CONTEMPORÂNEA | 11012
Período de Realização
Objetivos e Competências
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Trabalho a desenvolver
Apesar das nossas responsabilidades individuais, há questões demasiado grandes para serem
resolvidas individualmente. E quando pensamos em pessoas bem-sucedidas profissional e
financeiramente, mais do que saber “quem são”, importa perguntar “de onde vêm”. Em que lugar
nasceram e quando. Quem as educou e o que estava à sua volta à medida que cresciam. Quem
se cruzou no seu caminho. Que oportunidades lhes foram dadas. E para perceber o que constrói
o relativo sucesso ou insucesso de cada um, há que começar por olhar para as condições de
partida, o que implica olhar para o papel das desigualdades sociais.
Este emaranhado de condições de partida desfavoráveis é tão forte que, considera o também
professor no ISCTE, se torna difícil quebrar o ciclo de reprodução social. “Entre a geração
presente e a futura, percebemos que não há grande evolução de mobilidade social. Sobretudo
entre as classes mais desfavorecidas, os rendimentos, escolaridade e posição social dos filhos
são geralmente idênticos aos dos pais. A probabilidade de uma pessoa filha de alguém de baixo
rendimento e baixa escolaridade chegar, por exemplo, a dirigente de uma grande empresa é
muito baixa.”
A desigualdade está presente mesmo nos sítios em que parece não estar. Tomemos como
exemplo o acesso ao Ensino Superior. Parece ser baseado apenas no mérito de cada um – as
notas que o aluno alcança. Mas é preciso perguntar: quem é que alcança as notas mais altas?
E porquê? O estudo “A equidade no acesso ao Ensino Superior”, publicado em 2019 pelo think
tank EDULOG, oferece algumas respostas: mostra que os alunos mais pobres não conseguem
entrar nos cursos que exigem notas mais altas e estudam sobretudo nos institutos politécnicos.
Diz ainda que 73 % dos estudantes de Medicina são filhos de pais e mães que concluíram o
Ensino Superior.
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“Atingir a média necessária para entrar em determinados cursos – como Medicina, por exemplo
– é muito mais fácil para alunos oriundos de famílias com um background sociocultural e
económico mais alto”, sustenta Renato Miguel do Carmo. “Dizer que o acesso é igual para todos
e que chega mais longe quem tem mais capacidade ou trabalhou mais é uma falácia: as
desigualdades de partida não são absolutamente deterministas, mas condicionam a trajetória do
indivíduo. O capital escolar e cultural, num certo sentido, também se herda.” E um dos fatores
mais determinantes para as hipóteses de sucesso das crianças é a escolaridade dos pais. “Faz
toda a diferença ter pais que têm formação superior. Isso acaba por determinar as trajetórias
escolares dos próprios alunos. E isso, por sua vez, vai dar origem a novas oportunidades ou
não.”
Ou seja, os mais bem-sucedidos são aqueles que têm acesso às oportunidades que conduzem
a ainda mais oportunidades e a mais sucesso. A isto chamou o sociólogo americano Robert
Merton o efeito Mateus, com base no versículo 12, capítulo 13, do Evangelho de São Mateus:
“Para aquele que tem, tudo lhe será dado e terá em abundância; àquele que não tem, até o que
tem lhe será tirado”.
O poder da educação
“Meritocracia é uma farsa.” Assim começa o livro “The meritocracy trap” (A armadilha da
meritocracia – tradução livre, sem edição em português) de Daniel Markovits, professor de Direito
na Universidade de Yale e especialista nas áresa de direito privado, filosofia moral e economia
comportamental. Segundo ele, a meritocracia tornou-se a aristocracia dos dias modernos e mais
não tem feito do que perpetuar o modelo que diz querer combater.
Isto acontece, defende, sobretudo por razões de investimento educativo. “Enquanto uma escola
pública típica nos Estados Unidos gasta cerca de 15 mil dólares por aluno por ano, na educação
das crianças de classe média que a frequentam, as melhores escolas privadas gastam cerca de
75 mil euros. As crianças ricas beneficiam de uma educação extravagante que outras crianças
não podem pagar. Ou seja: o investimento na escolaridade funciona”, sublinha em entrevista à
“Notícias Magazine”. A isto o professor de Direito chama a herança meritocrática: o dinheiro
investido em educação dá às pessoas diplomas sofisticados, que geram enormes rendimentos
que, por sua vez, são investidos nos filhos, perpetuando o ciclo.
Daniel Markovits sabe na prática o que é uma educação de elite: ele tem na parede dois diplomas
da Universidade de Yale (nos Estados Unidos), um da London School of Economics e outro da
Universidade de Oxford (ambas em Inglaterra). E foi precisamente por isso que se tornou muito
autoconsciente em relação ao assunto e quis estudá-lo. “As crianças das escolas de classe
média que frequentei eram tão talentosas quanto os alunos que conheci depois em Yale, mas
não ascenderam à elite quando se tornaram adultos”, nota. Por outro lado, conta que, nos últimos
anos, os seus alunos da Faculdade de Direito de Yale – um grupo muito privilegiado e com
excelentes perspetivas de carreira – se tornaram cada vez mais conscientes de que o seu
privilégio está ligado à exclusão de outros. Mais: que este sistema também acaba por prejudicá-
los a eles próprios. “A desigualdade meritocrática enreda até mesmo aqueles a quem parece
beneficiar. Mesmo para quem está no topo, ficar lá tornou-se muito mais difícil. Eles têm de
frustrar muitas vezes as suas ambições autênticas e explorar-se a si próprios para sustentar a
sua própria casta.”
Acabar com este sistema, segundo o autor, só é possível atacando em duas frentes: “Reduzindo
drasticamente a lacuna entre os investimentos feitos na educação de crianças ricas versus todas
as outras e investindo nos empregos de classe média, nomeadamente com o aumento de
impostos sobre trabalhadores de elite e redução de impostos sobre os quadros médios”. Caso
contrário, afirma, continuaremos a trilhar o caminho perigoso onde já nos encontramos: a
sociedade tem uma razão poderosa para desconfiar das elites, a classe média ressente-se contra
elas e isso abre caminho ao populismo.
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Uma questão de sorte
As pessoas que chegam ao topo são quase sempre muito talentosas e trabalhadoras. Mas há
outras igualmente talentosas e trabalhadoras que nunca alcançam um sucesso material
significativo. E isto acontece também entre quem tem aparentemente condições de partida
sociais, económicas e culturais semelhantes. Mas há quase sempre outros fatores, menos
óbvios, que criam diferenças.
A seleção de atletas para equipas profissionais é, à primeira vista, uma área em que só mesmo
o talento parece contar. No entanto, nos anos 1980, o psicólogo canadiano Roger Barnsley
apercebeu-se de um fenómeno peculiar entre as equipas da primeira liga júnior de hóquei
canadiano: cerca de 40% dos jogadores nasciam nos meses de janeiro, fevereiro ou março,
cerca de 30% no segundo trimestre, 20% no terceiro, e apenas 10% nos últimos três meses do
ano.
Por alguma razão, jogadores nascidos em janeiro tinham cinco vezes mais hipóteses de serem
selecionados do que os nascidos em novembro. A explicação implica o chamado efeito da idade
relativa: a seleção das crianças é feita considerando o ano de aniversário, mas uma criança
nascida no início em janeiro é um ano mais velha que uma nascida em dezembro. Aos seis ou
sete anos, isso representa quase sempre uma diferença enorme do ponto de vista de
coordenação motora, força e maturidade. São os mais velhos, e não necessariamente os que
têm maior potencial e talento, que têm mais oportunidades de ser selecionados. A sorte, o azar
e as circunstâncias de vida desempenham o seu papel.
“Temos tendência para notar os ventos contrários contra os quais lutamos, mas dificuldade em
reconhecer os ventos de cauda que nos empurram e ajudam”, garante Robert H. Frank, professor
de Economia na Universidade de Cornell, em Nova Iorque (EUA), colunista regular de economia
no jornal americano “The New York Times”. Ele é autor de mais de uma dezena de livros, entre
eles “Success and luck: Good fortune and the myth of meritocracy” (Sucesso e sorte: o bom
destino e o mito da meritocracia – tradução livre, sem edição em português), em que afirma que
a sorte desempenha um papel muito importante nas nossas vidas sem nos apercebemos.
“Aqueles que se saíram bem são propensos a ignorar alguns acontecimentos que consideram
menores, mas que fizeram diferença no seu caminho até ao topo. Coisas como ter tido um
professor influente que os ajudou num período conturbado ou ter recebido uma promoção
antecipada porque uma colega mais qualificada foi para casa cuidar do pai doente”, exemplifica
Robert H. Frank em entrevista por email à NM.
Este viés cognitivo, na sua opinião, começa na infância. “As pessoas consideram desde cedo
que são pessoalmente responsáveis pelo que lhes acontece porque a maioria dos pais tenta
ensinar os filhos a assumirem essas responsabilidades e a não esperarem que as coisas boas
lhes caiam do céu.” Esta premissa não está errada, mas está incompleta. “É importante admitir
a importância dos acontecimentos fortuitos na nossa vida. Os pais dos mais privilegiados também
devem ensinar o valor da compaixão e enfatizar que qualquer um de nós poderia ser menos
afortunado se alguns acontecimentos que não controlamos tivessem sido diferentes.”
Este reconhecimento não tem apenas uma função moralmente edificante, mas também um papel
social muito útil: quando são levadas a refletir sobre a sua boa sorte, as pessoas ficam muito
mais dispostas a contribuir para o bem comum. O professor universitário fez uma experiência
que mostra isso mesmo: pediu a três grupos de pessoas que enunciassem algo bom que lhes
tivesse acontecido na vida. Aos participantes do grupo 1 não fizeram mais perguntas, aos do
grupo 2 pediram uma lista de três coisas que eles próprios tivessem feito para que essa coisa
boa se tivesse concretizado, e aos do grupo 3 pediram uma lista de três coisas que outras
pessoas fizeram para contribuir para isso.
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enquanto as do grupo 3 (as que pensaram no contributo dado por outros) doaram a maior
quantia. Os do grupo 1 (o grupo de controlo) doaram uma quantia intermédia”, pormenoriza.
1.2. desenvolva uma reflexão crítica em que explicite a relação entre os conceitos de
“reprodução social”, “diferenciação social de classes” e “exclusão social”, não
esquecendo de explicitar fundamentadamente os conceitos, a sua relação e dando
exemplos extraídos da própria notícia. (2,5 valores)
Total: 4 valores
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Normas a respeitar
O seu E-fólio não deve ultrapassar 2 páginas A4 redigidas em Arial, tamanho de letra
11 (excetuam-se a capa e as referências bibliográficas). O espaçamento entre
linhas deve corresponder a 1,5 linhas.
Nomeie o ficheiro com o seu número de estudante, seguido da identificação do E-fólio,
segundo o exemplo apresentado: 000000efolioB.
Deve carregar o referido ficheiro para a plataforma no dispositivo E-fólio B até à data e
hora limite de entrega. Evite a entrega próximo da hora limite para se precaver contra
eventuais problemas.
Marta Abelha