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[Como 0 texto se produz: uma perspectiva discursiva Solange Leda Gallo ‘Universidade do Sul de Santa Catarina ide Pés-praduagio em Ciéneias da Linguagem Letra Chédito da foto: Criangas francesas que participaram da experitneia Radio Cartable pprodusiram mensagens para rasileitas, esforgankdo-se para eserever em portugués, da leitura do lio infantil O barco, apresentado a cles pela autora Letra Gréfica ¢ Béitora Leda, wador Jorge Lacerda, 1809 — fundos ‘da Velha ~ Blumenaa ~ SC ‘uma perspectiva discursiva./ ‘Bhumenau : Nova Letra, 2008. 1. Lingiistca. 2, Anilise do discurso. 3. Critica textual Dp i. ed) 410, Para o meu pai. exemplo mostra que 0 sujcito do discurso pode existir mesm: onde o sujeito da enunciagao no existe. © contetido do enunciado que deter a dizer, finalmente, que esse sujeito pode se constituir mesmo na re produgio, Portanto, 0 sujeito do discurso é efeito de coincidéncia enti suas determinagdes © sua efetivagiio, ja que essas se produzer simultaneamente. Por essa razio, dizemos que para a A.D. a repetigio significativa e 0 sujeito do discurso nfo se confunde com esse que deix: uma marca ¢1 iva, resultado de uma operagao de negacdo di alienagiio de si. reforgar a idéia de qu iciago, um sujeito d No cntanto, a identificagio ¢ a anilise de cada uma dessai dimensdes permite compreender melhor 0 funcionamento do sujeito, ¢ procedimento é fur para nossos propésitos de mostrar funcionamento do sujeito do discurso quando ele esté na base da produg&i do efeito-AUTOR. O projeto: Radio Cartable es discursivas que representam ‘na Tingnagem’ as formagdes liigicas que Ihes so comrespondentes” (PECHEUX, 1988, p. 161). No nosso caso analisaremos a interpelago do sujeito no discurso ico € no Discurso Didético-Pedagégico. Nossa anilise procurar el o trabalho coercitivo das determinagées desse discurso inalmente veremos, através do aprofundamento da nogdo de LIZACAO, em que conjuntura o sujeito do discurso produz 0 p AUTOR A experiéneia pedagégica RADIO CARTABLE se oferece como omiplo de trabalho de TEXTUALIZAGAO das produgdes dos alunos ‘omamos, entZo, essa experiéncia como exemplo para uma andilise 10 se dé. a TEXTUALIZAGAO. famos ter tomado tantas outras experiéncias, até mesmo ‘ita em nosso trabalho anterior (Discurso da escrita e ensino), sma_maneira silo experiéncias onde hé a pritica da UALIZACAO. Escolhemos, no entanto, “Radio Cartable”, jd que foi acompanhamento dessa experiéncia que as nogdes propostas Ja eneontrou tm local na escola Maurice Thorez!! Apresentagao da experiéncia Agora vejamos a resposta de Philippe p: © ponto de vista dos professores que conceberam 0 projet (0 poderia representar naquilo que concee ao Em vez de fazermos pessoalmente uma apresentagio do projeto, optames por fazé-lo ser apresentado por um professor que trabalh tualmente no projeto, M. Philippe Colomine, e que permitiu a gravagio di seu testemunho. ? cen oreio que era a procura de uma situagio verdadeira/ onde as eriangas teriam que produzir uma linguagem correta/ uma gua materna com 6 a utilizagio da linguagern nessas condigdes/ com essa ‘costo! unas numa situago verdadeira/ condigdes de coergo que nto so impostas e-em seguida 05 pais dos slunos! os funciondirios de ipalidade/ € 0s agentes da isso que Educagiio Nat pelo prof ipostas pelof..benv por um cvbelecm acid Acordo ticit pois que nfo ha escolhal/ €¢ além disso também se podia dizer! “voces jf tém cconduta pedag: ccorresponde muito bem a sua pedagopia’ a sua ideologia!! tendo em vista 0 que vocks ja fizern"\. ‘opeies que temos de ‘em que nés tentamas privilegiar ig80 do saber! mas pela crianga’ que ela seja questionadora/ que ela sejaativa// in pequena gota d’égua pata fazer corer 0 ‘ento eles criara claro que howve tum método porque jf na escola Makerenko joterminagao do sujeito do discurso See aati Conte experiéncia da Radio Nossa hipétese inicial € a de que o professor ¢ as criangas que icipam do projeto Radio Cartable assimilam as determinagies do 80 como sendo isso que est designado pela expressi , 2,3. 4) pelo Wdo 0 que ela podia pare ter a todo caso’ para ndio colocarem entraves/ radio 86 da pedagézico! ela fez ‘9 que ser legal sera nfo ter escola’ & necessirio abrir o projeto a seu dist 4 eacola Einstein jé tinha um bom conceito e ela no queria {que tudo fieasse no mesine Tocal// jorosa em termos fonéticos. nos simplesmente estabelecemos que a3 peg les ¢ as grandes pansas por uma barra dupla, 30 ire, todas as Sextas-feiras das aL 1, “Em uma hora / e € preciso prepa isso que se diay los esses pontos citados mostram que, durante os ensaios, as sravar tod a idlas que tis fens no termpo que res s do sujeito do discurso vio sendo cor prepara-se o direto, mmo) ¢ para os alunos como sendo andlogas as * Seguir modelos: (a. 0 texto escrito; b. as representagées teatrais, da TY, da radio; c. e mesmo 0s professores) 2, "Para que 0 outros pot ler é necessiio que a fotha esgja bem ese mnapresentad “Também oralmente é neces ‘presentar-se bem para que 0 outro (o ouvinte) compreenda bem Mas meus alunos! sham terminado 0 . Todas essas determinagdes constituem 0 quedro dentro Tico! rico come S© s o. Nao ha, como poclemos ver, ant teato eles exageram igo e ¢ isso justamente que constitu sua posig0. fessores/ ao nto ao papel da Escola e do professor nessa experiér lentificd-los, por exemplo, no seguinte trecho: sis palavres ‘eu ercio que er a procura do uma situagdo verdadeira/ onde rele foi eapaz de fazer um texto oral? nga teriam que produzir uma Finguagem corrta/ uma gua matema correta! (0 professor). A ficha no precisa comportar todas as frases (professor) ‘Nao é bonita a emisso deles! eles léem palavra por Aqui fica evidente a presenga também determinante do discurso pala’ (alune) ico c, portanto, de posigdes-sujeito desse discurso (0 professor, os etc.) * Eneadear: Aqui “as possil 0 O que vamos observar na seqiténcia da nossa anilise é 0 fato de que resposta no caso em que o ouvint é erminagaio do discurso pedagégico se exercerd no sentido de fazer da uma chamada telefénica no ar. Nesse caso da TEXTUALIZACAO também uma ocasiio de se “aprender” dizer” deve ser listado ¢ previsto de maneira a controlar o sentido sréficas c fonéticns satisfatérias (uma linguagem correta/ uma a garantir uma bem em todas as 3. “Ele vai fazer ume lista e ref possibilidndes, tudo o que se pode dizer (o professor) ico de exercerem igualmente seu poder. Esses fatos nos mostram que a TEXTUALIZACAO pode ser um: * Justificar o que se diz (por que dizemos o que dizemos): da Escola porque as determinagées do discurso pedagégico ni bs podemos falar em portugues na emissio®/ em um -as determinantes do sujeito af inserito. 4. Nbs po ports i sentido no! em outro sentido sim! nko porque ninguém vai ‘comprocnider/ mas sim se a gente traduzir/ ou A diferenga, que tentamos agui exer a gente encaixar dentro de um jogo! por exemple 32 determinado pelo discurso pedagégico, sio aqui evidenciadas e mol de forma radical (pri valer).. assim que entendemos a fala do professor a0 fazer referéneia a “uma situagdo verdadeira” E claro que a instituigao Es« ha (cf. PECHEUX, 1988, p. 300-301), 0 que explica a fuga do sujeito, que apesar de todas essas escapa, O lapso é uma marca dessa fuga deixada pelo sujeito, c Ainda na mesma escolha se nio houvesse in inconsciente que se torna possi através do inconsci discurso. Isso tudo ese! desta proposta, fortemente afet: O funcionamento do sujeito do discurso na experiéncia da Radio Comegaremos esta segio reforgando a distingaio anteriormente entre 0 sujeito do discurso ¢ as mareas d tragos de um enunciador. Nos ensaios para preparar uma emissiio d tipos de produces alternadas e independentes. Nés chamaremos de fando” esse tipo de produg2o que se constitui a principio ein fiagmentos 1 de pesqui relacionado com 0 assunto da emissio ( Esses fragmentos fmeionam como efeito de “fechamento” quando sfo lidos como um toxlo, U8 por inteiro, mesmo que provisoriamente, até que voltem a proc efeitos quando estiverem encaixados no conjunto ‘Mesmo quando nao sto gravados na classe, esses fran lidos no ar, pois se trata de poredes definidas que podem f\ 34 fundo” como um todo e prese Assim, durante 0s ensaios, as produgdes podem propor, por exemplo, um didlogo conseqtentemente constitufdo por marcas enunciat so. Nessa posico cle ocupa um lugar especifico, qu sujeitos cnunciativos, e que difere inclusive do lugar do narrador, f 9 que ‘yeremos na passagem seguinte. ‘TOKONO BANDEIAO Vooss se lembram que na ditima vez Toko salvou a professoral/ hoje esta manhi ele « encontrou na rua ¢ ela o convidou pra almoyar no novo bandejfo instalado na escola este ano! 1S que passava por acaso pela calgada em fhente escutou ‘conversa/BBB, fb! ah! ahl eu vou thes preg 12 peyal eu vou fazer dosaparecer uma mulher do servigo para substitul-la! para faze-la desaparecer eu vou amarré-la/ BBBY c eu von prendé- la dentro de um armitio// ros "se vrou™ pam srncila © depois se disfcgow om uma funcionéria// i i Toko po on ve dx Tegal eu vou ao bandejo e entrevisto as eriangas ‘choga 0 momento da refeigio/! as eriangas chegam ao bandejfo e cada uma deve pegar sua Dandejal seus talleres’ seu guardanapo/ seu pfo/ sua entrada’ radugo as likes hovizont rmaitisetlas e 08 pontor ado so rmanifestas. BBB corresponde a umn barulho proposital (misica, correspondem s mudangas de voz de locutor AW $ comesponden As NA ete). a _ 35 sex queij/ ua sobremesi/ e seu prato prineipal/ a5 criansas pereeber que hums mulher de servigo que tem um ar estrantioll _ ‘eh! Mirsada/ voc® via a funciona? _ ‘obisim EEE Hee Cece ‘ome ela se maquiloul/ ela é estranha ee parece que ela tem ume peruica ‘e que ela esté um pouco nervoss cla é mi tla esté um pouco nervosa tla tem ar de ser mi ‘la tem baton expalfado por toda a bochecha ‘igamos que el eT “Ga tem risco de lapis em baixo do olho como se fossem prandes olheiras FE eee eee ‘eaveu priv a ovtea mallet de servigo © ¥028S? Cee ee cu também si NEEDINsasnasusunussannssiaa en ‘ssn dll ela & cafona sajasdasaeetsmbsnsansennoeeeeeeesecaee ae ‘a pds minhocas no meu pare meee me ‘eno meu um sapo! isso me di nojo ee _ ‘eno meu uma cobra oe ee ‘a adorava vagem ¢ ela me deu 36 um tiguino ——— ‘euadoro bie e ela s6 me dew uma metade _ ald do mais sabe o qu ov neon? tae “Toko faz sua entrevista para saber se izes no bandejao gas ou estow fazendo uma entrevista para 0 ‘estio contentes com 0 bandeja0? flgans minutos mi suplementar 6 chamad: cla tina a cabega taspads como um 37 no lugar dos seus grandes peitos ela era reta como um massa de panqueca// dois fherapos debe ia indo do armi il sobre Fros para arrancar-he a chave das ‘fos! BBB ssério mais de um minuto para que Toko conseguisse ‘o vencedot!/ 4 finciondra pode se enfim libertada!e Fos foi jogado para fora! BBY MUSICA/ Desde © prinefpio em “vocés se Toko salvou a professora/hoje esta manhii faz. uma referéneia explicita a um es, que ja tinha ouvido 0 progr desse destinatario. houve uma Eo fun AUTOR, desde qui cenunci (destinatério de um “nds” enunciador) do comego da produgio. vel de constituigao (vocés/nés) & do ‘que neste caso fem uma marca enunciativa porque seu espa Jide com 0 espago de constituigio da posigio sujcito- narrador (mas que poderia nfo c nivel é a marca de um sujcito exclusivamente enunciativo, 38 izacio do sujeito do discurso nao se da através de ica que A mat uma marca enunciativa, mas através de uma operagio sint define as parifrases possiveis na relaglo com 0 em diferenga entre determinagdes _enunciativas_ ¢ discursivas. Essa operagiio, que pode historicizar “o text momento da emissio através do efeito “TEXTO", cot estar marcada (por uma marca enunciativa) como mo caso pre (voc8s/nés), ou ela pode nfo ter marcas. ia que acabamos de ver se const lo fato de que, durante os enssios, as produgdes que chamamos de “produgées de encadeamento” como: “voeés se lem| q sobredeterminam o sentido das “produgdes de fundo” porque essits primeiras atualizam ad infinitum as segundas, ou seja, as “produgoes de encadeamento” atualizam as de “fundo”. ‘Emibora se tenha a conjugacdio explicita de di \s diferentes de produgées, no momento mesmo da emissio 0 efeito de sentido que clas duas produzem 6 de homogeneidade ¢ 0 “TEXTO” como um todo ¢ atualizado, ou seja, 6 apreendido como tal (como uno). Mais & frente estaremos mostrando que 0 “TEXTO”, nesse caso, ¢ um efeito produzido no evento discursivo. Antes disso, porém, lobservaremos como 0 sujeito do discurso esti articulado na pritica da TEXTUALIZACAO.

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