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TEA LITURGIA EM REVISTA N° 14.6 15 - Outubro de 2004 POPS SOOSOO OOOO OOOO OOOSOOOOOOOOOOOOD CONSTRUIR E REFORMAR IGREJAS O que sua comunidade deveria saber © Por que preocupar-se com o lugar liturgico Por motivos teolbgicos, antropolégicos € licirgicos. Pagina 3 3 O que o culto exige do lugar liturgico ‘Antes de pensar igreja, uma comunidade precisa pensar culto. No culto, pessoas falam em nome de Deus a outras pessoas, pessoas falam a Deus € pessoas estendem a mio para tocar outras pessoas em nome de Deus. O que essas acées, exigem do lugar ltargico? Pagina 4 © O lugar litargico é feito de centros e espacos liturgicos Os centros: fonte batismal, estante de leitura, mesa da Ceia do Senhor. Os espagos: de encontro e dispersio, da congregacio, batismal, da mesa do altar, do grupo ical, de circulacko. Pagina 6 © Critérios para uma boa arquitetura eclesiastica Usilidade, simplicidade, flexibilidade, aconchego ‘comunhao, harmonia e beleza, conformidade contextual. Pagina 11 © Outras questées arquiteténicas CCentralidade, acesso a pessoas portadoras de necessida- des especiais, acistica, sacrisia, sala dos bebés, parede para projecSes, iluminacao. Pagina 14 CO processo de construir ou reformar uma igreja: desastre ou bén¢ao Pode ser um desastre quando nfo se apéia sobre bons conhecimentos teolégico-ltirgicos ou quando no & comunitirio, democritico, participative. Pode ser uma banco quando se baseia em reflexio comunitéria sobre © culto, a liturgia e as necessidades arquitetdnicas dat decorrentes. Pagina 17 TEAR _s.. Tear é uma publicacso do Centro de Recursos Litirgicos (CRL) da Escola Superior de Teologia (EST) Caixa Postal 14 - CEP 93001.970 ‘Sto Leopoldo-RS seecccccooossoossooooooooosooooooooosoooooooooooos IMPRESSO TEARS: Niigats.-Outubee TEA RRM: Tear = Liturgia em Revista & uma publicacéo do Centro de Recursos Litirgicos (CRL) da Escola Superior de Teologia (EST) da Igreja Evangélica de Confisséo Luterana no Brasil (IECLB). ISSN 1519-5546 Endereco (Corto de Recursos Lnirjcos- EST ba Poa 14 $52001.970 Sto Leopoldo RS Fone: (51) 590-1455 raral 221 Foc (51) 590-1603 E-mat war@estcombe Diretor Neon Kiet Editor responsivel ‘Vso Scoenel RPSSO7) Conselho de Redacao [Manse Nelon Kine, Remeu Ruben Mart Ses! Georg ison Schoen ‘Chuo Kupla, Crstov Kayser, Fr Mana, Leona Pagung Mirco A. Tren, Nelion Kise Remeu Ruben Marin, Siva Ganz, Seal Georg Soria Henrich aurea, Con Teno Geer Etors 1400 exorplares 2004 EDITORIAL Graca e paz a vocés da parte de | lugar litirgico e arquitetura eclesiastica. Deus Pai e do Senhor Jesus Cristo! Também poderiamos dizé-lo assim: queremos ajudar as comunidades. que Fechando seu quinto ano de| pensam em construir ou reformar uma existéncia, Tear sai diferente. igreja a fazerem sua licdo de casa, a refletirem cuidadosamente sobre culto que querem celebrar e, entio, elabora- rem 0 que as e os profissionais da arquitetura chamam de um programa de nnecessidades. Ninguém pode realizar essa tarefa pela comunidade. Nem mesmo a obreira ou obreiro, a arquiteta ou arquiteto. A comunidade & que precisa definir, coletivamente, como deve ser 0 lugar litirgico que quer para o seu culto, Foi com o objetivo de equipé-la para essa ligio de casa que escolhemos os conted- dos, montamos a estrutura e seleciona- mos. ilustracSes para este caderno. Ha mais tempo sentiamos a necessidade de trazer is nossas leitoras e leitores uma abordagem mais ou menos abrangente e sistematizada do tema lugar litirgico, ou seja, das questes fundamentais ligadas 4 arquitetura eclesiastica. Decidimos, finalmente, dedicar-Ihe um namero tematico de Tear. Logo que comecamos a reunir 0 material para a publicagio, percebemos que um ndimero s6 nos permitiria um tratamento apenas parcial ou muito superficial do tema, Por isso optamos, desta vez, por uma solugio mais radical: estamos reunindo dois nameros de Tear num sé Agradecemos de modo muito volume, abandonamos as tradicionais | especial 4 arquiteta e tedloga Regina Céli secg6es da revista e excluimos qualquer | de Albuquerque Machado por nos elemento (por exemplo, a pagina com| Permitir abusar de sua generosidade, novos cantos litdrgicos) ou tépico que | proveitando muitos conteudos e Go esteja diretamente vinculado ao | ilustracdes de seu livro O local de celebra- tema principal. do: arquitetura e liturgia (Si0 Paulo: Paulinas, 2000), Em vez de receber um nimero em agosto e outro em dezembro, vocés Confiamos que as alteracdes estio recebendo os dois niimeros num | introduzidas excepcionalmente neste sévolume, em outubro. volume encontrem a aprovacio de voces, © objetivo deste volume esta bem expresso no subtitulo. Queremos Paz e bem as nossas leitoras e repassar 4 sua comunidade 0 que, na | 20SNnossosleitores! nossa opinifo, ela deveria saber sobre (© Conselhe Editorial Sobre afigura1: ‘A Casa de Orasa0 6 0 momento e 0 expaco habitual das calebracBies da lgreja doe | Softedores da Rua a \greja do povo que vive pelas ruas de Sao Paulo e que raramente ‘encontra seu espaco nas Igrejas estabelecidas, sefam elas catdlicas ou protestantes. © povo que vive na rua ¢ marginalizado nao s6 em relacio sociedade, mas também fem relacio as igrejas. Assim, 05 “sofredores” geralmente no se definem por uma determinada Igreja ou religifo; quando podem, aproveitam um pouco de tudo que ¢ oferecido, Por isso, embora fazendo parte da Igreja catélica como Pastoral dos Marginalizados, a Comunidade dos Soffedores de Rua tenta manter uma abertura fecuménica: hi pessoas de outrasIgrejas crstas nas equipes eo trabalho procuraser mais “cristo” que propriamente “catélico”, tambémnas celebracdes. Foote: lone BUYST, As celebracSes ma Comunidade dos Sofredores de Rua. SSo Paulo, in: CENTRO DE LUTURGIA. “Lupe «ctu do prt ve met uo. Sto Pas: Pas, 193. p. 1041. | (Cadernor dsr) NELSON Kast Por que preocupar-se com o lugar litargico Por uma série de bons motivos. Primeiro, por motivos teolégicos: Deus sempre se encontra com seu povo em algum lugar. De acordo com a Biblia, nosso Deus no ¢ uma idéia abstrata, nao & um principio filoséfico, inscrito em redutos recénditos ou nas profundezas do nosso ser, ser vivo, que nos ouve, que fala conosco se doa a nés através de agées e objetos bem concretos. um Deus que anseia pelo encontro com sua comunidade. Na realidade em que vivemos, como seres humanos, encontros s6 podem acontecer em algum lugar. Nao existem encontros sem lugar. Deus vai ao encontro de sua comunidade em muitos eventos lugares. De privilegiada, Deus se digna a encontrar-se com sua comunidade no culto (Me 18.20). Por ser um encontro de Deus com sua comunidade, 0 culto precisa acontecer uma muito Figura t Casa de Oracio do Povo da Rua, Sto Paulo. SOLSECSS SOLOS ESS SSOSSOSPOLESSSSSESOSEODSSODOSPOSSPSOSSEP OSES Qutakee 42.2004, num certo lugar. E esse lugar do encontro com Deus, do nos pode ser indiferente. Pelo contrario, a comunidade crista precisa cuidar muito bem do lugar conde acontece o seu encontro com Deus, como Absoluto que é a fonte erazao de ser desua existéncia. cobviamente, Segundo, por motivos antropolégicos: porque a comuni- dade éfeita de pessoas. Para nés, pessoas, poucas coisas sfo tho marcantes como os lugares. Lugares, quaisquer lugares, ‘nos passam mensagens © sensacdes fortes € profundas. Imagine-se chegando a um lugar desconhecido: uma rodovidria na hora do pique, 0 interior reluzente de uma instituigdo financeira, uma tapera melancélica, uma escola em burburinho, um Construir e reformar igrejas O que sua comunidade deveria saber Boa parte desta matéria baseia-se em WHITE, James F. A Linguagem do Espaco, In: == Introdugao a0 Culto Cristo. Sto Leopoldo: Sinodal, 1997. p. 66-94, ‘estédio vazio, uma rua em decadén- cia, um pér-do-sol sobre uma lagoa. Num instante, sem trocar uma so palavra com alguém, aquele lugar the trans-mite um volume indescritivel de informagoes. Informages que atingem diretamente suas emocdes, seus sentimentos. Evocam lembran- sas, engancham em experiéncias passadas. Marcam vocé, porque sto lugares. Quando, entao, se trata de lugares conhecidos, onde ‘experiéncias profundas, 0 impacto das informag6es e emogbes transmi- tidas € ainda mais forte e profundo. Imagine-se chegando, depois de muito tempo, a casa de sua avé, a sua antiga escola, ao lugar de encontros ‘coma primeira namorada, a0 timulo de uma pessoa querida. Que turbi- Indo de sensacSes atinge e comove vocé! Algo semelhante acontece quando chegamos a0 lugar do culto Sensagées igual- mente imensas € indescritiveis nos invadem © per- passam, pois ali alguma vez jé falamos com Deus, em oracio, jf ouvimos sobre © seu amor e sua vontade, ja nos comovemos num batizado, num casamento, na lembranca de uma pessoa falecida, jé experimentamos TEARRE: Ni 14915 -Oatel LUGARES, QUAISQUER LUGARES, NOS PASSAM MENSAGENS E SENSACOES FORTES E PROFUNDAS. a comunhéo com toda a comunidade. ‘A comunidade crista precisa cuidar | muito bem desse lugar que tem impacto tio forte sobre as pessoas que ali acorrem para encontrar-se comDeus. Leia mais sobre a dimensio antropolégica do lugar littirgico na ccontribuigio de Jalio Cézar Adam, & pagina 25 deste volume. Terceiro, por motivos livargicos: hi uma relagio muito complexa, e as vezes tensa, entre lugar litdrgico © 0 culto que ali se realiza. Lugar liturgico e culto con- dicionam-se mutuamente. De um lado, o lugar litargico & sempre resultado de uma certa teologia do culto. Pense em algumas igrejas que vocé conhece e refita comigo. Que teologia do culto se manifesta nesses lugares? Por ‘exemplo: existem igrejas onde o pilpito paira, majestoso, acima do altar, Elas estdo comunicando que a | pregacioda Palavra predomina sobre aCeiadoSenhor. Esta é uma teologia do culto bem definida. Existem igre- jas onde, por ocasiao de um Batismo, lum prato é retirado de um armario na sacristia e colocado, com agua, sobre a mesa do altar; com essa agua € realizado Batismo. Depois, 0 prato volta para o armario. A teo- logia do culto que se expressa aqui indica que o Batismo goza de uma valorizaao infima,nessacomunidade, bem menor do que aquela atribuida a Palavra ou a Cela. A maioria das 9.49 2004 ossas igrejas arquiva as pessoas entre bancos altos, pesados irremoviveis, ladeados de corredo- res apertados. A teologia do culto de tais igrejas expressa que a funcio das pessoas ¢ a de serem espectado- ras, de ficarem iméveis ¢ bem quieras, olhando para a nuca das pessoas. frente, ouvindo eassistindo 0 que & dito e desempenhado pela pessoa que esté oficiando o culto. De outro lado, a configura ‘<0. do lugar litirgico influencia culto que ali se realiza, O lugar licargico pode atuar a favor ou contra © culto que abriga. Pode ser um insidioso inimigo ou um portentoso aliado desse culto. Por exemplo: a ima actistica de uma igreja atua contra a pregagio da Palavra e contra o canto comunitério, prejudicando assim a participagio das pessoas. Bancosapertados, dspostos um atrés do outro, e corredores estreitos dificultam a participacdo das pessoas 2 articulagio da comunidade como corpo de Cristo. Se, numa igreja, normalmente se acumulam sobre a mesa diversas velas, um imenso arranjo floral, mais a Biblia € os livros do pastor, e apenas vez por outra se insinuam, timidamente, um pratinho LUGAR LITURGICO E CULTO CONDICIONAM-SE MUTUAMENTE. O LUGAR LITURGICO E SEMPRE RESULTADO DE UMA CERTA TEOLOGIA DO CULTO. O LUGAR LITURGICO PODE ATUAR A FAVOR OU CONTRA O CULTO QUE ABRIGA. ‘com héstias e um calice com vinho, a comunidade dificilmente conseguir imaginar que aquela mesa tem a ver coma Cela do Senhor. Jé uma igreja ‘com generoso espaco de circulacio, ‘com étima aciistica e uma disposicio semicircular de cadeiras ou bancos equenos e leves, de modo que as Pessoas possam ver-se face a face, revelar-se-é grande aliada do culto que ali se realiza, porque fomenta a participaco das pessoas ea sensacio de que estio, de fato, celebrando em ‘comunidade. Como se vé, hi muitos e bons motivos para nos preocupar- ‘mos coma construgio.ou reforma de igrejas. Como fazer para que o lugar litargico atue a favor e nio contra o culto que ali se realiza? € disto que tratam as paginas seguintes. © que o culto exige do lugar litargico (© lugar litargico pode ser qualquer lugar: uma clareira, uma praia, a sombra de uma figueira, uma garagem, a sala de estar de uma casa ‘ou um prédio especialmente cons- truido, uma igreja. A rigor, s6 existe tum requisito para o lugar litirgico: “precisa ser em algum local designa- do, de modo que o corpo de Cristo saiba onde reunir-se” (White, p. 67). Ou seja, o lugar littirgico precisa estar marcado com algum simbolo da presenca de Deus para que a comuni- dade saiba onde é. Uma comunidade reunida em culto geralmente necessita proteger a si propria e os méveis e utensiios utilizados no culto das intempéries do tempo. Para tanto, ergue paredes e estende um telhado Coloca o lugar litirgico dentrode um prédio. Falamos, ento, de arquitetu- ra. © Dicionério Houaiss define arquitetura como “arte e técnica de | organizar espacos e criar ambientes SEPOOSOOSOSOSESESSS SESE OSSSOOOSOSOSSSESOS ESSE SES ESOOOEOESEOD TRACOM wcususcouse i200 OO STRUIRNENREcORMARMoREAS El para abrigar os diversos tipos de atividades humanas, visando tb. a determinada intencao plistica”. Essa definigao se aplica perfeitamente a arquitetura do lugar litirgico. Se a funcio bésica de um prédio de igreja € abrigar 0 culto de uma comunidade, & ébvio que, antes de pensar igreja, uma comunidade precisa pensar culto. Antes de ‘qualquer reflexdo ou decisio sobre arquitetura, uma comunidade precisa responder a pergunta: qual é 0 culto que queremos? Como ¢ 0 culto que deve acontecer dentro desse ambiente arquiteténico? ANTES DE PENSAR IGREJA, UMA PRECISA PENSAR cuLto. Entéo, para comegar, pen- semos culto. White formulou uma descrigio funcional do culto cristio | que nos ajuda muito a pensarmos culto ¢ lidarmos com o lugar litargi- co. Diz ele: “no culto nés falamos por Deus, falamos a Deus e falamos lum a0 outro, bem como estendemos | ‘a mao para tocar outros em nome de | Deus” (White, p. 68). Que exigéncias impéem essas acées ao lugar livargico? Vejamos. | No culto pessoas falam por Deus a outras pessoas. Isso acontece nas leituras da Palavra de | Deus © na interpretacio dessa | Palavra, que geralmente acontece na forma de prédicas (também denomi- rnadas sermées ou homilias). O que é | que essa atividade exige da arquitetu- | ra? Exige, preferencialmente, um | lugar em que a pessoa que fala possa manter contato visual pessoas que ouvem. Para que isso com as aconteca, quem fala deve encontrar- se em posi¢do ligeiramente elevada fem relagio as pessoas que ouvem € sua visio ndo pode ser obstruida por colunas ou outros obsticulos. Uma posicio demasiadamente elevada também prejudica um bom contato visual. Quem fala deve posicionar-se de frente, € ndo de ombros nem de costas para.as pessoas que ouvem. O espaco arquiteténico ideal para falar por Deus a outras pessoas encontra- Se, portanto, “organizado ao longo de um eixo horizontal, como se houvesse uma linha reta do orador a pessoa no meio da platéia” (White, p. 68). Assim: Figura No culto pessoas falam a Deus. Fazem isso na oracio. Como Deus se encontra “onde dois ou trés estiverem reunidos em meu nome” (Mt 18.20), ou seja, no meio da comunidade, essa ago cultual nao impe exigéncias especiais a0 lugar litargico. No culto pessoas esten- dem a méo para tocar outras pessoas em nome de Deus. Isso acontece quando as pessoas ofician- tes distribuem a Ceia a comunidade, quando batizam outras pessoas, quando abencoam com imposi¢ao de mos outras pessoas paradas ou ajoelhadas a sua frente. Esse tipo de | ago litirgica demanda uma configu- ragio espacial diferente daquela cexigida pelo falar por Deus a outras pessoas. O tocar outras pessoas em nome de Deus pede um lugar circular ou semicircular organizado ao redor de um eixo vertical. O eixo vertical é constituido por uma mesa de altar, por uma pia batismal ou pela propria pessoa oficiante, E 0 circulo ou semicirculo que se forma a0 redor desse eixo s6 pode ter um raio de uns poucos metros. ficaria assim: Esse espaco Figura 3 Todo lugar de culto precisa encontrar © melhor ajuste possivel entre essas duas necessidades espaciais contraditérias: © espaco organizado ao longo de um eixo horizontal 0 espaco organizado a0 redor de um eixo vertical. (Confira, as paginas 20 a 24, como José Kowalska procura ajustar essas duas, necessidades contraditérias, no seu projeto para a igreja de Barqui- simeto) Mas no sto s6 as pessoas oficiantes que tocam outras pessoas por Deus. Aspréprias pessoas da comunidade também tocam outras por Deus. Isso acontece sobretudo quando partilhamos 0 gesto da paz, desejando-nos mutua- mente a paz de Cristo, na liturgia da Cela. Mas podemos dizer que isso também acontece quando saudamos, com um aperto de mio ou um abraco, pessoas que chegam ao culto, pessoas que acabaram de ser batizadas, pessoas que sto instaladas ‘em fungBes especiais ou que recém ingressaram na comunidade. Esses gestos de saudacio e acolhida também so feitos em nome de Cristo, pois Cristo & 0 verdadeir anfitrido da comunidade. Bancos que ‘nos mantém embretados e corredo- SOCCOSO OCS O OSE SOOS ESOS ES ESLISOSIESS SLOP PSEPOLSE SOS POSOOOOED TEAR wrens ontenee tea res estreitos que amarram a circula- ‘gd obstaculizam o tocar outras pessoas por Deus. Esse tipo de agio litargica requer espacos generosos de movimentagio e locomogio. | © lugar litargico é feito de centros e espacos litargicos Para pensar o lugar litirgico, € muito Util classificd-lo em termos de centros e espacos. Fala-se, comumente, de trés centros e seis ‘espacos litirgicos. A maneira como uma comunidade organiza cada um desses centros espacos revela qual a importancia que ela atribui 4 ago litargica que neles se realiza. Centros litirgicos | Os centros litirgicos im- | prescindiveis para o cult cristo sto | os seguintes: Afonte batismal Esta também pode ser chamada pia ou piscina batismal. ‘A comunidade cristé é a comunidade de pessoas batizadas. Ela nasce do Batismo. O Batismo é 0 utero da comunidade crista. Nao existe comunidade cristd sem Batismo, sem aquela aco fundamental que acontece na fonte batismal. Essa relevancia essencial do Batismo tem que ser representada arquitetonik mente. Nao pode ser representada por um prato que, em dias de Batismo, vai de um armario na sacristia para a mesa do altar e depois volta para ele. Nem por uma pia batismal mével que, nos domingos sem Batismo, 6 colocadanum canto. ‘Nas origens, 0 Batismo era ‘entendido como uma lavagem, como | um verdadeiro banho, Até 0 século 14 ele era realizado na forma da submersdo (ato litargico no qual a pessoa era mergulhada completa- mente na gua) ou da imersio (ato litirgico no quala pessoa entrava na gua até esta cobrir os ombros). O préprio Lutero manifestou seu aprego por essa forma de Batismo: "“(.) gostaria que os que vio ser batizados fossem submergidos totalmente na agua, tal como soa o vocibulo e designa 0 mistério. Nao 0 julgo necessério, mas seria bonito dar a uma coisa to perfeita e plena também um sinal pleno e perfeito (.)." (LUTERO, Martin, Do catveiro babilénico da Igreja. S40 Leopoldo: Sinodal, 1982. p. 72). Com o passar do tempo, ocorreu uma minimizagao do ato sacramental do Batismo, ‘reduzindo-se o banho batismal, nio raro, aspersio de um pouquinho de Agua - as vezes s6 de alguns pingos. Um dos postulados da renovagao litdrgica, na atualidade, 2 recuperacio do Batismo em todo o seu significado, Isso vale também para a aco sacramental, 0 banho do Batismo, e para a configuracio da fonte batismal. A arquitetura eclesiastica inspirada por essa renovagio litargica se empenha por fontes maiores e mais profundas, em que as pessoas (sejam adultas ou criangas) possam ser efetivamente batizadas por imersio ou até por submersio, Confira uma expressio desse empenho nas figuras 37, a pé- gina 31, € 42, a pigina 32. Observe, ‘também, as imagens identificadas a seguir como figuras 426, Figura 4 LUTERO: “GOSTARIA QUE 0S QUE VAO SER BATIZADOS FOSSEM SUBMERGIDOS TOTALMENTE NA AGUA, TAL COMO SOA 0 VOCABULO E DESIGNA 0 MISTERIO.” POOPOSESOS OOO CSSSOSOOSS SESS ESOS SOSSSOSESOSSESOOSESESSOSESEED ‘As figuras 4, 5 @ 6 mostram a mesma fonte batismal de uma igreja_em_ Pasadena (BUA). A concopeto. 0 as fotos sto de Marchi 8. Maucke Véwe a. combinaci. entre um recipiente mals eleado © uma piscina, numa depressio do pio. Part a lavagem do. Batsmo a pessoa 2 ser batzada desce 3 piscina e Ki so cola de pe ou sjochads,” sande. que 2 Agus bactral Ihe & derramaca sobre todo 0 corpo. A maior parte a comunidade desioca-se dos bancos e posciona-te, de pé, em oro da fontebatismal, para participar do. ato lieurgice: A recuperacio do significado pleno do Batismo tem a ver também com a localizagio adequada da fonte batismal dentro do lugar litirgico. | Para expressar que 0 Batismo € 0 lugar do nascimento da igreja, muitas comunidades preferem localizar a fonte bem préximo 4 entrada, para que, a cada culto, as pessoas passem por ela, ao entrarem na igreja,e sejam lembradas do seu Batismo. Confira este exemplo nas figuras 7 ¢8: N14 e15-Oatubro de 2004 CONSTRUIR E REFORMAR IGREJAS, TEAL N14 05, Aestante deleitura Esta também pode ser | chamada ambio ou pillpito. 0 lugar da Palavra. Ali encontra-se a Biblia, olivro em que 6 testemunhada a historia de Deus com seu povo. Deste lugar sio proferidas as leituras biblicas da liturgia, assim como a prédica, Portanto, a fungio da es- tante de leitura 6 de mostrar a Biblia 20 povo e de ser o lugar da leitura e regacio da Palavra. Seu posiciona- mento deve ser de frente para a comunidade e em posi¢éo ligeira- mente elevada, de modo que permita lum contato visual entre a pessoa que 8 ouprega ea comunidade Confira a seguir uma estante projetada por Harry Boening Figura 9 Projetar uma boa estante de leiturando é tarefa facil, pois, ambém aqui.é preciso conciliar duas necessi- dades contraditérias. De um lado, 0 amb&o deve expor com clareza e dignidade a Biblia aos olhos do povo. De outro, deve ser um lugar adequa- do para as leituras e a pregacio. Por ‘ocasido das leituras e da pregacio, a Biblia nao estaré voltada para o povo, mas para.a pessoa que lé ou prega. ‘Algumas comunidades solu- cionam essas duas necessidades | contraditérias da seguinte maneira: etecceeses Mode 2008 oe lll fazem com que a parte superior da estante, onde se encontra a Biblia, seja giratoria; quando esta sendo lida ¢ interpretada, a Biblia esta voltada para a pessoa que lé ou prega e ‘quando nfo est sendo lida, volta-se parao povo. Além desse dispositivo giratério, 0 pilpito carece de uma superficie inclinada fixa, sobre a qual a pessoa que prega possa colocar seus apontamentos, e de uma ou duas pequenas prateleiras. Poderia ser um mével assim: Figura 10 Nas figuras 10.611, proposa de extant de letra aboradi pelo arquteto Paulo Mora, de Sto LeopeloMR, por soitario do Centro de Recursos Lrdrgeos ca EST. —_ TRUIR£ REEORMAR Figura tt Amesadoalta € 0 lugar da Cela do Senhor. ‘A mesa do altar tem a funclo de acolher 0 plo e 0 vinho para a Ceia. Deve ter as dimensdes necessirias para receber a quantidade de pio e de vinho que seré necessiria para a Ceia da respectiva comunidade. Ela no tem a funcio de ostentar magnificos arranjos florais nem de ser um foco arquiteténico e, muito menos, de servir como depésito para oslivros da pessoa oficiante, Como exemplos, confira a figura 12, nesta pigina, ea figura 15, pégina 11 Para que a mesa do altar possa efetivamente ser percebida pela comunidade como o centro liirgico da Ceia, é muito importante Figura 12 cresas, El PPPPPPOLPPP SLES EO ESS SOOT OPPO SOSOOSOOSOSOOOOSEEOS no a sobrecarregar com outros objetos, ainda que de cunho liturgico, Se jf hé uma cruz na parede, nio necessirio colocar mais uma sobre a mesa. Sea estante de leftura é 0 lugar da Biblia, ndo hi por que colocar uma Biblia sobre a mesa. Velas e arranjos florais devem ter dimens6es reduzi- das, para nao ofuscar pao eo vinho sobre a mesa do altar. Nos cultos em que nio hi Cela, a mesa do altar permanece vazia ¢ livre de qualquer aco litirgica | A relagdo entre os trés centros | ticargicos Esta é uma questio especial- mente relevante. Existe, no movi- mento de renovagdo litargica, um centendimento generalizado de que nenhum dos trés centros & mais importante do que o outro. Cada um deles deveria receber destaque igual, dentro do lugar litargico. Em razio disso, muitas comunidades optam por uma distribuicio assimétrica dos trés centros. Se estiverem dispostos ‘em relacdo simétrica, aquele que esta no meio comunicaré uma posigao de supremacia e os outros dois parece- ‘ro secundarios. Um dos desafios 4 Comportamento litirgico A configuracio do lugar litargico, tal como ¢ apresentada neste nimero, inspirada pelo ‘movimento de renovacio ltirgica ‘que se espalha por toda a ecumene, implica a observancia do seguinte comportamento litirgico: acon thing de Abeet a Liturgia da Palavra, a pessoa eae pei pA -estance de leitura. A mesa fica | eee | celebracao da Ceia. A acolhida | informal, no inicio, assim como a | béngfo final eo envio, no fal | podem ser realizadas da frente da ‘mesa em direcio a comunidade. SPOS OSL OOE POSES OSLO POOSSESESEFOL ESSE OO SELEEOSEOOOSSOESSOOSED whoo de 2004 Figura 13 boa arquitetura eclesiastica é conseguir uma relagdo assimétrica entre 0s trés, de modo que cada qual expresse a relevancia que the cabe, dentro do lugar littirgico. Confira o empenho por uma disposigéo assimétrica dos centros litirgicos no projeto de José Kowalska, pagina 23, Espacoslitirgicos Os espacos liturgicos imprescindiveis para o culto cristo si0 08 seguintes: © espaco de encontro e de dispersio Sempre que um grupo humano se reine para um evento de certo porte, € natural que, antes de entrarem para 0 recinto reservado, as pessoas gostem de parar para trocar gestos e palavras com as outras que vao se aproximando. ‘Algo semelhante acontece quando 0 evento termina. Normalmente, as pessoas nio saem correndo para a rua, sem tomar conhecimento umas das outras, sem algum intercambio minimo de gestos ¢ palavras. E, muitas vezes, 0 encontro e a disper- so sio até momentos de intensa confraternizagio entre as. pessoas pertencentes tal grupo humano. © mesmo vale para o encontro e a dispersio, antes ¢ depois do culto. As pessoas, gerak mente, tém necessidade de cump conversar, relacionar-se com as demais pessoas, antes e depois da celebracio. Podemos dizer que © encontro e a dispersio fazem parte da formagao e da despedida do Corpo de Cristo. Séo parte constitu- tiva do culto cristo. Por © espaco de encontro e dispersio merece atengio muito especial, quando se pensa em construir ou reformar igrejas. E preciso que haja espaco adequado e suficiente, para que a comunidade se encontre e se disperse. E, para cumprir ainda melhor sua fungio, esse espago deveria ser, preferencialmente, coberto, Veja, na foto acima, © espaco de encontro e dispersio na igreja da ‘Comunidade Evangélica de Venincio AireSRS. mentar, isso, Oespaco da congregagio E 0 espaco onde se encontra ‘© povo de Deus, a comunidade. E um lugar muitissimo privilegiado, pois | Jesus disse: “Onde dois ou trés estiverem reunidos em meu nome, goooooo oo00000 gooogog 000000 oooooo0 go00000 go0ogo00og0 goog0gg ooooo0 oogooa gooooo googga gogog0 go00000 ooogoo00 o000o0G 00000 gooonoo0000 90000 goon ooooocooodgdo oe 88° ooonocooo000000 = 988 o oO Doo0oo0R000000000 a 000 oooococooo0o0od000000 Figura 14 Este € considerado © ponto de partida da arquitetura eclesiéstica contemporanea: lum lugar de culto criado em 1928 pelo arquiteto Rudolf Schwarz, por inspiragio do liturgista Romano’ Guardini, no castelo Rothenfels-am-Main, na Alemanha. — ali estou no meio deles” (Mt 18.20), Entio, a comunidade reunida em culto, © conjunto das pessoas ccongregadas para o encontro com Deus é 0 sinal visivel da presenca de Deus no culto. De acordo com as Palavras de Jesus, & ali que ele esta, bem no meio delas. E preciso que a comunidade reunida possa, realmente, sentinse fem comunidade, em comunhao. A maioria de nossas igrejas no contribul para isso, & muito dificil sentir-nos em comunidade quando ‘temos que ficar apertados entre dois, bancos, olhando para a nuca dos vizinhos da frente. “Feito énibu ‘como escreveu certa ver lone Buyst. Para sentirem-se em comunidade, é preciso queas pessoas possam ver-se face a face. Por iss0,20 construirmos ou reformarmos igrejas, deveriamos buscar algo préximo de uma dispos ‘so semicircular da comunidade. A figura 14, nesta. pagina, mostra uma pioneira busca de solugdo neste sentido, Oespaco batismal E pela porta do Batismo que se acrescentam novos membros 4 comunidade, Por isso, essas pessoas precisam ser apresentadas & comuni- dade toda, Esta, por sua vez, deve acompanhar © ato do. Batismo, receber expressamente a pessoa batizada em seu melo e comprome- terse com seu crescimento na vivencia da f€. Tudo isso s6 pode acontecer adequadamente dentro do culto comunitério, Em termos arquiteténicos, isso exige que 0 espaco batismal em torno da fonte seja amplo o suficiente para abrigar toda a comunidade batismal (a pessoa a ser batizada, a pessoa que preside, familiares, padrinhos e madrinhas), se encontre em plano ligeiramente elevado © disposto de tal maneira que a comunidade toda possa acompanhar (© desenrolar desse ato livirgico. A igreja estampada nas figuras 4 a 6, as paginas 6 @ 7, vai ainda mais longe, Proporcionando lugar para quase toda comunidade ao redor da fonte. ‘Ocspacodamesado altar Este & 0 espago no qual a comunidade se achega para receber a Ceia do Senhor. Amesa do altar deve estar préxima do povo e ser vista por toda a comunidade. O espaco no seu ‘entorno precisa ser amplo, de facil acesso, sem barreiras, permitindo a experiencia de que celebrar a Ceia é lum comer e beber néo individual, mas em comunidade. Essa_dimensio ‘comunitéria da Ceia fice melhor ‘expressa quando se pode formar um grande circulo de comungantes em torno damesa. Confira 0 espaco da mesa do altar previsto no projeto de José Kowalska, a pagina 23. Oespaco do grupo musical Sob grupo musical entende- mos qualquer configuragio de instrumentistas ou cantores e cantoras que atuem no culto comunitério. Essas pessoas e sua atuagio sio da maior relevancia para arealizagio do culto, Mas qual 6a sua fungic? A funcio mais nobre e legitima de um grupo vocal e instru- mental (sea 0 tradicional coral de ‘comunidade, seja outro grupo) 6a de PPPPOPOOO POO SOOSOSOSOOOSSSSESESSESESESESESESSESESESESESSES TEA Ramu cantar junto com a comunidade, ajudar a comunidade a cantar, impulsionar e embelezar 0 canto da ‘comunidade. Qual seria a methor configu- ragio ambiental para que essa funco nobre e legitima possa se desenvol- ver? Nao seria um lugar escondido num mezanino, as costas da comur dade. Nem seria um lugar em plano elevado @ frente da comunidade, competindo com os centros litir= gicos, como se as pessoas estivessem ‘num palco para apresentar um show. © lugar ideal para 0 grupo vocal ¢ instrumental que assume a fungio de ajudar a comunidade a cantar € junto 4 comunidade, no mesmo plano. Nio sio necessérios estrados comunidades, as pessoas do coral ou do grupo vocal até se misturam entre a comunidade, para ajudé-la a cantar. Quem lidera 0 grupo deve poder comunicar-se visualmente com a pessoa que preside a liturgia Eventualmente deve poder deslocar- se com facilidade para reger a ‘comunidade, mas apenas quando for necessirio. Confira, & pagina 23, 0 local que José Kowalska destinou a0 grupo ‘musical no seu projeto. elevados. Em Oespacodecirculagio Este também pode ser chamado espaco de locomogio. & (© espaco que integra todos os centros e demais espacos. O corpo de Cristo, reunido em culto, locomo- vese em diversas ocasides e de muitas maneiras. As pessoas chegam e vo para seus lugares. Movi ‘mentam-se para partilhar 0 gesto da paz. Dirigem-se ao lugar de receber a Cela. Ao final, locomovem-se para fora. Durante um culto podem | ocorrerprocissoesas mais variadas:a comunidade batismal encaminha-se para 0 espaco batismal; pessoas ou grupos de pessoas a serem apresen- tadas a comunidade ou instaladas em SPOROLEE SSL OLSELOLLSEEES LOE LOLESEELEPLOLESHES SHOE EESEEEESESED Figura 15 Igreja de St Rochur, Aarschot (Belgica). diferentes fungées dirigem-se para a frente da comunidade; 0 grupo que prepara a mesa para a Ceia leva pao e Vinho ¢ outras ofertas ao altar. Muitas outras locomogées podem ocorrer em cultos regulares ou especiais. Quase todos esses desloca- mentos no sio feitos individualmen- te, mas em grupos. chegando a envolver dezenas e até centenas de Pessoas. Por isso, & muito impor- tante que os corredores centrais € laterais sejam bem localizados € amplos, para que a circulagio possa fluir sem congestionamentos e sem a necessidade de “guardas de trinsi- to”. Congestionamentos, assim como instrugées e sinalizagdes de transito, tém tudo para obstaculizar uma vivencia profunda e intensa do encontro da comunidade com Deus no culto. Os corredores precisam ser generosos, porque comunidade reunida em culto 6 comunidade em movimento. Corredores e espacos livres generosos também permitem que a distribuicao da Ceia seja feita simultaneamente em diversos grupos descentralizados, posicionados em diversos lugares da igreja. Muito especialmente, corredores amplos sio necessarios para permitir a locomogio de pessoas portadoras de necessidades especiais e por raz6es de seguranca, No tocante a seguranca, corredores _generosos precisam estar combina- | dos com portas externas espagosas, | ‘em niimero suficiente e bem localiza- | | | das, para evitar situacdes de panico. ‘As imagens das figuras 15, 40 41 ilustram como podem ser projetados espacos generosos de circulacio, Critérios para uma boa arquitetura eclesidstica ou destacao essencial? Existe um critério que 6 absoluto e se aplica a todo e qualquer fazer litirgico: ofusca ou destaca o essencial? Qualquer roteiro litirgico que moldemos, qualquer oragdo que formulemos, qualquer hino que escolhamos, qualquer inovagao que cogitemos, qualquer elemento arquiteténico que criemos ou reformemos - enfim, qualquer decisio que tomemos sobre a concepgio geral de um culto ou sobre seus minimos detalhes ou | © primeiro critério: ofusca TEARS: Nota sobre © jeito de fazer as coisas precisa, sempre e antes de mais nada, submeter-se a0 primeiro_critério: iss0 que estou cogitando ofusca ou destacao.essencial? © primeiro critério € muito simples e de facil aplicacao. Bastam coeréncia e coragem para pé-lo em pratica. Quem tem a responsabilida- de de administrar © encontro de Deus com sua comunidade precisa conhecer 0 que é0 essencial do culto como um todo e de cada uma de suas partes ¢ elementos. Utilidade Uma igreja, no seu todo eem ‘cada um dos seus elementos arquite- t6nicos, deve ser Util, ou seja, deve cedificio da igreja tem de ser itil para abrigar 0 encontro de Deus com sua comunidade. Precisa, portanto, corresponder as exigéncias do “falar tocar em nome de Deus”. Nao Ihe abe servir para a ostentagio da comunidade ou para a competicao com a igreja da outra denominacao, no outro lado da praca. A mesa do altar deve ser til para sustentar 0 lice € 0 prato com o pio da Ceia. Nao the cabe servir como monumen- talfoco deatencio arquiteténico. A estante de leitura tem de ser apropri- ada para a recitagio de textos biblicos, para a pregagdo e para quea Biblia ique adequadamente expostaa servir finalidade a que se destina. O | 2004 visio do povo. A fonte do Batismo precisa ser til para que nela seja realizada uma auténtica lavagem batismal Simplicidade Segundo 0 Dicionario Houaiss, simplicidade é, entre outras coisas, “qualidade do que & simples, do que nao 6 composto”, “carater préprio, nao alterado por elementos estranhos”. No tocante ao lugar livirgico, esse eritério pode ser traduzido simplesmente por: cada coisa no seu lugar. Cada coisa no seu lugar, para que cada coisa receba o destaque ea expresso que he cabem. Para que no haja sobreposigBes e ofuseamen- to daquilo que ¢ essencial. Para que as pessoas no sejam confundidas. ‘Ou seja, simplicidade & um critério ‘que se impée por razbes teolégicas pastorais. Em entrevistas realizadas durante recente pesquisa social, perguntamos a 15 pessoas de uma ‘comunidade quais os elementos mais | importantes que recordavam existir fem sua igreja, Sete dessas pessoas lembraram o altar. Perguntadas por ‘que esse elemento seria importante, cinco delas nio souberam responder. Uma disse: “Ah, enfeitado de flores é uma beleza!” A outra: “E para o pastor colocar os livros em cima.” Ninguém relacionou a mesa do altar coma Ceia. Surpresa? Velamos. A cada domingo, essas pessoas véem sobrea mesa: um grande arranjo floral, uma grande Biblia, paramentos litirgicos coloridos, velas, uma cruz e os livros do pastor. Sé vez por outra apare- cem ali um timido pratinho com héstias e um célice. Como poderiam imaginar que essa mesa tem algoa ver coma Ceia do Senhor? Decididamente, simplicida- de & um critério que se impée por razbes teolégicas e pastorais © critério da simplicidade também tem a ver com parciménia, auséncia de luxo e ostentagio. Lux € ostentaco sio afronta ao Deus que quer vida plena para todas as pessoas. Sto aberragio _abominavel_ numa igreja que vive e se rete em torno de Jesus, que nao tinha “onde reclinar acabeca” (Mt820epar). Flexi lidade © culto cristio apresenta ‘um peculiar equilfbrio entre constin- ia © mudanga, Por isso, € tio legitimo falarmos de moldar liturgia. Respeitamos a constancia dos elementos imprescindiveis da liturgia e introduzimos mudangas na composicio dos demais elementos litargicos e no jeito de fazé-los, quando isso parece aconselhivel. Na mesma linha, também o lugar littrgico deveria ser moldével. Cultos diferentes, com caracteristi- cas distintas, podem ser muito beneficiados pelo uso de flexibilidade na configuragio do lugar litargico. ‘Atendendo 20 critério da flexibilidade, & recomendavel que os ‘centros litirgicos ndo sejam irremo- viveis, fundidos em ferro e concreto, ‘mas que possam ser deslocados, sem dificuldades, por poucas pessoas. Bancos enormes pesados, colossais estruturas de madeira maciga, talvez até parafusados no piso, atuam como formidavel obsticulo & flexibilidade do espaco da congregacio. Cadeiras individuais representam uma étima solugdo. Bancos leves de até cinco lugares também dio conta do recado. © critério da flexibilidade se impoe mio s6 para permitir a moldagem do lugar litirgico, mas também em respeito as comunidades futuras que buscario © encontro ‘com Deus no mesmo local. petuar configuragées ambientais em ferro e concreto € um ato de desamor para com as geragées que virko depois de nés e que buscarto Per- Figura 16 suas formas préprias de prestar culto | aDeus. A figura 16,nesta pagina, traz um exemplo dessa flexibilidade, Aconchego e comunhao ice designs exe criterio | intimidade. A comunidade reunida nio € um bando de individuos | anénimos, no € 0 ajuntamento de | espectadores estranhos, isolados e | distantes. A comunidade é uma familia, ¢a reunido de um corpo, no qual cada membro tem a maxima | diridade de ser pessoa armdn & | redimida por Cristo, no qual cada membro é participante integral. POPC SECS ESOS S SESS SSE SSS OSES OOS SEDO ODOSS OOOO ESOS ESOSSSOSESD 2004. Por isso, © lugar de culto dessa comunidade precisa proporci- ‘nar uma atmosfera de aconchego ‘comunhio. Para isso contribuem: um espaco adequado de encontro e dispersio; um espaco da congrega- ‘gion qual as pessoas possam ver-se face a face, contemplar-se no desenrolar do encontro comunitario com Deus; um espaco de locomogao ue facilite o inter-relacionamento, a convivéncia comunitaria no culto. As dimensSes arquiteténicas dde uma igreja tém muito a ver com 0 | critério de aconchego e comunho. Proporgées gigantescas impactam, extasiam, mas muitas vezes esmagam ‘As dua plantas apresentam o mesmo lar irgco,orgniado para ocasibes diferentes. Na planta da esquerda, o ambiente fol arrarjado para um cuto com Ceia do Senor. A fonts basmal (1) encontraseperto dh entada. As cadeias do espaco da congregacio esto colocads emir ligeramenteobliquas. Afrante da comunidade temos, Aesquerda, estan dleitura 3). 20 centro, a mesa do altar (2) ¢, 4 dita, 0 Sg com o eepaco para o grupo de canto. Na planta da drs, o ambience fot arranado para uma oraco daria da comunidad, macutina ou vesperra. Afonte permaneceu no mesmo lyr, mesa do altar {oj desiocaa para centro da nave 2 estan fl alnhada 20 outros doe centro litirgcos, na extremidade oposta entrada. rete como espago para o gripe de canto permaneceu ne mesmo ugar. O espa da congregnio mudou sbstancialmente. AS fiers de cadeirs foram colocadas em posico paralela s paredes Iter, formando dois grips, um de frente par © outro, Esa dsposilo¢expeciimente propia para cantor eleturas slterados, proprio és oragBes dias da comunidad. O arranjo | ambiental spars da ree cereamente também é muito favorivela cult com Ceia do Senhor. eS ——_. a comunidade que abrigam. Difi- cilmente proporcionam aconchego e comunhio. Sao as dimensées mais modestas que melhor correspondem aesse critério. © lugar litargico estampado ra figura da capa dé uma boa idéia da aplicacio desse critério. Harmoniae beleza Como lugar de encontro com Absoluto, com 0 Sagrado, com 2 razio maxima de sua existéncia, © lugar litirgico deveria apresentar o supra-sumo que uma comunidade seja capaz de produzir em termos de harmonia beleza. Harmonia tem a ver com proporcionalidade, equill- brio, auséncia de dissonincias & arestas, paz e concérdia. Beleza 6 a auséncia do agressivo, do artificial, do vulgar. Ea presenca daquilo que evo- a admiracio @ traz bem-estar aos, nossos sentidos. Deus nos ama em nossa integralidade. Como pessoas dotadas de corpo, sensaces & sentimentos, a harmonia e a beleza so elementos relevantes no nosso ‘encontro com Deus. Na mesma pesquisa social mencionada anteriormente, pergun- tamos is pessoas o que lhes chamava a atengio quando entravam na sua igreja, Uma mulher respondeu: “A limpeza. © lugar aqui é limpo e bonito. Lembraaperteiclo divina. Flores artifciais, toalhas ou copinhos de plistico, pilhas de caixas ou cadeiras, piso e méveis empoeira- dos, cadeiras ou vidros quebrados estio entre os tantos desleixos que ferem a harmonia e beleza do lugar livirgieo. Conformidade contextual Uma igreja deve ter 0 jeito do grupo de pessoas que nela se reine, deve corresponder ao seu senso de aconchego e comunhio, de harmonia e beleza a sua realidade financeira. Buscar projetos arquite- tOnicos de contextos estranhos ou confiar sua cria¢o. profissionais que desconhecem a realidade da comuni- dade no satisfaz 0 critério da conformidade contextual, Outras questées arquiteténicas Centralidade Partamos do pressuposto de que o culto regular (dominical, ‘semanal, ou principal, como queiram designé-lo) € 0 evento central e mais importante na vida de uma comuni- 2004 Figura 17 (Uma das igrejas mals auténticas de que tenho noticia é esta, de uma comunidade rural da "Nicaragua, Participantes daquele pas a reproduziram num tosco desenho sobre papel pardo. por ocasifo de uma consulta latino-americana sobre lturgia, realizada na Venezuela, em 1993. A igrjaé feta de quatro postes de madeira eum teto de palha. A ‘mesa do altar © 0s bancos vém das casas dos membros da comunidade. A auséncia de dois coneros litirgicos poderia ser facilmente solucionads. No mais, esse lugar litrgico satisfaz em boa medida, bem melhor do que a maioria das nossasigreas, 08 critérios de uma boa arquiteturaeclesiisica, EE dade. E isto, porque é 0 Unico lugar ‘onde a comunidade como um todo essa centralidade pode ser represen- se encontra com Deus, a razio de _tada arquitetonicamente? A resposta ser de sua existéncia. A centralidade é: sim, sem divida. A centralidade do culto regular na vida de uma | do encontro com Deus no culto se comunidade pode ser representada expressa € pode ser relembrada e pela figura ao lado. | experimentada no dia-a-dia de uma Ela ilustra esta relevante _ comunidade quando o local do culto afirmagdo de um eminente liturgista: | permanece aberto, visivel, acessivel e nna vida de uma comunidade cristd, | talvez até transitavel durante toda a qualquer coisa que nao emane do | semana. As vezes, as condicdes locais culto ou que nao leve para o culto nfo tem qualquer importancia. (Qualquer coisa que uma comunidade crista faga s6 tem sentido se é motivada e impulsionada pelo encontro com Deus ou se leva para o encontro com Deus, no culto. Falamos, por isso, da centralidade do ‘culto regular na vida de uma comuni- dade crista, A pergunta que se coloca a partir dai, a0. construirmos ou | Figura reformarmos igrejas, € a seguinte: POPOPSCSO SOOO ESO OOOOSS OSSD OSES DOS EOOSOSOSOSSOO PESOS OSSOSOD nfo permitem a realizagio dese ideal. Mas, em geral, no caso de uma ova construcdo, quase ndo existem obsticulos & sua concretizacio. © seguinte projeto do arquiteto alemio Emil Steffann para uma “igreja de diéspora”, publicado ‘em 1938, mostra como a centralida- de do lugar de culto pode ser expressa arquitetonicamente: Figura 19 AA igreja tem a forma de um guipio. A ‘organizacio do espaco no seu interior &a mesma do projeto do castelo Rothenfels- amMain (mostrada na figura 14, 8 pigina 10). Uma vasta porta lateral abro- S@ para o pitio central, em torno do qual estio localizadas as dependéncias dos demais servicos da comunidade. Permanecendo aberta essa porta, evidencia-se arquitetonicamence a estreita relagio entre todas as atividades da comunidade @ © sou contro, que 6 0 ce | 2 oft BEY omitéries Panto \ fii] UI rd AooEs i El Amita | Creutagao Canale Doritos Estar } itt ih Figura 20 Outro belo exemplo de centralidade do lugar litargico pode ser encontrado no ancionato da Instituigfo Bethesda, em Pirabei- raba/SC, cuja planta & apresentada nesta pagina, na figura 21 Acesso a pessoas portadoras denecessidades especiais Em pleno inicio do século 21 nfo ha mais a menor desculpa para descuidar desse aspecto. Gracas a AS \\ enkovatas Hat Figura 21 ‘Oprojeto, do arquiteto Nelson Miranda, coneretiza uma iia do pastor Hans Burger © de sua equipe A cada manhi, a comunidade do ancionato reiine-se na capela para iniciar © dia encontrando-se com Deus. Os ers lados da capela que d0 para o hall de ‘entrada e para os corredores lateraissio envidracados. Quase toda a circulagio do ancionato pasa, forgosamente, por um dos lados ou pela frente da capels. Com essa disposicio arquitecénica, as pessoas dessa comunidade sfo constantemente lembradas Eucaristia 3/ \<— Batismo da qual se vé a cruz no meio do y jardim, a fonte batismal, a mesa do altar e © pillpito. O espaco de encontro € generoso.Ali estéo Figura 27 expostos os quadros deavisos, assim como material informativo sobre a comunidade e material litrgico para © culto (hinérios, livros ou folhetos livirgicos, biblias etc.) Para aumentar a visiblidade do templo, & erguido um campanario sobre o espago da congregacio. © jardim central néo é coberto pelo telhado, de modo que o sol e a chuva possam entrar de maneira natural, Para evitar que © interior da igreja se molhe, ha sobre o jardim um sistema de aberturas basculantes e transparentes. A cascata situa-se na extremidade norte dojardim e nao & muito grande, de modo a evitar ruido excessive. Juntamente com as plantas, ela proporciona ao ambiente um frescor natural. Na base da cascata hi um Pequeno tanque que pode conter peixes. No meio do jardim esté a cruz, feita de material que suporte a umidade. O jardim situa-se em plano ligeiramente elevado, para que a 4gua possa fluir e encher a fonte batismal. © fluxo da agua 6 ativado por um sistema de bombeamento. Tendo em vista as dimen- s6es da fonte batismal, as pessoas tém a opgio de serem batizadas por imersio ou, entio, por infusio, paradas ao lado da fonte. Junto a fonte esta 0 cirio pascal, recordando @ unio da pessoa batizada com a morte € ressurreigio de Cristo. ‘Quem preside © Batismo fica de costas para o altar, afim de possibili- Figura te TEARS wists -ouutrets2008 iis RRO RMAReRENAS tar a participagio da comunidade assentada nos bancos préximos a ‘espaco de encontro e das pessoas que estio mais 4 direita do espaco ccongregacional em torno da mesa do altar, A porgao do espaco congrega- ional localizado a direita do jardim e da fonte & ocupado apenas por ‘ocasiio. de batismos, mas também pode ser utilizdo para oracées didrias da comunidade. Na antiga igreja, 2 posicto dos bancos fol invertida, para que 0 pilpito pudesse ser colocado onde | antes estava a parede frontal do templo. Os bancos antigos estio dispostos de modo que as pessoas possam ver nio s6 © piilpito, mas também umas as outras, Enesse lu- gar que a comunidade inicia 0 culto, realizando-se aquia Liturgia de Aber- tura e a da Palavra, no culto do- minical. © pilpito permite que as pessoas contemplem a Biblia, quando passam, em procissio, para o am- biente da Ceia. Equipado com repartigées internas e uma porta, nele podem ser guardados materials diversos. © espaco para o grupo musical esta situado a extrema esquerda do palpito. A partir dessa localizagdo, as pessoas responsivels pelo acompanhamento musical po- (© espago da liturgia representa certa organi- dem participar plenamente de todos 9s momentos do culto, Talvez haja alguma dificuldade, no caso de batismos. No dia em que ocorrer a visita de um coro a comunidade, este pode ocupar os bancos préximos a0 grupo musical, para apoiar © canto da comunidade. (© espaco da mesa do altar & amplo, para permitir que as pessoas possam colocar-se ao seu redor. O posicionamento dos bancos em semicirculo acentua a participacao de todas as pessoas na Liturgia da Ceia, Esses bancos novos, assim como os do espaco batismal, so menores & mais leves que os anteriores, Permitindo maior mobilidade. Sto dispostos de modo a proporcionar amplo espago de locomogio em diresao.a mesa doaltar ea saida. As paredes sao pintadas em cores quentes. Cada ambiente (da Ceia, do Batismo e da Palavra) tem uma cor diferente, embora nio exageradamente distinta. Nas paredes externas ha vitrais, Estes destacam 0 tema de cada ambiente, sem deixar de permitir a exposicao de estandartes ou pinturas sobre ‘outros temas, Os centros litargicos sto ‘confeccionados em madeira, material abundantena regido de Barquisimeto, humanos. (Os recipientes para a Ceia e o Batis- mo sio de cerémica. A fonte batismal utiliza uma combinagao dos mesmos materiais. Os paramentos trazem os diversos motivos do ano litiirgico sfo confeccionados por artesios artesis de uma cidadezinha préxima. Com excecio da fonte batismal, que esti escavada no chao, © piso & completamente plano, para permitir que pessoas com dificuldade de locomocao tenham acesso desimpedido a todos os ambientes € ‘espacos. A sacristia abandona a fungio principal de depésito, para converter-se numa sala de prepara- ‘s80 para a equipe de liturgia. Conta ‘com uma pia para lavar as maos, urna ‘escrivaninha eum armario, A capacidade do lugar liturgico foi aumentada. Ante- riormente abrigava 60 pessoas comodamente sentadas. Agora, comporta 80 pessoas em cada ambiente. Deve ser possivel chegar'a ‘um total de 100 pessoas, sem ‘ espago de locomocio. tar José Kowal & pastor x leis Evangbica da Veneruela ‘© esudance do Mestrado Profisionalzante em Teologa - Area de CConcentract: Lturgia, no Instuto Ecuménico de Pos-Graduaco da EST. zago do espaco quea simbologianos ajudaaperceber. ‘Trata-se de um espago de habitaso comunitiria, de Participagao de sonhos e de desejos, de seguranga no meio de espacos inseguros. Em contraposicio a esse cespaco da liturgia, organizado e seguro, esta 0 espaco caético e perigoso de um mundo desumanizado ¢ triste. Dai a caracterizagao do espago litirgico como espaco de beleza, de paz, de cores © de misica. Os antropélogos tém observado a existéncia dessa dualidade entre os espacos ocupados pelos seres humanos. Registram, de um lado, o espago humaniza- do e bom, em contraposi¢ao @ outro, selvagem ¢ perigoso. Embora 0 espaco da liturgia da igreja nio posta ser definido como espaso “fora do mundo”, ‘simboliza,nio obstance,essa antecipagio da vitéria de Deus sobre os limites espaciais, separadores nio apenas das comunidades, mas de todos os seres PESOS SS OES SSO SOOES ESOS OS SEOSESESOSESHOSESEOSESPOEEESOSEEOD ‘A liturgia da igreja eristA acontece num ‘espaco determinado, mas no depende desse espaco. Enquanto espaco ou ligar & também espago lugar da realiza¢io daquilo que aspira. Pode-se dizer, pois, que a licurgia “tem” um espago proprio e que, por outro lado,‘é” um espago especifico. Ter um espago significa, naturalmente,estar nos confins de determinado limite ‘geografico, diriamos. Na verdade, esse “ter” significa muito mais “ocupar” do que “possuir”. Muito embora fem certa época da historia da igroja esse espace ‘ocupado era considerado posse exchisiva da liturgia, como se,de fato,as igrejas estivessem constantemente cocupadas na fungdolitirgica. Fonte: MARASCHIN. Jaci A belezo de sonidode: ensaos de sug 0 Paulo: ASTE. 1996. p.745. uo cezanaoan (© que seria da nossa vida se iio tivéssemos espacos para habitar? © que seria do agricultor sem seu pedaco de cho para plantar? O que seria do morador da cidade sem sua ‘asa ou apartamento? O que seria do adolescente sem seu quarto? O que seria do cidadio sem sua cidade, seu pals, seu lugar a0 sol A nogio de espaco, assim como a do tempo, & algo vital para o ser humano. Espacos nos garantem prote¢io, aconchego, intimidade. Também nos identificam @ nos proporcionam liberdade. Nossa casa seré sempre um retrato das pessoas que nela vivem. Assim como essa mesma casa iré sempre influenciar seus moradores. O mesmo acontece com dimensdes ‘espaciais mais amplas em nossas vidas, como a propria idéia de patria Influenciamos 0 espago e somos, 20 ‘mesmo tempo, influenciados por ele. Quanto mais nos dermos conta da importéncia do espaco na deter- minagio de nossas vidas, melhor 004, conseguiremos entender nossa relagio com o espago sagrado, com 0 espaco de culto e © quanto este reproduz nossa teologia e o quanto ‘este espago nos define enquanto ‘comunidade de fé (Richter). Espagohumano Quando nasce, a crianga nfo ‘tem nogio de espaco. Ela nio é capaz ainda de distinguir entre o eu e 0 meio ambiente externo. A medida que cresce, vai se definindo distingéo entre um e outro. Eo seu movimento no espaco, seja 0 esticar dos bragos ou, mais tarde, os primeiros pasos, que he permite conhecer-se a si mesma e © mundo em que vive. Por isso, falar de espaco & também falar do corpo. Nosso corpo & a medida de todas as coisas. A partir do corpo delimitamos 0 mundo, © aqui € 0 acold, 0 alto eo baixo, frente e atrés, "nortes", entre ‘outras categoria. "O homem, como resultado de sua experiéncia intima com seu corpo e com outras pessoas, organiza 0 espaco a fim de conforms- lo a suas necessidades biolégicas ¢ relagbes socias.” (Tuan, p. 39). A partir da experiéncia do corpo no espaco definimos o sentido simbélico dessa relagio. Assim, por ‘exemplo, o centro do mundo é para © ser humano, na maioria das culturas, lugares onde este teve experiéncias vitais, como seu nascimento. © "alto" ou"em cima" da Posicio ereta do corpo expressa grandeza e superioridade (cabeca), € (© "balxo" ou “embaixo" submissio e inferioridade (pés). A “frente” Apontamentos para uma antropologia do espacgo igifica dignidade e respeito (rosto), e"atrés" 0 oculto e 0 encoberto,' Na rmaioria das culturas, 0 lado direito é considerado superior a0 esquerdo. Toda esta noglo espacial serve para organizar nossa teologia e religiio, bem como os espacos de contato com o divino. Assim, a medida que cresce, © ser humano vai estabelecendo relacdes com seus espacos a partir de seu estar em tals espacos. Na proporgdo em que o ser humano se familiariza com os espacos, estes deixam de ser apenas espacos homogéneos e tornam-se lugares (BolInow, p. 165s, 28). "Lugar é uma pausa no movimento.” (Tuan, p. 153). © lugar & um espaco demarcado, lugar onde estacionamos e paramos. Nos lugares nos tornamos parte da paisagem, © a paisagem passa a fazer parte da nossa histéria. O espaco ja no me pertence, mas eu é que pertenco a ele (Westhelle, p. 255). Um lugar & um espaco que se torna Intimo, conhecido e com significados comuns as pessoas que the pertencem. Por isso seguro e aconchegante, ¢ dele sentimos saudades quando nos ausentamos. (Os lugares, assim, determinam quem eu sou e se tornam insubstituiveis para mim. Essa pertenga aos locais ¢ que leva muitos povos a guerra. O que € 0 intermindvel conflto entre Israel e Palestina, senio um conflito pelos lugares aos quais estes povos pertencem? "O lugar onde um povo vive no € como um quadro negro, sobre 0 qual se escrevem niimeros formas que depois se apagam. (..) © 1-Emcames amporas rant ibalin 0 fro a cores o pasado, Sobre ea eae corpraespactl ver Tian, p. 3957. POOPOCOOSOSSSESSSSOSS SEEPS ESOS ES OSOOOOSOSOOSESSSSEEOSSOSSSED TEASom NOS LUGARES NOS TORNAMOS PARTE DA PAISAGEM, E A PAISAGEM PASSA A FAZER PARTE DA NOSSA HISTORIA. 0 ESPAGO JA NAO ME PERTENCE, MAS EU E QUE PERTENGO A ELE. lugar preserva a esséncia do grupo & vice-versa. Assim, todos empreendimentos do grupo podem ser espacialmente expressos, ¢ 0 lugar onde eles vivem & sempre uma junc3o de todas essas expressbes. Cada aspecto, cada detalhe do lugar tem, em si mesmo, um sentido, que, por si s6, € percebido por cada membro do grupo, pois toda dimenséo espacial tem uma determinada quantidade dos diferentes aspectos da estrutura e da Vida que correspondem a cultura, ou, ‘40 menos, a0 que nela existe de mais resistente."(Tradurido de Halbwachs, p. 130) A arquitewra € uma das formas mais concretas que © ser humano usa para moldar o seu espaco. Através da construgio material, o mundo se torna tangivel e expressio concreta das nossas experiéncias, tanto das sentidas profundamente quanto daquelas que podem ser verbalizadas, tanto das individuals quanto das coletivas (Tuan, p. 112). Por isso. toda forma de conquista, a0 longo da historia, sempre se utlizou da destruicéo dos espacos arquiteténicos dos conquis- tados. Quando os espacos © os 14015 - Ou 008, lugares ja no sio suficientes para sermos livres ou de fato sermos alguem, precisamos projetar um ‘outro espaco, onde nossos anseios ganhem forma. Ento 0 ser humano langa mao do espaco simbélico por esséncia: 0 espaco utdpico. Vamos assim em busca da "Terra prometi- dat, da “Terra sem males’, do préprio "Reino de Deus” ou simples- mente migramos. © espaco sagrado € uma forma de apropriacio desse espaco utépico. Espaco sagrado” © espaco sagrado & um espace de revelagio do divino, Ele do representa um rompimento com ‘espaco em seu sentidoamplo, mas é a delimitagdo de uma realidade absoluta dentro do espaco. A partir do espaco sagrado podemos definir o restante como sendo profano, Por isso, 0 espaco sagrado tem sempre cariter de centro © origem do mundo. Esse espaco precisa de claras fronteiras para separi-lo do mundo, bem como de regras para sua | utiizagdo, caso contrério, torna-se profano. O espaco sagrado sempre algo constituldo por Deus, feito através de ritos humanos, que reproduzem, exatamente, a agio fundante do divino. Algo semelhante acontece na Cela. Ai recriamos, através do rito da Ceia, a comunhao que Cristo instituiu, de tal forma que, quando a celebramos, 0 préprio Cristo se faz presente. Por outro la~ do, mesmo separado do mundo, © cespaco sagrado nunca éalgo estranho a0 contexto de sua gente. Para Moisés, por exemplo, o lugar sagrado se constituiu em meio a sua realidade de trabalho (Ex35). Para nés, como pessoas € comunidades cristis, os espacos sagrados sio aqueles que dedicamos a0 encontro da comunidade com Deus, ou seja, os lugares de culto. 2. Traaho ne porto com rigor de Mircea EUADE, O sgt opto 3957 SE OSECLSOOSESESESEOSESL OSES EOSES HOSES OSES SOO SEO OSSEOESEOOS OOS GOMSTRUIR £ REFORMAR 16nedAs, Fd Esse lugar, seja ele um suntuoso templo, um sie cémodo de uma casa, permite que 1s sintamos no centro do universo, na fonte de uma realidade absoluta, fem uma aproximacio extraordinaria para com 0 préprio Deus. Este lugar sempre expressa 0 profundo desejo de viver, novamente, em um lugar puro e totalmente sagrado, onde céu e terra se encontram e se fundem. Para 0 mundo protestante, 0 espaco sagrado sempre foi algo secundario para o encontro com Deus (Failing, p 92). Isto tem consequiéncias para a maneira como o concebemos. A encarnagio de Deus é, no entanto, algo localizado. Por isso, me parece importante considerar_nossos espacos sagrados como um meio privilegiado de acesso a esse Deus (Falling, p. 97). Além configuracio dos nossos espacos nos liga com formas e modelos dos 350 cemitério ou 0 disso, a ESPAGO SAGRADO PRECISA DE CLARAS FRONTEIRAS PARA SEPARA-LO DO MUNDO, BEM COMO DE REGRAS PARA SUA UTILIZAGAO, CASO CONTRARIO, TORNA-SE PROFANO. cristios dos primeiros séculos. Os espacos resguardam, portanto, nossa tradicao. Além do conteado comunicado pelas estruturas espaciais, os lugares sagrados geram uma atmosfera de sentido que impregna seus ambientes e, principalmente, a meméria das pessoas que os ocupam (Josutts, p. 33). Com isso, podemos dizer que 0 TEA ROME wis outsbre.te.2003.... MONS TRUIRNEREFORMAREIeRENAS, FT espaco por si $6, nos permite acesso esséncia da mensa- ‘gem evangélica e nos permite o mais genuino encontro com Deus em | nossomeio, litargico, Condlusio Podemos dizer que as pessoas vivem hoje uma grande crise em relagio aos seus espacos. A arquitetura contemporanea jé nao se preocupa em reproduzir uma visio de mundo, configurando-se como algo meramente funcional. Diante desse fato, corremos 0 grande risco de vivermos em espacos que ji nao nos comunicam algo € no nos perten- cem. A mesmice de um shopping ou de um aeroporto denuncia a padroni- zaglo de nossos espacos e lugares e, conseqiientemente, de nossas vidas. Marc Augé define estes lugares @ padronizados, inclusive, como ndo-lugares e espacos do anonimato. Cidades e pessoas perdem, suas identidades cculturais. Falar de espago e lugares hoje é, acima de tudo, falar das nossas | bases constitutivas, falar da nossa | funcion: assim, meméria, do nosso rosto e do nosso futuro. Os espacos sagrados das igrejas, com sua riquissima heranca litargiea, séo lugares privilegiados de resisténcia e de manutencio da nossa lentidade crista. Nossos espacos licargicos so palpéveis concretiza- ‘qOes da aculturacio das nossas raizes crisis em nosso contexto. S40, portanto, espacos de proclamagio do Evangelho. Por isso, junto com os tempos, precisamos redescobrir os sinais dos lugares (Westhelle, p. 148). sinais dos Bibliografia ~ AUGE, Mare. Los n lugares: espacios del anonimato: una antropologia de la sobremodernidad. 5. ed. Barcelona: Gedi-sa, 2000. = BOLLNOW, Onto Friedrich. Mensch tind Raum, Scuttgare: Kohlharnmer, 1963. + ELIADE, Mircea. O sogrado e o profono:a ‘esséncia das religies. Sio Paulo: Martins Fontes, 1992, = FAILING, Wolt-Eckart; HEIMBROCK, Hans-Ginter. Gelebte Relgion wahmeh- ‘men: Lebenswelt, Alltagskultur, Religions- praxis. Seuttgare Kohihammer, 1998. ~ HALBWACHS, Maurice, Das kolektve Gedéchtnis. Frankfurt am Main: Fischer, 1985. = JOSUTTIS, Manfred. Der Weg in das Leber: Eine Einfuhrung in den Gotees- dienst auf verhaltenswissenschaftichor Grundlage. 2.ed. Gotersloh: Chr. Kaiser/Gutersloher Verlagshaus, 1993, = RICHTER, Klemens. Der liturgische Raum prageden Glauben: Zu einem wenig beachteten Aspekt liturgischer Erneuerung. In: BILGRI, Anselm; KIRCHGESSNER, Bernhard (Hrsg) Liturgia semper reformanda Freiburg/BaselWien: Herder, 1997. p. 243.250. = TUAN, Yi-Fu. Espoco @ lugar: a pers pectiva da experiéncia. Sio Paulo: Difel, 1983. ~ WESTHELLE, Vitor. Creation Motifs in the Search for a Vial Space: A Latin American Perspective. In THISTLETHWAITE, Susan B; ENGEL, Mary P. Lift Every Voice: Constructing ‘Christian Theologies from the Underside. New York: Orbis, 1998.p. 146-158, Os sinais dos lugares: as dimensoes ‘esquecidas. In: DREHER, Martin (Coord). Peregrinagéo. Sto Leopoldo: —Sinodal, 1980. Jilio Cézar Adam, doutor em Liturga pela Universidade de Hamburgo (Alemanha), & pastor da IECLB, Créditos e fontes de fotos e ilustracées Foto da capa (Igreja de Sto Francisco, Zweisimmen, Suica) € figura 37: PASTRO, Claudio. Guia do espaco sagrodo. ‘ed. Sto Paulo: Loyola, 1999, p. 53 e 60. Figura 1: BUYST, lone. Celebror com simbolos. Se Paulo: Paulinas, 2001, p. 122. Figuras 2, 3, 10, 11: Paulo Moro ¢ equipe. Figuras 4,5, 6 Zeitschrift fr Gotesdenst und Preigt | Gotersioh, v. 19, n.2, 2001. p. 10-12. Figuras 7 © 8, 12, 14, 16, 34 e 35: HUFFMANN, Waker, STAUFFER, Anita S. Where We Worship. Minneapolis / Phitadelphia / St.Louis: Augsburg, Lutheran Church in America, Concordia, 1987. p. 21, 24, 16, 35, 17. Figura 9: Arquivo da EST. Figura 13: Gentleza da Comunidade Evangélea de Venincio AiresiRS Figuras 15, 19 © 20, 22: DEBUYST, F. Architectural Setting (Modern) and the Lieurgieal Movement. In DAVIES, |.G. A New Dictonery of Liturgy & Wership. London: SCM, 1986, p. 43, 38, 42. Figura 18 Gentileza de Valdemar Schultz. Figura 21: Autoria de Hans Burger ¢ Nelson Miranda, reprodugio de Caué Moro. Figuras 23 2 28: Gentileza de José Kowalska. Figuras e texto 29, 30 ¢ 31, 32.¢ 33, 36, 38 ¢ 39: MACHADO, Regina Cali de Albuquerque. 0 loco de celebra: arquitetura e lturgia. io Paulo: Paulinas, 2000. , 117, 82-3, 80-1, 120, 1367. Figuras 40 a 43: Gencileza da Lutheran School of Theology at ‘Chicago. Nitgats-Qutubre de 2004, lluminagao A iluminagéo pode contribuir positiva ou negativamente para o desenvolvimento da liturgia. Para cada ambiente e funcio, tem-se um tipo deter- minado de luz e de intensidade de iluminago mais ou menos indicada. A iluminagao de uma igreja no a mesma de uma sala de aula, de uma discoteca ou de um banco. Uma sala de aula com luz fraca pode dar sono nos alunos. Uma igreja excessivamente iluminada pode no ser acolhedora. Nao é acolhedora também uma capela ou igreja toda iluminada com lampadas fluorescentes, mais indicadas para escritérios. © espaco ni precisa estar iluminado todo por igual. Uma iluminago especial sobre alguma peca ‘ou imagem ajuda a valorizé-tas. O altar ea mesa da Palavra podem ter uma iluminagio direta sobre eles. Se 6 uma capela s6 para oracio, pouca luz é necessi- ria, Se houver necessidade de iluminacio para leitura, esta pode estar distribuida apenas sobre o espao dos bancos. Pode ser usado também um dispositive que ‘regula a intensidade da luz. A iluminacao privilegiada sobre alguns espacos, em detrimento de outros que ficam na sombra, cria 0 contraste que lembra a © espaco litargico destina-se & funcio litirgica {que é, por natureza, funcio humana. Iso significa que esse ‘espaco &, antes de mais nada, espaco fisico, humano. Precisa servir as necessidades do corpo, pois a lturgia vai ser ato e expressio do corpo humano ou, mais precisa- mente, dos corpos reunidos num corp maior, num “corpo litirgico". Dai a sua espacialidade. Dai a sua materialidade. ‘Os que acham que a liturgia € ato meramente spiritual nfo deveriam se preocupar com © espaco licargico. Enquanto gente, que somos, nao sabemos definir ‘© que poderia ser chamado de "espirito puro”. Espirituali- dade, pois, no & auséncia de corpo ou de matéria, mas a qualidade que © corpo tem e 6 capaz de expressar lenquanto fundamento da existéncia. A espiritualidade da licurgia depende da espiritualidade do corpo. Os corpos é {ue sio espirituais. Embora sua espiritualidade, no tempo presente, passe pela precariedade de todas as manifesta- ‘es da existéncia humana, ela é a antevisio da promessa dos corpos espirituais ressuscitados. propria dindmica da f€, que transita entre a luz ¢ as trevas. E, havendo possibilidade, convém aproveltar ‘20 maximo a iluminagio natural. sso pode ajudar na ‘economia de energia elétrica e ainda se pode conse- Buir efeitos muito bonitos com a entrada indireta de luz no local de celebracio. (Fonte: MACHADO, Regina Céli de A. 0 local de celebrorde: arquiteturaelturgia. S80 Paulo: Paulinas, 2001. p. 61.) Figura 29 ‘Capela do Coliégio Nossa Senhora de Lourdes, Sio Paulo/SP. Sio 0s corpos que pensam, rezam, sentem alegria © tristeza, prazer e dor. £, nessa qualidade corporal, fazem atos fsicos, como sentar, deitar, ajoelhar, juntar as mios, abrir os bracos, abragar os irméos, beijé- los, dar as més. tracar o sinal da cruz sobre o préprio corpo e cantar. Nao se pode imaginar uma congregacio ppuramente espiritual, desencarnada. Uma congregacio de fantasmas. Para se fazer o truque da passagem dessa ‘materialidade espacial para espiritualidade pura. apenas se substituem expresses igualmente fisicas, consideradas aleatoriamente “espirituais", como, por exemplo, levantar as mos, fechar 0s olhos, contrair os mésculos da face, ficar sério, ajoelhar-se, olhar para cima € nio se mexer. Como se 0 corpo submetido a certas posturas pudesse adquirir mais “espirito" do que outro que nfo se acostuma ataisesteredtipos. Fonce: MARASCHIN, Jaci. beleza da sanidade: ensaios de iturga. SSo Paulo: ASTE, 1996. p. 75-6. TEARS wises-oustde2008 ieoustnuuRaeREoRMaRaieReuas FE Exemplos de reformas de igrejas “A reforma desta igreja resumiusse em limpar 0. excesso de decoragio acumulada com os anos, que haviam sido acrescentadas com o objetivo de embelezar a igroja pincuras, vers, cortinas, imagens, vasos, pains que ‘descaracterizaram 0 local eacabaram por prejudicar © born andamento da turga ea paricipagio dos fii, Na roforma, as paredes baba atris do presbité- Fo foram erguidss até 0 forro, dando mais verticalidade ac local Todas as paredes foram pintadas de cor arcia para dar mais luminosidade e calor a0 ambiente. E56 foram debxadas no localas pecas necessirias turgla” py ” Figura 30 lgreja Paroquial Nossa Senhora de Loreto, Vila Medeiros, Sio Paulo/SP, Figura 31 \greja Paroquial de Santa Rita, Vila Marane, Sko PaulolSP. Figura - "A. roforma desta igreja teve 0 objetivo de tornar 0 ambiente mals aconchegante @ atwalizilo lturgicamente. Para isso todas as parades ¢ forros foram pintados na cor areia, em vaz do cinza orignal. © alr para ‘sacraro foi demolido eo sacriro ol fixada na parede do fundo, As imagens foram rotiradas do presbitério e colocadas nas paredeslateris da nave. Foi colocada a mesa da Palavra 6 uma cruz processional no lugar da cruz de fundo. Também foram colocadas as cadeiras da presidéncia dos ministros eo ciro pasesl. As fotos mostram como a decorario exagerada com plantas, toalhas © imagens fesconde 0 essencial. Depois da reforma, © espago ficou limpo e mais proprio paraa celebraciolicirgea Figura 33 SPPPPSOSOSEOSSSSOOSSEOOSSOSSSSOSSSESSESOSESSOS ESOS OS OSOOSES

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