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Sumário

Módulo 1.............................................................................................................. 3
Introdução................................................................................................................ 3
Turismo: entendendo o conceito............................................................................ 5
Diferentes turismos para diferentes turistas: como caracterizar oferta e
demanda.................................................................................................................. 9
Ecoturismo............................................................................................................. 13
Turismo de Base Comunitária (TBC).................................................................... 15
Unidades de Conservação: possibilidades de manejo........................................ 18
Referências........................................................................................................ 23
Módulo 2............................................................................................................ 25
Introdução.............................................................................................................. 25
Reconhecendo pontos fortes, pontos fracos e os principais aspectos do
ambiente externo................................................................................................... 27
Empreendedorismo e trabalho coletivo: formas de organizar sua iniciativa..... 29
Imagem e expectativas: em busca da experiência ideal..................................... 32
Promoção e comercialização no contexto do TBC: papéis
e responsabilidades.............................................................................................. 36
Referências........................................................................................................ 43
Módulo 3............................................................................................................ 44
Introdução.............................................................................................................. 44
Responsabilidade e Sustentabilidade: exercitando as principais
qualidades do TBC................................................................................................ 44
Hospedagem e Alimentação no contexto do TBC............................................... 47
Meios de Hospedagem......................................................................................... 47
Alimentos e bebidas.............................................................................................. 50
Referências........................................................................................................ 53
Módulo 1

Introdução
O mundo está mudando. Hoje é possível ver que as discussões sobre o meio ambiente
estão cada vez mais presentes no nosso dia a dia e organizações, trabalhadores,
clientes, governos, enfim, diferentes pessoas e integrantes de diversos setores
econômicos estão buscando se adaptar a essa realidade.

Nesse movimento, as pessoas adquiriram novos hábitos e comportamentos de


consumo. A busca por experiências vem ganhando espaço no mercado de turismo.

Escolhas são feitas levando em consideração novos fatores, como, por exemplo,
modelos de produção e consumo que considerem os atores envolvidos, os impactos
ambientais, a valorização da cultura local, o respeito aos povos tradicionais, a
empatia e a troca de conhecimentos; e práticas mais sustentáveis. Mas, o que
exatamente é sustentabilidade?

De acordo com a Organização das Nações Unidas


Ambiental
(ONU) o Desenvolvimento Sustentável é um modelo de
desenvolvimento que busca atender as necessidades
das atuais gerações de forma a garantir o uso para as
Sustentabilidade
gerações futuras.
Social Econômica
O tripé da sustentabilidade social, econômica e ambiental
é a característica principal desse modelo. Ou seja, uma
maneira de produzir, comercializar, consumir e viver que
respeita e valoriza o meio ambiente, assegurando a geração de renda ao mesmo
tempo que promove a conservação dos recursos naturais e do patrimônio histórico
e cultural.

Essa ideia surgiu por volta dos anos 70 quando alguns pesquisadores e personagens
políticos debateram na Conferência de Estocolmo (1972) os riscos do crescimento
econômico a qualquer custo. O conceito de desenvolvimento sustentável foi
consolidado em 1982, na ocasião da elaboração do documento “Nosso Futuro
Comum”, também conhecido como Relatório Brundtland, sendo considerado um

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marco importante por orientar novas práticas e comportamentos sustentáveis a
serem adotados pelos países participantes.

A partir disso, foram realizados outros encontros como a Rio 92 e, mais recentemente,
a Rio +20, onde dados sobre desmatamento, poluição, mudanças climáticas,
extinção de espécies, vivência de comunidades tradicionais foram debatidos e as
orientações foram renovadas. Entre as décadas de 1990 e 2000 foram traçados
os Objetivos do Milênio e em 2015 eles foram atualizados para os Objetivos do
Desenvolvimento Sustentável, dispostos na Agenda 2030 que foi pactuada entre
192 países e o Brasil.

SAIBA MAIS

Além desses, que são os principais marcos internacionais sobre o meio ambiente
nas últimas décadas, podemos ainda destacar no Brasil momentos importantes da
política ambiental nacional e da conquista por direitos dos povos tradicionais, entre
eles: a criação do Ministério do Meio Ambiente, em 1992, do Instituto Chico Mendes
de Conservação da Biodiversidade, o ICMBio, em 2007, do Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, o IBAMA, criado em 1989 e da
Fundação Nacional do Índio, a FUNAI, criada em 1967. Outro marco importante foi a
promulgação do Decreto nº 6.040 de 07 de fevereiro de 2007 que instituiu a Política
Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais
(PNPCT).

A PNPCT busca promover o desenvolvimento sustentável dos Povos e Comunidades


Tradicionais, trabalhando no reconhecimento, fortalecimento e garantia dos seus
direitos territoriais, ambientais, culturais, sociais e econômicos, respeitando e
valorizando sua identidade, suas formas de organização e suas instituições.

Compreender o conceito da sustentabilidade é de suma importância no contexto


desse curso para que possa ser incorporado no conceito de turismo.

Então vamos começar a entender mais sobre o turismo e como fazer dele uma
oportunidade para você!

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Turismo: entendendo o conceito
O turismo é uma atividade que, de alguma forma, está presente na vida de todos.
Mesmo que você ainda não tenha feito uma viagem, você já pode ter usufruído de
algum equipamento turístico ou ter sido impactado pela dinâmica na sua cidade.
Viajar é um desejo comum de muitas pessoas.

LEGISLAÇÃO

Para a Lei Geral do Turismo (Lei Nº 11.771, de 17 de setembro de 2008), considera-


se turismo as atividades realizadas por pessoas físicas durante viagens e estadas
em lugares diferentes do seu entorno habitual, por um período inferior a 1 (um) ano,
com finalidade de lazer, negócios ou outras.

Podemos considerar outras dimensões dessa definição. Você sabia que o turismo
quando explorado “a partir de sua vivência de tempo livre, de ócio, de uma vivência
lúdica e privilegiada do tempo livre, ele pode ser capaz de promover autoconhecimento,
capacidade crítica e emancipação”? (FAZITO et al., 2018). Essa ideia chama atenção
para os benefícios que vão além da obtenção de renda e geração de empregos, já
que é muito comum que o foco das justificativas sejam nesses últimos fatores. Mas
saber que o turismo dialoga diretamente com o tempo livre e como isso pode ser
engrandecedor para quem faz parte dele é também absorver mais profundamente o
quão valoroso para o próximo pode ser sua iniciativa.

Além de ser uma ótima alternativa de lazer, o turismo, de fato, é uma atividade que
se destaca na economia por gerar emprego e renda nos locais em que ocorre. A
renda que ele traz não se restringe aos trabalhadores diretos da área (como guias
ou hoteleiros). Existem outros serviços que também ganham com a presença e o
consumo de visitantes, como o setor de transportes, alimentação, entretenimento
e o comércio em geral. Essa capacidade é conhecida na economia como efeito
multiplicador do turismo.

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A cadeia produtiva do turismo, portanto é ampla e dá suporte ao produto
turístico que será ofertado. De acordo com o Ministério do Turismo, podemos
entender esse produto como “o conjunto de atrativos, equipamentos e serviços
turísticos acrescidos de facilidades, localizados em um ou mais municípios,
ofertado de forma organizada por um determinado preço” (BRASIL, MTUR,
2007, p. 17).

Para atender as expectativas dos turistas, a região necessitará de serviços básicos


da cadeia, como transportes, para acessar o destino. Portanto, no esquema
apresentado a seguir, todos os elementos citados possuem alguma relação. A
cadeia representa a união entre esses diferentes elos presentes na dinâmica
turística. É possível que o turista escolha uma agência de viagens para fazer
a intermediação com os serviços que necessita reservar ou contatar antes da
viagem, economizando assim seu tempo. De qualquer forma, por contato direto ou
indireto com os equipamentos, serviços e atrativos do destino, o turista, idealmente,
alcançará seu objetivo principal.

O turismo atua como um sistema em que se espera que todas as partes trabalhem
corretamente para que o todo funcione. Dessa forma, um destino turístico não pode
contar somente com um atrativo - que pode ser um recurso natural, como uma
cachoeira ou a praia, um recurso cultural, como eventos e celebrações ou roteiros -
para gerar um fluxo de visitação recorrente.

É necessário, primeiramente, que o turista saiba que o atrativo existe e tenha


informações sobre como chegar (promoção e agenciamento). Após isso, ele
precisa ter acesso seguro ao local (infraestrutura e transportes) e dependendo da
experiência, ter a garantia que tenha um lugar para descansar (hospedagem) e fazer
suas refeições (alimentação).

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Esquema Representativo da Cadeia Produtivo do Turismo

Algumas instituições também são partes importantes desse sistema e trabalham


em prol de seu desenvolvimento, como os governos dos diferentes níveis:
municipal, estadual (Secretarias) e federal (Ministérios), que acompanham o setor
o promovendo, monitorando seu fluxo, investindo em infraestrutura e capacitando
pessoas interessadas em trabalhar no setor. Além deles, Universidades também
acompanham com projetos e pesquisas e são parceiros essenciais para o
crescimento da atividade.

Podem existir lacunas ou falhas nesse sistema, mas isso não impede que você
comece a trabalhar com uma iniciativa de turismo em sua região. Muitas atividades
começam a se mover quando estimuladas por outras a partir do momento que
visualizam o retorno que essa dinâmica pode gerar.

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NOTA

TURISMO

Atividade na qual uma pessoa ou um grupo de pessoas se desloca para fora de seu
entorno habitual em busca de práticas de lazer, realização de negócios, encontro
com familiares ou outras motivações.

Você se lembra do que falamos sobre sustentabilidade? Devemos priorizar as


virtudes do que é ofertado e estabelecer um sistema de turismo estruturado, de
forma a garantir que a comunidade possa contar com o turismo para complementar
sua renda, tanto para essa quanto para as futuras gerações.

Temos alguns nomes para falar sobre o turismo que é praticado de forma ética,
assegurando o bem-estar da população, a preservação do meio ambiente e a
capacidade de geração de renda a longo prazo. O mais conhecido é o Turismo
Sustentável. Ele surge como uma alternativa que considera determinados
pressupostos para seu desenvolvimento, como a garantia da conservação do meio
ambiente, a equidade social e a eficiência econômica do destino. É importante
salientar que não cabe a ele a responsabilidade por todo o desenvolvimento
sustentável de um local, entretanto, ele pode ser um importante indutor do alcance
de outras metas sociais mais amplas que foram pensadas para a região (COSTA,
2013; MCCOOL, 2016).

Existem segmentos do turismo que se aproximam mais desse viés de sustentabilidade,


como o Ecoturismo ou o Turismo de Aventura, por utilizarem os ambientes naturais
ou próximos à natureza como atrativo ou principal lugar de realização. Porém, o
ideal é que todos os segmentos turísticos incorporem práticas sustentáveis nas
suas operações. Vamos falar mais deles a seguir.

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Diferentes turismos para diferentes turistas: como
caracterizar oferta e demanda
O mercado turístico é composto, basicamente, por oferta e demanda, ou seja,
serviços turísticos que são oferecidos e pessoas que querem consumi-los. Algumas
características vão definir ambos e conhecê-las melhor pode facilitar o encontro
entre essas duas partes. Vamos começar pela oferta turística.

Os destinos turísticos possuem diferentes atrativos,


equipamentos ou estão localizados em ambientes
com perfis específicos, como em regiões rurais que
têm como produto principal a visita a vinícolas ou
a estada em hotéis-fazenda, por exemplo. Sabendo
quais são seus potenciais, é mais fácil direcionar
esforços para planejar e gerir aquilo que você sabe
que pode atrair um fluxo de visitantes.

O turismo também foi segmentado para que os órgãos responsáveis possam


orientar a condução de suas atividades. Atualmente, os segmentos reconhecidos
pelo Ministério do Turismo são: Ecoturismo, Turismo Cultural, Turismo de Estudos
e Intercâmbio, Turismo de Esportes, Turismo de Pesca, Turismo Náutico, Turismo
de Aventura, Turismo de Sol e Praia, Turismo de Negócios e Eventos, Turismo Rural
e Turismo de Saúde (BRASIL, MTUR, 2006).

Você já pode ter escutado falar em outros segmentos de turismo, como o turismo
gastronômico, mas, na verdade, ele pode ser inserido no turismo cultural e é
bastante presente no turismo rural. Os segmentos citados acima abarcam um
conjunto de características mais amplas e não excluem a possibilidade de, em
um mesmo destino, dois ou mais deles serem identificados. Por exemplo: em uma
cidade litorânea é possível identificar como segmento principal o Turismo de Sol
e Praia, mas ela também pode oferecer visitas a bens culturais valiosos (Turismo
Cultural) que podem ser atrativos para potenciais turistas. Os produtos podem ser
trabalhados separadamente e podem ser interligados por roteiros turísticos. De
qualquer forma, o destino poderá desenvolver ambos.

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? PERGUNTA

Você também pode estar se perguntando: onde está nessa lista o Turismo de Base
Comunitária?

Veremos na próxima seção que o TBC não é um segmento, mas sim uma forma de
se organizar e trabalhar o turismo na sua comunidade, independente do segmento
identificado.

Dentre os segmentos mencionados, em iniciativas de TBC é mais comum a presença


do Ecoturismo, pois ele “utiliza, de forma sustentável, o patrimônio natural e cultural,
incentiva sua conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista
através da interpretação do ambiente, promovendo o bem-estar das populações”
(BRASIL, MTUR, 2006, p.9). Por isso, muitas iniciativas de TBC se concentram em
áreas naturais e, pela importância de enfatizar o respeito ao meio ambiente, o
Ecoturismo é muito presente em sua prática.

Outro segmento de destaque é o Turismo Cultural, que se baseia na “vivência


do conjunto de elementos significativos do patrimônio histórico e cultural e dos
eventos culturais, valorizando e promovendo os bens materiais e imateriais da
cultura” (BRASIL, MTUR, 2006, p. 13). Como no TBC o que é oferecido ao visitante,
comumente, é vinculado diretamente à cultura local, esse também é um segmento
habitual.

NOTA

Do outro lado do mercado está a demanda turística. Os turistas possuem caracte-


rísticas e interesses diferentes. Logo, precisamos entender os perfis de demanda
para que consigamos fazer a conexão com o produto ofertado e assim fazer com
que a experiência seja a melhor possível para os dois lados.

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Visitantes de todas as idades, gêneros, classes, profissões e lugares são bem-
vindos. Entretanto, algumas características pessoais podem impactar em suas
escolhas. Por exemplo, é mais comum jovens realizarem Turismo de Estudos e
Intercâmbio. Não quer dizer que pessoas com mais idade não realizem, mas pelo
fato de os jovens estarem ainda em período escolar, a idade é um fator marcante na
escolha por esse segmento.

É possível usar vários critérios para segmentar a demanda, como: recorte


geográfico, comportamental, por padrão de consumo, etário ou socioeconômico,
entre outros. Selecionar esses critérios e conhecer mais o potencial turista auxilia
no direcionamento preciso do seu material promocional, além de te ajudar nas
adequações necessárias em seu atrativo ou equipamento, a depender da expectativa
ou necessidade daquele visitante.

Falaremos mais sobre o perfil do viajante de TBC na próxima seção e como


direcionar seu produto para eles no segundo módulo. Mas é importante reforçar
que, independentemente do turista, deve-se buscar o respeito mútuo, à natureza
e à cultura local. Inclusive, você pode ter um papel ativo na conscientização dos
seus visitantes em relação à valorização da sua cultura e da preservação do meio
ambiente.

Confira algumas dicas para ao acompanhar visitantes.

No momento que você tiver contato com visitantes, potenciais ou efetivos,


compartilhe os elementos positivos da sua localidade, da sua comunidade e do
seu projeto. Você pode fazer isso contando histórias que são populares, mostrando
imagens ou vídeos e integrando outros moradores a esse encontro, com relatos da
vida local.

Além disso, é interessante que você mantenha nos lugares em que o visitante
irá transitar, placas de sinalização e materiais culturais e promocionais que o
induzam a absorver o quão o lugar que ele está conhecendo é importante para
você. Dessa forma, o visitante estará mais propício a respeitar a natureza local e
os moradores, entendendo seus limites, preferências e o valor que sua iniciativa
agrega à comunidade. E você estará contribuindo com a educação ambiental de
mais pessoas.

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Comportamentos inadequados por parte de visitantes podem acontecer. Nestes
casos, é recomendado que se preste atenção quanto a esses comportamentos
e busque dialogar para que se evite situações desagradáveis. Você pode tentar
reverter essas circunstâncias concentrando esforços na promoção da educação
ambiental da localidade, formatando sua imagem, pois assim visitantes com
esse perfil não se sentirão confortáveis em replicar esses comportamentos em
sua comunidade. Não se preocupe em, de certa forma, diminuir a quantidade de
visitantes da sua iniciativa. Se você fizer um bom trabalho de definição do público-
alvo e direcionamento da propaganda, você manterá um bom fluxo de turistas que
movimentarão sua localidade e os arredores sem que traga danos para você.

Saber a capacidade que você pode receber é imprescindível para manter a qualidade
e o bom atendimento. Quando o fluxo turístico excede a capacidade de um local em
bem receber o visitante impactos negativos podem ocorrer, sobretudo na qualidade
da experiencia do visitante.

Os principais tipos de turismo que devem ser buscados em qualquer iniciativa são:

Considerando o cenário de crise em decorrência da pandemia da Covid 19, com


consequências para a saúde e a economia, as previsões para o mercado do turismo
apontam um retorno gradual das atividades, inicialmente com o aumento nas
viagens domésticas, de curta distância, com maior contato com a natureza e feitas

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de forma mais consciente, com, potencialmente, um benefício maior para pequenas
comunidades. A Organização Mundial do Turismo acredita que, pelo turismo ser
capaz de reaproximar as pessoas, ele será um importante vetor de solidariedade
nos próximos anos (UNWTO, 2020).

Ecoturismo
O fomento e a promoção de ações voltadas
ao desenvolvimento do turismo de base
comunitária e das cadeias produtivas as-
sociadas constituem focos estratégicos do
desenvolvimento e proteção do Meio Am-
biente. Atividades de visitação em áreas
protegidas, entre outras, ativam a cadeia
longa do turismo, atingindo positiva e di-
retamente as economias municipais, esta-
duais e regionais. O turismo de base comunitária também promove, diretamente,
a educação ambiental ao permitir uma melhor e mais ampla conscientização am-
biental, apreço pela natureza e entendimento de suas fragilidades e potencialida-
des.

O turismo de base comunitária, por exemplo, é uma alternativa para desenvolver


o turismo em várias regiões do país, gerando um círculo virtuoso que gera melhor
proteção ambiental das áreas protegidas.

As áreas ganham ao receberem investimentos que não seriam possíveis se


dependessem exclusivamente do Poder Público; as populações do entorno ganham
pelo incremento do turismo e subsequente melhoria do mercado de trabalho
e da renda; os Governos municipais, estaduais e Federal ganham com aumento
de arrecadação de impostos e divisas estrangeiras assim como ganha o meio
ambiente, mais protegido, admirado e compreendido.

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É previsto que a implementação de projetos de Turismo de Base Comunitária gere
um aumento do fluxo turístico, com consequente benefício para as regiões visitadas,
para os municípios situados nos seus entornos com a geração de emprego, renda
e desenvolvimento socioeconômico, o aumento da arrecadação de impostos, a
melhoria do diálogo com as comunidades e dos serviços prestados à comunidade
local e aos visitantes.

Executar essas estratégias, por meio da sua iniciativa de TBC, além de contribuir para
a conservação do meio ambiente, do patrimônio natural e cultural da sua localidade,
pode também agregar valor ao seu produto e aumentar o seu retorno. Os turistas
que optam pela prática do Ecoturismo, em geral, já adotam um comportamento
voltado à preservação e ao respeito pelo ambiente em que eles estão inseridos. É
comum que eles demonstrem interesse em conhecer melhor a biodiversidade local,
buscando a oferta de outros serviços e o consumo de produtos da própria região.

De acordo com o ICMBio (SOUZA; SIMÕES, 2019) - que analisou as contribuições


econômicas do turismo para Unidades de Conservação e proximidades - os impactos
econômicos desse tipo de atividade afetam diretamente o mercado turístico e,
indiretamente, outros negócios locais.

SAIBA MAIS

Somente em 2018, a contribuição total dos gastos dos visitantes na economia


nacional resultou em:

Cerca de 90 mil empregos;

R$ 2,7 bilhões em renda;

R$ 3,8 bilhões em valor agregado ao PIB;

R$ 10,4 bilhões em vendas;

R$ 740 milhões em vendas diretas do setor de hospedagem;

R$ 531 milhões do setor de alimentação.

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Diante disso e das inúmeras alternativas que o conjunto de recursos naturais
do país proporciona, direcionar sua iniciativa de TBC para ser uma oferta
ecoturística é uma ótima ideia para impulsionar seu negócio, valorizar sua
comunidade e proteger o meio ambiente em que você vive.

Turismo de Base Comunitária (TBC)


Já mencionamos anteriormente que o turismo traz retornos positivos para uma
localidade. No início dos anos 2000, um grupo de pessoas interessadas nessa
questão (pesquisadores, consultores e trabalhadores do turismo) começou a
discutir sobre como a distribuição desses retornos positivos poderia ser feita de
forma mais justa e equitativa para mais participantes do sistema turístico.

Uma fração considerável da economia turística ainda se concentra em grandes


empresas, setor importante na geração de empregos, promoção e desenvolvimento
de destinos, mas percebeu-se que o turismo também pode ser muito bem aproveitado
quando a gestão é realizada pela população local. Por meio da participação direta
na concepção dos projetos e nas tomadas de decisão sobre os investimentos locais,
comunidades tradicionais poderiam assegurar sua permanência e desenvolver a
valorização da cultura local (ARAÚJO, 2011). Nesse contexto nasce o Turismo de
Base Comunitária.

LEGISLAÇÃO

De acordo com o decreto nº 9.763, de 11 de abril de 20191:

O Turismo de Base Comunitária é um modelo de gestão da visitação protagonizado


pela comunidade, que gera benefícios coletivos, promove a vivência intercultural,
a qualidade de vida, a valorização da história e da cultura dessas populações e a
utilização sustentável para fins recreativos e educativos, dos recursos da Unidade
de Conservação.

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1
Logo, o que distingue o TBC dos demais tipos de turismo é sua organização ser
realizada pelos próprios habitantes do destino turístico, sem o repasse do controle
sobre a forma de condução da atividade para empresas desvinculadas do território.
Nessa forma de gestão, o resultado esperado ultrapassa os benefícios econômicos
da atividade e se concentra nos encontros e trocas de experiências genuínas sobre
distintos modos de vida (MALDONADO, 2009).
Para que dê certo, é essencial que o trabalho seja coletivo, que haja um trabalho
conjunto entre os diferentes empreendedores e pres-
tadores de serviços ou produtos turísticos da comu-
nidade, onde responsabilidades são compartilhadas
por todos que também pretendem se beneficiar com
o TBC. Esse diálogo promove o reconhecimento de
seus valores, a integração e organização da cadeia
produtiva local e o empoderamento de seus partici-
pantes, o que contribui também com a contenção do
êxodo de comunidades tradicionais e de trabalhado-
res jovens dos seus locais de origem.

Mas como saber se o que você tem a oferecer ao mercado pode ser uma iniciativa de
Turismo de Base Comunitária? É importante identificar se sua comunidade está apta
a ser um destino turístico para que não ocorram problemas quanto à recepção dos
moradores locais e à adequação da infraestrutura para a movimentação desejada.

Além dos elementos indicados na seção anterior (atrativo, acesso e equipamentos/


infraestrutura) estarem condizentes com a proposta de TBC acima explicada, é
imprescindível que as práticas turísticas respeitem o modelo de gestão participativo
e que a relação custo-benefício seja satisfatória para todos os seus participantes.
O TBC pode funcionar como um instrumento de valorização dos recursos naturais
e culturais, mas você deve se atentar para que ele não se torne prejudicial à
comunidade local e à do entorno. Seguir por essa escolha descaracterizará sua
iniciativa como pertencente à oferta de turismo de base comunitária.

1
O decreto regulamenta o disposto no inciso XI do caput do art. 5º da Lei Geral do Turismo (nº11.771/08), que dispõe
sobre a Política Nacional de Turismo. O texto integral do decreto está disponível em: https://www.in.gov.br/materia/-/
asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/71137356/do1e-2019-04-11-decreto-n-9-763-de-11-de-abril-
de-2019-71137346

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Nesse sentido, estabeleça um diálogo aberto com os habitantes da localidade e das
proximidades e busque parcerias para fortalecer sua iniciativa.

Apresente os pontos positivos e esteja receptivo às críticas, aos questionamentos e


ao compartilhamento de novas ideias e soluções que possam surgir. A partir disso,
estando certo de que seu produto tenha vocação para ser uma iniciativa de TBC e
estando disposto a trabalhar nessa dinâmica, você pode seguir confiante.

Vamos reforçar alguns elementos-chave para que você possa absorver quais são
os aspectos principais que sua iniciativa ou localidade deve ter ou desenvolver para
ser parte da oferta de TBC no Brasil. O quadro a seguir, elaborado por Fabrino et al.
(2016), apresenta:

ELEMENTOS-CHAVE DEFINIÇÕES

Dominialidade Refere-se ao grau de domínio da comunidade sobre os aspectos de


controle, propriedade e gestão da atividade turística

Organização comunitária Diz respeito ao modelo e processo de gestão consolidado em torno


do TBC, além de sua interação com o ambiente externo

Ampliação de oportunidades e Refere-se à existência de mecanismos/acordos que contribuem


repartição de benefícios para a repartição dos benefícios advindos da atividade turística na
localidade e para a ampliação de oportunidade no acesso de seus
membros às atividades relacionadas ao turismo

Integração econômica Evidencia a integração do turismo com as outras atividades


econômicas da localidade, identificando novos arranjos surgidos a
partir do seu advento

Interculturalidade Relaciona-se com o intercâmbio cultural e a troca de referências e


experiências estabelecidas entre os turistas e a comunidade local

Qualidade ambiental Refere-se às condições da comunidade com relação ao saneamento


ambiental e, ainda, as formas de manejo dos recursos naturais locais.

Fonte: Fabrino et al. (2016, p.176)

Ter esses aspectos em mente quando planejar e executar sua iniciativa pode te
auxiliar a não esquecer dos fundamentos do TBC e guiar seus passos ao caminho
do desenvolvimento sustentável do turismo na sua comunidade.

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O Turismo de Base Comunitária conta com uma forte rede de apoio às comunidades
tradicionais que o praticam.

IMPORTANTE

Ao fortalecer essa rede de solidariedade, você poderá contribuir diretamente para a


criação de uma alternativa de renda justa para sua comunidade, ao mesmo tempo
em que o respeito ao ambiente em que você vive será apreendido por mais pessoas
já que “o contato direto dos visitantes tanto com o meio natural como cultural é
uma das características mais próprias do turismo de base comunitária” (SANSOLO;
BURSZTYN, 2009, p. 155). Por essa razão é comum que iniciativas de TBC estejam
inseridas ou próximas às Unidades de Conservação - UCs, as quais demandam uma
atenção especial no seu manejo. Vamos falar sobre elas a seguir.

Unidades de Conservação: possibilidades de manejo


O Turismo de Base Comunitária se apresenta em um contexto de preservação da
natureza e das culturas e tradições brasileiras como um vetor de valorização e
proteção das nossas riquezas.

NOTA

Para auxiliar no ordenamento do avanço urbano e preservar áreas naturais, foi


promulgada a lei nº 9.985/2000 que instituiu o Sistema Nacional de Unidades de
Conservação, o SNUC. Esse instrumento serve como principal marco regulatório
voltado à gestão e ao uso sustentável das áreas protegidas brasileiras. Para
iniciar seu projeto de TBC, você deve saber se ele se localiza em uma UC e quais
são as regras específicas para a prática de atividades nela. Pode ser que haja leis
estaduais e municipais que também incidam sobre seu território e, portanto, você
deve procurar os órgãos responsáveis da sua região para esclarecer seus direitos,
deveres e restrições quanto ao uso da área.

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São poucos os casos de legislações específicas que regulamentam políticas de
Turismo de Base Comunitária em municípios ou estados. Podemos citar os exemplos
de legislações em Santa Catarina, que abrange o turismo rural, e nos estados do Rio
de Janeiro e da Bahia, além de Projetos de Lei nos estados de São Paulo e de Minas
Gerais.

Essas regras também podem variar de acordo com o tipo de UC presente em sua
região. De acordo com o SNUC, as UCs estão divididas em dois grupos principais:
Unidades de Conservação de Proteção Integral, que permitem o uso indireto dos
seus recursos, dependendo do caso, e Unidades de Conservação de Uso Sustentável
que permitem o uso sustentável de uma parte dos seus recursos naturais.

O conjunto das UCs de Proteção Integral é composto por: Estação Ecológica;


Reserva Biológica; Parque Nacional; Monumento Natural; e Refúgio de Vida
Silvestre. Já as Unidades de Uso Sustentável contemplam: Área de Proteção
Ambiental; Área de Relevante Interesse Ecológico; Floresta Nacional; Reserva
Extrativista; Reserva de Fauna; Reserva de Desenvolvimento Sustentável; e
Reserva Particular do Patrimônio Natural (SNUC, 2011).

Como se tratam de áreas que necessitam de mais atenção quanto à movimentação


de pessoas e ao uso dos recursos, precisamos olhar para a legislação pertinente
para entender melhor como você poderá atuar com sua iniciativa de TBC.

Baseado no SNUC e no Decreto nº 4340 de 2002, foram criados instrumentos de


delegação de serviços de apoio à visitação, já que se tratam de áreas públicas (logo
não podem ser vendidas a entes privados), mas que podem ser utilizadas de forma
adequada por empresários e pela população local. Os instrumentos de delegação
são mecanismos legais acordados com a gestão pública que estabelecem deveres e
contrapartidas para utilização do espaço e dos recursos das UCs pelo setor privado.

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LEGISLAÇÃO

Atualmente, contamos com três instrumentos:

• Concessão (com base na Lei n.º 8.987/1965 e no Art. 14-C da Lei n.º 11.516/2007,
incluído pela Lei n.º 13.668/2018)
Art. 14C - Poderão ser concedidos serviços, áreas ou instalações de unidades
de conservação federais para a exploração de atividades de visitação voltadas à
educação ambiental, à preservação e conservação do meio ambiente, ao turismo
ecológico, à interpretação ambiental e à recreação em contato com a natureza,
precedidos ou não da execução de obras de infraestrutura, mediante procedimento
licitatório regido pela Lei nº 8.987, de 13 de fevereiro de 1995.

(BRASIL, Lei nº13668/2018)

• Autorização (com base no Decreto n.º 4.340/2002, Art. 25, inciso I e Art.26)
Art. 25. É passível de autorização a exploração de produtos, subprodutos ou
serviços inerentes às unidades de conservação, de acordo com os objetivos de
cada categoria de unidade.

Parágrafo único. Para os fins deste Decreto, entende-se por produtos, subprodutos
ou serviços inerentes à unidade de conservação:

I - aqueles destinados a dar suporte físico e logístico à sua administração e à


implementação das atividades de uso comum do público, tais como visitação,
recreação e turismo;

(BRASIL, Decreto nº 4340/2002)

• Permissão (com base na Lei n.º 9.636/1998 e no Decreto n.º 3.725/ 2001)
Art. 22. A utilização, a título precário, de áreas de domínio da União para a realização
de eventos de curta duração, de natureza recreativa, esportiva, cultural, religiosa
ou educacional, poderá ser autorizada, na forma do regulamento, sob o regime
de permissão de uso, em ato do Secretário do Patrimônio da União, publicado no
Diário Oficial da União.

(BRASIL, Lei nº9.636/1998)

20
Ao conferir em qual tipo de área protegida sua iniciativa se insere, você deve procurar
o instrumento de delegação de serviços mais adequado ao seu caso. Cada um deles
possui diferentes formas de obtenção, e níveis de facilidades e obrigações distintas.
Estude qual se adequa mais as suas necessidades e fique atento as chamadas e
editais nos portais dos órgãos responsáveis por elas, como o ICMBio. O quadro
abaixo mostra as principais diferenças entre os instrumentos.

Concessão Autorização Permissão

Declaração
Contrato Administrativo Ato Administrativo Ato Administrativo
jurídica

Forma de Processo seletivo


Licitação Credenciamento
obtenção simplificado

Ato Não há precariedade Ato precário Ato precário

Sem prazo definido


Tempo de Sem prazo definido (conveniência e
Longo prazo
delegação (renovação periódica) oportunidade da
administração)

Rescisão nas hipóteses Revogação a Revogação a


Possibilidade previstas em lei. Cabe qualquer tempo sem qualquer tempo sem
de rescisão/ indenização se a causa indenização, salvo se indenização, salvo se
revogação não for imputável ao outorgada com prazo outorgada com prazo
concessionário ou condicionada ou condicionada

Acordo Bilateral Unilateral Unilateral

Custos Onerosa Gratuita ou onerosa Gratuita ou onerosa

Baixo nível de
Elevado nível de Baixo nível de
Investimento investimento ou sem
investimento investimento
investimento

Utilização obrigatória
Utilização obrigatória de
Utilização facultativa de bem público
Uso do bem bem público, conforme
do bem público conforme finalidade
finalidade concedida
permitida

21
Pessoas jurídicas ou Pessoas físicas ou Pessoas físicas ou
Responsável
consórcios de empresas jurídicas jurídicas

Prazo
médio para 18 meses 3 meses 3 meses
obtenção

(Fonte: ICMBio, 2020)

É importante acompanhar as atualizações dos decretos e normativas que


podem afetar sua oferta. Por exemplo, em 2018, foi instaurada a Lei Federal
nº 13.668 que modificou alguns pontos da gestão dos recursos naturais por
parte do Ibama e do ICMBio, acrescentando artigos de interesse direto do
mercado turístico em UCs.

NOTA

Somado a esses instrumentos existem portarias e outras instruções normativas


que regulamentam alguns serviços em UCs, como o transporte de passageiros
(774/2019) e transporte aquaviário de passageiros (770/2019), comercialização de
alimentos (771/2019), locação de equipamentos (772/2019), condução de visitantes
(769/2019) ou regulamentam a realização de atividades específicas, como eventos
(IN 5/2019), mergulho (IN 3/2020), pesca esportiva (91/2020) e a observação de
pássaros (IN 14/2018). Acompanhe os sítios eletrônicos dos órgãos estaduais e
federais competentes como o Ministério do Meio Ambiente, o IBAMA e o ICMBio
para verificar as atualizações sobre as regras de manejo em UCs e da legislação
pertinente.

Para avançar nessas questões será necessário que você se organize enquanto
sociedade, empresa ou microempreendedor e procure os órgãos responsáveis da
sua região. Veremos como fazer isso a seguir. Prepare-se! No próximo módulo
vamos aprender como colocar o TBC em ação!

22
Referências
BARTHOLO, R.; SANSOLO, D. G.; BURSZTYN, I. (org.). Turismo de base comunitária:
diversidade de olhares e experiências brasileiras. Rio de Janeiro: letra e imagem,
2009. p. 108-119

COSTA, H. A. Destinos do turismo: percursos para a sustentabilidade. Rio de Janeiro:


FGV, 2013.

FABRINO, N. H.; NASCIMENTO, E. P.; COSTA, H. A. Turismo de Base Comunitária:


Uma Reflexão sobre seus Conceitos e Práticas. Caderno Virtual de Turismo, v. 16, n.
3, p. 172-190, 2016.

FAZITO, M.; RODRIGUES, B.; NASCIMENTO, E. P.; PENA, L.C.S. O papel do turismo no
desenvolvimento humano. PAPERS DO NAEA (UFPA), v. 372, p. 1-21, 2017.

MCCOOL, Stephen F. The Changing Meanings of Sustainable Tourism. In Reframing


Sustainable Tourism. Stephen F. McCool; Keith Bosak (orgs). Reino Unido: Springer,
2016.

SNUC – Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza: Lei nº 9.985,


de 18 de julho de 2000; Decreto nº 4.340, de 22 de agosto de 2002; Decreto nº 5.746,
de 5 de abril de 2006. Plano Estratégico Nacional de Áreas Protegidas: Decreto
nº5.758, de 13 de abril de 2006 / Ministério do Meio Ambiente. – Brasília: MMA/
SBF, 2011.

ICMBIO, Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, 2019. Turismo


de base comunitária em unidades de conservação federais: caderno de experiência.
Autores: Ana Gabriela de Cruz Fontoura (et al.) 1ª ed. Brasília – DF. Disponível em:

https://www.gov.br/icmbio/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/
publicacoes-diversas/turismo_de_base_comunitaria_em_ucs_caderno_de_
experiencias.pdf

UNWTO, 2020. “Tourism can be a platform for overcoming the pandemic by bringing
people together, tourism can promote solidarity and trust”: UN secretary-general
Antonio Guterres. Disponível em: https://www.unwto.org/news/tourism-can-
promote-solidarity-un-secretary-general-antonio-guterres

23
ICMBIO, 2020. Para além das concessões: perspectivas sobre modelos de parcerias
em parques. Instituto Semeia. Disponível em: https://youtu.be/q0fQWODYmVM

ZAOUAL, Hassan. Do turismo de massa ao turismo situado: quais as transições?


Caderno virtual de turismo, v. 8, n. 2, 2008.

BRASIL. Ministério do Turismo. Segmentação do Turismo: Marcos Conceituais.


Brasília: Ministério do Turismo, 2006.

BRASIL, ICMBio/IBAMA. Interpretação ambiental nas unidades de conservação


federais/organizadores Antônio Cesar Caetano [et al.]; colaboradores Bruno Cezar
Vilas Boas Bimbato [et al.]. – [S.l.]: ICMBio, 2018. Disponível em https://www.
gov.br/icmbio/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/publicacoes-diversas/
interpretacao_ambiental_nas_unidades_de_conservacao_federais.pdf

SOUZA, T. V. S. B.; SIMÕES, H. B.; Contribuições do Turismo em Unidades de


Conservação Federais para a Economia Brasileira - Efeitos dos Gastos dos Visitantes
em 2018: Sumário Executivo. ICMBio. Brasília, 2019. Disponível em: https://www.
gov.br/icmbio/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/publicacoes-diversas/
contribuies_Economicas_do_Turismo__final__web.pdf

24
Módulo 2

Introdução
Depois de entender melhor o que é o Turismo de Base Comunitária, vamos ver
o que você pode fazer para finalmente começar a se beneficiar da sua prática.
Neste módulo, falaremos sobre como estruturar sua iniciativa de TBC em quatro
momentos.

Organização da iniciativa

Estudaremos, neste módulo, como estruturar sua iniciativa de TBC em quatro


momentos:

COMERCIALIZAÇÃO | seu produto chegando no mercado

Os passos propostos são etapas do processo necessários para a materialização


da sua ideia. Você pode entender como a realização de um Plano de Negócios, im-
portante instrumento para elaboração e acompanhamento do seu empreendimento
turístico. Dimensionar visualmente e financeiramente o que você precisa fazer irá te
ajudar a evitar contratempos ou gastos desnecessários.

25
Começaremos por reconhecer as principais características do seu projeto e
identificar em quais aspectos você precisará dedicar mais esforços. Seus pontos
fortes e fracos são os elementos que compõem sua iniciativa que você deve prestar
atenção para dar destaque e investir mais neles, ou tentar diminuí-los, encontrando
soluções para potenciais problemas.

Também é importante lembrar que sua iniciativa não está descolada de seu lugar
de origem. Assim, não podemos começar a estruturá-la sem considerar onde ela se
insere e quem você poderá afetar. Tenha sempre em mente que todo TBC deve ser
cuidadoso quanto à comunidade local, quer ela participe diretamente ou não. Por
isso, reconhecer o que está acontecendo ao seu redor também é muito importante
nesse momento inicial.

Tendo maior conhecimento do cenário em que você se encontra e dos seus pontos
fortes e fracos, é necessário que você se organize quanto à legislação pertinente,
ou seja, que você siga as regras para formalizar seu projeto diante do governo
local. Esse passo é imprescindível para você dar mais segurança ao seu visitante.
As regras ou leis são parâmetros estabelecidos por instituições competentes que
objetivam garantir o bem-estar do consumidor e, ao mesmo tempo, assegurar que
você tenha as condições necessárias para praticar o turismo, evitando acidentes e
maiores problemas. Veremos também como você pode se organizar coletivamente.

Com seu projeto estruturado e formalizado, vamos seguir com os passos falando
sobre a imagem e as expectativas do turista. Precisamos antever o que se espera
de iniciativas de TBC e trabalhar de forma direcionada, exaltando seus pontos
fortes por vários meios. Dessa forma, você conseguirá construir seu diferencial, a
matéria-prima que será utilizada nas suas propagandas, e fazer com que o visitante
opte pela sua oferta.

Por último, veremos como seu produto chega no mercado e para isso escolhemos
temas relevantes para serem trabalhados. Ao ter seu diferencial definido e
apresentado na imagem do seu projeto, você poderá investir na divulgação por meio
da publicidade. Ao mesmo tempo você não pode esquecer das relações de custo-
benefício, dos investimentos que você fará e das escolhas que você terá que fazer.

26
Para aumentar seu retorno, preocupe-se em agregar valor ao seu produto e medir
os custos financeiros e sociais dessas escolhas. Você pode também estabelecer
parcerias para aumentar esse valor, diminuir custos e contar com uma rede de apoio
maior para desafios que você possa enfrentar. Por fim, para aqueles que estão em
uma Unidade de Conservação ou próxima a ela, vamos falar brevemente sobre as
oportunidades nessas áreas.

Reconhecendo pontos fortes, pontos fracos e os principais


aspectos do ambiente externo
Qualquer bom planejamento possui um ponto
de partida em comum: um bom diagnóstico.
Ao se trabalhar com um projeto turístico você
tem muitos elementos a serem levados em
consideração, como vimos no módulo 1, em
especial no momento de propor mudanças no
território ou adaptações na infraestrutura local.
Além disso, a população também possui um
conjunto de características específicas que
podem influenciar diretamente a sua iniciativa. Um diagnóstico bem feito pode ser
um ótimo primeiro passo para auxiliar você a construir um panorama mais completo
sobre o que pode afetar seu projeto e como ele pode afetar as pessoas próximas.

Esse instrumento pode ser mais ou menos complexo. Você pode levantar a maior
quantidade de informação possível para seu objetivo, mas, o mais importante, é
saber usar essas informações para começar a estruturar sua iniciativa. Uma boa
estratégia é utilizar um instrumento de análise de negócios como a matriz FOFA,
sigla para Forças, Oportunidades, Fraquezas e Ameaças. Forças se referem a pontos
positivos do seu projeto, enquanto Oportunidades são fatores positivos do ambiente
externo que você pode aproveitar. Já as Fraquezas são os pontos negativos que
podem ocorrer e Ameaças são dificuldades do ambiente externo que podem trazer
desafios para sua estruturação. No exemplo a seguir você pode conferir algumas
possibilidades e tentar preencher com elementos da sua iniciativa e região.

27
Identificar antecipadamente em quais pontos positivos você pode investir e quais
problemas você deve tentar diminuir ou resolver, fará com que você economize
tempo e dinheiro. Chame parceiros para te ajudar a construir esse diagnóstico. No
caso do TBC, a visão coletiva sobre o objeto de trabalho é essencial para fortalecer
a participação comunitária e incrementar o projeto com perspectivas diferentes.

Esse primeiro passo já é uma oportunidade para você praticar a escuta com os
moradores locais e juntos pensarem em soluções e alternativas para a promoção
do Turismo de Base Comunitária. É também o momento de saber em que você se
diferencia dos demais produtos ofertados e conferir se os principais elementos que
compõem o produto turístico (infraestrutura, equipamentos, atrativos e serviços)
estão de acordo com os princípios do Turismo de Base Comunitária e estão
preparados para receber visitantes.

28
? PERGUNTA

Algumas perguntas podem te guiar nesses primeiros passos: o acesso possui


sinalização, tem um caminho seguro? Seu atrativo se encontra em boas condições?
Sua região conta com equipamentos de suporte em locais próximos ao atrativo? Os
moradores locais podem ofertar os serviços esperados? Seu produto está condizente
com a legislação pertinente? O serviço que você irá oferecer está alinhada com as
práticas e saberes da cultura local? A sua forma de atuação reduz ao máximo os
possíveis impactos ambientais da sua atividade.

Em relação à legislação, quando a atuação se der em Unidades de Conservação,


você deverá ter ainda mais atenção quanto ao uso dos recursos naturais e quanto
à convivência com as comunidades tradicionais ali existentes. Procure ajuda nos
órgãos de fiscalização e monitoramento locais e regionais para compatibilizar sua
iniciativa com a legislação pertinente e esteja atento às formas de conduta exigidas
para sua atividade.

Empreendedorismo e trabalho coletivo: formas de


organizar sua iniciativa
Após checar a viabilidade do seu projeto e iniciar o diálogo com a comunidade, é
o momento de formalizar sua iniciativa. Essa etapa é imprescindível para que você
faça tudo dentro dos parâmetros legais e possa transmitir segurança para seus
visitantes. Um parceiro valoroso nessa etapa é o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro
e Pequenas Empresas, o Sebrae. No portal do Sebrae, você conta com um conteúdo
vasto sobre formalização, burocracias, modelos de negócios, acompanhamento e
outros assuntos que podem te ajudar. Você também pode procurar por uma sede
próxima à sua localidade. Eles contam com especialistas em turismo e projetos de
cunho social. Portanto, nessa seção vamos nos guiar pelas orientações deles.

29
Esse também é o momento em que você pode se tornar, de fato, um empreendedor. O
empreendedorismo é “a capacidade que uma pessoa tem de identificar problemas e
oportunidades, desenvolver soluções e investir recursos na criação de algo positivo
para a sociedade. Pode ser um negócio, um projeto ou mesmo um movimento que
gere mudanças reais e impacto no cotidiano das pessoas” (SEBRAE, 2016).

Dessa maneira, sua decisão de iniciar um negócio de TBC é também parte de um


comportamento empreendedor no qual você pode desenvolver suas habilidades de
liderança, organização, criatividade, resiliência. É um passo importante para sua
jornada e para o desenvolvimento da sua localidade. Você tem algumas opções
para se formalizar individualmente2. As principais são:

Microempreendedor Individual (MEI)

“é o empresário individual com receita bruta anual até R$ 81.000,00 no ano (1º de
janeiro a 31 de dezembro) ou R$ 6.750,00 em média por mês de atuação para o
primeiro ano de exercício das atividades, optante pelo Simples Nacional e SIMEI”
(SEBRAE, 2020). Um canal indispensável para quem optar por essa modalidade é o
Portal do Empreendedor;

Empresário Individual

“exerce em nome próprio uma atividade empresarial. Atua individualmente, sem


sociedade. Sua responsabilidade é ilimitada (responde com seus bens pessoais
pelas obrigações assumidas com a atividade empresarial). O empresário pode
exercer atividade industrial, comercial ou prestação de serviços, exceto serviços de
profissão intelectual” (SEBRAE, 2020).

2
Veja mais modalidades no site: https://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/ufs/sp/conteudo_uf/quais-sao-os-
tipos-de-empresas,af3db28a582a0610VgnVCM1000004c00210aRCRD

30
Caso você tenha negócios maiores você pode buscar outras modalidades, como
uma Empresa Individual de Responsabilidade Limitada, por exemplo.

Outra boa opção para se organizar enquanto negócio turístico de base comunitária
é se unir a outros moradores locais interessados para formalizar o projeto de TBC
como uma sociedade simples. A diferença dela para as modalidades apresentadas
acima é que a sociedade simples não tem o mesmo caráter empresarial (não
exercem atividade própria de empresário sujeito a registro - art. 982 do Código Civil)
e é de responsabilidade de duas ou mais pessoas. As modalidades mais adequadas
a uma iniciativa de TBC são:

Cooperativas

“é uma organização constituída por membros de determinado grupo econômico


ou social que objetiva desempenhar, em benefício comum, determinada atividade”
(SEBRAE, 2020);3

Associações

“são organizações que têm por finalidade a promoção de assistência social, cultural,
representação política, defesa de interesses de classe, filantropia. Associações
são Pessoas Jurídicas, formadas pela união de grupos que se organizam para a
realização de atividades não-econômicas, ou seja, sem fins lucrativos” (SEBRAE,
2020).4

IMPORTANTE

Para além da formalização, você também deve estar atento a outras legislações
como a legislação trabalhista, fiscal e tributária, sanitária, ambiental, entre outras.
Dependendo com qual atividade você trabalhará, alguma norma específica também
poderá fazer referência à sua prestação de serviço. Por exemplo, para ser Guia
de Turismo é necessário que você faça um curso técnico e seja cadastrado no
CADASTUR, de acordo com a Lei nº 8.623, de 28 de janeiro de 1993.

3
Como criar uma cooperativa (Sebrae) https://m.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/artigos/artigosCoperacao/como-
criar-uma-cooperativa,f3d5438af1c92410VgnVCM100000b272010aRCRD
4
Roteiro para criação de associações (Sebrae) https://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/artigos/
artigosCoperacao/roteiro-para-criar-uma-associacao,54fe438af1c92410VgnVCM100000b272010aRCRD

31
Outros equipamentos e atividades também são obrigados pela lei nº
11.771/2008, a Lei Geral do Turismo, a se cadastrarem nesse sistema. São
eles: Acampamentos Turísticos, Agências de Turismo, Meios de Hospedagem,
Organizadoras de Evento, Parques Temáticos e Transportadoras Turísticas. O
cadastro é gratuito.

Tudo certo com o seu negócio perante a lei? Sim? Podemos seguir para a formatação
do seu produto de TBC então! Vamos ver como começar a trabalhar a imagem do
seu projeto para influenciar o imaginário do seu potencial consumidor e assim ele
te escolher.

Imagem e expectativas: em busca da experiência ideal

? PERGUNTA

Como fazer com que o potencial visitante saiba da sua oferta e tenha vontade de
visitar seu produto de TBC?

Majoritariamente, visitantes estão em


busca de uma experiência única, por isso é
importante você saber ao certo qual ou quais
características diferenciam sua iniciativa das
demais, ou seja, o que torna ela especial. A partir
de uma imagem bem construída do destino
turístico é possível influenciar a motivação
da demanda e assim atrair um público mais
qualificado para sua comunidade.

A imagem do destino da sua iniciativa pode ser entendida como um conjunto de


elementos que representem, de forma visual, oral, gustativa, olfativa (ou seja, por
meio dos seus sentidos) a essência da sua proposta ou do lugar. Quando falamos
em imagem podemos lembrar de algo próximo da marca. Qual a marca que você

32
quer deixar na memória dos seus visitantes? Quando você pensa no seu projeto,
qual a primeira cena que aparece em sua mente?

O que surgiu nas suas respostas pode ser trabalhado no sentido de afetar seu
potencial consumidor, seja porque ele achou interessante a história que você
contou, porque ele achou bonita a paisagem mostrada, porque ele sentiu o cheiro
ou provou uma comida que é feita de forma própria em sua região. Despertar a
motivação da demanda é direcionar, por meio de diferentes canais (televisão,
internet, rádio, amostras em feiras regionais), esses elementos para um potencial
público interessado, a fim de que se torne um consumidor e turista. A motivação é
o impulso em querer fazer algo. No caso do turismo, em querer viajar, conhecer e
vivenciar novas experiências.

NOTA

Precisamos entender melhor que público é esse. Ao pensar na formatação da imagem


do seu destino você deve ter em mente quem vai vê-la para assim adequar os canais
de transmissão, a linguagem usada e o direcionamento aos locais de onde você
pretende ter um retorno. O público consumidor de Turismo de Base Comunitária tem
um perfil próximo aos consumidores de Ecoturismo. Já têm consciência ambiental
prévia, gostam de consumir produtos e experiências locais. Muitos conhecem as
iniciativas por meio da internet em canais alternativos de turismo. Geralmente, estão
em busca de boas histórias para agregar aos seus conhecimentos sobre o território
e tentam estabelecer um bom diálogo com a comunidade que está recebendo.

Esse perfil não exclui a presença de outros, porém deixa mais evidente que sua
iniciativa tem mais chances de ser escolhida por um determinado grupo que tem um
comportamento benéfico e que pode gerar um retorno econômico interessante para
a comunidade. Vincular a imagem do seu destino a boas histórias pode aumentar
a sua atratividade e inclusive mudar preconceitos quanto ao histórico da imagem
local.

33
Lembre-se que a imagem não é composta somente de fotografia, ainda que
essa seja um elemento importante. A imagem do destino ou do produto é
essa narrativa que pode ser visual, oral, gustativa e que pretende despertar
a vontade do turista em conhecer o lugar pessoalmente. Quantas vezes ao
comer um prato típico do Pernambuco, como uma fatia de bolo de rolo, um
carioca não se deslocou em pensamentos até a capital, Recife? Ou ao ouvir o
ritmo do Carimbó não sonhou em estar dançando no Pará?5 Aliar componentes
assim deixa sua apresentação mais rica e pode ser a chave para a tomada de
decisão do seu futuro cliente.
5

O imaginário do turista não depende somente do seu esforço em trabalhar e mostrar


uma boa imagem do seu local. A pessoa carrega consigo um compilado de
experiências anteriores e desejos em relação às futuras experiências. Você não
conseguirá atrair todos os tipos de público e não precisa se preocupar com isso,
foque na história que quer contar e na demanda que quer que escute.

Busque por estudos de demanda específicos da


sua região ou município. Pode ser que já existam
pesquisas sobre potenciais mercados realizados
por centros de pesquisas e Universidades ou que
a instância municipal de turismo tenha realizado
algum levantamento prévio. Ainda que tenhamos
orientações gerais de onde iniciar, algumas
especificidades vão depender de onde você se
localiza. Não adianta você investir exclusivamente
em um público internacional quando você já tem
um fluxo considerável de cidades vizinhas, por exemplo. Muitas iniciativas de TBC
se valem da população das cidades próximas. Trabalhar o vínculo histórico dessa
proximidade também pode ser uma alternativa para agregar valor à sua oferta.

5
Você pode ver como Recife trabalha sua imagem no site https://visit.recife.br/. Repare que eles utilizam um slogan
coloquial “Recife é massa” para aproximar o visitante das atividades que ele pode realizar na capital. Já Belém (http://
www.visitbelem.pt/Default/pt/Homepage) explora por meio de vídeo as belas paisagens e sua arquitetura.

34
A página Dados e Fatos do Ministério do Turismo também disponibiliza relatórios,
com informações sobre a demanda de forma mais geral, que podem ser úteis
dependendo da sua necessidade. Esses relatórios também apontam para mudanças
no mercado. Além disso, você pode contratar os serviços de consultores para fazer
um levantamento da demanda, buscar parcerias com Universidades próximas ou
procurar esses dados na internet.

Para finalizarmos essa seção, lembre-se que o que mais importa é que a imagem
deve refletir sua verdade, sua história. Não minta no momento de transmiti-la, pois
isso pode ocasionar decepção por levar o visitante a gerar uma falsa expectativa.
Não importa que pareça simples para você agora, a simplicidade pode ser algo
extremamente valioso para outra pessoa e pode ser uma característica de destaque
da sua oferta.

IMPORTANTE

Faça o exercício de olhar de fora e repare quais elementos você selecionaria para
destacar e quais você consumiria ou gostaria de conhecer melhor. Pode ser uma
dança, uma etapa da sua produção agrícola, uma forma de artesanato ou de pesca.
Isso (ou o combinado disso) pode ser seu principal recurso. Por último, peça ajuda.
Peça para que outras pessoas olhem para seu produto e comentem livremente o
que acham. Absorva as ideias e formate sua imagem com bom senso, seguindo as
orientações e princípios do TBC.

35
Promoção e comercialização no contexto do TBC: papéis e
responsabilidades

→ Conhecer os pontos fortes e fracos:

→ Sua iniciativa legalizada:

→ Trabalhar a imagem:

Tudo ok? Chegou a hora de encarar o mercado! Ainda que não haja fórmula
mágica para esse momento, alguns passos podem facilitar a chegada do seu
produto no mercado e são imprescindíveis para você conseguir provocar o
início da movimentação desejada.

Vamos focar nos seguintes temas: parcerias, agregação de valor, custo/benefício,


publicidade, e por último, oportunidades para o TBC em UCs. Com a sua imagem
formatada, você já é capaz de estabelecer contato com outros entes interessados
que fazem parte desse sistema e apresentar de maneira mais compreensível o que
você quer oferecer.

Inicialmente, precisamos falar de um tema sensível para alguns empreendedores: a


necessidade de parcerias. É comum pensar que você consegue fazer tudo sozinho.
Hoje, contamos com muitas ferramentas tecnológicas que nos ajudam a elaborar
artes impressas, vídeos promocionais, logos, organizar finanças, calcular custos
e entradas e direcionar seu produto ao público-alvo. A questão é que sendo você
responsável pela administração de todas essas etapas é difícil que você também
se responsabilize pela sua execução. Entenda, são processos e atividades distintas
que, quando acumuladas, podem trazer dores de cabeça e sobrecarga de trabalho.
Além das ações citadas, você ainda deverá administrar a prestação do serviço em
si, que pode exigir, a depender do serviço prestado, o acompanhamento do visitante,
arrumação de quartos, tradução, recepção, entre outros.

Por essa razão e para ampliar seu alcance no mercado (quanto mais pessoas
souberem do seu negócio, mais ele será divulgado para potenciais consumidores)

36
é importante tentar estabelecer parcerias. Para cada ação necessária à plena
execução do seu projeto busque indivíduos ou empresas que tenham interesses ou
um público comum ao seu e converse para acordar as contrapartidas.

Parcerias ajudam seu negócio a crescer mais


rápido e no TBC são essenciais para convidar
a comunidade a conhecer melhor sua inicia-
tiva e assim terem a chance de se tornarem
integrantes do sistema turístico local. Cada
membro do seu projeto sendo responsável
por um setor faz com que as peças funcio-
nem de maneira eficaz, não comprometendo
o todo.

Essas parcerias externas também podem ser boas oportunidades para agregar
valor ao seu produto ou região/destino. Valor não é somente o dinheiro acumulado
em determinado componente da oferta. Valor pode ser tempo, experiência,
conhecimento. Quando você tem um produto sustentável, comum em uma iniciativa
de TBC, ele agrega um valor positivo à região. Dessa forma, quando pensar nos
valores financeiros a serem cobrados por esse conjunto que você tem a oferecer,
você pode ter mais liberdade para pedir um retorno justo.

AGREGANDO VALOR

É muito comum, em casos de Turismo de Base Comunitária, você encontrar mais


de um atrativo ou atividade na proposta. Também é comum as iniciativas de
TBC se concentrarem na criação de circuitos, roteiros ou experiências conjuntas
de hospedagem e visita aos parques, acrescida do acompanhamento de algum
processo de extração ou produção, e o posterior consumo do que foi acompanhado.
Isso acontece pois quanto mais elementos ou pessoas façam parte do conjunto
da sua oferta, mais rica e completa a experiência pode ser (só cuidado para não
exagerar na quantidade e fazer com que a experiência fique muito longa ou com
pouco tempo para cada atrativo). Você também poderá pedir um retorno maior,
aumentando a renda do seu empreendimento a partir das singularidades locais.

37
Uma boa ideia é também prestar atenção nas características e produtos regionais, já
que são de conhecimento mais geral de potenciais consumidores de outros estudos.
Você também garante recursos mais frescos já que estão próximos de você e caso
precise de alguma assistência poderá contar com profissionais locais. Não se
preocupe em buscar padronizar os elementos da sua iniciativa com características
internacionais ou que não dialogam culturalmente com sua localidade. O turista,
geralmente, busca elementos diferenciados para agregar às suas experiências
prévias.

O esquema em tela mostra como o valor agregado atua na composição do valor


final do seu produto.

O esquema a seguir mostra como o valor agregado atua na composição do valor


final do seu produto.

Saber o valor total a ser cobrado pelo seu produto também demanda você ter
conhecimento de seus custos e investimentos realizados. Acompanhe todos os
gastos feitos em prol do seu projeto, anotando os valores dos insumos e de contratos
feitos, hora/trabalho, para que você possa cobrar um valor justo. Lembre-se que os
outros participantes da sua iniciativa também devem receber equitativamente de
acordo com o trabalho realizado.

38
IMPORTANTE

A análise do custo-benefício não parte somente do lado da oferta. A demanda


também avaliará se pode arcar com a experiência e irá comparar seus preços com
concorrentes. Por isso evite cobrar preços muito elevados. Essa é uma tática utilizada
quando é necessário conter um fluxo excessivo de visitantes que comprometem a
qualidade do serviço prestado. Caso não seja o seu caso, e para atrair mais pessoas
nesse momento inicial, proponha preços razoáveis - nem muito elevados, nem que
desvalorize o seu trabalho e dos demais trabalhadores.

Ao definir isso, você pode partir para a divulgação do seu produto. A publicidade é a
atividade que torna pública sua ideia, ou seja, faz com que a imagem do seu produto,
geralmente por meio do audiovisual, alcance um público-alvo. Ela é importante para
que você não dependa somente do boca-a-boca da sua comunidade e chegue a
mais turistas potenciais.

Mesmo que a indicação pessoal ainda seja uma ferramenta muito útil na promoção
de seu produto, hoje é possível ampliar sua voz por meio das redes sociais, sites
ou blogs com indicações de viagens e experiências de TBC. Caso você não tenha
o recurso inicial suficiente para investir em publicidade e propaganda, você pode
tentar fazer parcerias com meios de comunicação e agências turísticas para que
seu produto seja incluído em algum roteiro local ou regional.

Além disso, atualmente, a internet é uma ferramenta utilizada pela maioria dos
viajantes. Invista tempo e direcione uma pessoa ou um grupo para se ocupar
somente com a presença do seu produto no mundo digital. Temos várias opções de
plataformas para promoção e comercialização do seu produto, as mais conhecidas
e utilizadas são:

• Redes sociais: são os principais canais de comunicação entre empreendi-


mento-turista hoje, pois proporcionam agilidade no contato e compartilham
o conteúdo produzido para pessoas com interesses comuns. O acesso é
gratuito e você pode pagar para aumentar o alcance do seu produto;

39
• Sites de reservas: são sites que expõem opções de hospedagem e expe-
riências e realizam a venda pelo seu próprio sistema. Eles direcionam os
dados do seu visitante e o valor pago para você. É cobrado uma taxa de
acordo com o valor pago pelo turista;
• Blogs de viagem: podem ser nas redes sociais, plataformas de vídeos ou em
sites tradicionais. Geralmente, são coordenados por “viajantes profissionais”
e podem ajudar você a promover seu destino dependendo da quantidade de
seguidores. Podem cobrar pela promoção ou não;
• Site: ter seu próprio site ainda é a fonte mais segura para disposição de
informações sobre o que pretende oferecer. Existem plataformas que tra-
balham de forma gratuita, fácil e intuitiva para se elaborar um site. Cadas-
trar-se também em sites de busca garante que, assim que alguém buscar
por você no site, sua iniciativa apareça com local exato, horário de funcio-
namento e contatos.
Caso sinta necessidade, contrate uma pessoa ou empresa especializada em
publicidade e propaganda. Empresas juniores de Universidades são uma boa opção
para se ter serviços mais acessíveis e com comprometimento social. É necessário
ter atenção à linguagem utilizada e aos comentários feitos, pois isso pode impactar
na imagem do seu produto. Essas empresas podem te orientar quanto a isso. Chegar
ao mercado com uma proposta bem desenhada e instigante pode fazer a diferença
na sua motivação e na dos seus parceiros em continuar com o projeto.

40
Nosso último tema refere-se a um ponto abordado no módulo anterior: opor-
tunidades6 para o TBC em regiões com concessões, autorização e permissão
de serviços de apoio à visitação nas Unidades de Conservação. Ainda que a
modalidade mais conhecida seja a concessão – ela é mais apropriada para
empreendimentos maiores – você pode ampliar as suas possibilidades ao
executar serviços nas UCs com a autorização ou a permissão, já que esses
instrumentos de delegação:

Favorecem as unidades com baixo potencial para a concessão;

Promovem a formalização dos prestadores de serviços dentro das


Unidades de Conservação, potencializando a qualificação do serviço
delegado;

Geram emprego e renda para as comunidades do entorno da unidade;

Favorecem os casos em que há sazonalidade de visitação.

Uma UC que passou pelo processo de concessão, também pode oferecer outros
serviços por meio de autorização ou permissão, ou mesmo as três modalidades de
forma concomitante. Com exceção do Parque Nacional do Iguaçu, as outras UCs
concessionadas até o momento também possuem algum tipo de autorização, por
exemplo. Caso a UC que você quer atuar seja estadual, procure os órgãos estaduais
responsáveis, pois elas também podem ter instrumentos de delegação de serviços
de apoio a visitação.

Vejamos alguns exemplos de oportunidades de serviços que cada instrumento


pode oferecer:

Concessão

Construção e operação de Centro de Visitantes, transporte de massa, hotel, pousada,


cobrança de ingressos e estacionamento;

Autorização
6
6https://www.icmbio.gov.br/portal/noticias1/cbuc/3352-diretor-do-icmbio-diz-que-delegacao-de-servicos-e-para-
beneficiar-visitante

41
Condução de visitantes, atividades de aventura sem instalação de estrutura na UC
(por exemplo: guiamento de escalada, mergulho) e passeio em 4x4;

Permissão

Pequenos meios de hospedagem, camping, abrigo, atividades de aventura com


estrutura (tirolesa, aluguel de bicicleta) e pequenos negócios (loja de souvenir,
lanchonete).

No site do ICMBio você pode encontrar chamadas e editais relativas a delegação de


serviços de apoio a visitação em UCs federais. Fique atento também às oportunidades
que possam surgir nos sítios eletrônicos dos órgãos estaduais competentes, como,
por exemplo, o do Instituto Estadual de Florestas de Minas Gerais - IEF, responsável
pelo PARC – Programa de Concessão de Parques Estaduais.

42
Referências
IDSM. Práticas para o ecoturismo de base comunitária em Unidades de Conser-
vação/Pedro Meloni Nassar; Luciana Vieira Cobra; Fernanda Sá Vieira (Autores). -
Tefé, AM: IDSM, 2017, disponível em: https://mamiraua.org/documentos/2e5638f-
2d0397658ec029464703c2abd.pdf Acesso em 07 de abril de 2021.

MADEIRA, N. Marketing e Comercialização de Produtos e Destinos. Sociedade


Portuguesa de Inovação. Porto, 2010. Produção apoiada pelo Programa Operacional
de Valorização do Potencial Humano e Coesão Social da RAM (RUMOS). Disponível
em: http://www.spi.pt/documents/books/turismo/docs/Manual_IV.pdf Acesso em
07 de abril de 2021.

GOOGLE. A estrada do viajante para a tomada de decisão - Think with Google. 2014.
https://think.storage.googleapis.com/intl/ALL_br/docs/2014-travelers-road-to-
decision_research-studies.pdf Acesso em 07 de abril de 2021.

SEBRAE. O que é empreendedorismo. Disponível em: https://blog.sebrae-sc.com.


br/o-que-e-empreendedorismo/ Acesso em 07 de abril de 2021.

43
Módulo 3

Introdução
No segundo módulo vimos os principais esforços que você deverá fazer para colocar
o TBC em prática na sua localidade. Não se preocupe, pois sempre que precisar
você pode consultar novamente o conteúdo e buscar apoio nas instituições que
trabalham com essa forma de fazer turismo. O TBC pode proporcionar seu encontro
com uma rede maior de pessoas interessadas em fazer o bem às comunidades por
meio do turismo.

NOTA

Para finalizar seus estudos, que tal reforçar as boas práticas estudadas com
exemplos reais de sucesso? Vamos ver também dois serviços muito importantes
para sua iniciativa ser ainda mais completa: a oferta de hospedagem e alimentação.
Elas podem ser seu principal produto ou podem complementar o que você pretende
oferecer. De qualquer forma as duas são importantes para que o turista possa ficar
mais tempo no seu destino e ter uma experiência mais rica.

Responsabilidade e Sustentabilidade: exercitando as


principais qualidades do TBC
No momento em que você começar sua atuação, estando ela próxima ou não de uma
Unidade de Conservação, você começa a afetar a sua comunidade e os arredores. O
TBC é uma forma de obter os ganhos gerados pela movimentação turística - renda,
emprego, troca de experiências - sem que os custos sejam tão elevados. Mas ainda
assim há custos.

Dessa forma, você precisa ter cuidado em se manter fiel aos princípios do TBC
e revisar seus processos sempre que puder. Passamos por cada um durante o
conteúdo e os exemplos dados, mas seguindo as diretrizes propostas pelo ICMBio

44
para o TBC, expostas abaixo, faça o exercício de conferir se suas práticas estão
alinhadas com eles.

Você pode ler a explicação de cada princípio no documento Princípios e Diretrizes do Turismo de Base
Comunitária em Unidades de Conservação Federais do ICMBio/MMA.

NOTA

Todos esses princípios tocam em uma questão comum: o empreendedorismo


responsável, também conhecido como responsabilidade socioambiental
(corporativa). Você é responsável por aquilo que faz e pelo impacto disso no mundo.
A partir do momento em que você age esperando um retorno positivo para si, você
também deve se atentar a quem e o que você impacta com sua atividade. Logo, para
se considerar um empreendedor do TBC, organize-se cuidadosamente e monitore
os resultados continuamente. Para isso, você pode utilizar ferramentas que te
auxiliam na materialização de sua ideia, como o Plano de Negócios mencionado no
módulo anterior, que você pode encontrar no portal do Sebrae e em outros portais de
instituições de negócios e administração.

Existem parâmetros como a ISO 14.000 (do inglês, Organização Internacional de


Normalização 14.000) que dispõe de um conjunto de normas internacionais para
orientar empresas que têm a intenção de se adequar a um modelo de gestão

45
ambiental. Porém, para obter o reconhecimento do seu modo de gerir ambientalmente
correto, você não precisa somente buscar pelas certificações internacionais.

O Brasil conta com importantes prêmios sobre Turismo e Sustentabilidade. Você


pode procurar se inscrever neles para projetar sua iniciativa e aproveitar as trocas
de experiências que ocorrem nos eventos.

Falando em trabalho, não se esqueça que o trabalho coletivo dos empreendedores


é essencial para que o TBC dê certo.

Essa partilha do trabalho também permite que se agregue valor à cadeia turística
quando cada integrante traz para o projeto um elemento diferencial, em especial se
você pensa em elaborar um roteiro na sua região. Ainda que o retorno financeiro seja
parte importante, ter como prioridade o fortalecimento dessa rede e a valorização
cultural pode trazer retornos mais duradouros.

O retorno também se refere aos visitantes que você quer receber. O mercado turístico
é uma via de mão dupla: aquilo que você oferta atrai determinada demanda. Ao
mesmo tempo as especificidades dos turistas podem influenciar em mudanças
no seu projeto. Seja firme quanto à sua essência e tenha em mente que é muito
importante que a fruição dessa experiência seja feita de forma consciente. Do
contrário, você pode ter um negócio turístico, mas não pode dizer que faz parte de
uma iniciativa de TBC, fato que agrega valor ao seu produto e condiz com os ideais
do desenvolvimento sustentável.

IMPORTANTE

É essencial que os empreendedores entendam a sua responsabilidade quanto aos


seus impactos e trabalhem no sentido de buscar a sustentabilidade de suas práticas,
já que existe o interesse de que o TBC se mantenha a longo prazo, para que assim
proporcione oportunidades para gerações futuras.

Vamos ver a seguir dois setores que são muito importantes no TBC, podendo ser
trabalhados como atrativos ou complementos da sua oferta: meios de hospedagem
e alimentação.

46
Hospedagem e Alimentação no contexto do TBC
Antes de falarmos sobre meios de hospedagem,
precisamos falar sobre bem receber. Você
sabia que a hospitalidade não se resume
a ter um local de estada em sua iniciativa?
A hospitalidade, inclusive, é entendida por
alguns pensadores como algo que só é real se
for genuína, desprovida do retorno financeiro.
Mas hoje muitos já consideram ela como parte
essencial na gestão turística.

Não existe uma definição exata para a hospitalidade, porém além de poder ser
considerada uma virtude ela pode estar situada em protocolos de recepção (ainda
que não exclusivamente). Ser hospitaleiro é, em qualquer momento da experiência
do visitante, estar apto a apoiá-lo em suas necessidades, de forma educada
e cordial, respeitando seu espaço. Um dos principais motivos para o retorno de
turistas ao mesmo destino é o bom atendimento e a sensação de estar seguro,
acolhido, confortável, mesmo que as condições estruturais não sejam as ideais.

Meios de Hospedagem
Pode ser que o principal elemento da sua oferta seja o serviço de hospedagem.
O espectro de oferta é amplo e pode variar desde campings e hostels até hotéis
boutiques, com conceitos refinados. Para cada tipo de oferta diferente, você terá
tipos diferentes de demanda. Se você tiver vontade, espaço e recursos para construir
um hotel fazenda, por exemplo, talvez não seja a melhor opção dispor de um
camping, na mesma área, somente porque você tem espaço vazio. Hotéis fazendas
e campings têm públicos distintos e a dinâmica dos dois pode gerar atritos no dia
a dia do seu empreendimento.

47
IMPORTANTE

Além de estabelecer o perfil com o qual você pretende trabalhar, você deve ter
atenção à estrutura da sua hospedagem. Cada modelo demandará uma arquitetura
diferenciada, de maior ou menor complexidade. Pode ser oneroso, mas neste
momento é importante que você peça ajuda a arquitetos para que seu imóvel ou
terreno esteja apto a receber pessoas. Dois pontos são fundamentais para você se
concentrar nessa questão: acessibilidade e segurança.

Acessibilidade é a característica de ser acessível. Para algo ser considerado


acessível ele não deve ter impedimentos, barreiras ou dificuldades para qualquer
pessoa transitar, usar ou consumir. A Associação Brasileira de Normas Técnicas,
a ABNT, é o principal órgão que regulamenta as normas de acessibilidade. Para os
Meios de Hospedagem, a principal norma desenvolvida é a ABNT NBR 15401:2014
- Meios de hospedagem - Sistema de Gestão da Sustentabilidade, que também
dispõe sobre a adequação desses equipamentos às práticas sustentáveis7. Esteja
atento quanto às adequações sobre uso da água, da energia e a disposição dos
resíduos secos e orgânicos que serão gerados.

O quesito segurança conversa diretamente com a acessibilidade pois sua


estrutura não deve ter riscos para seus hóspedes. Enquanto alguém está no seu
empreendimento, você é responsável por sua segurança, então evite acidentes.
Não dispense a obtenção do alvará de funcionamento e da revisão dos bombeiros.
Mantenha os equipamentos de segurança (extintores, luzes de emergência) e
primeiros-socorros sempre em dia e em locais de fácil localização. Caso você ache
que está em um local de risco considere pedir apoio à equipe de segurança pública
local para que eles estejam mais presentes no perímetro de sua propriedade devido
ao possível fluxo de visitantes em horários não comerciais.

7
Você pode ler sobre a norma no site: http://abnt.org.br/paginampe/biblioteca/files/upload/anexos/
pdf/5df84c063a0dd623408a04754eab6423.pdf.

48
Caso você seja responsável pela adminis-
tração do meio de hospedagem, busque
preencher sua equipe com moradores lo-
cais em todas as hierarquias de cargos
presentes no seu negócio. Como defendido
no segundo módulo, ainda que pareça pos-
sível, não se isole. São muitos processos
para que uma pessoa sozinha consiga dar
conta a ponto de não falhar em algum mo-
mento. Para o meio de hospedagem você
pode buscar parcerias com agências locais
e de fora e com restaurantes próximos,
mesmo que você também ofereça alimen-
tação no estabelecimento.

Estabeleça as funções de cada pessoa e delimite as responsabilidades. Tenha


esse planejamento de forma visual, como em um esquema gráfico para que não
lhe fuja nada. Esse acompanhamento pode te ajudar a reduzir custos e a manter o
empreendimento organizado sem que você se sobrecarregue. O organograma ao
lado mostra um exemplo de um modelo simples sobre como distribuir o trabalho
entre setores em um meio de hospedagem comum. Existem outros modelos mais
complexos e você pode fazer as adequações de acordo com sua equipe e operações.

NOTA

Além de montar um empreendimento de hospedagem, atualmente, você tem outras


opções para receber e hospedar visitantes. Você pode oferecer um espaço da sua
casa, um quarto ou mais, ou mesmo o sofá da sua sala para aqueles viajantes com
espírito mais aventureiro (praticantes de couchsurfing, ou “surf de sofá”). Algumas
plataformas ofertam esse encontro entre você e o viajante. Mas contamos com
opções também para públicos específicos, nichos de mercado que também podem
ser explorados.

49
A dinâmica da hospedagem em sua casa muda da tradicional, pois o distanciamento
que o empreendimento proporciona deixa de ser tão forte quando você divide
sua residência com alguém, mesmo que por alguns dias. Por essa razão, preste
atenção para não invadir o espaço pessoal do visitante para que ele ou ela se sinta
confortável em estar hospedado com você. Lembre-se de no momento de ofertar
ser sincero e apresentar corretamente, de forma compreensível, as condições da
casa e as informações que você acha pertinente que seu hóspede saiba.

Sendo um elemento diferencial, principal objeto de atratividade, ou parte da oferta,


como local de repouso, lembre-se que a hospedagem é o local onde o visitante
confia que possa descansar, guardar seus pertences, se localizar, conhecer melhor
o destino. Prepare-se para bem receber.

Alimentos e bebidas
O setor de alimentação, diferente do setor de
hospedagem, pode se manter sem necessa-
riamente depender do fluxo turístico. Claro
que ele pode ser duramente afetado quan-
do o destino depende muito desse fluxo. Por
isso é importante entender que o serviço di-
ficilmente sobreviverá somente da atividade turística para se manter durante o ano
todo (que contará com períodos de alta e baixa temporada).

Ao chegar no destino, o turista de TBC espera poder desfrutar de diversas experiências


e uma das principais é a possibilidade de experimentar a culinária local. Portanto,
não tente introduzir elementos externos aos insumos e modos de preparo regionais
(frutos, raízes, legumes, vegetais, modos de preparo de carnes). Você não precisa se
adequar ao gosto que o visitante traz de casa, muito pelo contrário. O quanto você
puder oferecer aos turistas de gostos, cheiros e sensações diferentes daquelas que
eles estão acostumados, melhor. Isso é o que agrega valor ao seu produto e o faz
ser um diferencial.

50
IMPORTANTE

Tenha cuidado na escolha dessa diversidade de opções, pois alguns turistas podem
ter restrições alimentares (como alergias a frutose, frutos do mar, amendoim ou
intolerância à lactose e ao glúten) ou preferências específicas (vegetarianos e
veganos). Você pode oferecer diversas opções, mas lembre-se de sempre esclarecer
que tipo de alimento a pessoa está consumindo e ter informações suficientes sobre
algum efeito colateral que a ingestão pode ocasionar. Perguntar sobre alguma
condição acima mencionada também é uma boa ideia para se precaver de mal-
entendidos.

Mesmo com possíveis restrições, saber que ele tem acesso a essas opções já é
um ponto positivo para o turista. Por outro lado, você está contribuindo para a
valorização do bioma local, quando mostra a riqueza de possibilidades de uso e
consumo da produção agrícola de pequena escala. No setor de alimentos e bebidas
do TBC também se procura valorizar os modos de fazer e as tradições, muitas vezes
transmitidas de forma oral por gerações, de um prato típico.

Se você administra uma iniciativa de TBC que tem como foco a oferta de alimentos
e bebidas, pode ser uma boa ideia criar um roteiro com produtores agrícolas da
sua região. Assim, você garante insumos sempre frescos ao mesmo tempo em que
ajuda no escoamento da produção local. Você também pode promover o encontro
dos visitantes com produtores, cozinheiros e oferecer oficinas, workshops, palestras
ou outros tipos de vivência para que eles aprendam sobre os preparos das comidas
oferecidas.

Esteja atento às normas sanitárias de higiene, armazenamento e distribuição dos


insumos e produtos. Trabalhar com alimentos e bebidas exige que você tenha muito
cuidado quanto aos riscos de contaminação ou infecção pelo consumo do que você
oferta. Procure a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) da sua região
e se certifique que todos os seus procedimentos estão de acordo com as normas
estabelecidas.

51
NOTA

Uma questão, também abordada nos meios de hospedagem e que vale repetir aqui,
é o cuidado com a acessibilidade da experiência. Lembre-se que você pode receber
turistas que não falam a mesma língua que você ou que tenham alguma deficiência
físico-motora. Prepare-se para recebê-los com cardápios e informações traduzidas
e, principalmente, em braile. Será um diferencial positivo se alguém da equipe souber
se comunicar na Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS.

Outro ponto a se ter cuidado quando se trabalha no setor é a venda de bebidas


alcóolicas. Quando em dúvida, sempre confira a idade da pessoa para quem você
está vendendo pedindo alguma identificação oficial. Venda somente a maiores de
18 anos.

O setor de alimentação é um dos mais significativos do sistema turístico pois além


de ser indispensável para a manutenção do corpo, ele é também um grande com-
ponente agregador de valor à cadeia turística regional. Atualmente, turistas gastro-
nômicos crescem pela propagação em mídias sociais de novos sabores e experiên-
cias culinárias. Inicialmente, você pode ter alguns custos para adequação, mas não
se preocupe. O aprimoramento vem a cada etapa feita, desde a compra ou colheita
do insumo até a venda de um produto para o comércio local ou diretamente para o
turista.

Inclusive, no momento de comprar os insumos para seu equipamento dê preferência


aos produtos e ao cultivo da agricultura familiar local e de extrativistas da região.
Além de agregar valor ao seu serviço de alimentação, você garante alimentos mais
frescos e que você pode conhecer a procedência pessoalmente. Somado a isso,
você contribui para os princípios do Turismo de Base Comunitário ao dar um retorno
financeiro a outros moradores locais e incluí-los na cadeia produtiva do turismo.

O mesmo cuidado que você deve ter na administração do meio de hospedagem


você deve ter no setor de alimentos e bebidas - A&B. Controle os gastos, monitore
as saídas e entradas e envolva a comunidade o quanto puder e existir interesse.

Lembre-se que o turismo de base comunitária faz parte de um sistema amplo e


complexo. Ele não se restringe somente à hospedagem, comida e atividade e pode
proporcionar mais oportunidades do que você imagina no momento.

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Referências
IDSM. Práticas para o ecoturismo de base comunitária em Unidades de
Conservação/Pedro Meloni Nassar; Luciana Vieira Cobra; Fernanda Sá Vieira
(Autores). - Tefé, AM: IDSM, 2017, disponível em: https://mamiraua.org/
documentos/2e5638f2d0397658ec029464703c2abd.pdf. Acesso em 07 de abril de
2021.

WWF. Worldwide Fund for Nature. Manual de Ecoturismo de Base Comunitária:


ferramentas para um planejamento responsável - WWF, 2003. Disponível em http://
www.ecobrasil.eco.br/images/BOCAINA/documentos/didaticos/manual_ecotur_
wwf_2003.pdf. Acesso em 07 de abril de 2021.

MONTANDON, Alan. O livro da hospitalidade: acolhida do estrangeiro na história e


nas culturas. São Paulo: Senac de São Paulo, 2011.

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