A origem latina da palavra “trabalho” vem de tripalium, antigo instrumento de tortura, ou seja, apresenta um sentido negativo às atividades laborais, significado que mudará na sociedade moderna. Essa atividade humana nem sempre teve a mesma organização, significado e valor social. O trabalho humano é entendido pelo sociólogo alemão Karl Marx como a atividade que transforma a natureza para satisfazer necessidades humanas. Através do trabalho, o ser humano aplica sua força para produzir os meios para sua sobrevivência e sustento. Podemos dizer que o trabalho existe para satisfazer as necessidades humanas, desde as mais simples (ou materiais), como aquelas relacionadas à alimentação, vestimenta e abrigo, até as mais complexas (ou imateriais), como as de lazer. Em nossa sociedade, a produção de cada objeto ou mercadoria envolve uma complexa rede de trabalho e de trabalhadores e trabalhadoras. Exemplo: A produção de pães. O PROCESSO DE TRABALHO Para resolver as suas necessidades básicas, o ser humano foi se apropriando da natureza, estabelecendo relações e criando novas necessidades. Exemplo: Para construir um banco de praça é necessário: você – um SER HUMANO; o CONHECIMENTO; a natureza já modificada, a MATÉRIA-PRIMA; e os INSTRUMENTOS – máquinas e ferramentas. São necessários todos estes elementos para que o banco seja construído. A PRODUÇÃO NAS SOCIEDADES TRIBAIS O antropólogo Marshall Sahlins (imagem) desenvolveu estudos sobre o mundo do trabalho nas sociedades em que chamou de “sociedades da abundância” ou “do lazer”. Essas sociedades tribais, em geral sociedades indígenas anteriores ao contato com a “civilização”, não são estruturadas pelo trabalho, tal como é definido na sociedade capitalista. Todos fazem quase de tudo e existe uma integração entre a obtenção daquilo que é necessário para a sobrevivência (por meio da caça, da pesca, coleta, criação) e outras esferas da vida social, como as festas, os mitos, os ritos, as artes, etc. Atendiam suas necessidades materiais e sociais plenamente dedicando um mínimo de horas diárias ao “trabalho”. TRABALHO NA SOCIEDADE FEUDAL Na sociedade feudal (vigente durante a Idade Média) havia os que trabalhavam (servos, camponeses) e os que viviam do trabalho dos outros (aristocratas, senhores feudais e clero). A terra era o principal meio de produção e os trabalhadores tinham direito a seu usufruto e ocupação, mas nunca à propriedade. Muitos trabalhavam em regime de servidão e os servos trabalhavam também na manutenção de estradas, entre outros serviços. As atividades artesanais também tinham destaque nesse período, tinham organização rígida. Da antiguidade até o fim da Idade Média, o trabalho não era elemento central da sociedade. AS BASES DO TRABALHO NA SOCIEDADE MODERNA Com a emergência do capitalismo, o trabalho passa a ser considerado algo positivo, o que antes era considerado atividade torturante. Grandes mudanças na estrutura do trabalho: Comerciantes e industriais que haviam acumulado riquezas passaram a financiar e coordenar a produção de mercadorias. Surge o processo de manufatura (cooperação avançada, linha de montagem) e a maquinofatura (trabalho industrial). O TRABALHO PARA OS CLÁSSICOS DA SOCIOLOGIA Para a Sociologia, a vida cotidiana é marcada profundamente pelo modo como as relações de trabalho se apresentam em cada momento histórico. Karl Marx, Émile Durkheim e Max Weber dedicaram parte central de suas teorias à reflexão sobre o mundo do trabalho capitalista. De modos diferentes, elaboraram análises que ainda hoje ajudam a compreender a sociedade em que vivemos. KARL MARX E A HISTÓRIA DA EXPLORAÇÃO DO HOMEM Marx observou o universo do trabalho na compreensão da vida social. Para ele, a divisão social do trabalho (diferenciação dos grandes ramos de produção social – agricultura, indústria, etc. – e do trabalho individualizado em oficina ou fábrica) acompanha o desenvolvimento das sociedades. Seus estágios variam de acordo com os modos de produção existentes ao longo da história. A divisão da sociedade em classes é definida essencialmente pela posição ocupada pelos indivíduos no processo produtivo, ou seja, proprietários ou não dos meios de produção (máquinas, terras, matéria-prima): burguesia e proletariado. Marx identifica 3 elementos no processo de trabalho: a força de trabalho (potencial humano), o objeto de trabalho (aquilo que será modificado pela atividade humana); o meio de trabalho (instrumentos). Nas sociedades capitalistas, o trabalho serve para produzir uma mercadoria com valor de troca. Como essa mercadoria é propriedade do burguês, o excedente (sobra) econômico – lucro – obtido com a venda da mercadoria também fica com ele. ] TRABALHO EM ÉMILE DURKHEIM A divisão do trabalho é um fenômeno social presente em todas as sociedades, das mais simples às complexas. Para Durkheim, o trabalho é fonte de solidariedade social, pois é o que explica a harmonia e a integração entre os indivíduos, ou seja, a coesão social. A intensa ou a fraca especialização da divisão do trabalho gera dois tipos de solidariedade: a mecânica e a orgânica. Solidariedade mecânica: típica das sociedades pré-capitalistas, marcadas pela coesão social provinda das tradições e costumes da comunidade e baixa divisão do trabalho. Solidariedade orgânica: predominante nas sociedades modernas caracterizadas pela grande divisão do trabalho, especialização de funções e diversidade cultural. A interdependência (laços de solidariedade) entre os indivíduos ocorre devido à divisão do trabalho e funções. Durkheim explica as tensões sociais geradas no capitalismo como um problema moral. Se a divisão do trabalho não produz coesão é porque as regras não estão devidamente regulamentadas nas instituições sociais. MAX WEBER E A ÉTICA DO TRABALHO O sociólogo alemão Max Weber propõe uma análise do capitalismo que parte do âmbito cultural em vez do econômico. Para ele, o capitalismo industrial tem seu início na ideologia puritana e calvinista, ou seja, na religião protestante. Ele analisou os seguidores da reformulação da doutrina cristã que ocorreu na Inglaterra, no século XVI. Havia uma presença significativa de protestantes entre os empresários nos países capitalistas industrializados. Weber imaginou que existiria uma relação entre valores protestantes e o início do capitalismo. Ele chama de espírito do capitalismo a associação entre o trabalho e a salvação espiritual. Trabalho como vocação ou predestinação: prática metódica e racional para o desenvolvimento humano. O ócio, a preguiça e o luxo eram considerados pecados para o puritanismo. Weber afirma que na ética protestante, o sucesso do trabalho é o sinal divino de que a pessoa será salva. Nesse caso, os ricos seriam disciplinados e cheios de espírito empreendedor, ao passo que os pobres se deixariam levar pela preguiça, motivo pelo qual não prosperariam. Os frutos do trabalho deveriam ser direcionados à acumulação, não ao consumo supérfluo. CAPITALISMO E CLASSES SOCIAIS Para o capitalismo vigorar e se estabelecer como modo de produção dominante, fez-se necessária uma fase anterior de “acumulação primitiva de capital”. O sociólogo Karl Marx analisa esse processo em “O Capital” ao explicar que, como as relações de produção pré-capitalistas existentes eram predominantemente agrícolas, a única forma de se transformar essas relações em capitalistas era através da apropriação da terra pela burguesia, com a total expulsão dos camponeses que lá viviam. ACUMULAÇÃO PRIMITIVA DE CAPITAL O processo de acumulação de capital se desenvolveu através do financiamento de corsários e piratas, tráfico de escravos, empréstimo de bancos e pagamento de baixos salários aos artesãos e empregados. Assim nasce o capitalismo: as fábricas, terras, matérias-primas, comércio, bancos, máquinas, tudo pertencia aos capitalistas que controlavam o capital com o único objetivo de obter lucro. Dessa forma, houve o nascimento das duas classes antagonistas da sociedade industrial capitalista: a burguesia e o proletariado. CONSOLIDAÇÃO DO CAPITALISMO Com a desagregação do sistema feudal, as bases econômicas e sociais do modo de produção capitalista predominaram e foram estabelecidas. A produção e as relações de trabalho se transformaram com o renascimento comercial, que marcou a transição do feudalismo para o capitalismo. Assim, o advento da Revolução Industrial, a partir do século XVIII, consolidou o sistema capitalista. CAPITALISMO E CLASSES SOCIAIS O que caracteriza o modo de produção capitalista são as relações assalariadas de produção, ou seja, o trabalho assalariado. Essas relações baseiam-se na propriedade privada dos meios de produção pela classe burguesa. A burguesia possui as fábricas, as terras, as ferramentas de trabalho. E os operários detém sua força de trabalho e são obrigados a vendê-la para os proprietários do capital em troca de salário. ESTRUTURA E ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL Por Estrutura social entendemos as relações entre as dimensões econômicas, políticas e culturais de uma determinada sociedade, fatores que definem sua organização. A estratificação social é uma das características da estrutura de uma sociedade, diz respeito a maneira como os grupos são classificados em camadas ou estratos sociais e o modo como ocorre a mobilidade de um nível para o outro. Em nossa sociedade de classes, as relações e estruturas de apropriação econômica e dominação política definem a estratificação social. As classes sociais expressam a forma como as desigualdades se estruturam na sociedade capitalista. MANEIRAS DE PENSAR AS CLASSES SOCIAIS → Posição dos grupos no processo de produção: proprietários e não-proprietários dos meios de produção (burguesia e trabalhadores) como a teoria sociológica de Karl Marx. Capacidade de consumo (Classes alta, média e baixa ou A, B, C, D e E). Entretanto, as sociedades modernas caracterizam-se pelas desigualdades: Na apropriação da riqueza e consumo de bens; na participação nas decisões políticas; Na apropriação de bens simbólicos. HIERARQUIZAÇÃO E MOBILIDADE SOCIAL A desigualdade é constitutiva em nossa sociedade, mas há um discurso segundo o qual todos têm as mesmas oportunidades e que pelo trabalho podem enriquecer. No entanto, a desigualdade é reproduzida incessantemente. Apesar da ênfase pela meritocracia - o ganho em cima do mérito pessoal adquirido pelo esforço e pelo trabalho - há a tendência em manter um meio fechado de pessoas com o poder econômico por meio da herança. DESIGUALDADES SOCIAIS NO BRASIL Desigualdade social é um fenômeno existente quando a sociedade não conta com uma distribuição igualitária de oportunidades e recursos. A distribuição desigual de renda é tão acentuada em alguns países, que apenas uma mínima parcela da população concentra grande parte da renda, enquanto a menor parte da renda é distribuída entre a maior parte da população. As desigualdades sociais no Brasil remontam à colonização portuguesa, no século XVI. Houve genocídio e preconceito contra os povos indígenas que aqui habitavam (e ainda há), e posteriormente, houve a introdução do trabalho escravo negro, que gerou preconceitos e discriminações aos seus descendentes e que ainda estão presentes em nossa sociedade. A partir do século XX, inicia-se o processo de industrialização no país que foi fundamental para a urbanização do país e a formação do proletariado industrial. Esse processo, em muitos lugares, foi acelerado e acabou contribuindo para aprofundar desigualdades. O processo de desenvolvimento do capitalismo no Brasil perpetuou desigualdades sociais, que aparecem na forma de miséria e pobreza crescentes, problemas que têm se mostrado complexos. As estatísticas apontam que o Brasil é um dos países mais desiguais do mundo. Isso se traduz em condições precárias de saúde, habitação, educação e saneamento básico. Em contrapartida, sabe-se que a produção agrícola/ industrial e o setor de comércio têm crescido muito, demonstrando que a sociedade produz riquezas, mas não são distribuídas de modo que beneficiem a todos os brasileiros. As desigualdades de gênero e raça também são fatores marcantes em nossa sociedade. Na questão de gênero, observa-se a recorrência de mulheres que possuem desigualdade de renda em relação aos homens, somando-se ao alto índice de violência doméstica. Na questão das desigualdades sofridas por negros, indígenas e seus descendentes, elas estão expressas no fato de que foram historicamente colocados na condição de mão de obra subalterna, em que houve um processo de privação material e dominação ideológica. DESEMPREGO NO BRASIL → O desemprego é historicamente um grande problema nacional. No setor da indústria, para produzir 1,5 milhão de veículos, as montadoras empregavam 140 mil operários em 1980. Atualmente, para produzir 3 milhões de veículos, as montadoras empregam apenas 90 mil trabalhadores, devido ao processo de modernização e robotização. Mais recentemente, a pandemia da Covid-19 contribuiu para o aumento do desemprego. O desemprego não é uma questão individual, nem apenas culpa do desempregado. Existem fatores estruturais que explicam esse fenômeno como: A política monetária de juros altos. A política fiscal de redução de gastos públicos. Os impactos das crises internacionais. Possibilidades para aumentar o nível de emprego e renda estão na ampliação da presença do Estado nos diversos setores, além de investimentos em obras públicas, habitação e incentivo aos setores industriais. A DISTRIBUIÇÃO DAS RIQUEZAS NO BRASIL → O problema da distribuição das riquezas no Brasil é histórico e estrutural, decorrente de fatores como a herança do sistema escravista e a falta de reformas sociais, econômicas e políticas. A exclusão histórica, ainda hoje, afeta parcela significativa da população empobrecida, compostas de famílias numerosas que vivem a tragédia da fome e do analfabetismo. DESIGUALDADE DE GÊNERO NO MERCADO DE TRABALHO → Conforme levantamento estatístico do IBGE, 54,5% das mulheres com 15 anos ou mais participavam da força de trabalho no país em 2019. A respeito do nível de escolaridade das mulheres, este chega a 19,4% com nível superior, enquanto o índice de homens com essa mesma instrução é de 15,1%. Mesmo com a grande presença das mulheres no mercado de trabalho e o alto grau de instrução delas, a desigualdade de gênero ainda impacta as mulheres em ambientes empresariais. Há 3 fatores que favorecem as assimetrias entre homens e mulheres no espaço do mercado de trabalho: Inferioridade salarial; Poucos cargos de liderança ocupados por mulheres; Trabalhos domésticos e maternidade. DESIGUALDADES ÉTNICO-RACIAIS NO MERCADO DE TRABALHO O sistema econômico no Brasil, até 1888, possuía a mão de obra escravizada como uma de suas bases. Os escravizados eram formados por grupos étnico-raciais, a saber indígenas e negros, considerados “inferiores” pelos colonizadores europeus que exerceram dominação cultural sobre esses agrupamentos sociais. Mesmo após a abolição da escravidão a população negra continuou marginalizada e excluída socialmente. De acordo com os dados do IBGE referentes aos três primeiros trimestres do ano de 2020, o desemprego aumentou mais entre os negros, representando uma taxa de aumento de 2,6% entre os pretos, 1,4% entre os pardos e apenas 0,6% entre os brancos. Além disso, pretos, pardos e indígenas foram os mais prejudicados pela crise provocada pela pandemia do coronavírus em relação ao desemprego, trabalhos informais e sem proteção jurídica (carteira assinada), assim como a baixa remuneração em comparação com a renda dos brancos. TRABALHO, NEOLIBERALISMO E GLOBALIZAÇÃO NEOLIBERALISMO: LIBERDADE ILIMITADA PARA OS MERCADOS E OS LUCROS? → Chamamos de neoliberalismo a ideologia que serve de suporte à expansão da atual globalização capitalista. Esse “novo liberalismo” é caracterizado por alguns elementos inspirados no liberalismo clássico dos séculos XVIII e XIX, tais como: • Maior liberdade de comércio entre as nações. • Redução do aparato do Estado e da sua intervenção na atividade econômica (política orientada para as privatizações de empresas estatais). O QUE É UM MUNDO GLOBALIZADO E NEOLIBERAL? → A palavra globalização tem sido utilizada para definir a imensa interligação comercial e cultural que vem ocorrendo de forma acelerada entre os diversos países do planeta. A globalização é determinada principalmente pela “terceira revolução tecnológica”: processamento, difusão e transmissão de informações e, inclusive, de bilhões de dólares em poucos segundos. Portanto, podemos entender que a globalização se iniciou no começo dos anos 1980, quando a tecnologia de informática associou-se à de telecomunicações. O QUE É GLOBALIZAÇÃO? → Em geral, o termo “global” se refere à nova dinâmica econômica e política do mundo capitalista após os anos 1980, contrapondo-se ao termo “nacional”. Essa questão surge com os debates neoliberais. Muitos se referem à globalização como perda de poder do Estado nacional e do mercado interno, que abre espaço para trocas comerciais e financeiras internacionais e cede poder para instituições internacionais, como empresas e bancos. IMPACTOS DA GLOBALIZAÇÃO → O processo de terceirização é uma realidade estabelecida através de contrato de negócios com uma empresa para prestar serviços que poderiam ser realizados por funcionários internos da empresa. Surgem, então, prestadores de serviços em vários países, que atuam no exterior. Vantagens da terceirização: Redução de custos; serviços de qualidade; acesso a competências especializadas; capacidade de gestão. Desvantagens da terceirização: Barreiras linguísticas; responsabilidade social reduzida; conhecimento da empresa; alta rotatividade de funcionários. Sobre as consequências da globalização, há um consenso entre especialistas de que esse processo acarretou redução de níveis de emprego na indústria, aumento dos níveis de pobreza e redução dos direitos fundamentais e sociais. O aprimoramento tecnológico também é uma característica do mundo globalizado, e as máquinas tendem a substituir o trabalho humano em diversos setores, como o vestuário (exemplo das imagens, de um trabalho artesanal do alfaiate para a indústria têxtil mecanizada). PONTOS POSITIVOS DA GLOBALIZAÇÃO NEOLIBERAL → Entre os efeitos concretos da globalização pode- se citar o aumento geral do comércio e a maior fluidez das transações financeiras. Isso é uma importante consequência da posição liberal, que entendia esses efeitos como necessariamente positivos (soluções para as questões sociais nas leis do mercado – livre a concorrência, maior qualidade e menor preço o que supostamente aumentaria o consumo e qualidade de vida). PONTOS NEGATIVOS DA GLOBALIZAÇÃO NEOLIBERAL → Nos países periféricos da economia capitalista internacional, é facilitada a instalação das corporações multinacionais, que exploram a força de trabalho e os recursos naturais pagando salários cada vez mais baixos. Outros aspectos se revelam em situações extremas, como na exploração do trabalho infantil, no turismo sexual e na destruição do meio ambiente. NEOLIBERALISMO E ESTADO As primeiras características do neoliberalismo foram políticas de governos capitalistas conservadores, que objetivavam resolver a crise econômica mundial dos anos 1970, agravada pela alta dos preços do petróleo, provocada pelos constantes conflitos no Oriente Médio, entre Israel e os países árabes. Essas políticas de redução de custos, desregulação da economia, diminuição ou até eliminação dos obstáculos à livre-concorrência se opunham ao Estado de Bem-estar Social, como eram caracterizados muitos dos países da Europa Ocidental de até então. IMPACTOS DAS TECNOLOGIAS NO MUNDO DO TRABALHO Desde o princípio da humanidade, os seres humanos elaboram e utilizam técnicas, bem como desenvolvem um “saber fazer” como modo de garantir a sobrevivência. A origem do termo tecnologia vem da junção de técnica, do grego techné que significa “saber fazer”, e de logia do grego logus “campo de estudo”. Em resumo, a tecnologia é o conhecimento que faz aplicação prática da ciência. Assim sendo, tecnologia e ciência são resultados do trabalho humano, transformam o mundo, mas também geram conflitos e dilemas. De fato, a partir do século XX, notamos o fenômeno do uso da ciência de forma instrumental, como assinala o filósofo Jürgen Habermas. A Terceira Revolução Industrial (ou Revolução Tecnológica), ocorrida a partir de 1970, por exemplo, automatizou o trabalho, introduziu a informática e a robótica, desenvolvendo a capacidade de acumular, armazenar, processar e distribuir informações. Dessa forma, nos últimos séculos o capitalismo utilizou a ciência para deslanchar setores da economia. CONTEXTUALIZANDO A QUESTÃO DO TRABALHO Nas últimas décadas do século XX, ocorreram grandes mudanças na economia mundial, sobretudo com as reestruturações produtivas iniciadas no Japão nas décadas de 1950 e nas décadas de 1970 nos Estados Unidos e Europa Ocidental. A reestruturação produtiva denomina-se como reorganização da produção fundamentada na inovação de equipamentos, flexibilidade de tempo e mão de obra, redução de custos e controle da qualidade. CONSEQUÊNCIAS DA REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA Os efeitos dessa reestruturação produtiva mundial, que teve por base a substituição intensa de trabalho por novas tecnologias produtivas, principalmente robótica, informática e microeletrônica, foram percebidos no Brasil desde a década de 1990 até os dias de hoje, como os ajustes nas relações trabalhistas e alterações nas relações de trabalho. David Harvey, geógrafo britânico, argumenta que nas condições da produção capitalista, a socialização do trabalhador inclui controle social global de suas capacidades físicas e mentais, dentro e fora do ambiente de trabalho, para a acumulação do capital. TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO Ao complexo de alterações da reestruturação produtiva adiciona-se os progressos da informatização e automatização devido a invenção e disseminação de computadores e da internet. A revolução microeletrônica gerou a informatização do controle da produção, agilidade da comunicação, compras e fluxos financeiros, bem como gestão planejada. A informatização do trabalho transformou as atividades cotidianas, fazendo com que um mesmo funcionário concentre mais tarefas. PONTOS POSITIVOS DA TECNOLOGIA NO TRABALHO → Aumento da produtividade e dos lucros das empresas, em menos tempo e com pouca mão de obra; As máquinas realizam muitas tarefas ao mesmo tempo; No setor da agricultura, permite o cultivo em extensas áreas, favorecendo a competição; Informatização do controle da produção e do trabalho; Agilidade na comunicação e relações financeiras. PONTOS NEGATIVOS DA TECNOLOGIA NO TRABALHO → São muitos desafios enfrentados pelos trabalhadores diante do avanço tecnológico como: Desemprego em indústrias, serviços e na agricultura devido ao processo de mecanização e robotização do produção; Desvalorização da mão de obra dos trabalhadores; Aumento de trabalhos informais, ou seja, sem carteira assinada e sem direitos trabalhistas garantidos; Precarização do trabalho e controle social. JUVENTUDES NO MERCADO DE TRABALHO E TRABALHO INFANTIL De acordo com o Atlas das Juventudes de 2021: • O Brasil possui cerca de 50 milhões de jovens, representando quase 1/4 de toda nossa população; • Os jovens brasileiros são pouco representados nas classes A e B; • A distribuição de jovens entre os sexos feminino e masculino é equilibrada; • Há predominância de jovens negros no Brasil, contabilizando 51% de pardos e 10% de pretos, porém as condições de vida desse grupo são mais vulneráveis e submetidas ao racismo estrutural. • Apesar de ser composto por mais de 47,2 milhões de jovens, que representam quase ⅓ da população economicamente ativa, o Brasil possui, de acordo com o IBGE, mais de 27,1 milhões de jovens desocupados. Na prática, isso significa que mais de 54% dos jovens que buscam oportunidade de trabalho não o estão encontrando. • Entre os jovens negros, por exemplo, o número é quase o dobro de jovens brancos, e 65% daqueles que não estudam e não concluíram o ensino superior são negros, segundo o IBGE. O QUE É TRABALHO INFANTIL? Trabalho infantil é caracterizado por qualquer atividade laboral desempenhada por crianças e adolescentes abaixo da idade mínima permitida, conforme as leis de cada país. No Brasil, o trabalho é proibido para menores de 16 anos, como regra geral. Contudo, a partir dos 14 anos, os adolescentes podem ocupar a condição de aprendiz. Dentre as causas do trabalho infantil podemos elencar a questão da pobreza, qualidade da educação e questões culturais da sociedade brasileira. Dentre as consequências do trabalho infantil podemos listar a privação da infância e da educação, impactos físicos, psicológicos e econômicos, além da perpetuação do ciclo da pobreza, repetido de geração a geração. De acordo com o Plano Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil e Proteção ao Adolescente Trabalhador, o trabalho infantil é uma questão social presente em toda a história do Brasil. Entre os séculos XVI e XIX, crianças de origem indígena e africana também foram forçadas à escravidão, bem como suas famílias. CENÁRIOS DO TRABALHO NO BRASIL Nas últimas décadas, ocorreram grandes mudanças na economia mundial, sobretudo com as reestruturações produtivas iniciadas no Japão nas décadas de 1950 e nas décadas de 1970 nos EUA e Europa ocidental. As consequências dessa reestruturação produtiva mundial, que teve por base a substituição intensa de trabalho por novas tecnologias produtivas, principalmente robótica e microeletrônica, foram percebidas no Brasil desde a década de 1990. A incorporação dessa base tecnológica foi impulsionada pelo avanço do neoliberalismo nos governos Fernando Collor (1990 a 1992) e Fernando Henrique Cardoso (1995 a 2002), que promoveram a abertura econômica, a privatização de empresas estatais e a desregulamentação de leis de proteção aos trabalhadores. CONSEQUÊNCIAS DE POLÍTICAS NEOLIBERAIS • Aumento do desemprego formal e, em razão disso, o aumento do trabalho informal; • Reduções salariais significativas; • Precarização do trabalho; • Enfraquecimento político da classe trabalhadora. PARTICULARIDADES DA REALIDADE BRASILEIRA As leis de proteção aos trabalhadores foram instituídas na Europa e Estados Unidos com o Estado de bem-estar social. No Brasil a história é um pouco distinta, pois esses direitos foram garantidos posteriormente. O nosso país é marcado por um passado de desigualdades, com a escravidão e depois com as formas desiguais de inclusão dos negros na sociedade de classes, e de separação acentuada entre ricos e pobres, fatores que influenciaram a forma como a reestruturação produtiva se efetivou aqui. A reestruturação produtiva, a liberalização financeira e a abertura comercial aprofundaram uma condição de precariedade que a classe trabalhadora brasileira já vivenciava desde sua formação, no início do século XX e se expressa ainda hoje. CARACTERÍSTICAS DO TRABALHO NO BRASIL Podemos destacar a desregulamentação das leis de proteção aos trabalhadores e a terceirização, que se fundamenta no princípio da empresa enxuta. Por meio da terceirização, as empresas transferem a outras a responsabilidade de partes da produção que não consideram estratégicas. DESREGULAMENTAÇÃO DE LEIS TRABALHISTAS NO BRASIL Trata-se de uma “flexibilização” das negociações salariais, de jornada de trabalho (com o banco de horas), e das formas de contratação (como a contratação por tempo parcial). Isso favoreceu a subcontratação, muito presente nas empresas terceirizadas, nas quais os direitos trabalhistas foram drasticamente reduzidos. Portanto, a degradação das condições de trabalho e a intensificação de problemas de saúde do trabalhador são aspectos evidentes em nossa sociedade atual. TRABALHO NO BRASIL A superexploração do trabalho ocorre pela extensão da jornada, pela aceleração no ritmo da produção, com imposição de metas e acúmulo de funções. O trabalho no Brasil também diz respeito às taxas de desemprego. Considerando as duas taxas, o Brasil possui 29,7% de subutilização da força de trabalho. Contudo, vamos observar os pontos positivos das transformações do trabalho no país. Algumas categorias profissionais ampliaram seus direitos. Em nosso país, podemos mencionar a criação do piso salarial nacional para os docentes e o incentivo à formalização de trabalhadores autônomos pela categoria MEI (Microempreendedor Individual), o que garantiu acesso a benefícios trabalhistas como aposentadoria e auxílio-doença. A regulamentação do trabalho doméstico em 2015 também é considerada um avanço dos direitos como FGTS, salário-família, adicional noturno, seguro-desemprego, etc. A demanda por profissionais cada vez mais especializados também é uma realidade, por conta do aumento do mercado interno, seus produtos e serviços. Além disso, nos últimos tempos, sobretudo devido à pandemia, o trabalho remoto ganhou destaque pela flexibilidade no desenvolvimento das tarefas, comodidade e conforto ao trabalhador.