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a BRASILIANA
IBLIOTHECA PED.OOGICA DRA§ILEIRA
VOLUMES PUBLICADOS:
1 - Baptista Pereira: Figuras do lm- 28 - General Couto de Magalhães: Via-
perh, e outros ensaios. a-em ao Araguaya.
2 - Pandii\ Calogeras: O Marquez de 29 - Josué de Castro: O Problema da
B:irhnccna. nliment3ção no Brasil.
3 - Alcides Gentil: As ldéas de Alberto 80 - Càp. Frederico A. Rondon: Pelo
Torres. • Brasil Central.
4 - OI iveira Vinnna: Raça e Assimi- 31 - Azevedo Amaral: O Brasil na·
laçiio. 1 cri.r;oJ nctual.
5 - Auguste de Saint-Hilaire: Segundo 32 - C. de Mello-Le·tão: Visitantes do
viagem do Rio de Janeiro a Minas Primeiro lmperio.
Geraes e a São Paulo (1822) 33 - J. de Sampaio Ferraz: Mcteorolo-
Trad. e pref. de Affonso de E. Taunay. i;:a Brasileira..
6 - Baptista Pereira: Vultos e episo- M - .'\ngyone Costa: lntroducção á Ar-
dios do Braeil. cheologia Brasile'ra.
7 - Baptista Pereira: Directrizes de M - A. J. d 0 Sampaio: Phytogcogrn-
Ruy Barbosa. phia do Brasil.
8 :... Oliveira Vianna: Populações Meri- 3G - Alfredo Bllis Junior: O B3ndci-
dionaes do Brasil. rismo Paulista e o Recuo do meridiano.
3 - Nina Rodrigues: 03 Africanos no 37 - J. F. d , Almr'da Prado: Primei-
Brasil. ros Povoadorl!:s do Brasil.
10 - Oliveira Vianna: Evolução do Po- 88 - Ruy Ilarbos a: Mocidade e Exilio.
vo Brasileiro. 39 - E. Roquette-Pinto: Rondonla.
11 - Lufa da Camara Cnscudo: O Conde 40 - Pedro· Calmon: Espírito da Socie-
d'Eu. dada Colonial.
12 - Wanderley Pinho: Cartas do Im- 41 - José-Maria Bello: A inlelligencia
perador Pedro li ao Barão de Cote- d'. 1 Ilrasil.
gipe. 42 - Pand!á Calogeras: Formação His-
13 - Vicente LiCinio Cardo~o: A' mnr- torica do BrasU.
gem da Historia do Brasil. 43 - A. Saboia L ima: Alb~r!o Torres
14 - Pedro Calmon: Historia da Civili- e sua obra.
zação Brasileira. · 44 - E8tevão Pinto: Os indígenas do
15 - Pandiá Calogeras: Da Regencia r • Nordeste.
á queda de Rozas
45 - Ilasilio de Magalhães: E::<pansão
16 - Alberto Torres: O Problema Na- Geographica do Brasil Colonial.
dnnal BrasiJelro.
46 - Renato Mendonça: A influencio
17 - Alberto Torres: A Organização
africana no portuguez do Brasil.
Nacional. ~
47 - Manoel Bomfim: O Brasil.
18 - Visconde de Taunay: Pedro II.
48 - Urbino Vianna: Bandeiras e ser-
t!) - Affon~o dfl E. Tnunuy: ·vi~itantes
do Brasil Colonial (Sec. XVI-XVIII). tani~tns hah iano~.
20 - Alberto de Faria: l\lauá. 49 - Gustavo Ilnrroso: Historia Militar
21 - 'Baptista Pereira: Pelo Brasil do Brasil.
Malnr. 50 - Mar o Travassos: Proiecção Conti-
22 ,- E. Iloquette-Pinto: Ensaios de An- nental do Brasil.
thropolog;a Brasiliana. 51 - Octavio de Freitas: Doenças Afri-
n3 - Evaristo de Moraes: A escravidão canas no Brasil.
africana no Brasil. 52 - General Couto de Afagnlhães: O
24 - Pandiá Calogeras: Problemas dl' 1 Selvagem.
Administração. 63 - A . J. do Sampaio: Biogeographia
;; - Mário Marroquim: A lingua do Dynamica.
Nordeste. 64 - Antonio Gontijo de Carvalho: Ca-
26 - Alberto Rangel: Rumos,:l, Perspe- logeras.
ctivas. 65 - HildeJ,rando Accioly: O reconhe-
27 - Alfredo E!Jis Junior: Populações cimento do Br~sil pelos Estados Uni-
Paulistas. dos do America.
llG - Charles Expllly - Mulheres e cos- 60 - Emílio Rivaaseau - A vida doa
tumes do Bnudl. lndios Gaaycunia.
57 - Flauslno Rodrigues Vallc: Ele- 61 - Conde d ' Eu - Viagem Militar ao
mentoa do Folk-lore Mualcal Braal- Rio Grande do Sul (Prefacio e 19 car-
lelro. tas do Príncipe de Orleans commen-
58 - Auguste de Saint-Hilaire - Viaa:em tadas por Max Fleuiss).
á Provlncla de Sta. Catharina (1820) . 62 - Agenor Augusto de Miranda - O
59· - Alfredo Ellis Junior - Oa pri· Rio São Francisco (Edição illustrada).
melro• troncos Paulista& e o cruza- 63 - Raymundo Moraes - Na Planlcic
mr.nto euro-americano. Amazonica (4.• edição).
GILBERTO FREYRE
SOBRADOS
E
MUCAMBOS
Decadencia do Patriarchado Rural no Brasil
(Edição illustrada)
1936
COMPANHIA EDITORA NACIONAL
São Paulo
A nieu pae e a minha mãe
Prefacio . 11
I - O sentido cm que se modificou a paizagcm social
do Brasil durante o seculo XVIII e a primeira
metade do XIX . 29
II - O Engenho e a Praça; a Casa e a Rua 57
III - O Pae e o Filho . 87
IV - A Mulher e o Homem 117
V - O Sobrado e o Mucambo 159
VI - O Brasileiro e o Europeu 257
VII - Ascensão do Bacharel e do Mulato 302
Appensos 379
Bibliograph:a 393
PREFACIO
Rio, 1936.
I
*
* *
O periodo de historia social do Brasil que procuramos
estudar nestas paginas, por um lado, continuou um período
de integração: durante elle é que se consolidou a sociedade
brasileira, em torno de um Governo mais forte, de uma
Justiça mais livre da pressão dos indivíduos poderosos,
de uma Igreja tambem mais independente das oligarchias
regionaes e mais pura na vida dos seus padres. De uma
Igreja falando alto e grosso pela voz dos seus bispos,
clamando pela de Dom Vital contra os excessos do proprio
Governo de Sua Majestade. Por outro, foi um periodo
de differenciação profunda - menos patriarchalismo,
menos absorpção do filho pelo pae, da mulher pelo ho-
mem, do individuo pela familia, da familia pelo chefe, do
escravo pelo proprietario; e mais individualismo, da mu-
lher, do menino, do negro, ao mesmo tempo que mais
prostituição, mais miseria mais doença. Mais velhice
desamparada. Período terrivel de transição.
Mauá e os ingleses modernisariam a technica de
transporte. Os serviços urbanos se aperfeiçoariam e com
S OBRA DO S E M U CA M BOS 55
O ENGENHO E A PRAÇA;
A CASA E A RUA
O PAE E O FILHO
A MULHER E O HOMEM
O SOBRADO E O MUCAMBO
QUARTO
1° ANDAR.
Planta de uma chncnrn do Rio de Janeiro na sepnda
metade do seculo XIX - 1. 0 andar.
(Desenho de Carlos Leão)
174 GILBERTO FRE'.l.RE
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Plnnta de uma chacara cio Rio de Janeiro na segunda
metade do seculo XIX.
(Desenho de Carlos Leão)
204 GILBERTO FREYllE
QVA~TO
SALA
SALA
"casa de esquina
morte ou ruína".
gente ainda tem scisma com pavão e pombo; mas não eram
poucos os casarões de sitio com seu pombal e seu pavão,
este escancarando o leque no meio do jardim. Outros bi-
chos que estavam sempre por perto das casas eram a lagar-
tixa e a ran aos quaes ent:etanto não se attribuia nenhuma
significação. Apenas eram os bichos mais faceis de os
meninos da casa judiarem com elles. Já o sapo era outro
pavor.
Plantas, já vimos que algumas eram consideradas
prophylacticas: guardavam a gente e os bichos e as arvo-
res da casa contra o olho-mau, contra o terrivel olho de
secca-pimenta que bastava olhar para um nenêsinho de
pe:to para o nenêsinho definhar e morrer; para um pé
de pimenta, e o pé de pimenta seccar; para uma rosa e a
rosa desfolhar-se toda. Outras plantas se evitavam em
redor da casa: eram tambem agourentas. Hera nas pa-
redes, por exemp'o. Pinheiro que attingisse á altura da
casa. Certas trepadeiras. A flur de maracujá dava-se
certo sentido mystico por ter a forma da cruz de Nosso
Senhor e conter os objectos da Paixão de Christo. Aliás
é curioso observar que o mysticismo dos sobrados esten-
deu-se a uma serie de bichos, de fructas e de flores, do-
tando-as de significação religiosa e considerando-as tabús,
inteiramente ou em parte. Já o velho Thomé de Souza
sabe-se que não comia cabeça de peixe em memoria da
cabeça de ~ão João Baptista. Luccock indagando do mo-
tivo de quasi não se comer carne de carneiro no Brasil
soube que, na opinião de alguns, não era animal que os
christãos devessem comer: "por causa do Cordeiro de
Deus que tira os peccados do mundo". Carne de porco,
muitos comiam, e faziam garbo de comer; mas para mos-
trar que não eram judeus. Já contra a banana havia
quem tivesse esta superstição: "nenhum catholico verda-
deiro no Brasil - observou Luccock - corta uma banan~
SOBRADOS E MUCAMBOS 249
O BRASILEIRO E O EUROPEU
cuja devassa vem uma phrase sua, aliás bonita, mas não
se pode hoje determinar si de negociante, a quem interes-
saria particularmente um Brasil mais livre no seu systema
de commercio, si de um homem de ardores faceis, a quem
tivesse contagiado o patriotismo dos bachareis e dos lettra-
dos das cidades mineiras: "O Brasil seria um dos primei-
ros paizes do mundo si fosse livre!" E em Pernambuco,
o inglês Bowen, <le tal modo se identificou com os revolu-
cionarios de 1817, que foi o primeiro enviado dos conspi-
radores aos Estados Unidos. Ha tambem quem ligue á in-
fluencia do liberalismo de N assau sobre a mentalidade
dos colonos do Norte no seculo XVII, certo pendor, por-
ventura mais accentuado no p~rnambucano que nos bra-
sileiros de outras regiões, para a insubordinação política
e para as formas liberaes de governo.
Ao facto de o commercio de diamantes e de pedras
preciosas - que alguns estudiosos da expansão israelita na
America affirmam ter sido dominado, no seculo XVIII,
pelos judeus - haver creado para as cidades mineiras re-
lações especialissimas com o Norte da Europa, deve-se at-
tribuir,. em grande parte, a maior europeisação daquella
airea brasileira no seculo XVIII quanto a padrões de con-
forto de casa.
Mawe é até emphatico sobre o conforto europeu que
encontrou em Villa Rica: "as casas de pessôas de alta
classe em Villa Rica são muito mais commodas e melhor
mobiladas que as do Rio de Janeiro e São Paulo, a maior
parte muito bem decoradas".
O tom europeu das modas de vestuario em Olinda,
no Recifo, em São Salvador e até em S. Luiz do Mara-
nhão, tom tão accentuado, nos seculos XVI e XVII,
empallideceu no seculo XVIII, indo ostentar-se com maior
viço nas montanhas de Minas. Montanhas apparentemen-
te tão anti-européas, mas, na verdade deixando-se pene-
trar atravez de bachareis, de mascates e até de ingleses,
288 GILBERTO FR~YRE
ASCENSÃO DO BACHAREL E DO
MULATO
E ainda:
mar: "é quasi certo que não existem hoje negros puros
no Brasil". Um ou outro talvez. O negro, no Brasil,
está quasi reduzido ao mulato. O problema do negro,
entre nós, está simplificado pela miscegenação larga -
que alagou tudo, só não chegando a um ou outro resto
mais só e isolado de quilombo, ou a um ou outro grupo
de brancos mais intransigente nos seus preconceitos no
problema do mulato. Os proprios grandes leaders db que
o negro conserva de mais intimamente seu entre nós - as
tradições religiosas - são hoje mulatos. Mulatos, alguns
delles já muito desafricanisados nos seus estylos de vida,
mas que se reafricanisaram indo estudar na Africa. Tal
o Pae Adão, do Recife, que se fez pae-de-santo em Lagos;
que fala africano, com a mesma facilidade com que fala
português.
Mas essas tradições religiosas, como outras formas de
cultura, ou de culturas negras, para cá transportadas, junto
com a sombra dos proprios irôcos sagrados, com o cheiro
das proprias plantas mysticas - a maconha ou a diamba,
por exemplo - é que veem resistindo mais profundamente
á desafricanisação. Muito mais que o sangue, a côr e a
forma dos homens. A Europa não as vencerá. O Brasil
nunca será, como a Argentina, um paiz quasi europeu,
nem como o Mexico, quasi amerindio. A substancia da
cultura africana permanecerá em nós atravez de toda a
nossa formação. O mulato nem sempre será, com os Ma-
chado de Assis - sophisticado á inglesa - com os Cote-
gipe, os Montezuma, os Bilac, o cumplice do branco contra
o preto. Tambem, o cumplice do negro contra o branco.
Essa sua influencia africanisante vem se exercendo atravez
das mulatas que ainda hoje ensinam os meninos brancos
a falar, e dentro desse primeiro ensino de português trans-
mittem-lhes superstições, cantos, tradições africanas; atra-
vcz das mulatonas gordas que cozinham para as casas dos
brancos, africanisando com seus temperos as proprias re-
364 GILBERTO FREYRE
João.
BIBLIOGRAPHIA ( 1)
BIBLIOGRAPHIA ESPECIALISADA
sen (ed.), Sex ili Civilization (1929), Bloch, The Se.-rual life of
011r time, tr. (1928), Davis, Love in the macl1ine age; a psycho-
logical sti1dy of transitioii from patriarchal society ( 1930), Flu-
gel, The psychu-analytic st11dy of the family (1921), Mencken,
ln Defense of Woman (1926), Pruette, Woman a,1d leiS11rc
(1924), Cowdry, ed., H uma11 biology and racial ~elfare ( 1932),
May, Social con.trol of se:,; expression (1931).
Artigos nos A,inaes Brasilienses de Medicina, depois Annaes
da Academia de M cdicina, especialmente : <A mulher perante o
medico> .por Corrêa de Azevedo, XXXVIII, cCausas da mortali-
dade dos recem-nascidos no Rio de Janeiro>, XLII, «Estatistica
mortuaria no Rio de Janeiro>, por Haddock Lobo, XV, cO me-
dico~, por Corrêa de Azevedo, XVII, <Posição do medico>, p(l("
Feita!, XI, cO medico,, por Sá Pereira, XVII, <Discurso>, por
Nicolau Moreira, XXXIV, cA educação da mocidade e o desenvol-
vimento do. homem entre n6s>, por Corrêa de Azevedo, XXXVII,
«Aborto provocado sobre o ponto de vista medico-legal e humani-
tario1>, por Nicolau Moreira, XXV, e por Feijó, XXV, cProstitui-
ção:i, por Pereira Rego, X, <Prostituição no Rio de J aneir<>:>, por
Corrêa de Azevedo, XXXV, <Prostituição e syphilis no Brasil>,
por Soeiro Guarany, XLIV, <Regulamentação da prostituição>,
por Costa Ferraz, LV, <Medidas contra a prostituição no Brasil> ·
por João Francisco, XLII, <Prostituição no Brasil> por Menezes
Brum, XLIV, cReg'ulamentação sanitaria da prostituição1>, por
Silva Araujo, LV, cCentenario de Madame Durocher>, LXXXII.
SO~RAD0
2 JARDIM
4 PALANQUE
4 CASA 0[. AV[.NCAS
5 YIV[.IRO 0[. PASSARINHO
6 POMBAL
7 CACIMBA
a
~
TANQUE º' u.v~
GALUN11EIRO
ltOUPA
10 CIOQU[.lltO
t I COCHEIRA
12 CA5A Of:.CACNOltRO
13 seHZALA
t "I VIVEIRO I)[. PEIXt:
1~ &AIXA DE CAPIM
16~A8ULO
17 LUGAR 0[. MATAR PORCO,CARICflRO, !!Te.
18 PA5TO
t 9 MURO COM CN:D I)[. VIDRO
20 BANHEIRO
2 t 11uuweo:,
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f
1
Brasileiras da segunda metade do seculo XIV de apparcncia mais oriental do que curopéa.
Ma('alnhu todn d('; pt!)la.
Mucambos de pra:a, com alpendre.