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Revista Violão Mais - Edição Nº 02
Revista Violão Mais - Edição Nº 02
Siqueira
Lima
A parceria vitalícia que rende ótimos frutos
E mais: Exclu
Curso sivo!
de vio
Conheça o Cuatro porto-riquenho popu lão
O cururu na viola caipira com v lar
ídeoa
El Abanico: o leque do flamenco ulas
A posição correta da mão esquerda
Repertório de vihuela de mano
18 44
Onde meu Viola
violão toca Caipira
20 48
Em mãos Flamenco
24
Duo
Siqueira Lima
34
Mundo
4 36 50
Você na V+ História Siderurgia
41 53
7 Violão Como
Acontece brasileiro estudar
8 56 65
Em pauta De ouvido Improvisação
10 60 66
Retrato Iniciantes Coda
Muito bom, parabéns! Estávamos precisando de algo assim. A lacuna era infinita
sobre o assunto. (Jorge Albino, em nossa página no Facebook)
Como estudar
Excelente essa iniciativa, tanto para professores quanto para alunos. Vamos em
frente. (Maestro Eduardo, em nosso canal no Youtube)
Guitarra flamenca
Valeu! Flavio, um show de aula! E que venham mais! Abraços. (Osaias Saraiva,
em nosso canal no Youtube)
Assinatura
A revista vai para as bancas de todo país? Sou do RN, então gostaria de saber
se sim quando ela chegará por aqui. (Ronildo Freire, por e-mail)
V+: A revista Violão+ é digital e pode ser acessada e baixada pelo site
www.violaomais.com.br. Não há versão impressa, mas, se você quiser,
pode baixar a versão PDF e imprimir as páginas que desejar.
Como participar:
1. Grave um vídeo de sua performance.
2. Faça o upload desse vídeo para um canal no Youtube ou para um servidor de
transferência de arquivos como Sendspace.com, WeTransfer.com ou WeSend.pt.
3. Envie o link, acompanhado de release e foto para o endereço editor@violaomais.com.br
4. A cada edição, escolheremos um artista para figurar nas páginas de Violão+, com
direito a entrevista e publicação de release e contato.
VIOLÃO+ • 5
você na violão+
6 • VIOLÃO+
acontece
Pela paz
Estão abertas as inscrições para o 10º Encontro
de Músicas e Danças do Mundo, que acontece
de 25 a 31 de janeiro de 2016 em Imbassaí, na
Bahia. Sob o tema “Por uma cultura de paz”, o
evento traz artistas ao Brasil para oficinas de
arte e de músicas e danças étnicas, práticas
corporais e meditativas, shows gratuitos e fóruns
culturais. Dentre as presenças internacionais, o
destaque fica para o músico Goran Kamil (foto), o
premiado grupo feminino marroquino de música
sufi Rhoum El Bakkali Ensemble, e o Egypt Folk
Ensemble. As inscrições podem ser feitas aqui.
VIOLÃO+ • 7
EM PAUTA
A fim de ajudar?
O violonista Jonathas Ferreira, que utiliza a técnica
conhecida mundialmente como Fingerstyle Guitar,
acaba de gravar um DVD instrumental e, para
finalização do projeto, capta recursos por meio
da plataforma de financiamento coletivo Partio.
A campanha vai até o dia 18 de outubro, quando
o trabalho será lançado no Rio Grande do Sul. O
músico, com formação em violão erudito, estudou
Fingerstyle com músicos como Pierre Bensusan
(França), Antoine Dufour (Canadá), Billy McLaughlin,
Stephen Bennett e Andy McKee (EUA). O Fingerstyle
é uma linguagem que permite usar o violão de forma
percussiva, harmônica e melódica simultaneamente,
caracterizando-se também pelo uso de afinações
alternativas. Para participar, clique aqui!
VIOLÃO+ • 9
RETRATO Por Luis Stelzer
Chico Saraiva
10 • VIOLÃO+
RETRATO
A relação
violão-canção
Chico Saraiva, músico carioca, criado
em Santa Catarina e radicado em São
Paulo, cedeu uma entrevista à Violão+,
contando um pouco sobre seu trabalho,
suas composições e embates com esse
instrumento maravilhoso e difícil de
ser domado, o violão. Seus trabalhos
envolvem, ao mesmo tempo, o cuidado de
um músico erudito com a expressividade
da canção popular
Violão+: Em que ponto considera que mesmo, em um pêndulo entre uma coisa
está sua carreira? mais do violão e voz, e uma coisa mais
Olha, está em um momento interessante ligada ao violão solista, a uma tradição
no sentido de eu já perceber os escrita, erudita, com sonoridade de
desdobramentos de um período que concerto que, de uma maneira ou de
aconteceu há uns três ou quatro anos, outra, sempre se fez presente no que
quando dei uma parada para refletir faço, dialogando com a canção popular.
sobre o que eu vinha fazendo. Usei o Tento muito fazer música que se baseie
espaço do mestrado que desenvolvi nisso. Então, refleti muito nesse tempo
na USP em uma linha que se chama sobre esses pontos de conexão, nessas
“processos composicionais”, o que muito maneiras de fazer uma música que
me inspirou porque, para um compositor, revele essa intimidade que o violão
é realmente gostoso estudar isso. traz. Para isso, fiz um processo longo
de entrevistas, com três mestres do
Violão+: O que você achou que tinha violão ligados à canção popular - João
que mudar? Você já era um compositor Bosco, Paulo Cesar Pinheiro e Luiz
de sucesso... Tatit - e três ligados à tradição escrita
Naquele momento, em 2012 e 2013, - Sérgio Assad, Paulo Bellinati e Marco
fiquei pensando, refletindo e estudando Pereira. E o Guinga, que é a pessoa que
VIOLÃO+ • 11
RETRATO
há mais tempo me serve de referencial painel que investiga muitos pontos que
no sentido de estabelecer uma conexão são pouco visitados, pouco comentados.
entre essas duas esferas na música que No filme, que já está em fase final de
desenvolve. Ele oferece um caminho produção, tento fazer uma conexão
que me serve de referência, que gosto como artista, que pergunta aos artistas
muito. Os reflexos desse momento de mais velhos sobre essas questões. Isso
balanço já vêm acontecendo. Fiz vários me parece que pode estabelecer uma
discos antes disso e agora novos projetos comunicação e apresentar um sentido
estão nascendo. em coisas que aparentemente são
desconexas.
Violão+: Você está citando esse
período de balanço como divisor Violão+: É como se você fizesse muitas
de águas. O que sente de diferença, coisas diferentes, simultaneamente,
com você compositor, intérprete com a canção e o violão?
das suas obras e acompanhante de Você vai lá e grava um disco instrumental.
cantores e cantoras, participando de O som é bem delicado. Depois, participa
prêmios e festivais de música que da Barca, que tem várias percussões,
existiam na época, como o prêmio piano, baixo, vozes... Comecei assim:
Visa, e essa nova fase, após esse foi um disco com violão, músicas do
momento de balanço? Paulo Bellinati, muitas das minhas
Eu ainda não tenho muito claro, pois não primeiras músicas, baixo e bateria, e,
faz muito tempo. Neste projeto, sinto uma ao mesmo tempo, ia pro interior com A
coisa interessante: o filme resultante, Barca, tocar em uma situação em que
que se chama Violão-Canção, o mesmo o violão mal era escutado, porque ele
nome de meu mestrado que, inclusive, vinha no meio de muita informação,
está para ser publicado. É como um em um diálogo que tem muitas coisas
diferentes do instrumento. Também
acompanhei grandes cantoras, como a
Verônica Ferriani e a Suzana Travassos,
na maioria das vezes cantando músicas
minhas. Sobre tudo isso, como tirar
belezas dessas diferenças, aproximar
esses universos, conversei com as
pessoas. Então, desde o início, isso
estava muito presente, essa coisa
um pouco cindida, por isso esse hífen
violão-canção é muito significativo para
mim. Procuro passar por essa ponte o
tempo inteiro e morar em cima dela, no
melhor sentido. Não em cima do muro,
mas em cima de uma ponte muito bem
Introspecção: a busca pela vibração ideal pavimentada, com saídas e acessos,
12 • VIOLÃO+
RETRATO
uma band. Em geral, a gente usa o e boosters, que contribuem para uma
contrabaixo para isso. sensibilidade maior do toque, porque o
sofrimento do violonista quando vai tocar
Violão+: E os equipamentos, dão no meio de uma banda é que, numa sala,
conta do que você deseja? algo que soa muito poderoso, de repente
Hoje em dia, já existem equipamentos que - do lado de um baterista que toque com
buscam o som mais próximo do acústico. mais energia o bumbo e de um baixista
Estou testando até pré-amplificadores que aumente um pouquinho mais o
16 • VIOLÃO+
RETRATO
volume numa caixa que, normalmente, já de que quando vai fazer uma coisa
é bem grande – se torna muito diferente, mais acústica, na praça, lidando com
se perde. É muito perigoso, inclusive, a expectativa das pessoas, que é outra,
que você perca completamente a sua diz ele, então parece que existem duas
técnica. Aconteceu isso comigo, o que condutas: uma é fazer o que ele faz,
me custou muitas horas de trabalho com pegar um instrumento elétrico, que
o professor Edelton Gloeden, mestre no muitos dos violonistas preferem não
violão erudito. São experiências muito usar. Já o Marco Pereira é um exemplo
diferentes, contrastantes mesmo, porque de violonista que, como eu, procura
você corre o risco de começar a perder trazer essa mesma sonoridade do violão
a sua técnica assim, embora tenha de madeira, tanto quanto possível, para
desenvolvido muitas coisas de pegada o palco. Para isso já existe tecnologia,
rítmica em situações limite desse tipo. mas o que sinto é que se depende, no
mínimo, de umas três horas de passagem
Violão+: Há como se precaver desses de som para chegar perto do ideal. Então,
problemas? seriam dois caminhos: assumir o violão
Na minha dissertação, existe um capítulo elétrico e trabalhar do som da linha, que
chamado: a sala, o banheiro e a praça: a nunca vai ser um som de violão, mas
sala é onde a gente estava conversando; outro; e procurar, o que já fiz tantas
o banheiro da casa da irmã, reza a vezes, conseguir um blend de uma boa
lenda, é onde João Gilberto descobriu a captação (agora temos o Carlos Juan,
sonoridade que lhe encantava, por causa o RMC, que são muito bons) com uma
mesmo da reverberação, e passou o microfonação. A dificuldade disso é que
resto da vida musical tentando reproduzir não pode haver instrumento nenhum
aquilo, não sem algumas dificuldades com volume alto perto de você. Quando
com técnicos e lendas e tudo mais. você está sozinho, não há dúvidas
Mas ele é um cara que sabia bem o que do que fazer. É claro que a opção é a
queria, que era ouvir a reverberação primeira. A opção do microfone é a boa,
mais plena do instrumento, para poder mas depende ainda do palco, do técnico
ter um equilíbrio entre voz e instrumento, e de muitas outras coisas. É muito difícil
acorde, cada uma das notas; e a praça, esse cotidiano. Muitas vezes é melhor
como eu falei com João Bosco, que é um levar os dois instrumentos e perceber
artista popular e tem muita consciência na hora o que fazer.
VIOLÃO+ • 17
onde meu violão toca Por Luis Stelzer
Gestação
Auxiliar na construção de uma relação ainda mais forte da mãe
com seu bebê, o violão é utilizado como ferramenta de produção de
experiências e sensações já na gestação
O projeto Acalanto, em São Paulo, visa Violão+: Como foi sua formação
fortalecer o vínculo afetivo mãe-bebê e musical? Qual a sua proximidade com
facilitar a comunicação entre eles ainda o violão?
na barriga ou após o nascimento por Venho de uma família extremamente
meio de jogos musicais, composição musical, em que meu pai tocava piano
de canções, visualizações, estimulação popular todas as noites em casa. Cresci
instrumental, canto, relaxamento e outras ouvindo jazz, bossa nova e samba e
atividades musicais. O Acalanto ajuda a fui muito influenciada. Durante toda a
mãe a vivenciar de modo mais profundo vida fiz aulas de música em escolas até
sua experiência de maternidade e a ingressar na Faculdade Santa Marcelina.
aproximar-se do universo infantil ainda Me formei em música, bacharel em canto
distante e imaginário. Conversamos com popular. Toco violão desde os 12 anos.
Isadora Canto - cantora, compositora, Comecei com um professor particular e
violonista, doula e idealizadora do projeto fui me especializando.
- sobre sua formação e a importância do
instrumento em suas atividades. Violão+: Você atuou bastante com
shows em bares, aqui em São Paulo e em
Paraty. Continua fazendo isso? Como
foi essa vivência e quais os dilemas e
as alegrias de ser músico da noite?
Trabalhei muito em Paraty como cantora,
sempre com grandes violonistas. Aprendi
muito na noite, principalmente quando
acompanhada por músicos fantásticos.
Adorava apenas falar o tom e ver no
que dava. Tenho prazer na surpresa que
a música nos possibilita quando não
ensaiamos. Acho a noite rica em sua
linguagem misteriosa. Sinto falta...
A Tokai
A Tokai Gakki Co., Ltd. foi fundada em 1947 como
fabricantes de gaitas e, em 1965, começou a produzir
violões acústicos. Três anos mais tarde, iniciou
a fabricação de guitarras elétricas com o modelo
Humming Bird, baseado nas Mosrite Mark I e II. Em
1970, lançou seu modelo de violão acústico Humming
Bird Custom. Dois anos depois, estabeleceu uma
joint venture com a Martin para fornecer partes de
violões acústicos e fabricar guitarras elétricas e,
no ano seguinte, iniciou a produção de réplicas
do modelo "Cat's Eyes" da parceira. No segmento
de guitarras elétricas, a Tokai passou a fabricar
réplicas de modelos Fender e Gibson, chegando
a incomodar essas marcas pela qualidade
dos instrumentos, e a utilizar a figura
de Stevie Ray Vaughan como principal
entusiasta da fábrica japonesa.
Atualmente, a Tokai fabrica violões, guitarras
e baixos trazidos ao Brasil pela homônima
nacional, que estabeleceu com ela uma
parceria mundial na comercialização de
produtos de ambas. Para Juliano Hayashida,
diretor da Tokai do Brasil, a chegada da marca
por aqui é uma oportunidade para os músicos terem
20 • VIOLÃO+
EM MÃOS
contato com um instrumento de qualidade comprovada
e uma opção de compra muito interessante.
Conhecendo alguns modelos de violões de cordas de
aço disponíveis já no Brasil, pudemos comprovar a
qualidade dos instrumentos e o cuidado tanto com a
sonoridade e a tocabilidade quanto com o acabamento.
22 • VIOLÃO+
matéria de capa Por Luis Stelzer
Parceria
vitalícia
O Duo Siqueira-Lima, com
seu repertório variado e suas
interpretações fortes, é uma das
grandes referências atuais no
cenário camerístico brasileiro
e internacional. Os concursos
de violão e a rotina de estudos
colocaram os músicos lado a lado
no palco e na vida: além de tocar
em duo, se casaram!
duo siqueira lima
Ganhador do Prêmio Profissionais da Violão+: Como o duo Siqueira-Lima
Música 2015 no Brasil e do International começou?
Press Award 2014 nos Estados Unidos, o Cecília: Nos conhecemos no II Concurso
Duo Siqueira Lima é um dos grupos de Internacional de Violão Pro-Música/
música de câmara de maior prestígio da SESC, em Caxias do Sul (RS) do qual
atualidade. Cecilia Siqueira e Fernando participamos. Era um concurso de violão-
de Lima são reconhecidos mundialmente solo e nós dois passamos para a final.
tanto pelo virtuosismo técnico e carisma, Depois, empatamos no primeiro prêmio.
quanto pelo perfeito entrosamento e por E gostamos demais do jeito de tocar um
seus ousados e originais arranjos para do outro. O Fernando, como premiação,
dois violões. Desde 2003, percorrem o foi para a Europa. Eu, para os Estados
mundo realizando concertos nas principais Unidos, além de um concerto aqui
capitais europeias e muitas cidades na em São Paulo. Nesse reencontro, no
América do Norte, bem como pela África Conservatório Souza Lima, em janeiro
e Rússia, já tendo se apresentado em de 2002, começamos a conversar sobre
salas de grande prestígio como Lincoln fazer alguma coisa juntos, tocar algumas
Center (Nova Iorque), New World Center peças. Já no final desse ano, gravamos
(Miami) e Concertgebouw (Amsterdam), um CD em duo, mas o disco se chama
entre outros. Conheça um pouco mais da Cecília Siqueira e Fernando Lima, porque
história da uruguaia e do mineiro, nesta não tínhamos ainda a pretensão de
entrevista exclusiva para Violão+. formarmos um duo fixo.
26 • VIOLÃO+
duo siqueira lima
Fernando: Não era nossa pretensão
fazer uma carreira em duo. A gente
ainda tinha aquela coisa voltada para o
solo, estávamos estudando para isso,
concursos e tal, com o repertório de
violão tradicional erudito. Queríamos
fazer o trabalho do duo principalmente
para estarmos mais juntos.
Cecília: Eu no Uruguai, ele no Brasil...
Fernando: Depois, virou casamento (risos).
© Matheus do Val
Admiração mútua: gatilho para a parceria
VIOLÃO+ • 29
duo siqueira lima
© Matheus do Val
naqueles violões.
VIOLÃO+ • 31
duo siqueira lima
só, mas que envolve várias outras. algum. Se na hora você quer mudar, não
No duo, você tem coisas individuais, se preocupa com ninguém. Agora, tocar
tudo precisa ser trabalhado. Então, às em dois é chegar a um ponto comum. Às
vezes, a gente combina de trabalhar vezes, é fácil, está na cara. Às vezes não.
algo separado, principalmente quando Cada um tem a sua opinião, fica daquele
há coisa nova. Ou mesmo as coisas jeito, diz não me diz, na hora cada um faz
que a gente toca há tempos... Vai ter do seu jeito mesmo (risos). Quem falou
concerto essa semana? Vou dar uma isso foi o Odair Assad: “O Sérgio fica
“trabalhadinha” na memorização, falando para mim... No ensaio, até faço,
porque a gente toca tudo decor. Entre mas na hora de tocar, faço do meu jeito”
as várias vantagens de tocar em duo: (risos). Tirando a brincadeira, a gente
enquanto eu vou ficar estudando, você sabe que é trabalhoso mesmo.
vai adiantando essa coisa da edição,
ou, melhor ainda, você cozinha? Então, Violão+: Mas vocês consultam
são muitas as vantagens de tocar em referências externas?
duo. Até para viajar, fazer o check-in...Fernando: Muitas! O Henrique Pinto,
em suma, um ajuda muito o outro. por exemplo, era o nosso padrinho, a
primeira pessoa para quem a gente
Violão+: E quando há uma discordância? mostrava. Começávamos a ler um
Fernando: Olha só que interessante: negócio, mostrávamos para ele.
nós falamos das mil vantagens de tocar
em duo, agora, entra a parte complicada. Violão+: Os violões são iguais, as cordas
Quando você toca sozinho, resolve as são as mesmas, mas a compleição física
coisas do seu jeito. Não há problema de vocês é completamente diferente. Deve
32 • VIOLÃO+
duo siqueira lima
haver uma série de diferenças, quanto à como eu tocava. Eu percebia coisas nele,
sonoridade, por exemplo. Então, como no som, ele tocava forte, esse som me
fazem para equilibrar isso? atraía muito. E eu era bastante flexível,
Fernando: O Henrique também ajudou isso o atraiu. São coisas diferentes, que
muito no equilíbrio do duo. Nossos toques geraram admiração. Então, para juntar,
são muito diferentes. No violão, o toque fica muito mais fácil. Eu, por exemplo,
é muito pessoal. Tem muito a ver mesmo queria ter um som forte como o dele.
com a compleição física, com a anatomia, Então, agora, toco mais forte.
o jeito da unha, tamanho dos dedos... Fernando: E eu queria ter a flexibilidade
Isso, à princípio, foi um problema. Eu que ela tem. Acho que hoje, depois de
sempre tocava muito forte. Quando você mais de dez anos, tenho o toque muito
faz a coisa sozinho, faz do seu jeito. Então mais parecido com o dela, e ela com o
começamos a buscar uma sonoridade de meu. É a convivência. Isso foi mudando
duo, e o Henrique trabalhou muito isso com o nosso trabalho.
a gente. Agora, continuamos utilizando Cecília: Com certeza. E é muito difícil
essa individualidade para enriquecer o mesmo conseguir chegar a um consenso
trabalho camerístico. Mas é preciso estar 100%, quando há algum conflito. Mas
se ouvindo o tempo todo, se encaixar. é muito gostoso, as alegrias quando a
Cecília: Foi muito trabalhoso, mas coisas gente vai tocar em duo se multiplicam
boas aconteceram: eu gostava demais e as tristezas se dividem. E a coisa boa
de como ele tocava e ele gostava de é multiplicar.
VIOLÃO+ • 33
mundo Por Luisa Fernanda Hinojosa Streber
O Cuatro
A sonoridade das noites e das festas caribenhas,
imortalizada pela orquestra típica, tem este
como um dos instrumentos mais destacados e
característicos
História
Os espanhóis introduziram os instrumentos musicais
para ritos religiosos e o povo, rapidamente, adaptou
grupos musicais para festividades mundanas, como
início e fim de colheitas, assim como bailes e
serenatas acompanhadas ao compasso dos cantos
das afamadas rãs coquis, próprias da Ilha, e da lua
clara nas noites caribenhas.
Em meados do século XIX é que a orquestra típica
porto-riquenha toma forma, com cuatro, bordonúa
(parecido a um violão grande), tiple (menor que
o cuatro), guiro e maraca. Entre o fim do século
XIX e o princípio do século XX que o instrumento
se transforma para sua modalidade atual, tomado a
forma de um violino com cinco cordas duplas.
Grande nomes
No ano de 1910, o grande cuatrista Joaquin Rivera
Gandia (o Canhoto da Isabela) gravou, pela primeira vez,
o cuatro - na cidade de San Juan, sob o selo Columbia -,
34 • VIOLÃO+
mundo
Como afinar
Curiosamente o cuatro atual tem 10 cordas (cinco
duplas), porém muito provavelmente guardou seu
nome original também por ser afinado em intervalos
de quartas Sol4, Ré4, La3, Mi3, Si2 (de agudos a
graves). As duas ordens superiores estão oitavadas
- ou seja, dão a mesma nota com uma oitava de
diferença - por isso seu som é tão característico,
similar ao Tries Cubano. Maestro Ladi (Ladislao Martinez)
VIOLÃO+ • 35
história Por Rosimary Parra
Semelhanças e
diferenças
Apesar das semelhanças entre o violão e a vihuela de mano quanto
ao formato do corpo e número de ordens – violão seis cordas simples
e vihuela seis cordas em pares - há diferenças que geram abordagem
técnica e musical distintas
Postura
Normalmente, para tocar violão na
forma tradicional, utiliza-se o apoio de
pé ou algum tipo de suporte para apoiar
o instrumento na perna esquerda. No
caso da vihuela, por ser um instrumento
de corpo menor, é necessário algo
que o deixe mais firme ao corpo do
instrumentista. Para os instrumentos
antigos de cordas dedilhadas,
geralmente utiliza-se uma faixa de
tecido amarrada ao cravelhame, com a
Vihuela de mano: cópia de instrumento do século XVI, luthier outra ponta presa a um botão inserido
Luciano Faria (Brasil 2002) na base do corpo do instrumento.
36 • VIOLÃO+
história
Mão esquerda
No violão, quando as notas são
pressionadas com a mão esquerda,
busca-se trabalhar com a ponta do dedo
na corda, evitando a quebra entre as
falanges do meio e da ponta, exceto
em meias pestanas. Nos instrumentos
com cordas duplas, usa-se a falange
da ponta do dedo um pouquinho mais
solta para que se consiga pressionar
as duas cordas. Essa mecânica pode
variar de um instrumento para outro, já
que alguns apresentam espaçamentos
um pouco maiores ou menores entre as
cordas duplas. Cabe ao instrumentista
perceber a diferença e adaptar o uso da
falange.
Outros aspectos técnicos da mão esquerda
seguem os mesmos mecanismos que
costumam ser trabalhados ao violão.
VIOLÃO+ • 37
história
6ª - Sol-Sol
5ª - Dó-Dó
4ª - Fa-Fa
3ª - La-La
2ª - Ré-Ré
1ª - Sol
Tal diferença de afinação entre os
dois instrumentos implica também na
formação dos acordes. Os acordes que
se conhece no violão são formados com
outros desenhos no braço da vihuela.
Pode-se dizer que para quem toca
alaúde renascentista, a transição para
tocar vihuela é mais simples no que
diz respeito à afinação. No entanto,
para quem toca violão, é necessário
compreender o braço do instrumento
naquela afinação.
Frontispício do livro de músicas de vihuela de mano intitulado
Não se está considerando aqui uma mera El Maestro, de Luis Milan
transposição da mecânica de execução
de uma transcrição já tocada ao violão inserção do instrumento em formações
para a vihuela, ou seja, tocar uma camerísticas com cantores ou outros
música na vihuela pensando no braço instrumentos.
do violão – nomes de notas e acordes.
Bibliografia
Esta maneira poderá funcionar em um COELHO, V.A. Performance on lute, guitar and vihuela:
primeiro momento para um deleite com Historical Practice and Modern Interpretation. New York:
Cambridge University Press, 1997.
o instrumento, mas limita o estudo mais DAMIANI, Andrea. Metodo per liuto rinascimentale. Bologna:
aprofundado do repertório e também a UT ORPHEUS EDIZIONI, 1998
38 • VIOLÃO+
Em parceria com a Tokai Japan, a Tokai do
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VIOLAO
40 • VIOLÃO+
+
VIOLAO BRASILEIRO
“Dindi”
Renato Candro
Nesta edição, vamos estudar um arranjo simples para a www.renatocandro.com
canção “Dindi”, de Tom Jobim e Aloysio de Oliveira. Eu www.learningbrazilianguitar.com
pensava, e acredito que muitas pessoas também, que essa
música havia sido composta especialmente para Sylvinha
Telles, mulher de Aloysio, cujo apelido seria Dindi e que foi
a primeira cantora a gravar a canção no LP Amor de Gente
Moça, de 1959, com participação da grande violonista
Rosinha de Valença. Mas, pesquisando, encontrei a
seguinte citação do livro Antônio Carlos Jobim, Um homem
iluminado (Ed. Nova Fronteira), onde Helena Jobim narra o
seguinte: “Ele via o rio passar, roncando nas pedras, as águas
espumaradas. Aquele ruído o apaziguava. Na outra margem,
começava o pasto que ia dar no morro do Dirindi. ‘Dindi’ não
era, como muitos pensavam, um nome de mulher. Mas sim
toda aquela vasta natureza e seus segredos”.
Tenha sido escrita para Sylvinha Telles ou não, essa canção
é muito conhecida ao redor do mundo e foi regravada
inúmeras vezes. De Maria Bethania a Ella Fitzgerald, de
Quarteto em Cy a Wayne Shorter, você pode ouvir muitas
versões diferentes no YouTube.
O arranjo é simples, mas gostaria de chamar a atenção para
dois pontos. Primeiro: há muitas tercinas na melodia que vêm
depois de ritmos baseados na fórmula de compasso simples.
Por exemplo, no primeiro compasso há uma semínima
pontuada, uma colcheia e logo em seguida uma tercina de
semínimas. Tenha cuidado para diferenciar esses ritmos
corretamente. Segundo: no compasso 20, escrevi a melodia
adicionando uma voz uma sexta abaixo. Aqui a questão é
técnica. Pode ser um pouco difícil conseguir a fluência
necessária para executar essa parte a contento. Estude
com calma prestando atenção ao dedo guia (dedo 2)
que é de grande ajuda sempre que precisamos tocar
melodias em sextas.
No mais, deixe-se levar pelas águas desse rio fecundo que
é a música brasileira. Navegue pelos rios de águas fortes
e explore cada igarapé (do Tupi, caminho de canoa). Há
muito mais entre a seresta e a bossa nova do que julga
nossa vã filosofia. Bons estudos!
VIOLÃO+ • 41
~ BRASILEIRO
VIOLAO
“Dindi”
Tom Jobim/Aloysio de Oliveira
Arranjo: Renato Candro
42 • VIOLÃO+
~ BRASILEIRO
VIOLAO
VIOLÃO+ • 43
VIOLA caipira
Na carreira do
Cururu
Fábio Miranda
www.fabiomirandavioleiro.com
44 • VIOLÃO+
VIOLA caipira
No interior de São Paulo, o cururu tornou-se uma modalidade
de desafio de versos semelhante ao repente nordestino.
Nesse caso, os cururueiros escolhem o tipo de carreira a ser
usada como rima para os versos. Por exemplo, na carreira do
“a” os versos têm que terminar em “a”, na carreira do Divino,
os versos devem terminar em “ino”, além da carreira de São
João, de São José, e a do Sagrado, esta última exemplificada
na peleja entre Nhô Chico e Parafuso (gravação realizada
pelo selo Discos Marcus Pereira em 1974).
VIOLÃO+ • 45
VIOLA caipira
Muitas dessas modas, porém, ainda trazem nas letras as
referências ao cotidiano indígena, como a caça e a pesca.
Um dos primeiros cururus formatados para o disco foi
“Canoeiro” (Zé Carreiro / Alocin - 1950) que narra a saída
de dois companheiros para uma pescaria na lagoa. Nesse
cururu, percebe-se que todos os versos terminam em “oa”,
como se fosse uma “carreira da canoa”. Essa música possui
apenas dois acordes, que são alternados durante o ritmo
do cururu na viola.
Ouça a gravação de Zé Carreiro e Carreirinho (em Eb)
atentando para o ritmo de acompanhamento que intercala
os acordes das duas posições, Tônica (I) e Dominante (V7).
O uso dos graus I e V7 para mencionar os acordes possibilita
tocarmos a música na viola afinada tanto em cebolão em
Ré (D) como em Mi (E) e Mi bemol (Eb). Experimente:
46 • VIOLÃO+
VIOLA caipira
REFERÊNCIAS:
CÂNDIDO, Antônio. Cururu. Disponível em < http://revistas.iel.unicamp.br/
index.php/remate/article/view/3555/3002> Acesso em 07/10/2015.
MARTINS, José de Souza. Capitalismo e tradicionalismo: estudos sobre as
contradições da sociedade agrária no Brasil. São Paulo: Pioneira, 1975.
VIOLÃO+ • 47
f lamenco
48 • VIOLÃO+
f lamenco
#FicaAdica
Tauromagia (1988)
Manolo Sanlúcar
Obra-prima indispensável
do maestro de maestros,
Manolo Sanlúcar, que
marca um antes e um
depois dentro do universo
violonístico, em toda a
sua amplitude, em vários
aspectos: novas técnicas (trêmulo contínuo, por exemplo),
arranjos combinados com cordas, metais, bateria, baixo
etc., aberturas harmônica e melódica inovadoras dentro
da estética da música flamenca/andaluza, e introdução de
elementos jazzísticos, além de outros estilos.
Destaque: “Oración”.
VIOLÃO+ • 49
siderurgia
Subdivisão
do tempo -
Walter Nery
www.walternery.com
Contratempo
Na edição inaugural da revista Violão+, apresentei o
baixo alternado como um conceito utilizado no arranjo
de certas canções do repertório para o violão cordas de
aço. Como exemplo, reproduzi um arranjo bem simples
da música “Mack the Knife”, de Kurt Weil e Bertold Brecht.
Neste segundo número, vamos elaborar um pouco mais
esse mesmo arranjo, inserindo elementos rítmicos que
propõem a subdivisão de alguns tempos.
Contratempo
Aqui, introduzo o conceito de contratempo. Como
muitos já sabem, o contratempo é o espaço de tempo
que fica entre dois tempos principais de uma contagem,
sendo normalmente representado pela letra “e”. Assim,
subdividir o tempo de uma determinada passagem
musical significa inserir alguma figura rítmica nesses
espaços. Privilegiaremos inicialmente as colcheias como
figuras de subdivisão.
Observem como os exemplos a seguir impõem mais
agilidade e maior dinamismo ao acompanhamento em
relação aos exemplos propostos no volume anterior
desta revista.
Exemplo 1
50 • VIOLÃO+
siderurgia
Exemplo 2
Exemplo 3
Exemplo 4
Exemplo 5
VIOLÃO+ • 51
siderurgia
A seguir, o arranjo “repaginado” de “Mack the Knife”,
onde faço uso dos conceitos apresentados neste artigo.
Um abraço musical!
52 • VIOLÃO+
como estudar
Direita e esquerda
Os critérios de posição da mão esquerda obedecem
outras diretrizes. Enquanto que na mão direita a posição
do braço direito estará subordinada à posição da mão
direita, na mão esquerda ocorre o contrário, salvo
algumas exceções como acordes com apresentações
transversais (acorde de Lá maior, na Figura 1) ou com
apresentações mistas (Si maior na segunda posição,
na Figura 2). É impossível deixar o braço esquerdo
absolutamente relaxado, pois, nessa condição, ele ficaria
pendente e perderia sua função. O relaxamento, nesse
caso, será parcial, ou seja, até o braço o relaxamento
acontecerá quase que na totalidade. Já o antebraço
ficará flexionado para que a mão fique próxima à escala
do instrumento. Figura 2 - Si maior
VIOLÃO+ • 53
como estudar
O antebraço tem uma função importantíssima na dinâmica
do movimento da mão esquerda. É por meio dele que a
“pressão” dos dedos nas cordas acontecerá. Um erro
muito comum, principalmente no caso das pestanas, é
fazer essa “pressão” com o polegar em oposição aos
dedos, gerando uma tensão nos mesmos e “travando”
os movimentos longitudinais na escala. Uma “pressão”
muito maior e infinitamente mais eficaz é obtida pela
flexão do antebraço (Figura 3).
Alguns métodos defendem, além da flexão do antebraço,
a utilização do seu peso para um resultado ainda mais
eficaz, principalmente nas pestanas.
Figura 3
Em minha experiência prática como professor e
performer, não indico esse procedimento, pois o braço
nessa situação faz que os dedos fiquem tensos (em
atitude de pinça para sustentar o conjunto braço e mão),
o dedo mínimo trabalha encolhido com movimentos
limitados e o posicionamento da mão como um todo fica
comprometido. Veja um exemplo de posicionamento
incorreto das mãos gerado pela utilização do peso do
braço na Figura 4.
Sincronismo
Além do posicionamento correto da mão esquerda,
é fundamental o sincronismo entre as mãos direita e
esquerda. Os dedos da esquerda devem pressionar as
cordas exatamente no mesmo instante em que os dedos
da mão direita pulsarem as cordas. Figura 5
54 • VIOLÃO+
como estudar
Sete exercícios para sincronismo de mão esquerda
e mão direita
Exercício 1
Exercício 2
Exercício 3
Exercício 4
Exercício 5
Exercício 6
Exercício 7
VIOLÃO+ • 55
de ouvido
ouvido“ www.musikosofia.com.br
duemaestri@uol.com.br
Exercício básico 1
1. D eite no chão, em decúbito dorsal (barriga para cima)
sobre um tapete macio. Coloque uma pequena toalha
enrolada embaixo do pescoço para não forçá-lo.
2. D eixe o gravador de seu celular em posição rec perto
de sua boca.
3. Você tem cinco minutos para relaxar e dominar sua
58 • VIOLÃO+
de ouvido
respiração deixando-a profunda e lenta.
4. O restante do tempo, até completar meia hora, você
prestará atenção em todos os sons presentes na sala ou
nas proximidades. Reconhecendo sons musicais (buzinas,
canto de pássaros etc.) ou ruídos (barulho de máquina,
automóvel, cadeira arrastando etc.). Faça comentários
sobre o som que será gravado por seu celular.
Depois disso, ouça a gravação e repare se o gravador,
sensível que é, pôde gravar mais do que você ouviu.
Certifique-se de que a gravação está em acordo com o
que falou no registro. Este exercício aumenta a lucidez
auditiva, traz foco no que se quer ouvir e é absolutamente
relaxante. Faça-o sempre procurando diversão e
concentração. Com o tempo, você deve focar em um
ruído recorrente na tentativa de identificar detalhes que
ocorrem esporadicamente.
Como exercício preparatório para a próxima jornada,
ouça o arquivo de nome “Os Lás (A) no piano” e compare
com a tabela abaixo.
Cordas
Com relação ao instrumento, vamos estabelecer alguns
entendimentos. Qual a primeira corda? Você acha que
a contagem começa de baixo para cima ou de cima
para baixo? Se você disse que a primeira corda é a de
baixo (a mais aguda), acertou. Vamos, então, contando
sucessivamente: corda 2, corda 3 (as três primeiras são
conhecidas como “primas”), cordas 4, 5 e 6 (conhecidas
por bordões ou baixos). Segue uma imagem de um violão
onde podemos identificar algumas partes importantes,
como o número das cordas, boca, corpo, cavalete, braço,
casas, mão e tarraxas.
Corpo do violão
Mão
Casas
6
5
4
3 2 1
2 5 4 3
1
Cavalete Tarrachas
60 • VIOLÃO+
iniciantes
Dica: para atingirmos uma boa execução, logo de cara,
é interessante explorar os timbres e, para isso, podemos
experimentar tocar desde próximo ao cavalete até
onde termina o braço do violão, descobrindo diferentes
sonoridades. Mas, por enquanto, sugiro tocar na boca do
violão, parte do meio para trás (em direção ao cavalete).
Mãos
Com relação às nossas mãos, pensando em uma pessoa
destra, temos os dedos da mão direita como P (polegar),
I (indicador), M (médio) e A (anular) e da mão esquerda
como 1 (indicador), 2 (médio), 3 (anular) e 4 (mínimo)
como mostra o gráfico a seguir. Para o canhoto, devemos
inverter o processo acima.
2 M = médio
1 I = indicador
3 A = anular
P = polegar
Notação Musical
Para notação musical, usa-se a partitura e a tablatura.
A partitura será explicada em outra ocasião. A tablatura
representa o desenho das seis cordas e os números que lá
aparecerem representam as casas a serem tocadas com
os dedos da mão esquerda. A tablatura segue o mesmo
principio da partitura em relação à altura dos sons: quanto
mais para baixo, mais grave. Dessa forma, a linha de
cima, linha 1, é igual à corda 1, a linha 2 igual à corda 2
e assim por diante.
VIOLÃO+ • 61
iniciantes
Cifra
Para cada nota musical existe uma cifra correspondente.
As cifras representam os acordes que iremos aprender a
seguir. Por exemplo, “A” é igual a Lá maior e “E” é igual
a Mi maior.
62 • VIOLÃO+
iniciantes
Ritmo
A mão direita é muito importante na condução do ritmo
e aprenderemos de cara a desenvolver o dedilhado e
a batida. É legal executar os dois para desenvolver a
coordenação e soltar a musculatura
Exercícios
1) Mão direita. Arpejos em cordas soltas, só para a
mão direita (cordas soltas são quando não prendemos
nenhuma casa com a mão esquerda).
www.teclaseafins.com.br
Teclas & Afins oferece três opções
& AFINS
64 • VIOLÃO+
improvisação
Estruturação
Alex Lameira
www.alexlameira.com.br
É um grande prazer ter sido convidado para falar de um tema tão interessante e de
infinitas possibilidades: a improvisação. Antes de iniciar a série de artigos, gostaria de
prestar homenagens àqueles que me possibilitaram escrever esses conhecimentos e
transmitir o que aprendi com eles: Davilson Assis Brasil, Conrado Paulino, Heraldo do
Monte, André Marques e Itiberê Zwarg.
Tudo o que será publicado neste espaço veio, de alguma forma, desses mestres que
tive e aos quais agradeço publicamente pela generosidade de dividir informações.
Esta coluna estará fundamentada na escola de Hermeto Pascoal, que coloca o
“sentir auditivo” em primeiro lugar.
Conceito
A improvisação em si, pela própria acepção da palavra, não é possível ser “ensinada”,
pois o próprio nome já diz que se trata de algo espontâneo, criado no momento da
execução. O que transmitiremos aqui são os alicerces sobre os quais se construirá
o “ouvido interno” que trará à tona, por meio do violão, as idéias da mente (e não
dos dedos).
Antes de iniciarmos o estudo técnico no braço do instrumento, convido o leitor a
estudar apenas os sons e cantar o acorde proposto para que, ao improvisar, as
idéias saiam de sua mente e não de movimentos involuntários da mão. Falaremos
aqui em acordes de sete notas, e não de escalas. Quatro notas são a base do
acorde e três são as tensões dele. Vamos começar pelo acorde maior com sétima
maior (maj7):
Exemplo: CMaj7
VIOLÃO+ • 65
coda
Essa já faz uns vinte anos, ou mais. chuva meio quebrado, molhado
Eu dava aula em um casarão na Rua quase tanto quanto se estivesse sem
Vergueiro, próximo ao metrô Vila o mesmo. Havia um portãozinho,
Mariana. São Paulo, a cidade. Na que dava acesso a um jardim, com
verdade, alugava uma sala, na parte uma escada até a casa. Já abriu o
da frente da casa, para minhas aulas portãozinho de uma casa velha? Ele
particulares de violão. Os donos é desalinhado e a fechadura não
moravam nos fundos, que nunca vi o fim, funciona mais. A solução é passar uma
de tão enorme que era. Obviamente, corrente bem grossa e fechar com um
esse casarão já não existe mais, virou cadeado pesado. Ruim de abrir e de
prédio, como tudo por lá. fechar. Ótima situação para quem está
O dia era um sábado. Chovia muito, com as mãos ocupadas e com o céu
daquelas chuvas de lavar a alma, caindo sobre sua cabeça.
mesmo. Eu, chegando com meu violão Para melhorar a minha performance
dentro do estojo marrom e um guarda- na tentativa de abrir rapidamente o
56 • VIOLÃO+
coda
dito cujo, coloquei o estojo do violão natural): entra! Vejo que ele vem, com
no chão, bem ao meu lado, para não um lindo estojo marrom, bem molhado,
esquecer. Força pra lá, força pra cá, o igualzinho ao meu. A ficha, doída, caiu.
vento vira o guarda-chuva do avesso, Meu violão de concerto, um Tessarin com
melhorando muito cordas Augustine
a minha situação. Imperials, ficou
No fim das contas, “...Vejo que ele vem, com ao relento, do
já todo molhado,
não precisava
um lindo estojo marrom, lado de fora da
casa, em plena
mais me preocupar bem molhado, igualzinho ao rua Vergueiro, na
em me proteger, meu. A ficha, doída, caiu...” chuva, durante vinte
bastava me livrar minutos! Qualquer
do que restou do um poderia passar
objeto. Finalmente, o cadeado se abriu e levar, numa boa, afinal, ele ficou
e a corrente foi para o chão. Pego tudo na calçada, do lado de fora da casa.
de volta, entro, recoloco o cadeado sem A enxurrada também poderia tê-lo
trancá-lo, corro para dentro da casa, carregado. O Bira, um tirador de sarro
vou até o banheiro da edícula, começo a profissional, não perdeu a oportunidade:
me secar com papel-toalha, pensando: “Não adianta deixar molhar, não vai brotar
será que o Bira vem? O Bira era o um cavaquinho do seu violão!”. Ri, sem
meu aluno, que, espertamente, estava graça e sem poder nem
esperando a tempestade passar, sob ao menos reclamar,
algum toldo de bar nas imediações. porque, no fim das
Passados vinte (isso mesmo, vinte!) contas, tinha tido
minutos, toca a campainha. Vejo que muita sorte. Molhado,
a chuva já deu trégua. Como deixei a satirizado, mas feliz.
corrente apenas enrolada e não tranquei Meu violão estava
o cadeado, grito para o Bira (interfone ali, comigo.
VIOLÃO+ • 57
CD-60 CE
CLASSIC DESIGN SERIES
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