obras que fizeram as minhas mãos, como também para o trabalho que eu, trabalhando, tinha feito, e eis que tudo era vaidade e aflição de espírito, e que proveito nenhum havia debaixo do sol (ECLESIASTES, 2, 11)
Freud inicia seu texto dizendo sobre a hipótese de um amigo
acerca do sentimento oceânico que a religião produziria nos seres humanos, da qual ligaria o ser humano do ponto de vista do seu Ego ao mundo exterior, do qual ele já fez parte quando era uma criança recém nascida. Dessa maneira, Freud utiliza o Ego e o mundo exterior como dois pontos principais da sua análise sobre o mal estar da cultura. Freud veio explicando a “origem” daquele sentimento, que ele categorizou como “sentimento oceânico”. Tal sentimento, para Freud, faz parte do Ego primitivo, quando o Eu era uma completude do mundo externo. Nisto, Freud mostra como o bebê lactante não diferencia seu Eu do mundo externo, tal fato só acontece mais adiante (O seio materno firma – ou reproduz traços intrauterinos – esta completude). Posteriormente, no entanto, o bebê percebe-se que suas sensações acontecem com determinadas ações, e que estas ações resultam em determinadas sensações – como o caso do choro para trazer o alimento, que no caso é o leite materno. Diante disso, o sujeito percebe-se que há a falta de algo que outrora tinha, e o que figura-se como principal é a sua fuga do desprazer e sua ida ao prazer. Aqui entra o Princípio do prazer, que será o principal para esta função. Como o sujeito percebe que é impossível o prazer sem intermediação e fim, e que seu desprazer nunca será totalmente saciado, uma vez que pode ser provocado por sensações internas, entra aqui o Princípio de realidade, que distinguirá elementos externos do interno. Aqui o Ego se separa do mundo externo. O que nosso Ego sente hoje é apenas um resíduo de um “sentimento de completude”, protagonista do nosso Ego primitivo e da nossa ligação com o mundo externo. Desta forma, Freud vai dizer mais a frente sobre que esse sentimento continua nas profundezas do nosso psiquismo, e que pode se reavivado. De fato, a religião, em si, busca ligar o sujeito a esse sentimento, com a promessa que um dia, tal falta será recompensada. E que lá, no Paraíso, o ego se associará novamente ao mundo externo. Como essa promessa é para uma vida posterior, perfeita, no cotidiano impera quase o contrário disso. Ainda mais pelo fato da distinção em categorias binárias entre os dois mundos, isto é, o paraíso e o mundo terreno (LEACH, 1983) e (LÉVI-STRAUSS, 1978). Como aqui falta a perfeição que há lá, devido aos problemas de modernidade (GIDDENS, 1991), pelos problemas da vida, como dores, decepções, e também o desprazer por sensações internas – como a impossibilidade de reviver o sentimento de completude – Freud vai dizer que os sujeitos usam paliativos para “amenizar” o sofrer. Esses paliativos, categorizados como 3 principais, seriam as poderosas diversões, que em si é autoexplicativa; as gratificações substitutivas, que são ilusões, que não são menos eficazes, graças ao papel da fantasia na vida psíquica; e as substâncias inebriantes, que mudam a química do corpo. Voltando para a religião, Freud vai dizer que está se esforço para dar um sentido para vida, para responder o motivo de estarmos aqui. Freud não diz que há um motivo em si, mas diz que a busca humana na vida é uma busca à felicidade. O ser humano quer estar feliz, AFASTANDO DE SI A INFELICIDADE. ESSE SERIA O FIM PARA TODOS OS SERES HUMANOS:
permanecerem sempre felizes. Essa busca tem dois lados, sendo um a
busca por fortes doses de felicidade e a outra na fuga do desprazer. A atividade humana busca sobretudo a primeira. Aqui entra o princípio do prazer, que é o principal nessa atividade, onde se estabelece esse sentido da vida. Mas o mundo externo, tal como é, não corresponde as expectativas do princípio do prazer, gerando um desconforto imenso na vida psíquica. Seu programa está em desacordo tanto com o externo como com o interno. Assim, a fuga da infelicidade se torna menos difícil do que o primeiro. O sofrer ameaça em três dimensões: pelo corpo, pelas relações e pelo mundo externo. Com isso, o ser humano se adequa a sua realidade, figurando agora o princípio de realidade, que vai administrar esses problemas. Freud vai nos mostrar alguns métodos de tentativa de fuga a infelicidade. Como resumo final, há um descompasso entre os projetos culturais e os instintos humanos, provocando essa culpa. O Sujeito troca a liberdade de satisfazer seus instintos pela promessa de segurança na vida em cultura. E essa segurança, no entanto, não traz a felicidade desejável, uma vez que para a cultura se estabelecer como tal, ele precisa fazer restrições aos indivíduos, indo diretamente aos seus instintos. A cultura assegura que o pai primitivo não mais usará sua força desmedida e arbitrária contra seus filhos. E seus filhos, que usaram de tal agressividade com o pai, para assegurar que isso não mais aconteceria, estabelecem normas de convívio. Embora fosse preciso a utilização de tal agressão, os filhos amavam o pai. E o sentimento de culpa reina nestes filhos, que agora são apenas irmãos. Como estes não podem mais usar sua “força bruta”, essa agressividade é internalizada, transformando-se num superego. Esse superego é a internalização da autoridade; ele produz o efeito de culpa a partir do seu conflito com os desejos do ego. Tudo isto pela troca que a cultura impõe, gerando um sentimento de angústia, ou consciência da angústia, ora revelada, ora inconsciente. De certa forma, sempre haverá a falta, ou o descompasso, como se algo estivesse sempre errado.
Bibliografia
FREUD, S. O Mal-estar na Civilização e Outros Textos 1930-