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Universidade do Algarve

Faculdade de Ciências Humanas e Sociais

Ciências da Educação e Formação

Formação ao Longo da Vida

3º Ano / 2º Semestre

A importância do não formal e informal na educação e desenvolvimento


comunitário/local

Docente:

António Fragoso

Discente:

Diana Brito a60932


Resumo

O presente trabalho teórico aborda a importância do não formal e informal na educação e


desenvolvimento comunitário/local. Ao longo do trabalho são apresentados vários conceitos,
nomeadamente: de educação (formal, informal e não formal), de desenvolvimento, de
desenvolvimento comunitário, entre outros. Para tal, recorreu-se a diferentes perspetivas de vários
autores, de forma a ser possível analisar as diferentes visões que os mesmos têm sobre o tema
tratado. No geral, verifica-se a relação existente entre a educação e o desenvolvimento comunitário,
tendo em conta a sua finalidade na sociedade: melhorar as condições de vida dos indivíduos e da
sociedade.

Palavras-chave: educação; educação não formal; educação informal; desenvolvimento


comunitário/local;

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Introdução

Este trabalho, realizado no âmbito da Unidade Curricular de Formação ao Longo da Vida,


apresenta uma reflexão teórica em torno do tema escolhido: a importância do não formal e informal
na educação e no desenvolvimento comunitário/local.

A superioridade da visão escolarizada da educação, a par da crescente visibilidade dos


processos educativos não formais e informais a partir da segunda metade do século XX, justificou a
necessidade de se distinguir e delimitar modalidades educativas (Bruno, 2014). Como tal, a
educação apresenta-se em diferentes formatos e caraterísticas, nomeadamente: a educação formal, a
educação informal e a educação não formal – três modalidades de ensino que embora sejam
distintas, complementam-se nas suas ações (Almeida, 2014).

Nas últimas décadas, os pesquisadores da área de Educação têm destacado a necessidade que
há de existir uma construção do conhecimento que fuja aos limites estabelecidos pela educação
formal, bem como aos seus meios e objetivos (Costa, 2014). Numa situação atual em que a
cidadania enfrenta novos desafios, procura novos espaços de atuação e abre novas áreas por meio
das grandes transformações pelas quais estamos constantemente a passar, é importante falar sobre o
facto de haver muito mais para aprender do que apenas os saberes transmitidos formalmente nas
disciplinas escolares, remetendo para diferentes modalidades educativas, como a educação informal
e a educação não formal.

É também fundamental falar sobre a atualidade do desenvolvimento comunitário/local como


estratégia de intervenção social, por meio da educação não formal e informal, tendo em conta
importância desse fenómeno para tentar atenuar os problemas sociais e económicos, de forma a
melhorar as condições de vida de cada ser humano, de uma localidade ou de um determinado país.

Posto isto, é possível verificar que a educação se tornou numa dimensão fundamental da
cidadania e é indispensável para as políticas, na medida em que visam à participação de todos nos
espaços sociais e políticos e até mesmo para a realização de ações de intervenção de
desenvolvimento comunitário/local (Cury, 2002). Educação e desenvolvimento formam uma
parceria inseparável, tendo em conta a sua finalidade na sociedade: melhores condições de vida e
uma maior humanização (Caride, 2000, citado por Félix, 2015).

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A importância do não formal e informal na educação e desenvolvimento
comunitário/local

1. EDUCAÇÃO

Antes de abordar os diferentes conceitos e considerações em torno da educação não formal e


informal, é importante esclarecer, em primeiro lugar, o próprio conceito de educação. La Belle
(1976, citado por Costa, 2014) carateriza a educação como um processo através do qual os
indivíduos aprendem como agir cognitiva, afetiva e psicomotoramente dentro dos seus ambientes.

A educação é um dos requisitos fundamentais para que os indivíduos tenham acesso ao


conjunto de bens e serviços disponíveis na sociedade (Gadotti, 2005). Tornou-se uma dimensão
fundamental da cidadania e é indispensável para as políticas, na medida em que visam à
participação de todos nos espaços sociais e políticos e até mesmo para a realização de ações de
intervenção de desenvolvimento comunitário/local (Cury, 2002). No entanto, a vida quotidiana
sempre exigiu muito mais do que o conhecimento dos saberes apresentados formalmente nas
disciplinas escolares. Como tal, há muito mais a aprender e para isso foi necessário criar diferentes
modalidades educativas de forma a atender às necessidades da sociedade.

1.1. A CATEGORIZAÇÃO DO CONCEITO DE EDUCAÇÃO

De acordo com Bruno (2014), a supremacia da visão escolarizada da educação, em simultâneo


com a crescente visibilidade dos processos educativos não formais a partir da segunda metade do
século XX, justificou a necessidade de se distinguir e delimitar as modalidades educativas. A
origem deste fenómeno situa-se nas práticas emergentes de educação de adultos no período pós
Segunda Guerra Mundial.

Philip H. Coombs, Roy C. Prosser e Manzoor Ahmed (1973, citado por Costa, 2014) foram
alguns dos pioneiros a categorizar o conceito de educação em três diferentes tipos – formal, não
formal e informal, sendo que neste artigo destacam-se apenas os dois últimos tipos. Na perspetiva
destes autores, a educação consiste num processo de natureza contínua, que acompanha o indivíduo
desde os seus primeiros passos até à vida adulta e ao longo da mesma, envolvendo uma grande
diversidade de métodos e recursos de aprendizagem. Os autores referem-se à educação formal como
todo o sistema educacional escolar, tendo em conta as suas estruturas hierárquicas e a sua divisão
cronológica e gradual do conhecimento. Relativamente à educação informal, esta foi definida pelos
autores como um processo através do qual todo o indivíduo adquire habilidades, conhecimentos,

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atitudes e valores ao longo da vida. Por fim, por educação não formal, os autores consideram que
consiste em quaisquer atividades educacionais organizadas e sistematizadas, que ocorram fora do
sistema formal estabelecido.

1.2. EDUCAÇÃO FORMAL

Embora este artigo foque mais nos tipos de educação não informal e informal, é necessário
fornecer uma breve explicação sobre o conceito de educação formal.

A educação, entendida como um processo de desenvolvimento da capacidade inteletual do ser


humano, tem um significado amplo e abrangente. É um processo único, associado quase sempre à
escola. A educação com reconhecimento oficial, oferecida nas escolas em cursos com níveis, graus,
programas, currículos e diplomas, geralmente é designada de educação formal. Embora a produção
do conhecimento não se limite apenas a instituições ou lugares determinados, a transmissão regular
e disciplinar desses conhecimentos foi sendo, com o tempo, delegada à escola, ou melhor, à
educação formal (Gaspar, 1992).

A educação formal tem objetivos claros e específicos e é representada principalmente pelas


escolas e universidades. Depende de uma diretriz educacional centralizada como o currículo, com
estruturas hierárquicas e burocráticas, determinadas a nível nacional, com órgãos fiscalizadores dos
ministérios de educação. No caso da educação formal, o espaço que lhe compete é a escola e é um
espaço marcado pela formalidade, pela regularidade e pela sequencialidade (Gadotti, 2005).

1.3. EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

De acordo com os pioneiros da categorização do conceito de educação que foram referidos


anteriormente, a educação não formal é entendida como quaisquer atividades educacionais
organizadas e sistematizadas, que ocorram fora do sistema formal estabelecido. Essas atividades são
pensadas e delineadas para atender um grupo específico, com objetivos de aprendizagem bem
definidos. Muitos dos processos educacionais considerados pelos autores como pertencentes à
categoria “não formal” nem sequer foram originalmente criados como sendo educacionais. Ou seja,
grande parte deles foi pensada como atividades de lazer, de desporto, serviços de saúde, projetos de
desenvolvimento de comunidades e regiões específicas, entre outros. Sendo assim, a educação não
formal engloba “componentes educacionais de programas projetados para atenderem a metas de

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desenvolvimento amplas, bem como a objetivos mais académicos.” (Coombs, Prosser e Ahmed,
1973, p. 12, citado por Costa, 2014).

A educação não formal engloba ainda um processo com várias dimensões, tais como: a
aprendizagem política dos direitos dos indivíduos enquanto cidadãos; a capacitação dos indivíduos
para o trabalho, por meio da aprendizagem de habilidades e/ou desenvolvimento de potencialidades;
a aprendizagem e exercício de práticas que capacitam os indivíduos a se organizarem com objetivos
comunitários, voltadas para a solução de problemas coletivos cotidianos; a aprendizagem de
conteúdos que possibilitem aos indivíduos fazerem uma leitura do mundo do ponto de vista de
compreensão do que se passa ao seu redor; entre outras (Gohn, 2006).

1.4. EDUCAÇÃO INFORMAL

Coombs, Prosser e Ahmed (1973, citado por Costa, 2014), definem a educação informal como
um processo através do qual todo o indivíduo adquire habilidades, conhecimentos, atitudes e
valores ao longo da sua vida. Esse processo está relacionado com os estímulos e inibições recebidas
a partir da experiência quotidiana, bem como à disponibilidade de recursos e à influência educativa
exercida pelo ambiente no qual o indivíduo se insere. Para a constituição desse mesmo ambiente, os
autores consideram como pertinentes algumas variáveis como: a família, os vizinhos, o trabalho, as
brincadeiras, os média, entre outras. Reconhecem, dessa forma, que a educação informal é a grande
responsável pela maior parte de tudo o que uma pessoa constrói no percurso de uma vida.

Como educação informal, Libâneo (2014) defende que se trata de todas as influências que
atuam de alguma maneira sobre o indivíduo, ocorrendo de modo não intencional, não sistemático e
não planeado. O facto desse processo educativo não incidir sobre o indivíduo de maneira
intencional, não significa que ele não tenha consequências efetivas na formação da personalidade,
valores e hábitos do mesmo, significa antes que estas consequências são mais dificilmente
percebidas como tais.

2. DESENVOLVIMENTO

Depois de esclarecer os vários tipos de educação, passamos a abordar a questão do


desenvolvimento. O desenvolvimento tem sido um dos conceitos mais importantes nas Ciências
Sociais, tendo-se tornado ao longo dos anos cada vez mais complexo e menos linear. Aponta para o

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horizonte do futuro; sugere a ideia de processo, de algo em movimento e em construção
(Shallenberger, 2003).

O conceito de desenvolvimento, à semelhança da educação, surgiu no período pós Segunda


Guerra Mundial, numa altura em que se associava às noções de industrialização e ao progresso
tecnológico, tendo como único objetivo o crescimento económico. A partir da década de 70 dá-se
um ponto de viragem na abordagem do desenvolvimento, começando a estruturar-se novos
conceitos e de maior complexidade. Verificou-se então uma mudança no foco colocado no estudo
destas questões, progredindo-se das questões produtivas e económicas para se centrar nas questões
relacionadas com o bem-estar (Amaro, 2003). O desenvolvimento é, portanto, um processo coletivo
de mudança social, verificado em elementos socioculturais, políticos e económicos (Shallenberger,
2003).

Um conceito que desde cedo começou a ser associado ao de desenvolvimento foi o de


educação. De facto, uma das teorias que reuniu maior aceitação e que vigorou durante mais anos foi
a Teoria do Capital Humano, que defende a forte relação positiva e linear entre educação e
desenvolvimento económico, por um lado pelos conhecimentos técnicos que transmite,
qualificações e diplomas que atribui e, por outro lado, pela consequente ocupação produtiva de
postos de trabalho e evolução que desencadeia nas empresas (Gómez & Callejas, 2007).

2.1. DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO / LOCAL

É possível contextualizar a origem e evolução de conceitos tão complexos como


desenvolvimento comunitário e desenvolvimento local.

No que diz respeito ao desenvolvimento comunitário, as suas raízes “(…) situam-se no período
que mediou as duas guerras mundiais, a partir de dois tipos de práticas: na formação de líderes
locais no período colonial britânico e, no período que a américa atravessou de pós guerra em que se
fazia sentir uma desorganização social fruto das consequências da industrialização, da urbanização,
da imigração e das dificuldades económicas que culminaram com a crise de 1929” (Carmo, 2001).
Depois da Segunda Guerra Mundial, o desenvolvimento comunitário consolidou-se como método
complementar de intervenção social, com o objetivo de tentar atenuar os problemas sociais e
económicos deste período histórico (Félix, 2015).

O desenvolvimento comunitário pode ser considerado não só como um processo utilizado para
melhorar as condições de vida de cada ser humano, mas também para melhorar as condições de um

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determinado país ou localidade a nível económico, social e político, ao mesmo tempo que se
incentiva e capacita a população a contribuir para o desenvolvimento que pretendem atingir na
comunidade em que estão inseridos (Santos, 2002; Gómez, 2007). Como tal, o desenvolvimento
comunitário não deixa de ser também uma estratégia associada a valores como a democracia, a
justiça social, equidade, a solidariedade, a paz e a busca pelos Direitos Humanos (Félix, 2015).
Segundo Gómez (2007, citado por Félix, 2015), os programas de desenvolvimento comunitário
“são fundamentais na promoção duma melhor qualidade de vida para todas as pessoas e as futuras
gerações. Ao nível da informação e da educação das comunidades, têm permitido o
desenvolvimento e a preparação de regiões e comunidades para participar no desenvolvimento
nacional e global” (p. 113). Estes programas têm a possibilidade de atuar a dois níveis diferentes: o
nacional, que se foca na resolução de um problema e/ou necessidade comum ao país, contando com
a colaboração de parcerias e financiamentos públicos, e o nível local, que se dirige para um
determinado território, com um tempo de ação limitado, estando, por norma, dependente de
financiamentos públicos e parcerias com instituições locais (Santos, 2002). No entanto, estes dois
níveis de desenvolvimento comunitário têm em comum a existência de técnicos especializados que
apoiam a população, investindo na sua capacitação e possibilitando uma ação realista, tal como é
recomendado a nível internacional pelas Nações Unidas que destacam como elemento fundamental
do desenvolvimento comunitário a participação ativa da comunidade (Gómez, 2007).
Relativamente ao desenvolvimento local, este surgiu igualmente no período Pós Segunda
Guerra Mundial. O desenvolvimento local pode ser caraterizado de duas formas: por um lado, pelo
locus da vida social, ou seja, o lugar onde ocorrem os acontecimentos, fenómenos e práticas sociais.
Por outro lado, é caraterizado pelas relações externas. O conjunto das estruturas localmente
consolidadas com as relações de cariz externo aos sistemas locais estruturam, por sua vez, o campo
possível das ações (Reis, 1992, citado por Fragoso, 2005).
O local apresenta-se como um conjunto de redes sociais e culturais com certas especificidades,
pois é definido pelas pessoas que o habitam, caraterizando-se pela sua identidade sociocultural e
pela reconstrução dinâmica dessas identidades (Albino e Leão, 1997, citado por Fragoso, 2005).
O principal objetivo do desenvolvimento local é promover a melhoria e qualidade de vida das
pessoas, bem como aumentar os seus níveis de autoconfiança e organização (Fragoso, 2005). Como
processo educativo e estratégia de intervenção social, o desenvolvimento local visa, igualmente e de
forma colaborativa e participativa, melhorar as condições de vida dos cidadãos. Nesse contexto,
coloca em prática determinados princípios da cidadania, levando a que cada cidadão participe e se
responsabilize a tomar decisões que também lhe dizem respeito e o afetam diretamente (Félix,
2005).

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Com a implementação dos programas de desenvolvimento local acredita-se na necessidade e
importância de estimular o espírito de iniciativa e o desejo de uma participação ativa na vida da
comunidade. Esta capacitação é feita tanto a nível pessoal, na melhoria das qualificações
académicas como, ao nível local, com a criação de grupos organizados na comunidade que
elaboram e desenvolvem estratégias e medidas com o objetivo de satisfazer as necessidades do
território e da população (Gómez, 2007; Silva 1964, citado por Félix, 2015).
Com o progressivo reconhecimento institucional do desenvolvimento local, existiram várias
experiências no sentido de o promover, como o desafio lançado em 1986 pela Comissão Europeia
da formação e colocação no terreno de “Agentes de Desenvolvimento” – isto é, cidadãos que
participem nos projetos de formação e, posteriormente, fomentem nos territórios as dinâmicas de
desenvolvimento local. Ao longo da década de 1980 foram também lançadas algumas medidas
legislativas e programas relacionados com a criação de emprego (da responsabilidade do Instituto
de Emprego e Formação Profissional), que tinham como objetivo incentivar o papel de associações
com impacto no desenvolvimento das regiões. Através do conjunto de todas estas ações referidas
foi-se construindo uma visão mais nítida do desenvolvimento local (Carmo, 2001).

2.2. PRINCÍPIOS DO DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO

Desde o surgimento do desenvolvimento comunitário no período Pós Segunda Guerra Mundial


e ao longo dos anos, foi surgindo um conjunto de princípios que configuram todas as estratégias de
desenvolvimento comunitário, que ainda hoje são de grande atualidade. De acordo com Carmo
(2001), esses princípios são os seguintes:
 O princípio das necessidades sentidas – que defende que todos os projetos de desenvolvimento
comunitário devem partir das necessidades sentidas pela população e não apenas das
necessidades verificadas pelos técnicos;
 O princípio da participação – que afirma a necessidade do envolvimento profundo da população
no processo do seu próprio desenvolvimento;
 O princípio da cooperação – que refere a importância da eficácia e colaboração entre o setor
público e privado nos projetos de desenvolvimento comunitário;
 O princípio da autossustentação – que defende que os processos de mudança planeada sejam
equilibrados e sem ruturas, suscetíveis de manutenção pela população-alvo e providos de
mecanismos que evitem efeitos negativos gerados pelas alterações provocadas;

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 Por fim, o princípio da universalidade – que afirma que um projeto só tem probabilidades de
sucesso se tiver como alvo de desenvolvimento uma determinada população na sua globalidade
(e não apenas pequenos grupos dessa população) e como objetivo a alteração profunda das
condições que estão na base da situação de subdesenvolvimento.

3. EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO / LOCAL


Educação e desenvolvimento formam uma parceria inseparável, tendo em conta a sua
finalidade na sociedade: melhores condições de vida e uma maior humanização. De acordo com
Caride (2000, citado por Félix, 2015), a relação entre educação e desenvolvimento pode ser
compreendida através das seguintes vertentes:
a) “Educação como consequência, efeito ou “benefício” do desenvolvimento”;
b) “A educação como fator decisivo para o desenvolvimento”.
Na primeira vertente, argumenta-se que uma sociedade desenvolvida apresenta melhores
resultados educativos (formais e não formais). Na segunda vertente, a educação é definida como um
elemento gerador e potenciador de desenvolvimento, ou seja, quanto maior for o investimento em
educação, maiores são também as possibilidades de desenvolvimento económico e
consequentemente, melhores condições de vida em termos materiais e sociais. Dessa forma “a
educação seria assim, uma estratégia para superar o subdesenvolvimento assim como também, as
situações de pobreza e insegurança social” (Caride 1983, cit. por Gómez et al, 2007, p.179, citado
por Félix, 2015).
No ponto de vista de outros autores como Malassis (1975, citado por Félix, 2015), a educação e
o desenvolvimento constituem-se também como realidades indissociáveis, ou seja, a educação
constitui-se simultaneamente como causa e consequência do desenvolvimento, assim como também
se pode dizer que o desenvolvimento é causa e consequência da educação.
Na mesma linha de pensamento, Caride (1983) afirma que a educação “não é simplesmente um
sector de desenvolvimento (…) É mais um elemento omnipresente com capacidade de estar
integrado horizontal e verticalmente em todos os esforços do desenvolvimento” (Gómez et al, 2007,
p. 180, citado por Félix, 2015). Neste sentido, pode-se também deduzir que o próprio processo de
desenvolvimento é educação e, por isso educação consiste numa parte orgânica do processo de
desenvolvimento humano. Também a nível pessoal a educação desempenha um papel influente no
desenvolvimento, nomeadamente na formação de valores como a responsabilidade, a justiça, a
solidariedade e a equidade (Félix, 2015).
No que diz respeito às instituições educativas, em grande parte da ação desenvolvida pelos seus
agentes (principalmente professores e educadores e funcionários não docentes) ocupam um lugar de
destaque importante na promoção de projetos de desenvolvimento local, pois são, normalmente,
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polos de atividade local ou mesmo de intervenção social. No entanto, não será apenas a Escola que
se posiciona como produtora de saberes. A casa, a rua, os grupos presentes na comunidade são
também eles produtores de saberes necessários, pois a educação, como processo de
desenvolvimento, "deve centrar-se no grupo de inserção do indivíduo e não apenas no indivíduo"
(Espiney, R. 1995, p. 23, citado por Santos, 2002).
No geral, a educação formal e informal desempenham um papel bastante importante no
desenvolvimento comunitário/local, na medida em que é a própria educação que permite o
desenvolvimento e a preparação de regiões e das comunidades para participar no desenvolvimento
nacional e global. Além disso, permite ainda estimular o espírito de iniciativa e o desejo de uma
participação ativa na vida da comunidade, sendo uma capacitação feita tanto a nível pessoal, na
melhoria das qualificações académicas, como a nível local, com a criação de grupos organizados na
comunidade que elaboram e desenvolvem estratégias e medidas com o objetivo de satisfazer as
necessidades do território e da população.
A relevância da educação nos atuais programas de desenvolvimento local / comunitário deriva
da vontade de educar as novas sociedades (Santos, 2002).
Um exemplo real da educação não formal, foi a criação de uma Escola Comunitária local (na
freguesia de São Miguel de Machede, município de Évora, Portugal), que consistiu num dos
projetos da SUÃO-Associação de Desenvolvimento Comunitário. Este projeto tem vindo a construir
e a concretizar um modelo endógeno de desenvolvimento local, no qual se valorizam, ao mesmo
tempo, os conhecimentos académicos dos mais jovens e os conhecimentos experienciais e vivências
dos adultos da comunidade. O modelo pedagógico deste projeto assume, portanto, a educação não
formal, a cooperação intergeracional, bem como a participação e a valorização dos recursos
humanos locais como elementos estruturantes (Nico & Nico, 2016).

Outro exemplo de educação não formal (e também informal) e de desenvolvimento


comunitário, foi o projeto realizado em Cachopo (situado no Algarve), que ocorreu entre 1985 e
2003, em conjunto com a associação In Loco. Esta era uma área desfavorecida, com vários
problemas de diferentes naturezas como: a quase estagnação total da economia local, graves
problemas nas instruturas e nos serviços básicos da população, altas taxas de analfabetismo, entre
outros. Com as atividades realizadas de forma a tentar solucionar alguns dos problemas, a
comunidade aprendeu e desenvolveu algumas competências, como: “(…) learning about
bookkeeping (…) learning about graphic design (…) English (…).” (Fragoso, 2014, p.135).

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3.3. EDUCAÇÃO DE ADULTOS NO DESENVOLVIMENTO LOCAL: AS
MODALIDADES DE EDUCAÇÃO NÃO FORMAL E INFORMAL

A história da consolidação e difusão de um campo de práticas educativas é indissociável da


afirmação e desenvolvimento do campo da formação de adultos (Canário, 2006). Por sua vez, o
relacionamento entre as modalidades de educação não formal e informal com o desenvolvimento
comunitário/local, permite estabelecer uma relação evidente entre os campos de desenvolvimento
local e a educação de adultos.
Ambos os conceitos (educação de adultos e desenvolvimento local) caraterizam-se pela
multiplicidade de perspetivas e pela diversidade de práticas, bem como por uma transformação
contínua. Na articulação entre desenvolvimento local e educação de adultos, as influências e
contributos de um e de outro campo são encaradas de diferentes formas por diferentes autores.
Como defende José Albino, “a escola dominante é centralizadora, burocratizada, criadora de
exclusão social (…). Esta situação terá de ser alterada radicalmente: a Escola e a Educação de
Adultos têm um papel essencial a desempenhar no espírito empreendedor e na formação para a
cidadania ativa e solidária (2004, p.34, citado por Segurado, 2017).
Tal como o desenvolvimento local e como a escola, a educação de adultos carrega consigo uma
perspetiva de educação emancipatória, que tem como objetivo promover junto das comunidades a
superação de condições que lhes são impostas (como a alienação, a exploração, a inação, entre
outras). Na mesma linha de pensamento e tendo em conta a constituição de círculos de cultura junto
das pessoas e grupos que num determinado território sentem exclusão ou perda de condições de
vida, Alberto Melo (2005, citado por Segurado, 2017) refere que “(…) é fundamental que a
população interessada, afetada por estas situações, possa compreender cada vez mais esta
abordagem, possa, de certo modo, participar na análise das situações, até em escolhas de estratégias,
(…) é fundamental interessar e integrar cada vez mais as populações do território nestes debates.
(….) formarmos cidadãos cada vez mais informados, mais conscientes e, por ventura também, mais
ativos. (…) o Desenvolvimento Local tem sido e continua a ser, e eu creio que será cada vez mais,
uma escola de democracia.” (p. 107).
Por sua vez, Canário (2013, citado por Segurado, 2017) assume o desenvolvimento local como
um processo educativo inserido no vasto e complexo campo da educação de adultos. O mesmo
autor afirma que “Os processos de desenvolvimento local perspetivam-se como processos
educativos, globalizados a nível local, capazes de colocar o enfoque nos processos de
aprendizagem, valorizando os conhecimentos experienciais, a interação coletiva na resolução de
problemas locais. É este o ponto de partida para instituir dinâmicas locais, simultaneamente
educativas e de desenvolvimento” (p. 64).
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Canário (2013, citado por Segurado, 2017) defende, desta forma, o conceito de
desenvolvimento local no subconjunto de práticas educativas no campo da educação de adultos,
promotor da implicação e participação dos membros de uma comunidade no seu próprio processo
de desenvolvimento, em articulação com o desenvolvimento de um processo educativo. As
caraterísticas de complexidade e multiplicidade mencionadas anteriormente levam a que este autor
verifique que “(…) os processos de desenvolvimento local participativo se instituem como
momentos de síntese dos diferentes polos que definem a educação de adultos (animação,
alfabetização, formação profissional” (p.15). Neste seguimento, a “educação entendida como um
factor estratégico de desenvolvimento e de progresso” (p.59), tem sido naturalmente associada ao
conceito de desenvolvimento local, assumindo diferentes formas e tipologias.
Ainda por outro lado, Alberto Melo (2012, citado por Segurado, 2017) assume a educação de
adultos como um processo decorrente do desenvolvimento local: “Quando se faz, com efeito, a
História da Educação de Adultos, não sobressaem já (como nos demais sectores do sistema de
ensino) as reformas atribuídas a este pensador ou àquele ministro, mas sobretudo as ações
desenvolvidas por uma comunidade local, por um sindicato ou outro movimento social” (p. 104).
Em síntese, os autores anteriormente citados, defendem que o desenvolvimento local tem como
objetivo responder a necessidades e problemas de uma comunidade, com o intuito de as minimizar
e/ou resolver, recorrendo à mobilização dos recursos endógenos de uma forma sustentável e
gradualmente autónoma. Desta forma, acaba por ser gerada uma intervenção comunitária que
pretende ser uma melhoria e evolução, se possível, para todos os membros. Esta transformação atua
através do potencial educativo inscrito no conceito de desenvolvimento local. Neste sentido, os
autores afirmam que o desenvolvimento local procura um verdadeiro e íntegro progresso,
promovido por atores diversos como animadores socioculturais, educadores, dirigentes associativos,
entre outros, que se constituem como agentes mediadores entre os elementos das comunidades, as
instituições e as autoridades que as regem, procurando um certo equilíbrio, nomeadamente a
autonomia crescente dos mais frágeis e desprotegidos. Uma das formas de garantir esta autonomia e
independência por parte das comunidades, é consolidada através da educação, que permite
consciencializar acerca da realidade e, por sua vez, estimular o envolvimento e a participação das
pessoas no seu processo de desenvolvimento pessoal e local (Segurado, 2017).
Para ser possível situar uma ação educativa no desenvolvimento local é necessário que essa
ação consista num projeto de intervenção que englobe grupos de pessoas numa determinada
comunidade, com finalidades bem definidas e negociadas. Além disso, é imperativo que os
elementos culturais dessa população sejam o ponto de partida da ação não só ao início, como ao
longo da mesma, em relação, nomeadamente: aos tipos de problemas que preferem abordar; na
escola do tema das ações educativas/formativas; na criação e definição dos conteúdos e
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metodologias a aplicar na ação; na participação que a população deve ter em todo o processo, entre
outros aspetos (Fragoso, 2005). Para que a ação tenha êxito, é necessário perceber os
conhecimentos locais que a população possui, no geral, para a partir dessa informação, promover a
criação de um tipo de conhecimento que se adeque ao problema em causa e às dinâmicas de
transformação social que os processos globais de desenvolvimento local pretendem atingir. Isto
porque já se verificou que as pessoas aprendem com mais facilidade ao partir do seu próprio
ambiente e contexto e, ao mesmo tempo, valoriza-se as vivências das populações para atingir outras
finalidades. Além disso, destaca-se também o facto de que as ações educativas devam perseguir
métodos participativos para o desenvolvimento local, pois sem a participação da população na
própria ação, não faz sentido utilizar as vivências e experiências como forma de melhoria e
evolução. Isto faz com que, por exemplo, as pessoas tenham uma opinião a dar sobre as suas
próprias formações, que possam pronunciar-se sobre a sua criação, os conteúdos, as metodologias
usadas e até a própria avaliação (Fragoso, 2005). Saber como aprendem as pessoas envolvidas nas
várias áreas do desenvolvimento local é uma mais valia para o sucesso das ações educativas que
pretendem atender às necessidades e/ou problemas sentidos por essas mesmas pessoas.

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Reflexão Final

O presente trabalho visava explorar a importância do não formal e informal na educação e


desenvolvimento comunitário/local. Ao longo do trabalho, foram apresentados vários pontos de
vista de vários autores que, no seu conjunto, dão a entender a importância da educação formal e
informal por si só, ou seja, destacam a importância destes duas modalidades educativas pelo simples
facto de haver muito mais para aprender, do que apenas os saberes transmitidos formalmente nas
escolas.
Tendo em conta todas as perspetivas apresentadas ao longo do trabalho, cheguei à conclusão de
que a educação não formal e informal desempenham um papel bastante importante no que diz
respeito ao desenvolvimento comunitário/local, na medida em que é a própria educação que facilita
e permite o desenvolvimento das comunidades, bem como a preparação das mesmas para participar
no desenvolvimento nacional e global. Tal como foi referido anteriormente, a educação permite
também estimular o espírito de iniciativa, de criatividade e o desejo de participar ativamente na vida
em comunidade, abrangendo uma capacitação tanto a nível pessoal como a nível local.
Posto isto, é óbvia a relação existente entre educação e desenvolvimento, tendo em conta que a
sua finalidade na sociedade acaba por ser quase a mesma: melhorar as condições de vida da
comunidade.

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Referências Bibliográficas

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prática e da prática à teoria. Desenvolvimento e Saúde em África. 3, 37-70. Disponível em:
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