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Chico Saraiva Cuidado de erudito, expressividade de popular

VIOLAO Ano 1 - Número 2 - Outubro 2015


www.violaomais.com.br

Siqueira
Lima
A parceria vitalícia que rende ótimos frutos

E mais: Exclu
Curso sivo!
de vio
Conheça o Cuatro porto-riquenho popu lão
O cururu na viola caipira com v lar
ídeoa
El Abanico: o leque do flamenco ulas
A posição correta da mão esquerda
Repertório de vihuela de mano

Surpreendente! Testamos o eletroacústico japonês Tokai


editorial
Número 2... Como assim? Mas já?
É essa a sensação que estou sentindo, agora, no fechamento da nova edição de Violão+.
Passou muito rápido! Nem deu tempo para curtir toda a repercussão da estreia e lá vamos
nós outra vez, colhendo entrevistas com grandes nomes do violão e trazendo feras na
arte de tocar o instrumento em suas mais diversas vertentes para nossas colunas. É uma
alegria. E muito trabalho. Conseguimos uma entrevista sensacional com o Duo Siqueira
Lima que nos contou ótimas histórias, de como se conheceram, a rotina de estudos, como
é tocar em duo, com direito a uma palhinha exclusiva que você pode acompanhar em
vídeo. Também pudemos ter contato com o trabalho e a sensibilidade de Chico Saraiva,
grande compositor e violonista, que nos conta de suas pesquisas atuais, fruto de seu
mestrado na USP, chamado Violão-canção. Um cara sensível, que trata da sua música
com muito estudo e vive no limiar entre o instrumento acústico e o elétrico, uma coisa bem
comum no século XXI, mas que, nem por isso, deixa de ser complicada. A seção Onde
O Meu Violão Toca traz uma entrevista com Isadora Canto, idealizadora e fundadora
do Instituto Acalanto, que trabalha com música e gestantes. Onde o violão entra nisso?
É o que você verá em nossas páginas. Inauguramos nesta edição de Violão+ uma
coluna para aquelas pessoas que tem o
violão em casa - ou pelo menos a vontade
de tocar um –, com primeiros passos, a fim
de acolher quem está começando. Mãos à
obra, violonistas! Trazemos também teste
de instrumento, agenda, crônica, um pouco
de tudo. E a oportunidade de abertura
para a visibilidade de um grande talento,
na seção Você na Violão+. Continuamos
nossa luta, porque a revista é uma bandeira:
a de integração do violão e dos violonistas.
Mais do que informativa, ela é provocadora.
Venha para esse debate. Converse com a
gente. Um abraço.
Luis Stelzer
Editor-técnico

VIOLAO Ano 1 - N° 02 - Outubro 2015


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Os artigos e materiais assinados são de responsabilidade de seus
autores. É permitida a reprodução dos conteúdos publicados aqui
Editor-técnico
Luis Stelzer
editor@violaomais.com.br

Colaboraram nesta edição


Alex Lameira, Breno Chaves,
Fabio Miranda, Flavio Rodrigues,
Luisa Fernanda Hinojosa Streber,
desde que fonte e autores sejam citados e o material seja enviado Reinaldo Garrido Russo, Renato Candro,
para nossos arquivos. A revista não se responsabiliza pelo conteúdo Ricardo Luccas, Rosimary Parra e
dos anúncios publicados. Walter Nery
índice

18 44
Onde meu Viola
violão toca Caipira

20 48
Em mãos Flamenco

24
Duo
Siqueira Lima
34
Mundo

4 36 50
Você na V+ História Siderurgia
41 53
7 Violão Como
Acontece brasileiro estudar
8 56 65
Em pauta De ouvido Improvisação

10 60 66
Retrato Iniciantes Coda

Publisher e jornalista responsável Foto de capa


Nilton Corazza (MTb 43.958) Matheus do Val
publisher@violaomais.com.br
Publicidade/anúncios
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você na violão+
Primeira edição
A revista está excelente! Parabéns!
(Jose Jorge Pinheiro, em nossa página
no Facebook)

Prezados responsáveis pela revista


Violão+, escrevo para agradecer
e parabenizá-los por essa iniciativa
maravilhosa de criar essa revista.
Estávamos muito carentes de uma
publicação voltada ao violão e à sua
música. Adorei a revista, estou encantado
com ela. Contribuirá muito com nosso
instrumento querido! Sou de Barra
Mansa/RJ e soube pelo forum violao.
org. (João Paulo Oliveira, por e-mail)

Acabei de ler a revista, que legal!


Fiquei feliz por ver novamente uma
publicação dedicada ao violão, e a
Violão+ está bem profissional mesmo,
parabéns! Gostei de tudo: as seções,
os textos e o design gráfico! Sucesso, e obrigado! (Conrado Paulino, em nossa
página no Facebook)

Parabéns! A revista que faltava. (Eliana Quaglio, por e-mail)

Muito bom, parabéns! Estávamos precisando de algo assim. A lacuna era infinita
sobre o assunto. (Jorge Albino, em nossa página no Facebook)

Como estudar
Excelente essa iniciativa, tanto para professores quanto para alunos. Vamos em
frente. (Maestro Eduardo, em nosso canal no Youtube)

Guitarra flamenca
Valeu! Flavio, um show de aula! E que venham mais! Abraços. (Osaias Saraiva,
em nosso canal no Youtube)

Parabéns a toda a equipe da Violão+! Timaço de primeira! E aprender sobre


guitarra flamenca com o excepcional Flavio Rodrigues é um privilégio! (Nelson
Rodrigo, em nosso canal no Youtube)
4 • VIOLÃO+
você na violão+
Obrigado
V+: Agradecemos todas as mensagens de apoio e elogios que recebemos, das
quais essas acima são uma pequena amostra. Nosso time de colaboradores
foi escolhido e convidado a participar tendo como critérios o conhecimento
profundo sobre o assunto a ser abordado e a facilidade de transmitir esse
conhecimento. Acreditamos que acertamos na escolha! Toda a equipe está
unida em torno de um mesmo ideal: a formação de novos violonistas e
o desenvolvimento de quem já toca o instrumento. Esperamos com essa
iniciativa contribuir para a valorização do violão e dos músicos que se
dedicam a ele e nos esforçamos para levar informação de qualidade a um
público que não tinha onde buscá-la. Temos a certeza de que podemos contar
com esse público para nos auxiliar.

Assinatura
A revista vai para as bancas de todo país? Sou do RN, então gostaria de saber
se sim quando ela chegará por aqui. (Ronildo Freire, por e-mail)

V+: A revista Violão+ é digital e pode ser acessada e baixada pelo site
www.violaomais.com.br. Não há versão impressa, mas, se você quiser,
pode baixar a versão PDF e imprimir as páginas que desejar.

Mostre todo seu talento!


Os violonistas do Brasil têm espaço garantido em nossa revista.

Como participar:
1. Grave um vídeo de sua performance.
2. Faça o upload desse vídeo para um canal no Youtube ou para um servidor de
transferência de arquivos como Sendspace.com, WeTransfer.com ou WeSend.pt.
3. Envie o link, acompanhado de release e foto para o endereço editor@violaomais.com.br
4. A cada edição, escolheremos um artista para figurar nas páginas de Violão+, com
direito a entrevista e publicação de release e contato.

Violão+ quer conhecer melhor você, saber sua


opinião e manter comunicação constante, trocando
experiências e informações. E suas mensagens
podem ser publicadas aqui! Para isso, acesse,
curta, compartilhe e siga nossas páginas nas redes sociais clicando nos ícones acima. Se
preferir, envie críticas, comentários e sugestões para o e-mail contato@violaomais.com.br

VIOLÃO+ • 5
você na violão+

O Reisado de Emanuel Nunes


Natural de Teresina, no Piauí, Emanuel Nunes é o primeiro escolhido entre
nossos leitores violonistas para ter seu trabalho apresentado em Violão+. Os
destaques do vídeo são a composição, o toque preciso e a iniciativa do estilo
de composição baseado em festas populares. Graduado em Educação Artística
e Música pela UFPI e Mestre em Música pela UFG, Nunes foi premiado no
Festival Dilermando Reis em Guaratinguetá, São Paulo, e no Festival Nacional
de Violão do Piauí, ambos em 2004. Como solista e camerista, apresentou-se
em diversas cidades do Piauí e também em Fortaleza, Brasília, São Luís e
Rio de Janeiro. Atualmente é professor efetivo de música no Instituto Federal
do Piauí onde atua principalmente nas disciplinas de prática instrumental,
harmonia e percepção. Tem se dedicado ao arranjo e composição de peças
para violão-solo, com ênfase na música brasileira. Em 2015, publicou “25
Pequenos Estudos Populares para Violão”, livro de partituras destinado a
violonistas iniciantes ou iniciados que já leiam musica, com peças para violão-
solo baseadas e inspiradas em ritmos populares.

6 • VIOLÃO+
acontece

Dias 7 e 8 de novembro, o Conservatório Souza Lima, em São Paulo, realiza o


XXVI Concurso de Violão. A coordenação geral é do diretor Antônio Mario da Silva
Cunha e a coordenação artística do violonista Sidney Molina. Os participantes
podem concorrer na categoria solo, divididos por idades (até 11 anos, de 12 a
14, de 15 a 17 e acima de 18) ou grupos. Demais informações podem ser obtidas
no site do conservatório (www.souzalima.com.br). As inscrições devem ser feitas
até o dia 25 de outubro e o valor da taxa é de R$ 70,00.

Pela paz
Estão abertas as inscrições para o 10º Encontro
de Músicas e Danças do Mundo, que acontece
de 25 a 31 de janeiro de 2016 em Imbassaí, na
Bahia. Sob o tema “Por uma cultura de paz”, o
evento traz artistas ao Brasil para oficinas de
arte e de músicas e danças étnicas, práticas
corporais e meditativas, shows gratuitos e fóruns
culturais. Dentre as presenças internacionais, o
destaque fica para o músico Goran Kamil (foto), o
premiado grupo feminino marroquino de música
sufi Rhoum El Bakkali Ensemble, e o Egypt Folk
Ensemble. As inscrições podem ser feitas aqui.
VIOLÃO+ • 7
EM PAUTA

O TRIO E A DÉCADA DE OURO


O Trio Opus 12 de violões, reconhecido como um dos mais importantes
agrupamentos violonísticos brasileiros da atualidade, lança seu novo álbum, de
nome Divertimentos. Formado por Paulo Porto Alegre, Daniel Murray e Chrystian
Dozza, o grupo interpreta obras de uma geração excepcional de violonistas
compositores brasileiros nascidos no início da década de 1950. Esses compositores
tiveram em comum uma formação musical popular e erudita que os notabilizou
como os mais importantes de sua geração, e trouxeram uma nova ótica para a
música instrumental brasileira: Paulo Porto Alegre,
Paulo Bellinati, Sergio Assad e Marco Pereira. “Funk
Fuga” é o título de uma das faixas e mistura o estilo
norte-americano (funk) com a forma barroca (fuga),
em uma clara proposta de ultrapassar a fronteira
entre a música popular e a erudita. Esse, inclusive, é
o conceito de todo o álbum, que traz ainda “Maracatu
de Pipa”, de Paulo Bellinati - peça arquitetada em
duas formas diferentes de maracatu, nação e rural -, e
“Bate-coxa”, de Marco Pereira, obra para violão-solo
que o Trio divide e onde os membros se desafiam.
8 • VIOLÃO+
EM PAUTA

JAZZ MANOUCHE NO BRASIL


Django Reinhardt é o grande
homenageado da terceira edição do
Festival de Jazz Manouche, que ocorre
em 31 de outubro na cidade paulista
de Piracicaba e em 2 de novembro
na capital do Estado. O evento conta
com artistas e grupos nacionais e
estrangeiros, entre eles Paul Mehling,
Robin Nolan, Bina Coquet e Três Tigres
Tristes. Reinhardt, banjoista cigano
belga radicado em Paris no começo do
século XX, tornou-se um virtuose do
violão e consagrou na Europa um estilo
de jazz original a partir da musicalidade
cigana. O grupo que celebrizou o estilo
nos anos 30 foi o Hot Club de France,
quinteto que marcou seu encontro com
o violinista Stéphane Grappelli, em uma
parceria que definiria o estilo conhecido
como jazz manouche. Mais informações
sobre o evento podem ser obtidas aqui.

A fim de ajudar?
O violonista Jonathas Ferreira, que utiliza a técnica
conhecida mundialmente como Fingerstyle Guitar,
acaba de gravar um DVD instrumental e, para
finalização do projeto, capta recursos por meio
da plataforma de financiamento coletivo Partio.
A campanha vai até o dia 18 de outubro, quando
o trabalho será lançado no Rio Grande do Sul. O
músico, com formação em violão erudito, estudou
Fingerstyle com músicos como Pierre Bensusan
(França), Antoine Dufour (Canadá), Billy McLaughlin,
Stephen Bennett e Andy McKee (EUA). O Fingerstyle
é uma linguagem que permite usar o violão de forma
percussiva, harmônica e melódica simultaneamente,
caracterizando-se também pelo uso de afinações
alternativas. Para participar, clique aqui!
VIOLÃO+ • 9
RETRATO Por Luis Stelzer

Chico Saraiva

10 • VIOLÃO+
RETRATO

A relação
violão-canção
Chico Saraiva, músico carioca, criado
em Santa Catarina e radicado em São
Paulo, cedeu uma entrevista à Violão+,
contando um pouco sobre seu trabalho,
suas composições e embates com esse
instrumento maravilhoso e difícil de
ser domado, o violão. Seus trabalhos
envolvem, ao mesmo tempo, o cuidado de
um músico erudito com a expressividade
da canção popular

Violão+: Em que ponto considera que mesmo, em um pêndulo entre uma coisa
está sua carreira? mais do violão e voz, e uma coisa mais
Olha, está em um momento interessante ligada ao violão solista, a uma tradição
no sentido de eu já perceber os escrita, erudita, com sonoridade de
desdobramentos de um período que concerto que, de uma maneira ou de
aconteceu há uns três ou quatro anos, outra, sempre se fez presente no que
quando dei uma parada para refletir faço, dialogando com a canção popular.
sobre o que eu vinha fazendo. Usei o Tento muito fazer música que se baseie
espaço do mestrado que desenvolvi nisso. Então, refleti muito nesse tempo
na USP em uma linha que se chama sobre esses pontos de conexão, nessas
“processos composicionais”, o que muito maneiras de fazer uma música que
me inspirou porque, para um compositor, revele essa intimidade que o violão
é realmente gostoso estudar isso. traz. Para isso, fiz um processo longo
de entrevistas, com três mestres do
Violão+: O que você achou que tinha violão ligados à canção popular - João
que mudar? Você já era um compositor Bosco, Paulo Cesar Pinheiro e Luiz
de sucesso... Tatit - e três ligados à tradição escrita
Naquele momento, em 2012 e 2013, - Sérgio Assad, Paulo Bellinati e Marco
fiquei pensando, refletindo e estudando Pereira. E o Guinga, que é a pessoa que
VIOLÃO+ • 11
RETRATO
há mais tempo me serve de referencial painel que investiga muitos pontos que
no sentido de estabelecer uma conexão são pouco visitados, pouco comentados.
entre essas duas esferas na música que No filme, que já está em fase final de
desenvolve. Ele oferece um caminho produção, tento fazer uma conexão
que me serve de referência, que gosto como artista, que pergunta aos artistas
muito. Os reflexos desse momento de mais velhos sobre essas questões. Isso
balanço já vêm acontecendo. Fiz vários me parece que pode estabelecer uma
discos antes disso e agora novos projetos comunicação e apresentar um sentido
estão nascendo. em coisas que aparentemente são
desconexas.
Violão+: Você está citando esse
período de balanço como divisor Violão+: É como se você fizesse muitas
de águas. O que sente de diferença, coisas diferentes, simultaneamente,
com você compositor, intérprete com a canção e o violão?
das suas obras e acompanhante de Você vai lá e grava um disco instrumental.
cantores e cantoras, participando de O som é bem delicado. Depois, participa
prêmios e festivais de música que da Barca, que tem várias percussões,
existiam na época, como o prêmio piano, baixo, vozes... Comecei assim:
Visa, e essa nova fase, após esse foi um disco com violão, músicas do
momento de balanço? Paulo Bellinati, muitas das minhas
Eu ainda não tenho muito claro, pois não primeiras músicas, baixo e bateria, e,
faz muito tempo. Neste projeto, sinto uma ao mesmo tempo, ia pro interior com A
coisa interessante: o filme resultante, Barca, tocar em uma situação em que
que se chama Violão-Canção, o mesmo o violão mal era escutado, porque ele
nome de meu mestrado que, inclusive, vinha no meio de muita informação,
está para ser publicado. É como um em um diálogo que tem muitas coisas
diferentes do instrumento. Também
acompanhei grandes cantoras, como a
Verônica Ferriani e a Suzana Travassos,
na maioria das vezes cantando músicas
minhas. Sobre tudo isso, como tirar
belezas dessas diferenças, aproximar
esses universos, conversei com as
pessoas. Então, desde o início, isso
estava muito presente, essa coisa
um pouco cindida, por isso esse hífen
violão-canção é muito significativo para
mim. Procuro passar por essa ponte o
tempo inteiro e morar em cima dela, no
melhor sentido. Não em cima do muro,
mas em cima de uma ponte muito bem
Introspecção: a busca pela vibração ideal pavimentada, com saídas e acessos,
12 • VIOLÃO+
RETRATO

Banda: fazer o violão ser ouvido

que dê em encontros com pessoas. E é expressão também em função desse


um lugar difícil de se construir. esmerar, desse polir, desse trabalho de
ourives que vai acontecendo. E é muito
Violão+: E a pesquisa do violão tem diferente de uma adequação que se
um trabalho fundamental aí... faz, às vezes com muito menos tempo,
O processo de aprofundamento, que para acompanhar uma cantora que,
se dá quando você desenvolve uma eventualmente, estará em outro tom
estrutura musical, encaixa a voz e que já não é mais aquilo. Isso é muito
aquilo ganha um todo, é muito difícil importante para o trabalho baseado
de fazer com outra pessoa. A relação é no violão. Tudo aquilo vai ganhar uma
diferente. O jeito que se sente a música inflexão com o tempo, o gesto musical
internamente faz você chegar a um vai se depurando. Então, basicamente,
resultado bem diferente, na verdade. fui para os dois lados, mas, no momento,
Veja como João Bosco vai aprofundando a coisa da voz me invadiu muito. Estou
a interpretação cada vez mais, a cada deixando isso acontecer. Deixei a
execução, ao longo dos anos, em palavra e a voz entrarem mais em mim,
uma mesma trama rítmica, melódica e coisa que, talvez, estabeleça um outro
harmônica, musical, com a voz em cima tipo de relação com as pessoas, com o
daquilo, e aquilo vai ganhando uma público em geral. Espero que sim.
VIOLÃO+ • 13
RETRATO
Violão+: Como é atualmente a sua época, foi uma exposição grande, muito
relação com a voz? mobilizadora e transformadora para mim.
A minha história sempre foi a de um Eu era novo ainda. Aí veio toda a coisa
violonista. Sempre fui uma figura da composição, então, muito atrelado ao
dedicada ao instrumento. Me formei na lance da canção. Quando eles diziam
Unicamp, em 1995, em violão popular, composição, na verdade, queriam dizer
com o Ulisses Rocha, meu professor na canção, não outra coisa. A composição
época. Nunca achei que fosse cantar, não popular, que eu mostrei e que foi
tinha isso comigo, mas foi acontecendo. reconhecida, portanto na qual eu devia
Sempre usei a voz como um parâmetro investir, já era um equilíbrio entre violão
para perceber os contornos que tem uma e voz; músicas nascidas no instrumento
vontade maior de existir. O melódico vinha e com um fio só de voz, ajudando, como
pelo violão. Eu traçava umas coisas ali, instrumento de composição, mais do
mas era a voz que servia de parâmetro que qualquer coisa. Acredito que foi
para sentir: “não, essa música é assim!”. assim que comecei, de fato, a cantar.
Quando eu cantava, memorizava em um Com o tempo, tive oportunidade de me
patamar diferente. Então, tudo é muito aproximar do canto. Lá pelas tantas, tive a
por conta do que vem da voz, que sempre oportunidade de gravar um disco chamado
gerou a música que fiz. Em 2003, ganhei Saraivada, no qual passei a assumir mais
um prêmio muito importante para mim, o lado de cantor. Mas demorou para isso
o Prêmio Visa de Música. Até então, amadurecer. Fui fazer outros discos com
me considerava mais violonista do que outras cantoras: o disco Sobre Palavras,
compositor, mas aquele prêmio era mesmo com a Verônica (Ferriani) cantando e
um prêmio de composição. Era dividido música autoral minha, e com a Suzana
em versão instrumental, compositor e voz Travassos, curtindo mais tocar, cantando
e, de repente, esse reconhecimento... Na só um pouco.

Violão+: E quando a sua voz se


intensificou?
Recentemente tive uma experiência
muito importante: assim que terminei o
mestrado, passei um tempo no teatro
Oficina. Lá havia um cotidiano de
trabalho vocal. Tem esse lance muscular,
mesmo, até para falar. Dá para explorar
mais as ressonâncias. Comecei a sentir
a vibração da caixa craniana, e isso eu
não conhecia. E, se há uma coisa que dá
a sensação de que está tudo bem é sentir
a máscara vibrando e o violão vibrando
no peito. Comecei a fazer muito isso.
Violão e voz: linguagem múltipla Há também o contato com os vídeos do
14 • VIOLÃO+
RETRATO
João Bosco, além da observação das
grandes cantoras que acompanhei e de
tantos colegas que fazem isso desde
sempre. Mas tenho fazer que essa
origem da minha história com o violão
seja o meu jeito de fazer música. O jeito
de abrir o acorde e a maneira do arranjo
acontecer no violão vem antes disso.
Só que agora, com essa ressonância
que descobri, com essa vibração que,
finalmente, senti, aí, sim. Depois dessa
experiência no teatro, retomei as aulas
de canto, a própria sensação está me
trazendo a isso. É muito importante a
gente perceber a hora de fazer as coisas,
a hora que aquilo te visita e agora sinto
que faço uma coisa bem diferente que
aquele violonista solista fazia, que era
baixar a cabeça e procurar a vibração
que vinha do violão, procurar tudo vindo
dele. Agora é sentir o frontal, a troca com
o público, no olho, isso é muito diferente,
um outro tipo de artista. E eu tento fazer
que essa descoberta alimente a minha
vida e vice-versa. Opções: acústico ou elétrico?

Violão+: Você tem experiência de pessoas em um extremo e, no outro,


tocar em vários lugares diferentes. com bastante percussão ou com baixo
Como você faz com os seus elétrico e outros instrumentos, com
equipamentos? O que mais você sopros... Na banda nova, por exemplo,
utiliza? E as diferenças entre lugares tem percussões, trompete, trombone ou
pequenos, médios e grandes? sax barítono, o que tem sido a minha
Esse é um dos assuntos prediletos. solução de arranjo para o grave, para
Sempre que a gente sai do palco, as invenções do polegar, que vão se
parece que traz mais informação para cristalizando nesse processo, ganharem
um arcabouço que já é grande nesse uma bitola maior para sustentar a
sentido. Já parte de um conflito, que é minha própria voz e as vozes das duas
aquele primeiro que falei: entre aquela backing vocals que estão me ajudando.
coisa de fazer um violão-solo, mais som Então, sem essa raiz do grave - que a
camerístico, seja em música popular ou percussão dá, a zabumba, mas também
clássica. Você está procurando fazer o o baixo que o acorde precisa ter -, o
som natural do instrumento chegar às violão não tem capacidade de segurar
VIOLÃO+ • 15
RETRATO

Inovação: repertório e preformance

Dualidade: violonista e compositor

uma band. Em geral, a gente usa o e boosters, que contribuem para uma
contrabaixo para isso. sensibilidade maior do toque, porque o
sofrimento do violonista quando vai tocar
Violão+: E os equipamentos, dão no meio de uma banda é que, numa sala,
conta do que você deseja? algo que soa muito poderoso, de repente
Hoje em dia, já existem equipamentos que - do lado de um baterista que toque com
buscam o som mais próximo do acústico. mais energia o bumbo e de um baixista
Estou testando até pré-amplificadores que aumente um pouquinho mais o
16 • VIOLÃO+
RETRATO
volume numa caixa que, normalmente, já de que quando vai fazer uma coisa
é bem grande – se torna muito diferente, mais acústica, na praça, lidando com
se perde. É muito perigoso, inclusive, a expectativa das pessoas, que é outra,
que você perca completamente a sua diz ele, então parece que existem duas
técnica. Aconteceu isso comigo, o que condutas: uma é fazer o que ele faz,
me custou muitas horas de trabalho com pegar um instrumento elétrico, que
o professor Edelton Gloeden, mestre no muitos dos violonistas preferem não
violão erudito. São experiências muito usar. Já o Marco Pereira é um exemplo
diferentes, contrastantes mesmo, porque de violonista que, como eu, procura
você corre o risco de começar a perder trazer essa mesma sonoridade do violão
a sua técnica assim, embora tenha de madeira, tanto quanto possível, para
desenvolvido muitas coisas de pegada o palco. Para isso já existe tecnologia,
rítmica em situações limite desse tipo. mas o que sinto é que se depende, no
mínimo, de umas três horas de passagem
Violão+: Há como se precaver desses de som para chegar perto do ideal. Então,
problemas? seriam dois caminhos: assumir o violão
Na minha dissertação, existe um capítulo elétrico e trabalhar do som da linha, que
chamado: a sala, o banheiro e a praça: a nunca vai ser um som de violão, mas
sala é onde a gente estava conversando; outro; e procurar, o que já fiz tantas
o banheiro da casa da irmã, reza a vezes, conseguir um blend de uma boa
lenda, é onde João Gilberto descobriu a captação (agora temos o Carlos Juan,
sonoridade que lhe encantava, por causa o RMC, que são muito bons) com uma
mesmo da reverberação, e passou o microfonação. A dificuldade disso é que
resto da vida musical tentando reproduzir não pode haver instrumento nenhum
aquilo, não sem algumas dificuldades com volume alto perto de você. Quando
com técnicos e lendas e tudo mais. você está sozinho, não há dúvidas
Mas ele é um cara que sabia bem o que do que fazer. É claro que a opção é a
queria, que era ouvir a reverberação primeira. A opção do microfone é a boa,
mais plena do instrumento, para poder mas depende ainda do palco, do técnico
ter um equilíbrio entre voz e instrumento, e de muitas outras coisas. É muito difícil
acorde, cada uma das notas; e a praça, esse cotidiano. Muitas vezes é melhor
como eu falei com João Bosco, que é um levar os dois instrumentos e perceber
artista popular e tem muita consciência na hora o que fazer.

VIOLÃO+ • 17
onde meu violão toca Por Luis Stelzer

Gestação
Auxiliar na construção de uma relação ainda mais forte da mãe
com seu bebê, o violão é utilizado como ferramenta de produção de
experiências e sensações já na gestação

O projeto Acalanto, em São Paulo, visa Violão+: Como foi sua formação
fortalecer o vínculo afetivo mãe-bebê e musical? Qual a sua proximidade com
facilitar a comunicação entre eles ainda o violão?
na barriga ou após o nascimento por Venho de uma família extremamente
meio de jogos musicais, composição musical, em que meu pai tocava piano
de canções, visualizações, estimulação popular todas as noites em casa. Cresci
instrumental, canto, relaxamento e outras ouvindo jazz, bossa nova e samba e
atividades musicais. O Acalanto ajuda a fui muito influenciada. Durante toda a
mãe a vivenciar de modo mais profundo vida fiz aulas de música em escolas até
sua experiência de maternidade e a ingressar na Faculdade Santa Marcelina.
aproximar-se do universo infantil ainda Me formei em música, bacharel em canto
distante e imaginário. Conversamos com popular. Toco violão desde os 12 anos.
Isadora Canto - cantora, compositora, Comecei com um professor particular e
violonista, doula e idealizadora do projeto fui me especializando.
- sobre sua formação e a importância do
instrumento em suas atividades. Violão+: Você atuou bastante com
shows em bares, aqui em São Paulo e em
Paraty. Continua fazendo isso? Como
foi essa vivência e quais os dilemas e
as alegrias de ser músico da noite?
Trabalhei muito em Paraty como cantora,
sempre com grandes violonistas. Aprendi
muito na noite, principalmente quando
acompanhada por músicos fantásticos.
Adorava apenas falar o tom e ver no
que dava. Tenho prazer na surpresa que
a música nos possibilita quando não
ensaiamos. Acho a noite rica em sua
linguagem misteriosa. Sinto falta...

Violão+: E como foi sua experiência


como professora de canto. Como o
Isadora Canto: formação precoce violão participa de sua aula?
18 • VIOLÃO+
onde meu violão toca

Projeto Acalanto: sensibilização e proximidade

O violão é muito usado em minhas Fundei o Acalanto. Sou Acalantadora


aulas. Como toco melhor violão do há 14 anos e muitas mães já passaram
que piano, sinto que por meio dele o por esse lindo vínculo e fortificaram
aluno consegue se identificar dentro da sua comunicação e amor com seu bebê
canção e se sentir no cenário musical antes mesmo dele nascer, por meio do
real. Uso em minhas aulas e com o canto, da música e toda sua linguagem
Acalanto, meu Projeto fundado em 2001
que fortifica o vínculo da mãe com seuViolão+: Você é doula, uma assistente
bebê por meio da música. de parto. Como ser musicista, cantora
e violonista te ajuda a desenvolver
Violão+: Como surgiu o Projeto esse trabalho?
Acalanto? Como você transformou Amo ver os bebês nascendo de maneira
essa ideia em realidade e quais os natural e respeitosa. É uma emoção
frutos desta iniciativa? indizível. Todas as gestantes que
O Acalanto nasceu da minha própria acompanho no parto passaram pelo
experiência como gestante que canta. Acalanto, cantaram, tocaram, tiveram
Percebi que havia uma linguagem muito contato com a música, com o violão, que
forte entre eu e meu bebê quando leva o som de maneira muito sadia para o
cantava e tocava violão. Depois dele bebê ainda no ventre. Por terem passado
nascido, percebi que as músicas que pelo Acalanto antes do parto, sinto que
tocava durante a gestação instigavam esse processo acaba sendo ainda mais
uma reação linda no meu bebê. Fui natural e sem medo, pois o vínculo já foi
estudar e passei anos pesquisando a formado e mãe e bebê simplesmente se
influência da música nesse processo. reconhecem no nascimento.
VIOLÃO+ • 19
EM MÃOS Por Luis Stelzer

TOKAI TEA95 SBL


Instrumento eletroacústico de rara beleza, o modelo
da fabricante japonesa mostrou-se bem mais que
um rostinho bonito

Fomos convidados pela Tokai Brasil para conhecer


os violões da Tokai Gakki, fabricante japonesa que
se notabilizou nas décadas de 1970 e 1980 por
produzir réplicas extremamente perfeitas – que se
traduziam em instrumentos muitas vezes melhores
– de guitarras e violões de marcas famosas à época.

A Tokai
A Tokai Gakki Co., Ltd. foi fundada em 1947 como
fabricantes de gaitas e, em 1965, começou a produzir
violões acústicos. Três anos mais tarde, iniciou
a fabricação de guitarras elétricas com o modelo
Humming Bird, baseado nas Mosrite Mark I e II. Em
1970, lançou seu modelo de violão acústico Humming
Bird Custom. Dois anos depois, estabeleceu uma
joint venture com a Martin para fornecer partes de
violões acústicos e fabricar guitarras elétricas e,
no ano seguinte, iniciou a produção de réplicas
do modelo "Cat's Eyes" da parceira. No segmento
de guitarras elétricas, a Tokai passou a fabricar
réplicas de modelos Fender e Gibson, chegando
a incomodar essas marcas pela qualidade
dos instrumentos, e a utilizar a figura
de Stevie Ray Vaughan como principal
entusiasta da fábrica japonesa.
Atualmente, a Tokai fabrica violões, guitarras
e baixos trazidos ao Brasil pela homônima
nacional, que estabeleceu com ela uma
parceria mundial na comercialização de
produtos de ambas. Para Juliano Hayashida,
diretor da Tokai do Brasil, a chegada da marca
por aqui é uma oportunidade para os músicos terem
20 • VIOLÃO+
EM MÃOS
contato com um instrumento de qualidade comprovada
e uma opção de compra muito interessante.
Conhecendo alguns modelos de violões de cordas de
aço disponíveis já no Brasil, pudemos comprovar a
qualidade dos instrumentos e o cuidado tanto com a
sonoridade e a tocabilidade quanto com o acabamento.

Tokai TEA95 SBL


O violão Tokai modelo TEA95 SBL impressiona pela
aparência e acabamento. A cor azul, que poderia
afastar os mais tradicionalistas aficionados pelo tom
de madeira, exerce uma espécie de hipnose pela
beleza. Realmente, acertaram no tom! Os filetes e
a roseta, com detalhes em madrepérola, mostram o
incrível cuidado na produção. Embora a Tokai seja
japonesa, os violões são produzidos na China, o
que, a princípio, pode causar certa preocupação,
pois temos uma ideia preconceituosa sobre como
os instrumentos, pelo menos os de produção mais
barata, são feitos lá. O que ocorre é que a Tokai
japonesa supervisiona a produção. O resultado desse
cuidado salta aos olhos. O acabamento desse violão
é um dos melhores que já vi, tanto externamente
quanto internamente.
No momento do teste, o instrumento, recentemente
importado, chegou dentro de uma capa acolchoada. É
um violão de cordas de aço, pensado para tal (muitos
violonistas amadores devem compreender isso: o

Tokai TEA95 SBL


Tampo - Maple
Lateral - Maple
Fundo - Maple
Braço - Maple
Escala - Rosewood
Ponte - Rosewood
Marcas - Pontos
EQ - Fishman Classic
Acabamento - Polyester
Cor - SBL
VIOLÃO+ • 21
EM MÃOS
violão “nasce” de nylon ou de aço! Seus projetos de
construção internos são diferentes e não devemos
trocar o tipo de corda). Não foi trabalhado pela Tokai
do Brasil para o teste, que foi surpresa, portanto, não
sabemos dizer quais cordas de aço estavam nele,
mas percebemos que eram de tensão alta, o que
poderia deixar sua tocabilidade prejudicada. Pois
bem, essas cordas de aço soaram maravilhosamente
(não sou de exagerar, é sério).
O timbre é equilibrado, com graves, médios e
agudos em igual proporção. Mesmo para mim,
nascido e criado com violões de nylon, a adaptação
foi muito fácil. É um prazer tocá-lo. Tem a pegada
firme e a afinação é perfeita. As tarraxas, blindadas,
são suaves, de muito fácil manuseio. O braço tem
medida perfeita, com boa distância entre cordas.
O design cutaway é praticamente obrigatório nos
instrumentos de aço. A altura entre as cordas e a
escala estava bem regulada, para uma pegada que
traz sonoridade, o que poderia deixar o violão muito
duro de tocar. Não foi o caso: achei tranquilo. Em
cinco minutos, estava acostumado.
A captação, Fishman Presys Blend 301, com afinador
digital, é muito confiável. Então, além de lindo,
tivemos em mãos um potente instrumento, de grande
qualidade, digno de competir com marcas mais
famosas do mercado. Se você está a procura de um
instrumento deste nível, vale a pena investir.

Tokai TEA95 SBL


Importador: Tokai do Brasil
Preço sugerido: sob consulta
Aparência
Acabamento
Tocabilidade
Braço/escala
Sonoridade
Afinação
Captação

22 • VIOLÃO+
matéria de capa Por Luis Stelzer

Parceria
vitalícia
O Duo Siqueira-Lima, com
seu repertório variado e suas
interpretações fortes, é uma das
grandes referências atuais no
cenário camerístico brasileiro
e internacional. Os concursos
de violão e a rotina de estudos
colocaram os músicos lado a lado
no palco e na vida: além de tocar
em duo, se casaram!
duo siqueira lima
Ganhador do Prêmio Profissionais da Violão+: Como o duo Siqueira-Lima
Música 2015 no Brasil e do International começou?
Press Award 2014 nos Estados Unidos, o Cecília: Nos conhecemos no II Concurso
Duo Siqueira Lima é um dos grupos de Internacional de Violão Pro-Música/
música de câmara de maior prestígio da SESC, em Caxias do Sul (RS) do qual
atualidade. Cecilia Siqueira e Fernando participamos. Era um concurso de violão-
de Lima são reconhecidos mundialmente solo e nós dois passamos para a final.
tanto pelo virtuosismo técnico e carisma, Depois, empatamos no primeiro prêmio.
quanto pelo perfeito entrosamento e por E gostamos demais do jeito de tocar um
seus ousados e originais arranjos para do outro. O Fernando, como premiação,
dois violões. Desde 2003, percorrem o foi para a Europa. Eu, para os Estados
mundo realizando concertos nas principais Unidos, além de um concerto aqui
capitais europeias e muitas cidades na em São Paulo. Nesse reencontro, no
América do Norte, bem como pela África Conservatório Souza Lima, em janeiro
e Rússia, já tendo se apresentado em de 2002, começamos a conversar sobre
salas de grande prestígio como Lincoln fazer alguma coisa juntos, tocar algumas
Center (Nova Iorque), New World Center peças. Já no final desse ano, gravamos
(Miami) e Concertgebouw (Amsterdam), um CD em duo, mas o disco se chama
entre outros. Conheça um pouco mais da Cecília Siqueira e Fernando Lima, porque
história da uruguaia e do mineiro, nesta não tínhamos ainda a pretensão de
entrevista exclusiva para Violão+. formarmos um duo fixo.

Duo Siqueira Lima:marco no violão brasileiro

26 • VIOLÃO+
duo siqueira lima
Fernando: Não era nossa pretensão
fazer uma carreira em duo. A gente
ainda tinha aquela coisa voltada para o
solo, estávamos estudando para isso,
concursos e tal, com o repertório de
violão tradicional erudito. Queríamos
fazer o trabalho do duo principalmente
para estarmos mais juntos.
Cecília: Eu no Uruguai, ele no Brasil...
Fernando: Depois, virou casamento (risos).

Violão+: Isso leva um tempo...


Fernando: Falando assim, parece que é
fácil (risos). Mas começou dessa maneira,
com outras pretensões, não uma coisa
de uma carreira, mas de se reunir e ficar
junto. Demorou talvez uns três anos, de
2002 a 2005, para acharmos que era
esse mesmo o caminho, que valia a pena
realmente investir, levar mais a sério. O
que estávamos fazendo começou a ter Repertório: erudito e popular
repercussão, até porque, desde o início,
tivemos a ideia de não fazer as mesmas em coisas novas. Em todo esse tempo,
obras tocadas pelos irmãos Abreu, pelos já 12 anos de duo, conseguimos juntar
irmãos Assad. Também nem sonhávamos um repertório bastante amplo. Dentre
em querer competir com esses dois, essas músicas, tem aquelas que se
então, pensamos em fazer alguma coisa encaixam melhor. Por exemplo, agora,
nossa. E comecei, nessa época, a fazer estamos trabalhando um disco novo, que
arranjos. O João Luiz, grande amigo, deve sair até o fim do ano. Achamos que
também escreveu arranjos para nós. o repertório combinou perfeitamente,
Acho que por esse motivo começamos a conseguimos juntar muito bem. Fizemos,
ter um retorno positivo, porque era já um ano passado, um disco só de música
trabalho diferente. barroca. Não tínhamos pensado em
gravar um disco de música barroca,
Violão+: Quais os critérios para escolher fomos juntando sonatas...
repertório? Como vocês pensam um Fernando: Em concertos, geralmente,
disco? Ele nasce simplesmente, ou ele a gente faz um repertório variado, não
vai tendo uma concepção anterior? tocamos apenas um compositor. Então,
Cecília: Vai depender um pouco do por isso, temos um repertório grande.
repertório que estamos tocando. Não Mas, na hora de gravar um CD, é diferente.
somos de ficar parados com um mesmo Você quer montar um álbum, isso
repertório, estamos sempre pensando combina com aquilo... Então já gravamos
VIOLÃO+ • 27
duo siqueira lima

© Matheus do Val
Admiração mútua: gatilho para a parceria

dois discos só de música brasileira, com na plateia ficaram muito emocionados,


arranjos nossos. Fomos fazendo um foi fantástico. Como foi essa experiência
grupo de músicas, e de repente: “ah, issopara vocês?
dá pra fazer um disco, vamos fazer mais Fernando: É uma pergunta muito
algumas coisas, que completa”. E assim, interessante. Já se passaram quatro anos
vão surgindo os repertórios. e a gente nunca falou muito sobre isso.
Cecília: Neste último, só há uma música Foi um momento muito especial na nossa
pensada para fechar o disco. Esse disco carreira, aconteceu de maneira meio
vai ter as Bachianas 4 (Villa-Lobos) doida. A gente foi convidado para fazer
completa, os quatro movimentos. Nós o concerto no festival, para tocar com a
tocávamos o primeiro, o terceiro e o Orquestra, mas que concerto vamos fazer?
quarto movimentos, não tínhamos feito Na época, se sugeriu que fizéssemos o
o segundo. Pensamos: “para um disco, Concerto Madrigal, do Joaquin Rodrigo,
seria tão bom se pudéssemos fazê-la que tínhamos tocado fazia pouco tempo,
completa...”. O Fernando fez o arranjo e mas pediram outra coisa. Surgiu um
funcionou. Então gravamos! concerto do Radamés (Gnattali). Ele tem
um concerto para dois violões e orquestra,
Violão+: Há alguns anos, vocês tocaram original, que fez para os Assad. Esse
um concerto maravilhoso, no Festival Leo concerto que nós tocamos é o Concerto
Brouwer, no Masp, em São Paulo. Todos de Copacabana para violão-solo, e o
28 • VIOLÃO+
duo siqueira lima
Radamés o reescreveu para dois violões. quando começaram os ensaios com o
Reescreveu tudo, até a parte da orquestra. maestro Gil Jardim, foi maravilhoso.
Reformulou o concerto pensando em dois Cecília: Foi uma experiência fantástica
violões. Ele fez essa adaptação para os tocar com ele regendo!
Assad, mas eles nunca chegaram a tocar Fernando: Ele rege muito bem, ensaiou
no Brasil. Tocaram na Europa, há uns muito com a Orquestra.
vinte anos. E a partitura? Ninguém tem a
partitura. Na época, por sorte, estávamos Violão+: Era possível ver que vocês
em contato com os Assad. Fomos descobrir estavam muito felizes, isso exalava no ar...
essa partitura. Os originais estavam em Fernando: E é raro acontecer de tocar com
Bruxelas, na casa do Odair Assad. Daí, orquestra dessa forma. Porque quando
foram escanear isso, mandar pra gente, o músico vai tocar com Orquestra, ele
chegou um calhamaço enorme, da grade chega dois dias antes, tem duas passadas
do concerto... (ensaios) - isso quando há esse tempo -
Cecília: E a grade chegou uns dois uma antes da hora de tocar. Eu lembro
meses antes do concerto. Não dava que, nesse, a gente ensaiou uns quatro,
para entender... cinco dias seguidos. Por sorte, foi desse
Fernando: Uma cópia, de onde a gente
teve que tirar da grade os violões, estava
muito ruim de ler. A gente teve que
adivinhar e reescrever muita coisa. O
Radamés, na época, escreveu trechos
grandes em uníssono. Em violinos,
você tocaria e ficaria bonito: há um
trecho grande aqui e vamos colocar em
uníssono. No violão, isso não funciona
muito bem. Então, a gente praticamente
recriou muita coisa. Sei que a cópia ficou
pronta um mês antes do concerto.
Cecília: Nós pensávamos assim: há o
concerto de Copacabana editado para
violão-solo. Então combinamos: “Vamos
estudar o violão-solo, depois a gente
pega o segundo violão”.
Fernando: Dividimos: estuda você dois
movimentos, eu estudo esse, depois a
gente pega o segundo violão. Deu errado.
Na verdade, o Radamés reescreveu, era
tudo diferente, redistribuiu tudo.
Cecília: Então, estudamos dois
concertos (risos).
Fernando: Uma loucura! Mas então, Parceria: no palco e na vida

VIOLÃO+ • 29
duo siqueira lima

Inovação: repertório e preformance


jeito, porque quando a gente foi entrar para foi um momento muito emocionante.
tocar, estavam na plateia o Leo Brouwer, Levaremos para o resto da vida com
o Sergio Abreu (que era o homenageado muito carinho.
do dia), estava o (Paulo) Bellinati, o (Fabio)
Zanon, o Manuel Barrueco, o Marcelo Violão+: Quais instrumentos usam?
Kayath, o Paulo Porto Alegre e muitos Fernando: Praticamente desde o
outros. Nem dá para citar todos. Amigos, começo, a gente usa os violões do
mas que eram nossos ídolos quando Sérgio Abreu. Começamos com dois
começamos a estudar violão. Então, ainda violões antigos dele, que adquirimos do
bem que a gente teve tempo para preparar Henrique Pinto (grande mestre do violão,
tudo e ensaiar bem com a orquestra... falecido em 2011), que foi generosíssimo
Cecília: Até o Eduardo Fernandez estava com a gente. Aliás, não dá para falar na
lá também. Era muita gente, não vamos criação do duo Siqueira-Lima sem falar
nem conseguir lembrar de todos os nomes, no nome do Henrique, porque ele nos
deste festival excelente. A sociedade do acompanhou desde o começo. Foi o
violão estava lá. nosso maior incentivador, acompanhou
Fernando: foi um momento muito especial todas as etapas até a gente realmente
mesmo. A homenagem ao Sergio (Abreu) conseguir alguma posição dentro do
30 • VIOLÃO+
duo siqueira lima
cenário musical. A gente deve isso tudo dentes e vai.
a ele. Os dois instrumentos da coleção Cecília: Trabalhar juntos ajuda a nos
íntima dele, passou para a gente. deixar focados no que for fazer, porque é
Usamos esses violões até recentemente. 24 horas. Nós gostamos do que fazemos,
Encomendamos dois violões para o então não é nenhum peso acordar e ter
Sérgio Abreu em 2011. Ele demorou uns que estudar ou editar o disco. A gente
três anos para fazer, mas fez com o maior fica feliz com isso. É muito prazeroso,
cuidado possível. Os violões ficaram então só acrescentou para o bem o fato
prontos entre o fim de 2013 e o meio de de estarmos juntos.
2014. São novos. A gente está dando um Fernando: A carreira é uma coisa
descanso para os outros, que a gente
malhou muito. O duo se criou, apareceu,

© Matheus do Val
naqueles violões.

Violão+: Vocês são um casal, tocam


juntos, ensaiam juntos, qual é a rotina
de vocês? E como é a manutenção da
técnica nessa rotina?
Fernando: Acaba sendo algo flexível,
por causa dessa coisa mesmo, de
fazermos tudo praticamente juntos.
Existe uma dependência um do outro,
que, incrivelmente, acaba dando certa
liberdade. Por exemplo: estamos editando
esse disco, separando material de edição.
Então, a gente combina: “Ah, então essa
semana a gente vai ficar editando? Vamos
ficar o dia todo trabalhando nisso?”. Aí o
outro fala: “Não, tem concerto mês que
vem...vamos cuidando juntos de tudo”
(risos). Quanto à técnica, geralmente,
a agenda não deixa a gente perder
a técnica. A gente acaba mantendo,
até porque tem repertórios diferentes.
E além da agenda, há a gravação de
discos. A gente gravou um disco no ano
passado, outro este ano, e isso exige
muito. São coisas muito específicas,
mas a gente acaba se direcionando.
Por exemplo: pré-gravação. Vamos ficar
um mês trabalhando na preparação dos
repertórios. Aí a gente acorda, escova os Cumplicidade: equlíbrio sonoro

VIOLÃO+ • 31
duo siqueira lima

Festival Leo Brouwer: gigantes entre gigantes

só, mas que envolve várias outras. algum. Se na hora você quer mudar, não
No duo, você tem coisas individuais, se preocupa com ninguém. Agora, tocar
tudo precisa ser trabalhado. Então, às em dois é chegar a um ponto comum. Às
vezes, a gente combina de trabalhar vezes, é fácil, está na cara. Às vezes não.
algo separado, principalmente quando Cada um tem a sua opinião, fica daquele
há coisa nova. Ou mesmo as coisas jeito, diz não me diz, na hora cada um faz
que a gente toca há tempos... Vai ter do seu jeito mesmo (risos). Quem falou
concerto essa semana? Vou dar uma isso foi o Odair Assad: “O Sérgio fica
“trabalhadinha” na memorização, falando para mim... No ensaio, até faço,
porque a gente toca tudo decor. Entre mas na hora de tocar, faço do meu jeito”
as várias vantagens de tocar em duo: (risos). Tirando a brincadeira, a gente
enquanto eu vou ficar estudando, você sabe que é trabalhoso mesmo.
vai adiantando essa coisa da edição,
ou, melhor ainda, você cozinha? Então, Violão+: Mas vocês consultam
são muitas as vantagens de tocar em referências externas?
duo. Até para viajar, fazer o check-in...Fernando: Muitas! O Henrique Pinto,
em suma, um ajuda muito o outro. por exemplo, era o nosso padrinho, a
primeira pessoa para quem a gente
Violão+: E quando há uma discordância? mostrava. Começávamos a ler um
Fernando: Olha só que interessante: negócio, mostrávamos para ele.
nós falamos das mil vantagens de tocar
em duo, agora, entra a parte complicada. Violão+: Os violões são iguais, as cordas
Quando você toca sozinho, resolve as são as mesmas, mas a compleição física
coisas do seu jeito. Não há problema de vocês é completamente diferente. Deve
32 • VIOLÃO+
duo siqueira lima
haver uma série de diferenças, quanto à como eu tocava. Eu percebia coisas nele,
sonoridade, por exemplo. Então, como no som, ele tocava forte, esse som me
fazem para equilibrar isso? atraía muito. E eu era bastante flexível,
Fernando: O Henrique também ajudou isso o atraiu. São coisas diferentes, que
muito no equilíbrio do duo. Nossos toques geraram admiração. Então, para juntar,
são muito diferentes. No violão, o toque fica muito mais fácil. Eu, por exemplo,
é muito pessoal. Tem muito a ver mesmo queria ter um som forte como o dele.
com a compleição física, com a anatomia, Então, agora, toco mais forte.
o jeito da unha, tamanho dos dedos... Fernando: E eu queria ter a flexibilidade
Isso, à princípio, foi um problema. Eu que ela tem. Acho que hoje, depois de
sempre tocava muito forte. Quando você mais de dez anos, tenho o toque muito
faz a coisa sozinho, faz do seu jeito. Então mais parecido com o dela, e ela com o
começamos a buscar uma sonoridade de meu. É a convivência. Isso foi mudando
duo, e o Henrique trabalhou muito isso com o nosso trabalho.
a gente. Agora, continuamos utilizando Cecília: Com certeza. E é muito difícil
essa individualidade para enriquecer o mesmo conseguir chegar a um consenso
trabalho camerístico. Mas é preciso estar 100%, quando há algum conflito. Mas
se ouvindo o tempo todo, se encaixar. é muito gostoso, as alegrias quando a
Cecília: Foi muito trabalhoso, mas coisas gente vai tocar em duo se multiplicam
boas aconteceram: eu gostava demais e as tristezas se dividem. E a coisa boa
de como ele tocava e ele gostava de é multiplicar.

VIOLÃO+ • 33
mundo Por Luisa Fernanda Hinojosa Streber

O Cuatro
A sonoridade das noites e das festas caribenhas,
imortalizada pela orquestra típica, tem este
como um dos instrumentos mais destacados e
característicos

Típico de Porto Rico, o “cuatro” faz parte da grande


família de instrumentos crioulos derivados dos
alaúdes trazidos pelos espanhóis ao Novo Mundo
nos séculos XVI e XVII. Sempre foi um instrumento
utilizado pelos campesinos, na Ilha de Jíbaros, e por
muitos séculos guardou seu formato original, que
curiosamente tinha aparência de uma fechadura e
contava só com quatro cordas de tripa, tocadas com
uma pua ou paleta.

História
Os espanhóis introduziram os instrumentos musicais
para ritos religiosos e o povo, rapidamente, adaptou
grupos musicais para festividades mundanas, como
início e fim de colheitas, assim como bailes e
serenatas acompanhadas ao compasso dos cantos
das afamadas rãs coquis, próprias da Ilha, e da lua
clara nas noites caribenhas.
Em meados do século XIX é que a orquestra típica
porto-riquenha toma forma, com cuatro, bordonúa
(parecido a um violão grande), tiple (menor que
o cuatro), guiro e maraca. Entre o fim do século
XIX e o princípio do século XX que o instrumento
se transforma para sua modalidade atual, tomado a
forma de um violino com cinco cordas duplas.

Grande nomes
No ano de 1910, o grande cuatrista Joaquin Rivera
Gandia (o Canhoto da Isabela) gravou, pela primeira vez,
o cuatro - na cidade de San Juan, sob o selo Columbia -,
34 • VIOLÃO+
mundo

Yomo Toro (Victor Guillermo Toro)

imortalizando e presenteando o mundo invadiu os Estados Unidos. Nos anos


com o som de tão singular instrumento. 1970, Yomo Toro (aluno do Maestro
Em 1922, o cuatrista e compositor Ladi) o introduz na salsa na orquestra
Ladislao Martínez, considerado o maior do renomeado Willie Colón, o que o
exponente moderno desse instrumento, levou à época de ouro do instrumento,
toca pela primeira vez na rádio (WKAQ). nos anos 1980, chegando até nossos
Nas décadas seguintes, o cuatro dias como o xodó do Caribe.

Como afinar
Curiosamente o cuatro atual tem 10 cordas (cinco
duplas), porém muito provavelmente guardou seu
nome original também por ser afinado em intervalos
de quartas Sol4, Ré4, La3, Mi3, Si2 (de agudos a
graves). As duas ordens superiores estão oitavadas
- ou seja, dão a mesma nota com uma oitava de
diferença - por isso seu som é tão característico,
similar ao Tries Cubano. Maestro Ladi (Ladislao Martinez)

VIOLÃO+ • 35
história Por Rosimary Parra

Semelhanças e
diferenças
Apesar das semelhanças entre o violão e a vihuela de mano quanto
ao formato do corpo e número de ordens – violão seis cordas simples
e vihuela seis cordas em pares - há diferenças que geram abordagem
técnica e musical distintas

O repertório para vihuela de mano (séc.


XVI) é normalmente muito interpretado
ao violão na forma de transcrições. Para
tocar com o dedilhado mais próximo da
tablatura original, utiliza-se a terceira
corda do violão afinada em Fa#, de
forma a obter a mesma relação de
intervalos entre as cordas encontrada
na vihuela. Pode-se ainda usar, além da
mudança da afinação, um capotasto (ou
capotraste) na terceira casa do violão,
o que permite trabalhar na tessitura
original da obra.

Postura
Normalmente, para tocar violão na
forma tradicional, utiliza-se o apoio de
pé ou algum tipo de suporte para apoiar
o instrumento na perna esquerda. No
caso da vihuela, por ser um instrumento
de corpo menor, é necessário algo
que o deixe mais firme ao corpo do
instrumentista. Para os instrumentos
antigos de cordas dedilhadas,
geralmente utiliza-se uma faixa de
tecido amarrada ao cravelhame, com a
Vihuela de mano: cópia de instrumento do século XVI, luthier outra ponta presa a um botão inserido
Luciano Faria (Brasil 2002) na base do corpo do instrumento.
36 • VIOLÃO+
história
Mão esquerda
No violão, quando as notas são
pressionadas com a mão esquerda,
busca-se trabalhar com a ponta do dedo
na corda, evitando a quebra entre as
falanges do meio e da ponta, exceto
em meias pestanas. Nos instrumentos
com cordas duplas, usa-se a falange
da ponta do dedo um pouquinho mais
solta para que se consiga pressionar
as duas cordas. Essa mecânica pode
variar de um instrumento para outro, já
que alguns apresentam espaçamentos
um pouco maiores ou menores entre as
cordas duplas. Cabe ao instrumentista
perceber a diferença e adaptar o uso da
falange.
Outros aspectos técnicos da mão esquerda
seguem os mesmos mecanismos que
costumam ser trabalhados ao violão.

Dessa forma, é como se “vestíssemos” Afinação


o instrumento, colocando a faixa ao A vihuela tem seis ordens, mas cada
pescoço e abraçando seu corpo, da ordem tem duas cordas - exceção à
mesma forma que músicos fazem com primeira ordem, com uma única corda.
as guitarras elétricas. Pode-se usar A afinação segue o padrão do alaúde
também o apoio de pé para manter a renascentista: da corda mais grave
coluna mais alinhada e sustentar melhor para mais aguda, os intervalos são: 4ª,
o corpo do instrumento em passagens 4ª, 3ª, 4ª e 4ª. As cordas em pares são
mais complexas da mão esquerda. Há afinadas em uníssono. Considerando
ainda aqueles que optam por tocar com uma vihuela em Sol, por exemplo,
o instrumento apoiado sobre as pernas teremos as seguintes ordens do grave
cruzadas. para o agudo:

Uso da falange da ponta do dedo

VIOLÃO+ • 37
história
6ª - Sol-Sol
5ª - Dó-Dó
4ª - Fa-Fa
3ª - La-La
2ª - Ré-Ré
1ª - Sol
Tal diferença de afinação entre os
dois instrumentos implica também na
formação dos acordes. Os acordes que
se conhece no violão são formados com
outros desenhos no braço da vihuela.
Pode-se dizer que para quem toca
alaúde renascentista, a transição para
tocar vihuela é mais simples no que
diz respeito à afinação. No entanto,
para quem toca violão, é necessário
compreender o braço do instrumento
naquela afinação.
Frontispício do livro de músicas de vihuela de mano intitulado
Não se está considerando aqui uma mera El Maestro, de Luis Milan
transposição da mecânica de execução
de uma transcrição já tocada ao violão inserção do instrumento em formações
para a vihuela, ou seja, tocar uma camerísticas com cantores ou outros
música na vihuela pensando no braço instrumentos.
do violão – nomes de notas e acordes.
Bibliografia
Esta maneira poderá funcionar em um COELHO, V.A. Performance on lute, guitar and vihuela:
primeiro momento para um deleite com Historical Practice and Modern Interpretation. New York:
Cambridge University Press, 1997.
o instrumento, mas limita o estudo mais DAMIANI, Andrea. Metodo per liuto rinascimentale. Bologna:
aprofundado do repertório e também a UT ORPHEUS EDIZIONI, 1998

Acorde de Sol maior no violão Acorde de Sol maior na vihuela

38 • VIOLÃO+
Em parceria com a Tokai Japan, a Tokai do
Brasil traz para o país a linha de violões
mais surpreendente de todos os tempos

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VIOLAO
40 • VIOLÃO+
+
VIOLAO BRASILEIRO

“Dindi”
Renato Candro
Nesta edição, vamos estudar um arranjo simples para a www.renatocandro.com
canção “Dindi”, de Tom Jobim e Aloysio de Oliveira. Eu www.learningbrazilianguitar.com
pensava, e acredito que muitas pessoas também, que essa
música havia sido composta especialmente para Sylvinha
Telles, mulher de Aloysio, cujo apelido seria Dindi e que foi
a primeira cantora a gravar a canção no LP Amor de Gente
Moça, de 1959, com participação da grande violonista
Rosinha de Valença. Mas, pesquisando, encontrei a
seguinte citação do livro Antônio Carlos Jobim, Um homem
iluminado (Ed. Nova Fronteira), onde Helena Jobim narra o
seguinte: “Ele via o rio passar, roncando nas pedras, as águas
espumaradas. Aquele ruído o apaziguava. Na outra margem,
começava o pasto que ia dar no morro do Dirindi. ‘Dindi’ não
era, como muitos pensavam, um nome de mulher. Mas sim
toda aquela vasta natureza e seus segredos”.
Tenha sido escrita para Sylvinha Telles ou não, essa canção
é muito conhecida ao redor do mundo e foi regravada
inúmeras vezes. De Maria Bethania a Ella Fitzgerald, de
Quarteto em Cy a Wayne Shorter, você pode ouvir muitas
versões diferentes no YouTube.
O arranjo é simples, mas gostaria de chamar a atenção para
dois pontos. Primeiro: há muitas tercinas na melodia que vêm
depois de ritmos baseados na fórmula de compasso simples.
Por exemplo, no primeiro compasso há uma semínima
pontuada, uma colcheia e logo em seguida uma tercina de
semínimas. Tenha cuidado para diferenciar esses ritmos
corretamente. Segundo: no compasso 20, escrevi a melodia
adicionando uma voz uma sexta abaixo. Aqui a questão é
técnica. Pode ser um pouco difícil conseguir a fluência
necessária para executar essa parte a contento. Estude
com calma prestando atenção ao dedo guia (dedo 2)
que é de grande ajuda sempre que precisamos tocar
melodias em sextas.
No mais, deixe-se levar pelas águas desse rio fecundo que
é a música brasileira. Navegue pelos rios de águas fortes
e explore cada igarapé (do Tupi, caminho de canoa). Há
muito mais entre a seresta e a bossa nova do que julga
nossa vã filosofia. Bons estudos!

VIOLÃO+ • 41
~ BRASILEIRO
VIOLAO

“Dindi”
Tom Jobim/Aloysio de Oliveira
Arranjo: Renato Candro

42 • VIOLÃO+
~ BRASILEIRO
VIOLAO

VIOLÃO+ • 43
VIOLA caipira

Na carreira do
Cururu
Fábio Miranda
www.fabiomirandavioleiro.com

São vários os ritmos que podem ser feitos na viola caipira.


Cateretê, cururu, toada, recortado, pagode caipira, batidão,
rasta-pé e cana verde são alguns dos inúmeros toques que
o violeiro pode executar no pinho de dez cordas.
Mas, como diz o “caipirólogo” José de Souza Martins, a
“música caipira nunca aparece só, enquanto música”, ou seja,
devemos lembrar que cada um desses ritmos está inserido
dentro de contextos maiores que envolvem manifestações
lúdico-religiosas ligadas à cultura do caipira.
O cururu, por exemplo, é muito mais do que um toque feito
com a mão que fere as cordas da viola. Trata-se de uma das
mais antigas manifestações dramáticas brasileiras, criada
na mistura de rituais indígenas tupi com os rituais católicos
trazidos pelos padres jesuítas durante os séculos XVI e
XVII, ou seja, há mais de 400 anos! Ainda podemos ver
continuações dessas práticas nas danças de São Gonçalo
e de Santa Cruz, praticadas no estado de São Paulo, além
de outras manifestações religiosas em Goiás e Mato Grosso
envolvendo danças, desafios de versos, coreografias
circulares e música!
O nome “cururu” faz referência ao sapo (em tupi) que está
presente nas narrativas mitológicas de vários grupos tupis
como uma espécie de guardião do fogo.

44 • VIOLÃO+
VIOLA caipira
No interior de São Paulo, o cururu tornou-se uma modalidade
de desafio de versos semelhante ao repente nordestino.
Nesse caso, os cururueiros escolhem o tipo de carreira a ser
usada como rima para os versos. Por exemplo, na carreira do
“a” os versos têm que terminar em “a”, na carreira do Divino,
os versos devem terminar em “ino”, além da carreira de São
João, de São José, e a do Sagrado, esta última exemplificada
na peleja entre Nhô Chico e Parafuso (gravação realizada
pelo selo Discos Marcus Pereira em 1974).

Em alguns cururus, a levada feita pela viola caipira (ou


violão) apresenta um rasgueado de mão cheia, que traz um
padrão rítmico bem marcante, ligado à tradição antiga da
dança em roda.
Já no contexto da música sertaneja - quando a musicalidade
caipira começou a ser formatada para o disco - as modas
perderam as características do improviso e da religiosidade.
Passaram também a elaborar o romance como narrativa nas
letras, contando histórias com início, meio e fim, como alguns
cururus famosos gravados, como “Menino da Porteira”,
“Caçador”, “Peito Sadio”, “Canoeiro” e tantas outras.

VIOLÃO+ • 45
VIOLA caipira
Muitas dessas modas, porém, ainda trazem nas letras as
referências ao cotidiano indígena, como a caça e a pesca.
Um dos primeiros cururus formatados para o disco foi
“Canoeiro” (Zé Carreiro / Alocin - 1950) que narra a saída
de dois companheiros para uma pescaria na lagoa. Nesse
cururu, percebe-se que todos os versos terminam em “oa”,
como se fosse uma “carreira da canoa”. Essa música possui
apenas dois acordes, que são alternados durante o ritmo
do cururu na viola.
Ouça a gravação de Zé Carreiro e Carreirinho (em Eb)
atentando para o ritmo de acompanhamento que intercala
os acordes das duas posições, Tônica (I) e Dominante (V7).
O uso dos graus I e V7 para mencionar os acordes possibilita
tocarmos a música na viola afinada tanto em cebolão em
Ré (D) como em Mi (E) e Mi bemol (Eb). Experimente:

46 • VIOLÃO+
VIOLA caipira

Deu certo? Lembrem-se que o espaço entre as setas grandes


para baixo (tempo forte) é onde acontece o toque do cururu.
Nesse exemplo, a troca de acordes acontece sempre na
“cabeça” do tempo, ou seja, na execução da seta maior,
iniciando cada compasso. Experimente também inventar
outros versos para incrementar o passeio de pescaria na
canoa... E por que não inventar uma carreira para rimar?
Pula, violeirada!

REFERÊNCIAS:
CÂNDIDO, Antônio. Cururu. Disponível em < http://revistas.iel.unicamp.br/
index.php/remate/article/view/3555/3002> Acesso em 07/10/2015.
MARTINS, José de Souza. Capitalismo e tradicionalismo: estudos sobre as
contradições da sociedade agrária no Brasil. São Paulo: Pioneira, 1975.

VIOLÃO+ • 47
f lamenco

“El Abanico” Flavio Rodrigues


www.flaviorodrigues-flamenco.eu
Neste segundo número, referente à técnica, falaremos
de outro tipo de “rasgueado” para guitarra flamenca.
Este em questão, talvez seja o mais famoso de todos os
seus “irmãos”, de toda a família. Se trata do “rasgueo”
de pulso, ou mais popularmente conhecido na Espanha
como “El Abanico” (tradução: O Leque).
Este nome popular se deve ao fato de termos,
obrigatoriamente, que girar a munheca para executá-lo,
abrindo e movimentando os dedos simultaneamente, de
forma sutil. Se repararmos bem, faz muito sentido, pois
é o mesmo movimento que se utiliza para se abanar
com um leque, só que com os dedos levemente abertos
(giro de munheca, acompanhando os dedos que seriam
uma espécie de leque, como prolongação da própria
mão). Curiosidades à parte, vejam a ordem dos dedos a
seguir, e confiram no vídeo como executar, utilizando o
giro de munheca.

Referente ao repertório, vamos aplicar a nova técnica


aprendida nesse número, para introduzir o nosso toque
por Tientos, somando e sequencia a seguir com a
métrica do compasso, que iniciamos no número anterior
de nossa Violão+.

Utilizaremos apenas os seguintes acordes*:

F C/G Bb6(4+) A9b


*acordes sem capo-traste (cejilla)

48 • VIOLÃO+
f lamenco

Para finalizarmos, vamos introduzir um novo quadro


dentro da nossa coluna, visando ampliar nossas
referências dentro do universo flamenco, com alguns
dos grandes nomes da guitarra flamenca de todos os
tempos, além dos novos talentos que surgem dia a dia.

#FicaAdica
Tauromagia (1988)
Manolo Sanlúcar

Obra-prima indispensável
do maestro de maestros,
Manolo Sanlúcar, que
marca um antes e um
depois dentro do universo
violonístico, em toda a
sua amplitude, em vários
aspectos: novas técnicas (trêmulo contínuo, por exemplo),
arranjos combinados com cordas, metais, bateria, baixo
etc., aberturas harmônica e melódica inovadoras dentro
da estética da música flamenca/andaluza, e introdução de
elementos jazzísticos, além de outros estilos.

Destaque: “Oración”.

VIOLÃO+ • 49
siderurgia

Subdivisão
do tempo -
Walter Nery
www.walternery.com

Contratempo
Na edição inaugural da revista Violão+, apresentei o
baixo alternado como um conceito utilizado no arranjo
de certas canções do repertório para o violão cordas de
aço. Como exemplo, reproduzi um arranjo bem simples
da música “Mack the Knife”, de Kurt Weil e Bertold Brecht.
Neste segundo número, vamos elaborar um pouco mais
esse mesmo arranjo, inserindo elementos rítmicos que
propõem a subdivisão de alguns tempos.

Contratempo
Aqui, introduzo o conceito de contratempo. Como
muitos já sabem, o contratempo é o espaço de tempo
que fica entre dois tempos principais de uma contagem,
sendo normalmente representado pela letra “e”. Assim,
subdividir o tempo de uma determinada passagem
musical significa inserir alguma figura rítmica nesses
espaços. Privilegiaremos inicialmente as colcheias como
figuras de subdivisão.
Observem como os exemplos a seguir impõem mais
agilidade e maior dinamismo ao acompanhamento em
relação aos exemplos propostos no volume anterior
desta revista.

Exemplo 1

50 • VIOLÃO+
siderurgia
Exemplo 2

Misturar cordas soltas graves e agudas no


acompanhamento produz um efeito muito rico e dinâmico,
que valoriza as características do instrumento.

Exemplo 3

Exemplo 4

O exemplo a seguir é um dos que mais gosto e utilizo


em meus arranjos:

Exemplo 5

VIOLÃO+ • 51
siderurgia
A seguir, o arranjo “repaginado” de “Mack the Knife”,
onde faço uso dos conceitos apresentados neste artigo.
Um abraço musical!

“Mack The Knife”


(versão 2)
Bertold Brecht/Kurt Weill
Arranjo: Walter Nery

52 • VIOLÃO+
como estudar

Mão esquerda Breno Chaves


brechaves@gmail.com

A fisiologia (do grego physis = natureza e logos = palavra


ou estudo) é o ramo da biologia que estuda as múltiplas
funções mecânicas, físicas e bioquímicas nos seres
vivos. De forma mais sintética, a fisiologia estuda o
funcionamento do organismo. A fisiologia do movimento,
grosso modo, é o estudo comportamental do corpo em
função de determinado movimento, no caso específico,
as mãos do instrumentista ao violão.
Por conta de diferenças anatômicas e habilidades
inatas – e também, da compreensão que cada músico
tem de determinada obra musical -, é muito comum
observar que, em uma mesma peça, cada indivíduo
pode encontrar alguma dificuldade técnica para resolver
determinado trecho. E a resolução desse trecho pode ser
simples para alguns e extremamente difícil para outros.
Muitos métodos tratam de algumas questões técnicas
(por exemplo, mão esquerda), oferecendo uma série de
exercícios de escalas e acordes que, na maioria das
vezes, não resolvem determinado problema por falta Figura 1 - Lá maior

de compreensão dos diversos fatores que envolvem a


movimentação dos dedos.

Direita e esquerda
Os critérios de posição da mão esquerda obedecem
outras diretrizes. Enquanto que na mão direita a posição
do braço direito estará subordinada à posição da mão
direita, na mão esquerda ocorre o contrário, salvo
algumas exceções como acordes com apresentações
transversais (acorde de Lá maior, na Figura 1) ou com
apresentações mistas (Si maior na segunda posição,
na Figura 2). É impossível deixar o braço esquerdo
absolutamente relaxado, pois, nessa condição, ele ficaria
pendente e perderia sua função. O relaxamento, nesse
caso, será parcial, ou seja, até o braço o relaxamento
acontecerá quase que na totalidade. Já o antebraço
ficará flexionado para que a mão fique próxima à escala
do instrumento. Figura 2 - Si maior

VIOLÃO+ • 53
como estudar
O antebraço tem uma função importantíssima na dinâmica
do movimento da mão esquerda. É por meio dele que a
“pressão” dos dedos nas cordas acontecerá. Um erro
muito comum, principalmente no caso das pestanas, é
fazer essa “pressão” com o polegar em oposição aos
dedos, gerando uma tensão nos mesmos e “travando”
os movimentos longitudinais na escala. Uma “pressão”
muito maior e infinitamente mais eficaz é obtida pela
flexão do antebraço (Figura 3).
Alguns métodos defendem, além da flexão do antebraço,
a utilização do seu peso para um resultado ainda mais
eficaz, principalmente nas pestanas.
Figura 3
Em minha experiência prática como professor e
performer, não indico esse procedimento, pois o braço
nessa situação faz que os dedos fiquem tensos (em
atitude de pinça para sustentar o conjunto braço e mão),
o dedo mínimo trabalha encolhido com movimentos
limitados e o posicionamento da mão como um todo fica
comprometido. Veja um exemplo de posicionamento
incorreto das mãos gerado pela utilização do peso do
braço na Figura 4.

Critérios para o movimento dos dedos da mão


esquerda
Com relação ao movimento dos dedos da mão
esquerda, devemos considerar que ele tem origem no
metacarpo-falangeal (articulação da base do dedo). Figura 4

Esse procedimento faz que os dedos trabalhem em sua


totalidade. Metacarpo - falangeal (médio)
Nos casos de acordes com apresentação transversal
ou mista, o antebraço funcionará como coadjuvante,
favorecendo a posição de forma que os dedos não
esbarrem nas cordas inferiores que por ventura tiverem
que vibrar. Esse tipo de abordagem também favorece a
destreza e a precisão nos movimentos (Figura 5).

Sincronismo
Além do posicionamento correto da mão esquerda,
é fundamental o sincronismo entre as mãos direita e
esquerda. Os dedos da esquerda devem pressionar as
cordas exatamente no mesmo instante em que os dedos
da mão direita pulsarem as cordas. Figura 5

54 • VIOLÃO+
como estudar
Sete exercícios para sincronismo de mão esquerda
e mão direita

Exercício 1

Exercício 2

Exercício 3

Exercício 4

Exercício 5

Exercício 6

Exercício 7

VIOLÃO+ • 55
de ouvido

“Tirar de Reinaldo Garrido Russo

ouvido“ www.musikosofia.com.br
duemaestri@uol.com.br

Penso que compreender profundamente o que está


escrito abaixo e colocar em prática é tudo o que
precisamos para aprender bem. Quando a proposta é
de compreender com leitura simples, alguma referência
audiovisual e sem a monitoria de um profissional, tudo
torna-se complicado. Método (origem no grego e que
quer dizer caminho) é o meio mais seguro e rápido, mas
é preciso estar preparado. Aos professores ou futuros
professores, recomendo não negligenciar as dicas
abaixo com seus alunos.

Dica número 1 - Trate de sua autoestima e lucidez


Imagine a seguinte situação: você acorda pela manhã
e faz todas as coisas corriqueiras sem prestar muita
atenção. Na hora de tomar o café, o deixa cair da xícara
molhando a mesa. Entra em seu carro e dirige com
displicência sem perceber que por pouco não atropela
um ancião. Chega ao escritório e, além de não ter a
menor ideia de onde começar, não consegue ler o texto
obrigatório que servirá para a reunião a seguir. Os olhos
não conseguem ir à frente. Assim segue o dia inteiro.
Outra situação: você acorda bem disposto e já vem
à mente, com clareza, tudo o que você tem de fazer
durante o dia. Percebe que a pasta de dente não estava
bem tampada, coloca a quantidade necessária de açúcar
no café e presta atenção na hora de colocar o café na
xícara. Tem plena consciência de que se não tirar o
dedo no momento exato a faca poderá cortá-lo, além
do pão. Dirige até o escritório e repara na localização
de cada loja de ferragens, pois no final da tarde terá
que comprar algumas lâmpadas, ou seja, já adiantou
metade do serviço que tinha de fazer. Apesar disso,
presta atenção em todas as sinalizações de trânsito. O
dia no escritório corre feliz e o texto que você leu foi
facilmente entendido e a reunião foi um sucesso.
56 • VIOLÃO+
de ouvido
Como se pode perceber, os dois estados de consciência
são bem distintos. O primeiro é displicente, irresponsável,
sem energia mental. O segundo é atuante nos detalhes,
sem perder a noção do todo, e está pronto para qualquer
eventualidade. A diferença está no grau de lucidez. A
palavra lucidez vem de luz, ou seja, o quanto iluminada
está a sua mente. Você sabe muito bem que sem luz
não se enxerga nada.
O grau de lucidez varia com o dia, com a hora, com o
estado emocional e a maneira como você lida com a
organização interna (a de sua mente) e a externa (mesa
de trabalho, agenda etc.). Nosso grau de lucidez não é
fixo. Tem seu mínimo quando estamos dormindo e seu
máximo quando somos aficionados, empolgados com
algum conteúdo. O grau de lucidez varia diferentemente
para cada coisa. O que você mais gosta de fazer clama
mais por sua dedicação.
É importante saber que a capacidade de compreender
e amar a nós mesmos, chamada de autoestima, está
inteiramente relacionada ao grau de lucidez. Uma pessoa
com autoestima baixa tende a empurrar para frente tudo
o que programou fazer. Torna-se triste ou estranhamente
alegre. São caminhos para fugir à realidade.
Você deve estar se perguntando o porquê de toda essa
conversa: conhecer a maneira pela qual o ser humano
funciona para o aprendizado é importante. Não adianta
método e nem material didático se você está com a
autoestima baixa, sem energia e desorganizado. Eis a
primeira dica e a mais importante...

Valorize o seu saber


Saber apreciar o que conhecemos e o que sabemos faz
parte desse aprendizado. A autoestima se eleva. Nunca
despreze o que você já aprendeu. O ensino formal de
escola, por meio de professores, é apenas mais um
caminho. Geralmente, o músico que é alfabetizado (lê e
escreve música) tende a desprezar aquele que não é, e
o iniciante compra a ideia. Isto é um erro!
Álvaro Vieira Pinto, filósofo e educador brasileiro, diz
em seu livro Sete Lições Sobre Educação De Adultos
que o analfabeto traz um grande conhecimento, não
formal, repleto de cultura e sabedoria. Quantos músicos,
VIOLÃO+ • 57
de ouvido
que tocam divinamente, nunca tiveram um professor?
Não foram eles seu próprio professor? E aí vem uma
dica importante: “O aprendizado só se faz plenamente
quando o aluno consegue aprender de que forma
aprende e apreende”.
Tenho percebido que os meus alunos pelo Skype são
mais concentrados porque não existe a facilidade
comparada à aula presencial. O esforço é bem maior
para mim e para eles. Isso aumenta a atenção em relação
ao que ouvimos, ao que falamos, e ao que tocamos no
instrumento.

Dica numero 2 - Comece do princípio


Não queira pular fases, estágios. O binômio “ouvir/
reconhecer” leva tempo. É um processo bem gradativo
e que depende de paciência. Tive, em minha infância,
a sorte de ter um pai que cantava e tocava violão.
Colocava-me de costas fazendo um acorde ao violão. Eu
tinha que pensar e responder, e isso era uma brincadeira
deliciosa. Achava alguns acordes familiares e inventava
um jeito de deixar vir à tona, por eliminação, em minha
consciência. Depois de um tempo eu acertava todos.
Na faculdade, quem comandava os exercícios auditivos
eram os professores, mas eles tinham que dar atenção
para muitos alunos o que deixava o processo mais lento.
Hoje, temos muitos programas de celular e computador
que o leitor deve procurar adquirir. Recomendo em
princípio o EarMaster. Você pode também escrever “Ear
Training” e aparecerão muitos programas, mas os bons
estão em inglês. Para ter um aproveitamento eficaz, é
necessário que o leitor tenha uma boa e simples base
teórica e conheça os termos musicais em inglês. É o que
vamos ter nos próximos números que serão regados por
exercícios auditivos.

Exercício básico 1
1. D eite no chão, em decúbito dorsal (barriga para cima)
sobre um tapete macio. Coloque uma pequena toalha
enrolada embaixo do pescoço para não forçá-lo.
2. D eixe o gravador de seu celular em posição rec perto
de sua boca.
3. Você tem cinco minutos para relaxar e dominar sua
58 • VIOLÃO+
de ouvido
respiração deixando-a profunda e lenta.
4. O restante do tempo, até completar meia hora, você
prestará atenção em todos os sons presentes na sala ou
nas proximidades. Reconhecendo sons musicais (buzinas,
canto de pássaros etc.) ou ruídos (barulho de máquina,
automóvel, cadeira arrastando etc.). Faça comentários
sobre o som que será gravado por seu celular.
Depois disso, ouça a gravação e repare se o gravador,
sensível que é, pôde gravar mais do que você ouviu.
Certifique-se de que a gravação está em acordo com o
que falou no registro. Este exercício aumenta a lucidez
auditiva, traz foco no que se quer ouvir e é absolutamente
relaxante. Faça-o sempre procurando diversão e
concentração. Com o tempo, você deve focar em um
ruído recorrente na tentativa de identificar detalhes que
ocorrem esporadicamente.
Como exercício preparatório para a próxima jornada,
ouça o arquivo de nome “Os Lás (A) no piano” e compare
com a tabela abaixo.

• A gravação nos mostra nove Lás, sendo oito do piano


de 88 teclas, da tabela.
• Você ouvirá primeiro o mais grave, chamado A-2
• O penúltimo, o mais agudo do piano, tem a frequência
do primeiro (27,50) multiplicada pelo fator 128, ou
seja, uma frequência de 3.520 vibrações por segundo.
• O último som ouvido na série da gravação está fora
do piano e pode ser executado por alguns tipos de
órgão de tubos. Sons mais graves podem ser ouvidos
também nesses órgãos.
• Repare que este último, o A7 de 7.040 vib/s, é muito
agudo e, nesta região, o ouvido humano não tem a
percepção definida de altura. É possível que algumas
pessoas ouçam um Fá, um Sol ou outro tom (na
gravação, estamos amparados pela audição prévia de
outros Lás que nos servem como referência, portanto
provavelmente ouviremos o tom de Lá). Tom? Não
são notas musicais? Na próxima edição veremos mais
sobre isto. Até lá!
VIOLÃO+ • 59
iniciantes

Fundamentos Ricardo Luccas


Começo esta coluna pensando em você que gosta de rnluccas@gmail.com

violão, mas teve até hoje pouco ou nenhum contato


com a prática do instrumento. Traremos neste espaço
algumas dicas para tornar mais agradável essa vivência.
Dividiremos este primeiro contato de forma didática e
teremos sempre uma novidade a cada edição.
Para começar a conversar, precisamos estabelecer alguns
combinados, que vão servir e acompanhar você em toda
a trajetória de aprendizado no instrumento.

Cordas
Com relação ao instrumento, vamos estabelecer alguns
entendimentos. Qual a primeira corda? Você acha que
a contagem começa de baixo para cima ou de cima
para baixo? Se você disse que a primeira corda é a de
baixo (a mais aguda), acertou. Vamos, então, contando
sucessivamente: corda 2, corda 3 (as três primeiras são
conhecidas como “primas”), cordas 4, 5 e 6 (conhecidas
por bordões ou baixos). Segue uma imagem de um violão
onde podemos identificar algumas partes importantes,
como o número das cordas, boca, corpo, cavalete, braço,
casas, mão e tarraxas.

Corpo do violão
Mão
Casas

6
5
4
3 2 1
2 5 4 3
1

Cordas Boca Braço

Cavalete Tarrachas

60 • VIOLÃO+
iniciantes
Dica: para atingirmos uma boa execução, logo de cara,
é interessante explorar os timbres e, para isso, podemos
experimentar tocar desde próximo ao cavalete até
onde termina o braço do violão, descobrindo diferentes
sonoridades. Mas, por enquanto, sugiro tocar na boca do
violão, parte do meio para trás (em direção ao cavalete).

Mãos
Com relação às nossas mãos, pensando em uma pessoa
destra, temos os dedos da mão direita como P (polegar),
I (indicador), M (médio) e A (anular) e da mão esquerda
como 1 (indicador), 2 (médio), 3 (anular) e 4 (mínimo)
como mostra o gráfico a seguir. Para o canhoto, devemos
inverter o processo acima.

2 M = médio
1 I = indicador
3 A = anular

P = polegar

Mão esquerda Mão direita

Notação Musical
Para notação musical, usa-se a partitura e a tablatura.
A partitura será explicada em outra ocasião. A tablatura
representa o desenho das seis cordas e os números que lá
aparecerem representam as casas a serem tocadas com
os dedos da mão esquerda. A tablatura segue o mesmo
principio da partitura em relação à altura dos sons: quanto
mais para baixo, mais grave. Dessa forma, a linha de
cima, linha 1, é igual à corda 1, a linha 2 igual à corda 2
e assim por diante.
VIOLÃO+ • 61
iniciantes

Cifra
Para cada nota musical existe uma cifra correspondente.
As cifras representam os acordes que iremos aprender a
seguir. Por exemplo, “A” é igual a Lá maior e “E” é igual
a Mi maior.

Se colocarmos um “m” minúsculo após a cifra, o acorde


se transforma de maior para menor. Por exemplo, “Am” é
igual a Lá menor e Em é igual a Mi menor.
Seguem abaixo as primeiras cifras que iremos aprender.
Para entender as cifras, vemos que o desenho abaixo
é constituído pelas seis cordas (contamos as cordas da
direita para a esquerda). As casas estão na ordem de
cima para baixo. Por exemplo, para fazer o “A”, devemos
colocar os dedos 1, 2 e 3 na casa 2, sendo que o dedo 1
está na corda 4, o dedo 2 na corda 3 e o dedo 3 na corda
2. Ficou confuso? Copie o desenho e veja o vídeo.

62 • VIOLÃO+
iniciantes
Ritmo
A mão direita é muito importante na condução do ritmo
e aprenderemos de cara a desenvolver o dedilhado e
a batida. É legal executar os dois para desenvolver a
coordenação e soltar a musculatura

Exercícios
1) Mão direita. Arpejos em cordas soltas, só para a
mão direita (cordas soltas são quando não prendemos
nenhuma casa com a mão esquerda).

2) Mão direita. Batida. Para o exercício de batida iremos


inserir duas sequências de dois acordes cada, uma maior
e uma menor, para que se possa perceber a diferença
dos sons.

3) Mão esquerda. Vamos iniciar uma sensibilização


também com a mão esquerda. É importante que ela vá se
acostumando com a abertura e com o andar pelas cordas
e pelas casas. É um exercício em que os dedos 1, 2, 3
e 4 vão descendo corda por corda. Atenção à indicação
da tablatura: devemos começar com o dedo 1 na casa 5,
dedo 2 na casa 6 e assim por diante. Os números de 1 a
4 representam os dedos da mão esquerda. As letras I e M
VIOLÃO+ • 63
iniciantes
representam os dedos indicador e médio da mão direita.
Para cada nota tocada, vamos um usar um dos dedos,
sempre de forma alternada.

É muito comum observarmos que quando alguém inicia a


prática do instrumento apresente mais facilidade para tocar
com acordes ou para tocar linhas melódicas. É importante
pensarmos no desenvolvimento de forma mais geral, por
isso, sugiro a dedicação aos diferentes exercícios (arpejo,
batida, mão esquerda). Bom estudo!

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64 • VIOLÃO+
improvisação

Estruturação
Alex Lameira
www.alexlameira.com.br

É um grande prazer ter sido convidado para falar de um tema tão interessante e de
infinitas possibilidades: a improvisação. Antes de iniciar a série de artigos, gostaria de
prestar homenagens àqueles que me possibilitaram escrever esses conhecimentos e
transmitir o que aprendi com eles: Davilson Assis Brasil, Conrado Paulino, Heraldo do
Monte, André Marques e Itiberê Zwarg.
Tudo o que será publicado neste espaço veio, de alguma forma, desses mestres que
tive e aos quais agradeço publicamente pela generosidade de dividir informações.
Esta coluna estará fundamentada na escola de Hermeto Pascoal, que coloca o
“sentir auditivo” em primeiro lugar.

Conceito
A improvisação em si, pela própria acepção da palavra, não é possível ser “ensinada”,
pois o próprio nome já diz que se trata de algo espontâneo, criado no momento da
execução. O que transmitiremos aqui são os alicerces sobre os quais se construirá
o “ouvido interno” que trará à tona, por meio do violão, as idéias da mente (e não
dos dedos).
Antes de iniciarmos o estudo técnico no braço do instrumento, convido o leitor a
estudar apenas os sons e cantar o acorde proposto para que, ao improvisar, as
idéias saiam de sua mente e não de movimentos involuntários da mão. Falaremos
aqui em acordes de sete notas, e não de escalas. Quatro notas são a base do
acorde e três são as tensões dele. Vamos começar pelo acorde maior com sétima
maior (maj7):
Exemplo: CMaj7

Exercícios para praticar o ouvido interno


1. C antar e tocar cada uma das notas com o violão
2. Tocar apenas a nota Dó e cantar as notas básicas do acorde (Do, Mi, Sol, Si)
3. Tocar o acorde Cmaj7 e cantar as tensões (Ré, Fá#, Lá)
4. Transpor, utilizando o ciclo de quartas, passando pelos 12 tons
Aproveite o estudo auditivo para tocar as notas em todas as regiões do braço do
instrumento, o que irá nos preparar para a próxima aula. Bons estudos e até a
próxima edição!

VIOLÃO+ • 65
coda

Será que brota um


cavaquinho?
Luis Stelzer

De novo, esquecimento? Será que não existe outro tema?


Prometo que será a última vez. A menos, é claro, que eu
esqueça da promessa...

Essa já faz uns vinte anos, ou mais. chuva meio quebrado, molhado
Eu dava aula em um casarão na Rua quase tanto quanto se estivesse sem
Vergueiro, próximo ao metrô Vila o mesmo. Havia um portãozinho,
Mariana. São Paulo, a cidade. Na que dava acesso a um jardim, com
verdade, alugava uma sala, na parte uma escada até a casa. Já abriu o
da frente da casa, para minhas aulas portãozinho de uma casa velha? Ele
particulares de violão. Os donos é desalinhado e a fechadura não
moravam nos fundos, que nunca vi o fim, funciona mais. A solução é passar uma
de tão enorme que era. Obviamente, corrente bem grossa e fechar com um
esse casarão já não existe mais, virou cadeado pesado. Ruim de abrir e de
prédio, como tudo por lá. fechar. Ótima situação para quem está
O dia era um sábado. Chovia muito, com as mãos ocupadas e com o céu
daquelas chuvas de lavar a alma, caindo sobre sua cabeça.
mesmo. Eu, chegando com meu violão Para melhorar a minha performance
dentro do estojo marrom e um guarda- na tentativa de abrir rapidamente o

56 • VIOLÃO+
coda
dito cujo, coloquei o estojo do violão natural): entra! Vejo que ele vem, com
no chão, bem ao meu lado, para não um lindo estojo marrom, bem molhado,
esquecer. Força pra lá, força pra cá, o igualzinho ao meu. A ficha, doída, caiu.
vento vira o guarda-chuva do avesso, Meu violão de concerto, um Tessarin com
melhorando muito cordas Augustine
a minha situação. Imperials, ficou
No fim das contas, “...Vejo que ele vem, com ao relento, do
já todo molhado,
não precisava
um lindo estojo marrom, lado de fora da
casa, em plena
mais me preocupar bem molhado, igualzinho ao rua Vergueiro, na
em me proteger, meu. A ficha, doída, caiu...” chuva, durante vinte
bastava me livrar minutos! Qualquer
do que restou do um poderia passar
objeto. Finalmente, o cadeado se abriu e levar, numa boa, afinal, ele ficou
e a corrente foi para o chão. Pego tudo na calçada, do lado de fora da casa.
de volta, entro, recoloco o cadeado sem A enxurrada também poderia tê-lo
trancá-lo, corro para dentro da casa, carregado. O Bira, um tirador de sarro
vou até o banheiro da edícula, começo a profissional, não perdeu a oportunidade:
me secar com papel-toalha, pensando: “Não adianta deixar molhar, não vai brotar
será que o Bira vem? O Bira era o um cavaquinho do seu violão!”. Ri, sem
meu aluno, que, espertamente, estava graça e sem poder nem
esperando a tempestade passar, sob ao menos reclamar,
algum toldo de bar nas imediações. porque, no fim das
Passados vinte (isso mesmo, vinte!) contas, tinha tido
minutos, toca a campainha. Vejo que muita sorte. Molhado,
a chuva já deu trégua. Como deixei a satirizado, mas feliz.
corrente apenas enrolada e não tranquei Meu violão estava
o cadeado, grito para o Bira (interfone ali, comigo.

VIOLÃO+ • 57
CD-60 CE
CLASSIC DESIGN SERIES

Mahogany Black Natural Brown Sunburst

Os violões eletroacústicos CD-60 CE oferecem sonoridade e visual


sofisticados. A combinação do tampo em Spruce laminado, com laterais
e fundo em Nato, captação Fishman Isys III (ativa), Tarrachas Die-Cast
cromadas, braço em Nato com escala em Sonokeling (Black, Natural e
Sunburst) e Mahogany (Mahogany) de 20 trastes garantem sons ricos e
encorpados.

Importantes upgrades incluem um novo projeto de ponte, friso do bocal


em madre-pérola e novo escudo.

Os primorosos acabamentos Mahogany, Black, Natural e Sunburst


oferecem classe e estilo aos instrumentos, que vêm acompanhados por
um exclusivo case “Hardshell” original Fender.

Case “Hardshell“ Captação Novo Projeto Friso em Tarrachas


Original Fender Fishman Isys III de Ponte Madre-pérola Die-Cast

/FenderBrasil www.fender.com.br

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