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INTRODUÇÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
MÓDULO 02 – Das economias de subsistência às mercantilistas.
Conversa Inicial
Sociedades escravagistas
O historiador Cyro de Barros Rezende Filho (2010) comenta que a sociedade
grega, a partir das suas cidades-Estados, por volta do século VIII a.C., foi a primeira da
história a fazer da escravidão um sistemático modo de produção sendo seguidos,
séculos depois, aproximadamente no século III a.C., pelos romanos, que se apropriaram
dessa herança helênica, expandindo-a para a forma de trabalho dominante do período.
A esse respeito, o autor completa, ressaltando que:
o sistema econômico escravista alterou significativamente a noção de trabalho.
[...] dissociou completamente o homem dos resultados de seu trabalho,
tornando-o nada mais que mera ferramenta (o objeto falante, na terminologia
latina) e acabando por separar, de modo definitivo, as noções de trabalho
maneul e liberdade.
Fazendo isso, bloqueou o espaço necessário para o desenvolvimento técnico,
impedindo a Antiguidade Clássica de conhecer significativas invenções que
visassem aprimorar os processos produtivos. Levou-a, também a considerar o
trabalho simplesmente como formas de adaptação da natureza, nunca de sua
transformação. [...]
Desta forma, a única via que restou ao sistema escravista, para seu
desenvolvimento, foi horizontal, mediante a contínua expansão territorial, e a
crescente incorporação de escravos à áreas abrangida pelo sistema (Ibid. p. 24-
25).
Entre os anos 700 e 1000 d.C., portanto, surgiriam na história medieval a economia
dominial agrícola, que veio após o período da decadência do Império Romano,
caracterizada, basicamente, pela economia de subsistência, sem a preocupação dom
excedente; fechada, já que praticamente não existiam as trocas e se extinguiram as
especializações; e da terra, tida como única riqueza, fonte de poder e base para a
hierarquização social.
Dessas tentativas de estabelecer núcleos produtivos minimante seguros, inclusive
contra as investidas bárbaras, trouxe à Idade Média, entre os séculos XI e XV d.C., o
estabelecimento de um sistema de alianças militares e políticas, que moldaram as
atividades econômicas da época. Esse cenário e as suas relações políticas, sociais,
econômicas e culturais ficou conhecido como feudalismo, ou economia feudal, que
Cameron detalha da seguinte maneira:
Estratégias militares exigiam tropas de guerreiros a cavalo, pois a recente
introdução do estribo (provavelmente oriundo da Ásia Central) tornara os
soldados a pé quase obsoletos. Era impossível sustentar diretamente essas
tropas na ausência dum sistema fiscal eficaz e com o desaparecimento, na
prática, duma economia monetária. Para mais, considerações de ordem e
administração internas exigiam muitos funcionários locais que, de novo, não
podiam ser pagos diretamente pelo Estado. A solução era conceder aos
guerreiros um rendimento por meio de grandes propriedades, muitas das quais
foram confiscadas à Igreja, em troca de serviços militares; os guerreiros –
fidalgos e cavaleiro – tinham também a incumbência de manter a ordem e
administrar a justiça nas suas propriedades. Os grandes nobres – duques,
condes e marqueses – tinham muitas propriedades que abarcavam inúmeras
aldeias; cediam algumas a fidalgos ou cavaleiros menos importantes em troca
dum juramento de homenagem e fidelidade [...]
Subjacente ao sistema feudal, mas com origens mais antigas e bastante
diferentes, estava a forma de organização econômica e social chamada
“senhorialismo”. [...]
Enquanto unidade organizacional e administrativa, o senhorio compunha-se de
terra, edifícios e gente que cultivava a primeira e habitava os últimos.
Funcionalmente, a terra estava dividida em arável, de pastagem ou prado de
pinhal, floresta ou terra inculta. Juridicamente estava dividida em domínio
senhorial, possessões camponesas, e baldios. [...]
O ideal feudal era “nenhuma terra sem senhor, nenhum senhor sem terra”, mas
não se cumpria universalmente. Em principio, a função do senhor era a defesa
e a administração da justiça; podia interessar-se pessoalmente pela supervisão
da exploração do seu senhorio, mas mais frequentemente delegava essa tarefa
num intendente ou beleguim. Além disso, tinha frequentemente outras fontes de
rendimentos, como a propriedade do moinho, do forno e do lagar locais (Ibid.,
pp.65-67).
Mais uma vez vale destacar o papel da ideologia dominante que justifica essa
relação de poder. Apesar das populações urbanas não fazerem parte da hierarquização
tradicional do sistema feudal, elas nunca deixaram de existir e, foi a partir delas, inclusive,
que séculos mais tarde, surgiriam os fundamentos para a superação do período medieval,
a partir do resgate das atividades mercantis.
Dentre as relações de trabalho do período medieval, é possível pontuar pelo
menos duas: a livre e a servil, contudo, ressaltando as muitas incongruências do termo
livre, como veremos a seguir. A escravidão do Império Romano praticamente se extinguiu
na sociedade feudal, podendo encontrar alguns resquícios dentre o serviço a alguns
nobres. Os camponeses, a classe mais comum do regime feudal, apesar de não serem
propriedades dos senhores da terra, praticamente dependiam desses senhores que
detinham o domínio sobre o principal meio de produção da época, a terra. Nesse sentido, o
trabalho servil prevalecia entre os camponeses, sendo uma raridade a existência de
homens realmente livres, com direitos civis desvinculados dos senhores feudais.
A maioria da classe campesina era compulsoriamente levada a trabalhar no
domínio exclusivo do senhor feudal, que reivindicava a prioridade sobre o trabalho nas
suas próprias parcelas de terra. Esse regime de trabalho imposto pelos senhores aos
camponeses ficou conhecido como corveia. Outra forma bastante comum de trabalho
feudal era a talha, que obedecia a mesma relação de poder entre senhor e camponês,
contudo, se caracterizava basicamente pelo pagamento do direito de uso das terras do
senhor a partir do repasse de parte da produtividade do camponês ao senhor da terra.
Além disso, como já mencionado anteriormente, os senhores também se favoreciam de
taxas pagas – geralmente em forma de produtos – pela utilização de equipamentos, como
moinhos, fornos, entre outros, denominadas de banalidades.
A extensão e natureza dos serviços variavam de região para região (mesmo de
senhorio para senhorio), durante a época e de acordo com o estatuto social do
camponês ou com a natureza da sua posse. Não era invulgar que homens
nominalmente livres tivessem ocupações servis, e, ocasionalmente, um servo
nominal podia ser titular dum domínio útil ou duma propriedade arrendada. Em
geral, os que tinham obrigações servis seriam encarregados de mais trabalho,
talvez três ou quatro dias por semana em média, e os que detinham
propriedades alodiais tinham menos obrigações (CAMERON, 2010, pp. 70-71).
Mais um módulo concluído! Desejamos que em seus estudos você tenha observado
os elementos constituintes das transformações socioeconômicas que o mundo e,
particularmente, a Europa, experimentou antes do mercantilismo – e com ele, o capitalismo
– ter se estabelecido de uma vez por todas na história.
Consideramos que a superação da economia de subsistência para uma economia
comercial, alcançada pelos muitos impérios antigos, tenha sido relevante para o
estabelecimento de uma nova ordem mercantil, séculos mais tarde, na Europa. Apesar
disso, não podemos atribuir a essa estrutura consolidada pelos impérios, dentre eles, o
romano, um estágio menos evoluído do mercantilismo, pois se assim o considerarmos,
incorreremos no erro de assumir uma perspectiva histórica dominante, deixando de
apreciar outros aspectos relevantes à história, como, por exemplo, o papel das minorias no
fazer história.
Não devemos negar, jamais, o papel das classes poderosas na reformulação
histórica de seu tempo, entretanto, é sempre importante para o pensar e o retratar
histórico, a consideração dos agentes dominados. Nesse sentido, vale observarmos que
tanto na transição do Império Romano para o feudalismo, bem como, do feudalismo para o
mercantilismo – que veremos com mais detalhe no módulo seguinte –, a influência das
classes não-dominantes, como os escravos refugiados, os citadinos desertores, no caso da
decadência imperial; e dos camponeses, homens livres e citadinos resistentes, no caso da
transição feudal para a mercantilista; foram preponderantes para que as novas formações
socioeconômicas se consolidassem.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
PINSKY, Jaime. As primeiras civilizações. 25. ed. São Paulo : Contexto, 2011.
REZENDE FILHO, Cyro de Barros. História econômica geral. 9. ed. 2. reimp. São Paulo:
Contexto, 2010.
LEITURAS COMPLEMENTARES:
Cap. 02 – Escravidão Clássica, do livro “História Econômica Geral”, de Cyro de Barros
Rezende Filho, Editora Contexto, Ano: 2010.
SUGESTÃO DE VÍDEO:
Vídeo para complementar os conhecimentos:
História: Idade Média - Marcelo Cândido da Silva - PGM 04. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=0XRmlR-xtcc>.