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Estado de Tensão nos Maciços

Terrosos.

Mecânica dos Solos I 2007/08 – DEC - FCTUC

Conceito de Tensão em Mecânica dos Solos


„ A avaliação aproximada e quantitativa do comportamento
mecânico de um solo exige uma abordagem mecânica
do problema, formulada através das tensões instaladas
nos maciços
i e das
d deformações
d f õ associadas.
i d

„ Considere-se um maciço terroso emerso em equilíbrio


estático sob a acção do seu peso próprio e de forças
aplicadas à superfície (figura do slide seguinte).

„ A origem do sistema de eixos cartesianos de referência


está situada à superfície, o eixo vertical é o eixo dos zz
com sentido positivo descendente, o eixo xx será
considerado no plano da figura e o eixo dos yy
perpendicular ao plano desta.

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Forças transmitidas através de uma secção genérica num
maciço terroso
Imagine-se uma secção
horizontal, S, na imediata
vizinhança de um ponto P

Fz
Nz

Tz

Tzy
Tzx

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„ Admita-se que a secção S tem dimensões (dx dy)


suficientemente pequenas para que seja legítimo
admitir que a força nela actuante se distribui
uniformemente.

„ Por outro lado, admita-se que as dimensões dessa


secção S são suficientemente grandes para que
sejam muito superiores ao diâmetro das partículas
do solo.

„ Suponha-se
Suponha se ainda que S faz pequeníssimos desvios
do seu plano médio de modo a não seccionar
nenhuma partícula, antes passando nos pontos de
contacto.

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„ Através da secção S uma parte do maciço transmite
á outra uma força, Fz, força essa que é transmitida
através dos contactos interpartículas.

„ Essa força, Fz, pode ser decomposta numa força


normal, Nz, e noutra tangencial, Tz, à secção S.

„ Por sua vez, a força tangencial, Tz, pode ser


d
decomposta em duas
d f
forças paralelas
l l aos eixos
i ox
e oy, respectivamente, Tzx e Tzy.

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„ No âmbito da Mecânica dos Solos, as tensões na


secção S serão definidas por:

 
·

 
·

 
·

 
·

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„ As tensões são obtidas dividindo as forças
aplicadas a uma dada secção pela área total desta,
a qual compreende os contactos entre partículas e
os poros.

„ Estudos mostram que a área dos contactos entre


partículas é muito pequena, representando em
regra menos de 1% da área de qualquer área
semelhante a S.

„ Sendo a área dos contactos muito pequena, então


as tensões nele instaladas são muito elevadas,
elevadas no
mínimo duas ordens de grandeza acima daquelas
que foram definidas.

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Princípio da Tensão Efectiva


„ Suponha-se que o maciço terroso considerado
anteriormente está submerso.

Pressão neutra,
Pressão na água dos
poros ou pressão
intersticial, u
N’z
U

N’z = Nz - U
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„ Nestas novas condições a secção S atravessa
contactos interpartículas e àgua, já que o solo, neste
caso está saturado.
„ Tendo em conta que os poros representam a quase
totalidade da área da secção, pode escrever-se que
através da água nos poros na secção S é transmitida
uma força U de valor:
· ·

„ Note-se que esta força é puramente normal porque, nos


fluidos as tensões em qualquer secção são puramente
normais,, daí designarem-se
g usualmente p
por p
pressões.
„ Assim, a parcela da força normal total transmitida
através dos contactos entre partículas será a força N’z
de valor:

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„ Dividindo ambos os membros da expressão anterior


pela área da secção S (dx.dy), obtém-se:

 
· · ·

que é equivalente a:
Pressão neutra
 
·
Tensão total
Tensão efectiva – representa
p a força
ç transmitida p
pelos
contactos entre partículas dividida pela área da secção

„ Assim:

que representa o Princípio da Tensão Efectiva


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Tipos de Tensões existentes em
maciços terrosos
„ Tensões virgens – existentes no maciço
independentemente de qualquer acção humana;
¾ Tensões de repouso – tensões associadas ao
peso próprio dos solos;

¾ Tensões tectónicas – tensões originadas pelas


forças tectónicas que se desenvolvem no
interior da crusta terrestre e que apenas
assumem importância
i tâ i nos maciços
i rochosos;
h

„ Tensões induzidas – associadas às acções impostas


pelas obras construídas pela acção humana.

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Estado de tensão em repouso


„ Estado de tensão num ponto – é o conjunto de todas
as tensões correspondentes a todos os elementos de
superfície
p que p
q passam p
por esse pponto ((no espaço
p ç 3D,
temos que conhecer as tensões actuantes em 3 facetas
⇒ 9 componentes; no plano 2D, basta conhecer as
tensões actuantes em 2 facetas ⇒ 4 componentes).

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„ Para conhecer o estado de tensão no ponto P
escolhem-se, em geral, as seguintes facetas:
„ uma horizontal, onde actua σv;
„ duas verticais quaisquer,
quaisquer perpendiculares entre si
si,
onde actuam σh1 e σh2.

„ A escolha destas facetas é justificada pelo facto de, no


caso de estarmos perante um maciço terroso de
superfície horizontal e não existirem sobrecargas
(acções exteriores) aplicadas à superfície,
superfície estas facetas
constituem-se como facetas principais.

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„ Nas facetas principais, as tensões tangenciais são


nulas, pelo que as tensões actuantes nessas facetas
são puramente normais.

„ As tensões que actuam nas facetas principais são


chamadas de tensões principais e as direcções
destas tensões são direcções principais de tensão.

„ Consideremos um maciço terroso homogéneo de


superfície horizontal, com peso volúmico, γ, constante
em profundidade e que a água freática se encontra em
repouso (condições hidrostáticas) com o nível freático
coincidente com a superfície horizontal.

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„ Tensões principais efectivas de repouso num maciço
de superfície horizontal

σ’v0

σ’h0
σ

σ’h0
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„ A tensão total vertical em P actua nas facetas


horizontais e vale:

0 ·

O índice “zero” é usado para simbolizar que a tensão é


exclusivamente devida ao peso próprio, ou seja, é uma
tensão de repouso.

„ Estando a água em condições hidrostáticas e o nível


freático à superfície do terreno, a pressão na água dos
poros em P vale:

0 ·

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„ A tensão efectiva vertical de repouso em P vale:

0 0 0 · · · ·  

„ Nas facetas verticais as tensões actuantes, logo


tensões horizontais de repouso, serão iguais entre si. O
seu cálculo não resulta de considerações puramente
gravíticas.

„ Coeficiente de impulso em repouso, K0 – é igual á


razão da tensão efectiva horizontal de repouso pela
tensão efectiva vertical de repouso no mesmo ponto:
0
0  
0

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„ Assim, as tensões horizontais efectiva e total no


estado de repouso são, respectivamente:
0 0 · 0 0 · ·

0 0 0 0 · · ·
„ Nos maciços terrosos de superfície horizontal são pois
iguais duas das tensões principais no estado de
repouso.

Caso 1 - quando K0 < 1:


0 1 0 1
;  
0 2 3 0 2 3

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Caso 2 - quando K0 > 1:
0 1 2 0 1 2
;  
0 3 0 3

Caso 3 - quando K0 = 1:
0 0 1 2 3 ; 0 0 1 2 3 

„ Nos casos 1 e 2 os estados de tensão (total e efectiva)


são simétricos em relação ao eixo dos zz, isto é, são
iguais em qualquer plano vertical contendo aquele eixo,
d i
designando-se
d por estados
t d ded tensão
t ã axissimétricos.
i i ét i

„ No caso 3 os estados de tensão (total e efectiva) são


designados por estados de tensão hidroestáticos ou
isotrópicos.
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„ Evolução em profundidade das tensões

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„ Circunferências de Mohr representativas dos estados
de tensão total e efectiva de repouso num ponto a 10 m
de profundidade.

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Coeficiente de impulso em repouso, K0

„ Depende essencialmente da história geológica do


maciço que determina a evolução das tensões por este
experimentadas e que é designada por história de
experimentadas,
tensões.

„ A sua avaliação é efectuada por meio de ensaios,


nomeadamente ensaios in situ, com base em
correlações empíricas com outros parâmetros de
mais simples determinação, ou com recurso a valores
já estimados para maciços com histórias de tensão
semelhantes (quando estas são particularmente simples
e bem conhecidas).

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Exercício 2
Considere o corte geológico representado na figura.

A
B
C+
C-
D

a) Desenhe os diagramas anotados da tensão vertical


efectiva e da tensão total horizontal.

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Ponto A:

σ A = 0 kPa
v0

u 0A = 0 kPa

σ ' A = σ A − u A = 0 kPa
v0 v0 0

σ ' A = K areia ⋅ σ ' A = 0 kPa


h0 0 v0

σ A = σ ' A +u0A = 0 kPa


h0 h0

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Ponto B:

σ B = 2 ⋅16 = 32 kPa
v0

u 0B = 0 kPa
kP

σ 'B = σ B − u B = 32 − 0 = 32 kPa
v0 v0 0

ou
σ 'B = 2 ⋅16 = 32 kPa
v0

σ 'B = K areia ⋅ σ 'B = 0,5 ⋅ 32 = 16 kPa


h0 0 v0

σ B = σ 'B +u0 = 16 + 0 = 16 kPa


h0 h0

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Pontos C+ e C-:
+ −
σ C = σ C = 2 ⋅16 + 2 ⋅19,5 = 71 kPa
v0 v0
+ −
u C0 = u C0 = 2 ⋅10 = 20 kPa
+ − + +
σ 'C = σ 'C = σ C − u C = 71 − 20 = 51 kPa
v0 v0 v0 0
ou
σ ' = σ ' = 2 ⋅16 + 2 ⋅ (19,5 − 10) = 51 kPa
+ −
C C
v0 v0
C+ +
σ' = K
h0 0
areia
⋅ σ 'Cv 0 = 0,5 ⋅ 51 = 25,5 kPa
− −
σ 'C = K arg ila ⋅ σ 'C = 0,5 ⋅ 51 = 25,5 kPa
h0 0 v0
kP
+ + +
σ C = σ 'C +u C = 25,5 + 20 = 45,5 kPa
h0 h0 0
− −
σ C − = σ 'C +u C = 25,5 + 20 = 45,5 kPa
h0 h0 0
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Ponto D:

σ D = 2 ⋅16 + 2 ⋅19,5 + 4 ⋅ 20 = 151 kPa


v0

u 0D = (2 + 4) ⋅10 = 60 kPa

σ 'D = σ D − u D = 151 − 60 = 91 kPa


v0 v0 0

ou
σ ' = 2 ⋅16 + 2 ⋅ (19,5 − 10) + 4 ⋅ (20 − 10) = 91 kPa
D
v0

σ 'D = K arg ila ⋅ σ 'D = 0,5 ⋅ 91 = 45,5 kPa


h0 0 v0

σ D = σ 'D +u D = 45,5 + 60 = 105,5 kPa


h0 h0 0

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σv0 u0 σ’v0 σ’h0 σh0


Ponto
(kPa) (kPa) (kPa) (kPa) (kPa)

A 0 0 0 0 0

B 32 0 32 16 16

C+ 71 20 51 25,5 45,5

C- 71 20 51 25,5 45,5

D 151 60 91 45,5 105,5

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b) Se o nível freático for rebaixado 2,0 m, a


compressibilidade do estrato argiloso aumenta ou diminui?
E a resistência ao corte? Justifique.

Após rebaixamento do nível, aumenta a resistência ao


corte do estrato argiloso e diminui a compressibilidade,
dado as tensões efectivas neste estrato sofrerem um
acréscimo.

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Tensões induzidas por forças exteriores

„ As estruturas de Engenharia Civil vão modificar o estado


de tensão de repouso de forma mais ou menos
significativa numa dada região do maciço subjacente e
(ou) envolvente.

„ A avaliação das tensões induzidas no maciço –


assimilado a um meio semi-indefinido limitado por um
plano horizontal envolve uma formulação matemática,
que envolve,
l em cadad caso, a escrita
it e a subsequente
b t
integração de um sistema formado pelas seguintes
equações diferenciais:

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¾ Equações de equilíbrio entre as tensões que


actuam em qualquer elemento de volume do
interior do meio (equações de equilíbrio indefinido)
ou na respectiva fronteira (equações de equilíbrio
na fronteira);

¾ Equações de compatibilidade, que impõem que


elementos contíguos antes da deformação
continuem a ser compatíveis após a deformação;

¾ Equações constitutivas, que traduzem as


relações entre as tensões e as deformações.

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Equações de equilíbrio de tensões
„ Considere-se um meio semi-indefinido limitado por um
plano horizontal, plano este que se encontra carregado
de determinada forma em determinados pontos.

„ Considere-se um
elemento de dimensões
infinitesimais dx, dy e dz
na imediata vizinhança
de um ponto do meio.

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„ Tensões actuantes em cada face do elemento, com os sentidos


positivos marcados segundo a convenção de Mecânica dos Solos:
„ Tensões normais são
positivas quando são
x de compressão;
y z „ τijj é a tensão de corte
actuando
paralelamente ao
eixo j sobre um plano
normal ao eixo i;
Exemplo: τxy actua
τxy paralelamente ao eixo
y sobre um plano
normal ao eixo x;
„ τij é positiva
i i quando
d é di
dirigida
i id no
sentido positivo do eixo j e actua num
plano cuja normal exterior aponta no
sentido negativo do eixo i, ou quando é
dirigida no sentido negativo do eixo j e
actua num plano cuja normal exterior
aponta no sentido positivo do eixo i.
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¾ As equações de equilíbrio indefinido aplicáveis ao
elemento expressam-se da seguinte forma:
⎧ ∂σ x ∂τ xy ∂τ xz
⎪ + + −X =0
⎪ ∂x ∂ y ∂ z

⎪ ∂σ y ∂τ xy ∂τ yz
⎨ + + −Y = 0
⎪ ∂y ∂ x ∂ z

⎪ ∂σ z ∂τ xz ∂τ yz
⎪ + + −Z =0
⎩ ∂z ∂x ∂y
em que X, Y e Z são as componentes das forças
mássicas, isto é, das forças por unidade de volume no
ponto em causa. No caso do exemplo da figura anterior
X = Y = 0 e Z = γ, sendo γ o peso volúmico.
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„ Estas equações têm de ser satisfeitas em todo o meio.

„ Para os elementos cuja face superior coincide com a


superfície superior, as equações de equilíbrio assumem
forma particular:
„ as tensões assumem um valor determinado,
coincidente com o carregamento instalado no
ponto em causa;
„ as tensões são nulas se nesse ponto a superfície
estiver descarregada.

™ Estas equações constituem as chamadas


condições-fronteira, próprias de cada problema
específico, e são indispensáveis para a integração
do sistema de equações.
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Equações de compatibilidade das deformações
¾ Sendo u, v e w as componentes do vector deslocamento de
um ponto genérico do meio, paralelas aos eixos dos xx, dos
yy e dos zz, respectivamente, as componentes da
deformação no ponto, no domínio das pequenas
d f
deformações,
õ são
ã definidas
d fi id da
d seguinte
i t forma:
f

⎧ ∂u
⎪ε x = ∂x


⎪ ∂v
⎨ε y =
Extensões ou
⎪ ∂y deformações lineares

⎪ ∂w
⎪⎩ε z = ∂z

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⎧ ∂u ∂v
⎪γ = +
∂y ∂x
xy


⎪ ∂u ∂w
⎨γ xz = + Distorções ou
⎪ ∂ z ∂x d f
deformações
õ por corte
t

⎪ ∂v ∂w
⎪γ = +
∂ ∂y
yz
⎩ z
„ O campo das deformações não pode ser qualquer. Os
elementos vizinhos têm de se deformar mantendo-se
compatíveis isto é,
compatíveis, é não se interpenetrando nem abrindo
espaços entre si.
„ As condições que as deformações têm de satisfazer
para o efeito são designadas por equações de
compatibilidade e são as seguintes:
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⎧ ∂ 2ε x ∂ 2ε y ∂ 2γ xy
⎪ 2 + 2 =
⎪ ∂y ∂x ∂x ∂y
⎪ ∂ ε y ∂ ε z ∂ 2γ yz
2 2

⎪ 2 + 2 =
⎪ ∂2z ∂y ∂y ∂z
⎪ ∂ ε z ∂ ε x ∂ γ xz
2 2

⎪ ∂x 2 + =
⎪ ∂z 2 ∂x ∂z
⎨ ∂ 2ε ∂ ⎛ ∂γ yz ∂γ xz ∂γ xy ⎞
⎪2 x
= ⎜⎜ − + + ⎟
⎪ ∂y ∂z ∂x ⎝ ∂x ∂y ∂z ⎟⎠
⎪ ∂ 2ε
⎪2 ∂ ⎛ ∂γ yz ∂γ xz ∂γ xy ⎞
= ⎜⎜ − + ⎟
y

⎪ ∂x ∂z ∂y ⎝ ∂x ∂y ∂z ⎟⎠
⎪ ∂ 2ε ∂ ⎛ ∂γ yz ∂γ xz ∂γ xy ⎞
⎪2 z
= ⎜⎜ + − ⎟
⎪⎩ ∂x ∂y ∂z ⎝ ∂x ∂y ∂z ⎟⎠
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Leis constitutivas
„ As equações de equilíbrio e de compatibilidade não são
suficientes para a resolução do problema. Este só se
torna determinado entrando em consideração com as
relações ou leis constitutivas do material,
material isto é,
é com
as equações que relacionam para o material em causa
as tensões e as deformações.

„ As leis constitutivas pretendem traduzir por via


matemática a resposta física dos materiais observada
em ensaios que envolvem o carregamento estático ou
dinâmico sobre elementos de dimensão ou escala
reduzida.
„ Esta resposta é muitas vezes classificada de acordo
com os chamados modelos de comportamento ou
modelos reológicos.
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„ Um material elástico é aquele que exibe reversibilidade
de deformações, isto é, as deformações experimentadas
sob a acção de forças ou tensões aplicadas ao material
anulam-se quando estas são retiradas.

Elástico linear – há Elástico não linear – não


proporcionalidade entre há proporcionalidade entre
tensões e deformações tensões e deformações
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„ Um material é classificado como elastoplástico


quando na descarga, isto é, quando as acções
exteriores são removidas, apenas parte das
deformações são recuperadas. As deformações
remanescentes designam-se por deformações plásticas,
enquanto as que foram recuperadas se chamam
deformações elásticas.

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„ Um material elastoplástico perfeito é aquele que até
um dado valor da tensão, designado por tensão de
cedência, apresenta um comportamento elástico,
passando a partir daí a sofrer deformações puramente
plásticas sob uma tensão constante igual à tensão de
cedência.
cedência

Elástico–perfeitamente Elástico não linear–


plástico: ramo elástico linear perfeitamente plástico: ramo
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elástico não linear

„ Um material em que até ser atingida a tensão de


cedência são nulas as deformações designa-se por
rígido-plástico.

„ Em certos materiais de comportamento elastoplástico,


após
ó ser atingida
ti id a tensão
t ã de
d cedência,
dê i esta t não
ã se
mantém constante, podendo decrescer ou, pelo
contrário, aumentar. Esses comportamentos são
designados, respectivamente, por elastoplástico com
amolecimento e elastoplástico com endurecimento.
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σ1 - σ3
elástico Comportamento elasto-plástico de um solo
plástico

B C

com com
endurecimento perfeito amolecimento
A

εa

εv

„ Quando o comportamento mecânico de um dado material


depende do tempo diz-se que ele tem um comportamento
viscoso. Há pois necessidade de recorrer a modelos
visco-elásticos ou visco-elastoplásticos.
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Formulação do problema bidimensional do


cálculo das tensões induzidas no âmbito da
teoria da elasticidade linear

¾ Em problemas
E bl bidi
bidimensionais
i i as equaçõesõ d
de
equilíbrio indefinido reduzem-se ás seguintes:

⎧ ∂σ x ∂τ xz
⎪ ∂x + ∂z − X = 0

⎨ (1)
⎪ ∂σ z ∂τ xz
⎪ ∂z + ∂x − Z = 0

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¾ Sendo u e w as componentes do vector deslocamento de um
ponto genérico do meio elástico bidimensional quando este
sofre deformação, as componentes do estado de deformação
são agora apenas as três seguintes:
⎧ ∂u
⎪ε x = ∂x


⎪ ∂w
⎨ε z =
⎪ ∂z

⎪ ∂u ∂w
γ xz = +
⎩⎪ ∂z ∂x
¾ A relação a que as deformações
f devem obedecer, chamada
de equação de compatibilidade, é a seguinte:
⎧ ∂ 2ε x ∂ 2ε z ∂ 2γ xz
⎨ 2 + 2 = (2)
⎩ ∂z ∂x ∂x ∂z
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¾ Às equações (1) e (2) junta-se, numa abordagem de acordo


com a teoria da elasticidade, a lei de Hooke, que relaciona
as três componentes do estado de tensão com as três
componentes do estado de deformação.
¾ De entre os equilíbrios bidimensionais aqueles que assumem
maior interesse prático em Mecânica dos Solos são os
estados planos de deformação ou estados de deformação
plana.
™ Exemplo: aterro de dimensão infinita na direcção dos yy.
™ A extensão εy em qualquer ponto do interior da massa
terrosa é igual a zero.
distrib ição das tensões σy é igual
™ A distribuição ig al em qualquer
q alq er
plano paralelo a oxz, isto é, independente de y.
™ Assim, σx, σz e τxz são variáveis independentes, pelo
que se justifica dizer que se está perante um
problema plano ou bidimensional.
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24
Carregamento de um maciço terroso induzindo um
equilíbrio plano de deformação

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¾ Para um estado plano de deformação num material elástico e


isotrópico de constantes elásticas E e ν, respectivamente o
módulo de elasticidade ou módulo de Young e o
coeficiente de Poisson, a expressão da lei de Hooke
generalizada toma a forma:
g

⎡ ν ⎤
⎢ 1 1 −ν
0 ⎥
⎧σ x ⎫ ⎥⎧ ε x ⎫
⎪ ⎪ E ⋅ (1 −ν ) ⎢ ν ⎪ ⎪
⎨σ z ⎬ = ⎢ 1 0 ⎥⎨ ε z ⎬ (3)
⎪τ ⎪ (1 + ν )(1 − 2ν ) ⎢1 −ν ⎥⎪ ⎪
⎩ xz ⎭ ⎢ 1 − 2ν ⎥ ⎩γ xz ⎭
⎢ 0 0
2(1 −ν )⎥⎦

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¾ Da equação (3) pode deduzir-se que:

⎧ 1
[( )
⎪ε x = E 1 −ν σ x −ν (1 +ν )σ z
2
]
⎪⎪
⎨ε z =
1
E
[( )
1 −ν 2 σ z −ν (1 +ν )σ x ] (4)

⎪ 2 ⋅ (1 +ν )
γ xz = τ xz
⎪⎩ E
¾ Substituindo (4) em (2), obtém-se:

∂ 2τ xz
∂2
∂z 2
[(
1 − ν 2
σ)x − ν (1 + ν )σ z + ]
∂2
∂x 2
1 −[(
ν 2
σ)z − ν (1 + ν )σ x]= 2(1 + ν )
∂x ∂z

(5)
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¾ Por outro lado, diferenciando a primeira das equações (1)


em ordem a x e a segunda em ordem a z e somando-as,
obtém-se:

∂ 2τ xz ∂X ∂Z ∂ 2σ x ∂ 2σ z
2 = + − − 2 (6)
∂x ∂z ∂x ∂z ∂x 2 ∂z

¾ Combinando (5) com (6), obtém-se, finalmente:

⎛ ∂2 ∂2 ⎞ 1 ⎛ ∂X ∂Z ⎞
⎜⎜ 2 + 2 ⎟⎟(σ x + σ z ) = ⎜ + ⎟ (7)
⎝ ∂x ∂z ⎠ 1 −ν ⎝ ∂x ∂z ⎠

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26
¾ As equações de equilíbrio (1), juntamente com a
equação de compatibilidade (7) – ou outra deduzida de
forma análoga para condições que não as de
deformação plana – constituem um sistema de
equações em σx, σz e τxz cuja integração fornece a
di t ib i ã
distribuição completa
l t d
das t
tensões
õ no problema
bl
bidimensional.
¾ Esta integração tem que atender às condições de
fronteira específicas de cada caso, isto é, ao
carregamento aplicado à superfície, em particular, à
forma e dimensões da área carregada e à
distribuição do carregamento nessa mesma área.
área

¾ Para os casos mais simples de carregamento (que


aliás são os de maior interesse prático) são
conhecidas soluções analíticas.
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„ Problema de Boussinesq: tensões num meio elástico,


isotrópico, homogéneo e semi-indefinido induzidas por
uma carga vertical centrada á superfície.

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27
„ Problema de Flamant: tensões num meio elástico,
isotrópico, homogéneo e semi-indefinido induzidas por
uma carga vertical, linear e uniforme na superfície.

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„ Faixa de comprimento infinito carregada


uniformemente

¾ O equilíbrio gerado por um carregamento deste tipo


corresponde a um estado plano de deformação.
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28
¾ Da figura anterior podem-se tirar alguns comentários:
9 as tensões são simétricas em relação ao eixo da
área carregada;

9 as tensões são máximas no eixo e tendem a


reduzir-se com o afastamento deste;

9 as tensões reduzem-se com o aumento da


profundidade.

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29
x/b z/b σz/q σx/q τ zx/q β τ max/q σ1/q σ3 /q
0,0 0 1,0000 1,0000 0 0 0 1,0000 1,0000
0,5 0,9594 0,4498 0 0 0,2548 0,9594 0,4498
1,0 0,8183 0,1817 0 0 0,3183 0,8183 0,1817
15
1,5 0 6678
0,6678 0 0803
0,0803 0 0 0 2937
0,2937 0 6678
0,6678 0 0803
0,0803
2,0 0,5508 0,0410 0 0 0,2546 0,5508 0,0410
2,5 0,4617 0,0228 0 0 0,2195 0,4617 0,0228
3,0 0,3954 0,0138 0 0 0,1908 0,3954 0,0138
3,5 0,3457 0,0091 0 0 0,1683 0,3457 0,0091
4,0 0,3050 0,0061 0 0 0,1499 0,3050 0,0061
0,5 0 1,0000 1,0000 0 0 0 1,0000 1,0000
0,25 0,9787 0,6214 0,0522 8º35’ 0,1871 0,9871 0,6129
0,5 0,9028 0,3920 0,1274 13º17’ 0,2848 0,9323 0,3629
10
1,0 0 7352
0,7352 0 1863
0,1863 0 1590
0,1590 14º52’
14º52 0 3158
0,3158 0 7763
0,7763 0 1446
0,1446
1,5 0,6078 0,0994 0,1275 13º18’ 0,2847 0,6370 0,0677
2,0 0,5107 0,0542 0,0959 11º25’ 0,2470 0,5298 0,0357
2,5 0,4372 0,0334 0,0721 9º49’ 0,2143 0,4693 0,0206

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¾ Uma forma particularmente sugestiva de representar as


tensões incrementais é através dos chamados bolbos
de tensões:

9 Cada uma das curvas


representadas
representa o lugar
geométrico dos pontos
em que a tensão
incremental vale uma
determinada fracção
da pressão aplicada à
superfície.

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30
„ Pressão sobre uma faixa de comprimento infinito
com distribuição transversal triangular

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„ Pressão uniforme aplicada numa área triangular

z / ab K 1

0,0 1,000
0,4 0,949
0,8 0,756
1,2 0,547
1,6 0,390
2,0 0,285
2,4 0,214
2,8 0,165
3,2 0,130
3,6 0,106
4,0 0,087
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31
„ Pressão uniforme aplicada numa área rectangular

Valores
B /L
de K1
Z/L
0 0,1 0,2 1/ 3 0,4 0,5 2/3 1 1,5 2 2,5 3 5 10 8
0,0 0,000 0,250 0,250 0,250 0,250 0,250 0,250 0,250 0,250 0,250 0,250 0,250 0,250 0,250 0,250
0,2 0,000 0,137 0,204 0,234 0,240 0,244 0,247 0,249 0,249 0,249 0,249 0,249 0,249 0,249 0,249
0,4 0,000 0,076 0,136 0,187 0,202 0,218 0,231 0,240 0,243 0,244 0,244 0,244 0,244 0,244 0,244
0,5 0,000 0,061 0,113 0,164 0,181 0,200 0,218 0,232 0,238 0,239 0,240 0,240 0,240 0,240 0,240
0,6 0,000 0,051 0,096 0,143 0,161 0,182 0,204 0,223 0,231 0,233 0,234 0,234 0,234 0,234 0,234
0,8 0,000 0,037 0,071 0,111 0,127 0,148 0,173 0,200 0,214 0,218 0,219 0,220 0,220 0,220 0,220
1,0 0,000 0,028 0,055 0,087 0,101 0,120 0,145 0,175 0,194 0,200 0,202 0,203 0,204 0,205 0,205
1,2 0,000 0,022 0,043 0,069 0,081 0,098 0,121 0,152 0,173 0,182 0,185 0,187 0,189 0,189 0,189
1,4 0,000 0,018 0,035 0,056 0,066 0,080 0,101 0,131 0,154 0,164 0,169 0,171 0,174 0,174 0,174
1,5 0,000 0,016 0,031 0,051 0,060 0,073 0,092 0,121 0,145 0,156 0,161 0,164 0,166 0,167 0,167
1,6 0,000 0,014 0,028 0,046 0,055 0,067 0,085 0,112 0,136 0,148 0,154 0,157 0,160 0,160 0,160
1,8 0,000 0,012 0,024 0,039 0,046 0,056 0,072 0,097 0,121 0,133 0,140 0,143 0,147 0,148 0,148
2,0 0,000 0,010 0,020 0,033 0,039 0,048 0,061 0,084 0,107 0,120 0,127 0,131 0,136 0,137 0,137

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Combinação dos Estados de Tensão de


Repouso e Incremental
„ As soluções da teoria da elasticidade para as tensões
induzidas no maciçoç p por cargas
g exteriores são,, na
terminologia da Mecânica dos Solos, tensões totais.

„ Para calcular o novo estado de tensão total haverá pois


que proceder á combinação dos dois estados de tensão:
o estado de repouso e o estado de tensão incremental.

„ A forma como as tensões incrementais são repartidas


pelas duas fases do solo, isto é, pelo esqueleto sólido e
pela água dos poros, é assunto que será tratado mais á
frente.

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Exercício 4
De acordo com o esquematizado na figura, duas cargas
verticais lineares e uniformes são aplicadas à superfície de
um terreno. Admitindo que o terreno pode ser assimilado a
um meios semi
semi-indefinido
indefinido, elástico,
elástico homogéneo e isotrópico,
isotrópico
calcule o acréscimo de tensão vertical no ponto A.

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„ Problema de Flamant:

R = x2 + z2

x
A ΔQs 1 = Q1
ΔQs 2 = Q2
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Carga Q1 (Ponto A):
⎧ x = 7,0 m
⎪ 2 ⋅ ΔQs 1 ⋅ z 3 2 ⋅ 300 ⋅ 43
⎨ z = 4,0 m Δσ z 1 =
A
= = 2,89 kPa
⎪ R = 7 2 + 4 2 = 65 m

π ⋅ R4 ( )
π ⋅ 65
4

Carga Q2 (Ponto A):


⎧ x = 2,0 m
⎪ 2 ⋅ ΔQs 2 ⋅ z 3 2 ⋅150 ⋅ 43
⎨ z = 4,0 m Δσ z 2 =A
= = 15,26 kPa
⎪ R = 2 2 + 4 2 = 20 m

π ⋅ R4 ( )
π ⋅ 20
4

Δσ zA = Δσ zA1 + Δσ zA2 = 2,89 + 15,26 = 18,15 kPa

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