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15 - nº 1 (2019)
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Professor Doutor em Estruturas, Universidade Federal de Goiás – Escola de Engenharia Civil e Ambiental.
1. INTRODUÇÃO
superar os 40 m, e esbeltezes cada vez maiores, pode ser melhor trabalhado, ainda em fase de
análises que considerem imperfeições geradas projeto, caso uma viga não tenha garantida sua
durante a própria fase construtiva, por exemplo, segurança em fases transitórias; 3) avaliar a
passam a se tornar bastante importantes, interferência da adaptação de alguns parâmetros
determinando que considerações quanto à de projeto à forma como são postos nas
instabilidade lateral devem, definitivamente, ser normativas brasileiras, tal como o módulo de
levantadas em projeto. elasticidade e o limite de desvios construtivos, por
exemplo.
1.1. OBJETIVO
O estudo apresentado aqui é
Os objetivos deste artigo podem ser continuidade do publicado por Borghi, Lisboa e
assim enumerados: 1) avaliar a sensibilidade dos Araújo (2017), no qual foram apresentadas
métodos de verificação de segurança contra análises com o objetivo de verificar se as
instabilidade lateral propostos por Mast (1989), indicações normativas garantem a segurança ou
Mast (1993) e Stratford, Burgoyne e Taylor (1999) não contra a instabilidade lateral, variando-se o
aos seguintes parâmetros: comprimento do comprimento total da viga analisada. Já este
balanço, tolerância quanto aos desvios artigo complementa o referido trabalho ao
construtivos e propriedades do material, além de apresentar resultados diferentes – e
variações dimensionais no veículo para a fase de complementares –, seguindo os objetivos
transporte; 2) determinar qual desses parâmetros anteriormente descritos.
Limite de esbeltez
Norma/Código
Fase definitiva Fase transitória
L / b f 50
ABNT NBR 9062
hm / a 2
(ABNT, 1985) Lh / b f 500
2
50 50
4/3 4/3
EUROCODE 2 Lh 1 / 3 / b f Lh 1 / 3 / b f
(CEN,2004) h / b f 2,5 h / b f 3,5
ACI 318
L / b f 50
(ACI, 2008)
BS8110
60b f
L
(BS, 1997) 2
(250b f ) / d
L: é o vão teórico; hm: é a menor dimensão do centroide da
h: é a altura da seção; seção e ambas as faces;
bf: é a largura da seção comprimida; a: é a flecha da viga girada de 90°.
A. BORGHI; B. LISBOA; C. ARAÚJO REEC – Revista Eletrônica de Engenharia Civil Vol. 15 - nº 1 (2019)
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FIGURA 2: Equilíbrio de forças e momentos para situação de içamento (acima) e de transporte (abaixo) [Modificado].
FONTE: (KRAHL, 2014).
Fator de Segurança - FS
Fase Transitória
Contra Fissuração Contra Ruptura
1
FS fiss,i = rup,i y rot
Içamento x0 FS rup,i =
+ i x0,rup rup,i + ei
y rot fiss,i
(
r fiss,t − ) (
r rup,t − )
Transporte FS fiss,t =
x0, fiss fiss,t + ei + y rot fiss,t FS rup,t =
x0,rup rup,t + ei + y rot rup,t
x0 : é o deslocamento lateral devido ao peso próprio xmax :é a distância da linha central ao centro dos pneus
atuando lateralmente; duplos;
yrot : é a distância entre o centro de gravidade e o eixo de hrot : é a altura do eixo de rolamento;
giro;
α : é a superelevação da via;
θi : é o ângulo devido às excentricidades iniciais;
θfiss : é o ângulo em que ocorre a fissuração;
(
x0,rup = x0 1 + 2,5 rup ) :é a deflexão de antes
da ruptura;
Mast (1993) define ainda que o fator de numérica por meio do método dos elementos
segurança contra a fissuração deve ser adotado finitos aliada às hipóteses de Southwell (1932)
para a viga caso seja maior que o fator encontrado para que sejam melhor considerados os
para a ruptura, já que, nesse caso, a maior comportamentos de deformação das vigas.
segurança da viga ocorre antes da ruptura, que, Com relação à fase de içamento, é
por sua vez, não ocorre antes da fissuração. considerado que esta é a fase mais crítica, uma
Destaca-se aqui que, a fim de se tornarem os vez que os apoios não oferecem quaisquer
fatores de segurança encontrados comparáveis à restrições laterais e que, por isso, as vigas
verificação realizada pelo método apresentado no podem apresentar giro em torno de seu eixo
item a seguir, determina-se o maior o peso longitudinal, fazendo com que parte do peso
próprio da viga para que seu fator de segurança se próprio atue lateralmente, perpendicularmente
iguale à unidade (conceito de carga limite), de ao eixo de menor inércia, incorrendo em
forma que a segurança da viga seja dada pela grandes deformações por flexão simples lateral,
razão entre esse valor e seu peso próprio real. para o caso de içamento com cabos a 90°.
Além disso, exclusivamente para essa fase, as
2.2. VERIFICAÇÃO SEGUNDO STRATFORD, vigas de concreto correntes apresentam rigidez à
BURGOYNE E TAYLOR (1999)
torção bastante relevante, de forma que as cargas
Um pouco diferente do que é proposto críticas de flambagem podem ser assumidas
por Mast em seus trabalhos, Stratford, Burgoyne e independentes da rigidez torcional. Já com
Taylor (1999) apresentam três situações para as relação à fase de transporte, os apoios
quais as vigas devem ser analisadas: içamento, oferecem restrição parcial ao giro da viga em
transporte em caminhão e viga simplesmente torno de seu próprio eixo, de forma que o
apoiada, sendo que os comportamentos de elemento passa a sofrer flexo-torção, fazendo
deformação nesses dois últimos casos se com que a carga crítica de flambagem dependa da
assemelham bastante. Apesar disso, como rigidez à torção.
levantado por El Debs (2000) e referenciado na Krahl (2014) apresenta expressões de
Introdução deste artigo, os casos de instabilidade carga de instabilidade ligeiramente diferentes das
lateral podem ser analisados sob duas fases apresentadas por Stratford, Burgoyne e
transitórias: içamento e transporte. Devido a isso, Taylor (1999), justificando que as expressões
são levadas em conta, neste trabalho, apenas apresentadas neste último trabalho são referentes
essas duas situações. a uma viga perfeita, sem deformações iniciais.
Em Stratford, Burgoyne e Taylor (1999) é Se assim fosse, bastaria então comparar os
apresentada uma metodologia para que se chegue valores encontrados com os pesos próprios
à carga crítica de instabilidade, por flambagem lineares das vigas. Uma explicação mais
lateral em regime elástico, suportada pela viga. detalhada sobre as considerações das
Essa carga é então comparada ao peso próprio imperfeições iniciais pode ser encontrada em
real da viga, sendo a razão gcrit/g o valor que Borghi e Lisboa (2017).
representa o nível de segurança do elemento. A segurança da viga nesse método pode
As análises de segurança propostas ser verificada com as expressões mostradas na
nesse método são baseadas em simulação Tabela 3.
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Expressões
Item Calculado
Içamento Transporte
12 EI y y rot
Carga crítica de g crit = Gt J EI y
L 4
g crit = 16,9
flambagem, gcrit − aL3 + 3a 2 L2 − 2a 3 L − a 4 L3
10
a a
0 1 − sen + ec 0 1 − sen + ec
L
T =
Deslocamento L T =
lateral total, Τ g g
2
1 − lim 1 − lim
g crit g crit
a
Carga de 0 1 − sen + ec a
L 0 1 − sen + ec
instabilidade, g lim = g crit − L
glim
g sen lim
384 EI y
( 2
5 L − 20 aL − 4a
2
) (2a − L)2 g lim = g crit 1 −
T
Verificação da g lim
segurança g
FIGURA 3: Longarina de ponte utilizada no Estudo de Caso: seção transversal, à esquerda; vista longitudinal, acima e à
direita; e distribuição dos cabos de protensão (CP 190 RB), abaixo e à direita (dimensões em cm).
TABELA 4: Resumo das adaptações dos métodos analíticos as tolerâncias normativas brasileiras.
Mast Stratford, Burgoyne e Taylor
Içamento original Içamento adaptado Içamento original Içamento adaptado
E = wc 1,5
x 0,043 f ck E = E x 5600 f ck
E = wc x 0,043 f ck
1, 5
L E = E x 5600 f ck
1,6 L ei = c + 15
ei = c+6 1000 3,2 L
3,05 0 = 0 =
L
L 3,05 1000
y rot,corr = h − ( y cg + 50) y rot,corr = h − ( y cg + )
1000 ec = 15mm
ec = 6mm
f r = 0,62 f ck f r = 0,273 f ck 2 / 3
Transporte original Transporte adaptado Transporte original Transporte adaptado
E = E x 5600 f ck E = 0,9 E ci
E = wc 1,5 x 0,043 f ck E = wc1,5 x 0,043 f ck
E cs
3,2 L ei =
L
c + 25,4 Gc = 0,4 Ecs Gc =
ei = c + 25,4 1000 2,4
3,05 3,2 L
yrot,corr =
L
+ (hcg − hrot ) 0 = 0 =
3,2 L
y rot,corr = 1,02(hcg − hrot ) 3,05
300 3,05
TABELA 5: Resumo das verificações realizadas pelos métodos de Mast e Stratford, Burgoyne e Taylor.
Mast Stratford, Burgoyne e Taylor
Içamento original Içamento adaptado Içamento original Içamento adaptado
E ci = 28442 MPa E ci = 26669 MPa
ei = 0,0135 m ei = 0,0293m g crit = 25,98 kN / m g crit = 25,33 kN / m
FIGURA 9: Fatores de Segurança versus Distância entre face inferior da viga e eixo de rolamento do veículo.
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A exemplo do que foi feito para a Aqui a segurança da viga tem sua
situação de içamento, por não alterar os sensibilidade avaliada admitindo o transporte
resultados obtidos pelo método de Stratford, realizado em veículos com diferentes dimensões
Burgoyne e Taylor (1999) este parâmetro tem entre o eixo longitudinal e o eixo entre suas rodas
sua influência avaliada apenas para o método de duplas.
Mast (1993). Além disso, apesar de a segurança Diferentemente do que foi feito
desta viga ser determinada pela situação de quando da variação da distância entre a
ruptura/tombamento, a relevância deste face inferior da viga e o eixo de rolamento do
parâmetro só pode ser avaliada quanto à veículo, aqui optou-se por se variar o
segurança contra a fissuração. Assim sendo, valor indicado pelo método de Mast (1993)
exclusivamente aqui para a fase de transporte, em ± 5% e ± 10%, já que aqui o intervalo de
altera-se o fator de segurança para a situação valores resultante se adequa bem ao que é mais
de fissuração. comumente encontrado nos veículos do tipo no
Nota-se que este é o único caso em que Brasil. Neste sentido, e sabendo-se que essa
o método adaptado apresenta fatores de variação somente interfere na segurança à
segurança maiores que o método original. Isso ruptura/tombamento avaliada através do
mostra que essa variável não tem influência na método de Mast (1993), apresenta-se na
Figura 11 o gráfico que relaciona os Fatores de
segurança da viga, já que a sua segurança é
Segurança versus Distância entre o eixo
definida pela situação de tombamento da viga.
longitudinal do reboque e o eixo entre as rodas
3.2.2.5. Variação da distância entre o eixo duplas, obtidos tanto para os métodos originais
longitudinal do reboque e o eixo entre as rodas quanto para os métodos adaptados às normativas
duplas brasileiras.
ABNT: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. STRATFORD, T. J.; BURGOYNE, C. J. Lateral stability of
NBR 9062: Projeto e execução de estruturas de long precast concrete beams. Proceedings of the
concreto pré-moldado. Rio de Janeiro, 2006, 59p. Institution of Civil Engineers: Structures and Buildings,
v. 124, n. 2, p. 169–80, 1999.
ABNT: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS.
NBR 9062: Projeto e execução de estruturas de SOUTHWELL, R. V. On the analysis of experimental
concreto pré-moldado. Rio de Janeiro, 2017, 86p. observations in problems of elastic stability. In:
Proceedings of the Royal Society of London A:
BRITISH STANDARDS INSTITUTION, BS 8110. Structural Mathematical, Physical and Engineering Sciences. The
use of concrete. Part I: Code of practice for design and Royal Society, 1932. p. 601-616.
construction, London, 1997.
SOUSA, É. A.; LIMA, M. C. V. Instabilidade lateral de
BORGHI, G.B.; LISBOA, G.P. Verificação da instabilidade vigas pré-moldadas durante a fase de içamento. 2009.
lateral de vigas pré-moldadas de concreto em fases 10 f. Artigo de iniciação científica. Faculdade de
transitórias. 2017. Trabalho de Conclusão de Curso Engenharia Civil, Universidade Federal de Uberlândia,
(Graduação em Engenharia Civil). Escola de Engenharia Uberlândia, MG, 2009.
Civil e Ambiental – UFG, Goiânia, GO, 2017.