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2 Tubarão
4 (1)
Universidade Federal de Santa Catarina, Campus Florianópolis, Departamento de
5 Engenharia Sanitária e Ambiental, R. Eng. Agronômico Andrei Cristian Ferreira, s/n – CEP
7 fabio.farias@ufsc.br
17 crescendo, a falta de água para atender à rizicultura se revelou inevitável nos próximos anos.
21 do solo constituem ferramentas úteis para estimar demandas de água no futuro e definir
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26 Abstract – The objective of this paper consisted in determining water availability in Tubarão
27 river basin – where important agricultural, industrial and mining activities are developed –
28 considering precipitation forecasts and use land scenarios. The water availability was
30 generated by the regional climate model Eta-CPTEC and growing scenarios of rice planting,
31 which represents 70% of registered water use in the basin. The results showed the necessity of
32 management actions to adapt the use of water to climate change. Although there is a tendency
33 of increasing precipitation, inevitably it will not be sufficient to maintain this activity in the
34 next years. In addition, it is essential to review the rice sector planning to guarantee the
35 productivity in these critical situations. It was also found that knowledge of possible climate-
36 hydrological scenarios and its uncertainties, as well as the land use planning are useful tools
37 to estimate water demands in future and to define effective management policies for water
38 use.
39 Index terms: flow regionalization, climate changes, climate models, land use.
40 Introdução
44 capaz de atender aos mais diversos usos pretendidos (BARBOSA et al., 2005).
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45 Dentre os principais fatores que condicionam a oferta de água em uma bacia hidrográfica
47 antrópicas. Essas últimas merecem maior destaque, uma vez que seus efeitos se dão sobre a
50 bacia têm impactos significativos nos processos hidrológicos e na qualidade de água dessa
53 induzir a riscos ambientais, econômicos e sociais, sendo os países mais pobres e aqueles em
56 hídrica é a regionalização de vazões, que pode ser realizada mediante o ajuste de um método
57 de regressão que considere as características físicas e/ou climáticas da bacia que exercem
59 JÚNIOR, 2013; MOREIRA e SILVA, 2014). Entre os elementos físicos mais empregados na
62 é a mais recorrente (NOVAES, 2005). Essa variável pode ser prevista através de modelos
63 climáticos.
66 condições do clima que acontecem na atmosfera, oceano e superfície da terra. Podem ser de
67 escala global ou regional, sendo as principais diferenças entre eles, a resolução, a dimensão
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70 De um modo geral, segundo Chou et al. (2012), projeções de mudanças climáticas derivadas
73 meteorológicos. Mello et al. (2008) acrescentam que estudos climáticos regionais não devem
75 dada sua capacidade de resolução bastante limitada. O Brasil tem se destacado na área de
77 regionais.
82 disponibilidade hídrica dessa bacia. Utilizaram-se, para esse fim, previsões do modelo
86 Material e Métodos
87 Área de estudo
88 O objeto de estudo desse trabalho é a bacia hidrográfica do rio Tubarão (BHRT), localizada
89 no estado de Santa Catarina, na Região Hidrográfica Sul Catarinense – RH-9. Sua área
90 compreende 4.728 km² e seu principal rio, que a atravessa no sentido oeste-leste – rio
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91 Tubarão – se estende por 120 km desde a encosta da Serra Geral até desembocar na Lagoa de
96 exutório constitui um ponto crítico de uso d’água, passível de conflitos pelo uso e/ou
97 deterioração de sua qualidade. As sub-bacias que compõem a BHRT são: SB do Rio Capivari,
101 Sabe-se que a bacia hidrográfica do rio Tubarão apresenta uma intensa relação homem-meio,
103 questão ambiental. Ao longo do seu processo de ocupação, surgiram inúmeros conflitos
104 ambientais que comprometem sua sustentabilidade, como a prática intensiva da rizicultura e,
105 em decorrência disso, a intensa utilização de agrotóxicos; a poluição hídrica, provocada pelo
106 beneficiamento do carvão e pelas atividades da usina termelétrica ali instalada; a intensa
108 Diante desses conflitos, observou-se uma gradativa alteração na cobertura vegetal original da
109 bacia e nos padrões de uso e ocupação do solo. Atualmente, ainda há na bacia considerável
110 área coberta por mata nativa (ainda que secundária); a zona urbana não representa porção
111 muito significativa da bacia; e, as áreas cultivadas com rizicultura somam uma parcela
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114 Em atendimento à Lei 9.433 de 1997, o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Tubarão e
115 Complexo Lagunar aprovou, em 2002, o Plano dessa bacia, que visa a fundamentar e orientar
117 com esse Plano, as atividades econômicas desenvolvidas na BHRT estão concentradas no
118 setor primário, seguido pelo setor secundário em menor escala (SANTA CATARINA, 2002).
119 A rizicultura é a principal cultura agrícola em termos de área plantada, quantidade produzida e
120 valor da produção na BHRT. Por esse motivo, o uso da água para irrigação na bacia está
122 demandados para a irrigação de outras culturas. Estima-se que 70% do consumo de água
123 cadastrado na bacia seja para atender à rezicultura. Sendo assim, neste trabalho, enfocou-se na
124 atividade da rizicultura, devido a sua predominância dentro da atividade agrícola na BHRT e
128 Informações Hidrológicos da Agência Nacional de Águas (ANA), via plataforma HidroWeb,
129 relacionam 20 estações pluviométricas inseridas na BHRT, ou nas suas imediações – mas com
130 área de influência dentro da mesma – das quais 18 são de responsabilidade da ANA e
131 operadas pela Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina
132 (EPAGRI). Neste trabalho, optou-se por utilizar apenas as estações de responsabilidade da
136 relacionam 17 estações fluviométricas dentro dos limites da BHRT, das quais 11 são de
137 responsabilidade da ANA e operadas pela EPAGRI. De mesmo modo que para as estações
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138 pluviométricas, optou-se por trabalhar apenas com as estações de responsabilidade da ANA
140 No que se refere aos dados futuros de precipitação, utilizaram-se as previsões geradas pelo
141 modelo Eta-CPTEC/INPE que produz a regionalização do cenário A1B fornecido pelo
142 modelo global acoplado oceano-atmosfera HadCM3, em quatro versões de perturbação (sem
143 perturbação – cntrl; baixa sensibilidade – low; média sensibilidade – mid; alta sensibilidade –
145 Esse cenário A1B é integrante do conjunto de cenários climáticos SRES (Special Report on
146 Emissions Scenarios) adotados pelo IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change) para
148 emissões de gases de efeito estufa para o futuro, referentes à sensibilidade ao aquecimento,
149 representando a informação mais atual do que poderá vir a acontecer numa combinação de
151 cenário A1B descreve um mundo futuro onde a globalização é dominante, há um rápido
154 Segundo Marengo et al. (2012), o HadCM3 é um modelo numérico acoplado oceano-
155 atmosfera desenvolvido no Hadley Centre for Climate Prediction and Research (Inglaterra)
156 que se mostrou favorável para executar a simulação do clima do Brasil. Por esse motivo, o
157 modelo Eta-CPTEC/INPE produziu regionalização de fina escala (40 x 40 km) para a
158 América do Sul do cenário A1B fornecido pelo HadCM3, gerando cenários futuros em três
159 períodos de 30 anos (de 2011 a 2040, de 2041 a 2070, de 2071 a 2100) (CHOU et al., 2012;
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162 A primeira etapa do trabalho consistiu na definição de uma série histórica de dados capazes de
163 reproduzir o comportamento hidrológico da bacia hidrográfica do rio Tubarão, com vistas a
165 exutórios nas estações fluviométricas localizadas na BHRT, encontrou-se a área de cada sub-
166 bacia e definiram-se as estações pluviométricas contribuintes para compor suas médias de
167 precipitação. Utilizou-se, para isso, o programa de geoprocessamento ArcGIS versão 10.1.
168 De posse das séries históricas de precipitação observadas em cada uma das estações
170 representativo comum para todas as estações selecionadas, sendo esse de 1987 a 2000. Em
171 seguida, calculou-se a precipitação média mensal para cada sub-bacia e produziu-se um
172 gráfico de precipitação média observada em cada mês, no período escolhido (Figura 2).
173 A partir desse gráfico, constatou-se a existência de um período caracterizado por maiores
174 valores de precipitação média, entre os meses de setembro a março. De acordo com o Plano
175 da Bacia, considera-se período crítico aquele compreendido entre novembro e março, por ser
176 quando a cultura de arroz é irrigada (SANTA CATARINA, 2002). Sendo assim, esse mesmo
178 Em seguida, calcularam-se as vazões médias e mínimas nesse período crítico, para cada sub-
179 bacia, a partir dos dados diários consistidos de vazão. Em Santa Catarina, a Portaria SDS nº
180 36/2008 estabelece que a análise da disponibilidade hídrica para captação ou derivação de
181 cursos d’água de domínio do Estado adotará como vazão de referência a Q 98%, que
182 correspondeu à vazão mínima calculada para o período crítico, obtida através da curva de
183 permanência.
185 histórica disponível, através do chamado método da “série toda”. De acordo com Tucci
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186 (2008), esse método não contempla os efeitos da sazonalidade ao longo de cada ano e,
187 tampouco, a variação interanual. Assim, neste trabalho, as curvas de permanência a partir das
188 quais obtiveram-se as vazões mínimas foram construídas considerando-se apenas dados de
189 vazão do período crítico. Esse método é chamado “ano a ano” e pressupõe que um ano
190 hidrológico pode ser analisado como uma realização estatística independente de uma série de
196 BHRT, determinaram-se a precipitação total no período crítico, em cada sub-bacia, a vazão
198 Aplicou-se, então, uma metodologia de regionalização de vazões que permitisse relacionar as
199 variáveis: vazão, área e precipitação, em cada sub-bacia. Para o objetivo deste trabalho,
200 diferentemente do habitual, a regionalização de vazões foi empregada para estimar vazões
201 médias e mínimas em tempos futuros e não em locais distintos com ausência de dados.
203 relação entre as variáveis, consistiu no emprego de regressão não linear múltipla sob a forma
204 da Equação 1.
205 Q = a x Ab x Pc (Equação 1)
206 Em que: Q é a Qméd (vazão média no período crítico em m 3.s-1) ou Qmín = Q98% (vazão de
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210 para resolver a regressão não linear. Uma vez encontrados os coeficientes das regressões,
211 esses foram substituídos na Equação 1, resultando nas seguintes equações de regionalização:
215 Além das séries históricas de precipitação, este trabalho utilizou dados de previsão de
216 precipitação gerados a partir do modelo Eta para os anos de 2020, 2050 e 2080, sobre a
217 América do Sul. Esses dados, com resolução de 20 minutos, estão disponíveis em formato
218 ASCII grid, na plataforma CCAFS (Climate Change, Agriculture and Food Security) –
219 DOWNSCALED GCM DATA PORTAL e são resultado do downscaling dinâmico do modelo
220 HadCM3, em três cenários de emissões (high – alto, midi – médio e low – baixo), além de um
223 distribuição de chuvas observada no intervalo das séries históricas previamente selecionado –
224 de 1987 a 2000 – calculou-se a precipitação média nos meses que compõem o período crítico,
226 Finalmente, com vistas a analisar a distribuição de chuva no período crítico como um todo,
227 sem distinção entre os meses, tomou-se o total precipitado no período crítico do ano de 1999,
228 além das já citadas previsões de chuva para os anos de 2020, 2050 e 2080.
230 De acordo com o exposto anteriormente, este trabalho deu ênfase ao consumo de água pela
231 atividade de plantio intensivo de arroz irrigado, pois essa atividade destaca-se como a maior
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233 Na BHRT, considera-se um tempo de inundação dos campos de cinco meses, já que o período
234 de irrigação do arroz varia de meados de novembro até aproximadamente a primeira quinzena
235 de março, não havendo irrigação nos demais meses. A taxa de consumo de água para a
236 produção do arroz na bacia, adotada pelo Plano, é de 15.000 m 3.ha-1.safra-1, que coincide com
237 o sugerido pelo Plano Nacional de Recursos Hídricos. A determinação da demanda de água
238 para a irrigação do arroz é estimada com base numa taxa de consumo por hectare devido à
239 inexistência de um controle mais preciso das captações (SANTA CATARINA, 2002).
241 cenários de demanda ao longo do tempo, com vistas a estabelecer referenciais para a
242 avaliação sistemática das melhoras e dos agravamentos das relações entre os setores de uso e
243 os recursos hídricos. Os cenários futuros de avaliação, considerados sem qualquer nível de
246 históricas identificadas. Taxa de crescimento de 2,3% a.a., igual à verificada no período de
249 as taxas históricas (as mesmas do cenário tendencial), mas a demanda de água é 20%
251 a.a., igual a do cenário tendencial menos 20%, considerando um aumento na eficiência
252 produtiva;
253 cenários críticos: configuram a situação mais desfavorável para os balanços hídricos,
254 tomando por base taxas de crescimento extremas e demandas extremas, verificadas
255 historicamente. Taxa de crescimento extrema de 4,2% a.a., verificada no período de 1997,
256 a 1999;
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258 A última etapa do trabalho consistiu em avaliar cenários futuros de demandas para irrigação
260 esse propósito, aplicaram-se os dados de precipitação total no período crítico de 1999, 2020,
261 2050 e 2080, os três últimos nos três cenários de emissões), nas equações da regionalização de
262 vazões, obtendo-se dados de vazões médias e mínimas nesses períodos. O ano de 1999 foi
263 selecionado por ser um dos mais recentes da série histórica de precipitações e por
264 corresponder ao ano em que foi realizado o Censo Agropecuário pelo IBGE, havendo dados
267 Agropecuário do IBGE de 1999, calcularam-se as áreas plantadas de arroz para os anos de
268 2020, 2050 e 2080 nos três cenários de prognóstico definidos pelo Plano da Bacia, sendo eles:
270 Por fim, construíram-se gráficos comparando a vazão média e a vazão mínima observadas na
271 bacia nos anos de 1999, 2020, 2050 e 2080 e a vazão demandada para a irrigação de arroz nos
272 mesmos anos. Ressalta-se que a vazão mínima é aquela utilizada como referência para a
273 instrução de processos de outorga, sendo sua avaliação mais relevante em termos de
277 Para a determinação da precipitação média na BHRT, entre 1987 e 2000, utilizaram-se os
278 dados observados nos 18 postos pluviométricos apresentados. Com relação aos dados de
279 previsão de precipitação para 2020, 2050 e 2080 fornecidos pelo modelo regional Eta-
280 CPTEC/INPE, com resolução espacial de 20 minutos e grade gerada de, aproximadamente, 40
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281 x 40 km, há 6 pontos com influência dentro da BHRT a serem utilizados pelo método dos
283 A partir da determinação da precipitação média na bacia, nos anos em análise, foi gerado o
284 gráfico em que estão representadas as precipitações médias em cada mês do período crítico
286 De acordo com esse gráfico, há uma significativa mudança na distribuição de chuvas
287 observada e prevista para os meses do período crítico. Nota-se uma inversão entre os meses
288 mais chuvosos e menos chuvosos previstos, com relação ao que se observou entre 1987 e
289 2000.
290 Entre 1987 e 2000, os maiores volumes precipitados concentravam-se nos meses de janeiro e
291 fevereiro, sendo muito superiores aos volumes registrados nos demais meses do período
292 crítico. Isso pode justificar o fato de o mês de janeiro se destacar como o de maior consumo
293 de água pela rizicultura, na BHRT. Já de acordo com as previsões do modelo, os meses mais
294 chuvosos devem ser novembro e dezembro, enquanto que os menores volumes serão
295 observados em janeiro e fevereiro. As exceções são os cenários 2050 – alto, em que o mês de
296 janeiro apresenta-se como o mais chuvoso; e 2080 médio e alto, quando os maiores volumes
298 Além disso, nota-se que os menores volumes para novembro, dezembro e janeiro, são
299 previstos pelo cenário 2020 – alto, enquanto que os maiores são esperados no cenário 2080 –
300 baixo. Para fevereiro e março, os maiores volumes são previstos pelo cenário 2080 – alto, e os
302 Finalmente, percebe-se que os extremos de precipitação, mês a mês, variaram muito mais no
303 período observado, do que se espera para os demais anos analisados. Isso pode apontar para
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305 Para uma análise da distribuição de chuva no período crítico, sem distinção entre os meses,
306 tomou-se o total precipitado no período crítico do ano de 1999, bem como as previsões para
308 Avaliando-se o período crítico como um todo, percebe-se que as tendências irregulares
309 observadas mês a mês são suavizadas. De acordo com o gráfico, no cenário médio de
310 emissões, haverá a menor variação pluviométrica ao longo do período em estudo, cerca de 4%
311 entre 2020 e 2080. No cenário alto, a precipitação esperada para 2020 é a que mais se
312 distancia da que se espera observar em 2080, sendo previsto um aumento de cerca de 15% ao
313 longo desses 60 anos, se mantido o mesmo cenário. Com relação ao cenário baixo de
314 emissões, nota-se que é previsto um volume de chuvas bastante estável entre 2020 e 2050,
315 havendo um aumento de 6% entre 2050 e 2080. No caso do período compreendido entre 1999
316 e 2020, nos cenários baixo e alto, observa-se um sutil crescimento nos volumes totais
317 precipitados no período crítico. Em contrapartida, no cenário alto, observa-se uma redução
320 Aplicando-se as taxas de crescimento de área plantada de arroz irrigado nos três cenários de
322 m3.ha-1.safra-1), calculou-se o volume de água necessário para atender à demanda em 2020,
324 Até o ano de 2020, aproximadamente, a demanda de água para a irrigação de arroz não difere
325 significativamente entre os três cenários estudados. Entretanto, a partir desse ano, a demanda
326 prevista pelo cenário crítico assume um crescimento exponencial bastante acentuado,
327 atingindo valores e elevados ao longo dos anos. O consumo estimado nesse cenário, em 2080,
328 chega a ser maior do que 10 vezes o previsto para o ano de 2020.
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329 Comparando-se os valores esperados para o consumo nos cenários tendencial e desejável,
330 percebe-se que este último é quase equivalente ao primeiro até cerca de 2030, quando passa a
331 representar algo em torno de 1/3 do consumo tendencial, até o final do período de análise.
332 Ressalta-se que, justamente considerando o período atual de irrigação, as análises propostas
333 por este trabalho consideraram a disponibilidade e o consumo de água nesse período restrito
334 do ano, caracterizado por ser o mais chuvoso. Caso o planejamento do plantio seja feito de
335 modo a ampliar o tempo de irrigação, novas análises devem ser realizadas, para considerar
336 também os períodos mais secos do ano, de modo a evitar perdas nessas épocas.
339 demanda de água para atender à rizicultura, as vazões resultantes das previsões de
340 precipitação no período crítico. Para obtenção dessas vazões, aplicaram-se os valores
341 previstos de chuva nas equações de regionalização de vazões determinadas. Além disso, para
342 efeito de comparação, incluiram-se dados observados no período crítico do ano de 1999
344 A partir das informações anteriores, construiram-se gráficos que relacionam as previsões de
345 precipitação, em termos de vazão média e de referência, e a demanda de água necessária para
346 atender à rizicultura nos três cenários de emissões e de crescimento de área plantada,
349 comportamento que a precipitação prevista para os anos de 2020, 2050 e 2080, nos três
350 cenários de emissões. Entretanto, as variações observadas são menores que aquelas estimadas
351 para a precipitação. Isso é explicado pelo fato de que a equação de regionalização inclui duas
352 variáveis independentes – área e precipitação – para predizer o valor assumido pela variável
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353 dependente – vazão média – e o coeficiente atribuído à área é maior que àquele atribuído à
354 precipitação, o que indica que essa é a variável com maior peso na estimativa da vazão.
355 Comparando-se os valores assumidos pela vazão média aos valores previstos para o consumo,
356 nos três cenários, observa-se que o crescimento da demanda conforme prevê o cenário crítico
357 é tão acentuado que, por volta de 2060, ainda que toda a chuva transformada em vazão esteja
358 disponível para consumo pela rizicultura, haverá problemas de escassez de água para atender
360 No entanto, assumindo-se que nem toda a vazão média será disponibilizada para consumo,
361 dada a necessidade de manutenção de uma vazão remanescente que garanta a sustentabilidade
363 vazão de referência, com a demanda. Além disso, essa vazão corresponde, justamente, àquela
364 utilizada como base para a concessão de outorgas de direito de uso. Desse modo, toma-se o
366 De acordo com o gráfico que relaciona vazão de referência e consumo, caso as áreas
368 acordo com a taxa prevista pelo cenário crítico, a partir do ano de 2012 poderia haver
369 problemas de escassez de água para o desenvolvimento dessa atividade, o que demandaria um
370 novo planejamento do setor agrícola visando à adaptação a essa situação. Entretanto, apesar
371 de haver conflitos envolvendo a rizicultura na bacia, não identificou-se a necessidade, até os
372 dias atuais, de diminuição das áreas plantadas em virtude da falta de água. Isso aponta para o
373 fato de que, possivelmente, o crescimento das áreas destinadas à plantação de arroz não
375 Analisando-se a curva do consumo previsto pelo cenário tendencial, percebe-se que,
376 aproximadamente em 2020, a demanda deve ser maior que a vazão de referência. Finalmente,
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377 conforme o cenário desejável de crescimento, em torno do ano de 2026, a demanda de água
378 para atender a rizicultura pode não ser suprida pela vazão disponível. É notório que,
380 independente da taxa de crescimento seguida, haverá problemas relacionados à falta de água
382 caso de não ser prevista nenhuma intervenção estrutural de melhoria dos conflitos, visto que
384 Um ponto a ser observado é o valor de consumo de água atribuído à atividade de rizicultura.
385 Viu-se anteriormente que o Plano da Bacia adotou o valor de consumo igual a 15.000 m 3/ha-
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.safra-1, dadas as divergências entre as diferentes fontes e diferentes tipos de plantio. No
387 entanto, sabe-se que o plantio de arroz na BHRT é, predominantemente, do tipo pré-
388 germinado, caracterizado por consumir menos água que o plantio pelo método tradicional e,
389 nesse caso, menos que o valor de consumo adotado pelo Plano e por este trabalho. Caso fosse
390 considerada nas análises a vazão demandada pelo plantio pré-germinado, certamente as
392 Finalmente, cabe lembrar que este trabalho enfocou o consumo de água por uma única
393 atividade econômica – a rizicultura – visto que essa representa o maior uso consuntivo
395 de referência aqui estimadas também servirão de base para a instrução de processos de
396 outorga para outros usos, o que poderia diminuir os limites destinados a atender a demanda
398 Conclusões
400 enfrentados nos dias atuais. Por exemplo, há uma tendência cada vez mais evidente do
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401 aumento de eventos hidrológicos extremos provocados por variações climáticas, verificada a
402 partir de análises de chuva ao longo dos últimos 50 anos (MARENGO, TOMASELLA e
404 Além disso, o perfil inadequado de uso e ocupação do solo, que vem provocando o mau uso e
405 o desperdício desse recurso, também constitui um grave problema. Conceição et al. (2013)
406 analisaram o balanço hídrico no meio rural de Santa Catarina e concluiram que há déficit
407 hídrico em diversas bacias do estado, especialmente naquelas do litoral sul, onde há
409 1. Esse trabalho mostra que há uma tendência de crescimento de volumes precipitados e,
410 consequentemente de vazões observadas, ao longo dos próximos anos, sobre a região de
411 estudo.
412 2. Essa tendência certamente provocará impactos na bacia hidrográfica do rio Tubarão
413 sendo eles positivos em termos de produção de arroz, visto que o aumento dos volumes
414 precipitados acarretará numa maior oferta de água para atender a esse uso.
416 às mudanças climáticas, especialmente porque as áreas ocupadas pelas atividades agrícolas
418 4. Outros resultados apontam que, apesar da tendência de aumento de chuvas, a falta de
419 recursos hídricos para atender à rizicultura é inevitável dentro dos próximos anos, pois a taxa
420 em que se dará esse aumento é muito inferior às taxas dos cenários de crescimento de áreas
421 plantadas de arroz. Torna-se imperativa, então, a necessidade de que se reveja o planejamento
424 determinado, correspondente aos meses mais chuvosos do ano – não sendo necessária a
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425 retirada da água que mantém os corpos d’água – sugere-se que outros estudos considerem a
426 possibilidade de estender o período de irrigação para mais meses do ano, evitando o estresse
428 Agradecimentos
429
430 Referências
431 ADAM, K.N.; COLLISCHONN, W. Análise dos Impactos de Mudanças Climáticas nos
432 Regimes de Precipitação e Vazão na Bacia Hidrográfica do Rio Ibicuí. Revista Brasileira de
434 BARBOSA, S.E.S.; JÚNIOR, A.R.B.; SILVA, G.Q.; CAMPOS, E.N.B.; RODRIGUES, V.C.
436 mínimas de sete dias para a bacia do rio do Carmo, Minas Gerais. Eng. Sanit. Ambient., Rio
441 CHOU, S.C.; MARENGO, J.A.; LYRA, A.A.; SUEIRO, G.; PESQUERO, J.F.; ALVES,
442 L.M.; KAY, G.; BETTS, R.; CHAGAS, D.J.; GOMES, J.L.; BUSTAMANTE, J.F.;
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486
83 21
84
85
86
Operador
Código Nome Município Responsável Período
a
284902
Jaguaruna Jaguaruna ANA EPAGRI 1976 - 2006
0
284902
Tubarão Tubarão ANA EPAGRI 1987 - 2006
7
284902
Pedras Grandes Pedras Grandes ANA EPAGRI 1986 - 2006
8
284900
Rio do Pouso Tubarão ANA EPAGRI 1939 - 2006
0
284900
Orleans – montante Orleans ANA EPAGRI 1939 - 2006
1
284900
São Ludgero São Ludgero ANA EPAGRI 1939 - 2006
2
284800
Armazém Capivari Armazém ANA EPAGRI 1945 - 2006
0
284903
Braço do Norte - montante Braço do Norte ANA EPAGRI 1986 - 2006
0
284900
Rio Pequeno Grão Pará ANA EPAGRI 1945 - 2006
8
284800
São Martinho – jusante São Martinho ANA EPAGRI 1986 - 2006
9
284800
Vargem do Cedro São Martinho ANA EPAGRI 1976 - 2006
6
284903
Santa Rosa de Lima Santa Rosa de Lima ANA EPAGRI 1986 - 2006
1
274901
Divisa de Anitápolis Anitápolis ANA EPAGRI 1945 - 2006
2
274902
Anitápolis Anitápolis ANA EPAGRI 1972 - 2006
7
274801
São Bonifácio São Bonifácio ANA EPAGRI 1976 - 2006
8
284800
Imbituba Imbituba ANA EPAGRI 1976 - 2006
7
87 22
88
89
90
274902
Rancho Queimado Rancho Queimado ANA EPAGRI 1976 - 2006
0
284902
Serrinha Nova Veneza ANA EPAGRI 1986- 2006
9
Operador
Código Nome Município Responsável Período
a
84598002 São Martinho – jusante São Martinho ANA EPAGRI 1981 - 2007
84559800 Braço do Norte – montante Braço do Norte ANA EPAGRI 1986 - 2004
84520010 Santa Rosa de Lima Santa Rosa de Lima ANA EPAGRI 1986 - 2007
492 Tabela 3. Vazões demandadas para a rizicultura em 1999, 2020, 2050 e 2080, em três
Cenários de crescimento
Q (m3.s-1)
91 23
92
93
94
Cenários de emissões
Qméd (m3.s-1) Qmín (m3.s-1) Qméd (m3.s-1) Qmín (m3.s-1) Qméd (m3.s-1) Qmín (m3.s-1)
496
Paraná
27°50'S
R-5 R-6
R-1 R-2
R-7
R-3
28°S
R-8
R-4
do rio
Braço do Norte Capivari
R-10
Oceano Atlântico
28°20'S
±
Sub-bacia dos
formadores
0 25 50 100 150 200 do Tubarão
km
28°30'S
Legenda
Sub-bacia
Estados do Brasil do baixo
Tubarão
Estado de Santa Catarina
28°40'S
±
Bacia Hidrográfica do Rio Tubarão
Hidrografia Bacia Hidrográfica do Rio Tubarão
28°50'S
0 5 10 20 30
Coordinate System: GCS WGS 1984 km
498
DATUM: WGS 1984
95 24
96
97
98
300
250
150
100
50
0
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
Meses
Tubarão Pedras Grandes Rio do Pouso
Orleans - montante São Ludgero Armazém Capivari
São Martinho - jusante Braço do Norte - montante Rio Pequeno
Santa Rosa de Lima Divisa de Anitápolis
500
501 Figura 3. Previsão de precipitação média nos meses do período crítico, na BHRT, entre 1987-
250
230
210
Precipitação média (mm)
190
170
150
130
110
90
70
nov dez jan fev mar
Meses
média 1987 - 2000 2020 - alto 2020 - médio
2020 - baixo 2050 - alto 2050 - médio
2050 - baixo 2080 - alto 2080 - médio
503 2080 - baixo
504 Figura 4. Previsão de precipitação total no período crítico, na BHRT, em 1999, 2020, 2050 e
99 25
100
101
102
750
650
600
550
500
1999 2020 2050 2080
Anos
cenário de emissões alto
cenário de emissões médio
506 cenário de emissões baixo
507 Figura 5. Previsão da disponibilidade hídrica na BHRT em 1999, 2020, 2050 e 2080,
190
160
130
Q (m³.s-1)
100
70
40
10
1999 2020 Anos 2050 2080
cenário de emissões alto cenário de emissões médio
cenário de emissões baixo cenário de consumo tendencial
509 cenário de consumo desejável cenário de consumo crítico
510 Figura 6. Previsão da disponibilidade hídrica, na BHRT, em 1999, 2020, 2050 e 2080,
30
26
22
Q (m³.s-1)
18
14
10
1999 2020 Anos 2050 2080
cenário de emissões alto cenário de emissões médio
cenário de emissões baixo cenário de consumo tendencial
512 cenário de consumo desejável cenário de consumo crítico
103 26
104