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UNIVERSIDADE PAULISTA – UNIP

Instituto de Ciências da Saúde – ICS


Curso de Farmácia

FAYLA LOUISE LUCENA PASIANI BARTOLOMEU

ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA

ARAÇATUBA – SP
2022
UNIVERSIDADE PAULISTA
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Trabalho de conclusão de curso


apresentado como requisito parcial para a
obtenção do título de Pedagogia.
Universidade Paulista – Araçatuba – SP
Orientação:

ARAÇATUBA – SP
2022
2
DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho, a toda minha família e


amigos.
Meus incentivadores e que me
proporcionaram apoio a todas as formações em que
me propus a realizar.

3
AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por iluminar e guiar meus


caminhos.
Aos meus familiares pelo incentivo, apoio e
compreensão nos momentos em que necessitei
estar ausente ou estudando.

4
EPÍGRAFE

Ninguém pode ser autenticamente humano,


enquanto impede outros de serem também.

(PAULOFREI
RE)

Pedagogia do oprimido- 1974


5
RESUMO

No presente trabalho, iremos relatar a importância da Assistência Farmacêutica, que


é o conjunto de ações voltadas à promoção, proteção e recuperação da saúde, tanto
individual quanto coletiva, tendo o medicamento como insumo essencial e visando o
acesso ao seu uso racional. O objetivo principal do farmacêutico é colaborar com a
qualidade da assistência prestada ao paciente, o foco da assistência farmacêutica
deve estar no paciente, utilizando-se do medicamento como instrumento. O
farmacêutico é um profissional da área da saúde com formação multidisciplinar, que
atua de diferentes maneiras para a promoção da saúde. Devido aos seus
conhecimentos técnicos e científicos, o farmacêutico tem grande habilidade em
resolver e atender problemas relacionados aos medicamentos, propiciando seu uso
correto e racional. O farmacêutico integra as equipes multidisciplinares de saúde e
auxilia na construção e na orientação do tratamento terapêutico do paciente. O
farmacêutico tem atuado cada vez mais junto ao paciente e à equipe multidisciplinar
de saúde. Os conhecimentos do farmacêutico a respeito dos fármacos e
medicamentos contribuem para o maior sucesso da farmacoterapia indicada ao
paciente e reduzem os riscos relacionados ao uso dos medicamentos. Em vários
países do mundo, a Farmácia Clínica tem tido avanços significativos e tem sido a
maior área de atuação do farmacêutico.

Palavras chave: Assistência Farmacêutica, Paciente, Cuidados.

6
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...........................................................................................................9

1...................................................................................................................................10
1.1................................................................................................................................13
1.2................................................................................................................................16
1.3................................................................................................................................18

2...................................................................................................................................19
2.1................................................................................................................................23

3...................................................................................................................................29

4.......................................................................................................................................
4.1....................................................................................................................................

CONCLUSÃO..................................................................................................................
REFERÊNCIAS...............................................................................................................

7
INTRODUÇÃO

O projeto tem como intuito abordar os princípios e diretrizes do SUS em


relação à Assistência Farmacêutica e como ela pode prover os cuidados básicos dos
pacientes. O acesso a medicamentos essenciais é considerado uma importante
ferramenta de política pública para melhorar a qualidade de vida das populações, e
o uso apropriado desses medicamentos é um dos componentes mais importantes
para o sucesso de um tratamento. O acesso aos medicamentos exige articulações
de um conjunto de setores dentro do sistema de saúde, além de ações
governamentais mais amplas, como a promoção de pesquisas, o desenvolvimento
de fármacos e a regulação sanitária e econômica do mercado. No Brasil, esse
conjunto de ações e serviços foi chamado de Assistência.
A área de fármacos e medicamentos representa a principal atuação do
profissional farmacêutico, sendo que, no Brasil, ele tem responsabilidade técnica
amparada por lei. O farmacêutico é responsável técnico por drogarias, indústrias
farmacêuticas e farmácias, incluindo farmácias magistrais, hospitalares e clínicas,
homeopáticas, entre outras. Cabe ao farmacêutico realizar a dispensação e a
produção de medicamentos, prestar informações e promover o uso adequado dos
medicamentos. A atuação clínica dos farmacêuticos tem sido bastante valorizada
pela comunidade e pelos órgãos de saúde e governamentais.
Essa prática, chamada farmácia clínica, envolve o serviço de atenção
farma-cêutica. Nesse serviço, o farmacêutico interage diretamente com as equipes
multidisciplinares de saúde e com o paciente, visando a obtenção do sucesso da
farmacoterapia, a promoção e a recuperação da saúde. O farmacêutico pode
realizar consultas farmacêuticas, para conhecer o paciente e seu histórico
terapêutico. Nas consultas, o farmacêutico realiza a revisão do receituário, faz
intervenções farmacêuticas e prescreve medicamentos, se necessário. Na
prescrição farmacêutica, o profissional pode incluir medicamentos de venda livre ao
tratamento do indivíduo. A atenção farmacêutica está inserida no conceito de
assistência farmacêutica. A assistência farmacêutica é uma prá-tica que aborda
desde a seleção e aquisição de medicamentos até a chegada deles ao paciente e
8
seu monitoramento. Essa atividade é requerida em vários serviços de saúde, por
exemplo, nos hospitais. Nesses locais, o farmacêutico participa ativamente da
seleção e programação de medicamentos, do seu armazenamento, distribuição,
dispensação e farmacovigilância. Por meio de todas essas ações, os farmacêuticos
contribuem para a melhora da qualidade de vida do indivíduo e da sociedade.

CAPÍTULO I – O FARMACÊUTICO NO BRASIL

Os farmacêuticos no Brasil, denominados boticários antigamente,


surgiram no período colonial. O primeiro boticário do Brasil foi o português Diogo de
Castro. Ele foi trazido para o país pelo governador geral Thomé de Souza em 1549.
Antes disso, as pessoas que aqui habitavam, só tinham contato com os
medicamentos quando imigrações portuguesas, francesas ou espanholas aportavam
no país e traziam consigo algum tripulante com uma botica, con-tendo drogas e
medicamentos. “Botica” era o nome dado a caixas de madeiras, que continham
drogas e medicamentos. As boticas podiam ser transportadas facilmente de um local
para o outro, sendo carregadas pelos boticários ou transportadas em animais.
Também no período colonial, jesuítas portugueses trazidos para o Brasil com a
finalidade de catequização, instituíram enfermarias e boticas em seus colégios.
Nessas organizações, um jesuíta era responsável por cuidar dos doentes,
e outro por preparar os medicamentos necessários. Sob a direção dos padres
jesuítas, estados, como Bahia, Recife, Maranhão, Rio de Janeiro e São Paulo,
tiveram importantes boticas. Em 1640, as boticas no Brasil foram autorizadas a
funcionar como comér-cio. Segundo as ordenações do Reino de Portugal, as boticas
deveriam ser dirigidas por boticários, que eram os responsáveis por realizar a
distribuição de drogas. Para que o indivíduo se tornasse um boticário, ele deveria
obter a “carta de aprovação” de Coimbra. Na época, muitos boticários eram profis-
sionais empíricos, que possuíam apenas conhecimentos corriqueiros sobre os
medicamentos. Somente em 1857, as boticas passaram a ser denominadas
farmácias. Nesse
9
ano, foram estabelecidas as condições para que os farmacêuticos pudessem ter
suas farmácias no país. Durante os tempos do Brasil colônia, o aprendizado como
farmacêutico
era dado na prática. Os boticários, após adquirirem experiência nas boticas, eram
submetidos a exames, aplicados pelos “comissários do físico-mor do Reino”. Em
1808, a família real portuguesa veio para o Brasil. Com isso, várias mudanças em
relação à política, economia, cultura e educação aconteceram. Neste ano, , foi
instituído o Curso Médico no Hospital Militar da Bahia, onde era ensinada a matéria
médica e farmacêutica. O primeiro curso farmacêutico do país foi criado apenas em
1832 por Dom
Pedro II. Porém, esse curso era ainda vinculado à faculdade de medicina. A partir
desse ano, ficou estabelecido no país que somente poderia “curar, partejar ou ter
uma botica” quem tivesse o título ou fosse aprovado pelas faculdades de medicina
do Rio de Janeiro ou da Bahia. Em 1839, duas escolas de farmácia foram fundadas,
uma em Ouro Preto e outra em São João Del Rei. Essas escolas eram dedicadas ao
ensino da farmácia e da matéria médica. A definição da profissão farmacêutica no
Brasil ocorreu no ano de 1931. Nesse ano, foi publicado o decreto no
19.606, que aprovou a regulamentação
do exercício da profissão farmacêutica no país. Esse decreto definiu que a profissão
farmacêutica, a partir de então, poderia ser exercida apenas por far-macêuticos
diplomados por institutos de ensino oficiais e também determinou o que
compreendia o exercício da profissão. Esse decreto foi revogado pela Lei no
5.991/73, que regulamentou o controle sanitário e comércio de drogas,
medicamentos, insumos farmacêuticos e correlatos. Com a publicação do Decreto
85.878, em 1981, um grande marco para a
profissão farmacêutica ocorreu no Brasil. Esse decreto estabeleceu as normas para
o exercício do farmacêutico no país. Ele definiu as atribuições privativas e exclusivas
do farmacêutico e também quais as atribuições poderiam ser realizadas por outros
profissionais. (BRASIL, 1981).

10
1.1 – O farmacêutico nos dias atuais

Ao longo dos anos, a profissão farmacêutica tem se fortalecido e ocupado


seu espaço dentro da área da saúde e da sociedade. Os farmacêuticos estão
inseridos nas indústrias farmacêuticas e químicas, elaboram novos fármacos e
formas farmacêuticas, participam da vigilância em saúde; controle de quali-dade de
medicamentos; análises clínicas e toxicológicas; pesquisas; gestão de resíduos;
assistência farmacêutica e de diversas outras atividades. No Brasil, o farmacêutico é
enquadrado em 78 áreas de atuação. O farmacêutico tem importante papel dentro
da área da saúde. Ele é o
profissional conhecedor dos medicamentos e fármacos e está habilitado a resolver
problemas relacionados aos mesmos. Em função disso, a profissão farmacêutica
tem ganhado cada vez mais espaço dentro da área clínica. Atu-almente, a “Farmácia
Clínica” tem representado uma grande área de atuação farmacêutica. O
farmacêutico tem participado diretamente das equipes de saúde, auxiliando na
escolha dos medicamentos a serem utilizados pelos pacientes. Além disso, ele tem
tido cada vez mais contato com os pacientes. No Brasil, as farmácias são
reconhecidas como estabelecimentos de saúde e
somente podem “funcionar” na presença de um farmacêutico. O farmacêutico, por
sua vez, tem, entre suas inúmeras funções, o papel de agente da saúde. Esse
profissional também atua clinicamente e é responsável pelo tratamento e saúde do
paciente. Hoje o farmacêutico atende, conhece o paciente, separa e confere seus
medicamentos e o que precisa, presta informações, identifica possíveis problemas
relacionados a tais medicamentos, realiza prescrições e intervenções farmacêuticas.
Essas práticas farmacêuticas têm sido muito valorizadas por órgãos de
saúdes nacionais e federais pois contribuem para a maior eficácia dos trata-mentos
farmacoterapêuticos.

11
1.2 POLÍTICA NACIONAL DE ASSITÊNCIA FARMACÊUTICA
Desde a criação da Central de Medicamentos (CEME), a política de
acesso aos medicamentos vem aprimorando-se e estabelecendo consonância com
as demais políticas públicas de saúde, sempre alinhadas ao cenário de redemocra-
tização do pais. Um marco importante na linha do tempo de avanço ao acesso de
medicamentos foi a criação da lista de medicamentos essenciais em 1975. A
Relação Nacional de Medicamentos (RENAME) precedeu a lista modelo de
medicamentos da Organização Mundial de Saúde (OMS), em 1977, seguida pela
implantação do Programa Farmácia Básica, em 1987. Com a implantação do SUS, a
CEME, que foi a precursora da Assistência Farmacêutica atual, foi diluída e
substituída pela Política Nacional de Medicamentos, publicada em 1998 (BRASIL,
2018). Após a PNM, outro marco importante para a consolidação da qualidade
dos medicamentos e insumos foi a criação da Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa), em 1999, precedida pela Lei dos Genéricos, no mesmo ano. Em
2002, houve a criação do Departamento de Assistência Farmacêu-tica (DAF),
seguido pela publicação da Política Nacional de Medicamentos, criação do
Programa Farmácia Popular e da Política Nacional de Assistência Farmacêutica
(PNAF) (BRASIL, 2018). A Assistência Farmacêutica, enquanto política pública, foi
construída
num contexto de mudanças, e a 1a Conferência Nacional de Assistência
Farmacêutica, realizada em 2003, trouxe, como eixo gerador de debates, temas
como humanização, acesso e qualidade. Como resultado dessas deliberações, em
2004, foi instituída e regulamentada a Política Nacional de Assistência Farmacêutica
(PNAF), por meio da Resolução CNS no. 338/2004, que demarcou a Assistência
Farmacêutica como política de saúde, sendo definida, nesse documento, como um
conjunto de ações voltadas à promoção, à proteção e à recuperação da saúde, tanto
individual quanto coletiva, tendo o medicamento como insumo essencial e visando o
acesso e o seu uso racional (BRASIL, 2018). A Política Nacional de Medicamentos
tem a reorientação da Assistência Farmacêutica como a diretriz mais importante
para o cumprimento dos objetivos aos quais ela se destina. Segundo Marin et al.

12
(2003, p. 2):

A Assistência Farmacêutica compreende um conjunto de


atividades que envolvem o medicamento e que devem ser realizadas de
forma sistêmica, ou seja, articuladas e sincronizadas, tendo, como
beneficiário maior, o paciente. É o resultado da combinação de estrutura,
pessoas e tecnologias para o desenvolvimento dos serviços em um
determinado contexto social. Dessa forma, necessita de uma organização
de trabalho que amplie sua complexidade, de acordo com o nível de
aperfeiçoamento das atividades e da qualidade impressa nos serviços
realizados.
A Assistência Farmacêutica enquanto política pública de saúde está sub-
dividida em três blocos de financiamentos estabelecidos pela Portaria GM/ MS no.
204/2007. O primeiro bloco é destinado ao Componente Básico e trata da aquisição
de medicamentos e insumos, sendo regulado pela Portaria no. 1.555/2013; no
Componente Estratégico, os medicamentos e insumos são ad-quiridos pelo
Ministério da Saúde e utilizados em doenças de perfil endêmico, regulado e
normatizado por políticas específicas. O último, o Componente Especializado, tem
por finalidade garantir o acesso a medicamentos em nível ambulatorial (BRASIL,
2013). A importância da Política Nacional de Assistência Farmacêutica (PNAF) para
o acesso aos medicamentos está na resolução dos problemas de saúde e no
impacto positivo na qualidade de vida da população. Na Resolução no. 338/2004,
artigo 1o, parágrafos III e IV, temos a descrição das ações em AF:

III - a Assistência Farmacêutica trata de um conjunto de ações


voltadas à promoção, proteção e recuperação da saúde, tanto individual
como coletivo, tendo o medicamento como insumo essencial e visando o
acesso e ao seu uso racional. Este conjunto envolve a pesquisa, o
desenvolvimento e a produção de medicamentos e insumos, bem como a
sua seleção, programação, aquisição, distribuição, dispensação, garantia da
qualidade dos produtos e serviços, acompanhamento e avaliação de sua
utilização, na perspectiva da obtenção de resultados concretos e da
melhoria da qualidade de vida da população;
IV - as ações de Assistência Farmacêutica envolvem aquelas
referentes à Atenção Farmacêutica, considerada como um modelo de
prática farmacêutica, desenvolvida no contexto da Assistência Farmacêutica
e compreendendo atitudes, valores éticos, comportamentos, habilidades,
compromissos e coresponsabilidades na prevenção de doenças, promoção
e recuperação da saúde, de forma integrada à equipe de saúde. É a
interação direta do farmacêutico com o usuário, visando uma farmacoterapia
racional e a obtenção de resultados definidos e mensuráveis, voltados para
a melhoria da qualidade de vida. Esta interação também deve envolver as
concepções dos seus sujeitos, respeitadas as suas especificidades bio-
psicosociais, sob a ótica da integralidade das ações de saúde (BRASIL,

13
2004, documento on-line).

1.3 ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA NO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE


Existem, no Brasil, políticas públicas específicas, que atribuem ao profis-
sional farmacêutico o exercício de atividades de natureza clínica — como a Política
Nacional de Assistência Farmacêutica (PNAF), que define Assistência Farmacêutica
como um conjunto de ações praticadas pelo profissional farma-cêutico para que
ocorra a interação direta do farmacêutico com o usuário. O objetivo é proporcionar
uma farmacoterapia racional e a obtenção de resultados clínicos definidos e
mensuráveis. Entende-se essa prática como importante para garantir a integralidade
do tratamento. Entretanto, ainda observam-se lacunas em relação às informações
sobre o desempenho dessas atividades na atenção primária no SUS. Com isso, em
2013, foi publicada a Resolução do CFF no. 578, elaborada após um amplo debate
promovido entre o Grupo de Trabalho (GT) de Saúde Pública do Conselho Federal
de Farmácia (CFF), o Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde, o
Conselho Nacional de Secretários de Saúde e o Ministério da Saúde (por meio do
Departamento de Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos) a respeito das
atribuições do farmacêutico na gestão da Assistência Farmacêutica no SUS. Essa
resolução aponta as diretrizes para o papel relevante do farmacêutico
na política de saúde nos diversos níveis de atenção, definindo como atribuições do
profissional:
 participar na formulação de políticas e no planejamento das ações, em
consonância com a política de saúde de sua esfera de atuação e com o controle
social;

 participar da elaboração do plano de saúde e demais instrumentos de


gestão em sua esfera de atuação;
 utilizar ferramentas de controle, monitoramento e avaliação que
pos-sibilitem o acompanhamento do plano de saúde e subsidiem a tomada de
decisão em sua esfera de atuação;
 participar do processo de seleção de medicamentos;  elaborar a programação
da aquisição de medicamentos em sua esfera de gestão;

14
 assessorar na elaboração do edital de aquisição de medicamentos e de outros
produtos para a saúde, bem como nas demais etapas do processo;
 participar dos processos de valorização, formação e capacitação dos profissionais
de saúde que atuam na Assistência Farmacêutica;
 avaliar, de forma permanente, as condições existentes para o armaze-namento, a
distribuição e a dispensação de medicamentos, realizando os encaminhamentos
necessários para atender à legislação sanitária vigente;
 desenvolver ações para a promoção do uso racional de medicamentos; 
participar das atividades relacionadas ao gerenciamento de resíduos dos serviços de
saúde, conforme legislação sanitária vigente;
 promover a inserção da Assistência Farmacêutica nas Redes de Atenção à Saúde
(RAS) e nos serviços farmacêuticos.
Com essa resolução, o profissional farmacêutico assume um papel de
grande importância e de liderança, sendo corresponsável pela qualificação das
equipes, dos serviços e do controle social da saúde.
Com o objetivo de contribuir para a melhoria da qualidade de vida da
população, integrando ações de promoção, prevenção, recuperação da saúde, a
Assistência Farmacêutica (AF) possui diversas atividades, listadas a seguir:
 Planejar, coordenar, executar, acompanhar e avaliar as ações que tratam dos
medicamentos como itens essenciais à saúde.
 Articular a integração entre os serviços, profissionais de saúde, áreas interfaces e
coordenação dos programas.
 Elaborar normas e procedimentos técnicos e administrativos.  Elaborar
instrumentos de controle e avaliação.  Selecionar e estimar a necessidade de
medicamentos.  Gerenciar o processo de aquisição de medicamentos.  Garantir
condições adequadas para o armazenamento de medicamentos.  Gerir estoques.
 Distribuir e dispensar medicamentos.  Manter cadastro atualizado de usuários,
unidades e profissionais de saúde.  Organizar e estruturar os serviços de AF nos
três níveis de atenção à saúde em âmbito local e regional.
 Desenvolver sistemas de informação e comunicação.  Desenvolver e capacitar
recursos humanos.  Participar de comissões técnicas.  Promover o uso racional
de medicamentos.  Promover ações educativas para prescritores, usuários de
15
medicamentos, gestores e profissionais da saúde.
 Desenvolver estudos e pesquisa em serviço.  Elaborar material técnico,
informativo e educativo.  Prestar cooperação técnica.  Assegurar qualidade de
produtos, processos e resultados.
Considerando essas informações, podemos perceber a necessidade de in-
tersetorialidade e interdisciplinaridade para o desenvolvimento das ações que
compreendem a AF, de modo a beneficiar o sistema de saúde e, principalmente, o
ser humano ao qual se destinam tais práticas. Para isso, o modelo de AF im-
plantado no SUS fundamenta-se em:
 descentralização da gestão;
 promoção do uso racional de medicamentos;  otimização e
eficácia das atividades;  desenvolvimento de iniciativas que possibilitem a redução
de preços de produtos, viabilizando o acesso da população, inclusive no âmbito
privado.

1.3 O CUIDADO FARMACÊUTICO

Na grande maioria das vezes o farmacêutico da farmácia comunitária,


hospitalar ou de serviços de saúde tem uma gama enorme de tarefas burocráticas
que o afastam do paciente e, assim como ocorreu em outros países, o farmacêutico
brasileiro precisa gerenciar melhor seu tempo, diminuindo as tarefas administrativas
e aumentando as atividades clínicas.
Para isso acontecer, é necessário saber delegar serviços aos
colaboradores diretos e informatizar processos de rotina. Portanto, o farmacêutico
deve mudar sua postura e enxergar o paciente como foco de seu trabalho.

Existem muitas situações, principalmente em hospitais, em que o


farmacêutico exerce cargos de gerência e é responsável pela compra, planejamento,
armazenamento de insumos, comissões e escalas de trabalho, entre outras tarefas.
Nessas situações, o farmacêutico deve buscar a contratação de outros

16
farmacêuticos para trabalharem na área da atenção farmacêutica, pois ninguém
consegue desenvolver perfeitamente as duas atividades concomitantemente.

Como isso nem sempre é possível, o farmacêutico se sente frustrado por


não conseguir direcionar suas atividades; porém, pode-se traçar um plano de médio
prazo para que isso se concretize. Não adianta o farmacêutico ter um
direcionamento clínico se a instituição na qual ele trabalha ainda não enxergou os
benefícios dessa prática. Por isso, ele deve convencer as pessoas que têm o poder
em sua organização de que realmente vale a pena investir na atenção farmacêutica.

Também é importante para o farmacêutico brasileiro sentir-se apto a


desenvolver a atenção farmacêutica, o que exige o desenvolvimento de seus
conhecimentos, habilidades e atitudes.

DESENVOLVENDO HABILIDADES, CONHECIMENTOS E ATITUDES


O cuidado ao paciente requer a integração de conhecimentos e
habilidades, conforme a seguinte lista:

Conhecimento de doenças.
Conhecimentos de farmacoterapia.
Conhecimentos de terapia não medicamentosa.
Conhecimento de análises clínicas.
Habilidades de comunicação.
Habilidades em monitoração de pacientes.
Habilidades em avaliação física.
Habilidades em informação sobre medicamentos.
Habilidades em planejamento terapêutico.
Áreas de atuação do cuidado farmacêutico:

Assistência ambulatorial.
Farmácia comunitária.
Farmácia hospitalar.
17
Tratamento intensivo (UTI).
Geriatria.
Medicina interna e subespecialidades (cardiologia, endocrinologia,
gastroenterologia, doenças infecciosas, neurologia, nefrologia, ginecologia e
obstetrícia, doenças pulmonares, psiquiatria e reumatologia).
Farmácia nuclear.
Nutrição.
Pediatria.
Farmacocinética.
Cirurgia.
Radiofarmácia.
Vacinação.
Saúde estética.
Nutracêutica clínica.
Farmácia esportiva.
Saúde pública.
O cuidado farmacêutico pode ser desenvolvido pelo farmacêutico em
pacientes internados, ambulatoriais, tratados na residência, atendidos em farmácia
pública, consultórios farmacêuticos e clínicas especializadas.

CAPÍTULO II – ATENÇÃO FARMACÊUTICA E A PRESTAÇÃO DE


SERVIÇOS FARMACÊUTICOS CLÍNICOS

O termo atenção farmacêutica procura estabelecer um paralelo com a


“aten- ção médica” e os “cuidados de enfermagem”. Essas três profissões
apresentam bases de conhecimento e responsabilidades diferen- tes, resultando em
distintos focos de atua- ção no processo de uso de medicamentos .
Historicamente, os papéis do médico, do enfermeiro e do farmacêutico
têm sido complementares, sendo o médico o prescritor, o farmacêutico o
dispensador, e o enfermeiro o responsável pela adminis- tração dos medicamentos.
A evolução dos conhecimentos em farmacologia e a tecno- logia diagnóstica e
terapêutica, aliadas ao crescimento exponencial do arsenal farma-
18
A prática focada no paciente baseia-se no fato de o farmacêutico colocar
como centro do seu trabalho o cuidado ao paciente, deixando de lado todas as
outras funções (manipulação, logística e administração, entre outras) que podem ser
delegadas a outros farmacêuticos com foco em gestão. Muitos hospitais têm
alterado seus organogramas possuindo divisões de logística farmacêutica e de
farmácia clínica, inclusive subordinadas a diretorias diferentes. Além da dispensação
de medicamentos, o farmacêutico deve conferir todas as prescrições que chegam
até ele e, utilizando os conhecimentos farmacoterapêuticos e relativos às reações
adversas a medicamentos, dados farmacocinéticos e perfil farmacoterapêutico do
paciente, deve buscar o melhor para este. Eventuais intervenções propostas aos
pacientes ou aos prescritores devem ser anotadas em fichas próprias ou arquivos
digitais (inclusive os que ficam na nuvem no ambiente da internet).Os distúrbios de
aprendizagem estariam associados a um funcionamento alterado e especifico do
sistema nervoso central, levando o aluno a apresentar um déficit em algumas
habilidades do processamento da linguagem oral (fonologia, morfologia, semântica,
sintaxe, pragmática), da leitura (habilidade no uso das coterapêutico e da
morbimortalidade rela- cionada aos medicamentos, entretanto, têm exigido mais
desses profissionais. No caso da farmácia, a atenção farmacêutica repre- senta essa
evolução e a ampliação do mode- lo tradicional de dispensação. Além disso, tanto a
enfermagem como a farmácia têm requerido direitos sobre a prescrição de me-
dicamentos, particularmente aqueles isen- tos de prescrição médica. A medicina, por
sua vez, tem investido em uma prática base- ada em evidências, reaproximando-se
da medicina geral e de família.
O desenvolvimento da prática da aten- ção farmacêutica coincide também com a
evolução do conceito de “controle sobre o uso dos medicamentos”. Esse termo se
refe- re ao fato, apontado por vários autores, de que a maior parte da morbidade e
da mor- talidade relacionadas com os medicamen- tos nasce de falhas ocorridas
durante o pro- cesso de uso, seja na prescrição, na distri- buição, na dispensação,
na utilização e, principalmente, no seguimento de seus efeitos nos pacientes.

19
A atenção farmacêutica pode ser con- siderada também como um elo
entre a far- mácia clínica e a farmácia social e como a fi- losofia na qual a farmácia
clínica pode ser baseada, relacionada aos aspectos éticos e morais que envolvem o
relacionamento en- tre farmacêuticos e pacientes.6 A farmácia clínica é uma ciência
em que algumas disci- plinas acadêmicas podem ser explicitamen- te citadas,
focadas sobretudo no processo de uso dos medicamentos. A atenção farma-
cêutica, entretanto, não traz consigo um elenco de disciplinas, tampouco se apresen
ta como uma ciência, mas insistentemente menciona sua orientação para os
resultados terapêuticos e desfechos dos pacientes e baseia-se mais nos aspectos
éticos do rela- cionamento. A transposição da farmácia clínica para a atenção
farmacêutica repre- senta uma evolução da prática clínica far- macêutica, que, no
primeiro momento, se desenvolveu no hospital, sem que o cuidado do paciente
fosse parte inerente ou preocu- pação direta do farmacêutico. Com a aten- ção
farmacêutica, toda ciência desenvolvida no interior da farmácia clínica (ciência esta
que continua a se desenvolver) ganha senti- do no compromisso assumido pelo
farma- cêutico com o processo de cuidado e no seu relacionamento com o paciente.
A atenção farmacêutica consiste em um elemento necessário da atenção
à saúde e deve estar integrada aos outros elementos. A atenção farmacêutica é,
20
entretanto, provi- da para o benefício direto do paciente, e o farmacêutico é
diretamente responsável pe- la qualidade dessa atenção. O relaciona- mento
essencial dessa prática consiste em uma troca benéfica mútua, em que o pa- ciente
outorga autoridade ao profissional e este responde com competência e compro-
misso (assumindo responsabilidade) pelo paciente. As metas fundamentais, os pro-
cessos e os relacionamentos da atenção far- macêutica existem independentemente
do local onde esta é realizada.
Cipolle e colaboradores9 descrevem que, na atenção farmacêutica, o
profissio- nal assume a responsabilidade pela otimi- zação da farmacoterapia do
paciente de uma forma global (medicamentos de pres- crição, isentos de prescrição,
alternativos e tradicionais), a fim de atingir os desfechos de saúde desejados e
melhorar a qualidade de vida de cada paciente. Isso ocorre com a cooperação do
paciente e em coordenação com outros profissionais da saúde respon- sáveis pelo
paciente. Essa prática se baseia em um processo racional de tomada de de- cisões,
tem caráter complementar à aten- ção tradicional dada ao paciente e objetiva tornar
a farmacoterapia mais efetiva e se- gura.9 O profissional dessa prática não pretende
substituir o médico, o farmacêu- tico da dispensação ou qualquer outro profissional
da saúde, mas colaborar com estes, como uma espécie de “farmacotera- peuta”,
cuja responsabilidade primária está vinculada ao sucesso do tratamento
medicamentoso.

2.1 ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA INTEGRADA AO PROCESSO DE CUIDADO


EM SAÚDE

́ preciso ampliar a compreensão de que “assistência farmacêutica” consiste


apenas no ciclo logístico, organizado da seleção à dispensação de medicamentos.
Não há dú- vidas de que é preciso avançar na integra- ção das ações da assistência
farmacêutica ao processo de cuidado do paciente nos servi- ços de saúde. É preciso
também aumentar a articulação dos serviços providos nas far- mácias comunitárias,
21
públicas e privadas, com os demais estabelecimentos de saúde. É preciso, ainda,
harmonizar de forma defi nitiva os conceitos de atenção farmacêutica e serviços
farmacêuticos no País. Tudo isso é necessário. Mas como fazê-lo?
Para Gomes e colaboradores,25 a assis- tência farmacêutica deve estar vinculada à
atenção à saúde e configurar-se como uma atividade fundamentalmente
assistencial. O medicamento não pode ser o foco central da assistência
farmacêutica, nem as ações logísticas devem ocupar o único esforço de sua
organização.25 É certo que garantir o acesso oportuno a medicamentos de quali-
dade é fundamental como apoio ao proces- so de cuidado, entretanto, não é
possível al- cançar uma assistência farmacêutica inte- gral de forma desarticulada
aos serviços de saúde. O foco principal deve ser o paciente, o processo assistencial
e os resultados tera- pêuticos efetivamente obtidos. Os autores referem um conjunto
de ideias e conceitos assim expressos:

A Assistência Farmacêutica é, princi- palmente, uma atividade clínica,


com foco central de ação no pacien- te, que se estrutura em ações assis- tenciais
e ações gerenciais. Utiliza um corpo de conhecimentos técni- cos identificados no
perfil profissio- nal do farmacêutico para assistir o paciente em suas necessidades
de tratamento e cuidado, para acompa- nhar e avaliar a ação, interferência e
resultado do uso de medicamentos e outras intervenções terapêuticas. Sua ação
integrada com as outras práti- cas da atenção à saúde contribui de- cisivamente
para a melhoria da qua- lidade dessa atenção. Tendo o pacien- te como
referencial, o farmacêutico reelabora as suas estratégias e méto- dos de trabalho.
Sua função principal se concentra em atividades educati- vas, apropriadas de
outros saberes e práticas, dando ao paciente as condi- ções para melhor
compreender a sua doença ou condição de saúde, a im- portância do seguimento
adequado do seu plano de cuidado, a proposta terapêutica e uso correto dos
medica- mentos. Em seu conjunto de ativida- des educa, ajuda e dá suporte ao pa-
ciente no autocuidado planejado e na avaliação dos resultados de seu trata-
mento.

A assistência farmacêutica é vista, atualmente, como um sistema de apoio


às redes de atenção à saúde. Essas redes, coor- denadas pela atenção primária à
saúde, são responsáveis por uma população definida em um processo de
territorialização, sendo as famílias cadastradas e classificadas por riscos
sociossanitários. Essa população está vinculada às equipes de atenção primária,
tem suas subpopulações identificadas por fatores de risco e subdivididas conforme
graus de risco, com as subpopulações com muito alto risco identificadas.26-28 Mas

22
a as- sistência farmacêutica pode ser mais do que um sistema de apoio que fornece
o medica- mento. Pode se integrar aos pontos de aten- ção à saúde e participar
diretamente do cui- dado do paciente.
A fim de servir como sistema de apoio, a assistência farmacêutica deve garantir a
adequada gestão técnica do medicamento, dando suporte logístico ao processo de
uso de medicamentos, possibilitando o acesso, a prescrição e a dispensação de
maneira opor- tuna e eficiente. No acolhimento do pacien- te pelo serviço de saúde,
a partir de sua ava- liação e definição de um plano terapêutico, o medicamento deve
estar disponível no momento certo, em ótimas condições de uso e deve ser
fornecido juntamente com
informações para sua correta utilização (Fig. 10.3).
O foco limitado ao ciclo logístico não é suficiente para garantir que a farmacote-
rapia escolhida e implantada produza resul- tados terapêuticos capazes de modificar
as condições de saúde e a qualidade de vida de uma população. Essa constatação
é particu- larmente evidente para pacientes com con- dições crônicas, em que a
continuidade do cuidado e as avaliações periódicas são es- senciais a fim de
promover a adesão ao tra- tamento, o uso correto dos medicamentos, o autocuidado
apoiado, a efetividade e a se- gurança da farmacoterapia. A assistência
farmacêutica deve ampliar seu foco para além da logística, buscando a gestão
clínica do medicamento, de modo a obter os me- lhores resultados possíveis do uso
de medi- camentos, aumentando, assim, a eficiência de todo o sistema.29

A gestão clínica do medicamento (ou gestão da farmacoterapia) inclui um


grupo de ações específicas voltadas à melhoria dos resultados terapêuticos para um
paciente individual (Fig. 10.3). No contexto das re- des de atenção à saúde, pode ser
considera- da uma tecnologia de microgestão, ligada à estão da clínica, da mesma
forma que a gestão das condições de saúde ou gestão de caso.30 Esses serviços
clínicos podem ser providos juntamente com a dispensação do medicamento, mas
são independentes des- ta. Os serviços devem ser individualizados e específicos
para cada paciente e devem acontecer em interação direta com este, de preferência
em atendimentos presenciais. O sistema como um todo deve incluir suporte ao
estabelecimento e manutenção da re- lação paciente-farmacêutico-prescritor. Os
23
serviços de gestão clínica do medicamento devem formar uma cadeia de
continuidade, incluindo desde serviços de consulta farma- cêutica especializada
agregada a dispensa-
̧ão de medicamentos, visitas domiciliares até consultas periódicas ou de seguimento
voltadas a pacientes com condições crôni- cas e complexas.29 Incorporando ações
de gestão dos resultados da farmacoterapia, a assistência farmacêutica cria a
condição ideal de garantia do acesso, da qualidade e do uso racional de
medicamentos (Fig. 10.4).
Para esse efeito, entende-se por con- sulta ou atendimento farmacêutico o ato
demandado pelo paciente ou pela equipe de saúde no qual o farmacêutico busca
preve- nir e resolver problemas ligados à saúde e à farmacoterapia em um processo
de colabo- ração e interação direta com o paciente. A
rvenção farmacêutica resultante de uma consulta pode incluir a educação ou o
acon- selhamento ao paciente sobre questões en- volvendo medicamentos e saúde,
recomen- dação de medicamentos ou plantas me- dicinais, manejo da adesão
terapêutica, conciliação de medicamentos e encaminha- mento do paciente ao
médico ou a outros serviços de saúde. As intervenções do far- macêutico,
resultantes da entrevista clínica e da avaliação do paciente, não visam o diagnóstico
de doenças nem o início, a sus- pensão ou a modificação de medicamentos
prescritos sem a participação do prescritor. Esses limites éticos e profissionais são
fun- damentais para uma prática integrada, inte- gral e benéfica para o paciente.
Os serviços farmacêuticos clínicos que contribuem para a gestão clínica do medica-
mento devem permear toda a rede de aten- ção à saúde, estendendo a função da
assis- tência farmacêutica para além do sistema de apoio material e acesso a
medicamentos. Es- sa rede de serviços farmacêuticos especiali- zados é orientada à
revisão periódica das in- dicações clínicas e dos objetivos terapêuticos de cada
paciente, ao suporte ao autocuidado e à automedicação responsável, à promoção
de uma maior compreensão do paciente e à adesão ao tratamento e à verificação
siste- mática da efetividade e da segurança do uso de medicamentos. Em atenção
primária, os
serviços farmacêuticos voltados à gestão clí- nica dos medicamentos devem estar
inte- grados à equipe de saúde, em um contexto de clínica ampliada, prontuário
24
familiar e projetos terapêuticos singulares, conforme as características
epidemiológicas e as popu- lações prioritárias identificadas nos contex- tos nacional,
estadual ou municipal.29
Os serviços farmacêuticos podem ser ofertados em vários locais de prática, públi-
cos ou privados. Isso inclui hospitais, am- bulatórios, unidades básicas de saúde, do-
micílios e farmácias comunitárias. Nesta úl- tima, em especial, todo o leque de
serviços farmacêuticos pode ser desenvolvido, orien- tado a diferentes públicos e
articulado a um sistema de informação integrado aos de- mais pontos de atenção à
saúde, em espe- cial, à atenção primária à saúde. A oferta de serviços
farmacêuticos clínicos pode ocor- rer dentro do sistema público de saúde ou, de
forma suplementar, por meio de parce- rias público-privadas.
A atenção farmacêutica (pharmaceuti- cal care), considerada um modelo de práti-
ca farmacêutica desenvolvida no contexto da assistência farmacêutica, compartilha
com as tecnologias de gestão clínica de me- dicamentos seus objetivos, voltados à
me- lhoria do processo de uso dos medicamen- tos e à produção de resultados
definidos que melhorem a qualidade de vida da po- pulação. Sob uma visão ético-
filosófica, a atenção farmacêutica emerge do acordo en- tre paciente e profissional,
em que este com- partilha com o paciente a responsabilidade de cuidar do processo
de uso dos medica- mentos.31 Assim, a atenção farmacêutica vê o paciente como
centro de suas ações e de- senvolve-se em uma visão clínica, humanis- ta e de
responsabilização.

2.2 – SERVIÇOS FARMACÊUTICOS CLÍNICOS NA FARMÁCIA COMUNITÁRIA

Os serviços farmacêuticos clínicos são os serviços de atenção à saúde


prestados pelo farmacêutico à população. Esses serviços clínicos voltados à gestão
clínica de medi-camentos devem organizar-se de forma não hierárquica, mas
complementar, con- forme propósitos e critérios de necessida- des de saúde e
abrangência da população- -alvo.

apresenta uma pirâmide de serviços farmacêuticos clínicos na far- mácia


comunitária. A organização desses serviços é feita com base na compreensão de
25
que os pacientes podem apresentar dife- rentes necessidades relacionadas aos
medi- camentos e reunir distintos níveis de com- plexidade e demanda de cuidados.
A pirâ- mide representa essa população-alvo dos serviços clínicos farmacêuticos.
Quanto mais no alto da pirâmide, maior a comple- xidade (risco de problemas
relacionados à farmacoterapia) da população-alvo e me- nor é essa população. A
estratificação do risco ligado aos medicamentos pode ser fei-
ta com base em critérios como número de medicamentos em uso, idade,
escolaridade, limitações cognitivas, uso de medicamentos de alto risco, história
recente de interna- ções, entre outros.
A dispensação especializada de medi- camentos, realizada pelo farmacêutico, com
enfoque clínico e de orientação personali- zada ao paciente, é voltada
particularmente a pacientes com condições crônicas em iní- cio de tratamento,
pacientes com dificulda- de detectada de adesão ao tratamento, poli- medicados (> 5
medicamentos) ou com prescrição de medicamentos de alto risco (p. ex., baixo
índice terapêutico). O manejo de transtornos menores ocorre a partir da demanda do
paciente e foca-se na avaliação do problema de saúde, na indicação farma- cêutica
de medicamentos isentos de pres- crição (MIPs), na automedicação responsáel e na
referência ao serviço de saúde dos casos graves. Diferencia-se da dispensação de
MIPs, pois ocorre em um modelo de consulta farmacêutica e não de atendimen- to
no balcão. A revisão dos medicamentos (RDM) foca-se na educação e no aconse-
lhamento ao paciente sobre os medicamen- tos e na promoção da adesão ao
tratamento. A RDM aplica-se também como estratégia de conciliação de
medicamentos em pa- cientes em transferência de nível assisten- cial (alta
hospitalar). O seguimento farma- coterapêutico foca-se na avaliação de resul- tados
terapêuticos (efetividade e segurança da farmacoterapia), sendo voltado a pacien-
tes com condições crônicas, com necessidade especial de monitoração e suporte ao
auto- cuidado. Fundamenta-se por uma revisão abrangente da farmacoterapia e pelo
acom- panhamento do paciente em longo prazo. Cabe destacar que a visita
domiciliar reali- zada pelo farmacêutico pode ser realizada para prestação de
qualquer serviço clínico, seja por conveniência ou necessidade do pa- ciente.
Na prática comunitária, no contexto da atenção primária à saúde, o farmacêuti- co
clínico pode envolver-se também em ações ligadas à promoção da saúde ou à
26
prevenção de doenças. A educação em saú- de e o rastreamento de doenças são
volta- dos a toda a população ou a grupos de pa- cientes conforme determinantes
sociais de saúde (incluindo padrão de consumo de medicamentos) e fatores de risco
presentes. Essas ações podem ser desenvolvidas em grupos operativos-educativos,
campanhas de saúde, escolas, no interior da própria consulta farmacêutica ou
quaisquer outras formas de interação com a sociedade.
O rastreamento de doenças consiste na utilização de testes rápidos e avaliações
clíni- cas breves a fim de detectar pacientes ocultos (sem diagnóstico) ou sob risco
de desenvol- vimento de doenças. O rastreamento de
doenças colabora na avaliação de indicações clínicas não tratadas, na referência de
pa- cientes sem tratamento e na promoção de hábitos de vida saudáveis.
Campanhas tem- porárias ou permanentes de rastreamento podem ser oferecidas
pelo farmacêutico e pela farmácia comunitária. Os procedimen- tos de rastreamento
podem incluir verifica- ção da pressão arterial e outros sinais vitais, testes de
glicemia, colesterol ou triglicerí- deos, testes de capacidade respiratória, medi- das
antropométricas (p. ex., índice de massa corporal [IMC], circunferência abdominal),
avaliação de risco coronariano, triagem para osteoporose, entre outros.
Essas atividades são extremamente importantes e transversais a todas as
profis- sões da saúde. Não caracterizam, portanto, aquilo que a atenção
farmacêutica tem de único, tampouco sua contribuição específi- ca para a promoção
do uso racional de me- dicamentos e o alcance de resultados far- macoterapêuticos
definidos.
Da mesma forma, o modelo tradicio- nal de prática farmacêutica, com as ações de
dispensação de medicamentos e informa- ção ao paciente, centra-se
demasiadamente no produto farmacêutico. Essas ações de- vem ser totalmente
reformuladas para que possam se caracterizar como serviços clíni- cos. Isso não
significa necessariamente a morte da dispensação enquanto atividade principal para
muitos farmacêuticos, mas a incorporação de outro modelo de atendi- mento provido
por farmacêuticos clínicos capacitados para tal. A dispensação tradi- cional de
medicamentos deve ser feita para todos os usuários da farmácia e é realizada pelo
farmacêutico e pela equipe da farmácia comunitária. Os serviços farmacêuticos clí-
nicos são providos exclusivamente pelo far- macêutico clínico e funcionam sob outra
27
lógica de organização e gestão de prática.

CONCLUSÃO

Concluimos com o presente trabalho que a Assistência Farmacêutica é


essencial para garantir o uso racional de medicamento, e poder trazer grandes
contribuições para a equipe multidisciplinar que atua na Assistência Farmacêutica,
trazendo benefícios á equipe envolvida e o bem estar do paciente que é o foco
principal.
Os profissionais precisam estar preparados para gerenciar e desenvolver
o seu papel e um trabalho com qualidade e eficácia. Pois por meio da Assistência
Farmacêutica, o paciente confere autoridade ao farmacêutico sobre sua terapia
medicamentosa e o farmacêutico oferece seu conhecimento sobre os medicamentos
e se compromete com a melhoria na qualidade de vida do paciente.
A Assistencia Farmaceutica não fornece simplesmente o medicamento
ele participa da decisão sobre o tratamento medicamentoso mais adequado ao
paciente, preocupando-se com o seu bem-estar e visando a atingir o melhor
resultado pela terapia empregada.
Durante suas ações clinicas e pelo contato com os pacientes, o
farmacêutico tem condições de identificar problemas relacionados aos
medicamentos, seja em razão de erros de administração ou de problemas com a
substância escolhida. Sua presença permite que a identidicação e a solução do
problema sejam mais rapidas e efetivas, além de poder prevenir problemas antes
que eles ocorram, por meio da avaliação das prescrições e das interações
medicamentosas.
Com a Assistencia Farmaceutica o paciente recebe todas as informações
relacionadas aos medicamentos que irá receber e também as relacionadas á sua
terapia medicamentosa como um todo.

28
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