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Psicologia: Ciência e Profissão 2022 v. 42, e233201, 1-15.

https://doi.org/10.1590/1982-3703003233201 Artigo

Psicologia Social do Protesto: Um Panorama


Teórico a partir da Realidade Brasileira

Leandro Amorim Rosa1 Bert Klandermans2


1
Universidade Federal do Acre, 2
Vrije Universiteit Amsterdam,
AC, Brasil. Holanda do Norte, Holanda.

Resumo: Este artigo objetiva apresentar as principais contribuições da psicologia social


do protesto articulando tal proposta a ações coletivas e movimentos sociais brasileiros.
A psicologia social do protesto tem como foco de análise o comportamento social dos
indivíduos e sua questão central é o entendimento da razão pela qual as pessoas participam
ou não de protestos. Suas origens remetem à dimensão psicossocial das teorias clássicas
de movimentos sociais: teoria do colapso social; teoria da mobilização de recursos;
teoria do processo político; e teoria dos novos movimentos sociais. São identificados três
grandes motivos para a participação dos indivíduos em movimentos sociais e protestos:
instrumentalidade; identidade; expressividade e emoções. A partir desses motivos é
realizada uma análise que aborda a dimensão dos sujeitos (lado da demanda), a dimensão
dos movimentos e organizações (lado da oferta) e a articulação entre elas (mobilização).
Além de apresentar a teoria, o texto busca ilustrar proposições da psicologia social do protesto
por meio de elementos da realidade política brasileira. Entende-se que a psicologia social do
protesto pode contribuir para o entendimento e a ação em movimentos sociais no contexto
brasileiro e latino-americano instrumentalizando acadêmicos, psicólogas e militantes.
Palavras-chave: Movimento social, Psicologia, Participação política, Ação coletiva.

Social Psychology of Protest: A Theoretical Panorama Based on Brazilian Reality

Abstract: This article aims to present the main principles of the social psychology of
protest articulating this proposal with collective actions and social movements in Brazil.
The social psychology of protest aims to analyze the individuals’ social behavior and its central
question is understanding the reasons why people participate or not in protests. Its origins
go back to the psychosocial dimension of the classic theories of social movements: societal
breakdown theories; resource mobilization theory; political process theory; and new social
movements theory. We identified three main motives for the participation of individuals in
social movements and protests: instrumentality, identity, and expressiveness and emotions.
From these motives we made an analysis that addresses the dimension of the subjects
(the demand-side), the dimension of the movements and organizations (supply-side) and the
articulation between them (mobilization). In addition to presenting the theory, the text seeks
to illustrate propositions of social psychology of protest by using elements of the Brazilian
political reality. We understand that the social psychology of protest can contribute to the
understanding and action in social movements in the Brazilian and Latin American context by
equipping academics, psychologists, and activists.
Keywords: Social movement, Psychology, Political participation, Collective action.

Disponível em www.scielo.br/pcp
Psicologia: Ciência e Profissão 2022 v. 42, e233201, 1-15.

Psicología Social de la Protesta: Un Panorama


Teórico desde la Realidad Brasileña

Resumen: Este artículo tiene como objetivo presentar las principales contribuciones de la
psicología social de la protesta, articulándolas a las acciones colectivas y los movimientos
sociales brasileños. La psicología social de la protesta se centra en el análisis del comportamiento
social de los individuos y su eje principal es la comprensión de por qué las personas participan o
no en las protestas. Sus orígenes se refieren a la dimensión psicosocial de las teorías clásicas de
los movimientos sociales: teoría del colapso social; teoría de movilización de recursos; teoría del
proceso político; y teoría de nuevos movimientos sociales. Se identifican tres razones principales
para la participación de individuos en movimientos sociales y protestas: instrumentalidad;
identidad; expresividad y emociones. Se realiza un análisis que aborda la dimensión de los sujetos
(lado de la demanda), la dimensión de los movimientos y las organizaciones (lado de la oferta)
y la articulación entre ellos (movilización). Además de presentar la teoría, este texto pretende
ilustrar proposiciones de la psicología social de la protesta con elementos de la realidad política
brasileña. Se entiende que la psicología social de la protesta puede contribuir a la comprensión
y la acción en los movimientos sociales en el contexto brasileño y latinoamericano, equipando
académicos, psicólogos y activistas.
Palabras clave: Movimiento social, Psicología, Participación política, Acción colectiva.

Introdução “Por qual razão algumas pessoas participam e


Os estudos acadêmicos sobre movimentos outras não?”. Essa é a pergunta fundante da psicologia
sociais e protestos têm uma história de mais de um social do protesto em seus estudos sobre movimentos
século (Tarrow, 2009). No decorrer desse período, as sociais. Entender os elementos e processos que acar-
propostas conceituais e analíticas transformaram-se retam a participação dos sujeitos é o objetivo que per-
significativamente e assumiram um caráter interdis- passa toda a abordagem, que toma o indivíduo como
ciplinar. Sociologia, ciências políticas, história, antro- unidade de análise e se utiliza predominantemente de
pologia e psicologia estão entre as disciplinas que variáveis subjetivas (Van Stekelenburg & Klandermans,
objetivam pensar sobre tais fenômenos (Roggeband & 2010). Os estudos em psicologia social têm como pre-
Klandermans, 2017). missa que vivemos em um mundo percebido, ou seja,
Assim como outros campos acadêmicos, a psi- respondemos ao ambiente de acordo com a forma
cologia social comporta diversas escolas e diferen- como o percebemos e o interpretamos. Em um mesmo
tes abordagens. O presente trabalho terá como foco contexto, pessoas diferentes pensam, sentem e agem de
a chamada psicologia social do protesto, proposta forma diversa, e tais diferenças de percepção em muito
elaborada e desenvolvida pelo grupo de pesquisa se devem à inserção social dos sujeitos. Buscar enten-
liderado pelo professor Klandermans. Tal grupo, der porque pessoas em situações aparentemente muito
sediado na Vrije Universiteit Amsterdam, desen- semelhantes optam por engajar-se politicamente ou
volve estudos psicossociais sobre participação não é a pedra angular da psicologia social do protesto.
política e movimentos sociais desde os anos 1970. O presente texto definirá movimentos sociais em
A psicologia social do protesto visa fornecer contri- consonância com Tarrow, que escreve a partir dos tra-
buições ao campo a partir de seu foco específico: balhos de Charles Tilly. Segundo Tarrow (2009, p. 21),
o comportamento social dos indivíduos. Ainda que movimentos sociais são “desafios coletivos baseados
não tenha caráter ortodoxo, as principais raízes teó- em objetivos comuns e solidariedade social numa
ricas e epistemológicas da abordagem remetem à interação sustentada com as elites, opositores e auto-
psicologia social cognitiva (Ostrom, 1984). ridades”. Por sua vez, protestos são formas de ação

2
Rosa, L. A., & Klandermans, B. (2022). Psicologia social do protesto.

coletiva definidos como “qualquer ocupação tempo- Teorias dos movimentos sociais
rária por várias pessoas de um espaço aberto, público A partir do final do século XIX, pesquisadores
ou privado, que diretamente ou indiretamente inclui a começam a propor explicações para o entendimento
expressão de opiniões políticas”1 (Fillieule, 1997, p. 44, de manifestações e movimentos de massa que ocor-
tradução nossa). A partir das definições apresentadas, riam naquele período. Um dos pioneiros nesse campo
entende-se que protestos podem ser tidos como per- foi Le Bon (1954), que propõe a chamada psicologia
tencentes ao repertório de ação de movimentos sociais. das massas. Segundo o pensador francês, os indivíduos
Desde 2013 – e suas Jornadas de Junho (Harvey, 2013; em grupo perderiam sua racionalidade e se tornariam
Pinto, 2017) –, o Brasil tem experienciado um período impulsivos e manipuláveis. Juntos a Le Bon, outros
significativo de movimentos e protestos: demonstrações autores viriam também compor a escola que aglutina-
contrárias à realização da copa do mundo de 2014; pro- ria as chamadas teorias do colapso social 2 (Blumer, 1969;
cesso de impeachment da presidenta Dilma Rousseff; Gurr, 1970; Hoffer, 1951; Kornhauser, 1959; Smelser,
ocupações estudantis; demonstrações contrárias à ges- 1971; Toch, 1966). Ainda que de maneiras e níveis de
tão de Michel Temer; greve dos caminhoneiros; atos complexidade diversos, tais autores defendiam que as
favoráveis e contrários à campanha do então candidato mobilizações e protestos se davam em razão de mudan-
à presidência Jair M. Bolsonaro, entre outros. Entender ças sociais e do colapso dos vínculos e arranjos sociais
a dinâmica que envolve mobilizações como estas é de associados a tais mudanças. Segundo essas teorias,
grande importância no atual cenário político nacional. as queixas que emergem em momentos de mudança
Certamente as ciências sociais contribuem fundamen- social seriam elemento central para o entendimento da
talmente para o entendimento desses fenômenos, entre- participação em protestos.
tanto, a área da psicologia social e política tem também Ao focar nas queixas, as teorias do colapso social
desenvolvido relevante trabalho sobre tais temáticas possibilitaram o desenvolvimento de uma dimen-
(Silva & Corrêa, 2015). são psicossocial nos estudos da participação polí-
Dessa forma, propomos, por meio do presente tra- tica. Propostas como a teoria da privação relativa
balho, abordar os principais conceitos e propostas que (Runciman, 1966) e a hipótese frustração-agressão
têm sido desenvolvidos no campo da psicologia social (Berkowitz, 1972) comporiam a explicação sobre o
do protesto. Objetivamos com isso contribuir para a engajamento dos indivíduos em movimentos sociais.
discussão e entendimento de processos de participação Klandermans (1997), baseado em tais teorias, propõe
política em movimentos sociais brasileiros, assim como que a participação em protestos estaria vinculada a
subsidiar possíveis ações de psicólogas(os) e militantes um sentimento de injustiça composto por uma per-
de movimentos democráticos, promotores de cidada- cepção de desigualdade ilegítima, queixas repentina-
nia e direitos humanos. Metodologicamente, o texto é mente impostas e indignação moral.
estruturado de forma a apresentar a psicologia social do As queixas são sem dúvidas essenciais para o pro-
protesto e ilustrar suas proposições a partir de elemen- cesso de mobilização, no entanto, elas por si só não
tos da realidade política brasileira. Importante ressaltar são o bastante. Por exemplo, segundo dados3 de 2018,
que o foco do artigo não é analisar as várias situações o déficit habitacional na cidade de São Paulo seria de
abordadas, mas sim utilizá-las como casos que poten- 358 mil moradias, mas apenas uma parte ínfima das
cializem o entendimento da teoria apresentada. Assim, pessoas afetadas por este déficit se mobiliza em movi-
optou-se por recorrer a uma maior gama de exemplos mentos de luta pelo direito a habitação.
vinculados a diferentes cenários políticos. Entendemos A partir do final dos anos 1960, surgem novas
que tal abordagem impossibilita que os exemplos se- propostas de entendimento de movimentos sociais.
jam discutidos e analisados em profundidade, porém, A luta por direitos civis nos EUA e as grandes mani-
a diversidade dos casos visa evidenciar as contribuições festações na Europa levaram acadêmicos a reavalia-
que a teoria pode fornecer em diferentes contextos. rem seus modelos. Emerge neste contexto a chamada

1
No original: “toute occupation momentanée par plusieurs de personnes d’un lieu ouvert, public ou privé et qui comporte directement
ou indirectement l’expression d’opinions politiques”.
2
Societal breakdown theories.
3
Dados da Secretaria Municipal de Habitação de São Paulo.

3
Psicologia: Ciência e Profissão 2022 v. 42, e233201, 1-15.

teoria da mobilização de recursos (TMR). Segundo a racional de aderir ou não ao movimento passa pela per-
TMR (McCarthy & Zald, 1973; Olson, 1965), não bastam cepção e interpretação de tais recursos pelos indivíduos.
pessoas queixosas para a formação de um movimento A adoção da perspectiva racionalista cria um dos
social, pois também seriam necessários recursos – grandes dilemas relacionados à participação em movi-
humanos e materiais – para tal. Nesta proposta, os indi- mentos sociais, o dilema dos caronistas. Vários movi-
víduos não seriam levados à participação por pulsões mentos sociais têm reivindicações que vão além de seus
irracionais ou pela mera manipulação de uma lide- participantes diretos. Assim, muitas pessoas podem se
rança. Ao contrário, o engajamento em um movimento beneficiar dos ganhos do movimento sem sequer ter
social se daria pela racionalidade instrumental base- dele participado ou mesmo o apoiado. Essas pessoas
ada em cálculos de custos e benefícios. Retomando o são os caronistas. Como explicar, a partir de uma pers-
exemplo do déficit habitacional, a TMR diria que não pectiva racionalista instrumental, que determinadas
basta existir a queixa ou problema, é necessário que pessoas se neguem a “pegar carona” no movimento e,
os indivíduos sintam que há recursos suficientes para ao contrário, se dediquem à militância e até mesmo
que haja êxito no movimento. Neste caso, as pessoas coloquem suas vidas em risco em algumas situações?
precisam confiar na organização de luta por moradia, Na tentativa de evitar caronistas, algumas orga-
assim como em seus repertórios de ação e em sua efi- nizações condicionam os possíveis ganhos dos movi-
cácia (Rodrigues, 2002). Os indivíduos avaliariam os mentos sociais a uma participação mínima dos indi-
elementos favoráveis e contrários a sua participação e, víduos. É comum no Movimento dos Trabalhadores
a partir de um cálculo racional, decidiriam participar Sem Teto (MTST) o condicionamento da conquista do
ou não do movimento. A TMR nega a irracionalidade lar à participação em atividades e presença nos acam-
com que as ações coletivas eram predominantemente pamentos (Rodrigues, 2002). No entanto, o dilema
entendidas até então e propõe um modelo racionalista. persiste, pois nem todos os movimentos podem se
Para essa abordagem, abolir a concepção de irraciona- organizar dessa forma. Por exemplo, a luta contra o
lidade vinculada aos movimentos significava abolir as reajuste do valor das passagens de ônibus em 2015,
emoções de seu modelo teórico. que resultou nas Jornadas de Junho, fez com que hou-
A psicologia social estava, até então, relacionada vesse um recuo no preço do transporte coletivo para
fortemente às teorias da queixa. Assim, a crise des- todas e todos – participantes ou não dos protestos.
sas teorias acarretou também a crise entre as referên- Ainda sabendo que a vitória se estenderia a partici-
cias psicossociais que se propunham a entender os pantes ou não das jornadas, muitas pessoas se propu-
movimentos sociais. Klandermans (1984) propõe uma seram a estar nas ruas oferecendo seu tempo, energia
expansão psicossocial da teoria da mobilização de e colocando-se, em alguns momentos, em risco físico.
recursos, que visava explicar a razão de certas pessoas Também negando o caráter irracional anterior-
lesadas participarem em protestos enquanto outras, mente proposto nos estudos dos movimentos sociais,
também lesadas, optam por não participar. O centro a teoria do processo político (TPP) foca em elementos
da expansão psicossocial da TMR funda-se na “expec- macrossociais que compõem as oportunidades políticas
tativa do indivíduo de que determinados resultados em determinado momento histórico (McAdam, 1982).
irão se materializar, multiplicada pelo valor daque- Além das queixas e dos recursos disponíveis, também são
les resultados para o indivíduo”4 (Van Stekelenburg evidenciadas como relevantes as oportunidades políticas
& Klandermans, 2017, p.  107, tradução nossa). Como existentes em um contexto específico5. No cenário brasi-
é evidente, a proposta se baseia na premissa de que, leiro, Boschi (1987) se propõe a analisar as manifestações
para entender os comportamentos dos indivíduos, ocorridas entre o final da década de 1970 e meados da
mais do que apenas o ambiente objetivo, faz-se neces- década de 1980. O entendimento desses movimentos
sário avaliar suas percepções e interpretações de dado passa pela compreensão do contexto político brasileiro
contexto. Os recursos são necessários, mas a decisão mais amplo, vinculado ao período de redemocratização

4
No original: “. . . the individual’s expectation that specific outcomes will materialize, multiplied by the value of those outcomes for
the individual”.
5
Tilly (1978) distingue sistemas políticos em termos de “repressão” e “facilitação”. O autor se refere, respectivamente, a sistemas que
diminuem ou aumentam o custo da participação política.

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Rosa, L. A., & Klandermans, B. (2022). Psicologia social do protesto.

do país. As oportunidades políticas proporcionadas por No que se refere ao campo da psicologia social,
determinada conjuntura histórica tornam-se cruciais no a TNMS faz emergir um elemento central à discus-
entendimento da mobilização política. são psicossocial, a identidade. A partir dos anos 1980,
Diante das elaborações advindas da TMR e da a instrumentalidade expressa nas queixas, recursos
TPP, a psicologia social propõe utilizar o conceito de e oportunidades mostrava-se ainda insuficiente para
eficácia para entender a decisão dos indivíduos em o entendimento do engajamento político. A ideia de
participar ou não de um movimento social. A eficá- identidade coletiva, então, surge como elemento fun-
cia diz respeito às expectativas dos indivíduos rela- damental para o processo de participação em movi-
cionadas à possibilidade de a ação coletiva de fato mentos sociais e protestos. Importante ressaltar que
gerar alguma mudança nas condições e políticas as abordagens aqui apresentadas, mais do que con-
vigentes (Gamson, 1992). Quanto mais um indivíduo correntes entre si, devem ser entendidas como com-
acredita que determinado protesto será eficaz, maio- plementares. Segundo Klandermans (1997, p.  205,
res as chances de ele participar. Essa eficácia é com- tradução nossa, grifos do autor original):
posta essencialmente pela percepção dos recursos e
oportunidades presentes em determinado contexto. Obviamente, queixas não são razões suficientes
Sandoval (2001) mostra como o contexto de neolibe- para movimentos sociais se desenvolverem,
ralização e globalização, a partir dos anos 1990, afetou ou para indivíduos participarem em movimen-
a eficácia política de muitos trabalhadores brasileiros. tos sociais. Certamente, recursos e oportunida-
Segundo o autor, ao atribuir as causas das queixas a des são importantes para entender porque certas
entidades transcendentais (ondas internacionais de populações lesadas se mobilizam e outras não.
neoliberalismo e globalização), o sentimento de efi- E, com certeza, indivíduos geram uma identidade
cácia é reduzido abruptamente, pois a possibilidade comum quando eles dividem queixas e agem
de afetar tais entidades é quase inexistente. Diante de coletivamente. Mas isso não justifica nenhum
tal cenário, a propensão a participar de uma greve cai direito exclusivo de domínio6.
de forma significativa, como demonstra sua pesquisa.
Uma quarta abordagem nos estudos dos movimen-
tos sociais ainda merece destaque. A teoria dos novos
movimentos sociais (TNMS) não constitui uma escola Motivos para participação
coesa, mas pode ser classificada de forma ampla como Segundo Van Stekelenburg e Klandermans
uma abordagem que propõe uma interpretação de fato (2017, p. 122), “motivação é o desejo de atingir um obje-
cultural para os movimentos (Alonso, 2009). Diferentes tivo combinado com a energia para trabalhar em dire-
referenciais da TNMS (Eyerman & Jamison, 1991; Morris ção a tal objetivo”7. A psicologia social do protesto tem
& Mueller, 1992; Laraña, Johnson, & Gusfield, 1994), como uma de suas grandes metas a busca dos motivos
mesmo que de forma diversa, colocam como centrais que levam as pessoas a se engajarem em uma ação
a construção de sentidos, formação de identidade e coletiva. O primeiro motivo central proposto pelos
a cultura. A TNMS foi, entre as teorias abordadas até psicólogos sociais do protesto foi a instrumentali-
então, a que mais se propagou na América Latina até dade. As pessoas participariam ou não de movimentos
o início do século XXI (Alonso, 2009). No Brasil, pode- sociais baseados em um cálculo de custo e benefício;
mos destacar a obra Quando novos personagens entra- este cálculo teria como componentes principalmente
ram em cena de Eder Sader. Sob influência de Touraine, a percepção sobre os recursos dos movimentos e as
Sader (1988) analisa movimentos sociais de São Paulo oportunidades políticas presentes em certo contexto.
entre 1970 e 1980 e demonstra como tais movimentos Diante da percepção dos recursos e oportunida-
trazem à luz novos sujeitos políticos fundamentais para des, emergiria (ou não) o sentimento de eficácia dos
o processo de redemocratização do país. indivíduos em relação a suprir determinada queixa.

6
No original: “Obviously, grievances are not sufficient reasons for social movements to develop, or for individuals to participate in
social movements. Certainly, resources and opportunities are important to understand why some aggrieved populations do mobilize
and others don’t. And indeed, individuals do generate a common identity when they come to share grievances and act collectively.
But this doesn’t justify any exclusive right to the domain”.
7
No original: “Motivation is the desire to achieve a goal, combined with the energy to work towards that goal”.

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Psicologia: Ciência e Profissão 2022 v. 42, e233201, 1-15.

No entanto, com o tempo, a instrumentalidade passa naquelas condições extremas. Em seu relato, ela diz
a mostrar-se insuficiente para o entendimento da par- que não poderia deixar aquelas pessoas, pois havia
ticipação em protestos. sido acolhida por elas desde a sua chegada ao acam-
Retomamos aqui o já citado dilema do caronista. pamento. Maria diz que era capaz de sentir o amor de
A partir de abordagens instrumentais o dilema torna- seus companheiros de movimento. Ela define o movi-
-se de difícil solução. Olson (1965) propõe que incen- mento como sua família9 e diz que não a abandonaria.
tivos seletivos poderiam ajudar a tornar o cálculo de A instrumentalidade relacionada à conquista da terra,
custo e benefícios favorável à participação. Diferentes certamente compõe a motivação de Maria para par-
dos incentivos coletivos, que se relacionam a ganhos
ticipar do movimento social, no entanto, este motivo
de bens públicos, os incentivos seletivos estão vin-
não explica de forma suficiente seu engajamento.
culados a meios de ação atrativos para os sujeitos.
O caso de Maria nos ajuda a perceber as difi-
Por exemplo, o incentivo coletivo ligado à luta pelo
culdades encontradas pelas abordagens exclusiva-
direito à diversidade sexual e de gênero pode ser mais
mente instrumentalistas. A proposta de Olson (1965)
ou menos atrativo, mas dificilmente é capaz, por si
mostra-se muito pertinente para explicar porque
só, de mobilizar centenas de milhares de pessoas em
um evento. No entanto, quando tal incentivo coletivo as pessoas não participariam de mobilizações, mas
é combinado com incentivos seletivos como shows pouco eficaz para explicar a participação. Nos relatos
e trios elétricos – como é o caso da parada LGBT de de Maria evidencia-se a importância dos vínculos e
São Paulo – o movimento é capaz de conseguir a ade- da solidariedade existentes entre ela e outros mem-
são de centenas de milhares de pessoas8 (Silva, 2008). bros da organização. Uma das grandes críticas feitas
Mesmo com a adoção do conceito de incentivos a Olson é a forma como seu modelo toma os indiví-
seletivos, o dilema do caronista mostra-se de difícil duos como seres que decidem e agem isoladamente.
solução pelos modelos racionalistas e instrumentais. Como o exemplo de Maria evidencia, as pessoas cons-
O caso da militante sem-terra Maria ilustra tal difi- troem vínculos com as outras, agem e decidem den-
culdade (Rosa, 2017). Maria estava grávida e morava tro de determinadas redes sociais. Gradativamente
com seus outros oito filhos em um acampamento um novo motivo passa a ser entendido como funda-
vinculado ao Movimento dos Trabalhadores Rurais mental para o engajamento em movimentos sociais:
Sem Terra (MST) no interior paulista. Os moradores a identidade coletiva.
deste acampamento foram despejados de seus barra- Muitos movimentos levam anos para con-
cos pela polícia, que cumpria uma ordem de reinte- seguir suas reivindicações, isto quando as alcan-
gração de posse. Os ex-acampados não tinham para
çam. Apenas avaliações de custos e benefícios não
onde ir; foram levados para um colégio onde fica-
poderiam explicar o engajamento em movimentos
riam temporariamente. Maria havia tido seu nono
sociais de forma adequada. Neste contexto surge,
filho pouco tempo antes da reintegração de posse.
como uma forte proposta para compor tal expli-
Suas companheiras e companheiros disseram para
cação, a identidade coletiva, entendida como um
que ela fosse com seus filhos passar um tempo com
motivo que fundamenta todo o processo de engaja-
alguns parentes. Segundo eles, ela deveria descan-
sar e cuidar do recém-nascido. Os membros do MST mento em protestos. Polletta e Jaspers (2001, p. 285)
asseguraram que Maria teria garantido seu direito a definem identidade coletiva como
um lote mesmo ficando afastada do movimento por
algum tempo. Ou seja, Maria poderia optar por uma . . . uma conexão cognitiva, moral e emocional de
situação de evidente maior conforto e segurança para um indivíduo com uma comunidade mais ampla,
sua família sem ter prejuízo algum; seria uma situação categoria, prática ou instituição. É a percepção de
típica de carona. No entanto, Maria optou por perma- uma condição ou relação partilhadas, a qual pode
necer com os companheiros do movimento mesmo ser imaginada mais que experienciada direta-

8
Segundo organizadores da parada LGBT de São Paulo, o evento contou com a participação de 3 milhões de pessoas em 2018.
9
A identificação do movimento como família está presente em outros trabalhos. Consultar Tristan (1987) e Orfali (1990).

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Rosa, L. A., & Klandermans, B. (2022). Psicologia social do protesto.

mente, e é distinta das identidades pessoais, ainda a concepção de movimentos sociais como ações cole-
que possa fazer parte de uma identidade pessoal10. tivas irracionais, os teóricos da TMR e TPP acabaram
negligenciando o papel desenvolvido pelas emoções
No entanto, apenas a existência de uma identidade no processo de participação política. Seja por meio do
coletiva não acarreta inevitavelmente a participação modelo racionalista ou do modelo estruturalistas, as
em uma ação coletiva. É necessário que tal identidade duas escolas praticamente baniram as emoções de suas
seja politizada. Três elementos diferem uma identi- propostas (Jasper, 2011). Por sua vez, a TNMS deu novo
dade coletiva politizada de uma não politizada (van espaço às emoções e à expressividade. Aos poucos, emo-
Stekelenburg & Klandermans, 2017). Primeiramente, ções e racionalidade deixam de ser entendidas como
a identidade coletiva politizada implica em um maior elementos contrastantes e dicotômicos. Surge, então,
nível de consciência, ou seja, implica que os membros o terceiro motivo presente no modelo de participação da
do grupo tenham uma maior compreensão do mundo psicologia social do protesto: a expressividade e emoção.
social ao seu redor e do lugar ocupado por eles neste Muitos estudos empíricos têm destacado a
mundo. Em segundo lugar, identidades coletivas poli- raiva como uma emoção fundamental para o pro-
tizadas proporcionam uma visão antagonista para a cesso de participação em protestos (Jasper, 2011;
interpretação das relações sociais. Isto é, outros grupos Van Stekelenburg & Klandermans, 2010; Van Troost, Van
sociais são classificados como aliados ou adversários Stekelenburg, & Klandermans, 2013). Importante desta-
nas diferentes arenas políticas. O terceiro elemento diz car que a raiva à qual nos referimos é uma raiva predo-
respeito às consequências comportamentais da iden- minantemente baseada no grupo, ou seja, uma raiva que
tidade coletiva politizada. Indivíduos com identidades não está relacionada apenas ao indivíduo, mas a grupos
mais politizadas teriam maior probabilidade de partici- com os quais ele se identifica. A raiva leva as pessoas a
par em ações coletivas politicamente orientadas. terem posições mais desafiadoras diante de grupos opo-
Em resumo, a ideia básica relacionada à identi- sitores em comparação a emoções subordinadas como
dade coletiva e ao engajamento em movimentos sociais vergonha, desespero e medo. A raiva motiva as pessoas
é bastante simples: quanto maior a identificação com a lutarem contra os agentes entendidos como respon-
determinado grupo, mais provável será a participação sáveis pelas queixas do grupo, ela conduz as pessoas
em ações políticas de tal grupo. Várias evidências empí- a agir por justiça, retribuição ou vingança. Van Troost
ricas corroboram com tal hipótese (Kelly & Breinlinger, et al. (2013) destacam duas rotas emocionais de protesto.
1996; Simon et al., 1998; Klandermans, Sabucedo, A primeira é a “rota da raiva”, que está vinculada ao sen-
& Rodriguez, 2002). No Brasil, pesquisas têm abordado timento de eficácia dos sujeitos e conduz a demonstra-
o conceito de identidade coletiva em diferentes áreas. ções públicas lícitas. Por sua vez, a segunda é a “rota do
Camino et al. (1995) e Camino et al. (1998) demonstram, desprezo”, que leva a posições de “nada a perder” e, con-
em pesquisa realizada nos anos 1990, que a identifica- sequentemente, a repertórios mais violentos de ação.
ção partidária ainda desempenhava um papel relevante Essa segunda rota se manifesta geralmente quando os
no comportamento eleitoral dos brasileiros. A partir canais legítimos de protesto estão fechados e a situação
de uma perspectiva ético-estética, Maheirie (2002) é percebida como sem esperanças.
defende a importância da música popular brasileira As pessoas são motivadas a participar em movi-
como linguagem política capaz de mediar a construção mentos sociais e protestos, pois pretendem mudar
de identidades coletivas. Sandoval (2001) demonstra determinadas situações (instrumentalidade); pois
como a fragmentação da identidade coletiva entre tra- querem atuar como membros de certos grupos
balhadores brasileiros nos anos 1990 coloca-se como (identidade); mas também para expressar suas visões
um fator relevante de desmobilização do setor. de mundo e emoções. No contexto brasileiro, podemos
Desde a superação das teorias do colapso social, as tomar como exemplo as manifestações surgidas a par-
emoções foram, por algum tempo, negligenciadas nos tir do assassinato da vereadora e militante dos direitos
estudos dos movimentos sociais. Na tentativa de superar humanos Marielle Franco11. No dia 14 de março de 2018,

10
No original: “. . . an individual’s cognitive, moral, and emotional connection with a broader community, category, practice, or institution.
It is a perception of a shared status or relation, which may be imagined rather than experienced directly, and it is distinct from personal
identities, although it may form part of a personal identity”
11
Para mais informações consultar o endereço eletrônico https://www.mariellefranco.com.br/.

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Psicologia: Ciência e Profissão 2022 v. 42, e233201, 1-15.

Marielle e seu motorista Anderson Pedro Gomes dúvidas quanto à resolução do caso e muitos não
foram assassinados. As investigações têm relacio- faziam parte do partido de Marielle ou de seus grupos,
nado o crime a milícias da cidade do Rio de Janeiro mas ainda assim essas pessoas foram às ruas expres-
(Betim, 2021). Após o assassinado, várias manifesta- sar sua raiva e indignação diante do crime.
ções se espalharam pelo país. Segundo o partido da As vias propostas para a participação política em
vereadora (Partido Socialismo e Liberdade [Psol], movimentos sociais – instrumentalidade, identidade,
2018), no dia seguinte ao assassinato (15/03/2018) expressividade e emoções – não devem ser entendidas
havia atos marcados em doze cidades por todo o país. como modelos em disputa, mas trabalhadas em con-
Essas manifestações se dão por motivos instrumen- junto. Esses motivos compõem a motivação de grande
tais: as pessoas querem que o crime seja devidamente parte dos participantes em movimentos e protestos.
investigado e que os envolvidos sejam punidos. Em síntese, a instrumentalidade diz respeito à tenta-
Os atos também ocorrem por razões identitárias: mui- tiva de influenciar o ambiente político e social no qual
tas pessoas – mulheres, negras, pobres, lésbicas, pro- o sujeito se insere. A identidade se refere à identifica-
gressistas, militantes de direitos humanos, militantes ção do sujeito com um grupo como o motor da parti-
do mesmo partido que a vereadora etc. – se identifi- cipação em movimentos. E, por fim, a expressividade
cam como membros dos grupos que estão encam- e as emoções estão relacionadas ao desejo dos sujeitos
pando as ações e querem agir como parte deles. de expressar suas visões de mundo e liberar sua raiva e
No entanto, a participação nas manifestações tam- indignação contra alvos que os tenham atacado mate-
bém se fundamenta em forte sentimento de indig- rial ou simbolicamente.
nação moral despertado pelo covarde assassinato da A Figura 1 apresenta um esquema que sintetiza a
militante. Muitos dos participantes tinham grandes dinâmica dos motivos de participação em protestos.

Figura 1
Modelo integrativo de motivação para participação em protestos.

Motivação
Instrumental

Identidade Raiva beseada Força


no grupo motivacional

Motivação
expressiva

Fonte: van Stekelenburg e Klandermans (2017, tradução nossa).

Demanda, oferta e mobilização que aborde a dinâmica dessas diferentes dimen-


O processo de participação em um movimento sões, adotamos a metáfora da “oferta e demanda”
social não envolve apenas a análise da dimensão (Klandermans, 1997, 2015).
vinculada aos indivíduos que podem ou não se A demanda diz respeito ao potencial que deter-
engajar. Elementos como a organização dos movi- minado contexto social tem para o engajamento em
mentos e as oportunidades políticas presentes no um protesto específico. A oferta, por sua vez, refere-
contexto são indispensáveis para a compreensão -se às oportunidades oferecidas por organizações e
do processo. Na tentativa de produzir um modelo grupos para que tal protesto ocorra. A ligação entre

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Rosa, L. A., & Klandermans, B. (2022). Psicologia social do protesto.

a demanda e a oferta, que produz o protesto efetiva- do Instituto Datafolha de 2016, a tática de ocupa-
mente, se dá por meio do processo de mobilização. ção de escolas em defesa da educação pública foi
Continuando na metáfora econômica, podería- apoiada por cerca de 60% dos estudantes paulista-
mos entender a mobilização como o mecanismo nos, ou seja, mais da metade dos estudantes colo-
de “marketing” dos movimentos sociais, ou seja, caram-se a favor dos atos (Saldaña & Lazzeri, 2016).
é ela que vincula os potenciais (demanda) e as oportu- Aparentemente a mobilização-consenso havia sido
nidades (oferta) de participação. Em síntese, bem-sucedida entre os estudantes, isto é, havia um
grande número de simpatizantes ao movimento.
Dentro desse quadro, a participação em um No entanto, apenas aproximadamente 6% dos alu-
movimento social é o resultado de um pro- nos e alunas participou efetivamente das ações.
cesso de mobilização que traz a demanda por O número de pessoas simpatizantes normalmente
protestos políticos existente em uma socie- é muito maior do que o de pessoas que participam
dade ao encontro de uma oferta de oportuni- de fato das ações coletivas, pois os simpatizantes
dades para se tomar parte em protestos ofe- não se convertem instantaneamente em militan-
recida por movimentos sociais organizados tes ou participantes; para isso, faz-se necessária
(Klandermans, 2015, p. 126). a mobilização-ação.
A primeira questão dentro do processo de mobi-
Os motivos trabalhados no tópico anterior devem lização-ação se refere a quais simpatizantes serão
ser abordados a partir de cada um dos lados da dinâ- contatados para participar de determinada ação ou
mica exposta, ou seja, devemos entender como os quais serão atingidos pelas tentativas de mobiliza-
motivos – instrumentalidade, identidade e expressivi- ção de um movimento. Dada a necessidade de sigilo
dade e emoções – compõem a oferta e a demanda da sobre as ações de ocupações escolares de 2015, mui-
participação em protestos. tos dos estudantes sequer ficavam sabendo sobre os
Primeiramente, abordemos o elemento que atos antes que eles ocorressem. Assim, uma parte
liga o lado da oferta e o lado da demanda, ou seja, significativa de potenciais apoiadores foi impossibi-
a mobilização. O processo de mobilização deve ser litada de participar simplesmente por não ser infor-
dividido em mobilização-consenso e mobilização- mada sobre as ocupações. Ademais, dentre os infor-
ação. A mobilização-consenso refere-se à propaga- mados, nem todos se motivaram a participar. Mesmo
ção das ideias e posições defendidas por determinado sendo simpáticos à causa, muitos estudantes, por
movimento. No momento da mobilização-consenso, exemplo, temiam fortes repressões, sejam elas das
as pessoas são convencidas de que as causas que gestões escolares sejam da polícia. Após as ocu-
levam à ação coletiva são justas e os meios utiliza- pações ocorrerem, presumimos que praticamente
dos legítimos, ou seja, a mobilização-consenso visa todos os estudantes estavam informados sobre o
produzir simpatizantes. No entanto, tal convenci- ato, no entanto, ainda assim apenas uma parte mos-
mento ou simpatia não são bastantes para garantir trou-se motivada a participar. Por fim, mesmo den-
a participação em uma ação coletiva. Na tentativa tre aqueles simpatizantes, informados e motivados,
de garantir a participação dos sujeitos já simpa- alguns não efetivaram sua participação, pois foram
tizantes ao movimento, se dá a mobilização-ação impedidos por alguma barreira. Por exemplo,
(Klandermans & Oegema, 1987). uma razão da não participação muito presente
Podemos ilustrar o processo de mobilização nos relatos dos estudantes é a proibição dos pais.
por meio das ocupações estudantis paulistas de Assim, muitos apoiadores informados e motivados
2015, movimento que resultou na ocupação de não puderam ocupar suas escolas. Percebe-se que
mais de 200 escolas públicas de ensino funda- o processo de mobilização implica uma diminuição
mental e médio no estado de São Paulo12 (Campos, gradativa da quantidade de pessoas a cada etapa.
Medeiros, & Ribeiro, 2016). Segundo uma pesquisa A Figura 2 sintetiza as fases descritas acima.

12
Os estudantes reivindicavam o direito de serem ouvidos sobre a proposta de “reorganização” do ensino promovida pelo governo
estadual. A proposta do governo reorganizaria os ciclos de ensino das escolas estaduais e previa o fechamento de 92 escolas, afetando
diretamente cerca 311 mil estudantes e 74 mil professores.

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Figura 2
Processo de mobilização-ação.

Não
simpatizante

Não atingido

Simpatizante Não motivado

Não
Atingido participante

Motivado

Participante

Fonte: Klandermans & Oegema (1987, tradução nossa).

A cada um dos passos demonstrados na Figura 2, É exatamente a esses elementos que a oferta se rela-
a demanda e a oferta de participação se aproximam ciona quando aborda a instrumentalidade. As orga-
e, por fim, se encontram na participação concreta na nizações de movimentos sociais precisam “ofertar”
ação coletiva. Dentre os momentos expressos da figura, não só a luta em prol da resolução de certa queixa,
o primeiro e o terceiro são os mais interessantes psi- mas também a percepção de eficácia sobre tal luta,
cossocialmente. O processo de tornar um membro da ou seja, precisam demonstrar que o movimento possui
população geral um simpatizante do movimento e a recursos suficientes e que há oportunidades políticas
tentativa de motivar simpatizantes para participar de favoráveis. Outro fator importante relacionado à ins-
uma ação coletiva são questões diretamente relacio- trumentalidade ofertado pelas organizações são os já
nadas à psicologia social. Ao abordar tais questões – citados incentivos seletivos, que buscam tornar o cál-
em especial a segunda – retomamos a discussão sobre os culo de custo e benefício mais favorável à participação.
motivos da participação em movimentos sociais e pro- Ilustraremos a relação entre oferta e demanda a
testos. Discorreremos a seguir sobre cada um dos moti- partir da instrumentalidade utilizando-se da populari-
vos atrelados a cada dimensão de oferta ou demanda. dade do governo de Michel Temer (2016-2018). Segundo
No que diz respeito à instrumentalidade, o lado da pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha em junho
demanda refere-se às queixas de determinados indi- de 2018, a gestão Temer era reprovada por 82% dos bra-
víduos sobre sua atual situação. As pessoas “deman- sileiros – a maior reprovação de um presidente já regis-
dam” a solução de algum problema ou a mudança de trada (Instituto de Pesquisas Datafolha, 2018). A taxa
determinada situação que não as agrada. No entanto, de reprovação demonstrava queixa generalizada con-
como já vimos, as queixas por si só não são o sufi- tra o presidente, de modo que os índices eram piores
ciente para que os indivíduos se engajem em deter- que os relativos à presidenta Dilma Rousseff, que teve
minada ação coletiva. Muitas pessoas têm queixas, seu impeachment apoiado por grandes manifestações
mas muito poucas participam de movimentos sociais. de rua. No entanto, as manifestações contrárias à ges-
Para que a instrumentalidade se efetive como motivo, tão Temer não se massificaram. Por diversas razões e
é preciso que as pessoas desenvolvam uma percep- a partir de diversas posições políticas, havia demanda
ção de eficácia relacionada ao protesto, que é com- por mudanças no governo Temer, porém, os protestos,
posta principalmente pela percepção dos recursos do de maneira geral, não lograram tão grande número
movimento e das oportunidades políticas do contexto. de adeptos. Evidencia-se novamente que queixas por

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si só não são o bastante para o engajamento político, de ordem relacionados às pautas do movimento.
ou seja, mesmo queixosas, as pessoas não foram con- Segundo Lara Junior e Prado (2004), a mística é um
vencidas de que as ações possuiriam suficientes recur- componente fundamental no processo de constitui-
sos e que as oportunidades políticas seriam suficien- ção da identidade coletiva entre os membros do MST.
temente favoráveis. Uma análise com foco apenas na Tal prática delimita as fronteiras entre um “nós” e um
instrumentalidade poderia avaliar que as organizações “eles”, circunscrevendo aliados e adversários e politi-
contrárias a Temer falharam em ofertar uma percepção zando as identidades.
de eficácia que poderia produzir maiores mobiliza- O lado da demanda relacionado ao terceiro
ções. Importante pontuar que, para fins de ilustração, motivo de engajamento em protestos se refere ao
isolamos a motivação instrumental no exemplo acima, desejo dos indivíduos em expressar determinada
porém, a real análise psicossocial deve ser feita a partir visão de mundo ou emoções vinculadas a um assunto
da interação dos diversos motivos. Além disso, ao abor- ou situação específicos. As organizações de movimen-
dar tal caso, não pretendemos analisá-lo em sua com- tos sociais tendem a produzir mecanismos para suprir
plexidade, mas apenas potencializar o entendimento a demanda de expressividade de seus membros e sim-
da dimensão instrumental da participação política a patizantes. Por meio de sua organização e repertórios
partir desse exemplo. de ação, os movimentos visam canalizar as motivações
A identidade, entendida a partir do lado da emocionais e expressivas; esses repertórios devem ser
demanda, diz respeito à motivação de determinados planejados de forma a dar vazão a tal demanda.
indivíduos para agirem como membros de grupos Por exemplo, em junho de 2013, durante um
específicos. As pessoas compartilham identidades acampamento em frente à prefeitura da cidade
coletivas – vínculos afetivos, comprometimentos, de Ribeirão Preto (SP)13, um grupo de mulheres,
objetivos comuns, sentimentos de solidariedade – que formava uma cooperativa de trabalho com lixo
e se sentem motivadas a agirem em consonância com reciclável, falou diante dos acampados e pediu o apoio
seus pares. Como já abordado, os indivíduos “deman- do movimento em prol de sua causa14. Após o fim da
dam” ações que fortaleçam e evidenciem suas iden- assembleia, uma das cooperadas disse estar se sen-
tidades coletivas (Klandermans & de Weerd, 2000). tindo muito bem, pois nunca tivera um espaço como
Do lado da oferta, as organizações de movimentos aquele em que pudesse falar de sua situação. Mesmo
sociais buscam suprir as necessidades identitárias das sem nenhum ganho concreto, o simples fato de ela ter
pessoas. No processo de mobilização, as organizações expressado e compartilhado seus ideais e emoções,
pretendem “ofertar” elementos identitários para suprir o fato de ter sido ouvida, fez com que ela se motivasse
necessidades já existentes, mas também com o intuito em apoiar o movimento. O acampamento, mesmo
de constituir novas identidades coletivas. Músicas, ves- que de forma não totalmente intencional, produziu
timentas, símbolos, palavras de ordem e repertórios uma oferta para suprir a demanda daquela mulher
de ação são exemplos de elementos identitários que de se expressar. A mística do MST cumpre também
podem compor os movimentos sociais (Tilly, 2004). esse papel de “oferta expressiva e emocional”. Além
Utilizando-se do exemplo do MST, podemos de criar laços identitários, as pessoas compartilham
destacar um importante mecanismo de produção de visões de mundo e sentimentos durante as místicas
laços sociais, a mística. Lara Junior (2007, 2010) dis- (Lara Junior, 2007).
cute como a mística se constitui a partir de elementos Finalizamos o presente tópico ressaltando a impor-
políticos e religiosos e ocupa um importante papel tância de entender os motivos e dimensões propostos
dentro da dinâmica do MST. A mística no MST con- de forma articulada. Instrumentalidade, identidade
figura-se como momentos de práticas celebrativas e expressividade e emoções não podem ser tomados
que podem ser compostos por depoimentos, músicas, como isolados uns dos outros. Eles devem ser compre-
encenações, danças, rituais, rezas, símbolos e palavras endidos em seu conjunto e em suas influências mútuas.

13
Um dos autores estava presente durante a manifestação. As principais pautas do acampamento eram a diminuição da tarifa de trans-
porte pública da cidade e a criação de um conselho municipal de transporte coletivo. Para informações da impressa: http://g1.globo.com/
sp/ribeirao-preto-franca/noticia/2013/07/apos-12-dias-acampados-deixam-praca-da-prefeitura-de-ribeirao-preto.html.
14
As trabalhadoras reivindicavam melhores acordos de cooperação junto à prefeitura de Ribeirão Preto (SP).

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Considerações finais contribuições devem ser feitas em profundo diálogo


A psicologia social do protesto propõe-se a abor- com os referenciais brasileiros e latino-americanos.
dar a participação política em ações coletivas tendo Não se trata de uma adoção mecânica e acrítica de um
como unidade de análise o indivíduo e seu compor- referencial, tampouco de ignorar uma produção pelo
tamento social. Esse enquadramento teórico e meto- simples fato de ela ser produzida em um contexto diverso.
dológico possibilita trabalhar sobre as motivações O desafio que se apresenta é constituir um potente
que levam uma pessoa a participar ou não de um pro- campo de diálogo em que os limites e possibilidades das
testo e, até mesmo, contribui para o entendimento diferentes escolas possam ser confrontados. Assim, indi-
do processo de desengajamento de militantes de um ca-se que sejam desenvolvidas futuras pesquisas que
determinado movimento social (Klandermans, 2015). abordem – não apenas de forma panorâmica e ilustra-
No entanto, o nível de análise e o individualismo tiva, mas com a profundidade necessária – as potências e
metodológico adotados detêm os principais limites insuficiências da psicologia social do protesto na análise
da abordagem. Teorias da psicologia social flertam de fenômenos políticos brasileiros específicos.
muitas vezes com uma pretensão de universalidade, Enfim, em consonância com a tradição latino-
o que acarreta também um risco de a-historicismo. -americana crítica em psicologia social e política,
Faz-se necessário compreender os indivíduos den- pretendemos que as discussões que possam emergir
tro de seus contextos sócio-históricos e entender que do presente trabalho contribuam para o desenvolvi-
processos cognitivos têm relações – e muitas vezes mento de instrumentos conceituais úteis a acadêmi-
raízes – em processos sociais (Lane & Codo, 2004). cos e movimentos sociais democráticos. Entender
Além disso, seria pertinente o desenvolvimento de mecanismos que constituem o engajamento de indi-
abordagens menos estáticas e mais dinâmicas para víduos em movimentos sociais e protestos se faz per-
explicar a participação nos movimentos sociais. tinente também para atuações críticas e comprome-
Um olhar com maior foco nos processos e em suas dinâ- tidas de profissionais da psicologia. Tais profissionais
micas pode produzir significativos avanços nos estudos podem contribuir diretamente junto a movimentos
sobre participação política a partir da psicologia social. sociais e ações coletivas, assim como compor pro-
O referencial apresentado é uma abordagem desen- cessos de mobilização a partir de atuações, princi-
volvida, conhecida e aplicada predominantemente nos palmente em políticas públicas, instituições e comu-
EUA e na Europa. Defendemos que, a partir de décadas nidades. Utilizando-se das palavras de Paulo Freire
de elaborações teóricas e empíricas, a psicologia social (2016, p. 253), esperamos que as discussões e práticas
do protesto tem muito a contribuir para o entendimento potencializadas pelo presente texto possam contri-
de protestos e movimentos sociais também no Brasil e buir de alguma forma para a “criação de um mundo
na América Latina. No entanto, entendemos que tais em que seja menos difícil amar”.

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Rosa, L. A., & Klandermans, B. (2022). Psicologia social do protesto.

Leandro Amorim Rosa


Professor da Universidade Federal do Acre (UFAC), Rio Branco – AC, Brasil. Pesquisador Visitante na Vrije Universiteit
Amsterdam (2018), Amsterdã – Holanda do Norte, Holanda. Compõe a Rede de Saúde Mental junto ao Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
E-mail: leandro.rosa@ufac.br
https://orcid.org/0000-0002-0742-2359

Bert Klandermans
Professor do Departamento de Sociologia da Vrije Universiteit Amsterdam (VU), Amsterdã – Holanda do Norte, Holanda.
E-mail: p.g.klandermans@vu.nl
https://orcid.org/0000-0002-8477-5780

Endereço para envio de correspondência:


Universidade Federal do Acre, Centro de Filosofia e Ciências Humanas. Rodovia BR 364, Km 04, Distrito Industrial.
CEP: 69920-900. Rio Branco – AC. Brasil

Recebido 22/01/2020
Aceito 04/05/2021

Received 01/22/2020
Approved 05/04/2021

Recibido 22/01/2020
Aceptado 04/05/2021

Como citar: Rosa, L. A., & Klandermans, B. (2022). Psicologia social do protesto: Um panorama teórico a partir da
realidade brasileira. Psicologia: Ciência e Profissão, 42, 1-15. https://doi.org/10.1590/1982-3703003233201

How to cite: Rosa, L. A., & Klandermans, B. (2022). Social psychology of protest: A theoretical panorama based on
Brazilian reality. Psicologia: Ciência e Profissão, 42, 1-15. https://doi.org/10.1590/1982-3703003233201

Cómo citar: Rosa, L. A., & Klandermans, B. (2022). Psicología social de la protesta: Un panorama teórico desde la
realidad brasileña. Psicologia: Ciência e Profissão, 42, 1-15. https://doi.org/10.1590/1982-3703003233201

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