Você está na página 1de 12

REVISTA DE PSICOLOGÍA ISSN 0716-8039 - ISSNe 0719-0581

2021, 30(1), 1-12 www.revistapsicologia.uchile.cl

Relações étnico-raciais e escolas públicas: questões para a psicologia


Ethnic-racial relations and public schools: issues for psychology

Mariana Feldmann & Raquel Souza Lobo Guzzo

Pontifícia Universidade Católica de Campinas, São Paulo, Brasil

O presente artigo sintetiza resultados de uma dissertação de mestrado construída no contexto do Espaço de Convivên-
cia, Ação e Reflexão (ECOAR), projeto de extensão da psicologia no enfrentamento à violência em escolas públicas.
Reconhecendo a importância das Leis 10.645 e 11.645 (Inserção de história e cultura afro-brasileira, africana e indí-
gena no currículo escolar), a pesquisa teve como objetivo identificar em uma das escolas do projeto, como as duas leis
são aplicadas, investigar como o racismo está presente nas relações cotidianas. Fundamentadas na pesquisa-ação-par-
ticipação, as autoras utilizaram como fontes de informação: 1) Projeto Político Pedagógico; 2) Site da Prefeitura Mu-
nicipal e o Programa Memória e Identidade; 3) Mapeamento dos estudantes; 4) Diários de Campo. A partir da análise
construtiva-interpretativa, os resultados demonstraram o racismo e discriminação sofridos pelos estudantes; a violência
vivida, naturalizada e reproduzida no cotidiano; a falta de conhecimento das origens dos estudantes; um desconheci-
mento e dificuldades no trabalho com as Leis 10.645 e 11.645 e a importância de discutir a história de vida dos estu-
dantes. Diante dos resultados, foi possível traçar uma proposta de ação para o enfrentamento das diferentes formas de
violência, fortalecendo os estudantes.
Palavras-chave: psicologia, escola, escola pública, racismo, relações étnico-raciais.

This article summarises the results of a master's thesis built in the context of Living Space, Action and Reflection
(ECOAR), an extension project of psychology to prevent violence in public schools. Recognizing the importance of
Laws 10,645 and 11,645 (Insertion of Afro-Brazilian, African, and indigenous history and culture in the school cur-
riculum), the research aimed to identify in one of the project's schools, how the two laws are applied and to investigate
how racism it is present in everyday relationships. Based on research-action-participation, the authors used as sources
of information: 1) Pedagogical Political Project; 2) City Hall website and the Memory and Identity Program; 3) Map-
ping of students; 4) Field Diaries. From the constructive-interpretative analysis, the results showed the racism and
discrimination suffered by the students; the violence experienced, naturalised and reproduced in daily life; lack of
knowledge of students’ backgrounds; a lack of knowledge and difficulties in working with Laws 10.645 and 11.645
and the importance of discussing the students’ life stories. In view of the results, it was possible to outline a proposal
for action to face the different forms of violence, strengthening students.
Keywords: psychology, school, public school, racism, ethnic-racial relations.

Agradecimentos e apoio financeiro: CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico); estagiárias de
psicologia. Este trabalho tem como base a dissertação de mestrado em Psicologia do Programa de Pós-Graduação em Psicologia
da PUC-Campinas, São Paulo, Brasil. Feldmann, Mariana. (2017). Escola pública e relações étnico-raciais: o papel da psicolo-
gia. (Dissertação de mestrado). Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Centro de Ciências da Vida, Programa de Pós-
Graduação em Psicologia, Campinas, SP, Brasil. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa. Número do Parecer:
2.013.544.

Contacto: M. Feldmann. Mestre e doutoranda em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas – PUC-C, SP,
Brasil. Cel: (+55 19) 992339355. Correo electrónico: marianafeldmann2@gmail.com

Como citar: Feldmann, M. & Guzzo, R. S. L. (2021). Relações étnico-raciais e escolas públicas: questões para a psicologia. Revista
de Psicología, 30(1), 1-12.
http://dx.doi.org/10.5354/0719-0581.2021.58343
Feldmann & Guzzo

Introdução O presente trabalho, fundamentado na pesquisa


qualitativa de González Rey (Martínez, González
O presente trabalho é resultado da dissertação Rey, & Puentes, 2019), foi realizado durante dois
de mestrado realizado a partir da inserção da pes- anos pela pesquisadora e quatro estagiárias. A
quisadora no cotidiano de uma escola municipal equipe de psicologia participou de diferentes espa-
pelo Espaço de Convivência, Ação e Reflexão ços coletivos e individuais da instituição, fazendo
(ECOAR; Feldmann, 2017). O projeto ECOAR é parte da equipe pedagógica. Essa pesquisa teve
um projeto de extensão da psicologia na escola, in- como objetivo identificar como as duas leis são
serido pela Secretaria Municipal de Educação, e aplicadas no cotidiano de uma das instituições do
realizado pelo grupo de pesquisa “Avaliação e In- projeto e como o racismo se apresenta nas relações
tervenção Psicossocial: Prevenção, Comunidade e da escola (Meireles, Feldmann, Cantares, No-
Libertação” do Programa de Pós-Graduação em gueira, & Guzzo, 2019; Quijano, 2004).
Psicologia da PUC-Campinas, região Sudeste do
Brasil. Ele é formado por uma equipe de psicólo- Psicologia e a realidade brasileira
gas(os) e estagiárias(os) do último ano de psicolo- A psicologia como ciência e profissão no Brasil
gia e tem como objetivo construir práticas psicos- já completa em 2020, 58 anos, porém ainda sob um
sociais e preventivas que contribuam para o desen- modelo de atuação que não corresponde às neces-
volvimento das crianças e jovens ao longo do seu sidades da maioria da população brasileira, em-
processo de escolarização. Entende-se que o en- bora existam esforços históricos de profissionais
frentamento às diferentes formas de violência que para popularizar a prática e problematizar questões
os estudantes vivem em seu cotidiano é um cami- sociais necessárias, a psicologia continua voltada
nho da prática emancipatória (Guzzo, 2014; Guzzo para uma atuação profundamente elitista e sem
et al., 2020; Silva & Assis, 2018). acesso para toda população. Assim, a psicologia
Uma das linhas de trabalho do projeto surge a do desenvolvimento também participa desse mo-
partir de uma demanda percebida pela psicóloga- vimento hegemônico e acaba por constituir-se
pesquisadora e estagiárias no cotidiano da institui- como uma ciência que pouco serve à compreensão
ção, identificada como racismo e presente de di- de como as crianças brasileiras ou sul-americanas
versas formas, impactando o desenvolvimento dos se desenvolvem e quais as principais demandas
estudantes. A violência identificada representa um para a formação das profissionais que irão atuar
dos temas estudados nas relações étnico-raciais, nesse contexto (Feldmann, 2017; Parker, 2015).
encontrada nas Referências Técnicas para psicólo- Partimos de uma concepção de que o desenvol-
gas e psicólogos do Conselho Federal de Psicolo- vimento de uma criança se dá em meio a uma rede
gia (2017). Diante dessa violência histórica, faz-se de interações situadas em um tempo histórico, num
necessário compreender que desde 1500, a data de contexto específico, mediados por adultos que
início da organização social e política, o Brasil foi com elas se relacionam. O desenvolvimento, por-
formado por diferentes grupos étnico-raciais inclu- tanto, não se dá apenas como um processo bioló-
indo povos indígenas e suas diferentes culturas, gico, mas também social. Sendo assim, a atuação
línguas e organização social, como também dife- no contexto escolar não pode estar descolada de
rentes povos africanos escravizados que trouxeram uma perspectiva que compreenda a escola como
ao Brasil suas tecnologias, conhecimentos e cultu- um espaço conectado com sua realidade, a sua lo-
ras valiosas (Munanga, 2005). Diante do breve calização geográfica e histórica. Entendemos a es-
contexto apresentado e considerando a estrutura cola como um espaço/instituição de referência
macro que sustenta um projeto de país historica- para a criança, o qual constitui um processo de
mente colonialista, com uma política ‘desenvolvi- transformação em seu desenvolvimento, onde seu
mentista’ de branqueamento da população brasi- cotidiano é o principal fator para a constituição de
leira, reconhecemos a importância das Leis sua história e cultura (Meireles, 2020; Mezzalira &
10.639/03 e 11.645/081. Guzzo, 2011).

1
Lei 10.639/03: estabelece as diretrizes e bases da educação diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currí-
nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino culo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática
a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasi- “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena” (Ministério da
leira”, e dá outras providências. Lei 11.645/08: estabelece as Educação, 2004).

Revista de Psicología
2021, 30(1), 1-12
Relações étnico-raciais e escolas públicas

Compreender o desenvolvimento humano a ciência ou ainda como uma prática. E é nesse sen-
partir de uma psicologia que não considera o con- tido trazemos alguns pontos básicos a respeito das
texto histórico, político e econômico vai contra a relações étnico-raciais no Brasil.
concepção de um sujeito que se constitui a partir
das relações sociais, da história e como um possí- As relações étnico-raciais e a escola
vel agente transformador dela. As teorias que des- Aprendemos desde criança que o Brasil é cons-
consideram essas dimensões podem colaborar e re- tituído por três raças-etnias: os povos indígenas, os
forçar a compreensão de que as diferenças entre os africanos e os europeus. No entanto, a história con-
sujeitos são aspectos impossíveis de transforma- tada desde sempre não foi da forma que realmente
ção dos mesmos, favorecendo o sexismo e o ra- ocorreu. Apenas no final do século XX as histórias
cismo e, por consequência, justificam a violência, de resistência desses povos começaram a ser con-
além de reproduzir e reforçar os estereótipos (Mo- tadas, junto com ela, a abolição da escravatura2
reira & Guzzo, 2016; Parker, 2014). (Krenak, 2019). Apesar disso, é necessário questi-
A psicologia tem uma história de afastamento onar, apesar da abolição em 1888, porque os piores
das demandas populares e, considerando como um índices de qualidade de vida dos negros e negras
dos campos de atuação, a escola (ou outros espa- ainda se mantém? Porque a população negra e in-
ços educativos não formais), apresenta e mantém a dígena ainda mantém o maior índice de vulnerabi-
desigualdade em sua essência na sua estrutura e di- lidade no país? Por luta dos movimentos negro,
nâmica (Libâneo, 2012). É na escola pública que hoje compreendemos que se não for resolvido o
estuda a maioria das crianças e jovens brasileiros, problema da desigualdade entre brancos e negros,
o que acaba por escancarar a reprodução do des- continuaremos no mito da democracia racial3. A
preparo e as dificuldades da (o) profissional da psi- luta envolve formas de inclusão da população ne-
cologia, além do distanciamento do seu verdadeiro gra, como acesso a moradia, saneamento básico,
papel: promover o desenvolvimento de crianças e educação de qualidade e equidade (Nogueira &
adolescentes. Sem políticas públicas para a inser- Guzzo, 2017; Silva, Almudi, & Reginaldo, 2008).
ção da (o) profissional na rede, cada vez mais, esse O racismo à brasileira tem sua história dife-
cenário se distancia da formação profissional do rente dos outros países que ocorrem a discrimina-
seu campo de conhecimento (Guzzo, 2016). ção. A miscigenação demarcou a construção da
O trabalho da psicologia tem que ser compro- identidade nacional e das identidades singulares, já
metido com a realidade concreta da população e que um fenômeno biológico tinha como objetivo
deve colaborar para a conscientização como um político e ideológico homogeneizar a população,
horizonte prático, ou seja, colaborar com a comu- construindo uma identidade nacional única. É
nidade no processo de superação de sua identidade nesse momento que se constitui a ideologia do
alienada tanto pessoal quanto social e transformar branqueamento, conceito base para compreender-
a opressão instituída em seu contexto (Guzzo, Mo- mos a ideologia racial brasileira. Presumia-se que
reira, & Mezzalira, 2016). Para isso, Martin-Baró com o intenso processo de miscigenação surgiria
(1996) pontua a importância de, em primeiro lu- uma nova raça brasileira: ariana, mais clara fenoti-
gar, compreendermos a situação histórica dos nos- picamente. Esse processo faria com que as popu-
sos povos e quais são as verdadeiras necessidades lações indígenas, negras e os próprios mestiços de-
do que constituir com o campo da psicologia como

2
Para mais informações buscar: Santos, E. N. (1999) Civiliza- que pretos e brancos convivem harmoniosamente, desfru-
ções americanas: cinco séculos de desconhecimento. Thot, tando iguais oportunidades de existência, sem nenhuma inter-
72, 32-49; Santos, E. N. (2004). As tradições históricas indí- ferência, nesse jogo de paridade social, das respectivas ori-
genas diante da conquista e colonização da América: transfor- gens raciais ou étnicas. A ‘democracia Racial’ acaba por sig-
mações e continuidades entre nahuas e incas. Revista de His- nificar uma metáfora perfeita que representa o racismo à bra-
tória, 150, 157-207. sileira, não tão explícito quanto o racismo dos Estados Unidos
3
Mito da democracia racial: “(...) à base de especulações in- e nem legalizado como o apartheid na África do Sul, mas efe-
telectuais, frequentemente com o apoio das chamadas ciências tivo e institucionalizado no governo e propagado a nível so-
históricas, erigiu-se no Brasil o conceito de democracia ra- cial, psicológico, econômico, cultural, político” (Nascimento,
cial; segundo esta, tal expressão supostamente refletiria deter- 1978, p. 41).
minada relação concreta na dinâmica da sociedade brasileira:

Revista de Psicología
2021, 30(1), 1-12
Feldmann & Guzzo

saparecessem, já que elas prejudicariam o desen- toda população (Khouri & Castelar, 2016; Mu-
volvimento do país como uma nação (Bento & Ca- nanga, 2005; Nogueira & Guzzo, 2017; Silva,
rone, 2002). 2018).
Nesse modelo de sociedade em que vivemos, o Para Parker (2014), descolonizar a psicologia
branco não aparece nessa discussão, só se apre- envolve não só repensar como a própria ciência é
senta quando é utilizado como modelo universal concebida e reproduz as psicologias étnicas locais
de humanidade. Cria-se a ideia de que seu grupo é e suas metodologias, mas rever o lugar de poder e
um padrão de referência de toda espécie humana e, privilégio das máquinas de produção de conheci-
essa representação ou figura simbólica, fortalece a mento. Outro aspecto fundamental é a humildade
autoestima e o autoconceito do grupo branco em e confiança para aprender com culturas que foram
relação aos outros. As psicólogas Bento e Carone silenciadas e apagadas historicamente. Na pes-
(2002), chamaram esse fenômeno de branquitude. quisa deve-se utilizar de estratégias que privile-
Esse processo acaba por legitimar um lugar supe- giem a perspectiva do sujeito e da comunidade, va-
rior, seja na categoria econômica, política e social. lorizando as diferentes formas de conhecimento e
Por consequência, isso faz com que se afirme uma visões de mundo, trabalhando contra a opressão e
construção de um imaginário negativo do negro e exclusão num caminho de transformação (Hod-
negra, influenciando em sua autoestima, culpando- getts et al., 2020; Holzkamp, 2013).
o (a) pela discriminação e justificando a desigual-
dade racial (Bento & Carone, 2002; Meireles et al., Objetivo geral
2019; Memmi, 2007). Identificar como a Lei 11.645/08 é aplicada no
Se pensarmos na realidade das escolas públi- cotidiano de uma das escolas do Projeto ECOAR e
cas, percebemos que (Silva et al., 2008, p. 31): como o racismo se apresenta nas relações da es-
cola.
o racismo é a maior causa dos problemas edu-
cacionais de alunos negros, tendo a escola um Objetivos específicos
compromisso e responsabilidade em enfrentar  Analisar como a Lei 11.645/08 está pre-
e eliminar o racismo institucional e diminuir os sente nos dois documentos oficinais da prefeitura:
efeitos da desigualdade social. Nesse sentido, é site oficial e no programa MIPID.
necessário a transformação de um currículo  Analisar como a Lei 11.645 está presente
num modelo multicultural, despertando nos es- no Projeto Político Pedagógico da escola.
tudantes uma vontade e interesse maior em es-  Caracterizar o cenário e os estudantes a
tudar e conhecer sua própria cultura. partir do mapeamento.
 Analisar como a Lei 11.645/08 e as rela-
Educar para as relações étnico-raciais tem ções étnico-raciais, especificamente, o racismo, se
como objetivo a formação de sujeitos que estejam apresentam no cotidiano escolar.
empenhados e conscientes no exercício de igual-
dade de direitos sociais, políticos, econômicos Método
como também no direito de pensar, viver e ser,
próprio do seu pertencimento social e étnico-racial Adotamos neste trabalho o método da pesquisa-
(Leme, 2020). Uma psicologia descolonizada que ação-participação, que, segundo Fals Borda
caminha junto com a educação, tem como compro- (1978), representa uma alternativa às metodolo-
misso a formação de sujeitos que sejam compro- gias dominantes e torna-se tanto um instrumento
metidos com essa discussão, ou seja, capaz de res- de luta quanto um guia científico. Ela utiliza da
peitar e valorizar as diferentes formas de ver o própria ciência à serviço da transformação social,
mundo, diferentes experiências históricas, reco- possibilitando que a ação política e a pesquisa so-
nhecer os diferentes povos que têm formado a cial contribuam para aprimoramento mútuo. A
nossa nação, as estruturas que produzem e repro- pesquisa-ação-participação fundamenta-se na prá-
duzem tanto a vítima como o agressor, além de xis e no compromisso social, envolvendo de modo
propor políticas que contemplem efetivamente a autêntico, os participantes da pesquisa (Fals
Borda, 2015). Esse método apresenta-se como um
processo reflexivo, sistemático e crítico e tem

Revista de Psicología
2021, 30(1), 1-12
Relações étnico-raciais e escolas públicas

como objetivo estudar um aspecto da realidade, le- Político Pedagógico da escola (PPP); 3) mapea-
vando o sujeito a conhecer e transformar sua pró- mento5 individual com os estudantes dos 6º anos;
pria realidade (Guzzo, 2020). 4) diários de campo.
É na imersão na escola que aparecem as con- A primeira fonte de informação a ser analisada
tradições, dificuldades e questionamentos que bus- foi o PPP da escola, pois reflete a proposta educa-
camos entender e construir novas possibilidades de cional da instituição e é, por meio dele que a co-
superação. Na presente pesquisa, uma das autoras munidade escolar pode desenvolver um trabalho
inseriu-se em uma das escolas municipal de ensino coletivo, apresentando diretrizes com o objetivo de
fundamental do município de Campinas-São refletir sobre os caminhos e ações para a escola.
Paulo, Brasil, pelo Projeto ECOAR por dois anos Partindo de uma perspectiva libertadora, ele é
letivos, entre 2015 e 2017, e por um período de construído coletivamente por todos os agentes da
oito horas semanais, juntamente com quatro esta- escola, sendo um documento teórico-prático de va-
giárias de psicologia. Ao longo desse período, a lores e princípios que caracterizam as responsabi-
equipe de psicologia participou das práticas peda- lidades sociais e históricas da escola (Catini, 2004;
gógicas, buscando aplicar os princípios da pes- Penteado & Guzzo, 2008; Sant’Ana & Guzzo,
quisa-ação-participação durante todo processo, en- 2016). A análise do documento teve como objetivo
volvendo os profissionais da escola e estudantes na identificar, na perspectiva da escola, quais as ações
construção das ações, de forma a tornar-se cada relativas as duas Leis 10.630 e 11.645. O docu-
vez mais coautores desta pesquisa. Foram parte mento institucional foi autorizado e disponibili-
das atividades: mapeamento com os estudantes, zado pela direção da escola para leitura e análise.
reuniões de professores, reunião com a Rede de O programa MIPID, presente no site da prefei-
Proteção à Criança, formação de professores, ati- tura municipal, foi a segunda fonte de informação
vidades coletivas em sala de aula, reunião familiar, utilizada com o objetivo de identificar as ações re-
acompanhamento individual dos estudantes e rea- alizadas, na perspectiva da Secretaria de Educação
lização de um grupo de fortalecimento de meninas, de Campinas, a respeito das Leis 10.639 e 11.645.
práticas essas que são parte do papel da psicologia Já o mapeamento, a terceira fonte de informa-
na escola. Sendo assim, representam os participan- ção, foi realizado individualmente com os estudan-
tes do presente trabalho todos aqueles que estão tes de duas salas do 6º ano (com idade aproximada
envolvidos no cotidiano da comunidade escolar: de 10 a 13 anos, somando 67 estudantes), no perí-
estudantes, orientadora pedagógica, professores e odo de aula e autorizado pelos professores e fami-
familiares. liares. Foi utilizado apenas duas dimensões do ma-
Essa pesquisa foi aprovada pelo Comitê de peamento (identitária e sociodemográfica) com o
Ética em Pesquisa (No. do Parecer: 2.013.544) objetivo identificar as regiões de origem dos estu-
conforme determina à Resolução nº 510/16 do dantes e seu conhecimento sobre seus antepassa-
Conselho Nacional de Saúde do Brasil (2016). dos, na perspectiva dos próprios estudantes. As in-
formações analisadas foram: data de nascimento,
Fontes de informação idade, local de nascimento e origem da família.
As fontes de informações foram: 1) site da pre- Mesmo que esse instrumento seja em formato de
feitura municipal (http://www.campi- questionário, o momento foi além de um protocolo
nas.sp.gov.br/ ) e o programa MIPID4; 2) Projeto a ser seguido, envolvendo um diálogo mais pro-
fundo a partir de uma escuta da psicologia com

4 5
MIPID: Programa Memória e Identidade: Promoção e Igual- O mapeamento é uma das ações desenvolvidas pela equipe
dade na Diversidade. Foi revitalizado de acordo com as Leis ECOAR. Ele tem como objetivo conhecer o cotidiano dos es-
10.639 (2003) e 11.645 (2008) em 2015. Tem como proposta tudantes, seu contexto de vida, criar um vínculo como também
criar ações para que as escolas compreendam a diversidade ter a possibilidade de conversar individualmente com cada um
étnico-cultural em seu interior, criar espaços de reflexão em deles. Esse momento é muito importante para a psicologia
relação à diversidade humana e a pluralidade cultural, como quando iniciamos o trabalho na escola. Além do registro, tam-
também produzir subsídios metodológicos e didáticos para a bém tem como objetivo um acompanhamento anual dos estu-
abordagem da promoção da igualdade na diversidade (Educa- dantes, incentivando a escola atualizar e acompanhar a pasta
ção Conectada, n. d.). individual de cada um. Esse instrumento é dividido em seis
dimensões: identitária, sociodemográfica, familiar, escolar,
protetiva e subjetiva.

Revista de Psicología
2021, 30(1), 1-12
Feldmann & Guzzo

cada estudante. Além disso, diários de campo fo- construídas durante o processo de análise, especi-
ram escritos após essa atividade, completando as ficamente, no momento em que a pesquisadora en-
informações obtidas pelos gráficos do mapea- tra em contato com as unidades de sentido das fon-
mento (Guzzo et al., 2020). tes de informação (unidades de sentido represen-
Os diários de campo representam a quarta fonte tam trechos selecionados pelos critérios apresenta-
de informação e consistiu em registros produzidos dos anteriormente). As diversas unidades de sen-
pela equipe de psicologia após o dia em campo. tido que surgem nesse momento da análise, têm re-
Mais que um registro, segundo Moreira e Guzzo lações entre si, criando, muitas vezes nexos, e as-
(2016), esse instrumento representa um caminho sim as categorias são criadas pela pesquisadora.
de fala e pensamento, que possibilita registrar os Portanto, as categorias não são construídas anteri-
significados e sentidos construídos em nossas re- ormente com objetivo de encaixar as informações
lações com as pessoas no contexto escolar e criar coletadas, mas são resultado da interpretação da
sínteses sobre as ações desenvolvidas. própria pesquisadora.
Foram produzidos 62 diários de campo no pe- Optamos por apresentar no artigo apenas uma
ríodo de intervenção do projeto e 30 foram seleci- síntese resultante das categorias e interpretação da
onados para a composição deste trabalho, con- pesquisadora nos objetivos a respeito do Site da
forme os seguintes critérios: citações diretas e in- Prefeitura e programa MIPID, o PPP e o mapea-
diretas a respeito das relações étnico-raciais, ra- mento, dando destaque nas categorias dos diários
cismo, Leis 10.639 e 11.654 e a respeito das ori- de campo.
gens. Todos os diários de campo receberam códi-
gos: “DC” + número do diário + letra que repre- Resultados
senta o membro da equipe que o escreveu. Após
esta primeira etapa, foram organizados em um pro- A exposição dos resultados foi organizada de
tocolo de análise (fonte, dimensão, unidade e in- acordo com os objetivos e as fontes de informação.
terpretação).
Site da prefeitura e o site do programa MIPID
Análise das informações Foram extraídas as informações, e após a etapas
Utilizamos o método de análise construtiva-in- da análise, foram sintetizadas, de acordo com a
terpretativa de González Rey (2007). Essa forma pertinência da Lei 11.645/08
de analisar supera a mera descrição dos fenôme- O primeiro ponto a ser identificado foi a desa-
nos, pois volta-se para a exposição criticada, a par- tualização do site da Prefeitura, registrado há mais
tir das categorias construídas e interpretadas sob de um ano. Os projetos apresentados do MIPID no
fundamentos que, de forma interdisciplinar, dão site da Secretaria de Educação do Município, não
possibilidade para o exercício de uma explicação condizem com os apresentados no site do pro-
crítica dos fenômenos envolvendo a pesquisadora grama MIPID, já que esse está atualizado. Esse as-
como parte dessa construção de conhecimento pecto gera uma questão: quanto essas ações estão
(González Rey, 2013). sendo realmente implementadas e quanto a Secre-
As fontes de informação - PPP, site da Prefei- taria de Educação conversa com o programa?
tura de Campinas, programa MIPID e Diários de MIPID trabalha diretamente com as Leis
Campo foram submetidas a uma análise, conforme 10.639/03 e 11.645/08. Estão envolvidos, em mé-
as etapas propostas por González Rey (2013): Co- dia, 23 especialistas no programa. Com o objetivo
dificação, fonte, dimensão, unidade e interpreta- de promover a igualdade na diversidade e favore-
ção. Cada documento foi codificado e organizado cer as reflexões na escola em relação à pluralidade
em um protocolo de análise. Apenas o mapea- cultural, esses especialistas são contratados para
mento houve uma descrição e percentual. darem a formação específica escolhida pela insti-
Em seguida, após uma leitura atenta do respec- tuição. Além disso, alguns professores dizem não
tivo documento, unidades de sentido presentes em ter conhecimento sobre o programa MIPID.
cada fonte de informação foram selecionadas, de A escola realizou apenas um encontro referente
modo a evidenciar a relação com o objetivo da pes- ao MIPID sobre o racismo para os professores do
quisa, para que, em seguida, categorias fossem ensino fundamental. Esse programa oferece for-
construídas e interpretadas. As categorias são

Revista de Psicología
2021, 30(1), 1-12
Relações étnico-raciais e escolas públicas

mações mais aprofundadas a partir das leis refe- mos, mas não no mesmo bairro. Oito por cento re-
rentes, compreendendo que, em apenas um encon- presentam os estudantes que não sabem a localiza-
tro seria impossível esgotar todas as questões que ção de onde moram.
envolvem o tema escolhido pela escola, além de Em relação à autoidentificação, as opções fo-
considerar a construção de um plano de ação como ram: negro, branco, indígena, oriental e outros. O
resultado dessa formação. A pergunta que surge objetivo desta pergunta sobre a identificação não
como reflexão é: porque as escolas não buscam foi ter uma resposta certa ou errada, mas a possibi-
esse programa? Nas tentativas de compreender o lidade de se questionarem sobre como se identifi-
funcionamento da instituição e como parte dos re- cam e nós, enquanto equipe de psicologia, pudés-
sultados encontrados, apontamos três pontos per- semos identificar as demandas que surgiram a par-
cebidos pela equipe de psicologia: a) A escola não tir dessa categoria. 53% dos estudantes se identifi-
vê como prioridade a discussão do racismo ou cam na categoria de outros (outros foi respondido
mesmo das Leis, pois existem muitas demandas de diversas formas, como: moreno, pardo, meio
em seu cotidiano. Por isso, acaba por desconside- marronzinho, normal, pouco morena, mistura de
rar como prioridade essa formação, pois não fica branco com preto, não ligo para isso, me sinto bem
nítida a relação direta entre as questões étnico-ra- e sou contra o preconceito), seguida por 29%
ciais e o desenvolvimento de crianças e jovens; b) branco, 14% oriental e quatro por cento indígena.
o currículo das escolas públicas brasileiras ainda Já a origem das mães dos estudantes, 39% nas-
mantém um modelo eurocêntrico, excluindo a pos- ceu na região Nordeste do país, seguida por 31%
sibilidade de conhecer a diversidade, os povos que no Sudoeste e 30% desconhecem a origem de suas
nos constituem e os diferentes saberes que fazem mães. A maioria dos pais é da região Sudeste, se-
parte da identidade brasileira. Além disso, existe guida por 30% origem desconhecida, 22% nasce-
uma discrepância entre a maioria dos professores ram na região Nordeste, nove por cento na região
e gestão serem brancos e a maioria dos estudantes Sul e quatro por cento na região Centro-Oeste. Os
negros; c) o alcance da divulgação do programa estudantes que nasceram na cidade em que moram
pela rede municipal de educação. atualmente, souberam responder o nome de sua ci-
dade natal, porém, a maioria dos estudantes nas-
Projeto político pedagógico cido região Nordeste do Brasil não sabia o nome
Foram extraídas as informações e, após a etapas de sua cidade natal, indicando apenas o estado.
da análise, foram sintetizadas, de acordo com a
pertinência da Lei 11.645/08 Diários de campo
No PPP não foram encontradas citações diretas A síntese dos resultados dos diários de campo
sobre as Leis 10.639 e 11.645 ou em forma de realizada após as etapas de análise, foram apresen-
ações ou em grupo de estudos de professores. Isso tadas a seguir, a partir das categorias construídas.
mostra uma certa invisibilidade da temática das re-
lações étnico-raciais pela instituição. Apesar dessa Racismo e discriminação. O racismo e discri-
constatação, o que mais se aproximou do tema pro- minação apresentaram-se em diferentes momentos
posto foi inserido como respeito à diversidade e o e espaços. Foi possível observar que ocorre entre
resgate das origens como fundamento de uma es- os estudantes em formato de piadas e “brincadei-
cola emancipadora. ras”, chamando, principalmente as meninas, de ca-
belo duro (identificado pela estudante como nega-
Mapeamento tivo), cabelo ruim, preta (identificado pelas estu-
Após a construção dos gráficos, as informações dantes como ofensa). É importante pontuar, que
foram sintetizadas, de acordo com os objetivos da esse não foi o único diário de campo em que foi
pesquisa. Com o mapeamento, foi possível conhe- relatado o sofrimento em relação ao cabelo, a ofen-
cer as origens dos estudantes com 87% nascidos sas e apelidos. Os relatos encontrados de insatisfa-
no estado de São Paulo (região Sudeste), e em se- ção com o cabelo vieram sempre de meninas.
gundo lugar, com nove por cento na região nor- Bullying. A maioria das vezes que o bullying
deste do Brasil. Na região de moradia, 63% moram apareceu nos diários de campo foram relatos prin-
no bairro da escola depois de 16% morar próxi- cipalmente de meninas. Apesar de serem relatadas
como bullying, quando compreendidas pela equipe

Revista de Psicología
2021, 30(1), 1-12
Feldmann & Guzzo

de psicologia, foi possível identificar muitas delas Discussão e conclusões


como situações de racismo, ou seja, uma provoca-
ção resultante do racismo. A partir do projeto ECOAR e desta pesquisa,
Preconceito contra diferentes regiões do pudemos observar, construir e refletir sobre todas
Brasil. Existe um forte movimento de migração da as questões que envolvem o objetivo deste traba-
região Nordeste para a Sudeste ocorrida, principal- lho. Concluiu-se que os estudantes estão distantes
mente, na geração dos pais dos estudantes. Alguns de sua realidade e de sua história de vida. Questões
estudantes relataram sofrer preconceito por terem como local de nascimento, sua data de aniversário
vindo de outras regiões do Brasil, por terem outros e a cidade natal dos pais fazem parte de sua história
sotaques ou ainda virem do campo e não da cidade. de vida e da construção de sua subjetividade (No-
Os professores também percebem a existência da gueira & Guzzo, 2017). Quando pensamos no dis-
violência e preconceito que essas crianças e jovens tanciamento e na falta de importância que muitos
sofrem. relatam, percebe-se o quão violentados essas cri-
Professores. Os professores relataram ter difi- anças e jovens são. O trabalho de resgate das ori-
culdades de trabalhar com as Leis 10.639 e 11.645, gens e conhecimento da história, chamado de me-
devido à falta de formação na área, já que não fo- mória histórica por Martin-Baró (1998), é uma im-
ram preparados no ensino superior. Foi identifi- portante ferramenta da psicologia, pois consiste
cado uma certa distância em relação a discussão do em investigar por meio da memória coletiva, ele-
processo histórico do racismo e da branquitude. mentos do passado que funcionaram como defesa
Violência. Os estudantes resolvem seus confli- para os interesses das populações exploradas e que
tos e problemas com violência, normalmente, ba- são fundamentais para o avanço da consciência.
tendo ou xingando/revidando, existindo uma difi- Além disso, contribui também com a recuperação
culdade em se identificar enquanto protagonistas dos conhecimentos dos grupos e classes margina-
ou vítimas da violência. Foi possível perceber a na- lizadas, dos saberes populares que dão origem a
turalização das violências sofridas pelas crianças e costumes, crenças e valores como expressões da
jovens nas atividades realizadas pelo ECOAR, e, a identidade nacional, mas que foram colonizadas
partir disso, categorizamos e significamos junto pela combinação de várias estratégias de guerra
com eles alguns tipos de violência sofridos, tais psicológica e pelo epistemicídio6 (Barrero Cuéllar,
como verbal, física, provocação, racismo, violên- 2015).
cia doméstica e estupro. A escola enquanto espaço de desenvolvimento
Reflexões da psicologia/projeto ECOAR. O integral tem como responsabilidade trazer essa dis-
projeto ECOAR foi um espaço positivo relatado cussão, no entanto, não se estende apenas a ela en-
pelas crianças como também pela equipe pedagó- quanto instituição. As relações étnico-raciais fa-
gica, pois nesse tempo de experiência foi possível zem parte da sociedade como um todo, incluindo
perceber a necessidade que tinham de compartilhar as famílias e os espaços que a criança e jovem fre-
situações vividas e sentimentos que muitos não sa- quentam em seu cotidiano. Trabalhar com os estu-
biam identificar. As estratégias utilizadas pela dantes suas origens, é uma forma de entender
equipe favoreceram o compartilhar e a reflexão so- quem somos, onde estamos, para onde vamos, re-
bre questões como o ser, estar e agir no mundo, presentando o ser e estar no mundo, como cita
sobre a história de onde vieram, sobre as violências Martin-Baró (1987): “não existe verdadeiro co-
sofridas pelos estudantes e as formas que podemos nhecimento de si que não seja um reconhecimento
combatê-las. Todas as categorias anteriores cons- das suas origens, da sua história e da sua comuni-
truídas a partir do diário de campo, foram indica- dade” (p. 157). As variadas formas que os estudan-
das pelos estudantes como temas pertinentes para tes se identificam refletem um caminho possível
serem trabalhados no ECOAR. de fortalecimento dos sujeitos, além de, segundo
Peruzzo e Ozi (2020), ser um direito com o obje-
tivo de afirmar e promover a cidadania dos povos.

6
Santos (2009) se refere ao termo epistemicídio para explicar
a exclusão de conhecimentos de grupos sociais fundamentais
para desenvolver suas práticas existenciais de vida.

Revista de Psicología
2021, 30(1), 1-12
Relações étnico-raciais e escolas públicas

O tema das origens e autoidentificação, quando se proteger. Quando dizemos apenas que o pro-
apresentado e refletido na escola, despertou uma blema é o bullying, sem olhar para a estrutura que
curiosidade para buscar entre seus familiares algu- sustenta a violência, mais uma vez silenciamos to-
mas respostas, possibilitando o envolvimento da das as situações de racismo e as relações de poder
família nessa reflexão, trazendo histórias, contos, que ocorrem dentro da escola, dificultando a com-
tradições contadas por eles. Num segundo mo- preensão do problema (Antunes, 2008; Catini,
mento, trazer essas histórias, contos e experiências 2004; Meireles & Guzzo, 2019).
vividas para compartilhar com os colegas é tam- As violências, o racismo, o bullying, o trabalho
bém conhecer mais a história do outro. E quando sobre as origens, as relações étnico-raciais afetam
compartilhadas as situações vividas e os sentimen- diretamente o desenvolvimento humano e devem
tos envolvidos, o sujeito toma consciência de que ser consideradas pela psicologia na escola, reco-
não é o único que sente isso, e que o problema não nhecendo o processo histórico de colonização do
está nele, criando possibilidades de compreender a Brasil, a história de migração no país, a história da
realidade objetiva, fortalecendo-se para enfrentar e constituição do município, as culturas dos nossos
superar as mais variadas situações de violências povos como dimensões que constroem nossa sub-
presentes em seu cotidiano (Martín-Baró, 1987, jetividade (Conselho Federal de Psicologia, 2017;
2009). Oliveira, 2020). Conclui-se a necessidade de falar
Pereira (2017) aponta para que, tanto a escola sobre as relações étnico-raciais, lutar por uma po-
como a comunidade e a família são espaços de de- lítica de inserção da psicologia na escola e de uma
senvolvimento, assim é importante que se conheça formação que sustente nossa prática para a reali-
as três realidades. A escola é um espaço em que o dade, se queremos enfrentar o racismo e prevenir
sujeito pode projetar sua história descobrindo e in- o sofrimento vivido pelas crianças e jovens na es-
cluindo a comunidade como um todo nos seus di- cola (Leme, 2020; Meireles et al., 2019).
versos grupos e centros comunitários. Diante disso, as informações analisadas tive-
Outra questão recorrente foi o fenômeno do ram um limite para serem construídas e apresenta-
bullying, que atualmente é um dos temas mais dis- das como resultado, no que diz respeito aos tipos
cutidos por profissionais e estudiosos da área da de violência e vivências dos estudantes. Foi neces-
saúde e educação. Esse fenômeno apresenta-se sário selecionar e sintetizar a discussão e os resul-
como toda forma de atitude agressiva, que tenha tados encontrados, principalmente em relação ao
uma intenção, repetida e que ocorra contra uma ou- racismo. Consideramos, diante do processo histó-
tra pessoa, causando angústia e dor em uma situa- rico, político e econômico do Brasil, que o racismo
ção desigual de poder e sem motivação precedente vai além das situações vividas na escola, mas tam-
(Santos, 2017). Muitas interpretações equivocadas bém está presente na dimensão institucional e es-
têm dificultado a compreensão do fenômeno e a trutural (Campos, 2017). Apesar disso, delimita-
solução dele. Diversa áreas têm tratado de forma mos a perspectiva dos estudantes, da escola e da
generalizada, resultando em uma explicação resu- Secretaria de Educação do município em relação
mida de que todos os problemas vividos que ocor- as Leis, os fenômenos e os sentidos percebidos
rem com os estudantes são considerados bullying, pela equipe de psicologia no cotidiano escolar.
gerando uma banalização do fenômeno. Além de Ressaltamos a urgência e importância de ouvir os
uma banalização, esse movimento também es- estudantes para a elaboração de planos de ação,
conde as outras discriminações como, por exem- compreendendo as raízes dos problemas que se
plo, o racismo, a homofobia, xenofobia e o ma- produzem e reproduzem no espaço escolar. A psi-
chismo. A questão pontuada não é excluir a possi- cologia na escola pode oferecer um “mapeamento”
bilidade da existência do bullying, ao contrário, já dos problemas, na mediação deles e na construção
que ele foi presente nos relatos dos diários de de novas ações junto com a equipe técnica da ins-
campo, mas saber identificar a verdadeira raiz da tituição (Guzzo et al., 2016; Meireles, 2019).
situação ocorrida para poder combatê-la de forma
justa. Ao mesmo tempo que os estudantes sinali- Proposta de ação
zam o quanto vivenciam e sofrem com esse fenô- A seguir, foram elaboradas algumas ações
meno, continuam a reproduzi-los, muitas vezes apresentadas de forma sintetizada, e que podem ser
como reação ou a única forma que encontram para

Revista de Psicología
2021, 30(1), 1-12
Feldmann & Guzzo

realizadas na escola, entendendo o papel da psico- discutidas com os funcionários, professores, ges-
logia como fundamental no acompanhamento do tão e familiares. Essa inclusão reflete nas discipli-
impacto dessas ações de modo singular, favore- nas diferentes formas de aprender, novos livros de
cendo o desenvolvimento das crianças e jovens es- histórias africanas, afro-brasileiras e indígena
tudantes (Guzzo et al., 2020). (principalmente escritos por essa população), no-
1.Criar espaços coletivos institucionalizados vas formas de calcular, conhecer a fauna e a flora,
para reflexão e ação. Espaço instituído pelos estu- compreender o mundo e o ser humano.
dantes e para os estudantes poderem compartilhar A psicologia na escola tem muito a contribuir
seu cotidiano de vida, angústias e violências vivi- no processo de fortalecimento e pertencimento das
das, construindo debates sobre os temas sugeridos crianças e jovens para que novas formas de se re-
por eles, como na presente pesquisa: o racismo, lacionar sejam construídas e com isso novas possi-
bullying, violência contra mulher, desigualdade bilidades de viver em uma sociedade mais justa.
social, preconceito. Esse grupo pode ser referência Esse trabalho mostra a importância da Psicologia
para todos os estudantes, propondo encontros que na escola, sendo ela urbana, do campo, indígena ou
dialoguem com os adultos da instituição e familia- quilombola.
res.
2.Formação para psicólogas e psicólogos, pro- Referências
fessoras e professores, gestão e funcionários sobre
as relações étnico-raciais. Aproximar mais progra- Antunes, D. C. (2008). Razão instrumental e precon-
mas da Secretaria de Educação (no caso, MIPID) ceito: reflexões sobre bullying. (Dissertação de
Mestrado). Universidade Federal de São Carlos:
com a escola, pois favorecem um trabalho com o
UFSCar.
tema e a busca de novas produções da psicologia, Recuperado de https://bit.ly/364M0NS
cursos e encontros. Barrero Cuéllar, E. (2015). Psicología de la liberación.
3.Criar relações de intercâmbio de conheci- Aportes para la construcción de una psicología
mento (conhecimento transversal). Trazer pessoas desde el Sur. Bogotá, Colombia: Ediciones Cátedra
e grupos de fora, como levar os estudantes a co- Libre.
nhecerem espaços históricos, pontos de cultura e Bento, M. A. S. & Carone, I. (2002) Branqueamento e
grupos específicos. Conhecer e vivenciar novos branquitude no Brasil. Em M. A. S. Bento & I. Ca-
espaços com diferentes culturas é conhecer o ou- rone (Ed.), Psicologia social do racismo – estudos
tro, trabalhando a empatia e o respeito. sobre branquitude e branqueamento no Brasil. Pe-
trópolis, Brasil: Vozes.
4.Trazer elementos da cultura dos povos que
Campos, L. A. (2017). Racismo em três dimensões:
nos constituem em forma de ações institucionali- uma abordagem realista-crítica. Revista Brasileira
zadas. Ações que trabalhem o desenvolvimento, de de Ciências Sociais, 32(95), 1-19.
forma integral como: capoeira, vivências indíge- https://doi.org/10.17666/329507/2017
nas, artesanato, horta, espaço para contação de his- Catini, N. (2004). Problematizando o "bullying" para a
tórias, aula de música, espaço de expressão dos es- realidade brasileira. (Tese de Doutorado). Pontifícia
tudantes como teatro, dança (hip hop, jazz, capo- Universidade Católica de Campinas: Campinas, São
eira), atividades ciganas, festas mensais com temá- Paulo, Brasil.
ticas das diferentes regiões do país. Recuperado de https://bit.ly/2U8LSKB
5.Criar um espaço semanal, com um professor Conselho Federal de Psicologia. (2017). Relações raci-
ais: referências técnicas para atuação de psicólo-
representante de cada sala, em forma de assem-
gas/os. Brasília, Brasil: CFP.
bleia ou roda de conversa sobre como os estudan- Recuperado de https://bit.ly/36b2jsp
tes têm passado a semana. Criar um espaço mais Conselho Nacional de Saúde. (2016). Resolução nº 510,
acolhedor para compartilhamento de sentimentos de 7 de abril de 2016. Diário Oficial [da] República
e vivências, escutar mais o que cada estudante tem Federativa do Brasil, Brasília, DF, 24 maio Seção 1.
a dizer sobre seu cotidiano e história de vida. p. 44-46.
6.As Leis 10.639 e 11.645 devem estar inseri- Recuperado de https://bit.ly/3jCQiUy
das no Projeto Político Pedagógico e no currículo Educação Conectada. (n. d.). MIPID.
da escola, pois é no cotidiano da escola que se ini- Recuperado de https://bit.ly/2Ttef67
cia esse processo. Além disso, também devem ser

Revista de Psicología
2021, 30(1), 1-12
Relações étnico-raciais e escolas públicas

Fals Borda, O. (2015). Cómo investigar la realidad para everyday life. Em E. Schraube & U. Osterkamp
transformarla. Em V. M. Moncayo (Ed.), Una so- (Eds.), Psychology from the standpoint of the sub-
ciología sentipensante para América Latina (p. 253- ject: Selected writings of Klaus Holzkamp (pp. 233-
301). Bogotá, Colombia: Clacso, Siglo Del Hombre 351). Basingstoke, United Kingdom: Palgrave Mac-
Editores. millan.
Fals Borda, O. (1978) Por la praxis: el problema de Khouri, J. G. R. & Castelar, M. (2016). Percepções de
cómo investigar la realidad para transformarla. estudantes sobre o debate das relações raciais na for-
Bogotá, Colombia: Federación para el Análisis de la mação em psicologia. Psicologia Ensino & Forma-
Realidad Colombiana. ção, 7(2), 53-62.
Feldmann, M. (2017). Escola pública e relações étnico- http://dx.doi.org/10.21826/2179-58002016725562
raciais: o papel da psicologia. (Dissertação de Mes- Krenak, A. (2019). Ideias para adiar o fim do mundo.
trado). Pontifícia Universidade Católica de Campi- São Paulo, Brasil: Editora Companhia das Letras.
nas, Campinas, São Paulo, Brasil. Leme, M. S. (2020). Ensino de artes e suas potenciali-
Recuperado de https://bit.ly/3Aiphf2 dades para abordagens das relações étnico-raciais na
González Rey, F. (2007). Investigación cualitativa y escola: as culturas indígenas e seus contextos urba-
subjetividad. Ciudad de México, México: McGraw- nos. (Dissertação de Mestrado). Universidade Esta-
Hill. dual de Campinas, Campinas, São Paulo, Brasil.
González Rey, F. L. (2013). Subjetividad, cultura e in- Recuperado de https://bit.ly/3yecMPM
vestigación cualitativa en psicología: la ciencia Libâneo, J. C. (2012). O dualismo perverso da escola
como producción culturalmente situada. Revista Li- pública brasileira: escola do conhecimento para os
minales. Escritos sobre Psicología y Sociedad, 2(4), ricos, escola do acolhimento social para os pobres.
13-36. Educação e Pesquisa, 38(1), 13-28.
Recuperado de https://bit.ly/3dxtmsz https://doi.org/ghnj
Guzzo, R. S. L. (2016). A (des)igualdade social e a psi- Martín-Baró, I. (1998). Acción e ideología. Psicología
cologia: uma perspectiva para o debate sobre a po- social desde Centroamérica. San Salvador, El Sal-
breza. Em V. Ximenes, Psicologia e pobreza: con- vador: UCA editores.
tribuições para uma análise psicossocial. Fortaleza, Recuperado de https://bit.ly/3y8o2gM
Brasil: Expressão Gráfica e Editora. Martín-Baró, I. (1987). El latino indolente: carácter
Guzzo, R. S. L. (2014) Consciência e ação diante da vi- ideológico del fatalismo latinoamericano. Em M.
olência: desafios para a escola pública e psicologia. Montero (Ed.), Psicología política latinoamericana
Projeto de Extensão – CNPq (Conselho Nacional de (pp. 135-162). Caracas, Venezuela: Panapo.
Desenvolvimento Científico e Tecnológico). Martín-Baró, I. (1996). O papel do psicólogo. Estudos
Guzzo, R. S. L. (2020). The development of participa- de Psicologia, 2(1), 7-27.
tory action research. Em V. D. T. Cook (Ed.), The https://doi.org/cb4c4g
Sage encyclopedia of children and childhood stud- Martín-Baró, I. (2009). Para uma psicologia da liberta-
ies (pp. 1207-1209). Thousand Oaks, California. ção. Em R. L. Guzzo & F. Lacerda (Eds.), Psicolo-
Sage Publications. gia social para América Latina: o resgate da psico-
Guzzo, R. S. L., Moreira, A. P. G., & Mezzalira, A. S. logia da libertação. Campinas, Brasil: Ed. Alínea.
C. (2016). Desafios para o cotidiano do psicólogo Martínez, A. M., González Rey, F., & Puentes, R. V.
dentro da escola: a questão do método. Em M.V. M. (Org.). (2019). Epistemologia qualitativa e teoria da
Dazzani & V. L. T. Souza (Eds.), Psicologia escolar subjetividade: discussões sobre educação e saúde.
crítica: teoria e prática nos contextos educacionais Uberlândia, Brasil: UDUFU.
(pp. 21-35). Campinas, Brasil: Editora Alínea. Recuperado de https://bit.ly/3h8dubH
Guzzo, R. S. L., Teles-Silva, S. S. G., Feldmann, M., Meireles, J. (2020). Psicologia crítica e processos parti-
Cantares, T. S., Leme, J. B., Lisboa, C. B., & Santos, cipativos na escola: desenvolvendo a capacidade de
H. G. F. (2020). Psicologia no enfrentamento à vio- ação de estudantes. (Tese de Doutorado). Pontifícia
lência na escola: conhecer, refletir e agir. Em C. M. Universidade Católica de Campinas, Centro de Ci-
arinho-Araujo & A. M. B. Teixeira (Eds.), Práticas ências da Vida, Programa de Pós-Graduação em Psi-
exitosas em psicologia escolar crítica (v. 1, p. 123- cologia, Campinas, Brasil.
142). Campinas, Brasil: Alínea. Recuperado de https://bit.ly/3xlWRik
Hodgetts, D., Drew, N., Sonn, C., Stolte, O., Nikora, L. Meireles, J., Feldmann, M., Cantares, T. S., Nogueira,
W., & Curtis, C. (2020). Social psychology and eve- S. G., & Guzzo, R. S. L. (2019). Psicólogas brancas
ryday life. Basingstoke, United Kingdom: Palgrave e relações étnico-raciais: em busca de formação crí-
Macmillan. tica sobre a branquitude. Revista Pesquisas e Práti-
Holzkamp, K. (2013). Psychology: Social self-under- cas Psicossociais, 14(3), 1-15.
standing on the reasons for action in the conduct of Recuperado de https://bit.ly/3dvcVGT

Revista de Psicología
2021, 30(1), 1-12
Feldmann & Guzzo

Meireles, J. & Guzzo, R. S. L. (2019). Violência subs- Peruzzo, P. P. & Ozi, G. (2020). O direito à autoidenti-
tantivada: perspectiva de estudantes de uma escola ficação dos povos indígenas como direito funda-
pública. Psicologia & Sociedade, 31. mental. Revista Eletrônica do Curso de Direito da
https://doi.org/gk8p UFSM, 15(2), 34252.
Memmi, A. (2007). Retrato do colonizado precidido de https://doi.org/10.5902/1981369434252
retrato do colonizador. Rio de Janeiro, Brasil: Civi- Quijano, A. (2005). Colonialidade do poder, eurocen-
lização brasileira. trismo e América Latina. Em E. Lander (Ed.), A co-
Mezzalira, A. S. C. & Guzzo, R. S. L. (2011). Acompa- lonialidade do saber: eurocentrismo e ciências so-
nhamento e promoção do desenvolvimento na edu- ciais. Perspectivas latino-americanas (pp. 117-
cação infantil: algumas contribuições da psicologia 142). Buenos Aires, Argentina: Clacso.
escolar. Aletheia, 35-36, 22-35. Sant’Ana, I. M. & Guzzo, R. S. L. (2016). Psicologia
Recuperado de https://bit.ly/3yenLZQ escolar e projeto político-pedagógico: análise de
Ministério da Educação. (2004). Diretrizes Curriculares uma experiência. Psicologia & Sociedade, 28(1),
Nacionais para a Educação das Relações Étnico Ra- 194-204.
ciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Bra- http://dx.doi.org/10.1590/1807-03102015aop004
sileira e Africana. Brasília, DF. Santos, B. S. (2009). Una epistemología del sur. Bue-
Recuperado de https://bit.ly/3qCetEc nos Aires, Argentina: Clacso, Siglo XXI editores.
Moreira, A. P. G. & Guzzo, R. S. L. (2016). Situação- Santos, D. L. (2017). Contribuições da psicologia esco-
limite e potência de ação: Atuação preventiva crítica lar para prevenção e combate ao bullying. Dia-
em psicologia escolar. Estudos de Psicologia, 21(2), phora, 15(2), 44-48.
204-215. Recuperado de https://bit.ly/3xbRZMJ
https://doi.org/10.5935/1678-4669.20160020 Silva, P. B. G. (2018). Educação das relações étnico-
Munanga, K. (Org.). (2005). Superando o racismo na raciais nas instituições escolares. Educar em Re-
escola. Brasília, Brasil: Ministério da Educação, Se- vista, 34(69), 123-150.
cretaria de Educação Continuada, Alfabetização e http://dx.doi.org/10.1590/0104-4060.58097
Diversidade. Silva, F. R. & Assis, S. G. (2018). Prevenção da violên-
Recuperado de https://bit.ly/3qK1pNk cia escolar: uma revisão da literatura. Educação e
Nascimento, A. (1978). O genocídio do negro brasi- Pesquisa, 44.
leiro. Rio de Janeiro, Brasil: Paz e Terra. https://doi.org/gk84
Nogueira, S. G. & Guzzo, R. S. L. (2017). Que educa- Silva, M. L., Almudi, M. D. L. A., & Reginaldo, F. D.
ção das relações étnico-raciais queremos no século S. (2008). Os efeitos psicossociais do racismo. São
XXI? Uma leitura psicossocial e crítica da desuma- Paulo, Brasil: Imprensa Oficial.
nização eurocêntrica e racista. Revista da Associa- Recuperado de https://bit.ly/3haWK3F
ção Brasileira de Pesquisadores/as Negros/as,
9(22), 409-431.
Recuperado de https://bit.ly/3Aj729q Data de recebimento: 14 de agosto de 2020
Oliveira, H. (Org.) (2020). Morte e renascimento da an- Data de recebimento da revisão 1: 23 de agosto de 2020
cestralidade indígena na alma brasileira. Rio de Ja- Data de recebimento da revisão 2: 22 de outubro de 2020
Data de recebimento da revisão 3: 13 de março de 2021
neiro. Brasil: Editora Vozes. Data de aceitação: 18 de março de 20121
Parker, I. (Ed.). (2015). Handbook of critical psycho-
logy. Hove, United Kingdom: Routledge.
Parker, I. (2014). Revolução na Psicologia: da aliena-
ção à emancipação. Campinas, São Paulo, Brasil:
Editora Alínea.
Penteado, T. C. Z. & Guzzo, R. S. L. (2010). Educação
e psicologia: a construção de um projeto político-
pedagógico emancipador. Psicologia & Sociedade,
22(3), 569-577.
https://doi.org/c2qwb3
Pereira, M. L. M. (2017). Escola, comunidade e psico-
logia: desencontros e encontros. (Dissertação de
Mestrado). Pontifícia Universidade Católica de
Campinas, Centro de Ciências da Vida, Pós-Gradu-
ação em Psicologia, Campinas, Brasil.
Recuperada de https://bit.ly/2UYJXsy

Revista de Psicología
2021, 30(1), 1-12

Você também pode gostar