BRASILEIRA I
CURSOS DE GRADUAÇÃO – EAD
Literatura Portuguesa e Brasileira I – Prof.ª Dra. Ana Claudia da Silva
Prof. Ms. Renato Alessandro dos Santos
Prof. Ricardo Boone Wotckoski
Profª. Dra. Susana Ramos Ventura
LITERATURA PORTUGUESA E
BRASILEIRA I
Caderno de Referência de Conteúdo
Batatais
Claretiano
2013
© Ação Educacional Claretiana, 2012 – Batatais (SP)
Versão: dez./2013
869 L755l
Literatura portuguesa e brasileira I / Ana Cláudia da Silva ... [et al.] – Batatais,
SP : Claretiano, 2013.
216 p.
ISBN: 978-85-67425-88-7
CDD 869
Preparação Revisão
Aline de Fátima Guedes Cecília Beatriz Alves Teixeira
Camila Maria Nardi Matos Felipe Aleixo CDD 658.151
Carolina de Andrade Baviera Filipi Andrade de Deus Silveira
Cátia Aparecida Ribeiro Paulo Roberto F. M. Sposati Ortiz
Dandara Louise Vieira Matavelli Rodrigo Ferreira Daverni
Elaine Aparecida de Lima Moraes Sônia Galindo Melo
Josiane Marchiori Martins
Talita Cristina Bartolomeu
Lidiane Maria Magalini
Vanessa Vergani Machado
Luciana A. Mani Adami
Luciana dos Santos Sançana de Melo
Luis Henrique de Souza Projeto gráfico, diagramação e capa
Patrícia Alves Veronez Montera Eduardo de Oliveira Azevedo
Rita Cristina Bartolomeu Joice Cristina Micai
Rosemeire Cristina Astolphi Buzzelli Lúcia Maria de Sousa Ferrão
Simone Rodrigues de Oliveira Luis Antônio Guimarães Toloi
Raphael Fantacini de Oliveira
Bibliotecária Tamires Botta Murakami de Souza
Ana Carolina Guimarães – CRB7: 64/11 Wagner Segato dos Santos
Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, a transmissão total ou parcial por qualquer
forma e/ou qualquer meio (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação e distribuição na
web), ou o arquivamento em qualquer sistema de banco de dados sem a permissão por escrito do
autor e da Ação Educacional Claretiana.
CRC
Ementa––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Pressupostos teóricos do estudo integrado das literaturas em língua portuguesa.
Produções literárias em língua portuguesa e sua recepção, desde as origens em
Portugal (Trovadorismo, Humanismo, Classicismo) até a literatura informativa so-
bre o Brasil. Leitura crítica e análise de textos literários significativos do período.
Barroco e Arcadismo: características, principais autores e obras de maior desta-
que. Contexto histórico dos períodos literários.
–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
1. INTRODUÇÃO
Seja bem-vindo!
Vamos iniciar o estudo de Literatura Portuguesa e Brasileira
I, disponibilizada para você em ambiente virtual (Educação a Dis-
tância).
Nessas unidades, você terá a oportunidade de refletir sobre
as origens e as primeiras manifestações literárias em Língua Por-
tuguesa tanto em território português quanto em brasileiro, com
destaque para os autores e obras de maior valor histórico e literá-
rio, levando em conta seu contexto histórico-social, sua estética e
temática.
Iniciaremos nosso estudo pela formação do Estado portu-
guês e o processo evolutivo que originou nossa língua.
12 © Literatura Portuguesa e Brasileira I
Abordagem Geral
Ricardo Boone Wotckoski
Neste tópico, apresenta-se uma visão geral do que será es-
tudado. Aqui, você entrará em contato com os assuntos principais
deste conteúdo de forma breve e geral e terá a oportunidade de
aprofundar essas questões no estudo de cada unidade. Desse
modo, essa Abordagem Geral visa fornecer-lhe o conhecimento
básico necessário a partir do qual você possa construir um refe-
rencial teórico com base sólida – científica e cultural – para que, no
futuro exercício de sua profissão, você a exerça com competência
cognitiva, ética e responsabilidade social.
© Caderno de Referência de Conteúdo 13
Glossário de Conceitos
O Glossário de Conceitos permite a você uma consulta rá-
pida e precisa das definições conceituais, possibilitando-lhe um
bom domínio dos termos técnico-científicos utilizados na área de
conhecimento dos temas tratados em Literatura Portuguesa e Bra-
sileira I. Veja, a seguir, a definição de seus principais conceitos:
1) Auto: de origem medieval dos mistérios e moralidades e
personagens alegóricos, simples em sua estrutura e lin-
guagem, veio a designar peças breves, de temática reli-
giosa ou laica (MOISÉS, 2004).
2) Bufão: bobo, fanfarrão.
3) Carta régia: carta real enviada diretamente a um indiví-
duo, sem intermediação diplomática.
4) Couvade: restrições e tradições impostas aos homens de
algumas culturas por ocasião da gravidez e do resguardo
de suas esposas.
5) Diacrônico: estudo de determinada língua ao longo do
tempo.
6) Écloga: poesia pastoril dialogada (MICHAELIS, 2012).
7) Elegia: poema de tema triste ou doloroso (INFOPEDIA,
2012).
8) Epopeia: poema narrativo que aborda tema de grande
vulto. Apresenta como protagonista um personagem fa-
moso histórico ou mitológico.
9) Etnografia: estudo descritivo de aspectos sociais ou cul-
turais de um grupo ou povo (INFOPEDIA, 2012).
10) Feudalismo: sistema político, econômico e social medie-
val em que o vassalo recebe e trabalha a terra (feudo) do
© Caderno de Referência de Conteúdo 25
TROVADORISM0
IDADE MÉDIA
MISTÉRIOS
MILAGRES
SATÍRICA
NOVELA
LÍRICA
DE
CAVALARIA
HUMANISMO
Galego-Português
DOUTRINÁRIA
PALACIANA POPULAR
PROSA GIL
CANCIONEIRO
GERAL VICENTE
CLASSICISMO
BERNARDIM RIBEIRO
CAMÕES MENINA E
Língua Portuguesa
ANTÔNIO FERREIRA
MOÇA
LÍRICO
ÉPICO
A CASTRO
JOSÉ DE
ANCHIETA
CRÔNICAS HISTÓRICAS
TEATRO
INFORMAÇÕES
HISTORIOGRAFIA RELIGIOSAS
Questões Autoavaliativas
No final de cada unidade, você encontrará algumas questões
autoavaliativas sobre os conteúdos ali tratados, as quais podem ser
de múltipla escolha, abertas objetivas ou abertas dissertativas.
Responder, discutir e comentar essas questões, bem como
relacioná-las com a prática de leitura e de ensino da literatura
pode ser uma forma de você avaliar o seu conhecimento. Assim,
mediante a resolução de questões pertinentes ao assunto tratado,
você estará se preparando para a avaliação final, que será disser-
tativa. Além disso, essa é uma maneira privilegiada de você testar
seus conhecimentos e adquirir uma formação sólida para a sua
prática profissional.
Você encontrará, ainda, no final de cada unidade, um gabari-
to, que lhe permitirá conferir as suas respostas sobre as questões
autoavaliativas de múltipla escolha.
Bibliografia Básica
É fundamental que você use a Bibliografia Básica em seus
estudos, mas não se prenda só a ela. Consulte, também, as biblio-
grafias complementares.
Dicas (motivacionais)
O estudo deste Caderno de Referência de Conteúdo convida
você a olhar, de forma mais apurada, a Educação como processo
de emancipação do ser humano. É importante que você se atente
às explicações teóricas, práticas e científicas que estão presentes
nos meios de comunicação, bem como partilhe suas descobertas
com seus colegas, pois, ao compartilhar com outras pessoas aqui-
lo que você observa, permite-se descobrir algo que ainda não se
conhece, aprendendo a ver e a notar o que não havia sido perce-
bido antes. Observar é, portanto, uma capacidade que nos impele
à maturidade.
Você, como aluno do curso de Graduação na modalidade
EaD, necessita de uma formação conceitual sólida e consistente.
Para isso, você contará com a ajuda do tutor a distância, do tutor
presencial e, sobretudo, da interação com seus colegas. Sugeri-
mos, pois, que organize bem o seu tempo e realize as atividades
nas datas estipuladas.
É importante, ainda, que você anote as suas reflexões em
seu caderno ou no Bloco de Anotações, pois, no futuro, elas pode-
rão ser utilizadas na elaboração de sua monografia ou de produ-
ções científicas.
Leia os livros da bibliografia indicada, para que você amplie
seus horizontes teóricos. Coteje-os com o material didático, discu-
ta a unidade com seus colegas e com o tutor e assista às videoau-
las.
No final de cada unidade, você encontrará algumas questões
autoavaliativas, que são importantes para a sua análise sobre os
conteúdos desenvolvidos e para saber se estes foram significativos
© Caderno de Referência de Conteúdo 31
3. E-REFERÊNCIAS
MICHAELIS: Moderno Dicionário da Língua Portuguesa. Disponível em: <http://michaelis.
uol.com.br/>. Acesso em: 24 jan. 2012.
INFOPEDIA: Enciclopédia e Dicionários Porto Editora. Disponível em: <http://www.
infopedia.pt/>. Acesso em: 24 jan. 2012.
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MOISÉS, M. Dicionário de termos literários. São Paulo: Cultrix, 2004.
1
1. OBJETIVOS
• Identificar-se como ser pertencente à comunidade dos
países de Língua Portuguesa.
• Identificar o conceito de sistema literário.
• Apreender o conceito de macrossistema das literaturas
de Língua Portuguesa.
• Buscar e trocar com os colegas informações sobre os paí-
ses de Língua Portuguesa.
2. CONTEÚDOS
• A comunidade dos países de Língua Portuguesa.
• Atualizações da Língua Portuguesa.
• Sistema literário.
• O macrossistema das literaturas de Língua Portuguesa.
34 © Literatura Portuguesa e Brasileira I
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Para introduzir esta nossa viagem pelo universo das Litera-
turas em Língua Portuguesa, é preciso compreender a perspectiva
em que elas serão estudadas.
Nesta oportunidade, optamos por estudá-las de forma inte-
grada e não separadas por nacionalidade, como usualmente se faz
nos cursos de Letras. Na maioria deles, os alunos estudam a Litera-
tura Portuguesa e a Literatura Brasileira, separadamente.
© U1 - Conceitos Fundamentais 35
7. SISTEMA LITERÁRIO
O conceito de sistema literário foi elaborado por Antonio
Candido (2007) como pressuposto para as reflexões sobre os mo-
mentos mais importantes para a formação da nossa literatura.
A princípio, Candido distingue manifestação literária de lite-
ratura propriamente dita. Para ele, só se pode considerar a exis-
tência de uma literatura (como, por exemplo, a brasileira, a ango-
lana, a francesa, a italiana etc.) quando há um "sistema de obras
ligadas por denominadores comuns, que permitem reconhecer as
notas dominantes duma fase." (CANDIDO, 2007, p. 25).
Para o autor, esses denominadores são de natureza interna
(língua, temas, imagens comuns) e de natureza social e psíquica
que:
[...] se manifestam historicamente e fazem da literatura aspecto or-
gânico da civilização. Entre eles se distinguem: a existência de um
conjunto de produtores literários, mais ou menos conscientes do
seu papel; um conjunto de receptores, formando os diferentes ti-
9. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Sugerimos que você procure responder, discutir e comentar
as questões a seguir que tratam da temática desenvolvida nesta
unidade, ou seja, da possibilidade do estudo integrado das litera-
turas dos países que constituem a Comunidade de Países de Lín-
gua Portuguesa.
A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para
você testar o seu desempenho. Se você encontrar dificuldades em
responder a essas questões, procure revisar os conteúdos estuda-
© U1 - Conceitos Fundamentais 51
dos para sanar as suas dúvidas. Esse é o momento ideal para que
você faça uma revisão desta unidade. Lembre-se de que, na Edu-
cação a Distância, a construção do conhecimento ocorre de forma
cooperativa e colaborativa; compartilhe, portanto, as suas desco-
bertas com os seus colegas.
Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seu
desempenho no estudo desta unidade:
1) Quais foram as etapas mais significativas que compuseram a formação da
Língua Portuguesa?
10. CONSIDERAÇÕES
Nesta unidade, fizemos uma introdução ao estudo da Lite-
ratura em Língua Portuguesa propondo seu estudo de modo inte-
grado.
Além disso, conhecemos as origens da Língua Portuguesa e
sua evolução, do latim vulgar até sua emancipação como língua
oficial.
Estudamos, nesse sentido, os países que integram a Comuni-
dade dos Países de Língua Portuguesa, sua relação direta com seus
membros e suas particularidades linguística e literária.
11. E-REFERÊNCIAS
Lista de figuras
Figura 1 Países da Europa em que se desenvolveram as língua românicas. Disponível em:
<http://www.klickeducacao.com.br/materia/print/0,5920,POR-21-98-855-,00.html>.
Acesso em: 24 jan. 2012.
Figura 2 Península Ibérica. Disponível em: <http://www.conecteeducacao.com/
escconect/medio/his/HIS07030003.asp>. Acesso em: 30 maio 2011.
Figura 3 Países em que a língua oficial é a portuguesa. Disponível em: <http://www.
geomundo.com.br/sala-dos-professores-20109.htm>. Acesso em: 24 jan. 2012.
Site pesquisado
CASTILHO, A. T. de. Como, onde e quando nasceu a língua portuguesa? Disponível em:
<http://www.museudalinguaportuguesa.org.br/files/mlp/texto_9.pdf>. Acesso em: 24
jan. 2012.
2
1. OBJETIVOS
• Identificar as origens históricas das literaturas em Língua
Portuguesa.
• Conhecer um pouco da história de Portugal.
• Perceber as relações existentes entre a história e a produ-
ção da literatura.
2. CONTEÚDOS
• A formação de Portugal.
• Duas grandes dinastias.
• Influências culturais.
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Como você estudou na unidade anterior, todos os falantes
de Língua Portuguesa pertencem a uma mesma comunidade, for-
mada por vários países da Europa, América Latina, África e Ásia
que foram objetos da colonização portuguesa.
© U2 - As Origens da Literatura em Língua Portuguesa 57
5. A FORMAÇÃO DE PORTUGAL
Como você pôde perceber na Unidade 1, as origens das Lite-
raturas em Língua Portuguesa confundem-se com o próprio início
da Língua Portuguesa, que ganhou grande desenvolvimento com
a configuração de Portugal como um território independente dos
demais territórios da Península Ibérica.
Viu, também, que a Península Ibérica é a parte do continente
europeu que abrange Portugal e Espanha.
Assim como o território Europeu sofreu muitas transfor-
mações, antes e após a chegada dos árabes (século 8º), também
Portugal passou por várias mudanças e teve que enfrentar muitas
batalhas, para garantir suas fronteiras.
Atualmente, Portugal compreende uma faixa continental e
outra oceânica formada pelos arquipélagos dos Açores e da Ma-
deira, como você pode observar na Figura 1.
Figura 3 D. Afonso I.
A Dinastia de Borgonha
D. Afonso Henriques tornou-se o primeiro rei de Portugal,
sob o título de Afonso I, dando início à Dinastia de Borgonha, for-
mada pelos seguintes reis:
A Dinastia de Avis
D. João era mestre da Ordem Militar de Avis e, com ele, ini-
ciou-se a Dinastia de Avis, que manteve o poder de 1385 a 1578:
7. INFLUÊNCIAS CULTURAIS
A cultura portuguesa, na Idade Média, era fortemente mar-
cada pela francesa; essa influência tem sua origem na Dinastia de
Borgonha, que, como você já viu, administrava o Condado Portu-
calense sob domínio do rei de Leão e Castela.
Outro fator fundamental para a compreensão da produção
literária medieval é o uso da língua galego-portuguesa, anteces-
sora da Língua Portuguesa. Tanto o castelhano como o galego-
-português nasceram como dialetos da mesma língua neolatina, o
romanço ou romance, que era uma derivação do latim usado pelo
Império Romano, como você teve a oportunidade de estudar na
Unidade 1.
No início da formação de Portugal, a escrita e a leitura era
reservada a uma pequena parcela da população de origem nobre
ou pertencente ao clero.
Com relação ao ensino deste período, Saraiva e Lopes (2005,
p. 37-38) nos informam que:
As mais antigas escolas de que há notícia em território português
são as escolas episcopais ou catedrais, destinadas à preparação do
futuro clero, que funcionavam junto das sés, regidas por um mem-
bro do cabido, o <<mestre escola>>; e as escolas conventuais, des-
tinadas especialmente à instrução dos noviços.
8. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seu
desempenho no estudo desta unidade:
1) Quais foram os estágios pelos quais passou a formação do território geográ-
fico de Portugal?
9. CONSIDERAÇÕES
Nesta unidade, fizemos uma breve abordagem do contexto
político, social e cultural da Europa, especialmente da Península
Ibérica, no período inicial do Estado português e de sua literatura.
Abordamos a formação do território português a partir da
Reconquista da Península Ibérica e a importância da Dinastia de
Borgonha para o estabelecimento de Portugal como nação e da
definição de suas fronteiras.
Vimos também, sucintamente, o início da expansão portu-
guesa com a Dinastia de Avis, as transformações políticas, sociais e
culturais que agitaram a Europa no século 13, bem como a realida-
de da Península Ibérica nesse contexto.
Por fim, estudamos o movimento literário inicial de Portugal,
contextualizando-o ao cenário literário da Península Ibérica.
Na próxima unidade, veremos essa primeira vertente dessa
literatura em galego-português que compôs a primeira manifesta-
ção literária corrente em Portugal.
10. E-REFERÊNCIAS
Lista de figuras
Figura 1 Mapa dos Distritos e Regiões Autônomas de Portugal. Disponível em: <http://
www.acucaromania.com/Concelhos/MapaPortugal.htm>. Acesso em: 24 jan. 2012.
Figura 2 A Península Ibérica no século XI. Disponível em: <http://ftp.infoeuropa.eurocid.
pt/web/multimedia/cds/portugalue2000/pt/portugal_main03.htm>. Acesso em: 24 jan.
2012.
Figura 3 D. Afonso I. Disponível em: <http://reisdeportugal.com/reis.
php?idrei=1&nomerei=D.Afonso I>. Acesso em: 02 maio 2011.
Figura 4 Bandeira de Portugal. Disponível em: <http://www.bragancanet.pt/picote/
portugues/bandeira_portugal.htm>. Acesso em: 24 jan. 2012.
© U2 - As Origens da Literatura em Língua Portuguesa 71
Site pesquisado
GOUVEIA, E. Cronologias e datas importantes de Portugal. Disponível em: <http://www.
castelodosaprendizes.com/cronologias.htm#A_Formação_do_reino_de_Portugal>.
Acesso em: 5 jun. 2011.
3
1. OBJETIVOS
• Conhecer as principais produções poéticas do Trovadoris-
mo.
• Relacionar a experiência amorosa descrita nas cantigas
com outras expressões do sentimento amoroso existen-
tes na cultura contemporânea.
• Compreender a formação da literatura em prosa do pe-
ríodo e sua relevância literária, histórica e cultural.
2. CONTEÚDOS
• Trovadorismo em Portugal.
• Poesia trovadoresca.
• Prosa trovadoresca.
74 © Literatura Portuguesa e Brasileira I
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Na unidade anterior, você conheceu um pouco da história de
Portugal na Idade Média, período em que se situam as origens das
Literaturas em Língua Portuguesa.
Nesta terceira unidade, inicia-se o nosso percurso pela histó-
ria das Literaturas de Língua Portuguesa propriamente ditas.
Antes de iniciar a sua leitura, convém lembrar que o desen-
volvimento da literatura não se dá de forma estanque, mas dentro
de um processo.
A divisão da história literária em períodos tem uma função
meramente didática, pois ajuda você a perceber que as produções
de um determinado período têm uma unidade de forma e de con-
teúdo e situam-se no espaço e no tempo com características pró-
prias.
5. TROVADORISMO EM PORTUGAL
As primeiras manifestações literárias em Língua Portuguesa
coincidem com a formação do Estado português e com a expulsão
dos árabes da Península Ibérica.
Na poesia, são as cantigas em verso produzidas entre os sé-
culos 12 e 14, que tinham como seus autores nobres trovadores,
que marcam o início da poesia lusitana.
Mas o que caracteriza um trovador? Em que ele se distingue
de um poeta?
Com relação à figura do trovador, Massaud Moisés (2004b,
p. 454) esclarece que:
Designava, na lírica trovadoresca, o poeta que compunha a letra e
a melodia das cantigas e também as executava, acompanhado de
instrumento musical. Pertencia, as mais das vezes, à aristocracia ou
era fidalgo decaído: é precisamente a condição de nobre que lhe
explica a múltipla capacidade, pois ao talento individual acrescen-
tava o estudo das regras da Retórica, da Poética e da Música.
© U3 - Trovadorismo em Portugal: Poesia e Prosa 77
6. POESIA TROVADORESCA
Já mencionamos que a literatura trovadoresca foi a primei-
ra manifestação literária portuguesa e coincide com o estabeleci-
mento da independência de Portugal e tem como fundo os bata-
lhas de Reconquista da Península Ibérica, dominada pelos árabes.
As cantigas lírico-amorosas
As cantigas lírico-amorosas manifestavam-se principalmente
em dois tipos: cantiga de amor e cantiga de amigo.
Cantiga de Amor
As cantigas de amor manifestavam o lamento de um eu lírico
masculino diante da impossibilidade de seu amor ser correspondi-
do pela mulher amada.
Esse tipo de cantiga revela nítida influência provençal tanto
no vocabulário quanto na forma de sua composição.
Hun tal home sei eu que preto sente Conheço certo homem, que perto sente
De si morte chegada certamente; De si a morte chegada certamente;
Vedes quem é e venha-vos en mente; Vede quem é e tende-o em mente;
Eu, mia dona. Eu, minha senhora.
D. Dinis
Fonte: Campedelli (2000, p. 149).
Cantiga de amigo
Também de natureza lírica, a cantiga de amigo difere da can-
tiga de amor pelo fato de o trovador expressar os sentimentos de
um eu lírico do sexo feminino, que chora e lamenta a ausência de
seu amado.
Apesar de expressarem o sentimento de um eu lírico femini-
no, as cantigas de amigo eram compostas por trovadores do sexo
masculino – a presença da mulher como produtora de literatura só
se dará séculos mais tarde.
Massaud Moisés (2006, p. 22) descreve o conteúdo corren-
te, nas cantigas de amigo, nos seguintes termos:
No geral, quem ergue a voz é a própria mulher, dirigindo-se em con-
fissão à mãe, às amigas, aos pássaros, aos arvoredos, às fontes, aos
riachos. O conteúdo da confissão é sempre formado duma paixão
intransitiva ou incompreendida, mas a que ela se entrega de corpo
e alma. Ao passo que a cantiga de amor é idealista, a de amigo é
realista, traduzindo um sentimento espontâneo, natural e primitivo
por parte da mulher, e um sentimento donjuanesco e egoísta por
parte do homem.
Martim Codax
Fonte: Campedelli (2000, p. 150).
As cantigas satíricas
Os trovadores medievais também investiram em cantigas
que, diferentes daquelas de natureza lírica, se ocupavam com a sá-
tira, cuja finalidade era zombar de figuras ilustres ou caricaturadas
da sociedade medieval.
Massaud Moisés (2006, p. 23) oferece-nos um panorama do
ambiente em que figuravam essas cantigas de natureza satírica:
Não raro escritas pelos mesmos trovadores que compunham poe-
sia lírico-amorosa, expressavam, como é fácil depreender, o modo
de sentir e de viver próprio de ambientes dissolutos, e acabaram
por ser canções de vida boêmia e escorraçada, que encontrava nos
meios frascários e tabernários seu lugar ideal.
Cantigas de Escárnio
Neste tipo de cantiga, o trovador fazia sua sátira de modo in-
direto, velado, pelo uso da ironia e do sarcasmo, numa linguagem
predominantemente ambígua.
Observe, no Quadro 6, um exemplo típico de cantiga de escár-
nio, atribuída ao trovador galego-português Pêro Garcia Burgalês:
Esto fez El por ua as senhor Isto ele fez por uma das senhoras
que quer gran ben, e mais vos en diria: A quem quer muito bem, e diria mais:
porque cuida que faz i maestria, Porque julga que o faz com maestria,
e nos cantares que fêz a sabor E nos cantares que fez com gosto
de morrer i e desi d’ar viver; De ai morrer e depois reviver;
esto faz el que x’o pode fazer, Fez o que só ele poderia fazer,
mas outr’omem per ren non [n] o O que, todavia, outro homem não
faria(MOISÉS, 2004b, p. 33-34). poderia (tradução nossa)
Fonte: Moisés (2004b, p. 33-34).
Cantigas de Maldizer
Diferentemente das cantigas de escárnio, nas cantigas de
maldizer, o trovador fazia uso de linguagem direta, ofensiva e par-
ticularizante.
Vejamos, como exemplo, a cantiga a seguir, atribuída a João
Garcia de Guilhade:
Ai dona fea! se Deus me perdon! Ai! dona feia! que Deus me perdoe!
e pois havedes tan gran coraçon Pois vós tendes tão bom coração
que vos eu loe en esta razon, Que eu vos louvarei por esta razão,
vos quero já loar toda via; Eu vos louvarei, todavia;
e vedes qual será a loaçon: E veja qual será a louvação:
dona fea, velha e sandia! Dona feia, velha e louca!
Dona fea, nunca vos eu loei Dona feia, eu nunca vos louvei
en meu trobar, pero muito trobei; Em meu trovar, mas muito já trovei;
mais ora já un bon cantar farei Entretanto, farei agora um bom cantar
en que vos loarei toda via; Em que vos louvarei todavia;
e direi-vos coo vos loarei: E vos direi como louvarei:
dona fea, velha e sandia! Dona feia, velha e louca!
Fonte: Campedelli (2000, p. 157).
9) Aires Corpancho.
10) Nuno Fernandes Torneol.
11) Bernardo Bonaval.
12) Paio Gomes Charinho.
Embora distante no tempo, a poesia trovadoresca permane-
ce atual no que diz respeito à sua sensibilidade.
Massaud Moisés (2006, n.p.) argumenta a favor dessa atua-
lidade da poesia trovadoresca e nos convida à leitura atenta desta
literatura para que possamos perceber sua beleza e importância. E
acrescenta que ali localizamos:
[...] a fonte primeira de onde promana muito daquilo que constitui
o patrimônio lírico em Língua Portuguesa. Acabará compreenden-
do não ser para menos que certos poetas, brasileiros e portugue-
ses (como, por exemplo, Manuel Bandeira e Afonso Duarte), lá se
abeberaram: estes poetas, para exprimir determinada e voluntária
consangüinidade lírica, subjacente em certos estados de alma co-
muns mas provocados por motivos diversos, não tiveram que voltar
à origem, no encalço das formas adequadas de expressão. É que,
para algumas situações e sentimentos amorosos, os trovadores en-
contraram palavras que ainda continuam a vibrar, por sua flagrante
limpidez e precisão, compondo imagens duma beleza achada es-
pontaneamente, quase sem dar por isso, antes fruto do instinto, ou
da intuição, que da artesania. Aí o seu valor até hoje.
7. PROSA TROVADORESCA
Muito embora se ouça mais falar nas composições poéticas
desse período, houve importantes contribuições também na pro-
sa.
© U3 - Trovadorismo em Portugal: Poesia e Prosa 95
As novelas de cavalaria
De origem francesa e inglesa, as novelas de cavalaria flores-
ceram como adaptações para a prosa das canções de gesta fran-
cesas.
Com relação à ambientação e à forma dessas canções, Mas-
saud Moisés (2004a, p. 64) diz que eram:
Poemas épicos medievais franceses, escritos desde a segunda me-
tade do século XI até o século XIII, cuja ação transcorria especial-
mente no tempo de Carlos Magno (séc. VIII) [...] Organizavam-se
em estrofes ou laisses, com número variável de linhas: embora
predominassem as combinações métricas de quinze versos, por ve-
zes se encontravam estrofes compostas de centenas de segmentos
encadeados.
Amadis de Gaula
De autoria incerta, é considerada uma das mais importantes
novelas de cavalaria da Península Ibérica.
Vejamos as considerações de Massaud Moisés (2006, p. 47)
a respeito de sua natureza literária:
8. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seu
desempenho no estudo desta unidade:
1) As primeiras manifestações literárias em Língua Portuguesa se deram:
a) Em galego-português durante a retirada do Império Romano do condado
Portucalense.
b) Em português arcaico em pleno processo de formação do condado Por-
tucalense e chegada dos árabes ao norte de Portugal.
c) Em galego-português, já em plena Idade Moderna, com a formação do
Reino Aragão e Catalão.
d) Em galego-português, coincidem com a formação do Estado português e
com a expulsão dos árabes da Península Ibérica.
e) Em português arcaico, durante o reinado de D. Dinis e a expulsão dos
espanhóis do território português.
2) O trovador, na literatura trovadoresca, destacava-se como:
a) Poeta de ascendência nobre, que elaborava letra e melodia das cantigas.
b) Executava suas cantigas acompanhado de instrumentos musicais.
c) Pertencia, geralmente, à aristocracia ou era fidalgo decaído.
d) Ao seu talento individual, somava-se o estudo das regras da Retórica, da
Poética e da Música.
e) Todas as alternativas anteriores estão corretas.
3) Com relação às figuras do segrel, jogral e menestrel, é correto afirmar que:
a) O segrel era de origem popular e recebia pela composição de suas can-
tigas.
b) O jogral era de origem nobre e recebia por suas cantigas.
c) O menestrel, de origem popular, recitava e tocava cantigas de autoria de
outros poetas.
d) O segrel era de origem nobre e não recebia por suas composições.
e) O menestrel, de origem nobre ou clérigo, compunha e declamava suas
próprias cantigas.
4) Com relação às coletâneas ou cancioneiros de cantigas trovadorescas me-
dievais de que temos conhecimento, é correto afirmar que:
a) Colecionam cantigas trovadorescas, não só do território português, mas
de autores de diferentes regiões da Península Ibérica.
b) A coletânea mais antiga de cantigas trovadorescas em galego-português,
data do século 14 e recebeu o nome de Cancioneiro da Vaticana.
c) O Cancioneiro da Ajuda é o mais valioso por ser o mais completo e cata-
logar a totalidade das cantigas trovadorescas medievais.
d) O Cancioneiro da Biblioteca Nacional, embora incompleto, é uma teste-
munha importante por conter cantigas de trovadores do mesmo período
de sua compilação.
© U3 - Trovadorismo em Portugal: Poesia e Prosa 105
15) Que características são próprias e distintivas das cantigas de escárnio e can-
tigas de maldizer?
17) Por que nem sempre é possível classificar uma cantiga especificamente
como de escárnio ou de maldizer?
24) Dentre as novelas de cavalaria do ciclo Bretão, quais tiveram versão em Lín-
gua Portuguesa?
29) Que aspectos de A Demanda do Santo Graal serviram aos propósitos religio-
sos da Igreja Medieval e quais se mostram ainda hoje atuais?
30) Além das novelas de cavalaria, que outras manifestações em prosa marca-
ram o período trovadoresco em Portugal? Qual a sua importância naquele
período e nos dias atuais?
Gabarito
1) d.
2) e.
© U3 - Trovadorismo em Portugal: Poesia e Prosa 107
3) c.
4) a.
5) e.
9) a.
9. CONSIDERAÇÕES
Nesta unidade, estudamos a primeira manifestação literária
em verso e prosa que floresceu em Portugal ainda durante a Idade
Média e que coincide com a formação de seu Estado e com a ex-
pulsão dos árabes da Península Ibérica.
Obras de poetas trovadores de linhagem nobre, as cantigas,
como ficaram conhecidos os poemas desse período, eram musica-
das e cantadas ao som de instrumentos de corda.
As cantigas de natureza lírico-amorosas eram de dois tipos:
cantigas de amor e cantigas de amigo. De origem provençal, as
cantigas de amor expressavam o amor impossível de se concretizar
de um eu lírico masculino pela mulher amada, geralmente uma
dama casada ou de estrato social elevado. As cantigas de amigo,
por outro lado, de origem popular e de traço espontâneo, expres-
sam o lamento de um eu lírico feminino que chora a ausência de
seu amado, que partiu para lutar na cavalaria ou a deixou por ou-
tra mulher.
Os mesmos trovadores ocuparam-se ainda com as cantigas
satíricas de escárnio e de maldizer. Próximas do cotidiano e dos
costumes da época, revelando menor preocupação com as con-
venções sociais, essas cantigas são importantes testemunhas da
sociedade desse período.
Cantadas em locais boêmios, as cantigas satíricas eram escri-
tas em linguagem considerada vulgar e zombavam de personalida-
des conhecidas. Revelavam vícios e escândalos dos próprios jograis
trovadorescos e criticavam burgueses, fidalgos, nobres e clérigos.
10. E-REFERÊNCIAS
Listas de figuras
Figura 1 Indiana Jones e a A Última Cruzada. Disponível em: <http://www.cineplayers.
com/filme.php?id=566>. Acesso em: 24 jan. 2012.
Figura 2 O Código Da Vinci. Disponível em: <http://www.chamada.com.br/mensagens/
codigo_da_vinci_2.html>. Acesso em: 24 jan. 2012.
Sites pesquisados
Amadis de Gaula. Disponível em: <http://www.fcsh.unl.pt/docentes/gvideiralopes/
index_ficheiros/amadisT.pdf> Acesso em: 24 jan. 2012.
2. CONTEÚDOS
• Humanismo em Portugal.
• Prosa Historiográfica
• Prosa Doutrinária
• Prosa religiosa
• Poesia Palaciana.
• Teatro de Gil Vicente.
• Trilogia das Barcas.
112 © Literatura Portuguesa e Brasileira I
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Na unidade anterior, finalmente adentramos o universo das
Literaturas de Língua Portuguesa propriamente ditas. Vimos como
se deu o seu início e fizemos uma leitura de algumas cantigas tro-
vadorescas e tomamos contato com as novelas de cavalaria, bem
como ficamos sabendo de outras formas de prosa recorrentes no
período do Trovadorismo.
Você pôde perceber os diferentes tipos de composição poé-
tica da época medieval portuguesa: as cantigas líricas – de amor e
de amigo –, cuja temática gira em torno do sentimento amoroso,
e as cantigas satíricas – de escárnio e de maldizer –, que os poetas
compunham para troçarem uns dos outros e também para ridicu-
larizarem algumas pessoas importantes da sociedade.
Você teve, também, a oportunidade de conhecer um pouco
da produção em prosa do Trovadorismo.
Nesta unidade, continuaremos a nos debruçar sobre essa
produção em prosa, especificamente sobre a prosa de Fernão Lo-
pes (1380-1460), mas deter-nos-emos mais no teatro de Gil Vicen-
te (1465-1537), que é, sem dúvida, o principal escritor do período.
Preparado (a)?
Então, vamos em frente!
5. HUMANISMO EM PORTUGAL
O período ao qual nos referimos agora, e que denominamos
Humanismo, inicia-se em 1428, quando D. Duarte, ainda no rei-
nado de seu pai, D. João I, nomeia o historiador e escritor Fernão
Lopes para a função de Guarda-Mor da Torre do Tombo, e termina
6. PROSA HISTORIOGRÁFICA
Considerado o pai da historiografia portuguesa, Fernão Lo-
pes registrou em suas crônicas a vida de seus reis, a revolução de
Avis e a expansão marítima. Pode-se dizer que inovou ao conside-
rar em seus relatos, não só os atos de reis, nobres e cavaleiros, mas
também a participação popular nos acontecimentos históricos.
Vejamos como Massaud Moisés (2006, p. 33) apresenta a con-
cepção de história com que Fernão Lopes escreve suas crônicas:
© U4 - O Humanismo em Portugal e a Obra de Gil Vicente 117
então estava, cinco mil homens das vintenas para terem os ditos
círios. E quando o conde houve de velar suas armas, no mostei-
ro de S. Domingos dessa cidade, ordenou el-Rei que desde aquele
mosteiro até os seus paços, que é assaz grande espaço, estives-
sem quedos aqueles homens todos, cada um com seu círio aceso,
que davam todos mui grande lume; e el-Rei, com muitos fidalgos
e cavaleiros, andava por entre eles, dançando e tomando sabor.
E assim despenderam gram parte da noite.
Em outro dia, estavam mui grandes tendas armadas no Ros-
sio, acerca daquele mosteiro, em que havia grandes montes
de pão cozido, e assaz de tinas cheias de vinho, e logo pres-
tes por que bebessem. E fora estavam ao fogo vacas inteiras
em espetos a assar, e quantos comer queriam daquela vian-
da, tinham-na muito prestes e a nenhum não era vedada.
E assim estiveram sempre, enquanto durou a festa, na qual foram
armados outros cavaleiros, cujos nomes não curamos dizer (MOI-
SÉS, 2004, p. 48).
1) Sancho I.
2) Afonso II.
3) Sancho II.
4) Afonso III.
5) D. Dinis.
6) Afonso IV.
7) D. Duarte.
8) Afonso V.
9) D. João II.
Todavia, nem todas as crônicas que escreveu parecem ser
originais. Segundo Massaud Moisés (2006, p. 35),
As seis primeiras seriam a refundição duma obra contemporânea
cujos originais só muito recentemente foram descobertos (na Bi-
blioteca Púbica do Porto e na casa do Cadaval), ou, ainda, calcadas
nas crônicas perdidas de Fernão Lopes. É possível, igualmente, que
se apoiasse em Azurara para fazer a história de D. Duarte e parte da
de Afonso V. De sua autoria exclusiva restariam a última parte da
Crônica de Afonso V e a Crônica de D. João II.
7. PROSA DOUTRINÁRIA
A prosa doutrinária e moralista encontra seu ápice no sécu-
lo 15, sob a monarquia da Dinastia de Avis. Escrita em sua maior
parte por monarcas, esse tipo de prosa tinha como principal preo-
cupação a formação dos nobres e fidalgos, preparando-os para o
convívio em sociedade e para as batalhas.
8. POESIA PALACIANA
Nesse período, a produção poética separa a letra da música
e ganha, com isso, novos recursos estilísticos; ainda assim, não é
Fala de D. Inês:
A minha desaventura
Não contente d' acabar-me,
Por me dar maior tristura
Me foi pôr em tant' altura
Para d'alto derribar-me;
Que, se me matara alguém
Antes de ter tanto bem,
Em tais chamas não ardera,
Pai, filhos, não conhecera,
nem me chorara ninguém.
[...]
Fim
as espadas na mão,
m' atravessam o coração,
A confissão me tolheram.
Este é o galardão
Que meus amores me deram!(MOISÉS, 2004, p. 61-62).
Canta Inês:
(Falando)
Inês
Renego deste lavrar
E do primeiro que o usou;
Ó diabo que o eu dou,
Que tão mau é d'aturar.
Oh Jesus! que enfadamento,
E que raiva, e que tormento,
Que cegueira, e que canseira!
Eu hei de buscar maneira
D'algum outro aviamento.
Coitada, assi hei de estar
Encerrada nesta casa
Como panela sem asa,
Que sempre está num lugar?
E assi hão-de ser logrados
© U4 - O Humanismo em Portugal e a Obra de Gil Vicente 135
Mãe
Logo eu adivinhei
Lá na missa onde eu estava,
Como a minha Inês lavrava
A tarefa que lhe eu dei...
Acaba esse travesseiro!
Diz, cantando:
Vós me veniredes a la mano,
ala mano me veniredes.
FIDALGO - Ao Inferno, todavia!
© U4 - O Humanismo em Portugal e a Obra de Gil Vicente 141
6) Que aspectos das crônicas de Rui de Pina atribuem valor a sua obra?
8) Que aspectos da prosa religiosa desse período valorizam seu aspecto lite-
rário?
10) Que recursos passaram a fazer parte da produção poética para estabelecer
a rima e o ritmo antes propiciados pela música e dança na poesia trovado-
resca?
18) Como Gil Vicente constrói o elenco de personagens da Trilogia das Barcas?
© U4 - O Humanismo em Portugal e a Obra de Gil Vicente 145
12. CONSIDERAÇÕES
Nesta unidade, abordamos a literatura portuguesa do se-
gundo medieval, em sua feição humanista. Começando pela prosa,
destacamos a sua produção historiográfica, destacando a atuação
de Fernão Lopes e sua importância para a historiografia portugue-
sa.
Na sequência, contemplamos a prosa doutrinária e religiosa,
destacando sua função e especificidades.
Na poesia, abordamos a Poesia Palaciana, sua dissociação da
música e suas contribuições em termos de recursos literários.
Por fim, abordamos o teatro de Gil Vicente e suas contribui-
ções à dramaturgia portuguesa e suas especificidades, com aten-
ção especial à Trilogia das Barcas, que ratifica a capacidade criativa
vicentina com crítico social, sem perder de vista a religiosidade a
que seu teatro está associado.
Na próxima unidade, voltaremos nossa atenção para a litera-
tura portuguesa moderna em sua primeira escola: o Classicismo.
Até lá!
13. E-REFERÊNCIAS
Sites pesquisados
VICENTE, G. Farsa ou Auto de Inês Pereira. Disponível em: <http://www.dominiopublico.
gov.br/download/texto/ua00115a.pdf>. Acesso em: 22 jun. 2011a.
______. Auto da Barca do Inferno. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/
download/texto/bv000107.pdf>. Acesso em: 22 jun. 2011b.
1. OBJETIVOS
• Relacionar o Classicismo ao Renascimento Cultural
• Identificar as características principais do Classicismo em
Portugal.
• Conhecer os principais poetas classicistas portugueses e
sua contribuição literária.
• Conhecer e analisar os poemas escritos na medida velha
e na medida nova.
• Reconhecer os traços essenciais da lírica camoniana.
• Aprofundar a leitura de Os Lusíadas, de Camões.
• Refletir e demonstrar a presença da mitologia na obra li-
terária de Camões.
148 © Literatura Portuguesa e Brasileira I
2. CONTEÚDOS
• Contexto histórico e social do Classicismo na Europa e em
Portugal.
• Sá de Miranda, Antônio Ferreira e Bernadim Ribeiro.
• Luís Vaz de Camões.
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Na unidade anterior, você conheceu mais algumas produ-
ções da Literatura em Língua Portuguesa, produzidas no contexto
cultural do Humanismo. Dentre elas, destacamos a historiografia
de Fernão Lopes e a obra dramática de Gil Vicente.
Agora, para dar sequência à sua viagem, adentraremos às
águas caudalosas do Classicismo, cuja figura predominante na li-
teratura portuguesa é Luís Vaz de Camões.
Todo estudante de literatura já ouviu falar de Camões. Den-
tre os autores que escrevem em língua portuguesa, sua obra é uma
das mais traduzidas e conhecidas no mundo todo. Quem nunca la-
mentou as penas do amor com os seguintes versos:
donde não vejo senão serras que se não mudam de um cabo, nun-
ca, e doutra águas do mar que nunca estão quedas, onde cuidava
eu já que esquecia a desaventura porque ela e depois eu, a todo
poder que ambas podemos, não deixamos em mim nada em que
pudesse achar lugar nova mágoa; antes tudo havia muito tempo,
como há, que povoado de tristezas, e com razão. Mas parece que
das desaventuras há mudança para outras desaventuras, que do
bem não a havia para outro bem. E foi assi que por caso estranho
fui levada em parte onde me forem diante meus olhos apresenta-
das em coisas alheias todas as minhas angustias, e o meu sentido
de ouvir não ficou sem sua parte de dor [...] (RIBEIRO, 2011).
DATA FATOS
1553 É libertado e embarca para a Índia como soldado
1556 É nomeado provedor-mor em Macau. Acusado de prevaricação, vai
à Goa defender-se, mas naufraga. Quando finalmente chega à Goa, é
preso e solto pouco depois
1563 É preso por endividamento. Posto em liberdade vive na miséria, até
que Diego do Couto o envia de volta à Portugal
1569 Chega em Lisboa
1572 Publica a primeira edição de Os Lusíadas
1580 Morre pobre e abandonado
Fonte: Moisés(2006, n.p.).
Camões lírico
A produção lírica de Camões é das mais vastas em língua
portuguesa. Ela pode ser dividida em duas partes: os poemas es-
critos na medida velha (redondilhas, na sua maioria, segundo o
modelo herdado aos trovadores) e os poemas escritos na medida
nova (decassílabos, de acordo com as influências do Renascimento
italiano).
A medida velha
Esta vertente da poesia camoniana recebeu o nome de me-
dida velha porque faz uso de modelos formais e temáticos pró-
prios do Trovadorismo, especialmente das cantigas de amigo.
© U5 - O Classicismo em Portugal e a Obra de Camões 157
˘
1 2 3 4 5 6 7
˘
1 2 3 4 5 6 7 8 9
A medida nova
A medida nova consistia no emprego de um novo metro.
Essa "moda", como já mencionado no início do tópico seis des-
ta unidade, foi trazida a Portugal pelo poeta Sá de Miranda, que
estivera uma temporada na Itália e, lá, entrara em contato com
a obra de grandes poetas humanistas, como Francesco Petrarca
(1304-1374).
Em sua vertente Renascentista, Camões realiza-se plena-
mente como poeta, superando-a e tornando-se precursor do
Barroco, em suas "inquietantes interrogações de homem culto e
ultra-sensível, vivendo uma quadra de profunda crise na história
da cultura ocidental" (MOISÉS, 2006, p. 55).
Vejamos a seguir alguns sonetos de Camões, que exemplifi-
cam sua produção na medida nova:
1
Sete anos de pastor Jacob servia
Labão, pai de Raquel, serrana bela;
mas não servia ao pai, servia a ela,
e a ela só por prémio pretendia.
4
Busque Amor novas artes, novo engenho,
para matar me, e novas esquivanças;
que não pode tirar me as esperanças,
que mal me tirará o que eu não tenho.
Olhai de que esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Que não temo contrastes nem mudanças,
andando em bravo mar, perdido o lenho.
Mas, conquanto não pode haver desgosto
onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê.
Que dias há que n'alma me tem posto
um não sei quê, que nasce não sei onde,
vem não sei como, e dói não sei porquê.
5
Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida descontente,
Repousa lá no Céu eternamente,
E viva eu cá na terra sempre triste.
Se lá no assento etério, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.
E se vires que pode merecer-te
Alguma cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te;
Roga a Deus que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.
6
Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.
PRINCÍPIO DA IMITAÇÃO
greco-latina, seja nas formas, seja nos temas. É essa atitude que
confere ao período o nome de Classicismo, porque se trata de uma
revalorização dos modelos clássicos. Entre os poetas seiscentistas,
imitar não tinha o mesmo valor pejorativo que tem entre nós. Eles
entendiam que, ao imitar um grande poeta, você estaria fazendo uma
grande poesia; seguindo as pegadas dos mestres, estaria seguramente
no bom caminho (não era raro que eles tomassem de empréstimo
trechos de versos ou até mesmo versos inteiros dos poetas da
Antiguidade para comporem seus poemas).
É a primazia da razão sobre o sentimento. Ainda que o tema de
RACIONALISMO
alguns sonetos seja amoroso, o amor é guiado pela Razão e, por isso,
comparece de forma comedida, pensada.
o mal.
Com essa técnica, Camões não pratica um mero jogo verbal, como
vieram a fazer, mais tarde, alguns poetas barrocos. Camões sim-
plesmente exprime as contradições e perplexidades inerentes à
própria vida humana (RODRIGUES, 1993, p. 30).
d) Você pode ver o jogo de antíteses no famoso soneto
"Amor é fogo que arde sem se ver", no qual, além das
antíteses, figuram também paradoxos, como na expres-
são "um contentamento descontente". A diferença en-
tre a antítese e o paradoxo é que na antítese, os termos
contraditórios são justapostos, isto é, colocados lado a
lado; no paradoxo, por sua vez, a contradição fica implí-
cita, fazendo com que os termos contrários – no caso,
contentamento e descontentamento – se fundam numa
única realidade, por isso mesmo chamada de paradoxal.
e) Nesse conhecido e decantado soneto, as antíteses e pa-
radoxos aparecem em todo o seu fulgor, mas elas podem
ser encontradas também em outros versos, em algumas
expressões como "perigosa segurança", do soneto "Bus-
que Amor novas artes, novo engenho" (no seu Caderno
de Referência de Conteúdo).
f) O desconcerto do mundo. Esta ideia, tão cara a Camões,
consiste em averiguar as contradições contínuas da vida
humana. Rodrigues (1993, p. 31) aponta que essa ideia
estava presente na filosofia de Heráclito (540-470 a.C.):
Foi Heráclito quem disse que ninguém pode banhar-se duas vezes
no mesmo rio, por serem suas águas sempre outras e não mais
aquelas em que nos banhávamos. Para este filósofo, [...] nada fica
sendo o que é, tudo muda, ou seja, tudo entra em contradição com
o que era antes. Assim, para Heráclito, o mundo não passaria de
uma eterna guerra de contradições e mudanças. Umas coisas fa-
zem guerra não só às outras, mas a si mesmas.
Camões épico
A épica camoniana faz-se representar com a epopeia Os Lu-
síadas (1572). Trata-se de uma obra monumental:
• por sua extensão: são 1102 estrofes com oito versos cada,
o que dá um total de 8.816 versos;
• pela regularidade: todos os versos são decassílabos he-
róicos, isto é, têm a mesma métrica e o mesmo ritmo de
leitura e o mesmo esquema de rimas (abababcc);
• pela temática grandiloquente: Camões narra nada menos
que a história de Portugal, desde a sua fundação como
nação até a descoberta do caminho marítimo para as Ín-
dias, que facilitaria o comércio com o Oriente.
Para que você tenha uma noção da distribuição decassílaba
dos versos, veja o esquema a seguir, construído com a primeira
estrofe do poema:
Rima
Verso
1 As ar mas e os ba rões as si na la dos A
˘
2 Que da o ci den tal prai a Lu si ta na B
˘
3 Por ma res nun ca de na tes na ve ga dos A
˘
4 Pas sa ram ain da a lém da Ta pro ba na B
˘
5 Em pe ri gos e guer ras es fo ça dos A
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Proposição
I. Introdução Invocação
Dedicatória
II. Narração
III. Epílogo
Introdução
Essa parte está contida no primeiro Canto e compreende a
proposição, a invocação e a dedicatória ou oferecimento.
Na Proposição, o poeta define a proposta do seu cantar: lou-
var "As armas e os barões assinalados", isto é, os feitos de guerra (as
armas) e os homens que os fizeram (os barões, palavra antiga usada
para designar os varões) com valentia e grandeza (assinalados).
Na Invocação, os poetas clássicos costumava invocar alguma
deusa, musa inspiradora do canto. Camões invoca as Tágides, que
seriam as ninfas que habitam o Rio Tejo (em Lisboa).
A Dedicatória do poema é oferecida a D. Sebastião, que reina-
va na época em que viveu Camões. Por ter tão valoroso poema a si
dedicado, o Rei concedeu a Camões uma pensão até o fim de seus
dias – pequena e paga sem regularidade, o que deixou um dos maio-
res poetas portugueses morrer em uma miséria constrangedora.
Narração
Esta segunda parte é a maior da epopeia camoniana e inicia-
-se ainda no Canto I. Camões introduz aqui a narrativa da expe-
dição dirigida por Vasco da Gama com destino à Índia. Essa ex-
pedição merece destaque entre as muitas empreendidas pelos
portugueses, pois o comércio com as Índias era vital para a so-
ciedade da época (era do Oriente que se traziam as especiarias,
temperos com os quais o sabor da comida era apurado).
Ocorre que, por essa época, os árabes – ou mouros – haviam
interditado o caminho naturalmente mais fácil de comunicação
entre a Península Ibérica e o Oriente, ou seja, o caminho terrestre.
A dominação árabe impedia esse acesso mais fácil – e por isso, foi
necessário buscar uma outra via de acesso à Índia (ou Índias, como
era então nomeada): pelo mar.
O Gigante Adamastor. Não era uma empreitada fácil, porque,
apesar dos portugueses terem desenvolvido técnicas avançadas
de navegação, havia muitos obstáculos naturais a serem enfren-
tados, como a passagem do Cabo das Tormentas, no extremo sul
do continente africano. Ali, os ventos tornavam quase impossível a
passagem, dificultando a travessia. A expedição de Vasco da Gama
foi a primeira que avançou ali com sucesso, e conseguiu por ali
retornar.
© U5 - O Classicismo em Portugal e a Obra de Camões 173
Epílogo
Nesta parte final, Camões pede às musas que o deixem, isto
é, que encerrem a fonte de inspiração de seu canto, e o justifica
com uma crítica aos portugueses seus contemporâneos:
A estrutura narrativa
Os dez cantos d'Os lusíadas podem ser descritos da seguinte
forma:
1) Canto I. Proposição. Invocação. Dedicatória. Início da
narração (in media res, isto é, no meio dos acontecimen-
tos, em alto mar). No início, a narração é feita em 3ª pes-
soa e o tempo é o do presente da narrativa (que consiste
na viagem de Vasco da Gama). Neste canto, é narrada
a chegada dos portugueses a Quíloa, na costa africana,
e a cilada do piloto mouro, que termina rendido pelos
portugueses.
2) Canto II. Chegam os portugueses a Mombaça (atual Tan-
zânia). Ali surge um novo conflito, do qual os portugue-
ses saem novamente vencedores e chegam triunfalmen-
te a Melinde.
© U5 - O Classicismo em Portugal e a Obra de Camões 177
8. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seu
desempenho no estudo desta unidade:
1) Que acontecimentos políticos e sociais do final da Idade Média e início da
Moderna contribuíram para a o florescimento de uma nova mentalidade,
que originou a Renascença?
2) O que foi a Renascença e quais as suas contribuições para o âmbito das artes
em geral?
3) Defina Classicismo.
10) Em que sentido Camões conseguiu ser inovador em sua lírica escrita em me-
dida velha?
12) Como se configura a forma proposta pela medida nova introduzida pelo
Classicismo?
16) Que aspectos de Os Lusíadas conferem a esta epopeia o rótulo de obra mo-
numental?
Gabarito
Confira, a seguir, as respostas corretas para as questões au-
toavaliativas propostas:
20) A
© U5 - O Classicismo em Portugal e a Obra de Camões 181
9. CONSIDERAÇÕES
Nesta unidade, nos dedicamos ao estudo do Classicismo em
Portugal. Vimos que esta escola literária fez parte de um movimen-
to intelectual e cultural que aflorou na Europa a partir da Itália
entre os séculos 15 e 16.
Conhecemos os principais autores do período e sua contri-
buição à literatura portuguesa e universal.
Começando por Sá de Miranda que introduziu em Portugal a
medida nova, cujo sistematizador de sua noção e forma poética foi
Antônio Ferreira, permitindo uma renovação à medida velha, que
ainda permaneceu em prática em paralelo com a nova orientação
poética.
Por fim, voltamos nossa atenção ao maior expoente do Clas-
sicismo português: Luís Vaz de Camões, que soube dar novo fôlego
a poesia medieval por meio de sua criatividade, habilidade, sensi-
bilidade e profundidade.
Por outro lado, Camões também se dedicou a compor poesia
segundo os ditames da medida nova e, assim, representar o Clas-
sicismo em Portugal como nenhum outro poeta contemporâneo
de Portugal.
Na épica, Camões compôs a epopeia Os Lusíadas, em que
louva a história de Portugal segundo o modelo da épica clássica.
Mas, e no Brasil? Já encontramos vestígios de alguma ex-
pressão literária circulando entre os nativos e portugueses que
aqui desembarcaram no século 16?
As primeiras letras em solo Brasileiro será tema de nossa
próxima unidade. Até lá!
10. E-REFERÊNCIAS
Sites pesquisados
CAMÕES, L. V. Jornal de poesia: Luís Vaz de Camões. Disponível em: <http://www.revista.
agulha.nom.br/camoes73.html>. Acesso em: 24 jan. 2012a.
______. Os lusíadas. Disponível em: <http://www.nead.unama.br/site/bibdigital/pdf/
oliteraria/299.pdf>. Acesso em: 24 jan2012b.
RIBEIRO, B. Menina e Moça. Belém: Universidade da Amazônia. Disponívelem:<http://
www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ua000037.pdf>.Acesso em: 23 jun. 2011.
6
1. OBJETIVOS
• Conhecer alguns dos primeiros textos informativos sobre
o Brasil.
• Compreender a Literatura Informativa sobre o Brasil como
mais importante à História do que à Literatura Brasileira.
• Observar e identificar os valores estéticos ligados à litera-
tura informativa quando retomada por escritores, espe-
cialmente do Romantismo e do Modernismo.
2. CONTEÚDOS
• Literatura de informação.
• Carta de Pero Vaz de Caminha.
• A primeira história do Brasil: História da Província Santa
Cruz.
• Tratado descritivo do Brasil.
184 © Literatura Portuguesa e Brasileira I
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Até a unidade anterior, você acompanhou o desenrolar da Li-
teratura Portuguesa. Agora, passa a conhecer a literatura de nosso
país. No entanto, no período até aqui estudado, do lado de cá do
oceano, ainda é cedo para falar de uma literatura brasileira.
Ela somente receberá essa alcunha, não por acaso, com a
independência do país, em 1822. Como o Romantismo brasileiro
começa em 1836, esse período ficou conhecido como o primeiro
de uma literatura tipicamente nacional, em detrimento da litera-
5. LITERATURA DE INFORMAÇÃO
Você pode perceber a importância desta unidade ao depa-
rar-se com a expressão a seguir do professor e crítico literário Al-
fredo Bosi, a respeito de nossas letras. Ele diz:
Os primeiros escritos de nossa vida documentam precisamente a
instauração do processo: são informações que viajantes e missio-
nários europeus colheram sobre a natureza e o homem brasileiro
(2006, p. 13).
Não vá você julgar mal José Veríssimo. Ele foi um grande crí-
tico e historiador literário. Foi amigo de Machado de Assis. E, como
o leitor pôde perceber, foi também impiedoso ao omitir o perío-
do que estamos estudando da visão geral que tinha da literatura
brasileira. Porém, ele está repleto de razão: esteticamente, nossos
primeiros escritos não acrescentam muito à literatura.
Essa discussão torna-se melhor ainda quando damos con-
ta de que nossos primeiros escritos até podem ser desprezados
como objetos literários estéticos, mas é inegável o valor cultural e
histórico que carregam.
Vejamos como Bosi (2006, p. 13) nos apresenta essa questão:
No entanto, a pré-história das nossas letras interessa como reflexo
da visão do mundo e da linguagem que nos legaram os primeiros
observadores do país. É graças a essas tomadas diretas da paisa-
gem, do índio e dos grupos sociais nascentes, que captamos as con-
dições primitivas de uma cultura que só mais tarde poderia contar
com o fenômeno da palavra-arte.
e daly oouemos vista dhomee[n]s q[ue] E dali avistamos homens que andavam
andauam pela praya obra de bij ou biij pela praia, uns sete ou oito, segundo
segº os naujos pequenos diseram por disseram os navios pequenos que
chegarem primeiro... / aly lancamos chegaram primeiro.
os batees e esquifes fora evieram logo
todolos capitaães das naaos aesta Então lançamos fora os batéis e esquifes.
naao do capitam moor e aly falaram. E logo vieram todos os capitães das naus
E ocapitam man dou no batel em trra a esta nau do Capitão-mor. E ali falaram.
njcolaao coelho peraveer aq[ue]Le rrio E o Capitão mandou em terra a Nicolau
e tamto que ele comecou perala dhir Coelho para ver aquele rio. E tanto que
acodirã pela praya homee[n]s quando ele começou a ir-se para lá, acudiram
dous quando três de maneira que pela praia homens aos dois e aos três,
quando obatel chegou aaboca do rrio de maneira que, quando o batel chegou
heram aly xbiij ou xx homee[n]s pardos à boca do rio, já lá estavam dezoito ou
todos nuus sem nhuu[m]a cousa que lhes vinte.
cobrisse suas vergonhas. traziam arcos
nas maãs esuas see tas. vijnham todos Pardos, nus, sem coisa alguma que lhes
rrijos perao batel e nicolaao co elho lhes cobrisse suas vergonhas. Traziam arcos
fez sinal que posesem os arcos. e eles os nas mãos, e suas setas. Vinham todos
poseram. aly nom pode deles auer fala rijamente em direção ao batel. E Nicolau
ne[m] ente[n] dimento que aproueitasse Coelho lhes fez sinal que pousassem os
polo mar quebrar na costa. soomente arcos. E eles os depuseram. Mas não
deulhes huu[m] barete vermelho e pôde deles haver fala nem entendimento
huu[m]a carapuça de linho que leuaua que aproveitasse, por o mar quebrar
na cabeça e huu[m] sombreiro preto. na costa. Somente arremessou-lhe
E huu[m] deles lhe deu huu huu[m] um barrete vermelho e uma carapuça
sombreiro de penas daues compridas co de linho que levava na cabeça, e
huu[m]a copezinha pequena de penas um sombreiro preto. E um deles lhe
vermelhas epardas coma de papagayo e arremessou um sombreiro de penas de
outro lhe deu huu[m] rramal grande de ave, compridas, com uma copazinha
comtinhas brancas meudas que querem de penas vermelhas e pardas, como
parecer daljaueira as quaaes peças creo de papagaio. E outro lhe deu um ramal
queo capitam manda avossa alteza e com grande de continhas brancas, miúdas
jsto se volueo aas naaos por seer tarde e que querem parecer de aljôfar, as quais
nom poder deles auer mais fala por aazo peças creio que o Capitão manda a Vossa
do mar. Alteza. E com isto se volveu às naus por
ser tarde e não poder haver deles mais
fala, por causa do mar.
[...] [...]
/ ocapitam quando eles vieram estaua O Capitão, quando eles vieram, estava
asentado em huu[m]a cadeira e huu[m] sentado em uma cadeira, aos pés uma
a alcatifa aos pees por estrado e bem alcatifa por estrado; e bem vestido,
vestido cõ huu[m] colar douro muy com um colar de ouro, mui grande, ao
grande ao pescoço. e sancho de toar e pescoço. E Sancho de Tovar, e Simão
simam de Miranda enj colaao coelho de Miranda, e Nicolau Coelho, e Aires
e aires corea e nos outros que aquy na Corrêa, e nós outros que aqui na nau
naao cõ ele himos asentados no chaão com ele íamos, sentados no chão, nessa
per esa alcatifa. / acemderam tochas alcatifa. Acenderam-se tochas. E eles
e emtraram e nõ fezeram nhuu[m]a entraram. Mas nem sinal de cortesia
mençam de cortesia nem de falar ao fizeram, nem de falar ao Capitão; nem a
capitam nem anjmguem. pero huu[m] alguém. Todavia um deles fitou o colar
deles pos olho no colar do capitam e do Capitão, e começou a fazer acenos
começou daçenar cõ amaão pera aterra com a mão em direção à terra, e depois
e depois perao colar como que nos dezia para o colar, como se quisesse dizer-nos
que avia em tera ouro e tam bem vio que havia ouro na terra. E também olhou
huu[m] castiçal de prata e asy meesmo para um castiçal de prata e assim mesmo
acenaua peraa tera e entã perao castical acenava para a terra e novamente para
como que avia tam bem prata. [...] o castiçal, como se lá também houvesse
(CAMINHA, 2012b) prata! [...] (CAMINHA, 2012)
co Pizarro, e indo por seu mandado com certa gente de cavalo des-
cobrindo a terra, entrou por ela adentro tanto espaço que se achou
perto do nascimento deste rio. E vendo-o caudaloso, fez junto dele
embarcações, segundo o costume daquelas partes, em as quais se
embarcou com a gente que trazia e se veio por esse rio abaixo, em
o qual se houveram de perder por levar grande fúria a correnteza,
e com muito trabalho tornou a tomar porto em povoado, na qual
jornada teve muitos encontros de guerra com o gentio e com um
grande exército de mulheres que com ele pelejaram com arcos e
flexas, de onde o rio tomou o nome das Amazonas. Livrando-se
este capitão deste perigo e dos mais por onde passou, veio tanto
por este rio abaixo até que chegou ao mar; e dele foi ter a uma
ilha que se chama a Margarita, donde se passou à Espanha. Dando
suas informações ao imperador Carlos V, que está em glória, lhe
ordenou uma armada de quatro naus para cometer esta empresa,
em a qual partiu do porto de S. Lucar com sua mulher para ir po-
voar a boca deste rio, e o ir conquistando por ele acima, o que não
houve efeito por na mesma boca deste rio falecer este capitão de
sua doença, de onde sua mulher se tornou com a mesma armada
para a Espanha.
Neste tempo — pouco mais ou menos — andava correndo a costa
do Brasil em uma caravela, como aventureiro, Luís de Melo, filho
do alcaide-mor de Elvas, o qual, querendo passar a Pernambuco,
desgarrou com o tempo e as águas por esta costa abaixo, e vindo
correndo a ribeira, entrou no rio do Maranhão, e neste das Ama-
zonas, de cuja grandeza se contentou muito; e tomou língua do
gentio de cuja fertilidade ficou satisfeito e muito mais das grandes
informações que na ilha da Margarita lhe deram alguns soldados,
que ali achou, que ficaram da companhia do capitão Francisco de
Orellana, os quais facilitaram a Luís de Melo e navegação deste rio,
e que com pouco cabedal e trabalho adquirisse por ele acima mui-
to ouro e prata. Do que movido Luís de Melo, se veio à Espanha, e
alcançou licença de el-rei D. João III de Portugal para armar à sua
custa e cometer esta empresa, para o que se fez prestes na cidade
de Lisboa; e partiu do porto dela com três naus e duas caravelas
com as quais se perdeu nos baixos do Maranhão, com a maior par-
te da gente que levava; e ele com algumas pessoas escaparam nos
batéis e uma caravela em que foi ter às Antilhas. E depois deste
fidalgo ser em Portugal, se passou à Índia, onde acabou valorosos
feitos; e vin-do-se para o Reino muito rico e com tenção de tornar a
cometer esta jornada, acabou no caminho em a nau São Francisco,
que desapareceu sem até hoje se saber novas dele.
[...] (SOUSA, 2012).
© U6 - Literatura Informativa Sobre o Brasil 205
c) Crônicas históricas.
d) Historiografia.
e) Informações religiosas.
5) A principal motivação de Gândavo para escrever a História da Província San-
ta Cruz veio:
a) Da necessidade de informar ao rei de Portugal a respeito da situação da
nova colônia.
b) Da necessidade de providenciar educação religiosa aos índios.
c) Da necessidade de se produzir uma literatura autenticamente brasileira.
d) Da necessidade de prover a colônia de uma obra do gênero.
e) Da necessidade de seduzir a Europa com boas impressões a respeito do
Brasil.
6) A História da Província Santa Cruz tem na sua estrutura uma característica
peculiar, que pode ser assim sintetizada:
a) Os fato ali narrados segue uma linearidade incomum aos livros de Histó-
ria da época.
b) Assemelha-se mais a uma crônica do que a um livro de História.
c) Aborda temas estritamente relevantes ao estudo histórico do período.
d) É a primeira obra em solo brasileiro a apresentar uma estrutura própria
a uma obra historiográfica.
e) Pertence a categoria de livros de caráter didático e catequético do pe-
ríodo.
7) Com relação ao Tratado Descritivo do Brasil de Gabriel Soares de Sousa, é
correto afirmar que:
a) É a fonte mais rica de informações sobre o Brasil colônia no século 16
que dispomos.
b) Pertence ao grupo de escritos da época chamados de relatos de bordo
e de viagem.
c) A obra é dividida em três partes: Roteiro Geral com Largas Informações
de toda a Costa da Bahia e Memória e Declarações das Grandezas dos
Estados da Colônia.
d) O autor revela pouco conhecimento naturalista e apresenta um olhar
descuidado.
e) Todas as alternativas anteriores estão corretas.
8) Os escritos jesuítas do período colonial revelam, sobretudo, uma preocupa-
ção com:
a) Com a catequização dos colonos recém chegados ao Brasil.
b) Com a catequização e educação dos índios.
c) Com a segurança dos colonizadores constantemente atacados por sel-
vagens.
d) Com a péssima condição material tanto dos colonos quanto dos nativos.
e) Todas as alternativas anteriores estão incorretas.
© U6 - Literatura Informativa Sobre o Brasil 213
13) Que contribuição Brandão prestou, com sua obra, aos recém chegados ao
país?
14) Você tem dúvidas com relação ao conteúdo estudado? Quais? Anote-as e
encaminhe ao seu tutor a distância.
Gabarito
Confira, a seguir, as respostas corretas para as questões au-
toavaliativas propostas:
1) c
2) b
3) e
4) a
5) d
6) b
7) a
8) b
9) c
10) e
12. CONSIDERAÇÕES
A literatura informativa do país, portanto, foi marcada pela
presença do português em nossa terra. Como você deve ter nota-
do, nenhum dos autores retratados aqui nasceu no Brasil (exceto
Frei Vicente do Salvador, que nasceu na Bahia). A literatura foi em
sua maior parte ufanista, ou seja, tratou de vangloriar as belezas
do país, buscando, com isso, encantar ou mesmo convencer o eu-
ropeu sobre as possibilidades de enriquecimento no país.
Assim, durante cem anos, a literatura ficou relegada aos co-
mentários estrangeiros a respeito de nosso país. Hoje, passados
mais de quinhentos anos de descobrimento, muitas dessas obras
ainda são desconhecidas pelo brasileiro. O que é de se lamentar.
Afinal, trata-se dos primeiros textos sobre o Brasil.
É relevante ressaltar a importância desse olhar estrangeiro,
pois, dessa forma, somos capazes de perceber como era o Brasil e
como era o povo indígena que aqui vivia, além do deslumbramen-
to ingênuo, inerente aos que escreveram sobre o país.
Agora, caro aluno, completamos a primeira etapa desta nos-
sa viagem pelas literaturas de língua portuguesa. Estudamos os
pressupostos teóricos desse material e, em seguida, as primeiras
manifestações poéticas, no Trovadorismo, depois vimos um pouco
da produção humanista e do Classicismo, com o estudo da obra de
Camões.
Até aqui, como você percebeu, não se tinha notícia sobre
uma literatura produzida no Brasil, mas somente em Portugal. Em
nosso país, como você acabou de ver na Unidade 6, surgiram no
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13. E-REFERÊNCIAS
Figura 1 Primeira página do manuscrito da carta de Pero Vaz de Caminha. Disponível
em: <http://www.lpm.com.br/livros/Imagens/carta_de_pero_vaz.pdf>. Acesso em: 25
jan. 2012.
Sites pesquisados
CAMINHA, P. V. de. A carta de Pero Vaz de Caminha. Disponível em: <http://www.nead.
unama.br/site/bibdigital/pdf/oliteraria/413.pdf>. Acesso em: 25 jan. 2012a.
______. A carta de Pêro Vaz de Caminha: transcrição paleográfica. Disponível em:
<http://antt.dgarq.gov.pt/files/2010/11/Carta-de-P%C3%AAro-Vaz-de-Caminha-
transcri%C3%A7%C3%A3o.pdf> Acesso em: 25 jan. 2012b.
GÂNDAVO, P. de M. História da Província de Santa Cruz. Disponível em: <http://www.
nead.unama.br/site/bibdigital/pdf/oliteraria/159.pdf>. Acesso em: 25 jan. 2012.