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Língua, Cultura e Tradução Fernanda Pratas

Em Bahia de Todos os Santos, uma espécie de guia de Salvador, Jorge Amado


apresenta, no capítulo “Capitães da Areia”, os meninos reais que inspiraram os da
ficção (o romance Capitães da Areia foi escrito em 1937):

Os molecotes atrevidos, o olhar vivo, o gesto rápido, a gíria de malandro, os rostos


chapados de fome, vos pedirão esmola. Praticam também pequenos furtos. Há
quarenta anos escrevi um romance sobre eles. Os que conheci naquela época são hoje
homens maduros, malandros do cais, com cachaça e violão, operários de fábrica,
ladrões fichados na polícia, mas os Capitães da Areia continuam a existir, enchendo as
ruas, dormindo ao léu.
(não tenho tradução oficial)
Este não chegámos a ver na aula

E, do próprio romance Capitães da Areia:

Por isso na beleza do dia Pirulito mira o céu com os olhos crescidos de medo e pede
perdão a Deus tão bom (mas não tão justo também... ) pelos seus pecados e os dos
Capitães da Areia. Mesmo porque eles não tinham culpa. A culpa era da vida...
[…]
Para o Sem-Pernas elas o acolhiam de remorso. Porque o Sem-Pernas achava que eles
eram todos culpados da situação de todas as crianças pobres. E odiava a todos, com
um ódio profundo.

Tradução de Gregory Rabassa (Penguin Classics)


That’s why in the beauty of the day Lollipop looks at the sky with eyes large with fear
and asks the pardon of God, so good (but also so just…), for his sins and those of the
Captains of the Sands. Because they weren’t to blame. Life was to blame.
[…]
Legless felt they were taking him in out of remorse. Because Legless thought that they
were all to blame for the situation of all poor children. And he hated them all, with a
deep hatred.

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