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Vicente do Rego Monteiro

“Pinto desde criança, há tantos anos que não saberia o porquê. Contudo creio que pintar é uma linguagem,
um meio de comunicação tão velho como o mundo. (V.R.M.)”.

O sucesso da pintura do pernambucano Vicente do Rego Monteiro começou na sua estréia, no ano
de 1915 em exposição no Salon des Indépendants, França, e até hoje se renova. Mesmo tendo
passado mais de trinta anos de sua morte, o pintor continua a escrever capítulos de sua carreira,
sendo o mais recente protagonizado pela tela "Mulher com Galinhas", vendida no último leilão da
Bolsa de Arte do Rio de Janeiro por mais de R$ 800 mil. O quadro é da fase modernista de Rego
Monteiro, foi feito em Paris e está datado de 1925, apresenta características do art déco e temática
indígena, bastante explorada pelo artista. Vicente do rego Monteiro nasceu em Recife no ano de
1899, numa família onde o talento para as artes já vinha de berço. Em 1908 inicia seus estudos de
desenho com a irmã Fédora, que foi aluna de Eliseu Visconti e apenas aos doze anos ingressa na
Academia Julién, de Paris, para onde se transferira com a família. Em pouco tempo passa a
relacionar-se bem no meio artístico francês, quando conhece Miró, Lérger, Modigliani, Braque e
outros intelectuais. De volta ao Brasil, no ano de 1915, inicia seus estudos sobre as danças e o
folclore brasileiro e o que mais chama sua atenção é a arte da das cerâmicas marajoaras. Sua
primeira individual acontece em 1918, no Teatro Santa Isabel, de Recife, tendo como tema principal
para seus desenhos, a dança. Nos anos seguintes inicia seus contatos com os modernistas que já
despontavam, como Anita Malfati, Di Cavalcanti, Pedro Alexandrino e Brecheret. Por causa do
retorno à Paris em idos de 1921, não está presente na Semana de Arte Moderna de 22, mas deixa
prontos 8 quadros para o evento com o poeta Ronald de Carvalho. Na Europa diversifica muito suas
atividades, participando da elaboração de máscaras e figurinos de ballet, organizando espetáculos
teatrais, ampliando sua produção artística como editor, ilustrador de livros, literato e poeta.
Também mostrou-se excelente produtor de eventos ao trazer para o Brasil, na companhia de Géo-
Charles, uma exposição da Escola de Paris - do qual fez parte - em 1930, com telas de Lérger,
Picasso, Braque e outros, que foi apresentada no Recife, São Paulo e Rio de Janeiro.
Entre as décadas de 30 e 50, mantinha residência tanto no Brasil quanto em Paris, suas viagens
eram constantes. Suas atividades continuaram a ser as mais várias. Durante os anos 30 teve um
engenho em Gravatá, Pernambuco, onde produzia excelente cachaça. Foi nesta cidade que conheceu
um poeta que viria a lançar pouco tempo depois, na Revista Renovação: João Cabral de Melo Neto.
Na Europa uma atividade importante é a decoração da Capela do Brasil no Pavilhão do Vaticano da
Exposição Internacional de Paris, em 1937. A década de 40 foi marcada pela irrestrita dedicação de
Vicente do Rego Monteiro à poesia. Funda a editora La Presse à Brás, especializada em poesia
francesa e brasileira e publica seus primeiros versos no livro "Poema de Bolso". Além realizou
importantes congressos na área no início dos anos 50. O novo retorno ao Brasil aconteceu em 1957
quando Rego Monteiro foi contratado pela Universidade Federal de Pernambuco para dar aulas na
Escola de Belas Artes. Definitivamente estabelecido no Brasil, participou incessantemente de
individuais e coletivas, em galerias de todo o mundo. Também ministrou aulas no Instituto Central
de Artes da UnB e recebeu, em 1960, o Prêmio Apollinaire pelos sonetos reunidos no livro
Broussais-La Charité. Vicente do Rego Monteiro faleceu em 1970, no Recife, por conseqüência de
um segundo infarto, sua obra, porém, permanece inserida no contexto modernista, tendo sido
bastante influenciada pelo impressionismo, cubismo, e figurativismo construtivista. Suas telas são
um passeio pelo pintura de gênero, pelo retrato, natureza-morta, arte sacra, enfim. E ninguém
melhor que o próprio artista para fazer um balanço de sua carreira, como no depoimento dado ao
Museu da Imagem e do Som, poucos meses antes de seu falecimento:

"Eu planejo como um arquiteto. Eu uso cálculos sucessivos até achar a linha para a construção definitiva.
Eu acho que o quadro, vou usar essa palavra, o quadro se fabrica, se constrói como uma casa. Esse negócio
de falar de inspiração, de improvisação, só no tachismo e impressionismo, onde o artista vai com o corpo e
a cara, com tudo, improvisa. Mas eu acho que o artista, depois do cubismo, constrói o seu trabalho. Para
mim a linha é tão importante. A linha é exatamente o continente, e a cor, o conteúdo. A cor dá luz e sombra
mas a linha é que define".
A obra deste artista, fruto maduro do modernismo genuinamente brasileiro, "Trabalha as oposições
entre a época atual, caracterizada por linhas arrojadas e articuladas, e as aquisições do passado
arcaico ou clássico, com a preservação de lembranças estilísticas como a frontalidade e a solenidade
do ritual religioso. (...) A arte de Vicente é na sua aparência com freqüência austera, monocromada,
despojada de referências cósmicas diretas (...)." diz Elza Maria Ajzemberg, em sua tese de
doutorado sobre o pintor, intitulada "Vicente do Rego Monteiro: um mergulho no passado", de
1984. Autor de diversos nus, Vicente do Rego Monteiro também foi marcada pela sensualidade,
herança brasileira levada para a Europa. Amigo íntimo de Vicente, Gilberto Freire deixa claro essa
tendência no livro Vicente do Rego Monteiro, pintor e poeta: "Ao que se juntar ter Vicente me
confessado, certa vez, que uma de suas maiores saudades do Brasil era a de cheiros. Cheiros de
vegetais, cheiros de comidas, cheiros de cachaças, o cheiro de curral de engenho. E cheiros de
mulheres mestiças. (...) Será que a pintura modernista de Vicente, ao envolver 'saudosismo' pelos
sentidos - o olfato e o paladar, entre eles -, envolvia alguma coisa de telúrico que incluísse,
principalmente nesses saudosismos telúricos, saudade de sexos brasileiros de mulher? Sensível
como era, me animo a dizer que o sexo esteve quase sempre presente em sua pintura".
Uma grande mostra foi organizada pelo Mac da USP, em 1971, em homenagem ao pintor. Os
eventos póstumos foram muitos, destacando a retrospectiva de 1997, realizada pelo Mam de São
Paulo e organizada por Walter Zanini, amigo do pintor e poeta, que reuniu cerca de 170 obras. No
ano de seu centenário, a homenagem veio da 2ª Bienal das Artes Visuais do Mercosul, de Porto
Alegre. Vanguardista nato, Vicente do Rego Monteiro produziu freneticamente durante a vida
interia, mesmo tendo passado por altos e baixos como qualquer artista plástico. Reconhecido como
um cidadão do mundo, inserido no cenário parisiense, nunca abandonou suas raízes, como bem
esclarece Nelson Aguiar, por ocasião da Mostra do Redescobrimento: "Respondendo aos bailados
modernos que buscam nutriente nas civilizações distantes do burburinho parisiense, Vicente do
Rego Monteiro apresenta a estilização das civilizações indígenas brasileiras, especialmente a
marajoara". Sua brasilidade está muito presente, por exemplo, nas telas onde figuram coisas muito
nossas, como o futebol e o talento de Pelé.

O Boto, 1921 
Aquarela e Nanquim s/ papel 
35,4 x 26 cm 
O Nascimento de Mani, 1921 
Aquarela e nanquim s/ papel 
28 x 36,5 cm 

Retrato de Joaquim Rego Monteiro (Seu Irmão), 1920


óleo s/ tela, 42,5 x 32 cm 

Os Talheres, 1925
óleo s/tela, Paris

Descida na Lua, 1969


Saltimbancos, 1929
nanquim - 90 x 72 cm.
Trabalho de
Artística

(Mulher com Galinhas, 1925)

Vicente do Rego Monteiro

Ana Angélica Brandt – 3º A – nº 4

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