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1.

INTRODUÇÃO AO DIREITO PROCESSUAL CIVIL: FUNDAMENTOS,


PRINCÍPIOS E CONCEITOS

Os princípios do processo civil são, normalmente, normas constitucionais (exceção:


boa-fé). Não necessariamente precisam ser constitucionalizadas, mas devido a processos
históricos (período ditatorial), optou-se por inserir tais normas na Magna Carta. O novo CPC
entrou em vigor em março de 2016 devido ao seu período de vacância de um ano. Segundo o
art. 1° do CPC: ”O processo civil será ordenado, disciplinado e interpretado conforme os
valores e as normas fundamentais estabelecidos na Constituição da República Federativa do
Brasil , observando-se as disposições deste Código”.
No que tange aos valores da CF que refletem no CPC, é preciso verificar o art.
1°/CF: “A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e
Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como
fundamentos: I - a soberania; II - a cidadania; III - a dignidade da pessoa humana; IV - os
valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V - o pluralismo político”. Além disso,
diversas atribuições do art. 5° CF são processuais, como a igualdade.
O art. 2° CPC verifica o princípio da inércia: “O processo começa por iniciativa da
parte e se desenvolve por impulso oficial, salvo as exceções previstas em lei”. No Estado
Democrático de Direito, verifica-se três funções essenciais acopladas a cada um dos três
poderes, a função legislativa, função jurisdicional e a função administrativa. Um poder pode
atuar em mais de um desses setores, mas é identificado que em cada um deles existe uma
preponderância de um sobre os demais. A partir do momento de provocação do judiciário, o
processo se desenvolve por si próprio (princípio do impulso oficial), uma vez que se vincula
ao princípio da efetividade processual.
O processo segue em busca da aplicação da lei, da afirmação da supremacia da
jurisdição e do alcance da função social do processo. Apesar do princípio da inércia, pode ser
que hajam casos em que o processo se inicie sem provocação realizada pela parte autora
(casos excepcionais). Ocorrem em casos de jurisdição voluntária, visto que há a possibilidade
de não existir uma pessoa que possa ser especificada como autor (pode ser interesse coletivo).
A jurisdição é contenciosa por excelência, contudo, na jurisdição voluntária não há litígio,
apenas a necessidade de intervenção devido a interesse público (ex: arrecadação de bens de
ausente, art. 744, 745 CPC).
O direito processual civil revela como conquistar aquilo que o direito material
assegura. Sendo assim, age de acordo com a convenção da jurisdição (inerte), ação
(provocação do autor) e processo (sequência de atos devidamente documentadas). A ação é
um direito e origina o processo, é desvinculada ao direito material, visto que se inicia uma
ação para que um processo corra e se verifique se existe você possui determinado direito
material ou se o teve como violado.
O processo civil concede mecanismos alternativos de resolução de conflitos, como a
arbitragem (considerada meio alternativo de resolução de conflitos pois não conta com a

atuação do judiciário → árbitro/pessoa que não é juiz, mas possui conhecimento técnico

sobre o direito, é escolhido para decidir a situação; o titular do direito material deve ser

maior e capaz; o direito deve ser disponível), a mediação e a conciliação. Isto ocorre

devido ao custo pecuniário de um processo, dentre outros fatores. Apesar disso, não é

possível afastar a atuação jurisdicional (art. 3° CPC).


A mediação e a conciliação equivalem a mecanismos alternativos que decorrem da
composição entre as pessoas. Assim, sendo as pessoas cientes de seus direitos, estas dialogam
e chegam pacificamente a uma resolução de conflitos. O conciliador tenta mostrar a
conveniência de um acordo. A mediação também depende de acordo, mas é mais utilizada
quando as pessoas já se conheciam anteriormente.
Em consonância, o art. 3° CPC define: “Art. 3º Não se excluirá da apreciação
jurisdicional ameaça ou lesão a direito. § 1º É permitida a arbitragem, na forma da lei. § 2º O
Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual dos conflitos.§ 3º A
conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual de conflitos deverão ser
estimulados por juízes, advogados, defensores públicos e membros do Ministério Público,
inclusive no curso do processo judicial”.
O art. 4° do CPC estabelece o princípio da duração razoável do processo, como

expõe: “As partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução integral do mérito

(pedido), incluída a atividade satisfativa”. A razoabilidade leva em conta todos os aspectos

do processo, sendo que um processo deve ser resolvido no tempo adequado, mas deve ser

dotado de justiça e efetividade, visto que pontos controversos devem ser analisados e

entre outros. Ex: O direito ao contraditório é uma garantia legal e compõe o direito de se

manifestar e contradizer o que dispõem → o devido processo legal leva em conta uma

série de garantias, sendo obedecidos o direito ao contraditório, duração razoável do

processo (...).
Além disso, é importante que exista a boa-fé, expressa pelo art. 5° CPC: “Aquele
que de qualquer forma participa do processo deve comportar-se de acordo com a boa-fé”. O
próprio magistrado pode estabelecer punições para quem age de má-fé. Para quem não é parte
do processo, toma-se as devidas providências para que a conduta seja coibida.
Em síntese, o princípio da isonomia trata sobre a igualdade formal e material nos
processos (pois todos são iguais perante a lei, mas existem casos em que pessoas podem ser
tratadas de forma desigual na medida de sua desigualdade), o princípio do contraditório
versa que todos têm o direito de se defender em contraposição a acusação realizada e o
princípio da ampla defesa constitui o direito de poder provar acerca de alegações feitas
(relaciona-se de forma íntima com o contraditório). Sobre o contraditório, o art. 9° CPC
versa: “Art. 9º Não se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela seja previamente
ouvida. Parágrafo único. O disposto no caput não se aplica: I - à tutela provisória de urgência;
II - às hipóteses de tutela da evidência previstas no art. 311, incisos II e III ; III - à decisão
prevista no art. 701” .
A tutela provisória de urgência ocorre em casos em que a decisão é realizada e a
parte é ouvida posteriormente. Ex: concessão de medicamento em casos de urgência. Há,
nesse caso, a postergação do contraditório. As hipóteses de tutela da evidência existem nos
casos em que não resta mais dúvida e algo é declarado como posto e analisado, visa evitar
providências desnecessárias. Na ação monitória (art. 701 CPC), uma pessoa, querendo pagar
uma dívida de imediato, não é condenada a ônus sucumbenciais se apresentar defesa,
contudo, há acréscimo de um valor caso perca a demanda.
O princípio da cooperação é identificado no art. 6º CPC: “Todos os sujeitos do
processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito
justa e efetiva”. A seguir, tem-se que: “É assegurada às partes paridade de tratamento em
relação ao exercício de direitos e faculdades processuais, aos meios de defesa, aos ônus, aos
deveres e à aplicação de sanções processuais, competindo ao juiz zelar pelo efetivo
contraditório (Art. 7º CPC)”.
O processo é visualizado em uma perspectiva coletiva e possui seu próprio contexto
social, econômico e estrutural, por isso, o art. 8° expõe: “Ao aplicar o ordenamento jurídico,
o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências do bem comum, resguardando e promovendo a
dignidade da pessoa humana e observando a proporcionalidade, a razoabilidade, a
legalidade, a publicidade e a eficiência (princípios que regem a atividade administrativa
como um todo - art. 37 CF)”.
A razoabilidade diz respeito à análise do que é necessário, ao que é preciso diante de
uma situação. Depois de decidido esse ponto, a proporcionalidade analisa qual a maneira
adequada de realizar algo, como uma sanção. A legalidade determina que o agente deve agir
sempre de acordo com o ordenamento (+ princípios, valores e entre outros), enquanto a
eficiência combina os fatores celeridade + satisfatividade do processo. A publicidade decorre
da circunstância de o processo ser público, pois em casos excepcionais se estabelece o
segredo de justiça caso o princípio da publicidade viole aspectos de intimidade e dignidade da
pessoa humana. Só pode ser divulgado se houver interesse social (...).
O art. 12 CPC determina a sequência de atos que o juiz deve seguir para que se

pronuncie uma sentença a partir de uma ordem cronológica de conclusão. Conclusão é

ato que a secretaria de justiça prática → não há mais nenhuma providência a seguir

seguida, apenas a análise do juiz. → “Art. 12. Os juízes e os tribunais atenderão,

preferencialmente, à ordem cronológica de conclusão para proferir sentença ou acórdão.

§ 1º A lista de processos aptos a julgamento deverá estar permanentemente à disposição

para consulta pública em cartório e na rede mundial de computadores. § 2º Estão

excluídos da regra do caput : I - as sentenças proferidas em audiência, homologatórias de

acordo ou de improcedência liminar do pedido; II - o julgamento de processos em bloco

para aplicação de tese jurídica firmada em julgamento de casos repetitivos; III - o

julgamento de recursos repetitivos ou de incidente de resolução de demandas repetitivas;

IV - as decisões proferidas com base nos arts. 485 e 932 ; V - o julgamento de embargos de
declaração; VI - o julgamento de agravo interno; VII - as preferências legais e as metas
estabelecidas pelo Conselho Nacional de Justiça; VIII - os processos criminais, nos órgãos
jurisdicionais que tenham competência penal; IX - a causa que exija urgência no julgamento,
assim reconhecida por decisão fundamentada”.

2. CONDIÇÕES DA AÇÃO

O devido processo legal é um conjunto de garantias, quando o magistrado atua no


processo, atua diante da função jurisdicional, mas sempre dentro do que a lei determina. O
Poder Judiciário não age sem provocação, devendo-se inicialmente entrar com uma ação,
direito de todo aquele que sofreu uma violação/ou está em vias de sofrer violação de direito
material. Assim, configura-se como uma garantia fundamental, sendo o acesso à justiça
essencial. O direito de ação é subjetivo e depende da vontade do interessado, visto que não é
obrigatório sempre que um direito material é violado.
Existem condições para a ação. Para que uma pessoa possa postular em juízo (entra
com ação), esta deve ter interesse (processual) e legitimidade. Havia uma terceira
modalidade, a possibilidade jurídica do pedido, mas o novo CPC não o contemplou. Se os
requisitos de ação não estiverem presentes, a função jurisdicional não poderá ser acionada, a
partir daí o processo seria extinto.
O interesse de agir é uma condição de ação que se faz presente quando aquele que
impulsiona a função jurisdicional (apresenta petição inicial) demonstra que existe um conflito
que precisa ser solucionado. Aqui, deve ser observada a descrição sobre um conflito, pedindo
ao juiz para que uma pessoa que resiste atenda ao que é pedido. Para que o interesse fique
demonstrado, é preciso que se faça pedidos que, sendo atendidos, seria solucionado o
conflito. O juiz não pode atender pedidos que não foram feitos, visto que decide nos limites
da lide e do que é proposto (art. 141 CPC). Para que haja interesse processual, deve-se
verificar a necessidade de intervenção jurisdicional e adequação quanto aquilo que foi pedido
(deve ser apto a solucionar o conflito).
A legitimidade para agir é uma condição de ação que deve ser verificada quanto às
partes que estão no polo ativo (autor) e polo passivo (réu). É, em regra, coincidente com a
titularidade do direito material controvertido. A legitimidade está presente quando a pessoa
que invoca o direito material está em condições de exigir algo de outrem. Se alguém tentar
entrar com ação para reivindicar direito material de outra pessoa, está ferido o requisito da
legitimidade. Em outros casos, pode ser que se tente colocar no polo passivo alguém que se
enquadra como tal, sendo este um caso de desvio de legitimidade. A legitimação no DPC é
ordinária, pois as partes as mesmas da relação jurídica base.
Em casos excepcionais, pode ser conferida a legitimidade a pessoas que não
originalmente a possuem (não são titulares de direito controvertido). Assim, essa pessoa fica
autorizada a entrar com ação para defender o direito de outrem a partir da legitimação
extraordinária, a qual decorre apenas de lei. Sendo assim, não se pode entrar para defender o
direito de outra pessoa se a lei não dispuser previsão acerca do caso (art. 18 CPC).
Por conseguinte, a atuação dos sindicatos pode se encaixar na previsão de
legitimação extraordinária, uma vez que o sindicato age em seu nome da defesa do direito do
trabalhador. O MP também está autorizado por lei (CF) a atuar em nome próprio para garantir
o direito de outra pessoa, podendo prezar por interesse individual, coletivo ou difuso (não há
como identificar os titulares, apesar de existirem). A Defensoria Pública também pode
promover os direitos humanos e praticar a defesa dos vulneráveis em nome próprio. Por fim,
a OAB pode agir em nome próprio para defender o direito dos advogados.
A substituição processual ocorre quando é realizada a legitimação extraordinária.
Contudo, em nem todos os casos de substituição processual ocorre a legitimação
extraordinária. Atualmente, permite-se que o substituído participe do processo como auxiliar,
podendo peticionar, trazer argumentos e entre outros. Anteriormente, esta capacidade de
participação não estava prevista.
A legitimação é, em regra, ordinária. A legitimidade no polo passivo não passa pela
verificação de questões de mérito, pois estas são solucionadas no decorrer da ação. Apenas se
observa se a pessoa poderia ser o polo passivo, sendo uma questão de resolução de mérito
decidir se a pessoa de fato é ou não pertencente ao polo (ex: caso de paternidade). Se os
requisitos de ação não estiverem presentes, o juiz pode extinguir o processo sem resolução do
mérito.
Quanto à possibilidade jurídica do pedido (não foi inserida pelo novo CPC, é
verificada junto ao mérito), tem-se que esta é a exigência de que aquilo que estava constando
no pedido do autor estivesse contemplado no ordenamento, não havendo vedação do
ordenamento quanto ao que a pessoa pediu. Isto pois não se exclui do judiciário a apreciação
de um pedido, visto a tentativa de acesso à justiça.
A ação meramente declaratória não é mais requisito de ação. O novo CPC não

adota mais nenhuma classificação para as ações. O antigo CPC, no entanto, fazia uma

classificação da ação pelo provimento (ações de conhecimento, ações executivas e ações

cautelares). Na classificação pelo provimento havia uma tri divisão → ações condenatórias,

ações constitutivas e ações declaratórias (TODAS SÃO DE CONHECIMENTO). A

ação declaratória queria apenas que o juiz declarasse a existência ou inexistência de uma

relação jurídica, ou acerca da falsidade ou veracidade de um documento.


A capacidade processual não é condição da ação, mas um pressuposto processual, a
pessoa pode exercitar em juízo o direito dela por ela mesma, que é diferente de capacidade
civil, que é a capacidade de ingressar em uma relação jurídica. Assim, um incapaz pode ser
parte, mas deverá contar com uma representação/assistência no processo de acordo com a

idade do citado, por exemplo. Elementos da ação → para a petição inicial, devem constar
as partes, o pedido, a fundamentação (causa de pedir) e o pedido. A PJ pode estar

legitimada. CAPACIDADE DE SER PARTE É DIFERENTE DE CAPACIDADE

PROCESSUAL (CAPACIDADE DE ESTAR EM JUÍZO).

3. COMPETÊNCIA INTERNA

No que tange às normas e territorialidade, a jurisdição civil será regida por

normas processuais brasileiras. Isso ocorre pois deve haver a manifestação da soberania

estatal. Sobre isso, o art. 13 CPC realiza a ressalva: “A jurisdição civil será regida pelas

normas processuais brasileiras, ressalvadas as disposições específicas previstas em tratados,

convenções ou acordos internacionais de que o Brasil seja parte” → acordos e tratados

entram no Brasil como emenda constitucional. Há uma divisão didática entre jurisdição

civil (conflito não trata sobre o cometimento de crimes) e jurisdição penal (órgãos

incumbidos de conflito em que houveram crimes) a partir da matéria/conteúdo que será

solucionado.

Sobre a temporalidade, entende-se que a norma processual não retroagirá

(princípio da irretroatividade → preza pela segurança jurídica). Assim, as normas não

alcançam fatos pretéritos, apenas futuros. O art. 14 CPC dispõe: “A norma processual não

retroagirá e será aplicável imediatamente aos processos em curso, respeitados os atos


processuais praticados e as situações jurídicas consolidadas sob a vigência da norma
revogada” → teoria de isolamento dos atos processuais. Na falta de um código específico

(como ocorre no caso do direito do trabalho), pode ser utilizado o próprio CPC para

regulamentação, como demonstra o art. 15: “Na ausência de normas que regulem

processos eleitorais, trabalhistas ou administrativos, as disposições deste Código lhes serão

aplicadas supletiva e subsidiariamente”.


Adentrando a competência, esta pode ser relativa (o interesse é das partes envolvidas
no conflito) ou absoluta (o interesse é da justiça/social). Na CF, são citadas as questões da
justiça especial e justiça comum, a indicação de competência originária de alguns tribunais
(STF/art. 103 CF, STJ/art. 107 CF e tribunais regionais federais/art. 108 CF). A atribuição de
competência diretamente a tribunais não é regra geral do ordenamento, visto que, em regra, a
atribuição recai sobre os órgãos de primeiro grau de jurisdição. Sendo assim, em regra o
encaixe é atribuído primeiramente à justiça especial, não havendo, chega-se a justiça residual
de competência dos estados. É preciso inicialmente verificar se o caso não é de competência
de algum tribunal em específico.
Algumas atribuições acerca da competência são dispostas no art. 45 CPC:
“Tramitando o processo perante outro juízo, os autos serão remetidos ao juízo federal
competente se nele intervier a União, suas empresas públicas, entidades autárquicas e
fundações, ou conselho de fiscalização de atividade profissional, na qualidade de parte ou de
terceiro interveniente, exceto as ações: I - de recuperação judicial, falência, insolvência civil e
acidente de trabalho; II - sujeitas à justiça eleitoral e à justiça do trabalho. § 1º Os autos não
serão remetidos se houver pedido cuja apreciação seja de competência do juízo perante o qual
foi proposta a ação. § 2º Na hipótese do § 1º, o juiz, ao não admitir a cumulação de pedidos
em razão da incompetência para apreciar qualquer deles, não examinará o mérito daquele em
que exista interesse da União, de suas entidades autárquicas ou de suas empresas públicas. §
3º O juízo federal restituirá os autos ao juízo estadual sem suscitar conflito se o ente federal
cuja presença ensejou a remessa for excluído do processo”.
Ademais, o art. 44 dispõe: “Obedecidos os limites estabelecidos pela Constituição
Federal , a competência é determinada pelas normas previstas neste Código ou em legislação
especial, pelas normas de organização judiciária e, ainda, no que couber, pelas constituições
dos Estados”. O legislador se utiliza de diversos recursos: direito material sobre o litígio,
local onde os fatos que serão discutidos no processo ocorreram, local onde as pessoas que se
envolveram no litígio são residentes e entre outros. Apesar da variação, os recursos podem
ser encontrados em texto de lei (CPC).
Existem critérios para que se aplique nesse sentido, sendo estes: critério objetivo,
critério funcional e critério territorial. O critério objetivo leva em conta elementos do
processo em si, divide-se em: competência em razão da matéria (leva em consideração o

direito material a ser decidido no processo → ex: justiça estadual, entre as varas cíveis/10,

possui as varas de família e sucessões; parte da ideia de que alguns âmbitos merecem um

setor especializado devido a fatores como demanda, importância, etc), competência em

razão do valor (é relativa; é raro a criação de competências específicas nesses casos, o que
mais chega perto são as competências dos juizados especiais; leva em conta o valor da

causa; elemento que deve constar da petição inicial → art. 291 CPC: “A toda causa será

atribuído valor certo, ainda que não tenha conteúdo econômico imediatamente aferível”.

+ art. 319, art. 321) e competência em razão da pessoa (competência absoluta que não pode
ser inobservada, qualidade/identificação de um litigante ou de ambos os litigantes, é
verificado quem está inserido no polo ativo e no polo passivo, se for ente da Fazenda Pública
Estadual ou Municipal, as outras varas não serão competentes).
O critério funcional leva em consideração a norma que criou o órgão e deve constar
para que o órgão serve (ideia de função/funcionamento). Este critério é de competência
absoluta, visto que o órgão é criado já para a atribuição que realiza. Pode ser que ocorra
competência funcional fora da CF.
Por outro lado, o critério territorial leva em conta o lugar e dá origem a

“competência territorial” ou “competência de foro” (confusão quanto ao foro privilegiado

→ quando existe foro privilegiado, a competência não é de foro, pois a competência é em

razão da pessoa/qualidade/cargo) . Esta competência é relativa e pode ser flexibilizada.

Aqui, encontramos o foro geral e os foros especiais, de modo que se tenta encaixar a

demanda no foro especial e posteriormente no geral.

O art. 45 CPC trata sobre a competência da Justiça Federal, sendo esta funcional

prevista diretamente no texto da constituição (art. 108 e art. 109 CF). Grande parte dos

casos que tramitam na Justiça Federal Cível possuem encaixe no art. 109, inciso I CF, o

qual estabelece que a União demanda e é demandada apenas na Justiça Federal. Assim, a

Justiça Federal é a justiça competente para saber de causas que envolvem a União, as

entidades autárquicas (entes com personalidade de direito público criados por lei/ ex:

INSS→ trata-se de uma desconcentração da atividade estatal, visto que o Estado poderia

tratar do assunto diretamente, mas um órgão específico atribui maior eficiência ao realizar

a atividade proposta) e as empresas públicas (possuem personalidade de direito privado/

ex: Caixa Econômica Federal). O art. 45 CPC adiciona ainda fundações e conselhos de

fiscalização de atividade profissional, mas o CPC não ampliou a competência da Justiça

Federal, apenas deu mais clareza e especificou aspectos que não foram expostos de forma

plena na CF. Os conselhos de fiscalização de atividade profissional citados no art. 45 CPC


são os conselhos federais criados após o regime militar para que fossem realizadas

fiscalizações contra levantes e entre outros (ex: OAB).


O art. 45 CPC prossegue ao tratar sobre as exceções da dinâmica citada
anteriormente: “Tramitando o processo perante outro juízo, os autos serão remetidos ao juízo
federal competente se nele intervier a União, suas empresas públicas, entidades autárquicas e
fundações, ou conselho de fiscalização de atividade profissional, na qualidade de parte ou de
terceiro interveniente, exceto as ações: I - de recuperação judicial (empresa privada que está

vulnerável financeiramente mas que tem condições de se recuperar/é solvente, requerendo um

planejamento personalizado para que ela liquide suas obrigações → é considerado que o juízo

competente é o do estado/universal),falência (empresa não tem condições de se recuperar/é


insolvente), insolvência civil (pessoa física não tem condições de arcar com seus
compromissos, é feita a arrecadação dos bens e pagamento dos credores respeitando
critérios de preferência) e acidente de trabalho (é a ação acidentária cabível contra o INSS
na qual é aberto um processo em que o órgão previdenciário pague um auxílio para
acidentes; mesmo se houver vara federal, o segurado pode demandar na justiça estadual); II
- sujeitas à justiça eleitoral (pois a justiça eleitoral é especializada e prevalece sobre a
justiça federal) e à justiça do trabalho (a competência da justiça federal não afasta a
competência da justiça do trabalho, é preciso verificar quem está litigando, visto que se a
União, autarquias ou fundações públicas forem parte a competência se direciona ao âmbito
federal)’’.
A competência pode ser absoluta (art. 64 e 65 CPC) e relativa. Na competência
absoluta, se o juiz não preencher os critérios estabelecidos, este é considerado absolutamente
incompetente, enquanto na incompetência relativa ele poderia ser considerado relativamente

incompetente. Sempre que houver caso de incompetência absoluta ou relativa, deve ser

feita a alegação pelo interessado a partir de preliminar de contestação em petição inicial.

Se não for realizada a contestação, a incompetência absoluta pode ser alegada em

qualquer tempo e em qualquer grau, visto que é matéria que o juiz pode conhecer de

ofício (motivo → interesse de ofício, não prevalece o princípio dispositivo). Por outro

lado, na incompetência relativa a não alegação acarreta em entendimento de que a parte

abriu mão do critério em questão e não pode o invocar posteriormente (art. 65 CPC →

prorroga-se a competência = órgão jurisdicional incompetente se torna competente).


Por conseguinte, é preciso conferir o art. 46 CPC: “A ação fundada em direito
pessoal ou em direito real sobre bens móveis será proposta, em regra, no foro de domicílio do
réu (o domicílio é considerado foro geral, uma vez que domicílio o réu tem mais condições
de se defender)”. A seguir, é especificado: “§ 1º Tendo mais de um domicílio, o réu será
demandado no foro de qualquer deles. § 2º Sendo incerto ou desconhecido o domicílio do
réu, ele poderá ser demandado onde for encontrado ou no foro de domicílio do autor. § 3º
Quando o réu não tiver domicílio ou residência no Brasil, a ação será proposta no foro de
domicílio do autor, e, se este também residir fora do Brasil, a ação será proposta em qualquer
foro. § 4º Havendo 2 (dois) ou mais réus com diferentes domicílios, serão demandados no
foro de qualquer deles, à escolha do autor. § 5º A execução fiscal será proposta no foro de
domicílio do réu, no de sua residência ou no do lugar onde for encontrado”.
O art. 47 CPC verifica sobre bens imóveis: “Para as ações fundadas em direito real
sobre imóveis é competente o foro de situação da coisa. § 1º O autor pode optar pelo foro de
domicílio do réu ou pelo foro de eleição se o litígio não recair sobre direito de propriedade (o
direito que a pessoa física ou jurídica tem, dentro dos limites normativos, de usar, gozar e
dispor de um bem, corpóreo ou incorpóreo, bem como de reivindicá-lo de quem injustamente
o detenha), vizinhança (ex: uma árvore cresce sobre o muro do vizinho, de quem serão os
frutos?), servidão (direito de gozo sobre imóveis que, em virtude de lei ou vontade das
partes, se impõem sobre o prédio serviente em benefício do dominante), divisão e
demarcação de terras (ocorre quando há dúvidas quanto às divisas) e de nunciação de obra
nova (o poder público tem poder de interromper obra irregular/ ex: construção invadindo
calçada). § 2º A ação possessória imobiliária será proposta no foro de situação da coisa, cujo
juízo tem competência absoluta (há divergência de entendimento e se considera que o juiz só
declara incompetência absoluta no caso do parágrafo segundo, deve ser verificado o
direcionamento da jurisprudência)”. É entendido que quem possui a posse é quem tem
contato físico com a coisa, enquanto quem possui a propriedade é quem tem o título de
domínio e documento comprobatório sobre a coisa (ex: escritura pública).
Ademais, o art. 48 CPC (adota competência relativa) expõe: “O foro de domicílio do
autor da herança, no Brasil, é o competente para o inventário, a partilha, a arrecadação, o
cumprimento de disposições de última vontade, a impugnação ou anulação de partilha
extrajudicial e para todas as ações em que o espólio for réu, ainda que o óbito tenha ocorrido
no estrangeiro. Parágrafo único. Se o autor da herança não possuía domicílio certo, é
competente: I - o foro de situação dos bens imóveis; II - havendo bens imóveis em foros
diferentes, qualquer destes; III - não havendo bens imóveis, o foro do local de qualquer dos
bens do espólio”. Na sequência, o art. 49 trata sobre os casos de ausentes, enquanto o art. 50
trata sobre o caso dos incapazes.
Segundo o art. 51 CPC, casos que envolvem a união possuem a propositura na
justiça federal no foro de domicílio do réu (cada estado é uma seção judiciária e dentro de
cada estado são encontradas as varas nas cidades/subseções, sendo que as subseções podem
abranger os municípios próximos em caso de cidades menores). Quando a União for ré, o
autor pode promover ação em seu domicílio, no local do fato, no DF ou no local em que se
situa imóvel, se houver (art. 52 CPC). Por fim, o art. 53 CPC realiza especificações para a
ação de divórcio, separação, anulação de casamento e reconhecimento ou dissolução de união
estável; de domicílio ou residência do alimentando, para a ação em que se pedem alimentos;
do lugar; do lugar do ato ou fato para a ação (...).
A modificação de competência (art. 54 CPC ao art. 63) pode ocorrer apenas nos
casos de competência relativa. A modificação pode ocorrer pela conexão (definida

atualmente pelo caput do art. 55 → “reputam-se conexas 2 (duas) ou mais ações quando

lhes for comum o pedido/provimento que o autor deseja ou a causa de pedir/fundamento de

fato e de direito” → basta que coincida a causa de pedir ou o pedido) ou pela continência ,
os quais são institutos do direito processual que servem para resultar em uma modificação no
que tange ao órgão competente para que haja alteração daquele incumbido pela causa.
Ademais, restam como recursos de mesma função o do foro de eleição e ações acessórias.
Para que haja harmonização da situação jurídica, os processos de ações conexas
devem ser reunidos para decisão conjunta, salvo se um deles já houver sido sentenciado. A
reunião deve ser feita no juízo prevento, onde serão decididas simultaneamente, pois leva em
conta a prevenção e a consideração de qual órgão conheceu primeiro a causa. A prevenção é
caracterizada pelo registro (cadastro do processo) e pela distribuição, sendo que a distribuição
se faz necessária quando houver mais de uma vara/juízo na localidade.
Nesse sentido, a modificação da competência também pode ocorrer a partir da
continência, matéria exposta pelo art. 56 CPC: “Dá-se a continência entre 2 (duas) ou mais
ações quando houver identidade quanto às partes e à causa de pedir, mas o pedido de uma,
por ser mais amplo, abrange o das demais”. Assim, entende-se que no caso deve haver as
mesmas partes, a mesma causa de pedir e o pedido de uma causa deve estar inserido dentro
do pedido de outra. Estes casos são raros, visto que em regra as pessoas costumam aguardar e
propor a ação por inteiro.
A modificação de competência por meio de foro de eleição (art. 62 e 63 CPC)
ocorre em razão do valor e do território, elegendo foro onde será proposta ação oriunda de
direitos e obrigações. O foro de eleição é determinado por uma cláusula que consta em
contrato escrito e deve possuir um negócio jurídico a ser contemplado. É importante lembrar
que ocorreram mudanças ao longo do tempo, uma vez que antes não havia nenhuma
possibilidade de não ser aplicado o foro de eleição. Posteriormente, foram verificadas
situações de foro de eleição abusivo e o Código de Defesa do Consumidor declarou a
capacidade de atribuição de nulidade de cláusulas contratuais abusivas. O CPC também
propõe que o juiz pode declarar nulidade de cláusulas abusivas por meio de ato de ofício, ou
seja, ato praticado em virtude do cargo ocupado, não sendo necessária a provocação prévia.
A partir disso, surge controvérsia nos casos em que juízes aplicam o que foi

disposto no CPC e se abstém da aplicação do foro de eleição, pois o juiz não pode

declinar se a competência for relativa. Em propósito de solucionar o conflito, o novo

CPC estabelece no art. 63: “Antes da citação, a cláusula de eleição de foro, se abusiva,

pode ser reputada ineficaz de ofício pelo juiz, que determinará a remessa dos autos ao

juízo do foro de domicílio do réu” → este procedimento deve ocorrer antes da citação.

Em resumo, se o juiz verificar foro de eleição no processo recebido, este já o declina e o

encaminha para o domicílio do réu. Caso contrário, o juiz não tratará mais da matéria e

dependerá da provocação do réu mediante contestação. O novo CPC não estabelece que

o foro de eleição pode ser considerado apenas em relações de consumo.


O conflito de competência (art. 66 CPC) ocorre quando surgem dúvidas quanto ao
órgão competente na resolução do caso. Dessa maneira, a confusão pode ser criada quando: I
- 2 (dois) ou mais juízes se declaram competentes (conflito positivo de competência); II - 2
(dois) ou mais juízes se consideram incompetentes, atribuindo um ao outro a competência; III
- entre 2 (dois) ou mais juízes surge controvérsia acerca da reunião ou separação de
processos. O conflito de competência entre juízes deve ser solucionado em tribunais, visto
que não existe hierarquia entre os juízes e um não poderá se sobrepor ao outro. Em
contraposição, o Tribunal é um órgão hierarquicamente superior apto para a decisão, de modo
que o Tribunal em que o juiz se vincula é convocado para intervenção. Se ambos juízes são
estaduais, o tribunal que será chamado também será estadual, mas se forem de tribunais
diferentes o STJ assumirá o papel interventivo (art.105, inciso I, d, CF), exceto em caso de
conflito no próprio STJ e demais tribunais superiores, o qual seria solucionado pelo STF.
4. SUJEITOS DO PROCESSO

Os sujeitos do processo são aqueles que integram a relação processual, ou seja, as


partes e o juiz. No art. 70 CPC, é mencionada a capacidade processual, a qual se define
como pressuposto processual que diz respeito às partes: “toda pessoa que se encontre no
exercício de seus direitos tem capacidade para estar em juízo”. Nesse sentido, tem capacidade
processual quem tem capacidade civil, em outros termos, deve haver possibilidade de
exercício de seus próprios direitos. Isto pois uma criança, por exemplo, possui direitos, mas
não está em exercício pois não possui capacidade civil e será assistido por seus pais, tutor
(caso de ausência dos pais devido à idade) ou curador (caso de ausência dos pais que não
ocorre relacionada à idade). A criança pode ser parte do processo, mas não sozinha, devendo
ser acompanhada perante representação quando absolutamente incapaz e perante assistência
quando relativamente incapaz.
As pessoas físicas, pessoas jurídicas e entes personalizados têm capacidade de ser
parte, não importando se possuem capacidade civil ou não. Os entes personalizados podem
ser partes mesmo com sua característica de ausência de personalidade jurídica, como se pode
observar na massa falida resultante da decretação de falência de pessoa jurídica pode ser
representada por seu administrador judicial. Além disso, a herança jacente ocorre quando um
indivíduo falece e deixa bens, mas não deixa sucessores conhecidos e nem testamento. Um
ano depois, se não aparecer interessados após a publicação dos editais, se transforma em
herança vacante.
A seguir, o espólio que surge quando alguém morre também é um exemplo de

ente despersonalizado e possui capacidade de ser parte de um processo, além da sociedade

e associações irregularidades, condomínios, nascituros e poderes (ex: tribunal de justiça →

pode representar apenas seus interesses peculiares, caso seja caso de interesse de pessoa

jurídica de direito público, a representação é feita pela União, estado, DF e entre outros a

depender do caso) são citados posteriormente pelo Código. O art. 75 CPC define quem

pode ser representante em juízo, ativa e passivamente.


No que se refere à exigência inafastável para o processo, existe ainda a capacidade
postulatória descrita pelo art. 103 CPC: “A parte será representada em juízo por advogado
regularmente inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil. Parágrafo único. É lícito à parte
postular em causa própria quando tiver habilitação legal”. Os membros da advocacia pública
também são dotados de capacidade postulatória e agem em nome do poder público, além dos
membros da DPU e do MP.
O advogado nunca é parte no processo, porquanto, atua para suprir a falta de
capacidade postulatória de quem necessita dos requerimentos. Este deve, ao aceitar um caso,
apresentar uma procuração (chamada de procuração ad judicia, a qual especifica os poderes
atribuídos ao profissional) que confira sua representação perante a parte e seu contrato de
mandato. Como um exemplo das funcionalidades da procuração, tem-se o fato de que um
advogado nunca pode confessar fato que cause dano ao réu, salvo se possuir poderes para tal
mediante o documento citado. Se o contrato de mandato não for praticado, o advogado pode
arcar com os custos do processo e com as perdas e danos.
Em situação de desistência da parte (autor), ou seja, escolha de não prosseguimento
do processo, a decisão é anunciada ao juiz e o caso é extinto sem resolução de mérito. Assim,
a parte desiste do direito de ação que ele apresentou mediante petição inicial que originou o
processo. A desistência difere da renúncia, visto que na primeira é abdicado o direito de ação
e na segunda se abdica o direito material (substrato da pretensão), o que implica na extinção
do caso com resolução do mérito. Outrossim, o poder de firmar compromisso também deve
estar expresso em procuração nos casos de arbitragem (compromisso arbitral), recebimento
de qualquer material, capacidade de quitação e de requerimento de justiça gratuita.
O CPC, em seu art. 72 CPC, declara os únicos casos de curatela especial: “O juiz
nomeará curador especial ao: I - incapaz, se não tiver representante legal ou se os interesses
deste colidirem com os daquele, enquanto durar a incapacidade; II - réu preso revel, bem
como ao réu revel (aquele que foi citado e não se defendeu, a revelia nem sempre é
declarada) citado por edital ou com hora certa, enquanto não for constituído advogado.
Parágrafo único. A curatela especial será exercida pela Defensoria Pública, nos termos da
lei”. Estas hipóteses se diferem das expressas no art. 71, nos quais o curador atua para suprir
a falta de capacidade de alguém. Em contraste, o art. 72 cita os casos de curatela especial,
sendo que esta pode ser representada apenas pelo defensor público.
O art. 73 do CPC trata da situação de pessoas casadas ou em união estável para
determinados processos, pois pessoas casadas, por exemplo, exercem a administração de
patrimônio de forma conjunta, salvo os casos de separação total de bens. A partir disso, é
possível compreender o caput do artigo citado: “O cônjuge necessitará do consentimento do
outro para propor ação que verse sobre direito real imobiliário, salvo quando casados sob o
regime de separação absoluta de bens”. Outrossim, o consentimento previsto no art. 73 pode
ser suprido judicialmente quando for negado por um dos cônjuges sem justo motivo, ou
quando lhe seja impossível concedê-lo (art. 74 CPC). A necessidade de consentimento não
implica na necessidade do outro parceiro ser parte do processo.
À vista disso, caso haja impasse na capacidade processual ou irregularidade na
representação, é preciso recorrer ao art. 76 do CPC: “Verificada a incapacidade processual ou
a irregularidade da representação da parte, o juiz suspenderá o processo e designará prazo
razoável para que seja sanado o vício. § 1º Descumprida a determinação, caso o processo
esteja na instância originária: I - o processo será extinto, se a providência couber ao autor; II -
o réu será considerado revel, se a providência lhe couber; III - o terceiro será considerado
revel ou excluído do processo, dependendo do polo em que se encontre. § 2º Descumprida a
determinação em fase recursal perante tribunal de justiça, tribunal regional federal ou tribunal
superior, o relator: I - não conhecerá do recurso, se a providência couber ao recorrente; II -
determinará o desentranhamento das contrarrazões, se a providência couber ao recorrido”.

5. DEVERES DA PARTE, DOS PROCURADORES E DEMAIS PARTÍCIPES DO


PROCESSO

A matéria é tratada a partir do art. 77 CPC, de modo que os membros do MP e DPU


não podem sofrer as sanções previstas no mencionado artigo e são julgados perante os órgãos
de classe ou corregedorias. As partes podem se sujeitar ao pagamento de multa por
descumprimento de dever (art. 77°), além de multa em favor da parte contrária, tal multa não
possui natureza reparatória. A parte que prejudica o processo também pode ser considerada
litigante de má-fé, o qual é compelido a arcar com os prejuízos causados + perdas e danos.
Quando observado o comportamento do litigante de má-fé, o juiz pode determinar atos para o
feito mesmo que não tenha sido pedido pela parte prejudicada. A multa aplicada pelo art. 77
CPC é para o Estado e decorre do descumprimento da lei, enquanto a multa do art. 80 decorre
do descumprimento do processo e se relaciona com o dano da parte contrária.
Nesse sentido, a multa pode variar de 1 a 10% do valor da causa. Ademais, o art. 81
do CPC ainda prevê que indenizações complementares podem ser impostas, visto que o valor
de 1 a 10% do valor do processo pode não ser suficiente para cobrir os danos causados. O
princípio da sucumbência declara que a parte que perde o processo deve arcar com o
pagamento das despesas do processo + honorários da parte contrária. Dessa forma, é
estabelecido que o litigante de má-fé terá de pagar despesas e honorários advocatícios,
mesmo que este não perca a causa. As multas ocorrem para que seja desestimulada a má-fé
processual.
No regime de antecipação, cada parte antecipa o valor dos atos praticados no
processo, de forma que ao final, quem perde deve pagar as despesas a outra parte. Além
disso, quem perde deve pagar ainda os honorários sucumbenciais do advogado da parte
vencedora. Os honorários sucumbenciais são fixados no processo pelo juiz e são fixados em
torno de 10% e 20% do valor da condenação, proveito econômico ou valor da causa,
observando fatores como o tempo que o advogado teve, zelo e lugar onde foi realizado o
serviço. Em processos em que a Fazenda Pública participa, pode haver ainda outro critério
para a análise de honorários, isto é, o valor dos honorários são reduzidos, pois os processos
que envolvem a União podem ser muito altos. Por outro lado, os honorários contratuais estão
previstos no Estatuto da OAB, visto que o CPC apenas trata da regulamentação acerca dos
honorários sucumbenciais. O advogado pode receber os honorários contratuais e
sucumbenciais, pois possuem naturezas diferentes.
O art. 85 CPC ainda dispõe: “§ 9° Na ação de indenização por ato ilícito contra
pessoa, o percentual de honorários incidirá sobre a soma das prestações vencidas acrescida de
12 (doze) prestações vincendas”. O CPC estabelece estes parâmetros pois se o indivíduo teve
diminuição de capacidade laborativa em face ao processo, ou se faleceu e deixou familiares
dependentes dela, o agressor é obrigado a pagar pensão. A seguir, é preciso observar: “§ 14.
Os honorários constituem direito do advogado e têm natureza alimentar, com os mesmos
privilégios dos créditos oriundos da legislação do trabalho, sendo vedada a compensação em
caso de sucumbência parcial. § 15. O advogado pode requerer que o pagamento dos
honorários que lhe caibam seja efetuado em favor da sociedade de advogados que integra na
qualidade de sócio, aplicando-se à hipótese o disposto no § 14”.
O advogado público pode possuir seus honorários revertidos ao ente público ou não,
a depender de como está prevista a regulamentação de seu cargo. O MP não exerce advocacia
e quando vencem não há honorários de advogado, sendo pagas apenas as despesas de
sucumbência. Quanto à DPU, o entendimento é de que se os defensores vencem, existem
honorários, mas eles não podem receber, sendo os lucros revertidos para a União ou estado,
pois não são considerados advogados. Ademais, em casos de sucumbência recíproca, pode
haver divisão nos honorários para os advogados partícipes (art. 86 CPC). Nos casos de
litisconsórcio, o juiz distribui os ônus sucumbenciais aos entes do processo, como se observa
no art. 87 CPC: “Concorrendo diversos autores ou diversos réus, os vencidos respondem
proporcionalmente pelas despesas e pelos honorários. § 1o A sentença deverá distribuir entre
os litisconsortes, de forma expressa, a responsabilidade proporcional pelo pagamento das
verbas previstas no caput. § 2o Se a distribuição de que trata o § 1 não for feita, os vencidos
responderão solidariamente pelas despesas e pelos honorários”.
Se houver desistência, renúncia ou reconhecimento, quem irá arcar com a
sucumbência é quem desistiu, renunciou ou resistiu. Quando não há litígio, ou seja, jurisdição
voluntária, não há um réu, portanto, não há vencedor e vencedor. À vista disso, o art. 88 CPC
expressa: “Nos procedimentos de jurisdição voluntária, as despesas serão adiantadas pelo
requerente e rateadas entre os interessados”. Nos casos de perícia (art. 95 CPC), o
procedimento é alternativo e não se aplica o art. 91, de forma que o MP e a Fazenda Pública
excepcionalmente devem adiantar o valor.
A partir do art. 98, se trata acerca da gratuidade do processo: “A pessoa natural ou
jurídica, brasileira ou estrangeira, com insuficiência de recursos para pagar as custas, as
despesas processuais e os honorários advocatícios tem direito à gratuidade da justiça, na
forma da lei (…)”. A concessão de gratuidade não depende de comprovação, mas de
suposição de boa-fé. O juiz só pode indeferir a alegação de insuficiência se houver
comprovação de que o indivíduo possui condições para arcar com o processo. Caso seja
fraudado o recurso de justiça gratuita, a pessoa perde o benefício e é multada.

6. LITISCONSÓRCIO E INTERVENÇÃO DE TERCEIROS

Litisconsórcio é definido como o processo que possui pluralidade de partes, sejam


estas detentoras de diversidade de réu (litisconsórcio passivo) ou de autor (litisconsórcio ativo
- há ainda o litisconsórcio misto, o qual é uma junção entre o passivo e ativo). A matéria é
regulada a partir do art. 113 do CPC: “Duas ou mais pessoas podem litigar, no mesmo
processo, em conjunto, ativa ou passivamente, quando: I – entre elas houver comunhão de
direitos ou de obrigações relativamente à lide; II – entre as causas houver conexão pelo
pedido ou pela causa de pedir; III – ocorrer afinidade de questões por ponto comum de fato
ou de direito. § 1° O juiz poderá limitar o litisconsórcio facultativo quanto ao número de
litigantes na fase de conhecimento, na liquidação de sentença ou na execução, quando este
comprometer a rápida solução do litígio ou dificultar a defesa ou o cumprimento da sentença.
§ 2° O requerimento de limitação interrompe o prazo para manifestação ou resposta, que
recomeçará da intimação da decisão que o solucionar “.
O litisconsórcio pode ser voluntário (litisconsórcio facultativo) ou imposto por lei
(litisconsórcio necessário). Em casos de natureza jurídica controvertida, o litisconsórcio
também deve ocorrer mesmo que não haja previsão legal expressa, pois em caso contrário
não haverá vinculação para todos os entes da relação (ex: doação de um bem enquanto o
detentor deve valor pecuniário para outrem, a formação do laço processual pode ocorrer entre
o doador, donatário e indivíduo a quem se deve). Se o número de litigantes envolvidos na
relação jurídica estiver comprometendo o andamento do processo, o juiz pode determinar o
desfazimento do litisconsórcio.
O litisconsórcio pode ser unitário ou simples. O litisconsórcio será unitário quando,
pela natureza da relação jurídica, o juiz tiver de decidir o mérito de modo uniforme para
todos os litisconsortes (art. 116 CPC). A maior parte dos procedimentos que se formam são
simples, de forma que o juiz pode prolatar decisões diferentes. Este caso não declara que o
juiz deveria decidir de forma igual para todos, mas que ele não poderia decidir diferente no
que tange ao mérito em questões unitárias. Dessa forma, nos processos unitários é obrigatório
que o juiz decida de forma igual entre os processos, enquanto o processo simples pode
suportar decisão diferente quanto ao mérito.
Nesse sentido, o art. 115 do CPC declara: “A sentença de mérito, quando proferida
sem a integração do contraditório, será: I – nula, se a decisão deveria ser uniforme em relação
a todos que deveriam ter integrado o processo; II – ineficaz, nos outros casos, apenas para os
que não foram citados. Parágrafo único. Nos casos de litisconsórcio passivo necessário (pois
não existe litisconsórcio ativo necessário no ordenamento brasileiro, pois violaria o direito
de ação), o juiz determinará ao autor que requeira a citação de todos que devam ser
litisconsortes, dentro do prazo que assinar, sob pena de extinção do processo (sem resolução
do mérito)”. Assim, o litisconsórcio necessário e não unitário provoca um efeito em que a
decisão é válida, mas ineficaz para a parte não incluída no processo. Necessário e simples =
ineficaz.
Em seguida, o art. 117 do CPC dispõe: “Os litisconsortes serão considerados, em
suas relações com a parte adversa, como litigantes distintos (possuem atividades autônomas e
independentes - podem praticar atos processuais individualmente, mas deve haver cuidado
pois pode persuadir o juiz de forma que seja prejudicial às outras partes do processo),
exceto no litisconsórcio unitário (decisão de mérito deve ser uniforme, portanto, a atividade
de um litisconsorte pode beneficiar o outro), caso em que os atos e as omissões de um não
prejudicarão os outros, mas os poderão beneficiar (devido ao contraditório e ampla defesa)”.
Quando o indivíduo é citado e não apresenta a defesa, é estabelecido o caso de
revelia, a qual pode implicar na configuração dos efeitos dela. Isto posto, pode ser
considerado que o fato alegado pelo autor é verdadeiro, como se observa: “Art. 344. Se o réu
não contestar a ação, será considerado revel e presumir-se-ão verdadeiras as alegações de fato
formuladas pelo autor”. A revelia existe contra o fato, não quanto ao direito, pois este será
interpretado pelo juiz.
Ademais, é importante frisar: “A revelia não produz o efeito mencionado no art. 344
se: I – havendo pluralidade de réus, algum deles contestar a ação; II – o litígio versar sobre
direitos indisponíveis; III – a petição inicial não estiver acompanhada de instrumento que a
lei considere indispensável à prova do ato; IV – as alegações de fato formuladas pelo autor
forem inverossímeis ou estiverem em contradição com prova constante dos autos (art. 345
CPC)”. Cada litisconsorte tem o direito de promover o andamento do processo, e todos
devem ser intimados dos respectivos atos.
Casos que possuem litisconsórcio com procuradores de escritórios diferentes
possuem o dobro do prazo: “Os litisconsortes que tiverem diferentes procuradores, de
escritórios de advocacia distintos, terão prazos contados em dobro para todas as suas
manifestações, em qualquer juízo ou tribunal, independentemente de requerimento. § 1°
Cessa a contagem do prazo em dobro se, havendo apenas 2 (dois) réus, é oferecida defesa por
apenas um deles. § 2° Não se aplica o disposto no caput aos processos em autos eletrônicos
(pois o processo pode ser acessado por inteiro no sistema) (art. 229 CPC).” O litisconsórcio
pode ser formado já em determinação na petição inicial ou de forma posterior (ulterior).

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