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Estrutura, caracterização e classificação das normas

Estrutura das normas jurídicas

Há critérios materiais (norma) e há critérios formais (equidade justiça do caso concreto).

Os critérios normativos (materiais) são gerais e abstratos, não se baseiam num caso.

Normas jurídicas-criterio de decisão e conduta geral e abstrato, pois aplica-se a destinatários.

p.ex: pagar IRS – aplica-se a quem tem de pagar

A equidade não revela normas jurídicas, não é fonte de direito, pois só pode ser usada quando a lei
assim o permite.

A norma é a expressão do dever ser que se retira da fonte, após a interpretação.

As formas de expressão do dever ser (norma) podem ser várias, mas de uma fonte só pode ser
retirada uma norma do dever ser – não pode haver normas distintas retiradas da mesma fonte.

Quando falamos de norma, falamos quase de sempre das normas de conduta (normas por
excelência) são as que nos convidam a um determinado comportamento (dever ser).

Norma e regra para alguns autores são conceitos similares. Norma é a expressão da ordem e do
dever ser. Regras são todas aquelas que não são normas de conduta, aquelas normas que não
expressam nenhuma ordem de dever ser – retroativas, revogatórias.

Não há normas como realidade objetiva preexistente.

A norma divide-se em duas partes que não aparecem sempre da mesma forma, a previsão e a
estatuição:

 A previsão é a parte da norma que recorta a categoria de situações a que se pretende


associar um determinado efeito. Pode ser objetiva e subjetiva, objetiva quando é uma
realidade empírica que pretende ser tratada. Subjetiva quando pensa no sujeito.
 Estatuição é o efeito jurídico que decorre com o preenchimento da previsão.
(consequência/efeito jurídico)

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Características das normas jurídicas

Generalidade e abstração são duas faces da mesma moeda.

A norma jurídica tem uma vocação geral, fixa uma categoria de destinatários não
conhecida à priori. Distingue-se de um preceito individual. A generalidade tende a ser confundida
com pluralidade. Há generalidade aparente e pluralidade aparente. Pode haver preceitos gerais
individuais, aparenta individualidade, mas é geral (presidente da república) – norma geral pois
destina-se a uma categoria de pessoas. Por outro lado, existem situações de individualidade que
aparentam pluralidade. (despedir caminhos-de- ferro, mas só há um). Não há generalidade num
preceito que visa ser aplicado às pessoas em concreto, ainda que aparente pluralidade.

Abstração é a previsão de situações ainda não verificadas, de ocorrência futura, onde o


legislador pretende abranger situações em termos de dever ser. Contrapõem-se à concretude. O
que é concreto dirige-se a um problema específico de ocorrência já verificada.

Saliento as divergências doutrinárias existentes nesta matéria.

Para Rui Medeiros, a generalidade e a abstração são características tendenciais, mas o essencial é a
igualdade, pois o destinatário não pode ser alvo de discriminação.

A doutrina tradicional fala da generalidade e abstração. Para Nuno Pombo, a generalidade é da


essência da norma.

Importa, ainda, salientar a hipoteticidade como característica das normas jurídicas. Esta
consiste no facto de os efeitos jurídicos estatuídos só surtem efeito se forem verificadas as
situações ou factos previstos. Quer isto dizer que, a norma jurídica, tem uma dimensão de
hipótese, aplicada apenas quando esta se verifica.

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Classificação das normas jurídicas

A classificação das normas jurídicas pode ser feita atendendo a vários critérios, sendo eles:

1. conteúdo ou alcance da estatuição


2. vontade dos destinatários
3. âmbito pessoal da validade
4. âmbito de validade espacial
5. plenitude do sentido
6. quanto à sanção
7. aplicação e alcance da norma

Conteúdo ou alcance da estatuição:

1. Normas precetivas: impõem uma conduta


 precetivas em stricto sensu: prestação de facere, conduta positiva
 proibitivas: prestação de non facere, proíbem uma conduta negativa
2. Normas permissivas: permitem uma conduta

Vontade dos destinatários:

1. anormas cogentes ou injuntivas: aplicam-se independentemente da


vontade dos destinatários
2. normas dispositivas: permitem ou autorizam certos comportamentos,
dão ao destinatário a faculdade do fazer ou não fazer
 dispositivas em stricto sensu: permitem ou facultam
certos comportamentos, reconhecendo determinados
poderes ou faculdades
 supletivas: aplica-se quando as partes num negócio
jurídico não tenham disposto de forma contrária em
matérias que carecem de resolução
 interpretativas: determinam o alcance e o sentido de
certas expressões ou declarações negociais suscetíveis de
dúvida

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Âmbito pessoal da validade:

1. normas gerais: aplicam o regime-regra para todos no setor que se destinam


2. normas especiais: - Especiais: consagram uma disciplina nova ou diferente para círculos
mais restritos, não sendo diretamente oposta ao regime-regra comum. As leis especiais

não são revogadas pelas leis gerais1

3. normas excecionais: consagram um ius singulare – um regime oposto ao regime-regra,


num setor restrito. O artigo 875o do Código Civil consagra a necessidade de escritura
pública num negócio de compra e venda de um imóvel, o que é uma exceção dos
contratos de compra e venda.

 Não são suscetíveis de aplicação analógica2, nas integrações de

lacunas3

 permitem uma interpretação a contrario, pois da exceção retiro a


regra

Âmbito da validade espacial:

1. normas universais: aplicam-se em todo o território do Estado


2. normas regionais: aplicam-se, somente, numa determinada região
3. normas locais: aplicam-se apenas num território de uma autarquia local

Plenitude do sentido:

1. normas autónomas: expressam um sentido completo, ou seja, possuem um conteúdo


independente de outras normas jurídicas
2. normas não autónomas: não têm um sentido completo, só o obtendo em combinação
com outras normasa são normas remissivas

Quanto à sanção:

1. leges plus quam perfectae: determinam a invalidade dos atos que as violam, e aplicam
uma pena para os infratores
2. leges perfectae: só determinam a invalidade dos atos que as violem
3. leges minus quam perfectae: não estabelecem a invalidade dos atos contrários, apenas
limitando os efeitos produzidos

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4. leges imperfectae: normas que não fixam nenhuma sanção

Aplicação e alcance da norma:

1. normas inovadoras: introduzem algo de novo no sistema jurídicoa nova norma


2. normas interpretativas: estipulam o sentido que devia ter sido admitido desde o início da
vigência da norma que vêm interpretar. Só são interpretativas normas que não causem
surpresa no intérprete, pois não pretende ser inovadora
 interpretação autêntica quando o legislador é que vem fixar o sentido e
alcance de uma norma que ditou

1
Cf. ARTo. 7o, no3 do Código Civil.

2
Cf. ARTo. 11o do Código Civil.

3
Cf. ARTo. 10o, no1 do Código Civil.

Sanção

O conceito de sanção difere de estatuição. A sanção pode definir-se como uma consequência ou
efeito imposto pela norma jurídica.

Pode ter duas aceções:

 reação desfavorável: incumprimento de uma norma jurídica conduz a uma sanção negativa
= privação de um bem
 reação favorável: cumprimento de uma norma jurídica conduz a uma sanção positiva ou
premial = atribuição de prémios ou recompensas

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