.2 Um outro exemplo tradicional é o de uma superfı́cie plana carregada
uniformemente, com densidade σ expressa em C/m2 . Razões de simetria idênticas às
~ é normal ao plano.
anteriores permitem-nos concluir que E
PSfrag replacements
x+dx
d
x ~
dE
α
O
R P
σ
R = d cos α
x = R tan α
~ cos α = 1 σ 2πx dx
dEn = |dE| cos α , (1.8)
4π0 R2 + x2
e exprimindo tudo em função de α
Z π/2
2πσ σ
En = sin α dα = . (1.9)
4π0 0 20
Embora os exemplos dados possam atribuir um certo ar de simplicidade ao cálculo de
~ a verdade é que o método de integração directa utilizado não é de aplicação geral, pois
E,
muitas vezes nos falta o conhecimento do ingrediente inicial, a própria distribuição das cargas
eléctricas. Isto é particularmente verdadeiro em problemas envolvendo condutores carrega-
dos, assim como em dieléctricos, por razões que adiante entenderemos. Para avançarmos e
podermos resolver situações como as referidas, convém introduzir uma noção fundamental,
a de potencial escalar, ou simplesmente potencial.
8 CAPÍTULO 1. ELECTROSTÁTICA
1.3.2 Potencial
O campo gerado por uma carga pontual q, em repouso no ponto P0 , Eq. (1.2), é um campo
central com simetria esférica, sendo portanto um campo conservativo. Como se sabe, para
campos conservativos, numa variação entre um estado inicial i e um estado final f ,
onde o caminho entre os pontos inicial e final é arbitrário, uma caracterı́stica das forças
conservativas. Em electrostática é convencional escolher o potencial zero no infinito (o que
é sempre possı́vel para distribuições localizadas de carga). Com esta convenção, φ(∞) = 0,
obtemos a expressão para o potencial num ponto de coordenadas ~r:
Z ∞
φ(~r) = ~ · d~r .
E (1.14)
~
r
A unidade de potencial no SI é o volt (V). Para o caso da carga pontual, Eq. (1.2), obtemos
1 q
φ(~r) = . (1.15)
4π0 |~r − ~r0 |
~ = −∇
E ~ ~r φ , (1.16)
e que o seu rotacional é igual a zero:
~ × E(~
∇ ~ r ) = ~0 . (1.17)
1.3. CAMPO ELÉCTRICO 9
A Eq. (1.17) traduz o carácter conservativo do campo electrostático, sendo uma das relações
fundamentais da electrostática. Este resultado também se pode exprimir na forma integral
I
~ · d~r = 0
E (1.18)
Γ
PSfrag replacements
z
ρdV ~r − r~0 φ(~r)
P
r~0
~r
y
x
Figura 1.6: Linhas de campo e equipotenciais dum fio infinito carregado com uma densidade
de carga λ > 0, num plano perpendicular ao fio.
1.3. CAMPO ELÉCTRICO 11
Linhas de campo
Por definição, uma linha de campo é tangente em cada ponto ao campo E. ~ Se for dada
uma distribuição arbitrária de cargas pontuais, é imediato calcular o campo eléctrico em
qualquer ponto do espaço. Para simplificar, vamos admitir que todas as cargas se encontram
no mesmo plano que tomamos como o plano z = 0. Assim, nesse plano o campo depende
somente das coordenadas (x, y).
Consideremos então um conjunto de N cargas pontuais qi situadas nos pontos de coor-
denadas ~ri = (xi , yi ). O campo E ~ num ponto arbitrário P definido por ~r = (x, y) será
então
N
1 X (x − xi )
Ex (x, y) = qi ,
4π0 i=1 |~r − ~ri |3
N
1 X (y − yi )
Ey (x, y) = qi . (1.23)
4π0 i=1 |~r − ~ri |3
~ rn )
E(~
~rn+1 = ~rn + ∆r ; n = 0, 1, 2, . . . (1.24)
~ rn )|
|E(~
• Estabelecer um critério para parar quando a linha de campo se afasta muito das cargas
ou quando se está demasiadamente perto das cargas negativas.
12 CAPÍTULO 1. ELECTROSTÁTICA
Equipotenciais
As equipotenciais podem ser desenhadas a partir do facto de sabermos que são perpendicu-
lares em cada ponto às linhas de campo. O seguinte processo iterativo conduz ao cálculo das
equipotenciais:
Ey (~rn )
xn+1 = xn ± ∆r ,
~ rn )|
|E(~
Ex (~rn )
yn+1 = yn ∓ ∆r , (1.25)
~ rn )|
|E(~
~ = q d~ .
p (1.27)
!
q 1 1 1
φ(~r) ' d
− d
4π0 r 1− 2r cos θ 1+ 2r cos θ
q 1 d d
' 1+ cos θ − 1 + cos θ
4π0 r 2r 2r
1.3. CAMPO ELÉCTRICO 13
PSfrag replacements z
~er
P
rd
r+
θ
r−
+q r
d x
−q
p cos θ 1 p~ · e~r
' 2
= . (1.29)
4π0 r 4π0 r2
∂φ p 3xz
Ex = − = ,
∂x 4π0 r5
∂φ p 3yz
Ey = − = ,
∂y 4π0 r5
∂φ p 3z 2 − r2
Ez = − = . (1.30)
∂z 4π0 r5
~ = 1 3 (~
p · ~er ) ~er − p~
E , (1.31)
4π0 r3
~ segundo os eixos x, y e z definidos na Fig. 1.7. Na
como facilmente se verifica projectando E
Fig. 1.8 indicamos as linhas de campo do campo eléctrico do dipolo no plano y = 0. A figura
tem obviamente simetria de rotação em torno da direcção do dipolo, neste caso, o eixo z.
14 CAPÍTULO 1. ELECTROSTÁTICA
PSfrag replacements
z
P
~r − ~ri
qi ~r
q3
~ri
qn
O q2 y
q1
x
n
1 X qi
φ(~r) = . (1.32)
4π0 i=1 Ri
Vejamos como estimar φ(~r) por meio de aproximações convenientes. Num primeiro passo
tomemos os diferentes Ri = |~r − ~ri | como sendo aproximadamente iguais a r, distância de P
à origem, pois as diferenças entre os vários Ri são muito menores do que r. Neste caso
n
1 1X 1 Q
φ(~r) ' qi = , (1.33)
4π0 r i=1 4π0 r
e tudo se passa como se estivéssemos a calcular o potencial de uma carga pontual Q, que é
a soma das cargas da distribuição.
Mas podemos estar interessados numa aproximação melhor do que esta. Para isso, e tal
como fizemos no cálculo do dipolo, escrevemos r ' Ri + ri cos θi = Ri + ~ri · ~er numa notação
óbvia. Então Ri ' r − r~i · e~r e
1 X qi
φ(~r) ' . (1.34)
4π0 i r − ~ri · ~er
À Eq. (1.34) podemos dar uma forma mais conveniente, considerando que
1 1 1 1 1
' ≡ = 1 + x + O(x2 )
Ri ~ri · ~er r 1−x r
r 1−
r
1 ~ri · ~er
= + +··· (1.35)
r r2
1 1X 1 1 X
φ(~r) = qi + qi~ri · ~er + · · · (1.36)
4π0 r i 4π0 r2 i
numa generalização óbvia da noção de momento de um dipolo; então a Eq. (1.36) toma a
forma
16 CAPÍTULO 1. ELECTROSTÁTICA
1 Q 1 p~ · ~er
φ(~r) = + +··· , (1.38)
4π0 r 4π0 r2
PSfrag replacements ~n
S qn ~
E
q1 dS
q3
qi
q2
PSfrag replacements
dΩ
~
E
q α
dS
~n
~r
~
E
S ~n
~
E
PSfrag replacements ~n
~
Figura 1.12: A carga fora da superfı́cie S não contribui para o fluxo de E.
R
Se tivermos uma distribuição contı́nua de cargas de densidade ρ, Q = V
ρ dV e aplicando
o teorema da divergência, podemos escrever
Z Z Z
~ · ~n dS =
E ∇ ~ dV = 1
~ ·E ρ dV . (1.41)
S V 0 V
A segunda igualdade na Eq. (1.41) é independente de V , o que implica a igualdade entre
integrandos:
~ ·E
∇ ~ = ρ/0 , (1.42)
que é a forma diferencial ou local da lei de Gauss.
Naqueles casos em que por considerações de simetria podemos garantir que E~ ·~n apresenta
o mesmo valor em todos os pontos da superfı́cie, a lei de Gauss revela-se muito útil no cálculo
~ Mas frisemos que a sua importância no desenvolvimento da teoria ultrapassa de longe
de E.
estas aplicações simples.
1.4. LEI DE GAUSS E APLICAÇÕES 19
Como exemplo destas, é fácil derivar de novo os resultados encontrados para o campo
criado por uma superfı́cie plana carregada e por um fio rectilı́neo infinito.
λ
σ
~n
~n
S
~n ~n l
~n
S PSfrag replacements
~n
PSfrag replacements R
a) b)
Figura 1.13: Superfı́cie de Gauss S para determinar o campo: a) do plano infinito; b) do fio
infinito.
~ igual em ambas as bases,
Se as bases forem equidistantes do plano, garantimos ser |E|
tomando o mesmo valor em cada um dos seus pontos:
Z Z
~ · ~n dS =
E E ~ = 1 πR2 σ ,
~ · ~n dS = 2πR2 |E| (1.43)
S bases 0
~ = σ/20 .
donde |E|
Exemplo 1.4 O fio rectilı́neo infinito é igualmente simples de tratar, sendo S neste
caso uma superfı́cie cilı́ndrica de raio R, cujo eixo coincide com o fio, conforme se
indica na Fig. 1.13b. Considerações de simetria análogas às anteriores permitem-nos
imediatamente escrever:
~ 2πR l = 1 λ l ,
|E| (1.44)
0
20 CAPÍTULO 1. ELECTROSTÁTICA
ou seja,
~ = 1 λ
|E| . (1.45)
2π0 R
1.4.2 ~
Condições fronteira para o campo E
A lei de Gauss permite-nos calcular a descontinuidade sofrida pelo campo eléctrico sobre uma
superfı́cie com uma distribuição superficial de carga de densidade σ. Um exemplo particular
disto é o do plano carregado. Dado que E ~ aponta em sentidos opostos, dum lado e do outro
do plano, a sua descontinuidade através do plano será 2 × σ/20 = σ/0 . Mostremos que
este resultado é geral, se referido à componente de E ~ normal à superfı́cie. Tomemos uma
superfı́cie Σ qualquer com densidade de carga σ, e construamos uma superfı́cie de Gauss S
cilı́ndrica de bases, ∆Σ, paralelas a Σ e altura δ (ver Fig. 1.14a). A construção é feita de
1 σ
~n Σ 2
δ
1 ∆r
~n1 ~n2 2 Γ
δ
PSfrag replacements
δ PSfrag replacements
∆Σ
Σ
a) b)
tal maneira que as bases se encontram uma imediatamente antes, outra imediatamente após
Σ; dito de outro modo, ao tomarmos os limites, suporemos que a área lateral do cilindro
tende para zero mais rapidamente do que a área das bases, de forma a podermos desprezar
o fluxo lateral de E. ~ Definindo a normal a Σ como apontando do lado 1 para o lado 2
(~n2 = ~n = −~n1 ), da lei de Gauss vem
Z
E~ · ~n dS = (E ~ 2 · ~n2 )∆Σ = (E2n − E1n )∆Σ = 1 σ ∆Σ ,
~ 1 · ~n1 + E (1.46)
S 0
1.4. LEI DE GAUSS E APLICAÇÕES 21
~ normais a Σ:
pelo que obtemos a relação entre as componentes de E
~ = 1 Q
|E| , (1.52)
4π0 r2
22 CAPÍTULO 1. ELECTROSTÁTICA
z ~
E
S
PSfrag replacements r
O y
Exemplo 1.6 Consideremos um condutor com uma cavidade vazia feita no seu inte-
~ (Fig. 1.16).
rior e colocado num campo E
~
E
S
PSfrag replacements ~ =0
E
~ ×E
condição ∇ ~ = 0. Para o demonstrar, tracemos o contorno Γ passando na massa do
H
condutor e fechando-se ao longo de uma linha de campo e usemos Γ E ~ · d~r = 0. Como
a parte no interior Hdo condutor dará uma contribuição nula para o integral, e ao longo
da linha de campo Γ E ~ · d~r 6= 0, somos, pois, obrigados a concluir, por absurdo, que a
situação da figura não é permitida e E~ = 0.
~
E
- -
-
PSfrag replacements ++ +
Uma superfı́cie condutora fechada separa o espaço em duas regiões, tornando o interior
independente do que se passa fora do condutor. É o efeito de ecrã eléctrico ou de blindagem.
Mas será válida a situação contrária? Isto é, colocando cargas no interior da cavidade será
nulo o campo no exterior? Não, e isso pode verificar-se, desenhando uma superfı́cie de Gauss
S à volta do condutor e verificando que o fluxo de E ~ não é nulo.
Exemplo 1.7 Ainda por aplicação da lei de Gauss é fácil ver que uma carga +q colo-
cada no interior da cavidade induzirá o aparecimento de cargas, na superfı́cie interior
do condutor, de módulo igual (no total), mas de sinal contrário a q (Fig. 1.18).
Mas se tivermos o cuidado de ligar o condutor à Terra, colocando-o a um potencial
(convencionalmente) nulo, as cargas não produzirão qualquer efeito no exterior.
+ + + + + +
+ +
+
+ +
- - - - - --
--- +q +
+ - - - - - --
+ +
+ +
PSfrag replacements + + +
+ + + +
Figura 1.18: Cargas num condutor neutro com uma carga q no seu interior.
24 CAPÍTULO 1. ELECTROSTÁTICA
~ 1 · (−~n1 ) dS1 + E
E ~ 2 · (−~n2 ) dS2 = 0 , (1.53)
e como
E in = σi /0 , (i = 1, 2) ,
Colocando vários condutores na presença uns dos outros, as suas cargas superficiais vão-se
redistribuir de forma a satisfazerem esta relação. É o fenómeno da influência eléctrica.
1 2
PSfrag replacements
dS1 dS2
σ1 σ2
~
E
~r
R
PSfrag replacements
Q 1
φesfera = . (1.56)
4π0 R
Logo
Q
C= = 4π0 R . (1.57)
φesfera
A unidade de capacidade é o coulomb por volt, que no SI se designa por farad (F). Da
Eq. (1.57) vemos que a unidade SI de 0 é o F/m.
1.5.3 Condensadores
Um condensador é um sistema formado por dois condutores próximos um do outro, carre-
gados com cargas iguais em módulo, mas de sinal contrário. O sistema é caracterizado pela
carga Q e pela diferença de potencial (∆φ ≡ V ) entre os condutores (chamados placas ou
armaduras). Define-se capacidade do condensador como a razão entre a carga Q e a diferença
de potencial V , isto é,
Q
C= . (1.59)
V
A capacidade dum condensador depende somente da sua geometria e dimensões e do meio
entre os condutores.
+++++++++++++++++
d ~
E
PSfrag replacements
-------------------------
Q A
C= = 0 . (1.61)
V d
Notar que a capacidade é directamente proporcional à área das armaduras e inversamente
proporcional à distância d entre elas.
~ = Q Q
E 2
~er → φ = . (1.63)
4π0 r 4π0 r
Daqui tira-se que
Q 1 1
∆φ ≡ V = − , (1.64)
4π0 r1 r2
−Q
r
PSfrag replacements Q
r1
r2
φ(r = ∞) = 0 , (1.72)
1.6. EQUAÇÕES DE POISSON E LAPLACE 29
+Q −Q
PSfrag replacements ~
E
O d
x
d2 φ
=0. (1.73)
dx2
φ(x) = a + bx . (1.74)
30 CAPÍTULO 1. ELECTROSTÁTICA
As constantes a e b são determinadas a partir dos valores que o potencial toma sobre
as armaduras do condensador. Devemos ter φ(0) = φ1 e φ(d) = φ2 . Obtemos portanto
x
φ(x) = φ1 − (φ1 − φ2 ) . (1.75)
d
Falta-nos relacionar φ1 e φ2 com a carga Q. Para isso calculamos o campo E. ~ De
~ = −∇φ
E ~ obtemos
~ = (φ1 − φ2 ) 1 ~ex .
E (1.76)
d
O campo é uniforme, como vimos anteriormente. O seu valor é dado por
σ Q
Ex = = , (1.77)
0 0 A
e portanto
σ d
V = φ1 − φ2 = d=Q . (1.78)
0 0 A
Note-se que temos só informação suficiente para determinar a diferença de potencial e
não os potenciais φ1 e φ2 .
Coordenadas cartesianas
Na equação de Laplace, Eq. (1.71), e de acordo com a filosofia exposta, comecemos por
escrever o potencial sob a forma
d2 X d2 Y d2 Z
YZ + XZ + XY =0, (1.80)
dx2 dy 2 dz 2
pois o operador ∇2 em coordenadas cartesianas é simplesmente
∂2 ∂2 ∂2
∇2 = + + . (1.81)
∂x2 ∂y 2 ∂z 2
Dividindo (1.80) por XY Z, obtemos
1 d2 X 1 d2 Y 1 d2 Z
+ + =0. (1.82)
X dx2 Y dy 2 Z dz 2
Dos três termos desta equação, o primeiro é função apenas de x; o segundo, de y, e o
terceiro de z. Escrevamos, por exemplo
1 d2 X 1 d2 Y 1 d2 Z
= − + , (1.83)
X dx2 Y dy 2 Z dz 2
o primeiro membro só depende de x, enquanto o segundo depende de y e de z. Para que a
igualdade se verifique para todos os valores de x, y e z, tendo em conta a independência das
variáveis, é necessário que os dois membros sejam constantes, e os valores destas, iguais. Se
em vez de X tivéssemos separado Y ou Z, o raciocı́nio seria o mesmo. Temos então, tendo
em conta a Eq. (1.82), que
1 d2 X 1 d2 Y 1 d2 Z
= a2 ; = b2 ; = c2 , (1.84)
X dx2 Y dy 2 Z dz 2
com a condição
a2 + b 2 + c 2 = 0 . (1.85)
Encontrar a solução da equação inicial transforma-se no problema de encontrar a solução
das três equações diferenciais (1.84), problema simples e bem conhecido:
32 CAPÍTULO 1. ELECTROSTÁTICA
X
φ(x, y, z) = (Aj eaj x + A0j e−aj x )(Bj ebj y + Bj0 e−bj y )(Cj ecj z + Cj0 e−cj z ) , (1.87)
O
y
PSfrag replacements
d
X
φ(x, y) = (Aj eaj x + A0j e−aj x )(Bj ebj y + Bj0 e−bj y ) , (1.88)
com a2j + b2j = 0, ou seja, aj = ±i bj . Notemos que os coeficientes reais têm de ser
os bj , para que o potencial decresça quando y → +∞. Tomaremos assim, sem perda
de generalidade, bj real e positivo e aj = +i bj . Na região y > 0 deveremos apenas
considerar a exponencial e−bj y , pois é fisicamente impossı́vel que o potencial aumente,
à medida que nos afastamos do plano y = 0; isto significa que Bj = 0.
Passemos às outras condições do problema. Para x = 0 temos
X
φ(0, y, z) = 0 → (Aj + A0j )Bj0 e−bj y = 0 → Aj = −A0j , (1.89)
e para x = d:
X
φ(d, y, z) = 0 → (Aj ei bj d + A0j e−i bj d )Bj0 e−bj y = 0
donde deduzimos que os bj terão de obedecer à relação 2bj d = 2πn, ou bj = πn/d, com
n = 0, 1, 2, 3, .... Estes são os únicos valores possı́veis para os b j , pelo que designaremos
agora as constantes por meio do ı́ndice n, isto é, bn , An e Bn . Podemos então escrever
φ na forma
∞
X
φ(x, y, z) = An Bn0 (ei πnx/d − e−i πnx/d )e−πny/d =
n=0
n
X πnx
= (2i An Bn0 ) sin e−πny/d =
0
d
n
X πnx
= Cn sin e−πny/d . (1.91)
0
d
∞
X πnx
φ(x, 0, z) = ϕ(x) = Cn sin . (1.92)
n=1
d
Da igualdade
πx ∞
X πnx
ϕ0 sin = Cn sin , (1.94)
d n=1
d
resulta que
n = 1 → C 1 = ϕ0 (1.95)
n > 1 → Cn = 0 . (1.96)
d/2 d
O x
−ϕ0
função contı́nua. Numa situação real, o potencial vai variar muito rapidamente entre
ϕ0 e −ϕ0 para x = d/2. A solução geral, Eq. (1.92), apresenta-se sob a forma de uma
série de senos. É de facto uma expansão em série de Fourier da função ϕ(x) que se
1.6. EQUAÇÕES DE POISSON E LAPLACE 35
Esta propriedade permite calcular o coeficiente Cn da Eq. (1.92). Usando a Eq. (1.99)
na Eq. (1.92), obtemos sucessivamente
Z d πm ∞
X Z d πn πm
ϕ(x) sin x = Cn sin x sin x dx
0 d n=1 0 d d
d
= Cm . (1.100)
2
e portanto
Z d πn
2
Cn = ϕ(x) sin x dx . (1.101)
d 0 d
Vamos agora usar a Eq. (1.101) para encontrar os coeficientes para a função dente de
serra, Eq. (1.98). Obtemos
Z d/2 πn Z d πn
4 4
Cn = ϕ0 x sin x dx + 2 ϕ0 (x − d) sin x dx
d2 0 d d d/2 d
4 cos(nπ/2)
= −ϕ0 . (1.102)
nπ
C0 = 0; C2n+1 = 0 (1.103)
2ϕ0
C2n (n ≥ 1) = (−1)n+1 . (1.104)
nπ
Coordenadas esféricas
A utilização destas coordenadas é extremamente importante, pois existem muitos problemas
apresentando uma simetria esférica. Como o seu uso, no caso geral, implicaria o conheci-
mento de certas funções especiais, iremos limitar-nos a algumas situações susceptı́veis de
interpretações fı́sicas simples, mas de grande aplicação.
Como se mostra na Secção A.6.6 do Apêndice, em coordenadas esféricas a equação de
Laplace escreve-se
1 ∂ 2 ∂ψ 1 ∂ ∂ψ 1 ∂2ψ
2
(r )+ 2 (sin θ )+ 2 2 =0, (1.106)
r ∂r ∂r r sin θ ∂θ ∂θ r sin θ ∂ϕ2
(nesta secção usaremos ψ, para representar o potencial, em vez de φ, a fim de evitar possı́veis
confusões com a coordenada ϕ). Tal como no caso anterior, escreveremos o potencial como
o produto de três funções, cada uma delas dependendo de apenas uma das coordenadas:
ψ(r, θ, ϕ) = R(r)Θ(θ)Φ(ϕ) , (1.107)
obtendo-se a equação
1 d 2 dR 1 1 d dΘ 1 1 d2 Φ
(r )+ (sin θ )+ =0. (1.108)
R dr dr Θ sin θ dθ dθ Φ sin2 θ dϕ2
A solução mais simples, como se poderá verificar por substituição, é dada por
b
ψ(r, θ, ϕ) = a + , (1.109)
r
com a e b constantes a determinar. Neste caso, Θ(θ) = 1 e Φ(ϕ) = 1. Vejamos qual a
interpretação desta expressão. Da variação com r, o termo b/r corresponde a um potencial
criado por uma carga q colocada na origem. Então b virá dado por b = q/4π 0 . A constante
a corresponderá a um potencial constante (lembremos que o potencial é definido a menos de
uma constante).
Estudemos uma outra solução ligeiramente mais complicada:
b
ψ = ar + 2 cos θ , (1.110)
r
onde Θ(θ) = cos θ e Φ(ϕ) = 1. O primeiro termo, ar cos θ = az, representa um potencial
aumentando linearmente com z; da equação para o campo eléctrico E ~ = −∇ψ,~ vemos que
descreve um campo eléctrico paralelo ao eixo z, sendo a constante de integração a = −E z .
O segundo termo, b/r 2 cos θ, corresponde ao potencial criado por um dipolo eléctrico. Por
comparação com a expressão do respectivo potencial, dada anteriormente, o seu momento é
dado por p = 4π0 b.
Com o auxı́lio desta expressão podemos resolver o seguinte problema interessante.
1.6. EQUAÇÕES DE POISSON E LAPLACE 37
Exemplo 1.12 Consideremos uma esfera condutora, de raio R, ligada à terra, sujeita
a um campo eléctrico exterior uniforme, paralelo ao eixo z, e de valor E. Queremos
calcular o potencial eléctrico no exterior da esfera e ainda a distribuição de cargas sobre
a superfı́cie desta.
Vemos que a expressão tem a variação correcta para valores muito elevados de r, onde
predominará o campo uniforme, ψ = −az. Na ausência da esfera o potencial seria
o correspondente ao campo uniforme aplicado E; a contribuição devida à presença da
esfera está traduzida pelo segundo termo, equivalente a um dipolo de momento p =
4π0 ER3 . Este dipolo deve o seu aparecimento ao facto de a esfera ficar polarizada,
devido precisamente ao campo exterior. Poderemos agora calcular a distribuição da
carga eléctrica sobre a superfı́cie da esfera. Sabemos que
∂ψ σ
− = . (1.114)
∂r r=R 0
Calculando a derivada de ψ
∂ψ ER3 σ
− = − −E − 2 3 cos θ = ; (1.115)
∂r r=R R 0
donde concluı́mos que a distribuição de carga é dada por σ = 3 E 0 cos θ. A esfera
polarizada adquire um momento dipolar induzido.
Tais termos podem sempre interpretar-se como sendo criados por distribuições de carga mais
ou menos complicadas. P`m (cos θ) designa um conjunto de polinómios em cos θ conhecidos por
polinómios de Legendre associados. Vimos dois exemplos simples: Θ(θ) = 1 e Θ(θ) = cos θ,
que estavam ligados a soluções correspondentes a uma carga na origem (monopolo) e a um
dipolo na origem, respectivamente. O termo seguinte seria da forma Θ(θ) = 12 (3 cos2 θ−1) as-
sociado a um quadripolo, etc. Recuperamos desta maneira o desenvolvimento em multipolos
dado anteriormente.
Exemplo 1.13 Campo eléctrico devido a uma carga +q situada a uma distância d
de um condutor plano ligado à terra (φcondutor = 0), conforme indicado na Fig. 1.26.
φ=0
+q
PSfrag replacements
φ=0
−q +q
PSfrag replacements
d d
+q, à distância d de um condutor plano ligado à terra, sabemos que este problema
é idêntico ao problema das duas cargas +q e −q. Podemos substituir o plano por
uma carga −q, imagem da primeira carga +q, e situada à distância 2d desta; −q é
simplesmente uma carga virtual, fictı́cia.
Como sabemos calcular o campo criado por duas cargas eléctricas, sabemos automati-
camente resolver o nosso problema. Mais, como conhecemos o campo eléctrico junto ao
plano de simetria, logo junto ao condutor, podemos calcular as cargas induzidas neste,
cuja densidade é dada pela expressão σ = 0 En . Integrando sobre o plano, encontrare-
mos −q, tal como esperarı́amos. Da Fig. 1.28 temos que
1 q
E ≡ En = 2 cos θ , (1.117)
4π0 R2
não esquecendo o factor 2, pois estamos na presença de duas cargas; σ virá dada por
q 1
σ = −0 En = −2 cos θ . (1.118)
4π R2
(Porquê o sinal menos?) A carga dqind sobre o cı́rculo elementar indicado é dada por
dqind = −0 En 2πxdx = −q sin θdθ, e a carga induzida vem
Z Z π/2
qind = − σ2πx dx = −q sin θ dθ = −q . (1.119)
0
40 CAPÍTULO 1. ELECTROSTÁTICA
dx
R
PSfrag replacements x θ
−q +q
Exemplo 1.14 Calcular o potencial criado por uma carga pontual q e uma esfera
condutora ligada à terra (ver Fig. 1.29).
1 q 1 q OC/OB
φ(C) = − (1.121)
4π0 r2 4π0 r1
1 q q
= − ≡0. (1.122)
4π0 r2 r2
Se não existem cargas, então pela lei de Gauss deve ter-se para qualquer superfı́cie fechada S
Z Z
~ · ~n dS = 0 →
E ~ · ~n dS = 0 .
∇φ (1.123)
S S
Escolhendo para S a superfı́cie esférica de raio r com centro no ponto considerado e usando
o facto de que ~n = ~er , podemos escrever
∇φ ~ · ~er = ∂φ .
~ · ~n = ∇φ (1.124)
∂r
e
dS = r2 dΩ (1.125)
onde dΩ = sin θdθdϕ é o ângulo sólido elementar sobre a superfı́cie esférica. Então
Z
∂φ
dΩ = 0 , (1.126)
Ω ∂r
42 CAPÍTULO 1. ELECTROSTÁTICA
ou Z
d
φ dΩ = 0 , (1.127)
dr Ω
donde Z
φ dΩ = constante . (1.128)
Ω
O valor médio sobre a superfı́cie de raio r será dado por
Z
1
hφi = φ dΩ , (1.129)
4π Ω
e de acordo com o resultado anterior não depende de r. Por outro lado, quando fazemos
tender r → 0, o valor médio hφi coincide com o valor do potencial no ponto, pelo que temos
Z
1
hφi = φ dΩ = φ0 , (1.130)
4π Ω
onde φ0 é o potencial no ponto considerado.
Métodos aproximados
Na prática, o teorema do valor médio não é muito útil para o cálculo do potencial, pois exige
o conhecimento prévio do potencial que queremos determinar. É no entanto importante para
motivar métodos aproximados.
Comecemos por considerar uma região do espaço onde ∇2 φ = 0 e um ponto P(x, y, z).
Calculemos agora o potencial em seis pontos à distância h segundo os eixos coordenados,
conforme
PSfrag se indica na Fig. 1.30. Supondo que h |φ|/|∇φ|
replacements ~ fazemos uma expansão em série
5
2 z
4
3 y
x
1
6
Figura 1.30: Pontos na vizinhança de P(x, y, z).
em torno de P:
∂φ h2 ∂ 2 φ h3 ∂ 3 φ
φ1 = φ(x + h, y, z) = φ(x, y, z) + h + + + O(h4 )
∂x 2 ∂x2 6 ∂x3
1.6. EQUAÇÕES DE POISSON E LAPLACE 43
∂φ h2 ∂ 2 φ h3 ∂ 3 φ
φ2 = φ(x − h, y, z) = φ(x, y, z) − h + − + O(h4 )
∂x 2 ∂x2 6 ∂x3
∂φ h2 ∂ 2 φ h3 ∂ 3 φ
φ3 = φ(x, y + h, z) = φ(x, y, z) + h + + + O(h4 )
∂y 2 ∂y 2 6 ∂y 3
∂φ h2 ∂ 2 φ h3 ∂ 3 φ
φ4 = φ(x, y − h, z) = φ(x, y, z) − h + − + O(h4 ) (1.131)
∂y 2 ∂y 2 6 ∂y 3
∂φ h2 ∂ 2 φ h3 ∂ 3 φ
φ5 = φ(x, y, z + h) = φ(x, y, z) + h + + + O(h4 )
∂z 2 ∂z 2 6 ∂z 3
∂φ h2 ∂ 2 φ h3 ∂ 3 φ
φ6 = φ(x, y, z − h) = φ(x, y, z) − h + − + O(h4 ) .
∂z 2 ∂z 2 6 ∂z 3
Definimos então a média dos 6 pontos por
6
1 X
hφi6 = φi = φ(x, y, z) + h2 ∇2 φ + O(h4 ) . (1.132)
6 i=1
Como ∇2 φ = 0, obtemos uma aproximação muito boa (válida até à ordem O(h 4 )):
Consideremos agora o caso particular em que não há dependência segundo z, como nos
Exemplos 1.10 e 1.11. Então uma demonstração análoga conduziria a
onde
1
hφi4 = φ(x + h, y) + φ(x − h, y) + φ(x, y + h) + φ(x, y − h) . (1.135)
4
Vamos ver num exemplo como podemos aplicar estes resultados para calcular numerica-
mente o potencial.
Exemplo 1.15 Consideremos a situação descrita no Exemplo 1.10, excepto que agora
temos também um plano (não condutor) em y = d, delimitando portanto uma região
0 ≤ x ≤ d e 0 ≤ y ≤ d. Os valores dos potenciais na fronteira dessa região são (não
há dependência em z pelo que escrevemos simplesmente φ(x, y)),
φ(0, y) = 0, φ(d, y) = 0
(1.136)
πx
φ(x, 0) = 0, φ(x, d) = V0 sin d ; V0 = 100V .
44 CAPÍTULO 1. ELECTROSTÁTICA
Seguindo o procedimento do Exemplo 1.10 verificamos que a solução geral, Eq. (1.88),
da equação de Laplace, com as condições fronteira correctas, é
∞
X nπx nπy
φ(x, y) = Cn sin sinh . (1.137)
n=1
d d
y V = φ(x)
d
A B C
D E F
V =0 V =0
G H I
O V =0 d x
Figura 1.31: Grelha para calcular o potencial.
mais pontos. Isto está mostrado na Tabela 1.2, onde estão representados os mesmos
pontos mas se usou uma grelha 8 × 8.
2 3 2 3
0 70.711 100.000 70.711 0 0 70.711 100.000 70.711 0
0 17.678 29.419 25.033 0 0 33.156 46.900 33.169 0
6 7 6 7
6 7 6 7
6 7 6 7
6
6 0 4.419 8.460 8.373 0 7
7
6
6 0 15.064 21.314 15.076 0 7
7
0 1.105 2.391 2.691 0 0 5.823 8.240 5.829 0
6 7 6 7
4 5 4 5
0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
1 iteração 10 iterações
2 3 2 3
0 70.711 100.000 70.711 0 0 70.711 100.000 70.711 0
0 33.181 46.925 33.181 0 0 32.010 45.269 32.010 0
6 7 6 7
6 7 6 7
6 7 6 7
6
6 0 15.089 21.339 15.089 0 7
7
6
6 0 14.090 19.927 14.090 0 7
7
0 5.835 8.252 5.835 0 0 5.319 7.522 5.319 0
6 7 6 7
4 5 4 5
0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
100 iterações Resultado exacto
Tabela 1.1: Potencial na fronteira e nos pontos A → I para uma grelha 4 × 4.
2 3 2 3
0 70.711 100.000 70.711 0 0 70.711 100.000 70.711 0
0 28.332 40.910 29.444 0 0 32.316 45.701 32.316 0
6 7 6 7
6 7 6 7
6 7 6 7
6
6 0 10.001 14.971 11.110 0 7
7
6
6 0 14.348 20.292 14.348 0 7
7
0 2.993 4.665 3.580 0 0 5.451 7.709 5.451 0
6 7 6 7
4 5 4 5
0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
10 iterações 100 iterações
Tabela 1.2: Potencial na fronteira e nos pontos A → I para uma grelha 8 × 8.
Vemos que com uma grelha maior os resultados demoram mais iterações a estabilizar-
se, mas consegue-se um erro muito menor. O resultado está estabilizado, depois de
100 iterações, com um erro menor que 1%. A convergência pode ser melhorada com
melhores algoritmos. Por exemplo, usar uma grelha 4 × 4 como input para uma gre-
lha 8 × 8 pode melhorar a eficiência do processo. Vemos, assim, que com algoritmos
numéricos muito simples é possı́vel obter valores do potencial com precisão tão pequena
quanto se queira. Notar que se as condições na fronteira fossem diferentes o método
analı́tico poderia ser inviável, mas o método numérico é sempre possı́vel. Os valores
das Tabelas 1.1 e 1.2 foram obtidos com um programa muito simples de Mathematica.
Mais exemplos serão estudados nos problemas.
46 CAPÍTULO 1. ELECTROSTÁTICA
TabelaPotExacto=
Table[N[Pot[x, y]],{y, 1, 0, -1/4},{x, 0, 1, 1/4}]
TabelaPotIterado= Function[n, in = 1;
While[in <= n, i = 2; PotAproximado=PotInicial;
While[i < 5, j = 2; While[j < 5,PotAproximado[[i,j]] =
(PotAproximado[[i, j - 1]] + PotAproximado[[i, j + 1]] +
PotAproximado[[i - 1, j]] + PotAproximado[[i + 1, j]])/4.;
j = j + 1]; i = i + 1]; in = in + 1];
MatrixForm[PotAproximado]];
(********* End Numerical Solution of Laplace Equation ********)
1.7 Dieléctricos
1.7.1 Introdução
Um dieléctrico ou isolador é um material que não contém cargas livres. A aplicação de um
campo exterior E ~ vai ter efeitos sobre a distribuição electrónica dos átomos. A modificação
dessa distribuição vai por sua vez produzir efeitos macroscópicos visı́veis. Dizemos que o
dieléctrico fica polarizado. O estudo em pormenor da polarização necessita da mecânica
quântica e é muito complexo. Vamos aqui fazer um estudo simplificado, que rigorosamente
só é válido para gases ou lı́quidos pouco densos† . Neste estudo simplificado representaremos o
resultado da aplicação dum campo exterior E ~ através do aparecimento de momentos dipolares
no dieléctrico. Estes momentos dipolares podem ter dois tipos de origem:
Agradecemos ao colega José Luı́s Martins o ter chamado a nossa atenção para esta questão.
1.7. DIELÉCTRICOS 47
• Nos materiais com moléculas polares, de que são exemplos o ácido clorı́drico (HCl) e
a água (H2 O), o momento dipolar é diferente de zero, mesmo na ausência de campo
exterior. Na ausência dum campo exterior, os dipolos encontram-se orientados ao
acaso, resultando num momento dipolar médio nulo. Sob a acção do campo, os dipolos
~ originando um momento dipolar total diferente de zero.
orientam-se paralelamente a E,
N
P~ = p~ , (1.142)
V
onde N é o número de moléculas e V é o volume do material.
O efeito de polarização das moléculas será tanto mais acentuado quanto maior o valor
~ Isto porque campos maiores dão origem a deslocamentos maiores dos centros de
de E.
carga positiva e negativa. Nos casos simples de meios dieléctricos lineares, isotrópicos e
homogéneos, que iremos considerar, o vector polarização P~ é proporcional ao campo E:
~
N ~
P~ = αE , com p ~ = α0 E~ . (1.143)
V
A constante α tem a designação de polarizabilidade do dieléctrico.
PSfrag replacements 0
~
E
d
P~
∆S
∆V ~n
N
∆Q0 = q ∆V
V
N ~
= q d · ~n ∆S ≡ P~ · ~n ∆S , (1.144)
V
onde se usou a definição de P~ e a normal ~n é, como habitualmente, a normal que aponta
para o exterior do material. Como o valor de d é muito pequeno, podemos considerar que
este excesso de carga ∆Q0 se concentra na fronteira do dieléctrico com uma densidade de
carga superficial dada por
σ 0 = P~ · ~n , (1.145)
onde ~n é a normal exterior. Notemos que com esta convenção os sinais das cargas de pola-
rização estão automaticamente correctos.
Consideremos agora o caso mais geral de a polarização não ser uniforme. Primeiro note-
mos que é sempre possı́vel arranjar um volume suficientemente pequeno para que a possamos
considerar uniforme. Seja então um elemento de superfı́cie dS com normal ~n. A quantidade
de carga que passa através de dS é P~ · ~n dS, sendo P~ o valor da polarização nesse elemento
de superfı́cie. Seja agora um volume V no interior do dieléctrico limitado pela superfı́cie S,
como indicado na Fig. 1.33.
Antes da aplicação do campo exterior, a carga total em V é nula. Quando aplicamos um
campo E, ~ vamos dar origem a uma polarização P~ , não necessariamente uniforme. Devido
à polarização, alguma carga vai atravessar a superfı́cie S. A carga total que atravessa S é
dada por
1.7. DIELÉCTRICOS 49
~ ext
E ~n
PSfrag replacements dS
V
S
Z
P~ · ~n dS . (1.146)
S
Se esta carga saiu de dentro de V , passou aı́ a existir uma carga igual e de sinal contrário
(pois inicialmente a carga total era zero). Designemos essa carga por
Z
Q0 = − P~ · ~n dS . (1.147)
S
Se introduzirmos a densidade de carga de polarização ρ0 , tal que
Z
Q0 = ρ0 dV , (1.148)
V
obtemos
Z Z Z
P~ · ~n dS = ~ · P~ dV = −
∇ ρ0 dV , (1.149)
S V V
onde se usou o teorema da divergência. Da Eq. (1.149) concluı́mos então que
~ · P~ = −ρ0 .
∇ (1.150)
O raciocı́nio e o resultado seriam exactamente os mesmos se o dieléctrico estivesse inicial-
mente carregado com uma densidade de carga ρ (a qual contribuiria para o campo E). ~
Portanto, em resumo, os efeitos da polarização podem ser descritos pela introdução das
chamadas cargas de polarização σ 0 e ρ0 , tais que
σ0 = P~ · ~n
ρ0 ~ · P~ .
= −∇ (1.151)
50 CAPÍTULO 1. ELECTROSTÁTICA
∇ ~ = 1 (ρ + ρ0 ) ,
~ ·E (1.152)
0
onde ρ é a densidade de carga livre. Substituindo na Eq. (1.151), vem
~ · (0 E
∇ ~ + P~ ) = ρ . (1.153)
À combinação
~ = 0 E
D ~ + P~ , (1.154)
dá-se o nome de vector deslocamento eléctrico. A Eq. (1.153) pode então escrever-se na forma
~ · D
∇ ~ =ρ, (1.155)
que é, como veremos, uma das equações de Maxwell. Nela apenas aparece a carga livre ρ,
estando os efeitos da polarização incluı́dos em D. ~ Aplicando o teorema da divergência à
Eq. (1.155): Z
~ · ~n dS = Q ,
D (1.156)
S
onde Q é a carga livre no interior do volume V limitado pela superfı́cie S. A Eq. (1.156) é a
expressão da lei de Gauss, Eq. (1.39), para o caso dos meios dieléctricos.
Em geral, a relação entre P~ e E
~ pode ser complicada, mas nós aqui estaremos somente
‡
interessados no caso particular dos dieléctricos lineares, isotrópicos e homogéneos. Isto quer
dizer que P~ é paralelo a E,~ e a constante de proporcionalidade é a mesma para todo o
material. Assim, teremos
P~ = 0 χe E
~ , (1.157)
onde χe é uma grandeza sem dimensões designada por susceptibilidade eléctrica. Se introdu-
zirmos esta relação na Eq. (1.154), obtemos
‡ Embora importante, porque válido para a maioria dos materiais não cristalinos.
1.7. DIELÉCTRICOS 51
~
D ~ + P~
= 0 E
~
= 0 (1 + χe ) E
~ ,
≡ E (1.158)
= 0 (1 + χe ) . (1.159)
− 0
ρ0 = − ρ. (1.162)
Desta relação resulta que ρ0 = 0, se ρ = 0. Num dieléctrico não carregado (ρ = 0), e
polarizado pela aplicação de um campo eléctrico exterior, as cargas de polarização dispõem-
se à superfı́cie, sendo a densidade superficial respectiva dada por
σ 0 = P~ · ~n . (1.163)
veremos no Capı́tulo 5, a permitividade é em geral uma função da frequência, razão pela qual preferimos a
designação mais moderna de permitividade.
52 CAPÍTULO 1. ELECTROSTÁTICA
1 2
PSfrag replacements ~n
1 2
Aplicando raciocı́nios idênticos aos usados para as distribuições superficiais de carga, isto
é, aplicando os teoremas de Stokes e de Gauss, concluı́mos que (ver Fig. 1.14 e Fig. 1.15)
~ ×E
∇ ~ = 0 → E 1t = E 2t , (1.164)
~ sobre a superfı́cie de separação é contı́nua. Como ρ = 0,
isto é, a componente tangencial de E
então
~ · D
∇ ~ = 0 → D 1n = D 2n , (1.165)
isto é, há continuidade das componentes normais de D ~ (notar que de D1n = 1 E1n e D2n =
2 E2n se conclui que E1n 6= E2n ).
No caso de ser ρ 6= 0 (dieléctrico carregado) vem que
D2 n − D 1 n = σ , (1.166)
em que σ é a densidade superficial da carga existente sobre a superfı́cie de separação.
Exemplo 1.16 Refracção das linhas de campo eléctrico ao atravessarem uma su-
perfı́cie de separação entre dois dieléctricos.
Consideremos a situação descrita na Fig. 1.35. Da geometria da figura, resulta
θ1
~1
E
PSfrag replacements 1
~
θ2 E2
~
Figura 1.35: Refracção das linhas de campo de E.
E t1 = E t2
1 E n1 = 2 E n2 , (1.168)
donde resulta
1
tan θ1 = tan θ2 (1.169)
2
ou ainda
1.7.5 Aplicações
Vamos considerar alguns exemplos com dieléctricos para compreendermos melhor quais são
as alterações que as substâncias dieléctricas introduzem no cálculo dos campos.
+Q
S
PSfrag replacements
R
~
E
−Q
Z
~ · ~n dS = Q .
D (1.171)
S
Escolhendo uma das bases do cilindro dentro do condutor, onde os campos são nulos,
e a superfı́cie lateral paralela aos campos, obtemos
~
|D|∆S = σ∆S , (1.172)
ou ainda
~ =σ .
|D| (1.173)
De notar que a altura do cilindro não altera este resultado, desde que a aproximação
~ é uniforme dentro do condensador. Para
do condensador infinito seja válida. Então D
~ e P~ obtemos
E
~ 1 ~
E = D
− 0 ~
P~ = D. (1.174)
~ é menor do que no caso em que existe o vácuo entre
Vemos, assim, que o campo E
as armaduras. Como consequência, a diferença de potencial é menor, e a capacidade,
maior. De facto
1.7. DIELÉCTRICOS 55
Z 2
V = ~ · d~r = σ d .
E (1.175)
1
e portanto (Q = σA):
Q A A
C= = > 0 . (1.176)
V d d
As cargas de polarização só existem na superfı́cie do dieléctrico (ρ = 0 → ρ 0 = 0).
Obtemos
− 0 ~ − 0
σ10 = P~ · ~n1 = − |D| = − σ
− 0 ~ − 0
σ20 = P~ · ~n2 = + |D| = + σ . (1.177)
Observemos que σ10 + σ20 = 0, o que significa que a carga total no dieléctrico continua
a ser nula. Também podemos compreender a razão por que E ~ é menor do que no caso
~
sem dieléctrico. O campo E tem como origem a carga total, isto é a soma das cargas
livres e das cargas de polarização, a qual passa a ser menor. Obtemos de facto
0
σ1 + σ10 = σ<σ . (1.178)
Exemplo 1.18 Calculemos as capacidades dos dois condensadores representados na
Fig. 1.37 (1 e 2 são as permitividades dos meios considerados).
+Q +Q
1
1 2
PSfrag replacements PSfrag replacements
2
−Q −Q
a) Dentro das mesmas aproximações do Exemplo 1.17 concluı́mos que os campos são
perpendiculares às placas. Usando a lei de Gauss, obtemos
~ 1 | = |D
|D ~ 2| = σ . (1.179)
56 CAPÍTULO 1. ELECTROSTÁTICA
~1 1 ~ 1 − 0 ~
E = D P~1 = D
1 1
~2 1 ~ 2 − 0 ~
E = D P~2 = D. (1.180)
2 2
~ 1 | d1 + |E
= |E ~ 2 | d2
σ σ
= d1 + d2 , (1.181)
1 2
e portanto
A
C= . (1.182)
d1 + d2
1 2
~1 = 1 D
E ~1 ~2 = 1 D
E ~2 ; (1.183)
1 2
A 1
Q = (σ1 + σ2 ) (A1 = A2 = A)
2 2
σ1 σ2
= , (1.185)
1 2
donde resulta
21 Q
σ1 =
1 + 2 A
22 Q
σ2 = . (1.186)
1 + 2 A
σ1 σ2
= d= d
1 2
2 d
= Q , (1.187)
1 + 2 A
e a capacidade:
1 A
C= (1 + 2 ) . (1.188)
2 d
Na expressão anterior admitimos que os volumes ocupados pelos dois dieléctricos eram
iguais. Se tal não for verdade, a expressão geral virá
A1 A2
C = 1 + 2 . (1.189)
d d
Exemplo 1.20 Com base no problema anterior podemos calcular o campo eléctrico
no interior de um alvéolo esférico cavado num dieléctrico.
Para isso basta trocar 0 com no resultado anterior.
Obtemos
~ int = 3 ~0 ,
E E (1.193)
2 + 0
1.7. DIELÉCTRICOS 59
0
PSfrag replacements
e portanto
~ int | > |E
|E ~0| . (1.194)
Verifica-se haver uma intensificação local do campo eléctrico pelo facto de ser > 0 .
Assim, defeitos em dieléctricos levam a um aumento do campo eléctrico.
~ int = E
E ~ (1.195)
~
E
0
PSfrag replacements
~
Figura 1.39: Cavidade paralelepipédica paralela ao campo E.
60 CAPÍTULO 1. ELECTROSTÁTICA
Por outro lado quando o campo E~ é perpendicular à dimensão maior da cavidade, como
na Fig. 1.40, da continuidade da componente normal de D ~ resulta
~ int = E
0 E ~ → ~ int = r E
E ~ (1.196)
~
E
0
PSfrag replacements
~
Figura 1.40: Cavidade paralelepipédica perpendicular ao campo E.
Uele = q 1 φ1 = q 2 φ2
1
= (q1 φ1 + q2 φ2 ) , (1.197)
2
1.8. ENERGIA DO CAMPO ELECTROSTÁTICO 61
onde φ1 (φ2 ) é o potencial na posição da carga q1 (q2 ) devido à outra carga. Para obtermos
a expressão geral analisemos o caso de três cargas. Neste caso temos seis (3!) maneiras
diferentes de constituir o sistema:
onde φik é o potencial na posição da carga qi devido à carga qk . Podemos reescrever esta
expressão como
1
Uele = 3q1 ( φ12 + φ13 ) + 3q2 ( φ21 + φ23 ) + 3q3 ( φ31 + φ32 )
6 | {z } | {z } | {z }
φ1 φ2 φ3
1
= (q1 φ1 + q2 φ2 + q3 φ3 )
2
3
1X
= q i φi , (1.199)
2 i=1
onde rij =| ~ri − ~rj | é a distância entre as cargas qi e qj . Se a distribuição de cargas for
contı́nua, podemos generalizar a Eq. (1.200) para
Z Z
1 1
Uele = ρφ dV + σφ dS , (1.202)
2 V 2 S
onde ρ e σ são as densidades de carga em volume e superfı́cie, respectivamente.
n Z
X 1
Uele = φα σα dS
α=1
2 α
n
1X
= Q α φα . (1.204)
2 α=1
1
Uele = (Q1 φ1 + Q2 φ2 )
2
1
= (Qφ1 − Qφ2 )
2
1 1 1 Q2
= QV = CV 2 = , (1.205)
2 2 2 C
onde se usou V = φ1 − φ2 e C = Q/V .
1.8. ENERGIA DO CAMPO ELECTROSTÁTICO 63
~ · E)
ρφ = (∇ ~ φ. (1.206)
Usemos a identidade
~ · (Eφ)
∇ ~ ~ · E)φ
= (∇ ~ + ∇φ
~ ·E
~
~ · E)φ
= (∇ ~ −E~ ·E
~ , (1.207)
~ = −∇φ:
onde se fez E ~
~ · E)
ρφ = (∇ ~ φ
~ ·E
= E ~ + ∇
~ · (Eφ)
~
= ~ ·E
D ~ + ∇
~ · (Eφ)
~ . (1.208)
Introduzindo a Eq. (1.208) na Eq. (1.202), e considerando que temos apenas distribuições
de carga em volume, podemos escrever a expressão para Uele na forma
Z Z
1 ~ dV + 1
~ ·E ~ · (φE)
~ dV
Uele = D ∇
2 V 2 V
Z Z
1 ~ dV + 1
~ ·E ~ · ~n dS ,
= D φE (1.209)
2 V 2 S
O resultado anterior é conhecido por expressão de Maxwell para a energia do campo elec-
trostático. O integral é estendido a todo o espaço, embora na prática só interesse a região
onde os campos são diferentes de zero.
Da Eq. (1.210) concluı́mos que a energia do campo electrostático está localizada na região
onde existe o campo eléctrico, com uma densidade
1~ ~
uele = D·E , (1.211)
2
que no sistema SI tem as unidades J/m3 .
Z
1 ~ 2 dV
Uele = |E|
2 V
1 σ2
= Ad
2 2
1 1d 2
= ( )Q
2 A
1 Q2 1
= = CV 2 , (1.212)
2 C 2
de acordo com o resultado geral, Eq. (1.205).
Q(r)
φ(r) = , (1.213)
4π0 r
e a energia necessária para construir a camada esférica situada entre r e r + dr será
1.8. ENERGIA DO CAMPO ELECTROSTÁTICO 65
dr
PSfrag replacements R
Q(r)
dUele = dQ . (1.214)
4π0 r
Como
4
Q(r) = πr3 ρ e dQ = 4πr 2 drρ , (1.215)
3
vem
4 4 ρ2
dUele = πr dr. (1.216)
3 0
A energia total acumulada na esfera será obtida integrando dU ele entre r = 0 e r = R,
Z R
4 1 2 4 4 πρ2 5
Uele = π ρ r dr = R (1.217)
0 3 0 15 0
Em termos da carga total Qt = 43 πR3 ρ:
3 Q2t
Uele = . (1.218)
5 4π0 R
Calculemos agora a energia, utilizando a expressão de Maxwell. Para isso precisamos
de conhecer o campo electrostático em todo o espaço. Usamos o resultado do Problema
1.11. O campo E ~ é dado por
66 CAPÍTULO 1. ELECTROSTÁTICA
~ ext = Q 1 ~er ,
E r>R
4π0 r2
(1.219)
~ int = Q r
E ~er , r < R .
4π0 R3
Devido à simetria do problema vamos usar coordenadas esféricas. Como nada depende
das variáveis angulares:
Z R Z ∞
1 ~ int |2 r2 dr + 4π 1 ~ ext |2 r2 dr
Uele = 4π 0 |E 0 |E
2 0 2 R
2 "Z Z #
R 4 ∞
1 Q r 1
= 4π0 dr + dr
2 4π0 0 R6 R r2
3 Q2t
= , (1.220)
5 4π0 R
como querı́amos mostrar.
~ 0 = 0 E
D ~0 . (1.222)
A introdução do dieléctrico leva à alteração do campo, devido à polarização do dieléctrico:
~ 0 → E.
E ~ Na nova situação temos que
~ = 1 E
em V1 → D ~ ,
(1.223)
~ = 0 E
fora de V1 → D ~ .
A energia é agora Z
1 ~ ·D
~ dV,
U1 = E (1.224)
2 V
1.8. ENERGIA DO CAMPO ELECTROSTÁTICO 67
~ × (E
Como os campos são electrostáticos, ∇ ~ +E ~0) = 0 e E ~ +E
~ 0 = −∇φ
~ 0 ; logo
Z
I =− ~ 0 · (D
∇φ ~ −D ~ 0 ) dV. (1.226)
V
Z
1 ~ ·D
~0 −D
~ ·E
~ 0 )dV
U1 − U 0 = (E
2 V
Z
1 ~ ·D
~0 −D
~ ·E
~ 0 )dV,
= (E (1.229)
2 V1
~ = 0 E
porque, fora do dieléctrico, D ~ eD
~ 0 = 0 E
~ 0 , e a função integranda é identicamente
nula.
Finalmente
Z
1 ~ ·E
~ 0 dV
U1 − U 0 = (0 − 1 )E
2 V1
Z Z
1 ~ · E~0 dV = − 1
= − (1 − 0 )E P~ · E
~ 0 dV , (1.230)
2 V1 2 V1
o que nos dá a variação da energia, devido à presença do dieléctrico. É a chamada energia
de restituição.
68 CAPÍTULO 1. ELECTROSTÁTICA
~
E
F~2
PSfrag replacements +
d θ
~
N
F~1
~ exterior.
Figura 1.42: Dipolo eléctrico num campo E
e
~ = p~ × E
N ~ . (1.232)
Este binário actua no sentido de orientar o momento dipolar p ~ Este
~ com o campo exterior E.
mesmo resultado pode ser obtido mostrando que a energia é mı́nima para essa situação. A
energia do dipolo no campo exterior calcula-se contabilizando o trabalho efectuado para o
constituir:
Udipolo = q(φ2 − φ1 )
= −q(φ1 − φ2 )
Z 2
= −q ~ · d~r .
E (1.233)
1
Udipolo ~ cos θ
= −q|E|d
1.8. ENERGIA DO CAMPO ELECTROSTÁTICO 69
= −~ ~ .
p·E (1.234)
Z
1
Uelectrão = 0 E 2 dV
2 V
Z ∞
e 2 0 r2 e2
= 4π dr = . (1.235)
32π 2 20 R r4 8π0 R
Na teoria clássica, este resultado era interpretado como sendo igual à energia de repouso do
electrão:
e2
= mc2 , (1.236)
8π0 R
donde se tira
1 e2 1
R= ≡ r0 , (1.237)
2 4π0 mc2 2
definindo o raio clássico do electrão:
e2
r0 = ' 2.84 × 10−15 m. (1.238)
4π0 mc2
Qual a razão para o factor 1/2 na Eq. (1.237)? De facto, podı́amos ter definido r 0 para
englobar esse factor. No entanto, se tivéssemos admitido outro tipo de distribuição de carga
para o electrão, obterı́amos outro factor (2/3, 3/5, ver Eq. (1.218)), o que nos leva a concluir
que a definição é arbitrária. A escolha da Eq. (1.238) é a convencional.
Se r0 → 0, a energia tenderia para infinito, razão pela qual se foi levado a admitir que o
electrão não seria pontual. Mas se ele não é pontual, como é que as cargas negativas que o
constituem não se repelem entre si, destruindo o electrão? Somos forçados a introduzir na
teoria forças de origem não electromagnética, para explicar a estabilidade do electrão.
70 CAPÍTULO 1. ELECTROSTÁTICA
Desde que queiramos considerar o que se passa com as próprias fontes do campo elec-
tromagnético, a teoria desenvolvida revela-se-nos como se não bastando a si própria. Este
problema ainda hoje continua por resolver. Para uma discussão mais aprofundada, ver o
Capı́tulo 28 do livro de R. P. Feynman [9].
Problemas 71
Problemas† Capı́tulo 1
uma carga pontual, calcule o trabalho ne- b) Calcule o campo eléctrico dentro e fora da
cessário para trazer uma carga +Q do infi- esfera.
nito até um ponto S sobre o eixo x, tal que c) Verifique a continuidade do campo eléctri-
OS = x. co sobre a superfı́cie esférica.
b) Escreva uma expressão aproximada para o d) Verifique a equação de Poisson.
potencial em S, que seja válida para x muito 1.13 Dois condutores esféricos, concêntricos,
maior que L. encontram-se aos potenciais φ1 e φ2 .
c) Determine a orientação da superfı́cie equi-
potencial no ponto S.
d) Determine uma superfı́cie equipotencial
que seja um plano e indique o valor do po- r3
r2
tencial nesse plano.
PSfrag replacements
1.9 Temos uma esfera uniformemente carre- r1
gada em superfı́cie, com densidade σ, e um
ponto P situado no seu interior. Mostrar que 0
~
o campo eléctrico em P, E(P), é nulo, qual-
quer que seja a posição de P.
b) se afastam as placas para 2d, com o con- *1.27 Considere o condensador do Pro-
densador desligado da bateria. blema 1.21. Suponha agora que a placa
1.24 Duas placas condutoras paralelas, de metálica é substituı́da por um dieléctrico de
área A cada uma e distância d, estão ligadas a permitividade com a mesma espessura a da
uma fonte que as mantém a uma diferença de placa metálica. Calcule a capacidade deste
potencial V . As placas são então lentamente novo condensador.
aproximadas até ficarem a uma distância de 1.28 Dois condensadores planos com a
d/3. A fonte é desligada e as placas gradual- mesma capacidade C = 0 A/d estão ligados
mente levadas à sua separação inicial d. em paralelo a uma bateria com uma tensão
a) Qual é a diferença entre as energias elec- V entre os seus terminais. Considerar a
trostática final e inicial do sistema? sequência: (i) desligar os condensadores da
b) Chamemos x à distância entre as placas bateria; (ii) introduzir num dos condensado-
num determinado instante, sendo V a dife- res um dieléctrico de permitividade = r 0 .
rença de potencial entre elas. Calcular a a) Qual é o valor final de Q1 e Q2 ?
variação da energia electrostática quando as b) Qual é o valor final da diferença de poten-
placas são afastadas de uma distância ∆x (i) cial?
mantendo a bateria ligada, (ii) com a bate- 1.29 Um condensador plano é carregado por
ria desligada. Qual a força que é necessário uma bateria com uma carga Q. A bateria é
aplicar nos dois casos? então desligada. Vamos seguidamente intro-
duzir entre as placas um dieléctrico de per-
Dipolos e dieléctricos
mitividade . Mostre que uma força aparece
*1.25 Considere um dipolo de momento di- puxando o dieléctrico para dentro do conden-
polar p~ = q ~a, que faz um ângulo θ com a sador. Qual a sua expressão? A que é devida
direcção de um campo eléctrico uniforme E. ~ esta força?
a) Calcule o momento da força que actua o *1.30 Considere dois condensadores com ca-
dipolo. pacidade C ligados em paralelo a um po-
b) Calcule o trabalho necessário para inverter tencial inicial V1 . Suponha que se introduz
a posição de equilı́brio do dipolo em presença num deles um dieléctrico com permitividade
do campo E. ~ = r 0 . Calcule o novo potencial a que fi-
c) Considerando que o dipolo tem um mo- cam os condensadores, bem como a carga que
mento de inércia I em relação ao seu centro, vai fluir no circuito.
calcule o perı́odo de oscilação do dipolo, para 1.31 Uma carga +Q foi colocada no centro
pequenas oscilações em torno da posição de de uma camada dieléctrica esférica de raios
equilı́brio. R1 e R2 com R2 > R1 . A permitividade é
1.26 Uma esfera condutora, de raio r = a . Determinar E, ~ φ, D ~ e P~ como funções de
e carga +q, está envolvida por uma coroa r, distância ao centro, e fazer os respectivos
dieléctrica concêntrica, de permitividade , gráficos.
ocupando a região limitada pelos raios r = b 1.32 Lentes dieléctricas podem ser usadas
e r = c. Desenhe o gráfico de |D|, ~ |E|~ e |P~ | para colimar campos eléctricos. Na figura te-
em função de r. mos uma lente, cuja superfı́cie da esquerda é
Problemas 75
cilı́ndrica, de eixo coincidente com o eixo z, e polarização e quais os seus valores? Existem
cuja superfı́cie da direita é plana. cargas de polarização sobre as superfı́cies de
separação dos dieléctricos? Porquê?
y *1.34 Uma esfera de raio R encontra-se pola-
rizada uniformemente, tendo o vector de po-
PSfrag replacements larização P~ a direcção do eixo z. Escreva a
r0 expressão para a carga superficial de pola-
rização de um anel da superfı́cie esférica cujo
45◦
raio vector faça um ângulo θ com o eixo z.
x Obtenha, por integração, a carga positiva to-
tal de polarização. Qual é a carga total de
1 2 3 polarização na superfı́cie da esfera?
Energia
Se E~ 1 , no ponto indicado P(r0 , 45◦ , z), na
~ 1 = 5 ~er −3 ~eϕ (V/m), *1.35 Na figura temos três cargas pontuais,
região 1, for dado por E
qual o valor que deverá ter a permitividade q1 , q2 e q3 .
do dieléctrico 2, para que o campo E ~ 3 , na
região 3, seja paralelo ao eixo x? q1
1.33 Considere o condensador PSfrag replacements
plano indi-
cado na figura, onde a área das placas é dada
r12 r13
por A = A1 + A2 + A3 .
PSfrag replacements
de decidir o número de linhas de campo e a) Tomar como entrada a função φ(x, y) e de-
equipotenciais a calcular. senhar as equipotenciais e as linhas de campo.
b) Calcular as linhas de campo e as equipo- Experimente com a solução do Exemplo 1.15.
tenciais.
c) Apresentar o resultado numa forma gráfi- b) Poder ter a possibilidade de o potencial
ca. ser dado por valores numa grelha de N × M
1.44 Faça um programa (na linguagem que pontos. Esta opção será particularmente
preferir) para calcular equipotenciais e as li- útil para traçar as linhas de campo depois
nhas de campo a partir da função potencial. de resolver numericamente a equação de La-
Considere só o problema no plano z = 0. O place. Experimente com as soluções do Pro-
programa deverá: blema 1.42.
78 CAPÍTULO 1. ELECTROSTÁTICA
Capı́tulo 2
Magnetostática
79
80 CAPÍTULO 2. MAGNETOSTÁTICA
~v ∆S
PSfrag replacements
v∆t
∆Q = ρv∆t∆S. (2.1)
A densidade de corrente é então definida como sendo a carga por unidade de tempo e por
unidade de área que atravessa a superfı́cie ∆S, isto é,
~ = ∆Q
|J| lim = ρ|~v |. (2.2)
∆S,∆t→0 ∆t∆S
No sistema SI, a unidade da densidade de corrente é o ampere por metro quadrado (A/m 2 ).
J~ = ρ~v . (2.3)
Se ~v não for perpendicular a ∆S, temos a situação indicada na Fig. 2.2.
PSfrag replacements
~n α
~v
∆S
β
v∆t
A carga que atravessa a superfı́cie será então uma função do ângulo de J~ com a normal à
superfı́cie, ~n :
∆Q = ρv cos α ∆t∆S
= J~ · ~n ∆t∆S , (2.4)
o que mostra que J~ · ~n tem o significado fı́sico da carga que por unidade de tempo e por
unidade de área atravessa uma superfı́cie cuja normal é ~n.
~n
PSfrag replacements dS J~
V
S
Figura 2.3: Superfı́cie fechada dentro dum condutor percorrido por uma corrente.
Z
dQ
− = J~ · ~n dS , (2.6)
dt S
onde Z
Q= ρ dV . (2.7)
V
~ · J~ + ∂ρ = 0 ,
∇ (2.9)
∂t
que é habitualmente designada por equação da continuidade. Como vimos, traduz a con-
servação da carga eléctrica. Em regime estacionário, ∂ρ
∂t = 0 e portanto
~ · J~ = 0 .
∇ (2.10)
Em regime estacionário podemos mostrar que a intensidade de corrente é a mesma em
qualquer secção dum condutor (corrente uniforme). De facto, seja um condutor, não neces-
sariamente filiforme, percorrido por uma corrente estacionária (ver Fig. 2.4).
Então Z Z
0= ~ · J~ dV =
∇ J~ · ~next dS , (2.11)
V S
onde ~next designa a normal apontando para o exterior do volume V , e a segunda igualdade
resulta do teorema da divergência. Como J~ é tangencial à superfı́cie lateral (as cargas não
2.1. CORRENTE ELÉCTRICA ESTACIONÁRIA 83
B
PSfrag replacements
A ~nB
~nA J~
dS
saem para o exterior do condutor), o integral sobre essa superfı́cie anula-se. Restam os
integrais sobre A e B, que dão
−IA + IB = 0 ⇒ IA = IB , (2.12)
J~ = σ E
~ , (2.13)
que é a forma vectorial da lei de Ohm. A constante σ é a condutividade eléctrica, e no sistema
SI tem as unidades siemens por metro (S/m) ou (Ohm−1 m−1 ). O inverso da condutividade
designa-se por resistividade eléctrica, ρ :
1
ρ= , (2.14)
σ
que se exprime no SI em ohm vezes metro (Ohm · m ≡ Ω · m). Apresentamos na Tabela 2.1
alguns exemplos de valores da condutividade e resistividade eléctrica para diferentes mate-
riais.
Usando a expressão vectorial da lei de Ohm, pode deduzir-se a forma mais usual da lei,
isto é:
Z B
V = φA − φB = ~ · d~` ≡ RI ,
E (2.15)
A
84 CAPÍTULO 2. MAGNETOSTÁTICA
A
J~
PSfrag replacements
~ · d~` = 1~ d` ~
E J · ~n d` = J · ~n dS
σ σdS
d`
= dI (2.16)
σdS
2.1. CORRENTE ELÉCTRICA ESTACIONÁRIA 85
dS
PSfrag replacements J~
J~
B
dΣ
A
e portanto
Z B Z B
~ · d~` = dI d`
V = φA − φB = E
A A σdS
Z B
dI 1 dΣ
= d` , (2.17)
dΣ A σ dS
onde dI é a corrente elementar no tubo de corrente de base dΣ. Invertendo a Eq. (2.17)
obtemos
dΣ
dI = V R B , (2.18)
1 dΣ
A σ dS d`
R
onde o integral é ao longo do tubo de corrente. Somando sobre todos os tubos (Σ = dΣ):
Z
dΣ
I = V RB 1 dΣ
Σ
A σ dS d`
1
≡ V , (2.19)
R
onde se definiu a resistência R
Z
1 dΣ
≡ RB . (2.20)
R Σ
1 dΣ
d`
A σ dS
Para o caso dum fio cilı́ndrico, de material homogéneo, secção S e comprimento `, temos,
dΣ = 1, e portanto:
dS
86 CAPÍTULO 2. MAGNETOSTÁTICA
1 S
= 1 (2.21)
R σ`
ou ainda
` `
R= =ρ . (2.22)
σS S
J~ = σ E
~ ≡ σ(E
~ ele + E
~ a) , (2.23)
onde Eele são os campos de natureza electrostática, e portanto:
Z B
(E ~ a ) · d~` = RAB I .
~ ele + E (2.24)
A
Então
E = RI , (2.27)
a
resultado que é por vezes designado por 2 lei de Kirchhoff.
I1
In
PSfrag replacements
S
Iα
I2
I3
onde correntes que entram e correntes que saem são consideradas com sinais opostos.
PSfrag replacements z I
Id~`
~r − r~0
P
r~0
~r
O
y
onde se usou o facto de que a função integranda é uma função par de z. Usando
as relações trigonométricas z = R tan θ e r = R sec θ, obtemos, depois de efectuar a
∗ Em magnetostática a força que é exercida sobre uma carga teste é perpendicular à direcção do campo B. ~
Tendo isto em atenção, a designação de linhas de força, por vezes usada em electrostática, é aqui abandonada
em favor de linhas de campo.
2.2. LEI DE BIOT-SAVART 89
Id~`
PSfrag replacements r
z
θ
~
B
I R
Este é, como veremos, um resultado geral aqui obtido para um caso particular. Um ou-
~ B
tro resultado geral que se pode obter facilmente para este caso particular é ∇· ~ = 0 (ver
Problema 2.7). É equivalente a dizer que as linhas de campo de B ~ são sempre fechadas
(não necessariamente circunferências como neste exemplo). Fisicamente, está associa-
do ao facto de não haver cargas magnéticas (recordar que, para as cargas eléctricas,
~ ·E
∇ ~ = 1 ρ).
0
Exemplo 2.2 Estudemos o que se passa com uma espira circular percorrida por
uma corrente I. O cálculo do campo B ~ num ponto arbitrário é muito complicado. O
problema simplifica-se se o ponto estiver sobre o eixo da espira. É esse caso que vamos
considerar aqui. Por razões de simetria, a única componente diferente de zero é B z .
90 CAPÍTULO 2. MAGNETOSTÁTICA
θ
~
dB
PSfrag replacements z
θ
R
I
µ0 cos θ µ0 R
dBz = I 2 2
d` = I 2 d` . (2.37)
4π z +R 4π (z + R2 )3/2
Integrando sobre toda a espira:
I
µ0 R µ0 R2
Bz = I 2 d` = I 2 . (2.38)
4π (z + R2 )3/2 2 (z + R2 )3/2
Notas:
µ I
(i) No centro da espira: Bz = 20 R .
F~ = q(~v × B)
~ . (2.40)
O movimento das partı́culas carregadas pode ser obtido a partir da lei de Newton
d~
p d~v
F~ = =m , (2.41)
dt dt
onde a segunda igualdade é somente válida para o caso não relativista.
Exemplo 2.3 Vejamos o que acontece a uma partı́cula carregada num campo B ~
uniforme e constante que tomaremos, sem perda de generalidade, paralelo ao eixo z.
Comecemos por notar que B ~ · F~ = 0, o que quer dizer que não há componente da força
magnética paralela ao campo aplicado. Assim, o movimento segundo o eixo z será uma
translação uniforme dependendo da componente da velocidade inicial nessa direcção.
Como este caso é trivial, vamos considerar por simplicidade v 0z = 0. Por outro lado
F~ · ~v = 0, o que significa, em termos fı́sicos, que as forças magnéticas não produzem
trabalho sobre as partı́culas carregadas: a energia da partı́cula deve ser uma constante
de movimento, tal como o módulo da velocidade. Isto vê-se facilmente, pois
d~v
F~ · ~v = 0 = m · ~v , (2.42)
dt
donde
dv 2
= 0 → |~v | = constante . (2.43)
dt
Suponhamos que o movimento da partı́cula se efectua no plano xy. A equação do
movimento escreve-se
d~v ~
m = q~v × B
dt
ou ainda
92 CAPÍTULO 2. MAGNETOSTÁTICA
dvx qB
= vy
dt m
dvy qB
= − vx . (2.45)
dt m
Diferenciando a primeira equação em ordem a t e usando a segunda vem
2
d2 vx qB
+ vx = 0 (2.46)
dt m
e uma equação semelhante para vy . Esta é a equação dum movimento oscilatório de
frequência:
qB
ω= . (2.47)
m
Para prosseguirmos, temos de especificar as condições iniciais. Tomamos para t = 0,
x0 = 0, y0 = vω0 , v0x = v0 e v0y = 0. Então a solução para a velocidade é (q > 0):
vx = v0 cos ωt
(2.48)
vy = −v0 sin ωt ,
o que mostra que, de facto, |~v | = v0 . Quanto às coordenadas serão dadas por
v0
x=
ω sin ωt
(2.49)
− vω0
y= cos ωt ,
v0
mostrando que a partı́cula descreve uma circunferência de raio R = ω no sentido do
movimento dos ponteiros do relógio.
dq ~v → Id~` . (2.50)
2.3. FORÇA MAGNÉTICA 93
I1 d~`1
~r12
PSfrag replacements d~`2
I2
d`~1 × (d`~2 × ~r12 ) = d`~2 (d`~1 · ~r12 ) − ~r12 (d`~1 · d`~2 ) (2.55)
e
94 CAPÍTULO 2. MAGNETOSTÁTICA
I I I I
(d`~1 · ~r12 )d`~2 ~1 − 1
3 = d`~2 d`~1 · ∇ =0, (2.56)
1 2 r12 2 1 r12
sendo a última igualdade uma consequência do teorema do integral de linha do gradiente. A
expressão acima para F~12 toma a forma mais simples:
I I
µ0 (d`~1 · d`~2 )~r12
F~12 = − I1 I2 3 . (2.57)
4π 1 2 r12
Vejamos o exemplo simples de condutores paralelos.
Exemplo 2.4 Tomemos dois condutores rectilı́neos percorridos por correntes esta-
cionárias, paralelas, num caso, e antiparalelas, no outro. Uma análise simples da
expressão da força, Eq. (2.51), mostra que esta é atractiva quando as correntes cir-
culam no mesmo sentido e repulsiva no caso de correntes em sentidos contrários (ver
Fig. 2.12).
PSfrag replacements I I2
1 I1 I2
força força
atractiva repulsiva
I2 I3 Iα
In
I1 ... ...
PSfrag replacements
Γ
I n
X
~ · d~` = µ0
B Iα , (2.58)
Γ α=1
Este resultado não é completamente novo. Na realidade já o tı́nhamos obtido em casos
particulares, nos Exemplos 2.1 e 2.2. Esta lei integral tem um papel semelhante à lei de
Gauss em electrostática. Isto quer dizer que, para ser útil no cálculo de campos, temos de
ter a priori um conhecimento das linhas de campo de B. ~ No entanto, trata-se duma lei geral,
no caso de campos criados por correntes estacionárias.
Mais importante para os desenvolvimentos é a sua expressão numa forma diferencial.
Para isso usamos a identificação
X Z
Iα → J~ · ~n dS , (2.59)
α S
e o teorema de Stokes
I Z
~ · d~` =
B ~ ×B
∇ ~ · ~n dS , (2.60)
Γ S
96 CAPÍTULO 2. MAGNETOSTÁTICA
para escrevermos
Z Z
~ ×B
∇ ~ · ~n dS = µ0 J~ · ~n dS , (2.61)
S S
o que implica necessariamente
~ ×B
∇ ~ = µ0 J~ , (2.62)
que é uma das equações fundamentais da magnetostática. Tem o mesmo carácter que †
~ ·E
∇ ~
~ = 1 ρ, mostrando que são as correntes as fontes do campo B.
0
Exemplo 2.5 Voltemos ao problema do fio rectilı́neo muito comprido já resolvido no
Exemplo 2.1. Como conhecemos as linhas de campo de B, ~ escolhemos para contorno
uma circunferência de raio r, conforme indicado na Fig. 2.14.
PSfrag replacements Γ
~
|B|2πr ~ = µ0 I ,
= µ0 I → |B| (2.64)
2π r
em acordo com o Exemplo 2.1.
† Para
tornar mais claro o carácter vectorial ou escalar das equações, usaremos sempre que for conveniente
para os operadores gradiente, divergência e rotacional as suas expressões em termos do operador ∇ ~ .
2.5. AS EQUAÇÕES FUNDAMENTAIS DA MAGNETOSTÁTICA. 97
Exemplo 2.6 Cálculo de B ~ no interior dum solenóide com n espiras por unidade de
comprimento, supondo o solenóide muito longo. Nesta aproximação B ~ é nulo fora e
constante no interior, com as linhas de campo paralelas ao eixo do solenóide. Toma-
remos estes factos como de origem experimental, muito embora possam ser provados
teoricamente a partir da lei de Biot-Savart, para um solenóide teoricamente infinito.
Assim, é conveniente escolhermos o contorno Γ indicado na Fig. 2.15, onde o solenóide
é apresentado em corte.
I I
Γ
l
~
~ B
B
PSfrag replacements
~ num solenóide.
Figura 2.15: Campo B
Então, I
~ · d~` = µ0 n Il
B (2.65)
Γ
e
~ l = µ0 n I l → |B|
|B| ~ = µ0 n I . (2.66)
~ uni-
Poder-se-á perguntar em que condições a aproximação feita no exemplo anterior, B
~
forme segundo z no interior e B nulo no exterior, é uma boa aproximação. A resposta tem
que ver com a razão L/R entre o comprimento L e o raio R do solenóide, como é estudado
nos Problemas 2.32 e 2.33. A resposta pode ser visualizada graficamente na Fig. 2.16. Ve-
mos que para L/R & 6 a aproximação já é bastante boa. Nas figuras, as rectas a tracejado
representam as extremidades do solenóide. Para L/R = 20 a aproximação já é quase exacta.
Bz1.0 Bz 1.2
20 20
6
5
0.8
2
0.5
0.4 5
2 20
0.0
PSfrag replacements 0.0 PSfrag replacements 2
-1.5 -1.0 -0.5 0.0 0.5 1.0 1.5 0 1 2 3 4
z/L x/R
isso. Para uma distribuição de corrente J~ em volume, Fig. 2.17, a lei de Biot-Savart escreve-
se:
Z ~ r~0 ) × (~r − r~0 )
~ r) = µ0 J(
B(~ dV
4π V |~r − ~r0 |3
Z !
µ0 ~ r~0 ) × ∇
~ ~0 1
= − J( r dV
4π V |~r − r~0 |
Z !
µ0 ~ r~0 ) × ∇
~ ~r 1
= J( dV . (2.67)
4π V |~r − r~0 |
Usando ! !
~ r~0 )
J( 1 1
~ ~r
∇ = ~ ~r × J(
∇ ~ r~0 ) +∇
~ ~r ~ r~0 ) ,
× J( (2.68)
|~r − r~0 | |~r − r~0 | | {z } |~r − r~0 |
=0
podemos escrever
Z !
µ0 ~ r~0 )
J(
~ r) = ∇
B(~ ~ × dV . (2.69)
4π V |~r − r~0 |
2.5. AS EQUAÇÕES FUNDAMENTAIS DA MAGNETOSTÁTICA. 99
z
PSfrag replacements
~r − r~0 P
dV
J~
r~0
~r
~:
À quantidade dentro dos parênteses dá-se o nome de potencial vector A
Z ~ r~0 )
~ r ) = µ0
A(~
J(
dV . (2.70)
4π V |~r − r~0 |
Logo
~ =∇
B ~ ×A
~. (2.71)
2.5.2 ~
Unicidade de A
O potencial vector A ~ não é único. De facto, se escrevermos A
~0 = A
~ + ∇X
~ sendo X uma
~ ~ 0
função arbitrária das coordenadas, obtemos o mesmo campo B com A ou com A ~:
~ ×A
∇ ~0 = ∇
~ ×A
~ +∇
~ × (∇X)
~ ~ ×A
=∇ ~, (2.72)
| {z }
=0
uma vez que o rotacional dum gradiente é identicamente zero. Notar que algo de parecido
já se passava em electrostática, onde o potencial φ não é único: φ e φ 0 = φ + k, onde k é
uma constante, produzem o mesmo campo E. ~ Veremos no capı́tulo seguinte que estes dois
resultados estão relacionados.
Podemos aproveitar esta não-unicidade de A ~ para o definir da forma mais conveniente.
Dado que o rotacional de A ~ é fixo (é o campo B
~ que tem significado fı́sico), temos liberdade
em escolher ∇ ~ ·A~ (a este processo chama-se escolher um padrão ou uma gauge ). É isso o
que implicitamente fizemos ao escrever
Z ~ r~0 )
~ r ) = µ0
A(~
J(
dV , (2.73)
4π V |~r − r~0 |
100 CAPÍTULO 2. MAGNETOSTÁTICA
Exemplo 2.7 Mostremos que a escolha da Eq. (2.70) para A ~ corresponde a impor
~ ·A
∇ ~ = 0. Para isso calculamos directamente a divergência da Eq. (2.73). Obtemos
Z !
µ0 ~ r~0 )
J(
~ ~r · A(~
∇ ~ r) = ~ ~r ·
∇ dV
4πV |~r − r~0 |
Z !
µ0 ~ ~r 1 ~ r~0 ) dV
= ∇ · J(
4π V |~r − r~0 |
Z !
µ0 ~ 1 ~ r~0 ) dV .
= − ∇ ~0 · J( (2.74)
4π V r |~r − r~0 |
! !
~ r~0 )
J( 1 1
~ ~0 ·
∇ = ~ ~0 · J(
∇ ~ ~0
~ r~0 ) +∇ ~ r~0 )
· J(
r r r
|~r − r~0 | |~r − r~0 | | {z } |~r − r~0 |
=0
!
~ ~0 1 ~ r~0 ) ,
= ∇ r · J( (2.75)
|~r − r~0 |
podemos escrever
Z !
~ r~0 )
∇ ~ = − µ0
~ ·A ~ ~0 ·
∇
J(
dV
r
4π V |~r − r~0 |
Z ~ r~0 ) · ~n
µ0 J(
= − dS
4π S |~r − r~0 |
= 0, (2.76)
Ax = Ay = 0
Z +∞
µ0 dz
Az = I √
4π −∞ z 2 + R2
Z +∞
µ0 dz
= I √
2π 0 z + R2
2
µ0 h p i∞
= I ln (z + z 2 + R2 ) , (2.79)
2π 0
µ0
Az = − I ln (x2 + y 2 ) + constante , (2.80)
π
p
onde se usou R = x2 + y 2 . A constante é de facto infinita (devido ao comprimento
~ pois este é obtido através de
infinito do fio), mas é irrelevante para o cálculo de B,
derivadas de A.~ As derivadas de A ~ diferentes de zero são então
102 CAPÍTULO 2. MAGNETOSTÁTICA
∂Az µ0 x
= − I 2
∂x 2π x + y2
∂Az µ0 y
= − I 2 . (2.81)
∂y 2π x + y2
Usando estes resultados:
~ × A)
~ x= ∂Az ∂Ay µ0 y
Bx = (∇ − =− I 2
∂y ∂z 2π x + y2
By ~ y = ∂Ax − ∂Az = µ0 I
~ × A)
= (∇
x
∂z ∂x 2π x2 + y 2
~ × A)
~ z= ∂Ay ∂Ax
Bz = (∇ − =0, (2.82)
∂x ∂y
o que se pode escrever (ver Exemplo 2.1)
~ = µ0 I ~eϕ .
B (2.83)
2π R
Antes de acabarmos este exemplo, chamamos a atenção para o facto de podermos ve-
~ ·A
rificar directamente que, neste caso, ∇ ~ = 0. Como Ax = Ay = 0, basta notar que
∂Az
∂z = 0.
Exemplo 2.9 Calculemos agora o potencial vector dum fio infinito de raio a percor-
rido por uma corrente I uniforme na secção.
~ através da sua definição, Eq. (2.70), é muito complicado (ver Pro-
O cálculo de A
blema 2.17). Vamos usar o conhecimento de B, ~ obtido através da lei de Ampère (ver
Problema 2.18), e o teorema de Stokes para determinar A. ~ O campo B ~ = Bϕ ~eϕ é
dado por
µ0 r
Bϕ = I 2, r<a
2π a
µ0 1
Bϕ = I , r>a . (2.84)
2π r
Consideremos o contorno Γ indicado na Fig. 2.18. Apliquemos o teorema de Stokes:
I Z
~ · d~` = B
A ~ · ~n dS . (2.85)
2.5. AS EQUAÇÕES FUNDAMENTAIS DA MAGNETOSTÁTICA. 103
PSfrag replacements
J~ h
a
r
No exterior:
Z a Z r
h Az (r) − Az (0) = −h Bint dr + Bext dr
0 a
r
µ0 1
= h I − − ln (2.86)
2π 2 a
O valor de Az (0) é, no caso dum fio infinito, uma constante arbitrária (de facto,
infinita, ver Problema 2.17). Podemos, pois, escrever
r
µ0 1
Az = I C − − ln r>a
2π 2 a
µ0 1 r2
Az = I C− r<a, (2.88)
2π 2 a2
~ ×B
∇ ~ =∇
~ × (∇
~ × A)
~ = ∇(
~ ∇~ · A)
~ − ∇2 A
~ = −∇2 A
~ (2.89)
~ ·A
onde na última igualdade se usou ∇ ~ = 0; ∇
~ ×B ~ fica determinado se conhecermos ∇2 A.
~
Este pode ser calculado por analogia com a electrostática. Vimos que
Z
µ0 Jx (r~0 )
Ax (~r) = dV , (2.90)
4π V |~r − r~0 |
e equações semelhantes para Ay e Az .
Por outro lado, em electrostática, o potencial escalar φ é dado por
Z
1 ρ(r~0 )
φ= dV (2.91)
4π0 V |~r − r~0 |
e satisfaz a equação de Poisson:
ρ
∇2 φ = − . (2.92)
0
Na magnetostática
ρ
→ µ 0 Jx , (2.93)
0
logo, matematicamente,
∇2 Ax = −µ0 Jx , (2.94)
e igualmente para Ay e Az . Ou seja
~ = −µ0 J~ ,
∇2 A (2.95)
e por substituição na Eq. (2.89):
~ ×B
∇ ~ = µ0 J~ , (2.96)
que é a forma diferencial da lei de Ampère, Eq. (2.62), tal como querı́amos mostrar.
2.6. FLUXO MAGNÉTICO. COEFICIENTES DE INDUÇÃO 105
~ =∇
B ~ × A,
~ (2.97)
imediatamente se conclui que
~ ·B
∇ ~ =0, (2.98)
pois ∇~ · (∇~ × C)
~ ≡ 0 para qualquer campo vectorial C. ~ Esta equação, se a compararmos
~ ~
com ∇ · E = ρ/0 , diz-nos que não há cargas magnéticas (monopolos), o que é um resultado
experimental bem conhecido.
Podemos agora resumir as equações da magnetostática na ausência de substâncias ma-
gnéticas:
~ ×B
∇ ~ = µ0 J~
~ ·B
∇ ~ =0
(2.99)
~ =∇
B ~ ×A ~
Z
µ0 ~ r~0 )
J(
~
A= dV ~ ·A
(∇ ~ = 0) ,
4π V |~r − r~0 |
~ · J~ = 0 (corrente estacionária).
e ainda ∇
Z
Φ = ~ · ~n dS
B
S
Z
= ~ ×A
∇ ~ · ~n dS
S
106 CAPÍTULO 2. MAGNETOSTÁTICA
~n
PSfrag replacements ~
B
S
dS
Γ
~ através da superfı́cie aberta S.
Figura 2.19: Cálculo do fluxo de B
I
= ~ · d~` ,
A (2.100)
Γ
I I
X µ0 d~`α · d~`β
Φα = Iβ
4π Γβ Γα |~rα − ~rβ |
β
X
≡ Lαβ Iβ , (2.103)
β
I I
µ0 d~`α · d~`β
Lαβ ≡ . (2.104)
4π Γα Γβ |~rα − ~rβ |
Da própria definição, Eq. (2.104), resulta que os coeficientes de indução são simétricos, isto é,
Lαβ = Lβα . Quando α = β, os coeficientes são designados por coeficientes de auto-indução;
quando α 6= β, por coeficientes de indução mútua.
PSfrag replacements
I
No caso de a bobina ser suficientemente longa, podemos usar o resultado já obtido para
o solenóide no Exemplo 2.6:
B = µ0 n I , (2.105)
donde resulta o fluxo por espira:
~ A = µ0 n I A .
Φespira = |B| (2.106)
Com N = n l espiras,
Φtotal = µ0 niAN = (µ0 n2 Al)I, (2.107)
o que, comparando com a Eq. (2.103) para o caso de um circuito, dá
L = µ0 n2 Al. (2.108)
Exemplo 2.11 Coeficiente de indução mútua M ≡ L12 = L21 para duas bobinas
coaxiais, com espiras com a mesma secção transversal e a disposição da Fig. 2.21. N 1
e N2 representam o número de espiras das bobinas 1 e 2.
108 CAPÍTULO 2. MAGNETOSTÁTICA
I 1 , N1
PSfrag replacements l2 l1
I 2 , N2
Partindo da definição, Eq. (2.103), M poderá ser obtido calculando o fluxo que atra-
vessa a bobina 2 devido à corrente I1 na bobina 1. Obtemos
Logo,
N1 N2
M = µ0 A . (2.110)
l1
I
~ r ) = µ0 I d~`
A(~ . (2.111)
4π |~r − r~0 |
PSfrag replacements
z
θ ~r
I a
y
ϕ0
x ϕ
d~`
1 1 1
' + 2 ~er · r~0 . (2.112)
|~r − r~0 | r r
~
Substituindo na expressão para A:
I I
µ0 I ~ µ0 I
~
A' d` + (r~0 · ~er )d~` , (2.113)
4π r 4π r2
onde
d~` (~er .r~0 ) = a2 dϕ0 sin θ cos(ϕ − ϕ0 )(− sin ϕ0~ex + cos ϕ0~ey ) . (2.115)
Usando os resultados
Z 2π Z 2π
0 0
sin ϕ dϕ = cosϕ0 dϕ0 = 0 ,
0 0
Z 2π
cos(ϕ − ϕ0 ) sin ϕ0 dϕ0 = π cos ϕ , (2.116)
0
Z 2π
cos(ϕ − ϕ0 ) cos ϕ0 dϕ0 = π sin ϕ ,
0
deduz-se que
110 CAPÍTULO 2. MAGNETOSTÁTICA
I
d~` = 0 e
I
(~er .r~0 )d~` = πa2 sin θ (− sin ϕ~ex + cos ϕ~ey ) (2.117)
ou seja
2
~ = µ0 I πa sin θ ~eϕ .
A (2.118)
4π r2
Definindo o momento magnético m
~ por
~ = I(πa2 )~ez ,
m (2.119)
~ = µ0 m
A
~ × ~er
. (2.120)
4π r2
A Eq. (2.120) foi obtida para o caso dum anel circular, mas pode-se mostrar que continua
válida com a definição para o momento magnético
m
~ = I A ~n , (2.121)
Notas:
~ =∇
(iii) Pode-se mostrar que o campo B ~ ×A
~ é dado por
~ = µ0 3 (m
B
~ · ~er )~er − m
~
, (2.123)
4π r3
~ do dipolo eléctrico, Eq. (1.31), se fizermos as
que é análoga à expressão do campo E
substituições
p
~→m ~ , (2.124)
e
1 µ0
→ . (2.125)
4π0 4π
= |m| ~ ,
~ sin θ|B| (2.127)
PSfrag replacements z
F~1 ~
B
I
a
θ
~n
~
N
x
F~2
I
M ~ = dm ~
, (2.129)
dV
onde dm
~ é o momento magnético elementar existente no volume dV . No sistema SI, a
unidade da magnetização M~ é o ampere por metro (A/m). Vamos fazer no que se segue um
tratamento paralelo ao feito para os dieléctricos.
~ Tomemos
onde r é a distância entre a posição do dipolo e o ponto onde estamos a calcular A.
0 0
o elemento de volume dV centrado no ponto P de coordenadas ~r . O momento magnético
elementar será dm ~ = M(~ r~0 )dV . Então, o potencial vector elementar dA
~ no ponto P será (ver
Fig. 2.24)
~ ~0
~ r ) = µ0 M(r ) × ~er dV .
dA(~ (2.131)
4π |~r − r~0 |2
z
PSfrag replacements
~r − r~0 P
dV
~
M
r~0
~r
A Eq. (2.132) permite calcular A, ~ sabendo M ~ . Para o desenvolvimento da teoria é, contudo,
conveniente descrever os efeitos da magnetização em termos de novas correntes, ditas corren-
tes de magnetização, a somar às correntes de condução estudadas até aqui. Esta filosofia é em
tudo semelhante ao que se fez no estudo dos dieléctricos, onde, em vez do vector polarização
P~ , se introduziram as cargas de polarização (ver Eq. (1.151)). Neste contexto, o potencial
vector A ~ devido a um volume de material com magnetização M ~ pode ser escrito na forma
Z ~ ~0 × M
∇ ~ (r~0 ) Z ~ (r~0 ) × ~n
~ r ) = µ0
A(~ r
dV +
µ0 M
dS , (2.133)
4π V |~r − r~0 | 4π S |~r − r~0 |
Da expressão
! !
M~ (r~0 ) ~ ~0 × M
∇ ~ (r~0 ) 1
~ ~0
∇ = r ~ ~0
+∇ ~ (r~0 ) ,
×M (2.135)
r r
|~r − r~0 | |~r − r~0 | |~r − r~0 |
µ0
Z ~ ~0 × M
∇ ~ (r~0 ) µ0
Z ~ (r~0 ) × ~n
M
r
= dV + dS , (2.136)
4π V |~r − r~0 | 4π S |~r − r~0 |
Comparando com as Eqs. (2.70) e (2.77), deduz-se que o efeito da magnetização pode ser
traduzido pelo aparecimento de correntes de magnetização em volume, J~0 , e em superfı́cie,
J~0 S , definidas por
(
J~0 = ∇~ ×M~
(2.138)
J~S0 = M~ × ~n .
Para compreendermos a origem fı́sica destas correntes, vamos começar por considerar o
caso de magnetização constante M ~ . Então da Eq. (2.138) concluı́mos que existem só correntes
superficiais, pois ∇ ~ ×M ~ = J~ = 0. Seja uma barra cilı́ndrica com magnetização constante
0
M~ paralela ao eixo do cilindro. Se a barra tem magnetização constante, quer dizer que os
dipolos magnéticos equivalentes às correntes eléctricas atómicas apontam todos na mesma
direcção, isto é, as correntes existem em planos perpendiculares a M ~ (ver Fig. 2.25). É fácil
2.8. SUBSTÂNCIAS MAGNÉTICAS. VECTOR CAMPO MAGNÉTICO 115
de ver que, no interior do volume, os efeitos das correntes cancelam-se, enquanto que na
superfı́cie o efeito é aditivo. Aı́ todas as correntes têm o mesmo sentido (relacionado com
o sentido de M ~ pela regra do saca-rolhas) e obtemos uma corrente superficial diferente de
zero.
Relacionemos agora J~0 S com M. ~ O momento magnético total duma barra cilı́ndrica de
~ 2
raio R e altura L é |M |πR L. Por outro lado, em termos da intensidade de corrente I,
definida por
Z b
I= J~S0 · ~eϕ d` = |J~S0 | L , (2.139)
a
PSfrag replacements
2R
~ constante.
Figura 2.25: Correntes de magnetização numa barra com M
~
IπR2 = |M|πR 2
L (2.140)
ou
~|= I ,
|M (2.141)
L
o que, comparando com a Eq. (2.139), dá
~ | = |J~S0 | .
|M (2.142)
Tendo em conta a Fig. 2.25, é fácil ver que o sentido correcto é dado por
116 CAPÍTULO 2. MAGNETOSTÁTICA
J~S0 = M
~ × ~n , (2.143)
onde ~n é a normal exterior. A última expressão é exactamente a Eq. (2.138) para a densidade
de corrente superficial.
Notas
(i) Da explicação anterior resulta claramente a equivalência, em termos práticos,
entre um ı́man e um solenóide.
(ii) Estes resultados devem ser comparados com os obtidos para os dieléctricos
~ · P~
ρ0 = − ∇
(2.144)
σ 0 = P~ · ~n .
Para terminar esta secção, expliquemos em termos simples o que se passa quando a
magnetização não é uniforme, isto é, porque é que J~0 está relacionada com M
~ através dum
rotacional.
~ e as correntes de magnetização
Relação entre M
Demonstrámos anteriormente a relação entre a magnetização e as chamadas correntes de
magnetização. Na Secção 2.8.2 foi dada uma explicação simples das correntes superficiais, que
são as únicas que aparecem para o caso de magnetização constante. Vamos aqui apresentar
um argumento simples para explicar porque se tem
J~0 = ∇
~ ×M
~ , (2.145)
no caso duma magnetização não uniforme. Para simplificar o raciocı́nio, vamos dividir o
volume em paralelepı́pedos elementares, com magnetização uniforme em cada volume ele-
mentar. Comecemos por considerar o caso em que a magnetização é paralela ao eixo z:
~ = Mz ~ez
M (2.146)
Ix = I2 − I1 = JS0 2 − JS0 1 x
∆z
2.8. SUBSTÂNCIAS MAGNÉTICAS. VECTOR CAMPO MAGNÉTICO 117
PSfrag replacements
z
I1 I2
∆z I1
y ∆x
I2
x ∆y
(em cada paralelepı́pedo só há correntes superficiais nos lados paralelos aos eixo z), que
podemos reescrever na forma
∂Mz
Ix = ∆y ∆z ; (2.148)
∂y
a densidade de corrente segundo x vem:
Ix ∂Mz
Jx0 = = . (2.149)
∆y ∆z ∂y
Se tivéssemos tomado
~ = My ~ey ,
M (2.150)
terı́amos a situação da Fig. 2.27, e
Ix = Jx0 ∆y ∆z
= I1 − I2
∂My
= − ∆y ∆z , (2.151)
∂z
donde resulta
∂My
Jx0 = − . (2.152)
∂z
118 CAPÍTULO 2. MAGNETOSTÁTICA
I2
I1
I2
PSfrag replacements
I1 y
Se for M~ = Mx ~ex , não há componente segundo o eixo x, como se indica na Fig. 2.28. No
~ = Mx ~ex + My ~ey + Mz ~ez e a contribuição para Jx0 é
caso geral, M
∂Mz ∂My ~ ×M ~
Jx0 = − = ∇ , (2.153)
∂y ∂z x
~ × M.
mostrando que Jx0 está relacionada com a componente segundo x do ∇ ~ De igual modo
0 0
se analisariam as componentes Jy e Jz , com o resultado final
J~0 = ∇
~ ×M
~ , (2.154)
de acordo com a Eq. (2.138).
2.8.3 ~
Vector campo magnético H
Sabemos que as correntes são as fontes do campo magnético, o que se exprime por meio da
equação
~ ×B
∇ ~ = µ0 J~ . (2.155)
No caso de termos substâncias magnéticas, além das correntes atrás consideradas (de con-
dução), também temos correntes de magnetização J~0 . O campo B
~ tem por fontes todas as
correntes, pelo que a equação anterior deve ser modificada:
2.8. SUBSTÂNCIAS MAGNÉTICAS. VECTOR CAMPO MAGNÉTICO 119
PSfrag replacements
I y
∇ ~ = µ0 J~ + J~0 = µ0 J~ + ∇
~ ×B ~ ×M
~ , (2.156)
ou ainda
!
~
B
~ ×
∇ ~
−M = J~ . (2.157)
µ0
~
Introduzindo o vector campo magnético H:
~
~ ≡ B −M
H ~ , (2.158)
µ0
podemos escrever a lei de Ampère na forma
~ ×H
∇ ~ = J~ , (2.159)
a que corresponde a sua representação integral
I X
~ ~` =
H.d Iα . (2.160)
Γ α
O vector H~ inclui já a informação sobre os meios magnéticos. Normalmente, a Eq. (2.158)
escreve-se em termos de B: ~
~ = µ 0 (H
B ~ + M).
~ (2.161)
~ eM
Note-se que as dimensões de H ~ são as mesmas e, portanto, a unidade no SI é ampere
por metro (A/m).
120 CAPÍTULO 2. MAGNETOSTÁTICA
Mais uma vez é instrutivo comparar com o caso dos dieléctricos, onde
∇ ~ = 1 (ρ + ρ0 ),
~ ·E (2.162)
0
e
~ = 0 E
D ~ + P~ ~ ·D
; ∇ ~ =ρ. (2.163)
~ =M
M ~ 0 + χm H
~ , (2.164)
onde χm é a susceptibilidade magnética (sem dimensões).
• Substâncias diamagnéticas:
São caracterizadas por
~ 0 = 0 , χm < 0,
M |χm | ∼ 10−6 (exemplos : Bi , Cu). (2.165)
• Substâncias paramagnéticas:
Neste caso,
~ 0 = 0 , χm > 0 ,
M χm ∼ 10−6 (exemplo : Al) . (2.166)
• Substâncias ferromagnéticas:
Nestas substâncias (exemplos: Fe, Co), os átomos possuem momentos magnéticos per-
manentes que têm tendência a alinhar-se devido a forças de natureza quântica (designa-
das por forças de troca). Este alinhamento estende-se por muitas distâncias atómicas,
formando-se assim os domı́nios de Weiss, nos quais M ~ é diferente de zero, Fig. 2.29.
exemplo, para o ferro pouco recozido: Br ' 1 T , Hc ' 60 A/m. Portanto, para os
~ eH
ferromagnéticos, a relação entre B ~ é não-linear e complicada. Na prática utilizam-
se métodos gráficos.
~ = χm H
M ~ . (2.167)
Então,
~ = µ 0 (H
B ~ + M)
~ = µ0 (1 + χm )H
~ , (2.168)
que escrevemos na forma
~ = µH
B ~ , (2.169)
onde
µ = µ0 (1 + χm ) (2.170)
é a permeabilidade magnética. Temos que
• Componentes normais
~ ·B
Da equação ∇ ~ = 0, por aplicação do teorema de Gauss, obtemos
B n1 = B n2 , (2.172)
2.8. SUBSTÂNCIAS MAGNÉTICAS. VECTOR CAMPO MAGNÉTICO 123
~
à semelhança do que se passava na electrostática com as componentes normais de D
(no caso em que ρ = 0).
• Componentes tangenciais
~ ×H
Da equação ∇ ~ = J,
~ vem por aplicação do teorema de Stokes
Ht1 − H t2 = J S . (2.173)
No caso de não haver correntes na superfı́cie de separação teremos
Ht1 = H t2 , (2.174)
igualmente à semelhança do que se passava na electrostática com as componentes tan-
~
genciais de E.
Exemplo 2.12 Calcular H ~ no interior dum solenóide de comprimento (teoricamente)
infinito, com n espiras por unidade de comprimento, e percorrido pela corrente I.
Vamos usar as condições fronteira, sabendo que nesta aproximação o campo no exterior
é nulo.
1 2
~
H
I I
PSfrag replacements
B n2 = B n1 → B n1 = 0 (2.175)
e, portanto,
Hn 1 = 0 . (2.176)
Logo, o campo é paralelo ao eixo. Da Eq. (2.173) vem
Ht1 − H t2 = n I (2.177)
ou
Ht1 = n I . (2.178)
124 CAPÍTULO 2. MAGNETOSTÁTICA
dF~ = Iα (d~`α × B)
~ , (2.184)
por se encontrar numa região onde existe um campo B. ~ Calculemos o trabalho destas forças,
quando deslocamos o circuito α duma distância d~r, mantendo as correntes constantes. Como
se explicou anteriormente, temos de fornecer energia ao sistema, para que isto aconteça. No
cálculo da energia magnética, esta energia também deverá figurar. Comecemos por calcular
somente o trabalho das forças do campo a correntes constantes:
I
dWα = Iα (d~`α × B)
~ · d~r. (2.185)
Γα
~ ·B
A equação ∇ ~ = 0 implica que o fluxo através de uma superfı́cie construı́da tendo como
bases S e S 0 (ver Fig. 2.32)
PSfrag replacements
S d~r S0
d~lα
~n n~0
~
Figura 2.32: Superfı́cie para o cálculo do fluxo de B.
é dado por Z Z Z
− ~ · ~n dS +
B ~ · ~n0 dS +
B ~ · ~nL dSL = 0 ,
B (2.186)
S S0 SL
| {z } | {z }
Φα Φ0α
donde Z
dΦα ≡ Φ0α − Φα = − ~ · ~nL dSL .
B (2.187)
SL
Usando Z I I
~nL dSL = d~`α × d~r = d~`α × d~r , (2.188)
SL Γα Γα
126 CAPÍTULO 2. MAGNETOSTÁTICA
escrevemos I
dΦα ≡ Φ0α − Φα = − ~ · d~`α × d~r ;
B (2.189)
Γα
comparando com a Eq. (2.185) podemos exprimir então o trabalho das forças de Laplace-
Lorentz dWα em termos do fluxo dΦα
W1 = 0 . (2.191)
Quando trazemos o segundo circuito, o primeiro já se encontra na sua posição final. O
trabalho realizado obtém-se por integração da Eq. (2.190) e é
W2 = I2 Φ02 , (2.192)
onde Φ02 representa o fluxo em 2 devido a 1, mas não devido a ele próprio.
Se tivéssemos trazido primeiro o circuito 2, terı́amos
W2 = 0 (2.193)
e
W1 = I1 Φ01 . (2.194)
Portanto uma outra maneira de escrever o trabalho total será
1
W = I1 Φ01 = I2 Φ02 = (I1 Φ01 + I2 Φ02 ). (2.195)
2
No caso de n circuitos, é fácil de ver que devı́amos ter para o trabalho total das forças
de Laplace-Lorentz a correntes constantes e não incluindo deformações
n
1X
W = Iα Φ0α . (2.196)
2 α=1
(ii) Deformações.
Pode mostrar-se que o trabalho despendido pelas forças de Laplace-Lorentz na deformação
é
2.9. ENERGIA DO CAMPO MAGNETOSTÁTICO 127
α 1
Wdef = Iα Φαα , (2.197)
2
onde Φαα é o fluxo através do circuito α devido a ele próprio.
Definindo o fluxo total que atravessa o circuito α como Φα = Φ0α +Φαα , podemos escrever
para o trabalho total das forças de Laplace-Lorentz, incluindo deformações
n
1X
W = Iα Φα . (2.198)
2 α=1
dF~ = dq (~v × B)
~ , (2.199)
Mas a força magnética não produz trabalho sobre as cargas eléctricas, isto é, d F~ · ~v = 0.
Portanto:
dF~ · ~vfio + dF~ · ~vtransporte = 0 . (2.201)
O trabalho fornecido para estabilizar as correntes é dado por
W0 = W , (2.205)
−W + W20 = 0 , (2.206)
enquanto que na ordem inversa teremos
−W + W10 = 0 , (2.207)
onde Wi0 é a energia necessária para estabilizar a corrente no circuito i. O valor de W é o
mesmo nos dois casos, porque as forças são iguais e opostas, e o deslocamento também é
oposto.
Somando as duas equações anteriores:
ou
W 0 = 2W , (2.209)
0
onde se definiu W = W10 + W20 ; 0
W é, pela sua definição, a energia necessária para estabilizar
todas as correntes.
2.9. ENERGIA DO CAMPO MAGNETOSTÁTICO 129
O resultado anterior, Eq. (2.209), foi deduzido para o caso de dois circuitos, mas pode
mostrar-se que continua válido no caso geral de n circuitos.
(iv) Energia magnética total
Estamos agora em condições de contabilizar a energia total dum sistema de n correntes
estacionárias.
A energia total será dada pelo trabalho efectuado contra as forças de Laplace-Lorentz
mais o trabalho necessário para manter constantes as correntes. Assim:
Umag = −W + W 0
= −W + 2W
= W , (2.210)
J~ = ∇
~ ×H
~ (2.212)
~ · J:
e substituindo em A ~
~ · J~ = A
A ~·∇
~ ×H
~ =∇
~ · (H
~ × A)
~ +H
~ ·∇
~ ×A
~
~ ·B
= H ~ +∇
~ · (H
~ × A)
~ , (2.213)
resulta
Z
1 ~ · J~ dV =
Umag = A
2 V
130 CAPÍTULO 2. MAGNETOSTÁTICA
Z Z
1 ~ dV + 1
~ ·H ~ × A)
~ · ~n dS .
= B (H (2.214)
2 V 2 S
O integral de superfı́cie tende para zero, quando o raio da superfı́cie S que limita o volume
~ |A|
V tende para infinito, pois o produto |H| ~ decresce a grandes distâncias mais rapidamente
do que aumenta a área da superfı́cie S. Obtemos então
Z
1 ~ ·H~ dV ,
Umag = B (2.215)
2 V
o que permite identificar 12 B ~ ·H
~ como uma densidade de energia magnética.
Mais rigorosamente, pode mostrar-se que esta expressão só é válida para meios lineares, o
que exclui as substâncias ferromagnéticas. No capı́tulo seguinte perceberemos melhor porquê.
Problemas Capı́tulo 2
l1
R2 PSfrag replacements
R20
PSfrag replacements d l2
R1
r
*2.6 Considere uma espira quadrada de lado 2.13 Em muitas aplicações, é necessário
L, assente no plano xy, percorrida por uma utilizar campos magnéticos uniformes numa
corrente I. Calcule H ~ no centro da espira. dada região do espaço. As bobinas de Hel-
2.7 Mostre que ∇ · B ~ ~ = 0 para o caso moltz são uma solução para este problema.
do campo do fio rectilı́neo infinito (Exem- São constituı́das por dois anéis de corrente
plo 2.1). Faça o problema em coordenadas iguais, e com o mesmo eixo, e percorridos por
cartesianas e em coordenadas cilı́ndricas. correntes estacionárias I no mesmo sentido,
*2.8 Um disco circular não condutor de raio conforme se indica na figura.
a possui uma densidade superficial de carga
σ uniforme. O disco roda em torno do eixo
que lhe é perpendicular e que passa no seu z
centro com velocidade angular ω. Determine
o valor do campo de indução magnética no replacements r I
PSfrag
centro do disco. P
*2.9 Considere ainda o disco referido no Pro- R z
O d
blema 2.8. Calcule agora o campo de indução
magnética, num ponto do eixo de rotação do r
disco situado a uma distância b do seu centro, I
no caso de b ser muito maior que o raio a do
disco.
*2.10 Dois condutores muito longos e parale- a) Mostre que a indução magnética no ponto
los estão ligados por uma semicircunferência P se pode escrever na forma B ~ = B(z) ~ez ,
de raio R. onde z é a distância da origem O (ponto
médio da distância dos anéis) ao ponto P.
I b) Desenvolva B(z) numa série de potências
PSfrag replacements na variável α = z/d. Mostre que só os termos
P
pares são não nulos.
R I c) Encontre a condição para que o termo de
~ no ponto ordem α2 se anule. Comente a aplicação
Calcular a indução magnética |B| deste resultado.
P, situado no plano deste conjunto.
*2.11 Dois fios paralelos, à distância d, são *2.14 Temos um cilindro cuja superfı́cie está
percorridos pela mesma intensidade de cor- carregada uniformemente com uma carga de
rente I, mas em sentidos opostos. Determi- σ. O cilindro gira em torno do eixo, com uma
~ a) Num ponto do plano que ~
velocidade angular ω. Calcular o valor de |B|
nar o campo B:
contém os fios. b) Num ponto do plano me- assim criado.
diano. *2.15 Na figura, temos representadas duas
*2.12 Determine o coeficiente de indução espiras paralelas, com o mesmo eixo, separa-
mútua entre o fio e o circuito rectangular do das de uma distância a. Os respectivos raios
Problema 2.5. satisfazem r1 r2 , a.
Problemas 133
Força magnética
F PSfrag replacements
l0
c) Mostre que no caso das altas frequências para A > |B| > 0.
em que a corrente não penetra no condutor, 2.31 Considere o cabo coaxial descrito no
ficando somente à superfı́cie, se tem Problema 2.28. Use o método do Proble-
ma 2.30, isto é, calcule a energia magnética
µ0 2l através do potencial vector A,~ para tornar a
L= l ln −1 .
2π r calcular o coeficiente de auto-indução do cabo
coaxial.
d) Qual a superfı́cie que permite obter o resul-
tado da alı́nea c) através do cálculo do fluxo
magnético? Métodos numéricos
2.30 Uma linha bifilar é constituı́da por dois
condutores paralelos de raios a e b, percorri- 2.32 Considere o solenóide representado na
dos por correntes estacionárias I conforme se figura junta, percorrido por uma corrente es-
indica na figura. tacionária I.
Problemas 137
PSfrag replacements x 1
·p .
L2 /4 + R2 + x2 − 2Rx cos ϕ