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O ESTADO NO MEDIEVO: ascensão e desaparecimento do pluralismo jurídico

Plano de aula proposto por Vinícius Batelli de Souza Balestra

I - Introdução

O período do medievo deve despertar especial curiosidade no estudioso do


Estado. Se é no alvorecer da Modernidade que o Estado, como o conhecemos, floresce
em sua plenitude – dotado de soberania, e composto de povo, território e poder
delimitados -, foram as experiências político-jurídicas medievais que assim o forjaram.
Antes de haver um Estado soberano, apto a dizer e impor apenas um direito, que
prevalece sobre todas as outras ordens sociais, o homem medieval viveu a experiência
do pluralismo político e jurídico. O homem medieval não é indivíduo, mas um sujeito
imerso em muitas sociedades e ordens – a ordem religiosa, a ordem corporativa, a
ordem imperial, a ordem do reino, dentre outras. De cada uma dessas ordens, emana um
direito. A tarefa do jurista medieval é interpretar as ordens existentes, perceber as
geometrias variáveis que permitissem seus encaixes – sabedor, a todo tempo, de que
todas as ordens deveriam apontar para a Ordem superior de Deus. No medievo, não há a
insularidade do indivíduo nem do Estado – mas a permeabilidade de uma sociedade de
sociedade, um corpo político que não é uno, mas múltiplo e harmônico.

II – Objetivos

De modo geral, o objetivo desta aula é que discutir o papel das experiências
políticas e jurídicas do medievo na formação do Estado Moderno, suas permanências e
descontinuidades. Especificamente, será importante que o aluno saiba, ainda que
panoramicamente, que havia uma multiplicidade de ordens jurídicas que atuava sobre a
regulação social no medievo; que o papel do jurista não era de mero silogismo, mas uma
verdadeira hermenêutica da ordem social; também será importante perceber de que
modo o atributo da soberania e a figura do indivíduo, típicos da Modernidade, são
estranhos à “sociedade de sociedades” do Medievo.
III - Referencial teórico

Além dos habituais conceitos trabalhados em Teoria do Estado, essa aula conta
com forte interlocução com um cabedal teórico de História do Direito. Autores como
Paolo Grossi e António Manuel Hespanha, ambos destacados historiadores do Direito,
são propositores e estudiosos do pluralismo jurídico presente no medievo. Grossi, em
especial, é crítico do uso da expressão Estado para tratar do medievo. A aula contará
com uma menção ao livro “O Príncipe”, de Maquiavel, como exemplo de passagem da
ordem política medieval para a Modernidade.

IV - Metodologia

Na concepção culturalista, o Direito tem três dimensões: fato, valor e norma. A


aula colocará especial ênfase no conflito axiológico – isto é, na diferença cultural,
valorativa – entre o Medievo e a Modernidade que permite a formação do Estado como
forma política. Serão enfatizados, ao mesmo tempo, fatos históricos que fizeram
irromper essas formas e o modo com que as normas jurídicas se alteram, a cada tempo.

V – Avaliação

O tema permite que os alunos trabalhem com resenhas críticas do vasto


universo de filmes que tematizam o medievo, em diálogo com as referências teóricas
oferecidas. Henrique V (filme de 1989), por exemplo, permite tematizar o pluralismo
político e as guerras religiosas que levam, ao fim, à formação dos Estados nacionais.
Braveheart (1995) ilustra, a partir da luta pela independência da Escócia, o mesmo
tema. O Nome da Rosa (1986), por sua vez, coloca em relevo o direito canônico e seu
funcionamento. Propõe-se que os alunos escolham algum filme de sua preferência e
façam, uma resenha crítica, de até duas laudas, em diálogo com os textos e a aula.
VI - Referências

HESPANHA, António Manuel. Cultura Jurídica Europeia: síntese de um


milénio. Imprenta: Florianópolis, Boiteux, 2005. [Capítulos 4 e 5]

GROSSI, Paolo. Da sociedade de sociedades à insularidade do Estado – entre


Medievo e Idade Moderna. Revista Seqüência. Florianópolis, nº. 55, 2007, p. 9 a 28.

MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. São Paulo: Cultrix, 2006.

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