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Movimentos de satélites geoestacionários: características e


aplicações destes satélites

Um dos tipos de movimento mais importantes é o movimento 


 v
circular com rapidez constante. Esse é o tipo de movi- v

mento de, por exemplo, a maioria dos satélites artificiais da


Terra. 
a

Num movimento deste tipo, a magnitude da velocidade é a
constante ou uniforme. Diz-se que é um movimento circular
uniforme. Mas, note-se, a velocidade, que é uma grandeza
Num movimento circular uniforme, a magnitude
vectorial, tangente à trajectória, está permanentemente da velocidade é constante mas a direcção da
a variar em direcção. No movimento circular uniforme há, velocidade está permanentemente a variar. A
aceleração aponta para o centro da trajectória (é
pois, aceleração, apesar da magnitude da velocidade não va-
centrípeta).
riar. A aceleração no movimento circular uniforme aponta para
o centro da trajectória, e é tanto maior quanto mais rápido for
o movimento circular. Diz-se que a aceleração é centrípeta.
Como veremos adiante, é possível calcular a magnitude desta
aceleração centrípeta, conhecendo a velocidade e o raio da Se este satélite der uma volta à Terra em 24 h
trajectória circular. (exactamente o mesmo tempo que a Terra
demora a dar uma volta completa em torno do
Há centenas de satélites que têm um movimento circular seu eixo de rotação), o satélite é visto da Terra
como estando sempre no mesmo ponto do
com uma velocidade tal que faz com que estejam sempre por
espaço.
cima do mesmo ponto da Terra. Esses satélites dão uma volta
completa à Terra em 24 h, exactamente o tempo que a Terra
demora a dar uma volta em torno do seu eixo de rotação.
Assim, são vistos do mesmo local da Terra no mesmo ponto Este ângulo é
descrito pelo raio da
do céu. São, por isso, designados por satélites geoestacio‑
órbita do satélite e
nários. A órbita desses satélites está no plano do equador. pelo raio da Terra
exactamente no
As órbitas dos satélites geoestacionários (ou órbitas geo‑ mesmo intervalo de
estacionárias) têm um raio de 42 200 km e são utilizadas tempo...
para satélites de comunicações, apesar de estarem tão longe
e terem tempos de lactência (isto é, atrasos na comunicação) Pólo Norte
relativamente grandes (cerca de 0,5 segundos). Sendo vistos Europa

sempre no mesmo ponto do espaço, as antenas na Terra po-


dem apontar apenas para esse ponto (daí o serem muito utili-
zados como satélites de comunicações).

As órbitas geoestacionárias são um caso particular das ór‑


bitas geosíncronas, isto é, órbitas em que o movimento do
satélite é tal que na mesma hora de cada dia é visto da Terra
exactamente na mesma posição do céu. As órbitas dos satéli-
tes do sistema GPS são semi‑geosíncronas: têm um período
orbital de 12 h, aparecendo no mesmo ponto do céu, vistos da
As órbitas geoestacionárias estão no plano do
Terra, duas vezes por dia. O raio destas órbitas semi-geosín- equador.
cronas é 26 600 km.

1 O raio da Terra é 6 400 km. Quantas vezes é que o raio da órbita de um satélite
geoestacionário é maior que o raio da Terra?

2 A órbita da figura acima está à escala? Fundamente a resposta.

3 Quantos minutos demora um satélite geoestacionário a dar a volta à Terra? E quantos


segundos? Compare esses valores com a duração de um dia terrestre.

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Velocidade angular no movimento circular uniforme

Quer um satélite geoestacionário quer a


Terra descrevem uma volta de 360º em 24
h. Portanto, podemos dizer que o raio da ór-
bita do satélite e o raio da Terra rodam com
uma rapidez de 15 gaus por hora:
360º
15º /h
24 h

Esta grandeza física que descreve a rapi-


dez com que um objecto roda é designada
por velocidade angular. (Nota: em rigor,
a velocidade angular também é um vector
pelo que 15º/h representa apenas a magni-
tude da velocidade angular da Terra e do raio ângulo descrito pelo raio da trajectória da partícula
velocidade angular =
da órbita do satélite. A velocidade angular intervalo de tempo decorrido
q
aponta numa direcção perpendicular ao plano w=
Dt
de rotação.) para uma volta
completa, tem-se
A velocidade angular, que se representa 360º
w=
T
pela letra grega ómega, , pode ser facil-
mente calculada conhecendo o período T de
rotação (tempo que demora uma volta com-
pleta), para uma rotação uniforme:
360º
=
T

Por exemplo, se o período for 10 s, a ve-


locidade angular é
360º/10 s = 36º/s.

Já a velocidade angular de um satélite


geoestacionário (e a da Terra!) vale, em
graus por segundo, tendo em conta que um
dia tem 24 h, que 1 hora tem 60 minutos e
que 1 minuto tem 60 s:

360º
= = 0, 0042 º/s = 4, 2 ´ 10-3 º /s
(24 ´ 60 ´ 60) s

A roda gigante de Londres (London Eye) demora 30 min a dar


uma volta completa. Qual é a velocidade angular da roda, em
graus por minutos? E em graus por segundo?

1 Os gira-discos antigos tinham uma velocidade angular de 33 rpm (rotações por minuto). Qual
é a velocidade angular destes gira-discos, em graus por segundo?

2 Qual é a velocidade angular, em graus por segundo, da Estação Espacial Internacional, que
completa 15,77 órbitas num dia, numa órbita aproximadamente circular a uma altitude de
cerca de 400 km?

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Velocidade angular em graus por segundo e em radianos por


segundo

O grau, ou seja a fracção 1/360 de uma volta completa,


é uma unidade convencional e não é a unidade de ângulo do
Sistema Internacional de Unidades (SI). (A razão pela qual uma
volta completa são 360º tem a ver com o facto de na Antiguidade
se ter considerado que a Terra demorava 360 dias a dar uma
volta completa ao Sol).
ângulo de 1 radiano: o
A unidade SI de ângulo é o radiano. Um radiano (1 rad) é comprimento do arco é igual ao
o ângulo que corresponde a um arco em que o comprimento do comprimento do raio
arco é igual ao comprimento do respectivo raio.

Assim, um ângulo de 2 radianos (2 rad) é um ângulo cujo arco


tem um comprimento que é o dobro do respectivo raio. E um ân-
gulo de 3 rad é um ângulo cujo comprimento do arco é o triplo do
comprimento do raio.

O comprimento do arco que corresponde a uma volta completa


é igual ao perímetro da circunferência. O perímetro vale ângulo de 2 radianos: o
comprimento do arco é igual ao
2 × 3,14159... × raio = 2 × p × raio = 6,28318... × r  6,28 r dobro do comprimento do raio

Logo, o arco da volta completa é 6,28 vezes maior que o raio


da circunferência (em rigor, 2 p vezes maior). E, portanto, o ân‑
gulo correspondente a um volta completa vale 6,28 radia‑
nos.

E quantos graus vale um radiano? Simples: se 360º são


6,28 rad, então 1 rad são 57,3º:

360º ângulo de 3 radianos: o


= 57, 3º
6, 28 comprimento do arco é igual ao
triplo do comprimento do raio
Um raio que rode à rapidez de 1 radiano por segundo, 1 rad/s
(= 57,3º/s) , dá uma volta completa em 6,28 s. E se demorar
10 s a dar a volta completa, roda com uma rapidez de

6, 28 rad
= 0, 628 rad/s
10 s

Mas se demorar 12 s, a rapidez de rotação, que é, em graus/s,

360º
= = 30º /s
12 s

vale, em rad/s: Uma volta completa corresponde


a uma rotação de 6,28 radianos =
2 p rad 6, 28... rad 2 p radianos.
 = = = 0, 524 rad/s
12 s 12 s E uma rotação de meia volta a
3,14 rad = p rad.
Em unidades SI (rad/s), para movimentos uniformes, a veloci- E uma rotação de 1/4 de volta a
1,57 rad = p/2 rad.
dade angular  pode ser calculada a partir da equação
2
T

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1 Qual é, em radianos, o ângulo descrito pelo raio da órbita de um satélite geoestacionário em


24 h?

2 A velocidade angular de um satélite geoestacionário vale, em unidades SI,

2 ´ 3,14159 rad y
=
(24 ´ 60 ´ 60) s

Fundamente a escrita desta equação e obtenha o valor da velocidade angular.

3 Qual é, em radianos, o ângulo descrito pelo raio da órbita de um satélite do sistema GPS em
24 h, tendo em conta que o seu período é de 12 h.

4 Calcule a velocidade angular de um satélite do sistema GPS, em unidades SI.

Observe a foto abaixo e os dados da legenda.

5 Qual é a velocidade angular da Estação Espacial Internacional?

6 Qual é o raio da órbita da Estação Espacial? Tenha em conta que o raio da Terra vale 6400 km.

7 Qual é a distância percorrida pela Estação Espacial numa volta completa?

Desenho de artista representando a aproximação da nave Júlio


Verne à Estação Espacial Internacional, que está numa órbita
aproximadamente circular a baixa altitude (cerca de 400 km), com
uma velocidade de 28000 km/h e com um período de 1,5 h.

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Movimento circular com velocidade de módulo constante e


características das órbitas dos satélites geoestacionários

O movimento circular uniforme, seja de um satélite seja de qual-


quer outro objecto, é um movimento com aceleração centrípeta
constante e, portanto, de acordo com a lei fundamental do movi-
mento, com resultante das forças constante, dirigida para o cen-
tro da trajectória.

Neste tipo de movimentos, a velocidade v tem módulo ou


magnitude constante que é dada pelo quociente entre o compri-

mento da trajectória circular e o intervalo de tempo respectivo, v

2´p ´r
v=
T


onde r é o raio da trajectória e T o período do movimento circular a
(tempo que demora uma volta completa).

Por outro lado, vimos que a velocidade angular  num movi- raio r

mento circular é, em unidades SI, dada por


2
T

Combinando esta equação com a anterior, vem, para a magni-


tude da velocidade v:

2´p ´r
v=
T
2´p comprimento de uma
v= ´r
T circunferência: 2pr
v = ´r
intervalo de tempo de
E, como se mostra na página ao lado, a aceleração centrí- uma volta completa: T
peta a é é dada por
ângulo descrito numa volta
v2 completa, em radianos: 2p
a=
r

velocidade angular, em 2p
Substituindo o valor de v, obtém-se: w=
radianos por segundo:
T
2
( ´ r )
a= velocidade (também designada
r 2pr
por “velocidade linear”): v=
2 2 T
 ´r
a=
r
aceleração centrípeta: v2
a = 2 ´ r a=
r

Esta última equação mostra que: a = w2 r

• a aceleração centrípeta a é directamente proporcional ao


raio r da trajectória, mantendo constante a velocidade an-
gular .

• a aceleração centrípeta a é proporcional ao quadrado da


velocidade angular, 2, mantendo constante o raio r da tra-
jectória (ou seja, duplicando a velocidade angular , qua-
driplica a aceleração centrípeta a; triplicando , aumenta
nove vezes a aceleração centrípeta a; etc.).

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Como calcular a magnitude da vA
aceleração centrípeta, a, num 
Dv
movimento circular uniforme? distância s entre A e B
 
vA no intervalo de tempo t
B vB
A s
 A B
vB
AB » s » v ´ Dt
B

 Dv

Dt

v2
a=
r

r r r r

v

Dv

A amarelo, dois triângulos semelhantes porque têm lados 


Dv s
perpendiculares dois a dois. Entre triângulos semel- =
hantes, os respectivos lados são proporcionais entre si. v r

Tendo em conta que a distância percorrida entre A e B é 


Dv v ´ Dt
o produto da velocidade pelo tempo decorrido, vem: =
v r

Simplificando, e tendo em conta que a aceleração num


instante qualquer da trajectória é o quociente entre a
variação de velocidade e o intervalo de tempo respectivo, 
Dv v ´v
quando esse intervalo de tempo é “muito pequeno”, vem: =
Dt r

v2
a=
r

O esquema acima mostra como se pode demonstrar que a aceleração centrípeta a num
movimento circular uniforme é dada por a = v2/r em que v é a magnitude da velocidade e r é o
raio da trajectória.

1 A órbita de um satélite geoestacionário tem um raio de 42200 km. A aceleração a de um


satélite geoestacionário, em unidades SI, pode ser determinada por:

æç 2 ´ 3,14159 ´ 42 200 ´ 103 ö÷2


çç ÷÷
çè 24 ´ 60 ´ 60 ÷÷
ø
a=
42 200 ´ 103

Fundamente a equação anterior e obtenha o valor de a.

2 Para onde aponta a aceleração de um satélite geoestacionário? E para onde aponta a força
gravítica no satélite? Qual destas grandezas, aceleração ou força gravítica, depende da massa
do satélite? Fundamente a resposta.

3 Será possível colocar um satélite geoestacionário numa órbita de raio inferior ou superior a
42200 km? Fundamente a resposta.

4 A órbita de um satélite do sistema GPS tem um raio de 26200 km e período orbital de 12 h.


Calcule a aceleração de um satélite do sistema GPS em unidades SI.

5 Dois satélites orbitam em órbitas diferentes, um com uma órbita de raio r e outro com uma
órbita de raio 2r, com o mesmo período. Qual tem maior velocidade angular? Fundamente a
resposta, utilizando um esquema e as equações adequadas.

6 Dois satélites orbitam em órbitas diferentes, um com uma órbita de raio r e outro com uma
órbita de raio 2r, com o mesmo período. Qual tem maior aceleração? Fundamente a resposta,
utilizando um esquema e as equações adequadas.

7 Dois satélites orbitam em órbitas diferentes, ambas com o mesmo raio r, mas o período de
um é o dobro do período do outro. Relacione a velocidade angular e a aceleração dos dois
satélites, fundamentando a resposta, utilizando esquemas e as equações adequadas.

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O esquema abaixo mostra como se pode deduzir teoricamente a equação que permite calcular
o raio da órbita dos satélites geoestacionários, a partir da lei da Gravitação Universal, da lei
fundamental do movimento e das equações do movimento circular uniforme.

Tenha em conta que:

• a massa da Terra vale 5,97 × 1024 kg;

• a constante de gravitação universal, G, vale 6,67 × 10-11 (em unidades SI);

• o raio da Terra são 6 400 km;

• e, claro, não se esqueça do período dos satélites geoestacionários...

1 Qual é a equação que permite calcular o raio da órbita de um satélite geoestacionário?

2 Verifique que o raio dessa órbita é dado por

5, 97 ´ 1024
r = 6, 67 ´ 10-11
3 æç 2 ´ 3,14159 ö÷2
çç ÷
è 24 ´ 60 ´ 60 ÷ø

e calcule o respectivo valor em metros e em quilómetros.

3 Fundamente os valores utilizados na equação anterior.

4 Qual é a altitude dos satélites geoestacionários? O desenho abaixo está à escala? Fundamente
a resposta.

5 Descreva resumidamente os passos da dedução teórica da equação que permite calcular o raio
da órbita dos satélites geoestacionários.

massa do satélite, ms
pela lei fundamental do
movimento, tem-se, para
o satélite:

 F = mS ´ a
 a
v  tendo em conta a lei da
a = w2 ´ r Fg
Gravitação Universal,

força gravítica, a única mT ´ mS


Fg = G
força no satélite raio r r2

mT ´ mS e a equação da aceleração
Fg = G 2 centrípeta, vem:
r

v2 m ´m
mS =G S 2 T
r r
simplificando e resolvendo
Pólo Norte em ordem ao raio r:
Europa
v2 m ´ mT
massa da Terra, mT mS =G S
1 r
2 mT
v =G
r
æç 2p r ö÷2 m
çç ÷ =G T
è T ÷ø r
2 mT
(w r ) =G
r
m
w2 r 2 = G T
r
3 mT
r =G 2
w
mT
r = 3G
w2

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6 Calcule a velocidade dos satélites geoestacionários.

7 Qual é o ângulo entre a velocidade dos satélites geoestacionários e o raio da trajectória?


Fundamente a resposta.

8 Calcule a aceleração dos satélites geoestacionários.

9 Qual é o ângulo entre a aceleração dos satélites geoestacionários e o raio da trajectória?


Fundamente a resposta.

10 A aceleração dos satélites geoestacionários depende da massa do satélite? Fundamente a


resposta.

11 Qual é a razão porque se utilizam órbitas geoestacionárias nos satélites de comunicações? E


que desvantagem apresentam essas órbitas?

A ideia da utilização de órbitas


geoestacionárias foi publicada em 1928
pelo engenheiro esloveno Herman
Potocnik, pioneiro da astronáutica. Mais
tarde, em 1945, foram popularizadas
pelo escritor de divulgação científica
Arthur C. Clarke, recentemente falecido,
autor de inúmeros romances de ficção
científica e de diversos programas de
televisão. As órbitas geoestacionárias
são também conhecidas como órbitas de
Clarke, em sua homenagem.

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