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Licensed to Ana Gabriele Gaia Rodrigues - anagaia2002@gmail.com - 707.867.

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Principais desafios no tratamento

Durante a condução das sessões dentro da Terapia Cognitivo-Comportamental


(TCC) é possível que surjam alguns desafios, dificuldades e dúvidas. Portanto, o
objetivo dessa aula é esclarecer e solucionar alguns problemas comuns,
relacionados ao manejo clínico de terapeutas da TCC, observados ao longo da
experiência na prática clínica da Fernanda Landeiro.

● Sobreposição entre as demandas

Observa-se que em alguns casos pode ocorrer a sobreposição entre as demandas,


o que consequentemente interfere na definição de metas específicas. Neste caso,
salienta-se a necessidade do profissional estabelecer prioridades e hierarquizar as
demandas de acordo com a gravidade e a escolha do paciente. Entretanto, as
metas que garantem a preservação da vida do sujeito serão sempre priorizadas. A
partir disso, a definição das metas requer assertividade, todavia, isso não é
sinônimo de rigidez. A definição de metas deve ocorrer de forma colaborativa entre
paciente e terapeuta. Com isso, é possível remanejar a hierarquia dos objetivos e
direcionar o tratamento de acordo com as necessidades do paciente.

● Multiplicidade de metas

Uma multiplicidade de metas pode gerar uma desordem no tratamento. Por isso, é
fundamental que o profissional defina um foco para o direcionamento do
acompanhamento psicológico na TCC. Isso porque a troca recorrente de metas
terapêuticas dificulta o progresso do tratamento, além de refletir em um
resultado não efetivo. Por isso, é essencial que a psicoterapia ocorra de maneira
sistematizada.

● Dificuldade na avaliação psicológica

Comumente, nota-se uma dificuldade na avaliação diagnóstica e esse fator exige


que o terapeuta dedique-se aos estudos da psicopatologia, bem como da
sintomatologia dos transtornos. Para tanto, recomenda-se o estudo do livro

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"Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais", de Paulo Dalgalarrondo, e


do DSM-5.

● Como conduzir as primeiras sessões?

Outro desafio comum encontra-se nas primeiras sessões, quando o terapeuta


precisa iniciar o contato com o paciente de uma maneira que gere engajamento.
Esse ponto requer que o profissional desenvolva uma boa técnica de
psicoeducação e explique como vai ser o tratamento, como se estrutura o modelo
cognitivo e como se identifica os pensamentos automáticos, emoções e
comportamentos.

● Metas vagas

As metas vagas e não especificadas, como falado anteriormente, também são um


desafio no tratamento. Sendo assim, é importante que o terapeuta conduza o
paciente a identificar metas especificáveis, possíveis e mensuráveis. A meta "ser
feliz" não é uma meta válida por ser muito ampla e pouco específica. Nesse caso, a
meta viria de perguntar como: o que te tornaria feliz? o que tem te impedido de ser
feliz?

● Aplicação de técnicas

Percebe-se também um impasse no que refere-se à aplicação de técnica na TCC. É


imprescindível que o profissional tenha conhecimento técnico e específico
para cada uma das técnicas e a sua aplicação. Pois cada técnica tem uma
função diferente e sua utilização deve estar pautada na conceitualização de caso do
paciente.

● Comportamento ético

No decorrer do tratamento, percebe-se uma dificuldade na transmissão ética das


informações para os pais ou responsáveis de crianças e adolescentes. No caso de
adolescentes, orienta-se que o primeiro atendimento seja realizado com os pais e
posteriormente com o paciente. A premissa do sigilo profissional aplica-se
inteiramente no caso de adultos e idosos, e a sua quebra só é justificada quando o

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indivíduo corre o risco de atentar contra a própria vida ou atentar ou ferir a vida de
alguém.

● Aplicação da TCC no público de baixa escolaridade

Como a TCC foi desenvolvida em países em que a educação básica de qualidade é


realidade para a maioria dos habitantes, isso requer a necessidade de uma
adaptação transcultural. Um número crescente de estudos indica a necessidade de
adaptação dos protocolos de tratamento, a fim de aumentar a adesão entre os
pacientes com baixo nível de escolaridade. A necessidade de compreender o
contexto dos pacientes e adaptar as sessões e protocolos em conformidade é
essencial para a eficácia em populações com baixa escolaridade. Como alternativa
a esse problema, é possível utilizar técnicas da TCC infantil para facilitar a
compreensão. Para substituir as anotações, uma alternativa é sugerir e auxiliar o
paciente na gravação de áudios como mecanismo alternativo de comunicação.

● Anamnese

Algumas dúvidas dizem respeito à indecisão na escolha de um modelo único de


anamnese. Existem diversos modelos de anamnese e a orientação é que o
profissional tenha domínio da fundamentação teórica à luz da Teoria
Cognitivo-Comportamental. A partir dos modelos sugeridos e com a aquisição da
prática clínica, espera-se que o terapeuta adquira repertório técnico satisfatório
e seja capaz de construir o seu próprio modelo de anamnese.

● Encaminhamentos para o psiquiatra

Nota-se também inconformidades na definição de um bom momento para


encaminhar o paciente para o psiquiatra. O que se estuda de psicofarmacologia no
curso de graduação de psicologia não habilita para avaliar questões
medicamentosas ou realizar prescrições. Desse modo, não se deve hesitar em
realizar o encaminhamento para avaliação com o médico psiquiatra, pois é
melhor pecar pelo excesso do que pela falta.

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● Pacientes agressivos

Outra questão a ser pontuada como desafiadora no curso do tratamento


psicoterápico é o desenvolvimento da relação terapêutica com pacientes
agressivos. Em casos de pacientes com Transtorno de Personalidade, a sugestão
é atuar a partir das terapias de 3ª onda, especialmente a Terapia Comportamental
Dialética e a Terapia do Esquema. Trabalha-se através da modulação, reagindo à
agressividade com gentileza e educação.

● Interferência de fatores externos

Compreende-se que os estressores ambientais variados são fatores externos


inerentes à prática clínica, por isso a melhor condução é acolher a demanda e
seguir o acompanhamento. O processo não é linear, é cheio de altos e baixos e,
quando o paciente regride por conta de algum fator estressor externo, a solução é
prosseguir e trilhar o caminho rumo a melhora novamente, sabendo que dessa vez
será mais rápido pois o caminho já é conhecido.

● Assiduidade do paciente ou a falta dela

A assiduidade e comprometimento com o tratamento pode ser um fator desafiador


em determinados casos e cabe ao terapeuta debater sobre o tema buscando
compreender quais os motivos podem levar ao não cumprimento da agenda.

● Plano de ação

Quando o paciente não adere adequadamente à execução do plano de ação é


necessário que o terapeuta realize um trabalho de intervenção através da
psicoeducação para ressaltar a importância com o comprometimento nas
atividades.

● Religião

Quando o embate traduz crenças arraigadas acerca da religião, é importante que o


profissional atue preservando o código de ética, que sugere que para a preservação
da terapia, esse tema não deve ser debatido.

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● Confrontação

É possível notar alguns impasses no que tange a prática da confrontação quando


capta-se contradições no relato do paciente. Segundo a TCC clássica, a
confrontação não deve ocorrer. Todavia, as terapias da 3° onda, como a
Comportamental Dialética e Terapia do Esquema indicam a confrontação,
principalmente em pacientes com Transtorno de Personalidade.

● Duração da sessão

A TCC foi criada e preconizada para ser realizada em sessões semanais e com
duração de uma hora. Em casos com maior gravidade, recomenda-se duas horas
semanais.

● Como saber se estou indo no caminho certo?

Pedindo feedback ao final de cada sessão. A solicitação do feedback ao final das


sessões, por parte do terapeuta, indica cuidado com o tratamento e possibilita uma
avaliação ampla da evolução do caso.

● Como saber se já posso dar alta pro paciente?

Já reestruturou pensamentos automáticos, crenças intermediárias e crenças


nucleares? No processo de finalização da terapia, é fundamental analisar o
diagrama do caso, bem como a sua conceitualização, e verificar os pontos
trabalhados. Sendo assim, para dar alta na TCC é necessário avaliar se o
paciente ainda apresenta algum sintoma ou queixa e com isso, trabalhar com a
psicoeducação, prevenção de recaídas e com um espaçamento maior entre as
sessões, realizando o objetivo final do tratamento: que o paciente adquira
habilidades para ser o seu próprio terapeuta.

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