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Corpo, Movimento

e Psicomotricidade
Elementos da Psicomotricidade

Responsável pelo Conteúdo:


Prof.ª Me. Evelyn Camponucci Cassillo Rosa

Revisão Textual:
Prof.ª Me. Sandra Regina Fonseca Moreira
Elementos da Psicomotricidade

• Psiquismo e Motricidade;
• Áreas da Psicomotricidade.

OBJETIVO DE APRENDIZADO
• Apresentar as áreas da psicomotricidade, fundamentais ao desenvolvimento infantil;
• Melhor compreensão quanto à importância do movimento, das brincadeiras e experiên-
cias que contribuem para a tomada de consciência do esquema corporal.
UNIDADE Elementos da Psicomotricidade

Contextualização
Para iniciarmos nossa contextualização, sugiro que leia o artigo da revista Eventos
Pedagógicos, denominado: “A psicomotricidade na educação infantil”, que trata da
importância da psicomotricidade na Educação Infantil, trazendo uma reflexão sobre
a relevância do conhecimento desta ciência na formação do professor, em prol do
desenvolvimento integrado entre o corpo, a mente e o social do seu aluno.

É importante que você faça a leitura desse pequeno artigo, refletindo sobre sua
formação profissional e seu papel como educador, a fim de despertar sua consciên-
cia quanto à atuação dessa prática.
Explor

A Psicomotricidade na Educação Infantil, disponível em: https://bit.ly/2yrNYuh

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Introdução
Desde o início dos nossos estudos, observamos que a psicomotricidade estuda
o homem através do seu corpo em movimento e a relação deste com os mundos
interno e externo. Não apenas o movimento (motricidade), mas também o intelecto
(cognitivo) e o afeto (emoção) fazem parte do desenvolvimento humano e precisam
de estímulos para que se desenvolvam integralmente.

Nós, educadores, precisamos compreender a educação psicomotora como meio


fundamental para ajudarmos a criança na superação de suas dificuldades, e, conse-
quentemente, para seu pleno desenvolvimento.

Nesta unidade, conceituaremos os elementos da psicomotricidade, tais como a


coordenação motora fina e ampla, a tonicidade, o equilíbrio, a orientação espacial
e temporal, entre outros, a fim de adquirir um conhecimento mais aprofundado e
de saber atuar na prática com nossos alunos, estimulando, orientando e propician-
do experiências que trabalhem e integrem a motricidade, o cognitivo e o afetivo,
ampliando o conhecimento do próprio corpo, e, consequentemente, possibilitando
um melhor desenvolvimento da criança.

Apesar dos estudos sobre a psicomotricidade serem, de certa forma, recentes,


atualmente, profissionais de diversas áreas, principalmente educacional, têm bus-
cado melhores formas de alcançar êxito quanto à aprendizagem dos seus alunos,
utilizando-se desta ciência.

É importante termos claro que aprendizagem é diferente de ensino, já que este


está voltado apenas à transmissão de conteúdos e conhecimentos por meio de
livros e/ou aulas expositivas, atendendo apenas ao conhecimento intelectual/cog-
nitivo, portanto, neste momento é importante que você faça uma reflexão sobre os
modelos tradicionais de ensino, ou seja, as quatro paredes da sala de aula fechada,
alunos enfileirados, professores autoritários à frente como detentores únicos do sa-
ber, alunos que não têm liberdade para opinar, se expressar, que não se movimen-
tam e não se relacionam entre si, são modelos antigos que, apesar de infelizmente
ainda existirem em alguns locais, já não atendem mais ao mundo contemporâneo
em que vivemos, pois são modelos ultrapassados.

Nos dias de hoje, a literatura enfatiza a importância das relações, das expres-
sões, dos gestos, do movimento do corpo e sua relação com os objetos e o ambien-
te que os cerca, ou seja, um constante envolvimento entre afetividade e movimento,
que resulta, consequentemente, na cognição. Profissionais buscam, cada vez mais,
meios de atingir a aprendizagem significativa, ter um olhar mais cauteloso à indivi-
dualidade e diferenças dos seus alunos, buscando assim, estratégias e meios para
atender com qualidade ao desenvolvimento de cada um.

A psicomotricidade tem um papel fundamental nesse desenvolvimento, já que


trata as habilidades emocionais, motoras e cognitivas nas diversas etapas da vida do

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UNIDADE Elementos da Psicomotricidade

ser humano, uma vez que as atividades proporcionadas durante a educação infantil
irão embasar todas as demais fases da vida da criança. Por isso, é muito impor-
tante que você entenda que quanto mais experiências e estímulos você oferecer à
criança, ou seja, quanto mais estrutura essa criança tiver durante as etapas da sua
primeira infância, mais as habilidades cognitivas e habilidades de aprendizagem
serão solidificadas e definidas.

O desenvolvimento do ser humano acontece da/na relação interna com o am-


biente (externo) em que está inserido: seus espaços, objetos e na relação com as
pessoas com quem interage. O movimento é o elo de comunicação entre o corpo
e todas essas relações, porém, quando falamos em movimento, não podemos nos
restringir apenas ao deslocamento do corpo no espaço, antes, devemos entendê-lo
como a linguagem do corpo humano que, em algumas etapas da vida, como, por
exemplo, enquanto bebês, torna-se o meio de comunicação principal, de expres-
são, a linguagem propriamente dita.

É muito importante compreendermos que através do corpo e do movimento a


criança conhece a si, ao outro, conhece o mundo, apropria-se de sua cultura, além de
expressar seus sentimentos, pensamentos, anseios e intenções. É nessa primeira eta-
pa da vida que a criança se desenvolve e adquire habilidades que contribuirão com sua
aprendizagem, com o conhecimento de si e o desenvolvimento ao longo de sua vida.

Contudo, sabemos que na maioria das vezes, dentro dos espaços escolares, ape-
nas no momento das aulas de Educação Física é que o corpo será trabalhado.
Importante destacarmos que o movimento corporal não é uma tarefa apenas do
profissional de educação física, mas de todo profissional que esteja envolvido com a
aprendizagem das crianças, daí a importância de nós, educadores, aprofundarmos
nossos conhecimentos sobre o tema proposto.

Psiquismo e Motricidade
Sabemos que a psicomotricidade é a ciência que estuda o homem por meio
do seu corpo em movimento e das relações entre os mundos interno e externo.
A própria nomenclatura desta ciência nos explica os aspectos do desenvolvimento
humano em que se debruçam seus estudos, sendo psicomotricidade: psi (psíquico
– afetivo) + co (cognitivo – intelectual) + motric (motricidade – físico) + idade (as
diversas etapas da vida do ser humano).

Conforme o psicólogo soviético Alexis N. Leontiev (1978), o psiquismo huma-


no estrutura-se a partir da atividade social e histórica dos indivíduos, ou seja, pela
apropriação da cultura humana material e simbólica, produzida e acumulada objeti-
vamente ao longo da história da humanidade (ROSSLER, 2004, p. 101).

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Assim, podemos dizer que a consciência é um atributo do psiquismo humano,
que se forma à medida em que criamos imagens em nossa mente sobre a realidade
concreta, ou seja, da nossa realidade, do ambiente em que vivemos, das relações
que temos, da nossa cultura. A essas imagens damos nomes (signos) e, dessa for-
ma, constituímos nossa linguagem.

Para compreender melhor a formação do psiquismo humano, sugiro que assista ao vídeo
Explor

“O Psiquismo Humano e o Desenvolvimento Funcional Complexo”, do professor Dr. Ricardo


Eleuterio. Nele é apresentado o psiquismo como sendo as representações mentais da reali-
dade em que vivemos, sendo que essas representações são responsáveis por organizar nos-
sas formas de agir, sentir e pensar (formando a personalidade e o comportamento humano).
Disponível em: https://youtu.be/NTzmucgmxnM

Já a motricidade tem como base de estudo o movimento, que engloba as funções


nervosas e musculares, além dos impulsos elétricos, os quais, em conjunto, permi-
tem tanto os movimentos voluntários, quanto os involuntários do corpo humano.

A psicomotricidade, assim, busca compreender as relações que ocorrem entre o


psiquismo e a motricidade. “A psicomotricidade está relacionada com o processo
de maturação, onde o corpo é a origem das aquisições cognitivas, afetivas e orgâ-
nicas” (DUARTE, 2015, p. 22).

É importante você compreender que, por meio dos sentidos e sensações, a crian-
ça vai recebendo os estímulos proporcionados pela experiência motora, o que per-
mite que ela construa suas noções de tamanho, formas, proporções e ainda, suas
impressões visuais, auditivas e táteis. À medida em que a criança movimenta seu
corpo e tem ações sobre o ambiente e objetos, ela experimenta, testa, amplia suas
sensações, percepções e, consequentemente desenvolve suas funções cognitivas.
[...] o comportamento físico da criança expressa, uma a uma, suas dificul-
dades intelectuais e emocionais [...] ao vermos o corpo em movimento,
percebemos a ação dos braços, pernas e músculos gerada pela ação da
mente. (JOSÉ, COELHO, 1991, p. 108, apud DUARTE, 2015, p. 22)

Dessa forma, a educação psicomotora contribui para que as crianças se desen-


volvam em sua totalidade, além de também auxiliar crianças que apresentam atraso
motor (desde os casos mais leves até os mais sérios).

Para nos ajudar a compreender todas essas relações, nos orientar à prevenção
de dificuldades no desenvolvimento das crianças e ainda, nos ajudar a identificar
atrasos motores, a psicomotricidade apresenta alguns elementos/áreas do desen-
volvimento psicomotor, os quais estudaremos adiante.

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UNIDADE Elementos da Psicomotricidade

Áreas da Psicomotricidade
Esquema Corporal (Formação do EU)
O Esquema Corporal nada mais é do que uma pré-consciência que adquirimos sobre
nosso próprio corpo, e ainda sobre como podemos nos expressar e agir por meio dele.

Conhecer o próprio corpo, identificar manifestações e ou sintomas, como por


exemplo, sintomas de estresse, são aspectos básicos que precisam ser desenvolvi-
dos desde a primeira infância por meio de um trabalho psicomotor e, à medida que
o corpo cresce, vão acontecendo ajustes e modificações no esquema corporal.

Desenvolver a consciência corporal nos permite identificar informações impor-


tantes dadas pelo nosso próprio corpo. Quando a criança não desenvolve essa
consciência, possivelmente apresentará distúrbios relacionados à aprendizagem e
ao comportamento.
A educação psicomotora deve ser considerada como uma educação de
base na escola primária. Ela condiciona todos os aprendizados pré-esco-
lares; leva a criança a tomar consciência de seu corpo, da lateralidade, a
situar-se no espaço, a dominar seu tempo, a adquirir habilmente a coor-
denação de seus gestos e movimentos. A educação psicomotora deve ser
praticada desde a mais tenra idade; conduzida com perseverança, permite
prevenir inadaptações difíceis de corrigir quando já estruturadas [...] (LE
BOULCH, 1994 in OLIVEIRA, 1997, p. 35 apud DUARTE, 2015, p. 23)

Antes mesmo de entrar na escola, a criança já vivencia diversas atividades cor-


porais que contribuem para a construção de sua autoimagem. Essa construção per-
mite a ela identificar, localizar e nomear as partes do seu corpo (estrutura corporal);
ter domínio sobre este, controlando seus movimentos e compreendendo quais par-
tes do corpo se usa em cada movimento (ajuste corporal); experimentar situações;
agir sobre o espaço, objetos etc. Toda a harmonia dos movimentos em relação às
experiências permite que a criança se sinta bem e segura, e, dessa forma, conforme
sua maturidade, suas ações passam a ser mais intencionais.

Figura 1
Fonte: Getty Images

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Você Sabia? Importante!

A evolução do esquema corporal ocorre desde as primeiras sensações do bebê; aos 5


meses há o início das percepções das mãos e dos pés; aos 9 meses, o desenvolvimento
motor lhe proporciona impressões novas da percepção e da motricidade: andar, sentar
etc. Dos 11 aos 13 meses, com a ampliação visual, há um aumento nas possibilidades de
movimentação. Aos 18 meses, a criança possui uma noção de seu próprio corpo, mas ain-
da não o projeta em relação ao corpo dos outros. Entre os 2 e 3 anos, adquire controle de
órgãos de eliminação. Dos 3 anos aos 4 anos, descobre a diferença entre os sexos, tanto
corporalmente como intelectualmente e, aos 5 anos, completa-se um primeiro esquema
corporal. Portanto, a criança de 6 anos que não possuir a noção de esquema corporal
será desajeitada ou descoordenada, o que a prejudicará afetivamente (MUTSCHELE, 1985
apud DUARTE, 2015, p. 25).

Ao desenvolver a consciência corporal, faz-se necessárias experiências intrapes-


soais, momentos de reflexão e autoconhecimento, permitindo, por exemplo, o tra-
balho com pequenos relaxamentos e respiração. Tais atividades podem contribuir
para a melhora da concentração, atenção, além de aproximar a criança de si, de
suas sensações e percepções.

Sugiro a leitura do livro “Pedagogia do movimento: universo lúdico e psicomotricidade”.


Explor

Nele, os autores descrevem alguns estudos de caso, a que denominam Caso de Ensino. Na
página 47, o Caso de Ensino I aborda a Consciência Corporal e um trabalho todo voltado ao
relaxamento e respiração dos alunos, tendo como foco a concentração e conhecimento do
próprio corpo.
Pedagogia do movimento: universo lúdico e psicomotricidade (e-book) / Herminia Regina
Bugeste Marinho [et al.]. – Curitiba: InterSaberes, 2012.

É muito importante relacionarmos os movimentos das crianças aos objetivos


educacionais que privilegiam a aprendizagem. A própria BNCC – Base Nacional
Comum Curricular, que tem como eixos estruturantes, as interações e as brinca-
deiras, organizou-se, na Educação Infantil, em cinco campos de experiências, entre
esses, o campo “Eu, o outro e o nós”, enfatizando a autonomia da criança, o cui-
dado consigo, o conhecimento de si e do outro, a fim de que essa se aproprie de
sua cultura e aprenda o respeito à diversidade. Já o campo de experiências “Corpo,
Gestos e Movimentos”, voltado à psicomotricidade, têm o corpo e o movimento da
criança como base do desenvolvimento, da aprendizagem, das brincadeiras, do co-
nhecimento que a criança vai adquirindo por intermédio das diferentes linguagens
tais como música, dança, teatro, brincadeiras de faz de conta, entre outras experi-
ências que vão estimulando e contribuindo para o crescimento e desenvolvimento
psicomotor da criança.

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UNIDADE Elementos da Psicomotricidade

Explor
Sugiro que tome conhecimento da Base Nacional Comum Curricular, explorando a etapa da
educação infantil, disponível no link abaixo. Neste documento, você terá acesso aos Direitos
de Aprendizagem e Desenvolvimento na Educação Infantil, bem como aos campos de expe-
riências em que a BNCC estrutura os objetivos de aprendizagem em cada fase de desenvolvi-
mento da criança. O link para acesso à BNCC é: https://bit.ly/2yserb9

Neste momento, é necessário que você compreenda a relevância do trabalho


com atividades voltadas à consciência corporal, visto que, à partir do reconheci-
mento do corpo, a criança desenvolve outras áreas importantes como a coorde-
nação, a postura, o desenvolvimento da função tônica, além da estrutura espaço
temporal e a lateralidade, conforme veremos a seguir.

Figura 2
Fonte: Adaptado de Getty Images

Lateralidade
A lateralidade é a capacidade de utilizar os dois lados do corpo, tanto o lado
direito, quanto o esquerdo, durante a movimentação do corpo. “A lateralidade é
a propensão que o ser humano possui de utilizar preferencialmente mais um lado
do corpo do que o outro em três níveis: mão, olho e pé”. (OLIVEIRA, 1997, p. 62
apud DUARTE, 2015, p. 25)

É importante entendermos que normalmente as pessoas desenvolvem mais habi-


lidades em um dos lados do corpo devido à sua dominância cerebral, o que significa
que, se uma pessoa possui dominância cerebral esquerda, ela desenvolverá maior
habilidade do lado direito do corpo (destros). O contrário acontece com as pessoas
cuja dominância cerebral está no lado direito, que desenvolvem maior habilidade do
lado esquerdo do corpo (canhotos).

A lateralidade permite que os movimentos estejam combinados numa ação mo-


tora, determinando assim um lado predominante.

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Figura 3
Fonte: Getty Images

Devemos observar que, por volta do primeiro ano de vida, a criança usa as duas
mãos para pegar e manusear objetos, e, conforme vai crescendo, vai delimitando mais
sua preferência quanto ao uso de um dos lados. Por volta de 2 anos, a maioria das
crianças já definiu sua lateralidade, ainda que faça uso da mão ou pé oposto. É muito
comum ouvir algumas pessoas dizerem “meu filho vai ser canhoto, ele come com a
mão esquerda”, entre outras frases que se referem à criança nessa faixa etária. Enten-
da que apenas aos 6 anos de idade a lateralidade está totalmente definida e, só então,
saberemos quais crianças são destras e quais são canhotas. Até essa faixa etária,
portanto, é fundamental que a criança seja estimulada, principalmente nas atividades
escolares, a utilizar-se de ambos os lados, para que desenvolva sua predominância.

Figura 4
Fonte: Getty Images

Importante! Importante!

Jamais devemos forçar a criança a mudar seu lado dominante, ou seja, a criança é canho-
ta e o adulto exige que utilize a mão direita, pois isso pode ocasionar diversos transtor-
nos nas funções psicomotoras.

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UNIDADE Elementos da Psicomotricidade

Aos 6 anos de idade, com a lateralidade bem definida, a criança se conscientiza


do seu eixo corporal, ou seja, distingue frente e atrás, direita e esquerda em seu
próprio corpo. Essa conscientização já faz parte da primeira etapa da orientação
espacial, área da psicomotricidade que vai trabalhar a localização da pessoa em
relação ao espaço/ambiente e objetos, conforme veremos a seguir.

Figura 5
Fonte: Getty Images

A lateralidade continua evoluindo e, aos 7 anos de idade, a criança já consegue


compreender a noção de direita e esquerda a partir do seu próprio corpo em rela-
ção ao outro, ou seja, de maneira espelhada (sua direita é a esquerda de quem está
à frente).

Figura 6
Fonte: Adaptado de Getty Images

O cérebro funciona de forma integrada, portanto, dificuldades na lateralidade


podem afetar outras funções, como:
• Habilidade motora;
• A fala e a escrita;
• Localização no espaço (noções de dentro e fora, em cima e em baixo);
• Desempenho inferior na leitura e na escrita em comparação com crianças com
dominância lateral completa (inclusive espelhamento das letras e números);
• Dislexia;
• Desempenho inferior em matemática em comparação com crianças com do-
minância lateral completa.

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Lateralidade Cruzada
Agora que você já sabe que a lateralidade é a predominância de um dos lados
(direito ou esquerdo) que as pessoas utilizam para realizar suas atividades, como
escrever, comer, ouvir etc., é importante que você saiba também que existem casos
em que o indivíduo utiliza-se da mão direita para escrever, do pé direito para chutar,
mas, se vai olhar por um telescópio, por exemplo, utiliza-se do olho esquerdo, ou
seja, para algumas atividades utiliza um lado do corpo e, para outras, outro lado.
Nesse caso, temos a lateralidade cruzada, que segundo SILVA (2015, p.10) “[...]
há discordância estabelecida entre o lado preferencial utilizado pelo membro supe-
rior e inferior, ou entre olho e membros”.

Pessoas com lateralidade cruzada apresentam dificuldades de aprendizagem,


bem como estima baixa, fadiga, falta de atenção etc.

Sugiro que assista ao vídeo “Trabalhe a Lateralidade dos Pequenos com estes 3
Explor

exercícios”, que apresenta algumas atividades sobre como podemos trabalhar e desenvolver
a lateralidade com nossos pequenos. Disponível em: https://youtu.be/4rmucdULoqE

Estruturação ou Orientação Espacial


Conforme a criança vai crescendo, sendo estimulada e se desenvolvendo, ela
passa a fazer uma construção mental de tudo o que a cerca, por meio dos seus
movimentos. Ela começa a situar-se no espaço em que vive, ou seja, relaciona seu
corpo ao espaço, aos objetos e às pessoas e os situa quanto à distância, o lado de
dentro-fora, frente e atrás, longe ou perto e assim por diante. “Através do espaço
e das relações espaciais que nos situamos no meio em que vivemos, em que esta-
belecemos relações entre as coisas, em que fazemos observações, comparando-as,
combinando-as, vendo as semelhanças e diferenças entre elas.” (OLIVEIRA, 1997,
p.74 apud DUARTE, 2015, p. 27).

Assim, devemos compreender que, primeiro a criança percebe o seu corpo (es-
quema corporal), depois percebe seu corpo em relação ao espaço, em seguida a
posição dos objetos em relação a ela mesma e, por fim, relaciona os objetos entre si.

A percepção sensorial (visão, tato, audição etc.) leva a criança a perceber as


caraterísticas dos objetos, possibilitando uma organização desses no espaço, visto
que ela conseguirá classificá-los por tamanho, peso, cor, entre outras propriedades
que permitem agrupamentos.

É muito importante que nós, como educadores, tenhamos um planejamento


focado em atividades que trabalhem os elementos da psicomotricidade, tendo em
vista a predominância da área a ser trabalhada dentro de cada atividade, conforme
exemplificado a seguir.

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UNIDADE Elementos da Psicomotricidade

Exemplos de atividades para trabalharmos predominantemente estrutura/orien-


tação espacial:

Figura 7 – Brincar de amarelinha (frente, atrás,


um lado, o outro, dentro, fora, linha)
Fonte: Getty Images

Figura 8 – Brincar de gangorra (em cima, em baixo)


Fonte: Getty Images

Figura 9 – Brincar de faz de conta (dentro / fora)


Fonte: Getty Images

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Explor
O que aprender em estruturação espacial?
• Situações (dentro, fora, no alto, abaixo, longe, perto);
• Tamanho (grosso, fino, grande, médio, pequeno, estreito, largo);
• Posição (em pé, deitado, sentado, ajoelhado, agachado, inclinado);
• Movimento (suspender, abaixar, empurrar, puxar, dobrar, estender, girar, rolar, cair, levan-
tar-se, subir, descer);
• Formas (círculo, quadrado, triângulo, retângulo);
• Qualidade (cheio, vazio, pouco, muito, inteiro, metade);
• Superfícies e Volumes.

Devo realçar a importância dessas atividades para a preparação da criança às


demais fases de desenvolvimento, pois.
[...] as alterações na formalização da escrita também estão vinculadas a
problemas de origem orgânica, como os motores, que impedem a facilida-
de de certos movimentos. Durante a execução da leitura e escrita nota-se a
postura corporal, o sentar, as tensões, o relaxamento, modo de preensão
do lápis, concentração etc. (WEISS, 2000 apud DUARTE, 2015, p. 27)

Dessa maneira, a criança que desenvolve a orientação espacial, aprende noções


fundamentais ao seu desenvolvimento, como as noções de distância, direção entre
outras. A criança desenvolve também a memória espacial, que permite, por exem-
plo, reproduzir por meio de um desenho a imagem de um espaço antes observado.
Quando as bases da psicomotricidade não são bem desenvolvidas e/ou traba-
lhadas, a criança pode apresentar transtornos psicomotores, prejudicando inclusive
sua aprendizagem escolar. Por exemplo, a criança que não desenvolveu a consciên-
cia corporal plenamente pode não ter domínio do seu corpo, o que comprometerá
os demais elementos da psicomotricidade. Se a estrutura espacial está comprome-
tida, a criança pode apresentar dificuldades em relação à representação abstrata
de direita e esquerda, ou ainda, pode não conseguir escrever na pauta (na linha
horizontal do caderno), realizando movimentos ascendentes ou descendentes, pode
ainda, apresentar dificuldades quanto à posição das letras, espelhando essas no
momento da escrita, não discriminando as direções das letras e/ou números, como
“b” e “p”, “6” e “9”, “b” e “d”, “p” e “q”, “15” e “51”.
Além disso, a estrutura espacial não desenvolvida pode afetar a leitura, levando
a criança a dificuldades como pular linhas, palavras durante a leitura e/ou dificulda-
de para mover os olhos da esquerda para a direita durante a leitura.
Também é importante distinguir a fase da alfabetização e não as confundir com
transtornos psicomotores, pois é muito comum a criança espelhar as letras, escrever
da direita para a esquerda ou utilizar o caderno de ponta-cabeça no início da alfabeti-
zação, o que não significa um transtorno. Aos poucos, com o trabalho de associação
ao alfabeto, por exemplo, mostrando à criança qual a posição correta da letra ou a
forma de usar o caderno, essa passa a compreender, e, consequentemente, ajusta
sua escrita e as posições. Daí a importância de o educador ter um olhar cauteloso ao
desenvolvimento de cada criança, orientando-o sempre que necessário.

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UNIDADE Elementos da Psicomotricidade

Estruturação ou Orientação Temporal


A estruturação ou orientação temporal trata da maneira como a criança se situa
no tempo. Apresenta a sequência de acontecimentos, bem como a duração, o in-
tervalo e o ritmo no tempo, tais como: antes, durante, após, ontem, hoje, amanhã,
os dias dentro do mês, as semanas, e assim por diante. É muito comum as crianças,
durante sua fala, dizerem, por exemplo, “vou para a escola ontem” ou “amanhã foi
o aniversário da Maria?”, “depois de ontem”, “antes de hoje”. As noções de tempo
são difíceis para a criança associar, principalmente por serem noções abstratas.

Devemos observar que a percepção temporal comprometida também afetará o


desenvolvimento da criança (enfatizamos aqui principalmente o desenvolvimento
escolar). “[...] a leitura exige a percepção temporal e a sincronização entre a leitura e
os movimentos oculares (olhos) e linguagem interior (mental) em coordenação com
a respiração para a leitura em voz alta”. (DUARTE, 2015, p. 28)

Para realizar a leitura, a criança precisa ter domínio do ritmo, a sequência do som
no tempo, e ainda, possuir memória visual e auditiva. É muito comum que as crian-
ças, principalmente na fase da alfabetização, escrevam tudo junto, sem perceber os
espaços entre as palavras. Exemplo: “espetei minhamãocomogarfo”. O trabalho com
cantigas, parlendas, contação de histórias, identificação de palavras nas músicas can-
tadas, por exemplo, ajudam a criança a perceber o som e sua sequência, ajustando
sua escrita da maneira correta.

É importante entendermos que a orientação temporal caminha junto à orienta-


ção espacial,
[...] o corpo coordena-se, movimenta-se dentro de um espaço determi-
nado e em função do tempo, em relação a um sistema de referência.
Sendo assim, não se concebe a ideia de espaço sem referência à noção
de tempo e por esta razão muitas vezes nos deparamos com referências
à orientação espaço-temporal. (DUARTE, 2015, p. 27)

Dessa forma, na área da psicomotricidade, a orientação espaço-temporal deve


ser reforçada com atividades diversas, como por exemplo, amarelinha africana; ob-
servar animais como lesma e formiga e dizer qual é mais rápido e qual é mais lento;
dança dos bambolês (onde as crianças ficam com um bambolê em mãos e jogam
uma para a outra); aulas que envolvam dança e instrumentos musicais, entre outros.

Os principais conceitos a aprender na orientação temporal:


• Simultaneidade;
• Ordem e sequência;
• Duração dos intervalos;
• Renovação cíclica de certos períodos – é a percepção de que o tempo é deter-
minado em dia (manhã, tarde e noite), semanas e estações.

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Tônus ou tonicidade
O tônus é um termo que se refere, na fisiologia, à contração muscular. Está
presente em todas as funções motoras: equilíbrio, coordenação motora, postura e
movimento, os quais abordaremos a seguir. Podemos dizer que o tônus tem grande
relevância para o desenvolvimento das pessoas, visto que influencia a execução dos
movimentos do corpo.

Uma das questões básicas é entendermos o tônus muscular como um fenômeno


nervoso que acontece mesmo sem a execução de movimentos (em repouso), isto
é, nossos músculos estão sempre em prontidão para executar algum tipo de movi-
mento. “[...] O tônus é o responsável pela execução dos movimentos, sendo o seu
domínio observado desde o nascimento” (MARINHO et al., 2012, p. 59). O tônus
também é responsável pela manutenção de posturas.

Segundo Marinho (2012), na psicomotricidade, um termo muito utilizado é o diá-


logo tônico, que trata da comunicação que fazemos com o mundo, mesmo sem que
ainda tenhamos a palavra falada, ou seja, através das nossas posturas e gestos. Quando
ouvimos expressões “você está muito nervoso, veja como está tenso” ou ainda, quando
as pessoas comentam sobre nossa preocupação, notando rigidez do pescoço e om-
bros, perceba que estamos revelando nossos sentimentos pelo nosso próprio corpo.

Equilíbrio
O equilíbrio é a capacidade do indivíduo de se manter sobre uma base de sus-
tentação do corpo de forma estável, esteja esse parado ou em movimento. O
equilíbrio pode ser classificado em equilíbrio estático, quando o corpo se man-
tém parado e equilíbrio dinâmico, quando o corpo está em movimento pelo
espaço em que está inserido.

De acordo com Gallahue (2005), ao nascer, o


bebê tem pouco controle da cabeça e dos músculos
do pescoço, aos poucos, vai adquirindo controle,
até conseguir manter a cabeça ereta, depois disso,
passa a ter controle dos músculos das regiões torá-
cica e lombar do tronco e então, quando alcança
controle total do tronco, consegue sentar-se sozi-
nho, ao mesmo tempo em que está desenvolvendo
o controle sobre os braços e mãos. “A obtenção da
figura ereta, em pé, representa um marco desen-
volvimentista na busca do bebê pela estabilidade”
(GALLAHUE, 2005, p. 168). Assim, ter controle
do equilíbrio é uma grande conquista para a crian-
ça, que dará seus primeiros passinhos, ganhará
independência e poderá a partir de então, se mo-
vimentar e explorar os espaços que a circundam. Figura 10
Fonte: Getty Images

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UNIDADE Elementos da Psicomotricidade

Importante! Importante!

Dentre os movimentos rudimentares: estabilidade (equilíbrio), locomoção e manipu-


lação, a estabilidade é a mais básica, visto que todo elemento voluntário envolve um
elemento de estabilidade, conforme nos apresenta Gallahue (2005).

Coordenação Motora Global / Ampla (praxia global)


e Coordenação Motora Fina (praxia fina)
A coordenação motora global, também chamada de coordenação motora ampla,
diz respeito à ação conjunta de diferentes e grandes músculos (principalmente os
membros inferiores e superiores do tronco) na execução de movimentos voluntá-
rios, amplos e complexos, e depende da habilidade do equilíbrio postural.

É muito importante que as crianças, durante a infância, brinquem e se movimen-


tem em espaços abertos, como parques, onde elas possam correr, saltar, brincar
à vontade em balanços, gangorras, cordas, entre outras atividades que contribuam
para seu desenvolvimento físico.

Figura 11
Fonte: Adaptado de Getty Images

Já a coordenação motora fina é a habilidade manual que o indivíduo tem, que


possibilita realizar movimentos combinados, utilizando pequenos grupos muscu-
lares. Dentre as atividades que envolvem a coordenação motora fina estão, por
exemplo, escrever, recortar, encaixar, juntar pecinhas em um recipiente, brincar de
bolinha de gude etc.

Para Alves (2008, p. 58) apud Campos e Souza (2014, p. 20) “É uma coordena-
ção segmentar, normalmente com a utilização da mão exigindo precisão nos mo-
vimentos para a realização das tarefas complexas, utilizando também os pequenos
grupos musculares”.

É importante que você saiba que, além da coordenação motora fina, há que pos-
suir um controle ocular, denominado coordenação óculo-manual, ou viso-motora,
ou seja, a visão acompanhando os gestos da mão. Exemplo: escrita

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Figura 12
Fonte: Adaptado de Getty Images

Em Síntese Importante!

Trabalhar a psicomotricidade e suas áreas especificamente é muito importante para o


desenvolvimento das crianças. É através do movimento, do estímulo às experiências e
brincadeiras que as crianças se desenvolvem em sua totalidade.
Muitas atividades, senão todas, ofertadas às crianças, vão integrar a cognição, a motri-
cidade e o afetivo, contudo, nós, educadores, temos de propiciar vivências, tendo um
planejamento que enfatize cada elemento da psicomotricidade e sua predominância, ou
seja, em um jogo de xadrez, se desenvolve coordenação motora fina (motricidade), se
desenvolve a afetividade (a experiência com o adversário), porém, a predominância está
na área cognitiva. Já, pular corda, desenvolve a afetividade, a cognição, no entanto, a
predominância está na coordenação motora ampla (motricidade).
Assim, o planejamento, o olhar cauteloso às dificuldades dos alunos e o que se quer al-
cançar são fundamentais.

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UNIDADE Elementos da Psicomotricidade

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

  Sites
Neurosaber
É possível explorar assuntos diversos ligados à psicomotricidade em campos como
vídeos, artigos, entre outros, de interesse à pesquisa.
https://neurosaber.com.br/

 Livros
Ludicidade e psicomotricidade
Leia o capítulo 5 – O desenvolvimento psicomotor (p. 67-78), do livro “Ludicidade e
psicomotricidade”, de Aniê Coutinho de Oliveira e Katia Cilene da Silva. Você verá
como ocorre o desenvolvimento psicomotor, do nascimento aos 12 anos de idade,
tratando a perspectiva de que o desenvolvimento psicomotor pode ser entendido como
a interação entre o pensamento (consciente ou não) e o movimento dos músculos.
https://bit.ly/2w5c3Gm

 Vídeos
Aspectos básicos da psicomotricidade
Apresentado pela psicopedagoga e psicomotricista Luciane Brites, do Instituto
Neurosaber, o referido vídeo apresenta a psicomotricidade e a importância de trabalhar,
por meio de atividades que exijam movimento, o lúdico, a fim de que a criança se
desenvolva integralmente.
https://youtu.be/6BdRrepK_IA

 Leitura
Atividades lúdicas para a psicomotricidade
O artigo abrange as áreas da psicomotricidade e traz propostas interessantes de
experiências voltadas ao desenvolvimento dessas áreas.
https://bit.ly/2wVug9F

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Referências
CAMPOS, A. P. da S. SOUZA, L. R. A psicomotricidade como ferramenta no
processo de alfabetização com crianças do 1º ano do Ensino Fundamental.
Trabalho de Conclusão de Curso. Centro Universitário Católico Salesiano,
Lins, SP, 2014. Disponível em: <http://www.unisalesiano.edu.br/biblioteca/
monografias/57410.pdf>.

DUARTE, A. F. Psicomotricidade e suas implicações na Alfabetização. 2. Ed.


São Paulo: All Print Editora, 2015.

GALLAHUE, D. L. Compreendendo o desenvolvimento motor: bebês, adoles-


centes e adultos. 3.ed., São Paulo: Phorte, 2005.

MARINHO, H. R. B. [et al.]. Pedagogia do movimento: universo lúdico e psi-


comotricidade [livro eletrônico] Curitiba: InterSaberes, 2012. Disponível em: <ht-
tps://plataforma.bvirtual.com.br/Account/Login?redirectUrl=/Acervo/Publica-
cao/6196>. Acesso em 07/02/2020.

SILVA, E. E. Lateralidade em escolares de 7 a 8 anos: Relação com a


aprendizagem. Campina Grande, PB, Universidade Estadual da Paraíba. Centro de
Ciências Biológicas e da Saúde. Departamento de Educação Física. Especialização
em Educação Física Escolar, 2015. Disponível em: <http://dspace.bc.uepb.edu.br/
jspui/bitstream/123456789/8937/1/PDF%20-%20Emmanuella%20Ferreira%20
da%20Silva.pdf>.

ROSSLER, J. H. O desenvolvimento do psiquismo na vida cotidiana: Aproximações


entre a psicologia de Alexis N. Leontiev e a teoria da vida cotidiana de Agnes Hel-
ler. Cad. Cedes, Campinas, vol. 24, n. 62, p. 100-116, abril 2004. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/ccedes/v24n62/20094.pdf>. Acesso em 27/01/2020.

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