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Direito da União Europeia - C. P.
II – O QUADRO INSTITUCIONAL DA UE: AS PRINCIPAIS
INSTITUIÇÕES E ÓRGÃOS DA UE
1. Quadro institucional

1.5. O Tribunal de Justiça da UE

Cfr. artigos 19.º do TUE e 251.º e ss. do TFUE


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II – O QUADRO INSTITUCIONAL DA UE: AS PRINCIPAIS
INSTITUIÇÕES E ÓRGÃOS DA UE: o Tribunal de Justiça da UE
1.5.1. A instituição jurisdicional da UE e os seus órgãos
O TJUE é a instituição jurisdicional da União e divide-se em vários órgãos
jurisdicionais. Os principais são o Tribunal de Justiça (TJ) e o Tribunal Geral
(TG); este corresponde ao antigo Tribunal de Primeira Instância (TPI). Podem ser
criados tribunais especializados em razão da matéria.
Nestes, até agora apenas existiu um: o Tribunal da Função Pública
(dirimia litígios entre a UE e os seus funcionários); entretanto foi extinto.
Também foi ponderada a criação de um Tribunal de Patentes
Comunitárias, mas a ideia não vigou.
A jurisdição do TJUE (logo, dos seus órgãos) é:
- Permanente;
- Exclusiva; e
- Imperativa.
A sua principal competência genérica é assegurar a interpretação uniforme e a
correta aplicação do Direito Europeu no território dos Estados membros
(tarefa que os tribunais nacionais não estão aptos a desempenhar). Cfr. artigo
19.º, n.º 1, primeiro parágrafo, segunda parte.
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1.5.2. A instituição jurisdicional da UE e o seu ativismo (breve referência)
É precisamente esta competência genérica que tem permitido ao TJ contribuir
para o desenvolvimento e aprofundamento do processo europeu de integração
por via pretoriana – a que se tem chamado de ativismo judiciário – o que faz
através de uma interpretação sistemática, teleológica e evolutiva dos Tratados e
do direito derivado.

Matérias como as do/a:


- Primado do direito da UE (v. g. ac. Costa / Enel);
- Efeito direto do direito da UE (v. g. ac. Van Gend en Loos); e
- Proteção dos direitos fundamentais pelo Direito da UE (v. g. ac. Stauder e
ac. Internationale Handelsgesellschaft)

São resultado da atividade criativa do TJ no âmbito do chamado instrumento


processual de reenvio prejudicial (remissão).
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1.5.3. O Estatuto do TJUE e os Regulamentos de Processo (breve referência)
O TJUE tem um Estatuto próprio: o Estatuto do TJUE (aprovado através de um
Protocolo Anexo aos Tratados, tendo por isso o mesmo valor que estes), onde se
regula a sua organização e funcionamento.
Tanto o TJ como o TG têm os seus Regulamentos de Processo, que regulam a
tramitação dos processos que neles decorram
Genericamente, de ambos os Regulamentos de Processo, extrai-se que os
processos são tramitados ou de acordo com a forma comum (por exemplo, as
ações por incumprimento ou os recurso de anulação) ou com uma forma especial
(por exemplo, os reenvios prejudiciais ou as providências cautelares).
A forma comum divide-se em duas grandes fases obrigatórias: a fase escrita,
destinada à apresentação de (até 4) articulados pelas partes (2 por cada, 1
necessário e 1 eventual); e a fase oral, com uma audiência para apresentação de
alegações das partes (sub-fase facultativa), conclusões do advogado-geral, e (se
houver necessidade e sendo pouco frequente) audição de peritos e de testemunhas
Poderá haver, pelo meio, uma fase de instrução (produção de prova), que é
facultativa, competindo ao TJ ou ao TG determinar se a mesma deve ter lugar.
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1.5.4. Composição e assistência do TJ e do TG
Quer o TJ quer o TG são compostos por um juiz por cada Estado membro,
nomeados por seis anos, podendo ser nomeados mais uma vez.
O TG poderá a ser composto por mais do que um juiz por Estado membro.
O TJ é assistido por 11 advogado-gerais (um dos quais designado como Primeiro
Advogado Geral, que tem certas competências definidas no RPTJ).
o TG poderá ser assistido por advogados gerais, nos termos do Estatuto do
TJUE, sendo tal função exercida por um juiz do próprio TG (exceto o presidente,
o vice-presidente e os presidentes de secções).
Os advogados-gerais não se confundem com os advogados das partes: a eles
compete apresentar publicamente, com toda a imparcialidade e independência,
conclusões fundamentadas sobre as causas submetidas ao TJ (ou ao TG,
quando tenha sido designado), auxiliando este(s) no desempenho da sua
missão de assegurar o respeito do direito na interpretação e aplicação dos
Tratados. Cfr. artigo 252.º do TFUE.
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1.5.5. Funcionamento
Tanto o TJ como o TG têm os seus presidentes e vice-presidentes, que têm
competências próprias

Ambos funcionam em secções de três ou de cinco juízes, as quais também


têm os respetivos presidentes

O TJ reúne ainda em Grande Secção (reúne quinze juízes, este eles


Presidente e Vice-Presidente) e em Tribunal Pleno (reúne todos os juízes)

O TG reúne ainda em Grande Secção (reúne quinze juízes, este eles


Presidente) e em Conferência Plenária (reúne todos os juízes)
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1.5.6. Repartição de competências entre o TJUE e os órgãos jurisdicionais
nacionais

Convirá relembrar o princípio da competência por atribuição, que, aplicado ao


TJUE, significa que os órgãos que o integram (i. é, o TJ e o TG) apenas terão as
competências definidas nos Tratados, pelo que as matérias que não se
insiram na competência daqueles órgãos recairão nos órgãos jurisdicionais
nacionais.

O que também significa que os tribunais da UE não se limitam ao TJUE e


seus órgãos (TJ e TG), pois estes constituem “apenas” os tribunais da UE em
sentido ORGÂNICO.

Acrescem os tribunais da UE em sentido FUNCIONAL: esta categoria é


formada pelos órgãos jurisdicionais nacionais, que são os tribunais comuns
do Direito Comunitário ou da ordem jurídica da UE (assim foi definido no ac.
Simmenthal e consolidado em acórdãos posteriores do TJ).
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1.5.7. Competências dos órgãos que integram o TJUE
Quanto às competências dos órgãos que integram o TJUE, as mais importantes
são seis, mas temos que distinguir entre instrumentos contenciosos e
instrumentos não contenciosos:

Os primeiros pressupõem a existência de litígios (ou conflitos de interesses) que


o TJ ou o TG são chamados a dirimir, elemento ausente dos segundos.
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1.5.8. Competências dos órgãos que integram o TJUE
Nos instrumentos contenciosos, o TJ pode ser mobilizado para:
i) Declarar o incumprimento pelos Estados membros das suas obrigações
comunitárias, condenando-os no pagamento de sanções pecuniárias. Isto, no
âmbito da ação de incumprimento prevista nos artigos 19.º, n.º 3, al. a), do
TUE e 258.º a 260.º do TFUE (remissão);
ii) Fiscalizar a legalidade dos atos adotados pelas instituições. Isto no âmbito do
recurso de anulação, previsto nos artigos 19.º, n.º 3, al. a), do TUE e 263.º,
264.º e 266.º do TFUE (remissão);
iii) Declarar a violação do Tratado por omissão. Isto no âmbito da ação por
omissão, prevista nos artigos 19.º, nº 3, al. a), do TUE, e 265.º e 266.º do TFUE
(remissão);
iv) Apreciar ações de responsabilidade extracontratual da UE (artigos 19.º, n.º
3, al. c), do TUE, e 268.º do TFUE; remissão).
O TG é o órgão competente para apreciar os mecanismos referidos em ii), iii) e iv)
quando instaurados por particulares (indivíduos ou empresas).
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1.5.9. Competência apenas do TJ
Nos instrumentos não contenciosos, o TJ (e não o TG) pode ser mobilizado para:

- Interpretar as disposições do Tratado e dos atos adotados pelas


instituições (i é, dos regulamentos, as diretivas e das decisões), podendo
quanto a estes últimos pronunciar-se também sobre a sua validade. Isto no
âmbito do reenvio prejudicial, previsto nos artigos 19.º, n.º 3, al. b), do TUE, e
267.º do TFUE (remissão);

É sobretudo este instrumento ou via processual que proporciona o chamado


ativismo do TJ, marcado por interpretações criativas e inovadoras das
disposições dos Tratados e do direito derivado, como qual este órgão tem
contribuído decisivamente para o aprofundamento e densificação do processo
europeu de integração
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1. Quadro institucional

1.6. Banco Central Europeu

Cfr. artigos 282.º e ss. do TFUE


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INSTITUIÇÕES E ÓRGÃOS DA UE: Banco Central Europeu
1.6.1. articulação com o SEBC e com o Eurosistema (formação mais restrita
do SEBC
O BCE juntamente com todos os bancos centrais nacionais (entre nós, o Banco de
Portugal), formam SEBC (Sistema Europeu de Bancos Centrais), cfr. n.º 1 do
artigo 282.º do TFUE.
O BCE e os bancos centrais nacionais dos Estados membros que integram a zona
euro formam o “Eurosistema”, sendo este responsável pela condução da política
monetária da UE (n.º 1).
O SEBC assegura a manutenção da estabilidade dos preços na chamada zona
euro (n.º 2);
O BCE é a única instituição ou órgão que pode autorizar a emissão de moeda na
zona euro (n.º 3).
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INSTITUIÇÕES E ÓRGÃOS DA UE
2. Alguns dos principais órgãos da UE
- ARUNEPS (surgiu com o TL; caracteriza-se por ser simultaneamente membro do
Conselho, presidindo ao Conselho dos Negócios Estrangeiros, e da Comissão Europeia,
onde é um dos Vice-Presidentes; participa nos trabalhos do Conselho Europeu, embora não
seja membro; conduz a PESC; ver o artigo 18.º do TUE).
- COREPER (é órgão auxiliar do Conselho; ver os artigos 16.º, n.º 7, do TUE e 240.º do
TFUE);
- Comité Económico e Social e Comité das Regiões (vêm referidos nos artigos 300.º e
ss. do TFUE e são ouvidos pelo Conselho e pelo PE previamente à aprovação de atos
legislativos, emitindo pareceres consultivos).
- SEBC (conduz a política monetária na chamada zona euro, atualmente composta por 19
Estados membros, e é responsável pela manutenção da estabilidade de preços – inflação).
- CIG (Conferência dos Representantes dos Governos dos Estados membros ou
simplesmente Conferência Intergovernamental, responsável pela aprovação de alterações
aos Tratados, deliberando por unanimidade para o efeito, no âmbito do processo de revisão
ordinário; ver o artigo 48.º do TUE).
- Provedor de Justiça Europeu: aprecia queixas sobre alegadas situações de má
administração por parte das instituições e órgãos, exceto os tribunais, da UE que não se
encontrem em apreciação judicial (artigo 228.º TFUE).
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III – AS FONTES DO DIREITO DA UE: OS TRATADOS E O DIREITO
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1. Direito originário e derivado

O direito da UE distingue-se entre direito originário (ou primário) e direito derivado


(ou secundário).
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III – AS FONTES DO DIREITO DA UE: OS TRATADOS E O DIREITO
DERIVADO
1.1. Direito originário ou primário
É composto:
- Pelo TUE e pelo TFUE, mas não só!
Antes de mais, nos Tratados devemos distinguir entre Tratados institutivos ou
constitutivos (TCECA, TCEE e TCEEA e TUE) e Tratados modificativos, de
revisão ou reformadores (AUE, TUE, TA, TN e TL), mas todos se inserem no
direito originário;

- Pelos Tratados de adesão (sempre que há um alargamento);


- Pelos Protocolos Anexos aos Tratados, como por exemplo o Estatuto do TJUE
(têm o mesmo valor jurídico dos Tratados); e
- Pela Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia.

Este bloco, para o qual é imprescindível o contributo dos Estados membros,


compõe a fonte primária e convencional do Direito da União Europeia.
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III – AS FONTES DO DIREITO DA UE: OS TRATADOS E O DIREITO
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1.1.1. Processos decisórios de revisão dos Tratados
O processo-regra de revisão dos Tratados, também chamado de processo de
revisão ordinário, é um processo decisório especial (por contraposição ao
processo legislativo ordinário) e encontra-se no artigo 48.º, n.os 2 a 5, do TUE.

Desde o TL acrescem àquele três processos de revisão simplificados (n.º 1 do


artigo 48.º), igualmente processos decisórios especiais. Portanto, ao todo,
existem quatro processos de revisão dos Tratados.

Aplicam-se a todo o bloco que forma o direito primário ou originário (tratados,


protocolos anexos, CDFUE).

Veremos apenas o processo-regra de revisão dos Tratados ou processo de


revisão ordinário.
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1.1.1.1. Processo decisório ordinário de revisão dos Tratados
As diversas etapas constitutivas do processo solene de revisão ordinário dos
Tratados estão previstas e reguladas no artigo 48.º, n.os 2 a 5, do TUE.

1.ª: Iniciativa:
Qualquer Estado-membro, o PE ou a Comissão têm direito de iniciativa (artigo
48.º, n.º 2), podendo submeter ao Conselho projetos de revisão dos Tratados.

O TL inovou, atribuindo o direito de iniciativa também ao PE, instituição que não


detinha tal prerrogativa.

Esses projetos são dados a conhecer, pelo Conselho, ao Conselho Europeu e


aos Parlamentos nacionais (novidade do TL).
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1.1.1.1. Processo decisório ordinário de revisão dos Tratados
As diversas etapas constitutivas do processo solene de revisão ordinário dos
Tratados estão previstas e reguladas no artigo 48.º, n.os 2 a 5, do TUE.

2.ª: Consulta:
O Conselho Europeu submeterá esse projeto a parecer (consulta) do PE e da
Comissão (artigo 48.º, n.º 3).

O parecer, ora do PE, ora da Comissão, não será exigível no caso de ter sido
essa instituição a tomar a iniciativa da revisão, uma vez que a mesma já se
pronunciou aquando da apresentação do projeto inicial.

Se estiverem em causa alterações institucionais no domínio monetário, proceder-


se-á à consulta do BCE.
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1.1.1.1. Processo decisório ordinário de revisão dos Tratados
As diversas etapas constitutivas do processo solene de revisão ordinário dos
Tratados estão previstas e reguladas no artigo 48.º, n.os 2 a 5, do TUE.

3.ª: Apreciação do projeto:


Terminada a fase de consultas, o Conselho Europeu apreciará o projeto e:

a) Ou o rejeita, o que implica que seja posto termo ao processo. Tal ocorre se
o Conselho Europeu não conseguir aprovar (por maioria simples) uma
decisão favorável no sentido de ser dado prosseguimento do processo;

b) Ou aprova uma decisão favorável, por maioria simples (cfr. artigo 48.º,
n.º 3, do TUE), no sentido da convocação de uma Convenção (novidade do
TL) composta por representantes dos Parlamentos nacionais, dos Chefes
de Estado e de Governo dos Estados membros, do PE e da Comissão.
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1.1.1.1. Processo decisório ordinário de revisão dos Tratados
As diversas etapas constitutivas do processo solene de revisão ordinário dos
Tratados estão previstas e reguladas no artigo 48.º, n.os 2 a 5, do TUE.

4.ª: Convocação da Convenção:


Caso a fase anterior, de apreciação do projeto, culmine com a aprovação de uma
decisão favorável, segue-se a convocação da Convenção pelo Presidente do
Conselho Europeu (artigo 48.º, n.º 3)

A convocação da Convenção nem sempre é obrigatória. Concretamente, não é


forçoso convocar a Convenção quando o alcance das alterações não o justifique.

Neste último cenário, o Conselho Europeu, com a aprovação do PE, em


primeiro, decide não convocar a Convenção, e, em segundo, estabelece o
mandato para a Conferência Intergovernamental ou conferência de
representantes dos Estados-membros (vulga CIG) – cfr. artigo 48.º, n.º 3, 2.º
parágrafo.
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1.1.1.1. Processo decisório ordinário de revisão dos Tratados
As diversas etapas constitutivas do processo solene de revisão ordinário dos
Tratados estão previstas e reguladas no artigo 48.º, n.os 2 a 5, do TUE.

5.ª: Apreciação das alterações e recomendação da Convenção


a) Havendo lugar à convocação da Convenção, esta analisa os projetos e
apreciará os termos em que as eventuais alterações são procedentes ou não
(artigo 48.º, n.º 3, 1.º parágrafo).
A Convenção, por consenso, adota uma recomendação que dirigirá à CIG – cfr.
artigo 48.º, n.º 3, 1.º parágrafo, última parte.

b) Caso não haja lugar à convocação da Convenção, é à CIG que compete


analisar os projetos e apreciar se as alterações projetadas devem ser aceites ou
não (artigo 48.º, n.º 3, 2.º parágrafo).
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1.1.1.1. Processo decisório ordinário de revisão dos Tratados
As diversas etapas constitutivas do processo solene de revisão ordinário dos
Tratados estão previstas e reguladas no artigo 48.º, n.os 2 a 5, do TUE.

6.ª: Convocação da CIG


Com convocação ou dispensa de convocação da Convenção, o Presidente do
Conselho (não do Conselho Europeu) convoca uma CIG, sendo que as
alterações a introduzir só poderão ser aceites por unanimidade (artigo 48.º n.º 4).

7.ª: Aprovação nas ordens jurídicas internas


Por último, há lugar à aprovação e ratificação nas ordens jurídicas internas dos
Estados-membros, em conformidade com os respetivos processos constitucionais
(artigo 48.º, n.º 4, 2.º parágrafo).

8.ª: Entrada em vigor


A entrada em vigor das alterações aos Tratados só se dará após a conclusão
do processo de ratificação em todos os Estados membros.
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1.1.1.1. Processo decisório ordinário de revisão dos Tratados
Conclusão:
Não obstante envolver a participação de todas as instituições (maxime do
Conselho Europeu, que dispõe do poder de inviabilizar a continuação dos
trâmites processuais previstos caso não aprove a decisão favorável à convocação
a Convenção), encontra, em primeiro, na Convenção e, em segundo, nas
negociações diplomáticas efetuadas através da Conferência
Intergovernamental o seu campo de eleição.

O consenso exigível na Convenção e a unanimidade exigível na CIG mais


não são do que o corolário lógico de um processo que visa uma questão tão
delicada e fundamental como é a alteração dos Tratados que regem os destinos
da União Europeia.
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1.2. Direito derivado ou secundário
São os atos, alguns dos quais normativos, aprovados pelas instituições europeias
em desenvolvimento, complemento ou execução dos Tratados.
Genericamente, correspondem aos regulamentos, diretivas, decisões,
recomendações e pareceres (cfr. artigo 288.º, 1.º parágrafo), mas também podem
revestir atos atípicos (quando não assumam nenhuma daquelas cinco formas).
A) Ainda assim, devemos distinguir entre atos vinculativos (regulamentos,
diretivas e decisões) e atos não vinculativos (recomendações e pareceres);
B) Dentro dos atos vinculativos, devemos distinguir entre atos legislativos, cuja
competência decisória pertence ou (i) ao Conselho ou (ii) ao Conselho e ao PE, e
atos não legislativos (atos delegados, a que se refere o artigo 290.º, e atos de
execução, a que se referem os números 2 a 4 do artigo 291.º), cuja competência
decisória pertence à Comissão (o Conselho também a pode ter nos de execução).
C) Os atos legislativos são aprovados de acordo com o processo legislativo
ordinário, previsto e regulados nos artigos 289.º, n.º 1, e 294.º; ou de acordo com
processos legislativos especiais, genericamente previstos no artigo 289.º, n.º 2,
mas dispersos ao longo do TFUE.
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1.2.1. Direito derivado ou secundário: os atos vinculativos
Os atos vinculativos são publicados na série L do JOUE (dedicada aos atos
vinculativos) e revestem a forma de regulamento, diretiva ou decisão.

- REGULAMENTO: ato de carácter geral, obrigatório em todos os seus elementos


e diretamente aplicável em todos os Estados membros.

- DIRETIVA: ato que vincula o(s) Estado(s) membro(s) destinatário(s) quanto ao


resultado a alcançar, deixando-lhe(s) liberdade quanto à escolha da forma e dos
meios para atingir esse resultado.

- DECISÃO: ato (que pode ser normativo ou não normativo) obrigatório em todos
os seus elementos para os destinatários que designar (que podem ser Estados
membros, todos ou alguns; ou particulares, i. é, pessoas singulares e coletivas,
em geral ou especificando algum ou alguns). Quando não normativo assemelha-
se ao ato administrativo do direito administrativo, que é individual e concreto.
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1.2.1.1. Direito derivado ou secundário: diferenças entre o regulamento e a
diretiva

Ambos têm carácter geral e abstrato, i é, ambos são normativos é certo, mas de
forma não coincidente.
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1.2.1.1. Direito derivado ou secundário: diferenças entre o regulamento e a
diretiva

Em relação ao regulamento basta a sua publicação no JOUE para ser aplicável em


todas as ordens jurídicas internas ou nacionais, vinculando Estados membros
e particulares.

Ou seja, o regulamento beneficia de aplicabilidade direta, não carecendo de


qualquer ato nacional de transposição, os quais são, não apenas dispensados,
como proibidos (os regulamentos são atos self executing, i. é, autoaplicativos).

Isto porque qualquer ato interno de transposição de um regulamento colocaria em


causa o princípio da uniformidade da aplicação do Direito da UE, que o
regulamento pretende assegurar.
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1.2.1.1. Direito derivado ou secundário: diferenças entre o regulamento e a
diretiva
A diretiva também tem aplicabilidade direta, mas numa aceção diferente do
regulamento, uma vez que carece de ser transposta para as ordens jurídicas
nacionais.
Na diretiva apenas são fixados os objetivos a alcançar, ficando a cargo de cada
Estado membro a forma e os meios necessários para alcançar tais objetivos, os
quais podem variar de Estado membro para Estado membro (em Portugal, por
exemplo, tal transposição pode ser feita através de lei ou decreto-lei; em alguns
casos mediante decreto legislativo regional; cfr. n.º 8 do artigo 112.º da CRP).
A diretiva tem caráter geral e abstrato mas indiretamente, uma vez que se destina
a sujeitos determinados e concretos, que são os Estados membros, podendo ser
todos, alguns ou apenas um deles.
Somente através do(s) ato(s) nacional(is) de transposição para a(s) ordem(ns)
jurídica(s) interna(s) destinatária(s) da diretiva (existindo prazo para esse efeito) é
que as características de generalidade e abstração são atingidas em relação aos
particulares.
Subjacente à diretiva está o princípio da subsidiariedade (cfr. artigo 5.º TUE),
alusivo ao exercício das competências entre UE e Estados membros (remissão).
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1.2.1.1. Direito derivado ou secundário: diferenças entre o regulamento e a
diretiva
A) Se o regulamento se aplica em todas as ordens jurídicas nacionais dos
Estados membros, vinculando também os particulares…
Já a diretiva pode destinar-se apenas a alguns Estados membros e nunca
se destina a particulares.
B) Se o regulamento é obrigatório em todos os seus elementos…
Já a diretiva é obrigatória apenas quanto aos resultados a alcançar porque
no que respeita à forma e aos meios de alcançar esses resultados já
confere liberdade às instâncias nacionais.
C) Se o regulamento não tem nem pode ser transposto…
Já a diretiva deve ser transposta devida e atempadamente.
D) Se o regulamento é um instrumento de uniformização dos
regimes nacionais…
A diretiva é um instrumento de harmonização das legislações
nacionais.
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1.2.1.2. Direito derivado ou secundário: os atos não vinculativos

Tanto as recomendações como os pareceres são atos meramente opinativos.

Na recomendação, para além de uma opinião, encontramos ainda uma sugestão de


atuação dirigida ao seu destinatário. No parecer encontramos apenas uma opinião.

Ambos são publicados no JOUE, série C – comunicações, destinada aos atos não
vinculativos.
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IV – OS PRINCÍPIOS DO DIREITO DA UE

1. Princípios relativos à relação entre o Direito da UE e os Direitos


nacionais

1.1. Princípio do primado do Direito da UE


A questão nuclear do complexo problema das relações entre a ordem jurídica da UE
e os Direitos dos Estados membros é resolvida através deste princípio; os demais
princípios (remissão) sobre a matéria giram em torno deste.

Trata-se de uma “exigência existencial” (a expressão é do juiz do TJ Pierre


Pescatore) da ordem jurídica da UE, pelo que a consagração nos Tratados é
desnecessária
Não encontra qualquer consagração direta ou expressa nos Tratados (em 2004 com
a Constituição Europeia houve uma tentativa de o fazer, mas sem sucesso).
Trata-se de um princípio de criação pretoriana (jurisprudencial), bem ilustradora do
ativismo judicial do TJ.
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IV – OS PRINCÍPIOS DO DIREITO DA UE: o primado

1.1. Princípio do primado do Direito da UE

Foi e é objeto de centenas de decisões do TJ e mais tarde do TPI (atual TG),


destacando-se na sua proclamação o acórdão COSTA / ENEL e na sua
consolidação o acórdão INTERNATIONALE HANDELSGESELLSCHAFT e o
acórdão SIMMENTHAL

Acórdão COSTA / ENEL proclama o primado do Direito Comunitário e seus


fundamentos, a saber:

1) os Tratados terem criado uma ordem jurídica própria (a ordem jurídica


comunitária) que se integra no sistema jurídico dos Estados membros e se
impõe aos seus órgãos jurisdicionais;
2) na limitação das competências nacionais operada através dos Tratados, a
qual pressupõe a criação de um Direito aplicável nas suas ordens jurídicas;
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IV – OS PRINCÍPIOS DO DIREITO DA UE: o primado

1.1. Princípio do primado do Direito da UE

Acórdão INTERNATIONALE HANDELSGESELLSCHAFT:

o TJ proclamou o primado do Direito Comunitário sobre as próprias


Constituições nacionais dos Estados membros, afirmando que violações aos
direitos fundamentais ou aos princípios estruturantes previstos naquelas
Constituições não poderiam afetar nem validade nem a eficácia de um ato
comunitário nos Estados membros (!)
Acórdão SIMMENTHAL:

O TJ investiu os tribunais nacionais na qualidade de tribunais Comunitários e


guardiões do princípio do primado do Direito Comunitário: os tribunais nacionais
têm a obrigação de não aplicar qualquer norma nacional, constitucional ou
legislativa, contrária ao Direito Comunitário (!)
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IV – OS PRINCÍPIOS DO DIREITO DA UE: o primado

1.1. Princípio do primado do Direito da UE

Noção de primado do Direito da UE

Não trata as relações entre o Direito da UE e o Direito interno num plano de


hierarquia, pelo que aquele não tem um valor superior a este;
A relação entre normas incompatíveis é tratada num plano de
prioridade/preferência aplicativa do Direito da UE em relação ao Direito
interno, conferindo ao particular o direito de exigir a aplicação da norma
comunitária em detrimento da norma nacional contrária

O Direito nacional contrário ao Direito da UE não é inválido, pelo que continua a


vigorar nos ordenamentos nacionais; ele é antes ineficaz, pelo que deve ser
desaplicado pelas autoridades administrativas nos procedimentos em curso e
pelos tribunais nacionais nos processos sub judice.
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IV – OS PRINCÍPIOS DO DIREITO DA UE: o primado

1.1. Princípio do primado do Direito da UE

Noção de primado do Direito da UE


Para o TJUE (e para alguns autores, v. g. FQ) o primado é essencial,
absoluto e incondicional, estendendo-se a todas as fontes do Direito da
UE, incluindo o direito derivado ou secundário, bem como a todas as fontes
internas, incluindo as Constituições dos Estados membros.
Diferente, GC: admite o primado supraconstitucional, mas restrito aos
Tratados; e mais diferente ainda JM: admite o primado supralegal e
infraconstitucional.
A CRP admite o primado embora com uma reserva… (cfr. artigo 8.º, n.º 4).

Em conclusão, o primado:
- garante uma aplicação uniforme do Direito Comunitário em todo o espaço da
UE;
- a realização dos objetivos comunitários e a integração europeia.
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IV – OS PRINCÍPIOS DO DIREITO DA UE

1. Princípios relativos à relação entre o Direito da UE e os Direitos


nacionais
princípio da aplicabilidade direta do Direito da UE e princípio do efeito direto
do Direito da UE (não confundir, pois trata-se de conceitos diferentes)

Por vezes a terminologia empregue pela doutrina e pelo próprio TJUE é pouco
clara e dá lugar a ambiguidades na distinção de ambos os conceitos.
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IV – OS PRINCÍPIOS DO DIREITO DA UE

1. Princípios relativos à relação entre o Direito da UE e os Direitos


nacionais
1.2. Princípio da aplicabilidade direta do Direito da UE (não confundir com o
efeito direto)

É corolário do princípio do primado. E de acordo com ele:

O Direito da UE vigora imediata e automaticamente nas ordens jurídicas


internas dos Estados membros sem necessidade de interposição de qualquer
ato (legislativo, regulamentar ou administrativo) de receção ou transformação
por parte dos Estados membros, e sem perder a sua qualidade de Direito da UE.

A norma comunitária é imediatamente integrada nas ordens jurídicas nacionais,


sem necessidade de qualquer medida de direito interno que complete ou
desenvolva o seu conteúdo.
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IV – OS PRINCÍPIOS DO DIREITO DA UE: a aplicabilidade direta

1.2. Princípio da aplicabilidade direta do Direito da UE

Está previsto no segundo parágrafo do artigo 288.º do TFUE, embora restrito ao


regulamento comunitário ou europeu.

A aplicabilidade direta dispensa e proíbe a transposição de normas


comunitárias, como as constantes dos Tratados e dos regulamentos, uma vez
que tal transposição colocaria em causa o princípio da aplicação uniforme do
Direito da UE.

As diretivas comunitárias, apesar de terem de ser transpostas, também


beneficiam de aplicabilidade direta, uma vez que, na eventualidade de não serem
transpostas, podem ser invocadas pelos particulares contra os Estados membros
delas destinatários após o decurso do prazo de transposição. Tal é sinónimo de
vigência nas ordens internas (a aplicação nas ordens internas é que depende da
transposição). Cfr. CP, p. 235 (diferente FQ, que restringe a aplicabilidade direta
aos regulamentos).
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IV – OS PRINCÍPIOS DO DIREITO DA UE

1. Princípios relativos à relação entre o Direito da UE e os Direitos


nacionais
1.3. Princípio do efeito direto do Direito da UE (não confundir com a
aplicabilidade direta)
O efeito direto traduz-se:

- na invocabilidade pelos particulares de direitos individuais, com base em


disposições de Direito da UE, que ao juiz nacional compete salvaguardar,
eventualmente com a desaplicação das normas nacionais contrárias.
- na aptidão que as normas de Direito da UE têm de produzir efeitos na esfera
jurídica dos particulares, conferindo-lhes direitos que podem ser invocados
perante os tribunais nacionais e que a estes cabe salvaguardar.

Se o Direito da UE impõe obrigações aos particulares, também lhes atribui


direitos, podendo ser invocados em juízo perante os órgãos jurisdicionais
nacionais (relembrar que estes órgãos são os tribunais comuns do Direito da
UE).
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IV – OS PRINCÍPIOS DO DIREITO DA UE

1.3. Princípio do efeito direto do Direito da UE

Há dois tipos de efeito direto, consoante contra quem se invoca a norma


europeia:

Efeito direto vertical: a norma europeia é invocada contra o Estado;

Efeito direto horizontal: a norma europeia é invocada contra outro particular.


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IV – OS PRINCÍPIOS DO DIREITO DA UE

1.3. Princípio do efeito direto do Direito da UE

Finalidades do efeito direto:

- Assegurar o primado do Direito da UE;

- Assegurar a aplicação uniforme do Direito da UE;

- Assegurar a proteção jurisdicional dos direitos conferidos pelo Direito da UE aos


particulares
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IV – OS PRINCÍPIOS DO DIREITO DA UE

1.3. Princípio do efeito direto do Direito da UE

Não tem consagração nos tratados, sendo um princípio de criação


pretoriana/jurisprudencial

Em relação às normas dos Tratados, destaca-se o acórdão VAN GEND EN


LOOS: o TJ reconheceu efeito direto (vertical e horizontal) às disposições do
direito originário que, de forma clara e incondicional, conferem direitos aos
particulares ou impõem obrigações aos Estados membros.
As normas constantes de regulamentos e de decisões dirigidas a particulares,
uma vez que têm aplicabilidade direta, também produzem efeito direto (vertical e
horizontal)

Em relação às normas de diretivas, destaca-se o acórdão VAN DUYN:


reconheceu apenas o efeito direto vertical de normas das diretivas não
transpostas ou transpostas incorretamente ou extemporaneamente. As decisões
dirigidas a Estados membros também só produzem efeito direto vertical.
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IV – OS PRINCÍPIOS DO DIREITO DA UE

1.3. Princípio do efeito direto do Direito da UE

O efeito direto horizontal das normas das diretivas, isto é, a possibilidade de um


particular a invocar em juízo perante outro particular, tem até hoje sido
categoricamente negado pelo TJ com fundamento de que o carácter obrigatório
das diretivas, em que se funda a possibilidade de as invocar perante um órgão
jurisdicional nacional, existe apenas relativamente aos Estados membros
destinatários.

A não produção de efeito direto horizontal das normas das diretivas foi
compensada através do:
1.4. - Princípio da interpretação do direito nacional conforme ao
Direito da UE (ac. Marleasing); e do
1.5. - Princípio da responsabilidade dos Estados membros pela
violação do Direito da UE (ac. Francovich),
os quais não se restringem às diretivas (não transpostas ou mal ou tardiamente
transpostas), muito embora elas estejam de facto na sua génese.
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IV – OS PRINCÍPIOS DO DIREITO DA UE
2. Princípios relativos à distribuição de competências entre a UE e os
Estados membros (2.1.) e ao exercício das competências pela UE (2.2 e
2.3)
2.1. Princípio da competência por atribuição (artigo 5.º, n.º 1 e 2, do TUE)
A UE e as suas instituições atuam de acordo com as competências (explicitas e
implícitas) previstas nos Tratados, existindo competências exclusivas da UE (nestas
os Estados deixaram de poder atuar) e competências partilhadas entre a UE e os
Estados membros. Existem também competências exclusivas dos Estados
membros, nas quais a UE não pode atuar.
2.2. Princípio da subsidiariedade (artigo 5.º, n.º 1 e 3, do TUE)
Aplica-se nas competências partilhadas entre a UE e os Estados membros e é um
princípio descentralizador. Naqueles domínios, deve-se dar prevalência à atuação
dos Estados membros, pelo que UE apenas deverá agir se os Estados membros se
mostrarem incapazes de as realizarem. Necessidade e melhor eficácia são os
requisitos que autorizam as ações da UE em detrimento das ações dos Estados.
2.3. Princípio da proporcionalidade (artigo 5.º, n.º 1 e 4, do TUE)
Os fins não justificam os meios; estes devem justificar-se por si próprios e devem
ser adequados, necessários e proporcionais (triplo teste) na prossecução dos fins da
UE.

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