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BEM-ESTAR NA
VIDA PROFISSIONAL
Introdução
Vivemos hoje em dia numa corrida desenfreada contra o tempo, buscando satisfazer
necessidades que se confundem com a própria realização e a felicidade. Expostos
aos conflitos que decorrem da configuração de nosso tempo atual — sobretudo
estimulados pela lógica do consumo, da competição, da concorrência, do em-
presariamento de si e do individualismo —, muitas vezes perdemos o controle
de nossos sentimentos e emoções, tendo atitudes que nos distanciam cada vez
mais de uma condição de equilíbrio físico e emocional. Para que o ser humano
possa compreender o próprio conceito de felicidade e o que dá sentido à sua
existência, precisa desenvolver a capacidade de se autoconhecer, reservando
tempo e aplicando técnicas que propiciem a reflexão sobre si, sobre os modos
como reage aos fatores externos, como funciona em relação a suas experiências
passadas e suas projeções futuras. Pela prática desse autoconhecer, aliada à busca
do bem-estar e do equilíbrio de aspectos físicos e emocionais, o ser humano pode
se sentir pleno e, consequentemente, feliz.
Neste capítulo, você vai aprender sobre a importância da busca do autoconhe-
cimento e do equilíbrio físico e emocional para o ser humano, conhecendo práticas
que podem conduzir a isso e reconhecendo os aspectos de nosso cotidiano que
acabam por limitar esse processo.
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comunicação;
experiencial;
reflexão;
processo;
subjetivo;
percepção;
qualidade de vida;
autoestima;
autocontrole;
equilíbrio.
Desenvolvimento de autoconhecimento
e equilíbrio físico e emocional
As tentativas de relacionar o conhecimento com a busca por uma vida plena,
com sentido e virtuosa — como diriam os pensadores da filosofia clássica — e
ainda repleta de qualidade — como sugerido mais recentemente, como vimos
no tópico anterior — acompanham a própria evolução do ser humano na so-
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refletir;
conversar a respeito;
esperar para agir;
pedir feedback;
meditar;
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praticar o silêncio;
contemplar;
viver o ócio;
praticar atividades físicas;
comer alimentos saudáveis;
fazer uso das emoções positivas;
conviver.
Limitações ao autoconhecimento
e ao equilíbrio
Podemos admitir que a vida contemporânea apresenta inúmeros empeci-
lhos para que possamos buscar nosso autoconhecimento e o tão desejado
e necessário equilíbrio físico e emocional. Tais impedimentos se alinham
com os próprios hábitos cotidianos e com a racionalidade que pauta os
estilos de vida hoje existentes. Basta analisarmos alguns dos fatores que
compõem a racionalidade neoliberal, conforme apontam Harvey (2014)
e Dardot e Laval (2016), que se coloca hoje de forma predominante no
mundo, para percebermos como o individualismo, a competição, a trans-
formação de tudo (organizações e pessoas) em mercadorias e empresas,
a perda de liberdade em prol da segurança, a distorção do espaço-tempo
pelas tecnologias digitais e as pressões da sociedade de hiperconsumo
acabam produzindo obstáculos à nossa busca pelo autoconhecimento e
pelo equilíbrio.
Ao analisar as tendências de estilos de vida na sociedade contemporânea
que acabam se contrapondo à própria busca da felicidade, Barros Filho e
Karnal (2017, p. 77) citam os motes do nosso cotidiano:
respeito a nossas experiências passadas, que não deveriam servir para nos
restringir a viver intensamente a vida com medo de que algo que nos tenha
ferido, magoado ou entristecido possa voltar a ocorrer.
Para que possamos analisar os fatores que nos limitam na busca pelo
autoconhecimento e pelo equilíbrio físico e emocional, vejamos uma síntese
deles (ABREU, 2016; BARROS FILHO; KARNAL, 2017):
estresse;
ansiedade;
depressão;
deficiências;
crenças limitadoras;
pressão do tempo;
consumismo/dinheiro;
mundo do trabalho;
sedentarismo;
individualismo.
Partindo dessa lista — que não tem a pretensão de esgotar todos os pos-
síveis fatores que nos limitam ou nos impedem de desenvolvermos nosso au-
toconhecimento e que contribuem para nos privar, muitas vezes, do equilíbrio
em nossas vidas —, podemos perceber que ela inclui aspectos relacionados
à saúde mental, bem como a outras questões biológicas, sociais e culturais
que fazem parte fundamental da vida atual em sociedade.
Convém trazermos para nossa análise o conceito de saúde da OMS, pre-
sente em sua constituição datada de 1946, segundo o qual “A saúde é um
estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não consiste apenas
na ausência de doença ou de enfermidade” (OMS, 2020, documento on-line)
A partir desse entendimento amplo do conceito de saúde, a saúde mental
passa a ter maior importância na sociedade contemporânea, principalmente
pelo seu caráter interdisciplinar e relacionado à constituição de políticas
públicas. Amarante (2013, p. 16), em um esforço de análise acerca do conceito
de saúde mental, problematiza, destacando que ela:
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[...] não pode ser reduzida ao estudo e tratamento das doenças mentais.[...] Na comple-
xa rede de saberes que se entrecruzam na temática da saúde mental estão, além da
psiquiatria, a neurologia e as neurociências, a psicologia, a psicanálise [...], a fisiologia,
a filosofia, a antropologia, a filologia, a sociologia, a história, a geografia (esta última
nos forneceu, por exemplo, o conceito de território, de fundamental importância
para as políticas públicas). Mas, se estamos falando em história, em sujeitos, em
sociedades, em culturas, não seria equivocado excluir as manifestações religiosas,
ideológicas, éticas e morais das comunidades e povos que estamos lidando?
Isso nos leva a refletir sobre como se constituem os aspectos atuais que
se relacionam com a falta de saúde mental na população mundial, como
depressão, transtornos de ansiedade, bipolaridade, dependência química,
transtornos alimentares diversos, entre outros. Além disso, aspectos cultu-
rais específicos citados pelo autor também podem contribuir tanto para o
equilíbrio quanto para o desequilíbrio dos indivíduos ao se depararem com
conflitos diversos, incluindo violência, drogadição, preconceitos e discrimi-
nações de toda a ordem, etc.
Seligman (2008) agrega ao conceito de saúde mental os aspectos de
sua psicologia positiva, estabelecendo três variáveis independentes que
contribuem para a busca da saúde global positiva: subjetiva, biológica e
funcional. Assim, as ações voltadas para a saúde mental devem conside-
rar em suas iniciativas tanto os aspectos biológicos que se apresentam
na constituição física dos indivíduos quanto seu funcionamento geral,
bem como os seus aspectos subjetivos fortemente relacionados com a
forma como as emoções são percebidas e manifestadas. Por esse prisma,
possuir alguma deficiência (motora, neurológica ou global) pode limi-
tar os indivíduos, mas não impossibilita que busquem o equilíbrio e o
autoconhecimento.
Quando um indivíduo vive de forma equilibrada, sendo capaz de de-
senvolver suas habilidades e lidar com as tensões cotidianas que a vida
lhe impõe, sendo produtivo nos espaços em que participa e gerando
contribuições para as comunidades com que se envolve, dizemos então
que ele possui saúde mental. Acompanhe o exemplo a seguir e perceba
a correlação entre saúde mental e alguns aspectos de nossa vida coti-
diana, analisando como limitam as possibilidades de autoconhecimento
e equilíbrio das pessoas.
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Além disso, reforça a ideia do consumo o fato das pessoas serem julgadas
atualmente pelo que possuem, como sinal de serem alguém bem-sucedido na
vida, não é mesmo? Assim, quando não conseguem consumir e não alcançam
objetivos de consumo que gostariam, muitos sentem-se frustrados, infelizes
e desmotivados com sua trajetória.
Referências
ABREU, C. N. de. Psicologia do cotidiano: como vivemos, pensamos e nos relacionamos
hoje. Porto Alegre: Artmed, 2016. (E-book).
AMARANTE, P. Saúde mental e atenção psicossocial. 4. ed. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2013.
BARROS FILHO, C. de; KARNAL, L. Felicidade ou morte. Campinas, SP: Papirus 7 Mares, 2017.
DARDOT, P.; LAVAL, C. A nova razão do mundo: ensaio sobre a sociedade neoliberal.
São Paulo: Boitempo, 2016.
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