EDITORIAL

SUMÁRIO
TEMPO
OUTUBRO / NOVEMBRO 2022/06

DE GRAÇA
E RENOVAÇÃO

N
esta edição número 6, de outubro/novembro Campanha Missionária
2022. Sereis minhas teste-
destacamos vários assuntos, com especial munhas (At 1,8)
atenção à Campanha Missionária 2022: "A Foto: Freepik.com
Igreja é missão", com o lema "Sereis minhas
testemunhas" (At 1,8).
A missionária da Consolata, Ir. Anair Voltolini nos  JUVENTUDE----------------------------------------------03
contempla com dois artigos nessa edição, um sobre a As surpresas da missão
Jennifer Katherine Palomeque Filigrana
importância da Bíblia entre o povo Macua-Xirima, em
Moçambique e outro sobre a morte e a interpretação  ATUALIDADE----------------------------------------------04
A Bíblia entre o povo Macua-Xirima
dela para esse mesmo povo. Anair Voltolini
Dentro do contexto do mês de novembro, José Alla-  PRÓ-VOCAÇÕES----------------------------------------06
mano destaca a importância dos santos em nossa Missão Jovem 2022
Josky Menga e Ellen Oliveira de Jesus
vida. Também no encarte central, temos o envio da
 VOLTA AO MUNDO-------------------------------------08
missionária Francesca para a Mongólia, na celebração Desesperança em relação à Conferência do Clima
dos cem anos da morte do padre Camisassa, na Itália, Heitor Scalambrini Costa
pelas mãos do bispo Giorgio Marengo, imc.  ESPIRITUALIDADE----------------------------------------10
A Igreja é missão
O padre Josky Menga destaca a importância do 18º. Redação, com informações das POM
Congresso Eucarístico Nacional (CEN), ocorrido na  TESTEMUNHO-------------------------------------------12
arquidiocese de Recife e Olinda, durante o mês de Em escuta e acolhimento
Adanech Mithiku Shawuo
novembro. Mais de 1200 padres e 180 bispos de todo o
Brasil participaram do CEN. O Congresso reafirma que  FORMAÇÃO MISSIONÁRIA----------------------------14
A morte não é a última palavra…
a Eucaristia é o centro da fé católica, já que é presença Anair Voltolini
real de Cristo no meio da humanidade.  FÉ EM AÇÃO---------------------------------------------16
O padre Josky dá notícias sobre um encontro com a Campanha da Fraternidade na prática
Rodrigo Alves Piatezzi
juventude na Bahia, destacando a sede de Deus dos
jovens, após dois anos de pandemia.  FAMÍLIA CONSOLATA-----------------------------------17
Festa de todos os santos
A triste notícia dessa edição vem da Bahia também, Redação
o falecimento do padre James Irungu, que estava  MISSÃO EM CONTEXTO-------------------------------21
trabalhando em Jaguarari, 35 anos de idade, quatro 125 anos a serviço da educação
Redação
de sacerdócio. Padre James foi tragado pelas águas
 MISSÕES RESPONDE-----------------------------------22
do Rio São Francisco! Imaturidade grave: causa de casamento nulo
O professor Heitor Scalambrini mostra desesperança Edson Luiz Sampel
em relação à Conferência das Nações Unidas sobre  DESTAQUE------------------------------------------------24
Sereis minhas testemunhas (At 1, 8)
o Clima (COP 27), já que as emissões que causam o Redação
efeito estufa e as mudanças climáticas não estão sendo  CIDADANIA-----------------------------------------------26
reduzidas como deveriam, porque os países que mais "A Carta" Laudato Si
Fátima Bazeggio
as produzem não querem abrir mão de seus lucros. O
presidente brasileiro eleito, Luiz Inácio Lula da Silva foi  BÍBLIA------------------------------------------------------27
Unidade e diversidade
convidado para participar da COP 27 e em seu discurso Mauro Negro
afirmou que o Brasil voltou a pertencer ao mundo!  ESPECIAL--------------------------------------------------28
Rezemos para que realmente em 2023 possamos ter Tempo de graça e renovação da fé
Josky Menga
mais esperança e paz!
Boa leitura!   VOLTA AO BRASIL-----------------------------------------30
Missionário jovem volta ao Pai
Paulo Mzé

2 OUTUBRO / NOVEMBRO 2022 MISSÕES

 JUVENTUDE

As surpresas da missão
Deixar-se guiar por Deus e fazer a
sua vontade. Leiga venezuelana dá
testemunho de missão entre o povo
Macuxi, em Roraima.
de Jennifer Katherine Palomeque Filigrana
Muitas vezes minha oração gira em torno de pedir
a Deus que seu Espírito me guie sem fronteiras e me
leve além das minhas fronteiras pessoais, meus limi-
tes, para ir onde Ele quiser e onde precisar de mim.
Hoje posso dizer que se Deus ouve a minha oração,
está sempre me desafiando e me levando a lugares e
espaços que eu não imaginava ou com os quais sonhava

C
ada dia a missão ensina coisas totalmente
novas e diferentes, dá novas oportunidades. A
missão coloca a pessoa em cenários incríveis,
com gente maravilhosa que enche o coração
do missionário.
Ao final de uma Eucaristia onde fui acolhida pela
comunidade indígena Maturuca, na Terra Indígena
Raposa Serra do Sol, em Roraima, recebi um convite
do coordenador da escola José Allamano, para dar uma
aula de espanhol para seus alunos. Realmente foi um
sonho se tornando realidade, foi
muito emocionante estar ali com-
há muito tempo.
Afirmo àquelas pessoas que, como eu, sonharam
com a missão Ad Gentes, que não desistam, que con-
tinuem sonhando em um dia ir além de suas próprias
fronteiras, que doem não apenas sua profissão, que é
um complemento, você vai entregar o que você é, o que
você construiu na sua jornada como pessoa, então con-
tinue fazendo o seu caminho, continue se esforçando e
sendo melhor a cada dia. E para as pessoas que já estão
lá fora, que atravessaram rios, mares e terras diversas,
que deixaram tudo e foram além de suas fronteiras

ARQUIVO PESSOAL
partilhando um pouco da minha
língua. Por muito tempo sonhei
com isso, fazer a missão Ad Gentes,
estar fora do meu país aprendendo
sobre novas culturas e línguas,
conhecendo povos diferentes e
pessoas maravilhosas, hoje posso
reafirmar mais uma vez que esse
sonho se tornou realidade quando
cheguei ao Brasil.
Vim ao país para trabalhar com
imigração, para acompanhar o povo
migrante venezuelano oferecendo
consolo, mas Deus me colocou em
outro lugar que não passava pela
minha cabeça, que eu nem ima-
ginava. Primeiro, a oportunidade
de conhecer o povo Macuxi, um
povo indígena cheio de virtudes,
grandeza, nobreza e infinitas características que os fazendo Missão, digo apenas, encorajamento, força,
representam, segundo, a oportunidade de aprender deixem-se surpreender por Deus, maravilhem-se com
um pouco sobre o que sou como profissional e pessoa. as coisas mais simples, não percam a humildade e a
Sempre me lembro de dizer que minha profissão capacidade de se maravilhar, aproveitem, sorriam e
está a serviço da missão, mas quando você percebe aprendam todos os dias. Que Maria Consolata con-
que não é só a sua profissão, é um complemento. tinue nos consolando e nos ensinando a consolar. 
Aqui não é só a profissão, é também sua vida, seu
aprendizado, suas experiências, é colocar tudo que Jennifer Palomeque Filigrana, LMC, é da Equipe Itinerante dos Missionários e das
você tem a serviço da missão. Missionárias da Consolata, Roraima, Brasil.

OUTUBRO / NOVEMBRO 2022 MISSÕES 3

 ATUALIDADE

A Bíblia entre
o povo Macua-Xirima

FOTOS: ARQUIVO PESSOAL

Carta de Amor
de Deus à
humanidade em
todas as culturas.
de Anair Voltolini

A
Bíbia revela o plano de
Deus para o mundo; abre
vias para que todos possa-
mos crescer na fé e levar
uma vida segundo o proje-
to de Deus. Ela é a preciosa Carta
de Amor de Deus à humanidade.
A Palavra de Deus nos mostra o
rosto de Deus e nos revela seu
mistério. Ela é a história do povo
que caminhou com seu Deus e de
Deus que caminha com seu povo.
"O mandamento que hoje te
dou não está acima de tuas forças,
nem fora de teu alcance. Ele não
está nos céus, para que digas:
‘Quem subirá ao céu para no-lo
buscar e no-lo fazer ouvir para que
o observemos?’. Não está tampou-
co do outro lado do mar, para que presente em Moçambique. Um casas. Não. Esta Palavra é vida, é
digas: ‘Quem atravessará o mar texto que ressoa no silêncio da luz no caminho, é manancial de
para no-lo buscar e no-lo fazer alma de quem o lê ou o escuta, esperança, é a Verdade que está
ouvir para que o observemos?’. como um poema sagrado sussur- dentro de nós e que precisamos
Mas essa palavra está perto de rado ao coração. simplesmente acolher, escutar e
ti, na tua boca e no teu coração, “O mandamento que hoje te abraçar para construir com ela a
para que a possas cumprir" (Dt dou…” Palavra que jorra do co- felicidade e percorrer à sua luz o
30,11-14). ração de Deus num hoje eterno, caminho do discipulado do Mes-
Considero profundamente não está distante, inacessível; tre Jesus.
inspirador este texto do livro do não é uma voz que simplesmente
Deuteronômio para uma rápida ecoou no passado; não é uma Acesso progressivo
abordagem à Bíblia, situando-a coletânea de mensagens e ensi- Em todo o projeto de missão e
numa realidade concreta, neste namentos para conventuais; não é de evangelização entre os povos
caso, na visão do Povo Macua, um simples ornamento em nossas e culturas, a Bíblia Sagrada é o

4 OUTUBRO / NOVEMBRO 2022 MISSÕES

alicerce sobre o qual se formam os
corações cristãos, as comunidades
e a Igreja de Jesus Cristo.
Tentando situar este tema entre
o povo Macua-Xirima, pode-se
afirmar que a espiritualidade e a
religiosidade tradicional, cultural
da pessoa Macua-Xirima é uma
porta-aberta à mensagem da Sa-
grada Escritura.
A sociedade Macua em geral
é caracterizada por uma religiosi-
dade e uma espiritualidade com
traços profundamente suscetíveis
aos valores cristãos, que se ex-
pressa com uma teofania e raízes
lógicas paradigmáticas a uma visão
teológica cristã. Isto facilita gran-
demente um processo de incultu-
ração do Evangelho, da mensagem
bíblica em geral. A tradição Macua
como que abraça o Livro Sagrado,
o acolhe e faz seu enquanto não
contradiz os fundamentos religio-
sos culturais do povo. “Quem tem
a Bíblia alegra-se!” – diz o Macua
(G. FRIZZI, Biosofia e Biosfera Xi-
rima, p. 1078).
O acesso do Macua-Xirima à
Bíblia, enquanto texto concreto
nas próprias mãos, aconteceu
progressivamente e por muitos
anos foi privilégio de poucos que
conheciam bem a língua portu-
guesa, pois a Biblia só existia em
português. A Palavra de Deus e o
processo de evangelização chegava
ao coração através da catequese
e da liturgia.
Foi no ano 2000 – Ano Santo
Jubilar da Igreja Católica – que a
Bíblia chegou nas mãos do Macua
em língua Macua-Xirima, como
uma nova primavera, uma renova-
ção cristã. Isto aconteceu graças ao
trabalho incansável e abnegado do
padre Giuseppe Frizzi, missionário
da Consolata, que com esmero
e paixão trabalhou por anos na
tradução da mesma. Assim, com
grande alegria pode-se proclamar:
“Essa palavra está perto de ti, na
tua boca e no teu coração, para
que a possas cumprir" (Dt 30,14).
A tradução da Bíblia foi um em-
preendimento não indiferente. O
missionário constituiu uma equipe
de colaboradores competentes na
língua e na cultura do seu povo
para realizar este trabalho que se
prolongou por alguns anos. Uma
tradução direta da Bíblia original,
do grego. O texto é enriquecido
por ilustrações – desenhos de
artistas locais. Mais, em geral, os
capítulos são introduzidos por um
ou mais provérbios ou expressões
próprias do povo, que sintonizam
com o tema do capítulo.
Todas as pessoas e as famílias
que conseguem, procuram adqui-
rir o texto sagrado, conhecê-lo e
transmiti-lo às novas gerações.
Logo após a publicação, foram
acontecendo diversos cursos para
animadores, agentes das diver-
sas pastorais para que pudessem
acolher e entender, assimilar e
transformar a Palavra de Deus
em experiência de vida; para que
sempre mais Ela se tornasse um
instrumento de formação numa
escola de verdadeiros discípulos
missionários de Jesus e amigos de
Deus. Como bem escreve o papa
Francisco na sua Carta Apostólica
Aperuit Illis (“Abriu-lhes”…):
“A Bíblia não pode ser patri-
mônio só de alguns e, menos ain-
da, uma coletânea de livros para
poucos privilegiados. Pertence,
antes de mais nada, ao povo con-
vocado para a escutar e se reco-
nhecer nesta Palavra. […] A Bíblia
é o livro do povo do Senhor que,
escutando-a, passa da dispersão
e divisão à unidade. A Palavra de
Deus une os crentes e faz deles
um só povo” (n. 4). “Quem se ali-
menta dia a dia da Palavra de Deus
torna-se, como Jesus, contempo-
râneo das pessoas que encontra;
não se sente tentado a cair em
nostalgias estéreis do passado,
nem em utopias desencarnadas
relativas ao futuro” (n. 12). “A
Palavra de Deus é capaz de abrir
os nossos olhos, permitindo-nos
sair do individualismo que leva à
asfixia e à esterilidade enquanto
abre a estrada da partilha e da
solidariedade” (n. 13).
O Espírito de Deus presente
em todos os povos e em todas
as culturas, é o protagonista da
evangelização; fecunda constante-
mente a Igreja chamada a viver e
a anunciar a Palavra de Deus até
os confins da terra. Na verdade,
“quando uma comunidade acolhe
o anúncio da Salvação, o Espírito
Santo fecunda a sua cultura com
a força transformadora do Evan-
gelho” (Evangelii Gaudium, 116).
O cristão Macua fiel à mensagem
da Sagrada Escritura é sempre
mais consciente da sua vocação
missionária na Igreja. 
Anair Voltolini, MC, é missionária da Consolata junto
ao povo Macua, Moçambique.
OUTUBRO / NOVEMBRO 2022 MISSÕES 5
 PRÓ-VOCAÇÕES
Missão Jovem 2022
Fim da Missão,
início da esperança
para o futuro.
de Josky Menga e Ellen Oliveira de Jesus
M
ês de outubro, do Rosá-
rio, missionário. Entre os
dias 13 e 16 de outubro
ocorreu a Missão Jovem
2022 na cidade de Ja-
guarari, BA. Depois de três anos
sem a realização desse evento de
forma presencial, Jovens Missioná-
rios da Consolata (JMC) de Monte
Santo, Feira de Santana e Jaguarari
e outros jovens das comunidades
se reuniram para um evento do
grupo JMC da Bahia para vivenciar
a experiência da Missão. Neste ano
e mês de outubro, a Igreja nos faz
uma provocação para refletir sobre
o tema “A Igreja é Missão” com o
lema “Sereis Minhas Testemunhas”
(At 1, 8).
FOTOS: ARQUIVO PESSOAL
6 OUTUBRO / NOVEMBRO 2022 MISSÕES
Ao longo desses dias foram
realizados momentos de oração,
partilhas entre os jovens, dinâmi-
cas, luau, celebração eucarística,
visitas nas famílias e aos doentes
nas diversas comunidades, divididas
pelos núcleos de Macambira, Sítio
do Meio e sede da Paróquia São
João Batista.
Como sempre, a Missão é um
lugar oportuno para anunciar Cris-
to Jesus, evangelizar, consolar, e
também sermos evangelizados e
consolados, cada família visitada
tem uma história única. Apesar das
dores e sofrimentos, percebemos
que as pessoas experimentam ale-
grias, consolações e esperança de
viver dias melhores.
Larissa, coordenadora do grupo
JMC de Monte Santo assim deu seu
testemunho: “Referente à Missão,
a vivência missionária é sempre
desafiadora, no entanto foi uma
experiência muito marcante. Somos
chamados a olhar aqueles a quem
encontramos como outro Cristo.
Cada encontro é único e traz con-
sigo um mistério, está ali uma alma
diante de nós, por vezes carente do
amor de Deus e necessitando de
uma palavra confortante, em outras
tão cheia desse amor que vem nos
ajudar transbordar e é essa troca
que embeleza ainda mais esse en-
contro. Com certeza encontramos
muitas dificuldades, mas nenhuma
supera o que presenciei, em cada
família, a alegria, as partilhas, a
docilidade em nos acolher, ou não,
que faz parte e que não é menos
importante, e quando olho com
detalhe vejo quanta riqueza existe
no espaço missionário, que não se
limita a um evento, mas acontece
ao longo da vida. Eu tenho uma
alma missionária”.
E assim, podemos ver a mani-
festação de Deus na vida dos seus,
o seu Reino de amor chegando às
pessoas. A presença de um Jovem
Missionário em uma comunidade
é também uma injeção de ânimo e
esperança para os coordenadores
que, muitas vezes se encontram
desanimados e cansados. Além
disso, um convite para outros jovens
participarem do grupo e ajudar a
sua comunidade.
Quando falamos nessa presença
missionária, no Antigo Testamento,
lembramos da visita que o profeta
Elias fez à viúva de Serepta, o pro-
feta trouxe vida e esperança para
aquela família, mas, a viúva também
foi usada para ajudar e reanimar
o profeta (1 Reis 17:8-18:46). No
Novo Testamento, lembremos da
visitação de Nossa Senhora à sua
prima Santa Isabel “Maria foi com
pressa às montanhas, a uma cidade
de Judá. E entrou em casa de Zaca-
rias, e saudou Isabel (...) o menino
exultou de alegria no meu ventre.
E bem-aventurada tu, que creste,
porque se hão de cumprir as coisas
que da parte do Senhor te foram
ditas.” (Lc 1, 39-45).
A Missão é sempre esse espa-
ço, onde Deus se manifesta não
só através do missionário, mas da
família que está sendo visitada,
relata o jovem Fabrício do grupo
JMC Jaguarari: “A Missão para mim
é uma experiência diferente de
qualquer coisa da vida. É gratificante
sair um pouco da bolha e conhecer
diferentes vidas e pessoas, Missão é
saber que estará levando um pouco
de si e da palavra de Deus e tam-
bém perceber que levará consigo
um pouco de cada pessoa a cada
história”. Portanto terminamos essa
Missão com a convição de que os
jovens são testemunhas de Jesus
por ter levado esse amor que é o
bem maior para as pessoas que
tanto precisam.
O evento foi concluído com a
missa de encerramento e a realiza-
ção dos votos de compromisso dos
Jovens Missionários da Consolata,
que diante de Deus e da Igreja,
assumiram livremente a missão de
levar o amor de Deus e a Consola-
ção por onde forem. Serão sinais
do amor e misericórdia, segundo
o carisma da família Consolata e
pela intercessão de Nossa Senhora
e do Bem-aventurado José Allama-
no, nosso pai fundador que eles
abençoem a nossa vida missionária
e cada jovem em todos os espaços
que frequentarem. 
Josky Menga, imc, é coordenador de AMJV Brasil e promotor
vocacional na Bahia. Ellen Oliveira de Jesus é Jovem
Missionária da Consolata, Monte Santo, BA.
OUTUBRO / NOVEMBRO 2022 MISSÕES 7

Desesperança
em relação à
Conferência
VOLTA AO MUNDO
do Clima
Por Heitor Scalambrini Costa
U
ma das prioridades da 27ª Confe-
rência do Clima (COP27) seria a ne-
cessidade de agir e transformar as
promessas e anúncios feitos nas
conferências anteriores, em resulta-
dos e ações concretas. Com essa intenção o
lema adotado foi “Juntos para
a implementação”.
Muitos estavam céticos de que
esta reunião, com a participa-
ção dos mandatários de 196
países, pudesse chegar a resul-
tados promissores na direção
de conter as emissões de gases
de efeito estufa (GEE’s), produ-
zidas pelo tipo de energia que
consumimos e pelas diversas
atividades humanas realizadas.
Principalmente pelo uso crescente dos com-
bustíveis fósseis, o petróleo como centro
do maior problema atual da humanidade.
Infelizmente os céticos tiveram razão. A
indústria dos combustíveis fósseis venceu
mais uma vez, tendo à frente a indústria
petrolífera. Nada ficou estabelecido em
relação a um cronograma de redução da
produção/consumo destes energéticos que
contribuem com mais de 75% de todas as
emissões de GEE’s.
O documento final, ora em discussão, deixou
de fora o ponto essencial para diminuir a
crescente emissão de CO2, e assim evitar
um aumento da temperatura acordada no
8 OUTUBRO / NOVEMBRO 2022 MISSÕES
Acordo de Paris. A urgentíssima necessidade
de reduzir a participação dos combustíveis
fósseis na matriz energética mundial ficou
de fora.
Como amplamente anunciado pela imprensa
nacional e mundial, os “lobistas do petróleo”
compareceram massivamente nesta Confe-
rência, batendo os recordes das reuniões
anteriores. Foram mais de 600 pessoas
“infiltradas” nas diversas delegações que
impediram avanços na definição de um
cronograma, mais que urgente, para a re-
dução da produção/consumo do petróleo,
gás e carvão.
Não tem nenhuma possibilidade de êxito
nas próximas reuniões para discutir o clima,
com a presença das grandes empresas de
combustíveis fósseis. São interesses com-
pletamente antagônicos, diametralmente
opostos aos que estão em jogo. A vida e a
morte se opõem neste tabuleiro, em que
os interesses econômicos estão acima de
qualquer outro interesse, inclusive da vida
em nosso planeta. E o poderio dos “lobistas
do petróleo” acabam dificultando as soluções
adequadas para o tamanho do problema.
Em relação às promessas não cumpridas,
acordado na COP15 realizada em 2009, em
Copenhague foi a criação de
um fundo de US$ 100 bilhões.
Segundo relatório da ONU os
prejuízos causados pelos even-
tos climáticos extremos estão
calculados acima dos US $200
bilhões, e o que se tem em caixa
são US $300 milhões de dólares.
Uma proposta da ONU seria a
corretíssima cobrança de um
imposto junto às petroleiras,
que serviria para indenizar as
“perdas e danos” dos países pobres.
Além de banir os lobistas das energias fósseis
das reuniões do clima, de impor um imposto
para estas “empresas da morte”; outro pon-
to fundamental para as próximas reuniões
do clima é a participação da sociedade civil
organizada nas reuniões e nas decisões que
oficializam os compromissos assumidos.
O planeta é um só, e a luta para conter o
desastre anunciado é de responsabilidade
de todos seus habitantes, e não somente
dos governos e seus representantes. 
Heitor Scalambrini Costa é Doutor em Energética. Professor aposentado
da Universidade Federal de Pernambuco.
 Intenção Missionária
Outubro: Por uma Igreja aberta a todos

FREEPIK.COM
Rezemos para que a Igreja, fiel ao
Evangelho e corajosa no anúncio, seja um
lugar de solidariedade, de fraternidade e
de acolhimento, vivendo cada vez mais a
sinodalidade.

Novembro: Pelas crianças que sofrem

Rezemos para que as crianças que sofrem
– as que vivem na rua, as vítimas das
guerras, os órfãos – possam ter acesso à
educação e possam redescobrir o afeto de
uma família.
de Ben Nyogesa Wafula

P
or “Igreja” queremos dizer “Povo de Deus”,
mas por este Povo de Deus, outros podem
pensar que existem pessoas que não são
de Deus. Toda a raça humana é de Deus,
mesmo as pessoas que não acreditam que
Deus existe, também elas são para Ele. É por isso
que Jesus veio para todos, ou seja, para salvar toda
a raça humana, quer você acredite Nele ou não, Ele
é para todos, e nesse caso a salvação é para todos.
Portanto, a Igreja é para todos, aberta a todos. Para
tornar isso realidade, em outubro, o papa convida
todos os fiéis a rezar pela Igreja sinodal. A palavra
“sínodo” aqui “significa caminhar juntos: sí-no-
-do”. Em grego é isto: 'caminhar juntos' e andar na
mesma direção. Não podemos caminhar juntos na
mesma direção se nós que estamos na Igreja não
acolhermos outros que estão fora para caminhar
juntos. Precisamos nos abrir para que outros entrem
e para que possamos caminhar juntos. Olhando
para a história da Igreja podemos testemunhar que
suas portas sempre estiveram abertas para quem
quisesse entrar.
É isso que Deus espera da Igreja (todo o Povo)
do terceiro milênio que tem essa consciência de
que somos pessoas em movimento e que devemos
caminhar juntos. Para perceber que a união se move
no estilo sinodal, Francisco acrescenta que a Igreja
deve trabalhar as habilidades da escuta, na qual
diz que escutar é melhor do que ouvir. Na escuta,
tudo é levado em conta porque a pessoa tem toda
a concentração voltada para quem fala, mas no
ouvir, a concentração é bem menor.
O papa, portanto, enfatiza que devemos escutar
uns aos outros em nossa diversidade e abrir a porta
para aqueles que estão fora da Igreja (aqueles que
têm opiniões diferentes). Com o Sínodo, Francisco
disse que não se trata de coleta de opiniões ou
pesquisa, mas de ouvir o protagonista, que é o
Espírito Santo, e de uma maneira mais profunda
o Sínodo é sobre oração, ou seja, sem oração, é
impossível ter o Sínodo. Como cristãos, esta é uma
oportunidade para praticar a proximidade, que é o
estilo de Deus de atrair as pessoas para caminha-
rem juntas. Para alcançar a Igreja que está aberta a
todos, portanto, temos que rezar como diz o papa
Francisco, “é através dela que alcançamos aquela
Igreja que é feita de solidariedade, fraternidade
e acolhimento. Trabalhamos juntos para consolar
quem sofre, de forma solidária, e assim criamos
uma família fraterna e alcançamos nosso objetivo,
uma Igreja aberta a todos aceitando os outros”.
Numa Igreja que se considere aberta, as crianças
são respeitadas. Não devem estar nas ruas, sendo
criadas sem educação, carinho e dignidade. Uma
Igreja Povo de Deus considera a criança um bem
maior e acompanha seu crescimento com amor e
caridade! 
Ben Nyogesa Wafula, imc, é professo cursando o terceiro ano de Teologia no
ITESP, São Paulo, SP.

OUTUBRO / NOVEMBRO 2022 MISSÕES 9

 ESPIRITUALIDADE

A Igreja é missão
Campanha
Missionária
2022 destaca
a natureza
missionária
da Igreja
que não se
reduz a uma
dimensão
ou em
atividades.

de Redação, com informações das POM

A
nimados pelo Ano Jubilar
Missionário, em 2022 o
tema da Campanha Mis-
sionária é “A Igreja é mis-
são” e a inspiração bíblica
é “Sereis minhas testemunhas” (At
1, 8). Este tema e lema concluem
o caminho de três anos em que
as Pontifícias Obras Missioná-
rias (POM) destacam a natureza
missionária da Igreja que não se fundamentos da vida missionária missionárias Ad Gentes que, nos
reduz a uma dimensão ou em dos discípulos: “Sereis minhas confins do mundo, atuam em
atividades. testemunhas”; “até os confins ambientes humanos, culturais,
A mensagem do papa Francisco do mundo”; e “recebereis a força religiosos e geográficos ainda
para o Dia Mundial das Missões do Espírito Santo”. Motivados alheios ao Evangelho.
(veja rubrica Destaque páginas 24 por esta mensagem, este ano a As Pontifícias Obras Missio-
e 25) se detém em três expres- novena e os vídeos evidenciam nárias (POM) têm a responsabi-
sões chave que resumem os três o testemunho de missionários e lidade de organizar a Campanha

10 OUTUBRO / NOVEMBRO 2022 MISSÕES

Missionária, realizada sempre no
mês de outubro, na Igreja de todo
o Brasil. Colaboram nesta ação
a CNBB por meio da Comissão
Episcopal para a Ação Missioná-
ria e Cooperação Intereclesial e
outros organismos que compõem
o Conselho Missionário Nacional
(COMINA).
A construção da arte da Cam-
panha Missionária 2022 conclui o
triênio que seguiu a intuição da
janela que se abre para o mundo.
Na janela e dentro do mapa do
Brasil, aparecem rostos de mis-
sionários e de missionárias Ad
Gentes. As cores da arte seguem
a identidade visual do Ano Jubilar
Missionário que nos convida a
uma grande explosão missionária
aberta à universalidade.
A Bem-aventurada Paulina Ja-
ricot foi escolhida para estar no
santinho que anima a Campanha
Missionária em 2022. Leiga, esta
figura de Lyon (França), do século
XIX, está na origem do carisma das
Pontifícias Obras Missionárias.
Foi beatificada em 22 de maio
deste ano. 

Acesse o
Material
Deus Pai, Filho e Espírito Santo,
ajudai-nos a viver este
Ano Jubilar Missionário,
a assumir e a revigorar nossa
vocação cristã de discípulos
missionários, sendo Igreja sinodal
em estado permanente de missão
até os confins do mundo.
Pela força do Espírito Santo e
a exemplo da bem-aventurada
Paulina Jaricot, sejamos vossas
testemunhas no anúncio,
na oração, na ajuda material
e na doação da própria vida,
principalmente nos ambientes
humanos, culturais, religiosos e
geográficos, ainda alheios
ao Evangelho.
Maria, Rainha das Missões,
rogai por nós!

OUTUBRO / NOVEMBRO 2022 MISSÕES 11

 TESTEMUNHO

Em escuta e
acolhimento
de Adanech Mithiku Shawuo
pouco mais, com o meu pobre
conhecimento da língua russa,
porém... pouco a pouco procurava
responder às suas perguntas, das

A
pós quatro meses de pre-
sença no Quirguistão pre-
cisamente em Jalal-Abad,
conto algumas experiên-
cias que tive no encontro
com as pessoas que residem no
país, entre as quais estão russas,
uzbeki, tártaras... São histórias
pequenas, mas, muito significa-
tivas, que assinalam o início da
nova missão e da minha nova vida
entre os não-cristãos, uma forma
de perceber como o Carisma Ad
Gentes se encarna entre o povo
quirguiz.
Na Universidade
Um dia eu estava na sala de
aula com minhas amigas e cole-
gas, todas muçulmanas. Quan-
do tínhamos entrado na sala de
aula a professora não estava lá,
e enquanto a esperávamos, con-
versamos para nos conhecer um
quais uma me chamou atenção.
Mostrando o crucifixo que eu
uso, uma jovem me perguntou:
“O que você colocou no pescoço?
O que é? E por quê? O que isso
significa?”
Imaginem o que significa res-
ponder a estas perguntas, com o
meu estudo da língua de apenas
três meses! Assim mesmo o Senhor
foi bom e me ajudou! Procurei res-
ponder que se tratava do crucifixo
de Jesus, mostrei-lhe a imagem de
Cristo sobre a cruz. Este crucifixo
tem tantos significados, mas, por

O Quirguistão, ou República Quirguiz, é um país da Ásia Central.

A cidade de Bisqueque é a sua capital. O país apresenta clima tem-
perado continental e relevo acidentado, caracterizado pela presença
de montanhas e vales encaixados. A população do Quirguistão é hoje
de 6,62 milhões de habitantes, a maioria dos quais vive na zona rural.
Apoiando-se na exploração de recursos naturais e no comércio, com
destaque para a exportação de produtos agrícolas como o algodão, a
economia quirguiz é uma das menores dentre os países centro-asiáticos.
90% de sua população é muçulmana e 10% cristã. O Quirguistão tornou-
-se uma república soviética em 1936 e alcançou a independência em
1991, quando a URSS foi dissolvida.

12 OUTUBRO / NOVEMBRO 2022 MISSÕES

causa dos problemas de pouco
conhecimento da língua, algumas
coisas não consegui explicar.
Eu disse: “Para os cristãos é um
símbolo muito grande, que levamos
conosco também como religiosas:
levamos conosco porque aquele
Jesus que morreu na Cruz e res-
suscitou, nos acompanha sempre
e é um sinal grande de identidade
para os religiosos e as religiosas”.
Depois da minha resposta, uma
jovem foi procurar no Google o
símbolo dos muçulmanos, e me
mostrou dizendo: “este é o símbolo
dos muçulmanos”. Eu confirmei:
“Sim, cada religião tem a sua iden-
tidade que a distingue das outras”.
As jovens estavam muito in-
teressadas em conhecer outras
coisas sobre mim, mas chegou
a professora e para o momento,
paramos ali...
No ônibus
Um dia, enquanto ia de ônibus
para a Universidade, uma senhora
quirguiza sentou-se perto de mim.
Eu estava lendo um livro de contos
escrito nas duas línguas, russo e
quiguiz. Eu, porém, estava lendo a
versão em russo e ela continuava a
olhar-me e a olhar o livro que estava
lendo, e eu pude perceber no seu
rosto um interesse muito grande.
Irmã Adanech
Mithiku Shawuo,
jovem missionária
da Consolata
etíope, relata alguns
encontros dos seus
primeiros tempos de
vida no Quirguistão.
Voltei-me para ela e a saudei em
russo: “Salve”. E assim continuamos
a conversar e ela me disse: “Você
fala quirguiz?”
“Quem me dera!”... eu pensei,
porque para os habitantes do Quir-
guistão um estrangeiro que fala o
quirguiz é motivo de grande alegria
porque eles se sentem apreciados
e acolhidos. Assim eu lhe respondi:
“Não, eu não falo quirguiz, ape-
nas falo um pouco de russo”. E ela
continuou: “De onde você vem?”
Respondi: “Venho da Etiópia”. “O
que você está fazendo aqui?” ela
me perguntou. “Estou aqui para
ajudar a nossa Igreja Católica”, pois,
eu não podia dizer-lhe “sou missio-
nária” porque, talvez, aqui ninguém
sabe o que é a missionariedade.
“Por enquanto estou estudando a
língua russa e depois estudarei o
quirguiz”. “Mesmo, de verdade?” ela
me perguntou ainda e eu confirmei
que sim. Ela me perguntou ainda:
“Você é muçulmana?”.
Aqui eu entendi que ela não sabia
o que era a Igreja Católica... assim
eu lhe respondi: “Não, eu não sou
muçulmana, sou cristã.” E ela me
disse: “Ah... na Etiópia existem mu-
çulmanos?” Respondi: “Sim, tantos.
Existem muçulmanos e cristãos e
outros... e vivemos todos juntos”.
Muito surpresa, me perguntou:
“Se existem tantos muçulmanos
como é então que você é cristã, e por
que estão assim divididos, cristãos
e muçulmanos?” Eu lhe respondi:
“Cada pessoa é livre para escolher
aquilo que quer, não é nenhum
problema”. Ela não podia acreditar
que existisse esta liberdade de seguir
a religião que cada um quer. “Ah,
sim...” Ela disse com voz surpresa
“Interessante!”
Assim terminou a nossa conver-
sa porque ela desceu do ônibus.
A mentalidade daqui é dife-
rente, porque todos devem ser
muçulmanos.
Vou parar por aqui... mas pro-
meto que em breve contarei so-
bre outros encontros destes meus
primeiros passos na missão no
Quirguistão. 
Adanech Mithiku Shawuo, Missionária da Consolata no
Quirguistão.
OUTUBRO / NOVEMBRO 2022 MISSÕES 13
 FORMAÇÃO

A morte não é
a última palavra…
de Anair Voltolini

A
comemoração dos finados
na visão cristã tem um signi-
ficado duplo: por um lado,
“um sentido de tristeza”,
mas por outro, “um sentido
de esperança”. A visita ao túmulo
das pessoas queridas, a flor que lá
se deposita com carinho e saudade,
a vela que se deixa acesa com fé,
a oração que brota espontânea
do coração na dor… representam
a esperança que a pessoa cultiva
e fortalece na alma, um gesto de
aproximação e de amor, aquela
certeza que a morte não tem a
última palavra.
A visão de vida e de morte na
cosmologia universal assume mil
e uma faces segundo a multiplici-
dade das culturas que compõem o
mundo humano, reflexo da beleza
e da criatividade estupenda e sur-
preendente de Deus.
Para o missionário não é fácil
inserir-se numa nova cultura, co-
nhecer, entender e acolher usos
e costumes diversos, mas quando consultar literaturas de espertos em termina com a morte. Acredita que
se entra com mãos vazias e pés Cultura Macua, e de dialogar com o corpo e a alma constituem o ser
descalços – expressão frequente- as pessoas sobre este assunto, vou humano, a pessoa; que a alma é a
mente repetida em processos de ousar apresentar, em breves pince- vida, o sinal da força vital, dinâmica,
inserção em um povo novo – a ladas, a visão que o povo Macua e a morte não é considerada como
vida da gente se abre a uma nova tem da Morte. O povo Macua vive o fim da vida nem como ruptura do
visão da realidade e se enriquece. em Moçambique. ciclo vital, mas como continuação
O povo que me acolheu e onde da existência sob outras formas e
procuro entrar e me inserir com A morte não é o fim em outras circunstâncias. A morte
muito respeito é o povo de cultura Alguns princípios que caracte- é passagem da pessoa num outro
Macua-Xirima, população do norte rizam esta visão se identificam ou estado de vida, existencialmente
de Moçambique. se aproximam muito a conceitos melhor; passagem do estado visível
Depois de participar pessoalmen- teológicos cristãos consolidados. ao estado invisível; de um estado
te em velórios e funerais, depois de O Macua afirma que a vida não passageiro ao definitivo. A morte

14 OUTUBRO / NOVEMBRO 2022 MISSÕES

é para esta cultura um retorno à
origem da existência. Existe um
mito muito firme, bem enraizado
na tradição que é o mito do Monte
Namuli. É um monte real, situado
na Província da Zambézia, consi-
derado e cultuado por todos como
o seio materno de Deus; o lugar
onde foram gerados todos os seres
vivos; lá está a origem do mundo.
Simbolicamente o Macua provém
de lá, e para lá retorna. É gerado
por Deus, na identidade de Mãe e
a Deus retorna.
Com a morte, ele acredita que
adquire novos elementos, novos
poderes que lhe permitem agir em
benefício das pessoas que deixou e
da comunidade. Recebe o dom da
mediação entre o Ser Supremo e os
seres visíveis. Continua uma relação
concreta entre os seres deste mundo
e os seres vivos do além.
Os ritos fúnebres e outras
cerimônias
A comunicação da morte de um
membro da família é feita imedia-
tamente a todos os familiares. Uma
tradição bem enraizada nesta cultura
são os diversos ritos fúnebres que
caracterizam diferentes tempos de
luto e de comemorações da pessoa
que deixou este mundo visível. O
retorno ao Monte Namuli – o seio
de Deus-Mãe – não é imediato. O
retorno é uma viagem. Esta viagem
é acompanhada por cerimônias
realizadas em vários momentos
de encontro dos familiares, amigos
e muitas pessoas que participam.
O tempo do velório tem a du-
ração do tempo de preparação da
sepultura ou o tempo necessário
para chegada dos familiares mais
distantes. Normalmente aconte-
ce dentro de 24 horas. O corpo
é sempre velado na própria casa.
Nesta ocasião, na aldeia ou no bairro
tudo pára. Muita gente participa e
contribui seja com o trabalho para
a realização de todas as cerimônias
prescritas na tradição, ou seja com
dinheiro para as despesas da família,
pois, uma das dinâmicas integran-
“A recordação dos
mortos, o cuidado
dos túmulos e
dos sufrágios são
testemunho de
confiável esperança,
radicada na certeza de
que a morte não é a
última palavra sobre
o destino humano,
porque o homem está
destinado a uma vida
sem limites, que tem
a sua raiz e a sua
realização em Deus”.
Papa Francisco
tes do rito fúnebre, é a partilha de
uma refeição entre toda a gente
ao retorno do enterro. Todos, nor-
malmente voltam à casa da família
enlutada para este momento de
convívio e ali juntos transcorrem
muitas horas do dia e também toda
a noite. Pode-se dizer que a morte
de uma pessoa constitui o momento
mais importante de solidariedade
entre os membros da sociedade.
Os habitantes de uma aldeia ou
do bairro de uma pequena cidade
podem faltar a outras cerimônias
de carater social ou religioso, mas
não deixam de participar a um fu-
neral. Seria muito difícil justificar tal
ausência à família em luto.
O tempo de luto tem a duração
de um ano. Após o funeral, no ter-
ceiro dia a família e outras pessoas,
reúnem-se novamente para mais
um momento celebrativo, acom-
panhando a viagem do defunto,
desejando que nada lhe falte e
fazendo memória do mesmo; pela
madrugada visitam a sepultura e
voltam em seguida à casa da família
onde é oferecida uma boa refeição.
Depois de quarenta dias aconte-
ce outro rito, ainda mais importante:
Novamente familiares, amigos e
muitas outras pessoas transcor-
rem toda a noite juntos na casa
do falecido. Ali acontecem cantos,
danças, batuques, ritos diversos e
nas famílias cristãs, orações. Nova-
mente a cerimônia termina com a
visita ao túmulo e com a refeição
em seguida. Durante estes quaren-
ta dias, em sinal de luto, os casais
familiares da pessoa falecida não
têm relações matrimoniais. Este
período é considerado o tempo
da viagem rumo ao mundo dos
antepassados, ao Namuli.
A cerimônia conclusiva do luto
é na comemoração de um ano da
morte da pessoa.
Os sinais externos de luto dos
familiares próximos são, comumen-
te: vestirem-se com roupa velha e
andar descalço; as mulheres não
usam adornos; os familiares mais
chegados raspam a cabeça, tanto
os homens como as mulheres.
Todos estes ritos e cerimônias
têm lugar à noite. Usa-se muito o
tambor e outros instrumentos tradi-
cionais. São batuques bem ritmados,
por horas seguidas. Normalmente
os católicos pedem a celebração
da Eucaristia ou da Palavra de Deus
pela manhã, ao surgir da aurora. As
cerimônias são concluídas sempre,
como vimos, com uma abundante
refeição para todos. Este é o mo-
mento mais alto de expressão de
coesão do grupo, de comunhão
entre todos e com o familiar que
já se encontra no mundo invisível.
Na cosmovisão Macua portan-
to é bem evidente o crer na vida
além-morte. Afirma um escritor
Macua M. E. Malôa: “A morte tem
o seu futuro. É uma passagem para
a terra dos antepassados”. Uma
canção tradicional assim aclama:
“Vamos, regressemos ao Monte
Namuli, lugar onde saímos”. O
Macua acredita na continuidade
de relação de proximidade entre
os vivos e os que já partiram – os
antepassados – uma união vital e
um intercâmbio de bens. 
Anair Voltolini, MC, é misssionária em Moçambique, junto
ao povo Macua.
OUTUBRO / NOVEMBRO 2022 MISSÕES 15
 FÉ EM AÇÃO

Campanha
da Fraternidade
na prática
Texto e foto de Rodrigo Alves Piatezzi

N
a manhã do sábado, 22 de outubro, a diocese
de São Miguel Paulista, em São Paulo (SP),
realizou o primeiro encontro de educadores
católicos, na histórica Capela de São Miguel
Arcanjo, fundada por São José de Anchieta.
Para assessorar a temática 'Fala com sabedoria,
ensina com amor: a Base Nacional Comum Curricular
(BNCC) e o Pacto Educativo Global', foi convidada a
Irmã Selma Maria dos Santos, Irmãs de São Francis-
co da Providência de Deus, membro da diretoria da
Associação Nacional de Educação Católica do Brasil -
ANEC, que provocou os participantes à reflexão sobre
a educação evangelizadora e o novo humanismo, a
partir das propostas do papa Francisco e das Compe-
tências Gerais da Base Nacional Comum Curricular.
"Por que o papa Francisco está escrevendo e nos
provocando tanto sobre temas voltados à educação,
economia, sociedade e meio ambiente? Porque falta
sentido à vida, não só a vida humana, mas também a
vida do planeta, nossa Casa Comum. Esta preocupa-
ção também está presente na Base Nacional Comum
Curricular ao incluir em suas dez competências,
quatro voltadas à educação sócio-emocional: auto-
gestão, autoconhecimento e auto-cuidado, empatia
e cooperação e autonomia.", ressaltou Irmã Selma.
O administrador apostólico da diocese de São
Miguel Paulista, dom Manuel Parrado Carral também
marcou presença no encontro e teve a oportunidade
de se dirigir aos educadores: "O Brasil precisa de
uma urgente mudança de mentalidade na qual a
educação seja vista como prioridade do Estado e de A iniciativa foi uma parceria da equipe diocesana
toda a sociedade, como nos propôs o papa Francisco da Campanha da Fraternidade, do Marista Escolas
no Pacto Educativo Global. Prossigam com determi- Sociais, do Colégio La Salle, do Colégio Olivetano e
nação nesses encontros, assumam com entusiasmo da Escola São José de Vila Matilde. Ao todo, cerca de
a sua nobre missão de educar e formar as futuras 90 educadores estiveram presentes no encontro. 
gerações, tendo como horizontes o bem comum e a
fraternidade entre os povos", disse. Rodrigo Alves Piatezzi é membro da Pastoral da Rede Marista, São Paulo, SP.

16 OUTUBRO / NOVEMBRO 2022 MISSÕES

Festa de todos os
santos da Redação
C
elebramos a festividade
de Todos os Santos. An-
jos e santos, todos juntos,
louvam incessantemente
a Nosso Senhor por cujos
méritos alcançaram tão grande
prêmio. Quais os deveres que te-
mos para com eles?
Honrá-los – devemos honrá-los,
porque pertencem ao número dos
príncipes da corte celestial. São
amigos de Deus, glorificados por
ele. São nossos irmãos maiores e
nossos benfeitores; e quem não
respeita os mais velhos e as pessoas
que nos fazem o bem?
Um costume salutar no Instituto
dos Missionários da Consolata é o
de nos propormos, todos os anos,
um santo para honrá-lo de modo
especial e imitá-lo. Muitas pesso-
as piedosas escolhem um santo
para cada mês. Devemos celebrar
também o aniversário do santo do
nosso nome. Honremos também
os santos do dia. Devemos, além
disso, nutrir particular devoção
para com os santos padroeiros da
diocese, da paróquia, do Instituto.
Invocá-los – Deus os estabe-
leceu como nossos intercessores
junto de seu trono. Necessitando
de uma virtude particular, recorra-
mos à intercessão daqueles santos
que se distinguiram nela. Peço-vos
que alimenteis também uma par-
ticular devoção aos santos menos
lembrados, como fazemos para
com as almas do purgatório mais
abandonadas. O pai, a mãe, um
conhecido... também podem ser
santos. Todos esses santos que
não tem que interceder por muitas
pessoas, intercederão mais por nós.
Imitá-los – Os santos são os
modelos que Nosso Senhor nos dá;
modelos que podem ser imitados
por todos, porque se distinguem
entre si na vida e no heroísmo de
suas virtudes. Eles também ex-
Família
consolata
perimentaram as tentações e as
tribulações deste mundo; tiveram
seus defeitos, cometeram pecados.
“Se estes e aqueles, nas minhas
idênticas condições de vida, pu-
deram santificar-se, por que não
poderei eu?”
Elevemos, pois, o nosso pensa-
mento aos santos, para honrá-los,
invocá-los e imitá-los. Reflitamos
sobre aquilo que nos dizem do
céu. Eles, agora, são plenamente
felizes, mas se ainda pudessem
desejar alguma coisa, seria de ter
sido mais virtuosos durante a vida
terrena, mais apostólicos etc.
Que estarão pensando todos os
santos, lá do céu? Se ouvíssemos
sua voz, nos diriam: "Ânimo, um
pouco mais de coragem!" 
Extraído do livro A Vida Espiritual, páginas 460 a 463.
OUTUBRO / NOVEMBRO 2022 MISSÕES 17
 Uma comemoração
e um mandato
Missionárias celebram
100 anos da morte
do padre Camisassa e
envio de Ir. Francesca
para a Mongólia.

de Redação

O
dia 18 de agosto de 2022
foi um dia especial para
as Missionárias e para os
Missionários da Consolata,
pela comemoração dos
100 anos da morte do padre Gia-
como Camisassa. As Missionárias
celebraram a data com um envio
missionário para a Mongólia.
As irmãs foram transportadas
para o início do Instituto, no qual
o padre Camisassa teve, com o
Allamano, um papel importante
de cofundador.
A celebração da Santa Missa
comemorativa não podia acontecer
senão no Santuário da Consolata
em Turim, Itália, onde o padre Ca-
misassa desempenhou um serviço
precioso por 42 anos. Contempo-
raneamente a esta recordação, du-
rante a Santa Missa, Irmã Francesca
Allasia recebeu o envio missionário
das mãos do nomeado cardeal
Monsenhor Giorgio Marengo, imc,
destinada à Mongólia.
Monsenhor Marengo celebrou a
Santa Missa, e foram concelebran-
tes os padres Stefano Camerlengo e
o reitor do Santuário da Consolata,
Monsenhor Giacomo Martinacci.
Participaram da celebração missio-
nários, missionárias e leigos da Con-
solata, parentes do padre Giacomo
Camisassa, sacerdotes diocesanos
e devotos da Santíssima Consolata.
Em particular participaram Irmã
Simona Brambilla e o padre Stefa-
no Camerlengo, Superiores Gerais
MC e IMC que tinham preparado
uma mensagem sobre este dia da
memória do nosso Cofundador e
que foi lido pela Conselheira Geral,
Irmã Lucia Bortolomasi no início
da celebração. Na homilia, padre
Stefano evidenciou que a amiza-
de entre nosso Pai Fundador e o
Cofundador se construiu sobre o
fundamento da sinceridade recí-
proca. Com muita humildade eles
diziam que sozinhos não poderiam
ter feito tudo o que fizeram. O
padre Camisassa acompanhava os
missionários e as missionárias da
Consolata na preparação e em sua
partida para as Missões na África
e hoje acompanha Irmã Francesca
em seu envio missionário.
A Comunidade do Noviciado In-
ternacional animou a celebração. As
Noviças Missionárias da Consolata
provenientes de países africanos e
da América Latina tornaram solene
a celebração com cantos em diver-
sas línguas com acompanhamento
de instrumentos apropriados. 
Matéria original publicada na revista “Posta da Casa”,
edição de julho, agosto e setembro de 2022. Tradução
de Ir. Benildes Capellotto.

QUER
QUERSER MISSIONÁRIO?
SER MISSIONÁRIO? QUER
QUERSER MISSIONÁRIA?
SER MISSIONÁRIA?
TEL.: (11) 2238.4599 TEL.: (11) 2233.9330
E-mail: amv@consolata.org.br E-mail: mc@consolata.org.br

18 OUTUBRO / NOVEMBRO 2022 MISSÕES

Novo presbítero
missionário é ordenado
Thiago Jacinto da
Silva foi ordenado
dia 5 de novembro
de 2022, na Paróquia
São João Batista, em
Mauá, SP.
de Paulo Mzé
A
Paróquia São João Batista
está situada na Avenida
Barão de Mauá, no Jar-
dim Maringá, em Mauá,
Diocese de Santo André,
na grande São Paulo. Foi lá que
no sábado, dia 5 de novembro de
2022, o diácono Thiago Jacinto
da Silva foi ordenado presbíte-
ro, missionário da Consolata. A
comunidade paroquial acolheu
vários convidados, entre padres,
freiras e leigos, que vieram de
diversos lugares e participaram da
celebração presidida pelo bispo
da diocese de Santo André, dom
Pedro Carlos Cipollini.
Diácono desde o dia 26 de feve-
reiro de 2022, Thiago foi ordenado
na manhã do dia 5. No domingo,
6 de novembro, o neo-presbítero
celebrou as missas novas, às 8h,
na Paróquia São João Batista, e às
19h, na Paróquia São José Operá-
rio, ambas situadas em Mauá. O
agora presbítero, desde jovem tra-
balhou na catequese, na Pascom,
na Liturgia e na Pastoral Juvenil
da Paróquia São João Batista. O
padre Thiago em 2012 ingressou
no Seminário de Filosofia “Nossa
Senhora Consolata”, em Curitiba,
PR. Em 2016 fez o noviciado na
Argentina. E em 2017 foi estudar
teologia no Quênia, África.
O missionário da Consolata
nasceu no dia 8 de setembro de
1993, em Santo André, SP, Brasil. É
filho de José Lourival da Silva e de
Eunice Aparecida Jacinto da Silva.
Desde a sua juventude parti-
cipou dos encontros vocacionais
onde foi fazendo discernimento
no Instituto Missões Consolata
(IMC) a partir de 2010. Em 2012
foi estudar Filosofia na FAVI (Fa-
culdade Vicentina), em Curitiba,
PR, onde permaneceu até o ano
de 2015.
Durante este tempo, fez sua
experiência na Paróquia Santa
Margarida, onde trabalhou na
catequese, na IAM (Infância e
Adolescência Missionária) e com
os coroinhas.
Em 2016 foi para Argentina,
onde fez o noviciado dos Missioná-
rios da Consolata no Bairro Martín
Coronado, em Buenos Aires. No no-
viciado latino-americano dedicado
a Nossa Senhora de Guadalupe,
Thiago emitiu os primeiros votos
religiosos no dia 29 de dezembro
de 2016.
Em 2017 foi ao Quênia, Semi-
nário Teológico “Allamano House”,
onde cursou Teologia no Tangaza
University College até o ano de
2021. Também no ano de 2021
fez serviço pastoral na Paróquia
São Luiz Gonzaga (St. Aloysius
Gonzaga Parish), numa região
chamada Wamba, no norte do
país, na Diocese de Maralal, onde
trabalhou com os samburu.
O padre Thiago emitiu os votos
perpétuos no dia 11 de fevereiro
de 2022. Também foi ordenado
diácono no dia 26 de fevereiro
de 2022 pela imposição das mãos
de Dom Virgílio Pante, imc, bispo
emérito da Diocese de Maralal.
O neo-presbítero irá trabalhar
na missão dos Missionários da
Consolata em Taiwan. 
Paulo Mzé, imc, é diretor da Revista Missões.
OUTUBRO / NOVEMBRO 2022 MISSÕES 19
 O sentido de ser Consolada
de Maria Cristina Vilela Hugenschimidt leciono essa mesma experiência do grupo dos Leigos Missionários
inserida num contexto sócio-emocio- da Consolata - São Paulo, pude me

Q
uando me pediram para
falar do sentido de ser Con-
solada passou pela minha
cabeça toda experiência
religiosa que tive na minha
vida e sempre questionei
e questiono o que fazer com ela.
Primeiro minha mãe, Yvone, muito
fervorosa, mostrou a meu pai, a
mim e meus irmãos, a importância
da religião e da fé. Como Legionária
apresentou Nossa Senhora como
uma força a mais em nossas vidas.
Ela sempre foi e é figura presente na
minha vida, na minha experiência de
fé cristã, seja ela Aparecida, Fátima,
Salete, Lourdes ou Consolata.
Hoje sinto que a minha missão é
levar aos alunos da escola em que
nal-cultural, onde uma diversidade
religiosa se manifesta cada vez mais.
São incontáveis às vezes em que,
rezando questiono saber como é
ser como Maria. Vejo-a como mãe
presente, carinhosa, paciente, calma,
sem gritos. A oração nos deixa mais
próximos de Deus e Nossa Senhora
nos mostra como fazê-lo: “Fazei tudo
o que Ele vos disser”. Então percebo
que é isso que me fortalece, a oração
a Nossa Senhora. Sei e sinto que a
oração vai além das paredes da Igreja,
das celebrações, ela passa pela minha
casa, pelo meu trabalho (e está em
uma escola), meus vizinhos, meus
amigos e porque não aqueles que
ainda preciso aprender a amar. Ao
ser chamada por Deus a participar
aproximar mais de Maria através de
Sua Consolação. Tenho aprendido
cada vez mais que, ao deixar-me ser
cuidada por Ela, sinto Sua presença a
me acompanhar. Ela, acima de tudo,
sabe dos afetos e dos sentimentos
do meu coração. Das saudades, das
tristezas, das angústias, inseguranças
e sei que além de acolher minhas
súplicas é, antes de tudo, aquela
que me ensina a verdadeira missão.
Enfim, ser consolada por Nossa
Senhora é crer que Ela é a própria
consoladora do espírito, é a fortaleza
que reconforta os sofredores, Ela é o
porto seguro das minhas aflições. 
Maria Cristina Vilela Hugenschimidt é Leiga Missionária
da Consolata, comunidade São Paulo.

Ajude-nos e venha
fazer parte desta obra
Missões é o veículo de comunicação do Instituto Missões Consolata e retrata o trabalho missionário
de levar a consolação aos que sofrem, aos que andam tristes, aos que estão sem esperança.
Torne-se um missionário membro da família Consolata, mantendo o nosso trabalho,
contribuindo financeiramente.

Veja como é fácil:

DEPÓSITO BANCÁRIO

AG.: 545-2 AG.: 0355 AG.: 0386-7

C/C: 38163-2 C/C: 17759-3 C/C: 945-8

CHAVE: redacao@revistamissoes.org.br
Envie o Comprovante, junto com seu Nome,
Data de Nascimento, CPF, Endereço, Telefone e E-mail para:

Rua Dom Domingos de Silos, 110 - 02526-030 - São Paulo - SP - Telefax: (11) 2238.4595 - E-mail: redacao@revistamissoes.org.br

20 OUTUBRO / NOVEMBRO 2022 MISSÕES

 MISSÃO EM CONTEXTO

125 anos
a serviço da educação
de Redação Escola na zona portuária do Rio de
Janeiro é mantida pelas Apóstolas do

A
Escola Padre Dr. Francisco da Motta, locali-
zada na zona portuária da cidade do Rio de
Janeiro, abriga memórias seculares. Em 1897,
no segundo andar da Igreja de São Francisco
da Prainha, aconteceram as primeiras aulas
da Escola. A Igreja tinha uma porta independente,
com mais de dois séculos de história, que servia de
entrada para os alunos.
O padre brasileiro Francisco da Motta sonhava
ampliar o ensino até o nível universitário e, já de olho
na expansão, transferiu a instituição para um imóvel
próprio próximo à Igreja, também no Morro da Con-
ceição. É lá que até hoje os alunos assistem às aulas.
De lá para cá, os imóveis do entorno
Sagrado Coração de Jesus e atende
crianças em vulnerabilidade social.
primeira turma da 8ª série (hoje 9º ano) começou.
Dois anos depois, o Ensino Médio foi implantado e,
agora, o aluno pode sair dali formado. O Ensino Mé-
dio foi nomeado Colégio Sonja Kill, em homenagem
à filha falecida da família que financiou a ampliação
do ensino na escola.
Há alguns anos, mais precisamente em 2011, a
Escola Padre Dr. Francisco da Motta passou por graves
dificuldades financeiras, e as Apóstolas do Sagrado
Coração de Jesus vieram em seu socorro, ajudando

ARQUIVO IASCJ
foram adquiridos e, com as fachadas
históricas preservadas, formou-se um
grande Colégio, todo interligado por
dentro.
A iniciativa do padre teve resultado
e ele foi homenageado no nome da
instituição. Os séculos foram passan-
do e a Escola Padre Dr. Francisco da
Motta foi se mantendo firme e forte
na cidade do Rio de Janeiro, no Morro
da Conceição.
Já no ano 1985, o alemão Frei
Eckart foi transferido para a região
onde fica a Escola e passou a ser res-
ponsável pela mesma. Ele assumiu a
diretoria da instituição por 27 anos,
imprimindo sua filosofia educacional
à unidade de ensino. Frei Eckart e
membros de sua equipe, também alemães, conse- a oferecer um ensino de qualidade com atenção
guiram ajuda financeira do governo e empresas de especial aos menos favorecidos. Conseguiram ajuda
seu país de origem para impulsionar o avanço do financeira de uma ONG alemã, que muito contribuiu
Colégio. O que foi de extrema importância na época. para que o projeto continuasse existindo.
Em setembro de 2022, a Escola completou 125
Frei Eckart anos de existência e uma missa em ação de graças
Até 1999, o Colégio atendia cerca de 300 alunos foi celebrada, seguida de uma confraternização. O
até a 4ª série primária (hoje 5º ano). A partir de projeto é totalmente filantrópico. 
2000, o Ensino Fundamental foi ampliado até a 7ª
série (hoje 8º ano) e, três anos depois, em 2003, a Com informações e foto das Apóstolas do Sagrado Coração de Jesus.

OUTUBRO / NOVEMBRO 2022 MISSÕES 21

 MISSÕES RESPONDE
Imaturidade grave:
causa de casamento nulo
Último artigo da série sobre
nulidade do casamento.
de Edson Luiz Sampel
A
maioria esmagadora das
causas de nulidade de ca-
samento são propostas
com base no cânon 1095,
nº 2. É óbvio que além
deste cânon, geralmente há outros
indícios de nulidade, os quais se
consignam na petição inicial do
processo. Mas, a imaturidade gra-
ve está presente em quase todas
as ações judiciais intentadas na
justiça canônica.
Vejamos um pouco da história
deste elemento de nulidade. Tudo
começou nos Estados Unidos. Na
década de 1970 e mesmo no de-
cênio de 1980, em virtude dos
estudos da psicologia do profundo,
os especialistas comportamentais
começaram a perceber que há
situações de convivência a dois,
entre um homem e uma mulher,
sob o mesmo teto, em que uma
anomalia grave, bastante grave
mesmo, impede a vivência salutar,
a convivência focada no futuro, na
ereção da família, na criação dos
filhos etc.
Com base nessas constatações
de ordem psicológica, os tribunais
eclesiásticos americanos forma-
ram um tipo de jurisprudência,
acatada pelo Tribunal da Rota
Romana e muitos casamentos
começaram a ser declarados nu-
los em razão da "grave falta de
discrição de juízo" (grave defectu
22 OUTUBRO / NOVEMBRO 2022 MISSÕES
discretionis iudicii), ou seja, ima-
turidade séria dos cônjuges. Em
1983, quando entrou em vigor o
código canônico atual, incorpo-
rou-se o labor da jurisprudência
estadunidense, transformado no
cânon 1095.
Vejamos no que consiste essa
imaturidade capaz de tornar um
casamento nulo ou inexistente. Eis
a tradução do cânon 1095, nº 2:
“São incapazes de
contrair o matrimônio:
os que têm grave
falta de discrição de
juízo a respeito dos
direitos e obrigações
essenciais do
matrimônio, que se
devem mutuamente
dar e receber.”
Note que o legislador fala em
direitos e obrigações essenciais
do matrimônio. Trata-se, com
efeito, de realizações, digamos
assim, que estão a cargo de am-
bos os cônjuges. Uma coisa que
devemos esclarecer é que essa
imaturidade que torna nulo o
casamento não é qualquer ima-
turidade. Imaturos todos somos,
não é mesmo? Nem sequer a idade
pode ser alegada como motivo
sério de imaturidade. O código
canônico estabelece, no cânon
1083, que o homem só pode se
casar com no mínimo dezesseis
anos e a mulher com quatorze.
No cânon em estudo, o legis-
lador teve em mira um tipo de
imaturidade que impossibilita re-
almente a vida a dois, que torna
a convivência conjugal um inferno
(ou, na melhor das hipóteses, pur-
gatório). Desafortunadamente,
hoje em dia prevalecem o sub-
jetivismo e o hedonismo. Estes
vezos infeccionam as relações,
enfraquecendo-as. Consoante a
doutrina, esse tipo de casamento
vai à falência porque nasceu torto,
celebrado por pessoas desprepa-
radas, ontologicamente imaturas
para o matrimônio, com vício no
consentimento.
Acho que os exemplos nos
ajudam sobremaneira a compre-
ender esse tipo de imaturidade,
isto é, no que ela consiste. São
exemplos sacados dos processos
de nulidade, relatados pelas par-
tes ou por testemunhas. O marido
imaturo, por exemplo, não logra
abandonar a vida de solteiro.
Nos fins de semana, em vez de
permanecer ao lado da esposa,
quer jogar bola, divertir-se com
os amigos. Durante o namoro e
o noivado, tudo era mais fácil,
porquanto, findado certo com-
promisso, cada qual ia para sua
casa. Porém, agora, ambos resi-
dem na mesma casa. A mulher
imatura não é capaz de assumir
as mais comezinhas tarefas do lar,
como, por exemplo, preparar uma
refeição etc. São coisinhas que
vão minando o relacionamento;
coisinhas aparentemente, vez
que, conforme os especialistas,
tais comportamentos pueris pa-
tenteiam ingente imaturidade
nupcial.
No transcorrer do processo
judicial, não é difícil aferir esse
tipo de imaturidade. Ouve-se, por
exemplo, uma testemunha que diz
o seguinte: realmente, eles viviam
às turras; muitas vezes fui visitá-los
e, constrangido, tive de sair logo,
porque só brigavam; brigavam por
qualquer motivo e na minha frente.
Findamos aqui a série de artigos
sobre nulidade de casamento.
Queremos registrar a seguinte
mensagem: quem estiver sofrendo
em uma relação conjugal, procure
aconselhamento externo de um
profissional competente; conver-
se, também, com o pároco. Muita
vez, os entraves se superam e o
matrimônio, até então írrito, se
convalida. Nas situações em que
inexistem possibilidades de reatar
a vida a dois, bata-se à porta do
tribunal eclesiástico a fim de que,
no processo judicial, se aprecie a
validade ou invalidade do sacra-
mento. Se a sentença exarar a
invalidade, as partes não devem
mais olhar para trás. O veredic-
to da corte canônica conforta as
consciências escrupulosas e con-
vida a novos desafios na graça de
Deus. 

Edson Luiz Sampel Professor catedrático do Instituto

Superior de Direito Canônico de Londrina. Presidente
da Comissão Especial de Direito Canônico da 116ª
Subseção da OAB-SP.

OUTUBRO / NOVEMBRO 2022 MISSÕES 23

 DESTAQUE
FOTO: JEON HAN
Sereis minhas
testemunhas
de Redação
O
papa Francisco, em sua
mensagem para o Dia
Mundial das Missões, es-
crita dia 6 de janeiro de
2022, destaca como tema
o versículo 8 do capítulo 1 do livro
dos Atos dos Apóstolos “Recebe-
reis a força do Espírito Santo, que
descerá sobre vós, e sereis minhas
testemunhas em Jerusalém por
toda a Judeia e Samaria e até aos
confins do mundo”.
O papa lembra que nesse ano,
o Dia Mundial das Missões pro-
24 OUTUBRO / NOVEMBRO 2022 MISSÕES
(At 1, 8)
porciona algumas comemorações
importantes para a vida e missão da
Igreja: a fundação, a 400 anos, da
Congregação de Propaganda Fide –
hoje designada Congregação para a
Evangelização dos Povos– e, a 200
anos, da “Obra da Propagação da
Fé”; esta, juntamente com a Obra
da Santa Infância e a Obra de São
Pedro Apóstolo, a 100 anos foram
reconhecidas como “Pontifícias”.
Voltando ao tema do Dia Mundial
das Missões, o papa destaca três
expressões-chave que resumem os
Mensagem do
Papa Francisco
para o Dia
Mundial das
Missões, esse ano
comemorado dia
23 de outubro.
três alicerces da vida e da missão dos
discípulos: “Sereis minhas testemu-
nhas”, “até aos confins do mundo” e
“recebereis a força do Espírito Santo”.
“Sereis minhas testemunhas”
– A chamada de todos os cristãos
a testemunhar Cristo
É o ponto central, o coração do
ensinamento de Jesus aos discí-
pulos em ordem à sua missão no
mundo. Todos os discípulos serão
testemunhas de Jesus, graças ao
Espírito Santo que vão receber:
será a graça a constituí-los como
tais, por todo o lado aonde forem,
onde quer que estejam. Tal como
Cristo é o primeiro enviado, ou seja,
missionário do Pai (cf. Jo 20, 21) e,
enquanto tal, a sua “Testemunha
fiel” (Ap 1, 5), assim também todo
o cristão é chamado a ser missio-
nário e testemunha de Cristo. E a
Igreja, comunidade dos discípulos
de Cristo, não tem outra missão
senão a de evangelizar o mundo,
dando testemunho de Cristo. A
identidade da Igreja é evangelizar.
Uma releitura de conjunto mais
aprofundada esclarece-nos alguns
aspectos sempre atuais da missão
confiada por Cristo aos discípu-
los: “Sereis minhas testemunhas”.
A forma plural destaca o caráter
comunitário-eclesial da chamada
missionária dos discípulos. Todo o
batizado é chamado à missão na
Igreja e por mandato da Igreja: por
isso a missão realiza-se em conjunto,
não individualmente: em comunhão
com a comunidade eclesial e não
por iniciativa própria.
Em segundo lugar, é pedido aos
discípulos para construírem a sua
 vida pessoal em chave de missão:
são enviados por Jesus ao mundo
não só para fazer a missão, mas
também e, sobretudo, para viver a
missão que lhes foi confiada; não só
para dar testemunho, mas também
e, sobretudo, para ser testemunhas
de Cristo.
Por isso, na evangelização, ca-
minham juntos o exemplo de vida
cristã e o anúncio de Cristo. Um serve
ao outro. São os dois pulmões com
que deve respirar cada comunidade
para ser missionária. Este testemu-
nho completo, coerente e jubiloso
de Cristo será seguramente a força
de atração para o crescimento da
Igreja também no terceiro milênio.
“Até aos confins do mundo” – A
atualidade perene duma missão de
evangelização universal
Ao exortar os discípulos a serem
suas testemunhas, o Senhor ressus-
citado anuncia onde são enviados:
“Em Jerusalém, por toda a Judeia e
Samaria e até aos confins do mun-
do” (At 1, 8). Aqui emerge muito
claramente o caráter universal da
missão dos discípulos. Coloca-se
em destaque o movimento geográ-
fico “centrífugo”, quase em círculos
concêntricos, desde Jerusalém –
considerada pela tradição judaica
como centro do mundo – à Judeia e
Samaria, e até aos extremos “confins
do mundo”. Não são enviados para
fazer proselitismo, mas para anun-
ciar; o cristão não faz proselitismo.
Os Atos dos Apóstolos narram-nos
este movimento missionário: o mes-
FOTO: PRESIDENCIA DE LA REPÚBLICA MEXICANA
mo dá-nos uma imagem muito bela
da Igreja “em saída” para cumprir a
sua vocação de testemunhar Cristo
Senhor, orientada pela Providência
divina através das circunstâncias
concretas da vida. Com efeito, os
primeiros cristãos foram perse-
guidos em Jerusalém e, por isso,
dispersaram-se pela Judeia e a Sa-
maria, testemunhando Cristo por
toda a parte (cf. At 8, 1.4).
Algo semelhante acontece ainda
no nosso tempo. Por causa de per-
seguições religiosas e situações de
guerra e violência, muitos cristãos
vêem-se constrangidos a fugir da sua
terra para outros países. Estamos
agradecidos a estes irmãos e irmãs
que não se fecham na tribulação,
mas testemunham Cristo e o amor
de Deus nos países que os acolhem.
Com efeito, experimentamos cada
vez mais como a presença dos fiéis
de várias nacionalidades enriquece
o rosto das paróquias, tornando-as
mais universais, mais católicas. Con-
sequentemente, o cuidado pastoral
dos migrantes é uma atividade mis-
sionária que não deve ser descurada,
pois poderá ajudar também os fiéis
locais a redescobrir a alegria da fé
cristã que receberam.
A indicação “até aos confins do
mundo” deverá interpelar os dis-
cípulos de Jesus de cada tempo,
impelindo-os sempre a ir mais além
dos lugares habituais para levar o
testemunho d’Ele. Hoje, apesar de
todas as facilidades resultantes dos
progressos modernos, ainda existem
áreas geográficas aonde não chega-
ram os missionários testemunhas de
Cristo com a Boa Nova do seu amor.
“Recebereis a força do Espírito
Santo” – Deixar-se sempre fortalecer
e guiar pelo Espírito
Ao anunciar aos discípulos a
missão de serem suas testemunhas,
Cristo ressuscitado prometeu tam-
bém a graça para uma tão grande
responsabilidade: “Recebereis a
força do Espírito Santo e sereis mi-
nhas testemunhas” (At 1, 8). Com
efeito, segundo a narração dos Atos,
foi precisamente a seguir à descida
do Espírito Santo sobre os discípulos
de Jesus que teve lugar a primeira
ação de testemunhar Cristo, morto
e ressuscitado, com um anúncio
querigmático: o chamado discurso
missionário de São Pedro aos habi-
tantes de Jerusalém. Assim começa
a era da evangelização do mundo
por parte dos discípulos de Jesus,
que antes apareciam fracos, me-
drosos, fechados. O Espírito Santo
fortaleceu-os, deu-lhes coragem e
sabedoria para testemunhar Cristo
diante de todos.
Como “ninguém pode dizer:
‘Jesus é Senhor’ senão pelo Espí-
rito Santo” (1 Cor 12, 3), também
nenhum cristão poderá dar teste-
munho pleno e genuíno de Cristo
Senhor sem a inspiração e a ajuda
do Espírito. Quando nos sentirmos
cansados, desmotivados, perdidos,
lembremo-nos de recorrer ao Es-
pírito Santo na oração, para nos
deixarmos restaurar e fortalecer
por Ele, fonte divina inesgotável
de novas energias e da alegria de
partilhar com os outros a vida de
Cristo. “Receber a alegria do Espírito
é uma graça; e é a única força que
podemos ter para pregar o Evan-
gelho, confessar a fé no Senhor”
(Francisco, Mensagem às Pontifícias
Obras Missionárias, 21/V/2020).
Assim, o Espírito é o verdadeiro
protagonista da missão: é Ele que
dá a palavra certa no momento
justo e sob a devida forma. 
Com informações do site Vatican News.
OUTUBRO / NOVEMBRO 2022 MISSÕES 25
 CIDADANIA
"A Carta"
de Fátima Bazeggio
N
o dia 4 de outubro, dia de São Francisco de Assis,
o cardeal Michael Czerny, prefeito do dicastério
do desenvolvimento humano integral, falou
em uma coletiva de imprensa, sobre a estreia
do documentário "A Carta", filme que conta a
trajetória de alguns líderes ambientais de várias partes
do mundo, para se encontrar com o papa Francisco em
Roma, a fim de discutir a Encíclica Laudato Si.
O cardeal assim se pronunciou sobre o conteúdo do
filme “A humanidade está em uma encruzilhada, tanto
a comunidade científica como a comunidade religiosa
são claras: o planeta está em crise e seus sistemas de
suporte à vida estão em perigo. O risco nunca foi tão
alto. Que o mundo receba esta Carta com o coração e
a mente abertos”.
Um dos protagonistas do filme, o cacique Odair
“Dada” Borari, da Amazônia, assim se manifestou: “Estou
aqui para mais uma vez falar em nome da floresta e da
população indígena. Não queremos ver a floresta ama-
zônica acabada, porque a vida está nela. A floresta está
pedindo socorro e mantê-la viva não depende só dos
indígenas, mas de todos, principalmente dos governan-
tes. Precisamos nos unir para protegê-la”. Como muitos
não têm acesso ao conteúdo da Encíclica, a produção do
documentário se propõe tornar a mensagem acessível,
a todo tipo de público.
Evangelização e Ecologia
Olhando os documentos de outros papas já é possí-
vel observar a preocupação e as recomendações feitas
sobre o tema do meio ambiente e o desenvolvimento
sustentável. Na encíclica papal Pacem in Terris, João
XXIII (1963) conclamava todas as pessoas de boa von-
tade a uma mudança de atitude em favor da paz e da
preservação do planeta em vistas ao perigo das guer-
ras. Em sua Carta Apostólica Octogesima Adveniens, o
26 OUTUBRO / NOVEMBRO 2022 MISSÕES
papa João Paulo II (1971) adverte sobre o risco do ser
humano e do planeta serem vítimas de uma catástrofe
ecológica, sublinhando a urgente necessidade de uma
mudança de comportamento. Bento XVI em sua Carta
Apostólica Caritas in Veritate (2009), propôs reconhecer
que o meio ambiente está cheio de chagas, causadas
pelo nosso comportamento irresponsável e que a liber-
dade humana usada sem limites nos desvia do centro
da criação, que é Deus. A Encíclica Papal, Laudato Si
(2015), traz a necessidade do cuidado e da responsa-
bilidade que deve haver com todo universo habitado.
Uma leitura da atual degradação dos recursos naturais
serve como um apelo à mudança de comportamento
e a uma conversão ecológica, com o compromisso de
cuidar da Casa Comum.
A crise ambiental
Ao lado da percepção da Igreja, na figura dos
vários papas, ao longo dos anos, vemos iniciativas
da sociedade civil, que denunciam a crise pela qual
o planeta atravessa e dos riscos para toda a criação.
Os sistemas de valores nesta modernidade líquida,
com uso indiscriminado de recursos naturais e pouca
valorização da vida humana, levam perigosamente
a um modelo de sociedade, que preza pelo capital
acima da qualidade de vida, ignorando os recorrentes
sinais do esgotamento dos recursos planetários. Sim,
é preciso pensar no desenvolvimento, mas com res-
ponsabilidade ecológica e humanitária. A 27ª edição
da Conferência do Clima (COP) das Nações Unidas
será realizada entre 6 a 18 de novembro de 2022,
em Sharm El Sheikh, no Egito, com a participação de
autoridades do alto escalão da ONU e representantes
nacionais dos ministérios do clima, meio ambiente
e sustentabilidade. Teremos oportunidade de acom-
panhar os acontecimentos da COP 27 através das
redes sociais, site, canal do Youtube e outros. Fiquem
ligados. 
Fátima Bazeggio é Leiga Missionária da Consolata, comunidade São Paulo.
 BÍBLIA

Unidade e
diversidade
Pois fomos todos batizados num
só Espírito para ser um só corpo,
judeus e gregos, escravos e
livres, e todos bebemos de um só
Espírito. (1 Cor 12,13)
de Mauro Negro

E
m João 17 encontra-se a famosa “oração de
Jesus”. Ali se lê: “…que todos sejam um” (ver-
sículo 21). A prece de Jesus para a unidade de
seu grupo é um intenso desejo de unidade,
de comunhão, o que não é uniformidade. Em
todos os tempos, quando se buscou na realidade
humana uma uniformidade, sempre houve rupturas
e divisões. A unidade deve pressupor a diversidade.
É inegável que existem modos diferentes de ser
discípulo de Jesus, o que acontece desde o início
da Igreja. O que é ruim é a divisão e até a oposição
entre grupos distintos. Se em João 17, 21 se ouve
Jesus orando ao Pai e pedindo “que todos sejam
um”, em 1 Coríntios 12,13 lemos Paulo afirmando
que “fomos todos batizados num só Espírito para ser
um só corpo”. Por que há tantas divisões e rupturas
entre os discípulos de Jesus? E curiosamente, quan-
do se busca uma unidade em algum momento, vem
outro rompimento, dentro do grupo que antes estava
coeso. Parece que o horizonte da Igreja é progredir
nas divisões!
Ocorre que, junto à ideia da pertença a Cristo
como seu discípulo há também a percepção de
que o modelo mais original, mais fiel à proposta de
Jesus e seu desejo é aquele ao qual se pertence. E
esta percepção, que pode até ser correta sob certos
aspectos, não auxilia na aproximação com os outros.
A questão não é destacar a Instituição, que pode ser
chamada de Igreja, mas sim a pertença a Cristo e a
assistência do Espírito Santo.
Falando de Igrejas, está longe o tempo em que as
divisões passaram a existir, e por isso é difícil compre-
ender o momento histórico, as pessoas envolvidas,
as situações e as respostas dadas. Não é possível
dialogar e entrar em juízos de valores a esta altura
da história. Mas é possível perceber se as divisões
buscam a Deus de modo verdadeiro ou se apenas
desejam vantagens e confortos.
A oração de Jesus, pedindo que todos sejam um, é
um desejo visceral do Senhor. Ela se torna realidade
na medida em que os discípulos deixam de lado as
diferenças e crises, que existiram, existem e existirão,
e buscam seguir o Mestre. A capacidade de olhar
para o mesmo Cristo e buscar construir o mundo
com Justiça e Paz, em vista da Salvação, é uma marca
segura do Reinado de Deus. Unidos mas diferentes,
comungando o mesmo Reino de Deus e a mesma
identidade de cristãos. 
Mauro Negro, OSJ Biblista, PUC São Paulo - mauronegro@uol.com.br

OUTUBRO / NOVEMBRO 2022 MISSÕES 27

 ESPECIAL

Tempo de graça
e renovação da fé
18º Congresso papa Francisco para ser sinal de
Eucarístico comunhão com a Igreja presente
no mundo inteiro.
Nacional é realizado O evento contou com a presença
na arquidiocese de aproximadamente 1.200 padres
de Olinda e Recife e 200 bispos de todo o país. Du-
e tem como tema rante o 18º Congresso Eucarístico
Nacional, houve muitas atividades
“Pão em todas as que marcaram esse momento: sim-
mesas”. pósios, catequeses, apresentações
culturais, coral, abertura da casa
de Josky Menga
do pão, como gesto concreto e
lembrança do 18º CEN, shows mu-
sicais, palestras, vigília da juventude
Antônio Marto, representante do
papa. Eles saudaram os jovens e
todos os presentes que se prepara-
vam para a madrugada de adoração
ao Santíssimo Sacramento. Em
seguida houve apresentações de
comunidades católicas, partilhas e
testemunhos, louvor e exposição
das relíquias dos Bem-aventurados
Carlos Acutis e Benigna Cardoso,
que são duas referências de san-
tidade para a juventude.
Também houve a celebração da
santa missa, que no 33º Domingo

A
arquidiocese de Olinda e
Recife, juntamente com
o Regional Nordeste 2 da
CNBB celebrou de 11 a 15
de novembro de 2022, o
18º Congresso Eucarístico Nacional
(CEN), com o tema,“Pão em todas
as mesas” e o lema, “Repartiam
o pão com alegria e não havia
necessitados entre eles” (cf At 2,
46), colocando o Senhor
como mesa aberta a to-
e por fim, a primeira eucaristia em
toda arquidiocese como momento
marcante e muito sublime.
Vigília da juventude e
Congresso Eucarístico
A programação do Congresso
continha no dia 12, às 20h, a vigília
da juventude com a participação de
dom Fernando e o do cardeal dom
do Tempo Comum propôs reflexões
sobre a vida em comunidade e a
presença da juventude na Igreja.
A celebração foi presidida pelo
bispo de Caicó, Antônio Carlos,
que relembrou o Dia Internacional
dos Pobres e a sensibilidade de
vivenciar este dia durante o Con-
gresso. Adoração ao Santíssimo
Sacramento conduzido pelo Frei

ARQUIVO PESSOAL
dos e como Sacramento
da partilha e da justiça
econômico-social.
Dom Fernando Sa-
burido, OSM, Arcebispo
Metropolitano, com as
suas palavras na men-
sagem de abertura do
Congresso mostrou com
a sua atitude de amor e
entusiasmo, alegria de
viver o tempo de graça e
de benção para o Brasil e
todo o povo de Deus e de
receber o Eminentíssimo
cardeal Antônio Augusto
Marto, como enviado do

28 OUTUBRO / NOVEMBRO 2022 MISSÕES

Gilson encerrou esse momento
e durante sua partilha, ele falou
ao público sobre penitência e a
permanência de Deus na vida e
na história. Sob uma forte chuva
no Recife, a vigília seguiu com a
recitação do Santo Rosário, con-
forme pedido pela Virgem Maria
em Fátima.
O Hino que canta e
encanta se realiza em ato
O Hino do Congresso traz algo
importante que se manifestou nos
dias atuais: Na terra dos altos co-
queiros, canta, meu povo que é
festa; e o Pão em todas as mesas
a comunhão manifesta.
No dia 13 de novembro foi ins-
tituído pelo papa Francisco o Dia
Mundial dos Pobres na cidade de
Recife com o clima do Congresso
Eucarístico Nacional. Em toda a
arquidiocese de Recife e Olinda foi
celebrada a primeira eucaristia e
os 180 bispos tiveram a graça de
distribui-lar em todas as paróquias
para estar em sintonia com o Povo
e a Igreja, celebrando essa festa
alimentando o povo com sede de
Deus e da eucaristia para mais de
3.000 crianças.
Essa solenidade ocorreu em 148
paróquias e três áreas pastorais da
arquidiocese no dia 13 de novembro
às 16h, momento histórico para
essa Igreja, testemunhando que as
crianças se alimentaram neste dia
com o pão vivo descido do céu e
assim elas podem testemunhar que
realmente na partilha seremos para
o mundo, estandarte da eucaristia.
A Eucaristia nos faz Igreja
comunidade de amor
No dia 15 de novembro en-
cerrou-se o 18º Congresso Euca-
rístico Nacional em Recife, com a
celebração eucarística que reuniu
uma multidão de fiéis no Marco
Zero da área Central da capital
do estado. A multidão participou
com muita alegria cantando em
procissão com o Santíssimo Sa-
cramento nas avenidas principais
e o cardeal dom Antônio Marto
encerrou esse momento dizendo:
A Eucaristia é sacramento do altar
quando é sacramento do irmão. Foi
um tempo de graça e renovação
da fé para toda a Igreja! 
Josky Menga, imc, animador vocacional, Nordeste, Bahia.
OUTUBRO / NOVEMBRO 2022 MISSÕES 29
 Missionário jovem
volta ao Pai
VOLTA AO BRASIL
de Paulo Mzé
"C
usta muito ter que abrir mão de
alguém especial e deixar que ele
parta definitivamente da nossa
vida e missão, mas infelizmente
a morte é uma ameaça constante
e quando resolve impor a sua vontade não
há nada que possamos fazer”. Nunca esqueceremos os momentos que
O testemunho é do nosso coirmão padre
Joseph Mbarire colhido por ocasião do dia
15 de novembro de 2022, quando celebra-
mos nossos confrades que já partiram para a
casa do Pai. Nas nossas orações recordamos
principalmente os que faleceram ao longo
deste ano. Nossa Região Brasil celebrou este
dia com muita dor e consternação também
pela morte do padre James Wahome Irungu,
ocorrida no dia 14, segunda-feira. Com certeza,
para nós a notícia é de profunda tristeza, mas
também queremos vivê-la com esperança.
Padre James tinha 35 anos de idade e quatro
de ordenação sacerdotal. Natural do Quênia
estava trabalhando na Paróquia São João
Batista, em Jaguarari, BA. Celebrou missa
às 7h de segunda-feira (14) no distrito de
Gameleira e foi desfrutar de um momento
de lazer em Juazeiro, sendo tragado pelas
águas do Rio São Francisco.
O padre Joseph Mbarire disse ainda em seu
testemunho: “Agradeço as belas expressões
de condolências pela partida do querido mis-
sionário. Certamente que o Instituto sofreu
30 OUTUBRO / NOVEMBRO 2022 MISSÕES
uma perda muito grande de alguém tão ne-
cessário. Mas, seja feita a vontade de Deus.
Do céu, pelo afeto que tinha pelo Instituto,
continuará protegendo e implorará, para nós
muitas graças para que este cumpra a sua
missão. Hoje dizemos adeus a uma pessoa
maravilhosa que encheu nossas vidas de
alegria, que nos marcou pela generosidade
do seu coração e seu zelo missionário. Sua
marca jamais será apagada, passe o tempo
que passar, e a saudade fará parte da nossa
vida. Esta é uma despedida triste, mas é
também um momento para recordarmos
com amor padre James como uma pessoa
muito especial que já não está entre nós.
vivemos e tudo que aprendemos com ele”.
Padre Mbarire terminou a sua mensagem
dizendo: “Agora nas mãos de Deus, e sempre
em nossos corações. Vá com Deus missionário
e descanse em paz”.
O bispo da diocese de Bonfim, dom Hernaldo
Pinto Farias, sss, emitiu uma nota de pesar
pelo falecimento do padre James, agradecen-
do "por seu serviço à Diocese e à Paróquia",
suplicando a Deus "que tenha misericórdia
dele e o acolha em seu Reino eterno".
Dom Hernaldo terminou sua mensagem
unindo-se aos missionários: "em nome da
Diocese de Bonfim, envolto da força da Euca-
ristia no 18º Congresso Eucarístico Nacional,
em Recife, nos unimos aos religiosos da Con-
solata, aos paroquianos e aos seus familiares
neste momento de pesar, mas de profunda
comunhão de oração, na certeza da vida eterna
desse nosso irmão. Descanso eterno, dai-lhe,
Senhor. Da luz perpétua, o resplendor". 
Paulo Mzé, imc, é Superior da Região Brasil dos Missionários da Consolata
e diretor da revista Missões.
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