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Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul

Faculdade de Engenharia

Departamento de Engenharia Mecânica


e Mecatrônica

PROCESSOS DE FABRICAÇÃO II

Fundição: Moldagem em Areia Verde

Processos de Fundição
Permitem obter peças praticamente de qualquer forma, com
poucas limitações em dimensões, forma e complexidade, além de
conseguir propriedades mecânicas adequadas às mais variadas
condições de serviço.
A fundição abrange uma série de processos, cada um com suas
próprias características:
Geralmente, qualquer que seja o processo adotado, devem ser
consideradas as seguintes etapas na fabricação de peças fundidas:
- desenho da peça;
- projeto do modelo;
- confecção do modelo (modelagem);
- confecção do molde (moldagem);
- fusão do metal;
- vazamento do molde;
- limpeza e rebarbação;
- controle de qualidade.

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Fundição em molde de areia por gravidade

O processo de moldagem em areia por gravidade (moldagem a


verde) é o método mais largamente empregado em fundição por ser o
de mais simples execução, o mais econômico e aplicar-se tanto à
moldagem de peças isoladas, quanto à produção em larga escala.

Aplicada com critérios adequados, a moldagem em areia


permite a produção de peças de qualidade na maioria dos metais
(ferrosos e não-ferrosos).

O processo consiste basicamente em compactar, manualmente


ou com o auxílio de máquinas de moldar, um material denominado
areia de fundição (composto essencialmente por areia silicosa, argila e
água), sobre um modelo colocado em uma caixa de moldar criando o
molde que será utilizado para obtenção da peça deseja.

Definições

• Modelo
Réplica exata da peça que se deseja obter, podendo constituir-
se de uma ou mais partes.
Os modelos para moldagem em areia normalmente são
confeccionados em madeira (mais baratos) ou em ligas metálicas
(normalmente Al – mais resistentes e duráveis).
• Molde
Cavidades que formam o negativo da peça a ser obtida. No
processo de moldagem em areia os moldes são formados por duas ou
mais caixas preenchidas com areia compactada. Estas caixas possuem
pinos-guia que asseguram seu correto posicionamento.
•Machos
Peças de areia especialmente preparadas que permitem a
obtenção de detalhes, cavidades ou reentrâncias.

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Definições

• Vazamento
Operação de preenchimento do molde com metal fundido.

• Canais de alimentação
Canais por onde o metal fundido entra no molde,
preenchendo o espaço existente.

• Massalote
Reservatório de metal colocado em posições específicas
sobre a peça, destinado à evitar os defeitos causados pela
contração do metal líquido (rechupe).

Definições

• Desmoldagem
Retirada das peças prontas das caixas de moldagem.
Normalmente é feita por vibração.
Parte da areia é reciclada e reutilizada. Canais de alimentação e
massalotes são cortados e recolocados no forno.
A limpeza final das peças é feita através de tambores rotativos
com esferas de aço, esmerilhamento e jateamento abrasivo.

Vazamento

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Diagrama simplificado das operações

Exemplo de utilização do processo

Processo completo

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Exemplo de utilização do processo

Exemplo de utilização do processo

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Exemplo de utilização do processo

Vantagens do Processo

1- O processo a verde é o mais econômico e o mais simples de


aplicar.
2- Presta-se otimamente a produções em grande escala devido à
sincronização entre as operações de moldagem e de vazamento do
metal.
3- Moldes a verde, pela sua colapsibilidade, são facilmente
desmoldados.
4- Quando necessário, oferecem a possibilidade de serem submetidos
à secagem ao ar ou à secagem superficial.
5- Técnicas modernas de composição e preparo de areias permitem
obter peças com precisão dimensional e em peso, e com acabamentos
também, comparáveis a processos mais caros.

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Limitações - Restrições

1- Peças fundidas pelo processo a verde, como é aplicado


comumente, são inferiores em acabamento e nas tolerâncias
dimensionais e de pesos, em relação a outros processos (mais caros).

2 - Para certas aplicações, nas quais a umidade da areia não é


desejável, deve-se empregar o processo a verde com areia “sem água”
ou recorrer a outros processos.

Materiais usados em moldagem e macharia

O conhecimento das propriedades das areias utilizadas para a


confecção dos moldes e machos para moldagem em areia é
fundamental para a compreensão das características das peças obtidas
através do processo.

• Areias de fundição
São materiais heterogêneos constituídos por:
a) Substância granular refratária (geralmente areia silicosa).
b) Elementos aglomerantes minerais (argila) e ou orgânicos
(óleos aglomerantes derivados de cereais, etc.).
C) Outros elementos (aditivos – opcionais).

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Classificação das areias de fundição

• Quanto à origem
Areias naturais: são utilizadas diretamente na moldagem de peças,
sem preparo especial (apenas adequadamente umedecidas).

Areias sintéticas: são obtidas artificialmente, misturando os


materiais-base (areia base e aglomerantes) tomados isoladamente.
Os materiais-base (areia base, argila base, aglomerantes orgânicos)
desempenham, cada um, função específica na areia de fundição
sintética:
areia silicosa → dá refratariedade ao molde;
argila → elemento aglomerante;
aglomerantes orgânicos → além da função óbvia, conferem
propriedades especiais, como alta resistência mecânica e
colapsibilidade.

Classificação das areias de fundição


• Quanto à granulação e teor de argila
A AMERICAN FOUNDRYMEN SOCIETY estabelece uma
classificação em função do módulo de finura (representa o diâmetro
médio ideal da peneira de malhas igual ao seu diâmetro) e da
porcentagem de argila presente.
Classe Módulo de Finura Classe % Argila
1 200 a 300 A < 0,5
2 140 a 200 B 0,5 – 2,0
3 100 a 140 C 2,0 – 5,0
4 70 a 100 D 5,0 – 10,0
5 50 a 70 E 10,0 – 15,0
6 40 a 50 F 15,0 – 20,0
7 30 a 40 G 20,0 – 30,0
8 20 a 30 H 30,0 – 45,0
9 15 a 20
10 10 – 15 Ex.: modulo 60 e 8% de argila Æ classif. 5-D

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Classificação das areias de fundição

• Quanto à parte do molde em que é usada


Areias de faceamento: formam as superfícies externas das
peças, ficando em contato direto com o metal líquido. Exigem maiores
cuidados na preparação.
Areias de enchimento: servem para preencher as caixas
onde são feitos os moldes, após o revestimento do modelo com areias
de faceamento.
Areias de macho: areias de fundição especiais contendo
ligantes químicos, utilizadas para a fabricação dos machos.

• Quanto ao uso
Areias novas: areias utilizadas pela primeira vez em fundição.
Areias usadas: perdem resistência devido à ação do calor
sobre o aglomerante. Devem ter suas propriedades corrigidas antes do
reaproveitamento.

Classificação das areias de fundição

• Quanto ao teor de umidade

• Areias verdes: areias de fundição que não são submetidas a


nenhum processo de secagem após a confecção do molde, contém
praticamente o mesmo teor de umidade utilizado na sua
preparação.

Areias secas: perdem grande parte da umidade nas


superfícies que deverão estar em contato direto com o metal fundido.
Podem secar naturalmente ao ar ou com o auxílio de fontes de calor.

As areias de fundição são sempre moldadas (compactadas) no


estado verde.

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Classificação das areias de fundição

• Quanto à natureza do metal.


Para a seleção da areia adequada, deve-se considerar o metal a
ser fundido → as características que normalmente se leva em conta
são as seguintes: temperatura de vazamento, tensão superficial e
atividade química (estas características são bastante diversas, exigindo
diferentes requisitos do molde).
O Al é vazado a cerca de 750ºC, ao passo que o aço em torno
de 1450ºC.
O Al tem tensão superficial muito inferior ao aço.
O aço de alto teor de Mn e o Mg têm atividades químicas que
exigem do molde propriedades químicas especiais.

Classificação das areias de fundição

• Quanto ao formato dos grãos.

Grãos redondos: proporcionam grande economia de tempo no


socamento e apresentam a maior durabilidade → são os mais
aconselhados nas areias de enchimento.
• Grãos angulares: produzem maior permeabilidade para um
mesmo grau de compactação → usados em areias para machos.
Também empregados, às vezes, em areias de faceamento
sintéticas.
Grãos subangulares: os mais aconselhados para faceamento
em areias sintéticas.
Grãos agrupados: desaconselhados pela pequena
durabilidade e dificuldade de controle granulométrico.

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Requisitos básicos de uma areia de moldagem
• Escoabilidade
A areia deve facilmente preencher o molde, adotando a forma
do modelo. A escoabilidade adequada é aquela que produz moldes de
densidade uniforme ao longo dos detalhes do modelo com o mínimo de
energia.
Esta propriedade depende do teor de aglomerante, umidade e
tamanho dos grãos.
• Consistência
Após a compactação a areia deve reter a forma do modelo
(possuir resistência a verde). .
• Refratariedade
Capacidade de resistência à fusão ou amolecimento que
ocasionaria a sinterização. Depende do tamanho dos grãos, teor de
argila e impurezas de baixo ponto de fusão.

Requisitos básicos de uma areia de moldagem


• Plasticidade
Capacidade de deformar-se elasticamente a verde, mediante a
aplicação de forças externas, retornando à posição inicial quando estas
cessam. Um grau de plasticidade adequado é importante para permitir
a extração do modelo e colocação de machos.
• Dureza e Resistência
Após a compactação a areia deve resistir ao manuseio das
caixas e posteriormente à força do metal vazado.
• Permeabilidade
Capacidade de permitir que os gases gerados durante o
vazamento (e o ar presente dentro do molde) escapem da peça.
Depende do tamanho de grão, teor de aglomerante, umidade e grau de
adensamento do molde.

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Teor de argila e granulometria

Teor de Argila ativa


Baixo Alto
Mais barato Maior custo
Consistência insuficiente Alta plasticidade
Alta refratariedade Baixa permeabilidade

Granulometria
Devem estar presentes, em proporções definidas, grãos
grossos, médios e finos para assegurar um equilíbrio nas propriedades
do molde: boa permeabilidade, bom acabamento superficial e
refratariedade suficiente.

Aditivos

Para melhorar algumas propriedades das areias de


fundição podem ser utilizados os seguintes aditivos:

• Carbonáceos (formadores de carbono vítreo (CV))


- Redução da rugosidade superficial das peças.
Melhorando o acabamento superficial.
- Formação de uma atmosfera redutora.
Exemplo: pó de carvão – além de formar CV permite
acomodação dos grãos de areia em expansão após o
vazamento, permite a utilização de areias com maior teor
de umidade e aumenta a plasticidade do molde.

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Aditivos

• Bentonita sódica
De origem mineral (composição similar à da argila) é
encontrada sob a forma de pó.
Tem grande poder de suspensão, grande índice de
plasticidade e valores elevados de resistência. Produz uma
estrutura com maiores vazios (maior permeabilidade do
molde), que associada a uma menor umidade resulta em
redução da incidência de defeitos como porosidade, nas
regiões superficial e sub-superficial.
Recomendado para a fundição de metais com alto
ponto de fusão e tensão superficial.

Aditivos

• Pó de madeira (serragem)
Usada eventualmente para atenuar os efeitos da
expansão do molde (tensões).
Apresenta alto teor de voláteis o que limita sua
utilização.

• Mogul (farinha de milho gelatinizada)


Melhora a plasticidade evitando a quebra do molde
em determinadas situações.
Apresenta como desvantagens a dificuldade de
compactação, aumento de rugosidade localizada e geração
de gases.

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Diagrama de aproveitamento da areia

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