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Marco fundamental do sí-culo XX, a Carla de Atenas

retrata como Le Corbusier sintetizou e interpretou as


conclusões do IV Congresso Internacional de Arquitetura
Le Corbusier
Moderna de 1933.
Publicada originalmente em1941,sóagora
A CARTA DE ATENAS
versão paraoportuguêsacolocaemperfeítas
condições de ampla divulgação nos meios estudantis
nacionais.
ESTUDOS URBANOS USP
Reitor Ruy Laurenti
títulos publicados

Pobreza Urbana, Milton Santos EDT


IORADAUNIVERSIDADEDESÃOPAULO
Ensaios Sobre a Urbanização Latino-Americana. Milton Santos Presidente João Alexandre Barbosa
Pensando o Espaço do Homem, Milton Santos Diretor Editorial Plínio Martins Filho
A Urbanização Brasileira, Milton Santos Editor AssistenteManuel da Costa Pinto

SÉRIE ARTE E VIDA URBANA Comissão Editorial João Alexandre Barbosa (Presidente)
Celso Lafer
José Mindlin
A Carta de Atenas, Le Corbusier Oswaldo Paulo Forattini
Djalma Mirabelli Redondo

Edusp — Editora da Universidade de São Paulo


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É PRECISO SEMPRE
DIZER AQUILO QUE SE
VÊ: SOBRETUDO, O
QUE É MAIS DIFÍCIL, É
PRECISO SEMPRE VER
AQUILO QUE SE VÊ
J

D E A T E N A S
Copyright 1986 da Fondation Le Corbusier, Paris. Direitosdetradução (da edição francesa La
Carte d'Athènes. Les Editions de Minuit. 1957) epublicaçãoemlíngua portuguesa reservados pela
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(Câmara Brasileira do Livro.SP.Brasil)

Le Corbusier, 1887-1965.
A
Scherer]. — São Paulo:HUCITEC:EDUSP, 1993.— (Estudos Urbanos)

ISBN 85.271.090-8 (HUCITEC) — ISBN85.314.0187-9 (EDUSP)

I. Arquitetura moderna - Século 20 2. Funcionalismo (Arquitetura)


3. Urbanismo I. Congresso Internacional de Arquitetura Moderna (4. :
1933 : Atenas). II. Tilulo Ш . Série

CDD-724.91
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A JORNADA SOLAR DE 24 HORAS


1. Arquitetura funcional: Século 20 724.91
2. Arquitetura moderna:Século20 724.91
3. Funcionalismo: Arquitetura moderna 724.91
4. Urbanismo 711
RITMA A ATIVIDADE DOS HOM
O periodo compreendido entre as duas guerras mundiais foi particular-
mente significativo para a arquitetura e o urbanismo, ainda que não se
possa falar em uniformidade ou regularidade de suas manifestações.
Na Europa, consolidava-se o Movimento Moderno valendo-se das pos-
sibilidades trazidas pela arquitetura subvencionada. Efetivamente, o
déficit habitacional acumulado e os trabalhos de reconstrução apre-
sentaram no primeiro pós-guerra uma escala só possível de ser ef ren-
tada pelo Estada, que passou então a ser o grande cliente dos arqui-
tetos.
Estes foram requisitados para projetos de conjuntos habitacionais, de
bairros, de legislação urbanística e de cidades que lhes permitiram, fa-
zendo uso das pesquisas e Inovações tecnológicas acumuladas desde o
ultimo quartel do século XIX, revolucionar, tanto funcional quanto
plásticamente, as soluções correntes para a organização do espaço edi-
ficado.
A revolução socialista na União Soviética e a Intensa atividade de cria-
ção de cidades novas ou de renovação de centros antigos, com os pro-
gramas de habitação de massa que a acompanharam, abriram pers-
pectivas para a exploração de soluções novas em escala absolutamente
Inédita.
APRESENTAÇĂO Nos Estados Unidos verificou-se uma intensa produção na área de so-
ciologia urbana, em especial com a chamada Escola de Chicago. Não vesse abdicado da hegemonia que possuнa,  quer nos Estados Unidos e 
obstante os projetos de arquitetos acadêmicos ainda fossem significa- na Europa capitalista, quer na Europa socialista sob Stбlin. 
tivos, tem-se o trabalho inovador de Frank Lloyd Wright, o desenvol- Constituнram sintomas evidentes e imediatos deste fato,  ainda que nгo 
vimento do conceito e dos projetos de "unidades de vizinhança" de os ъnicos,  os eventos  que culminaram  com 'a  criaзгo,  em  1928, dos 
Clarence A. Perry, e ainda a contribuição moderna dos arquitetos eu- CIAM — Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna* e com a 
ropeus aí refugiados. Também o planejamento regional foi impulsio- elaboraзгo da "Carta de Atenas", originalmente prevista para ser uma 
nado neste período, ocorrendo em 1933 a aprovação do Tenessee Valley "Carta de Moscou". 
Authority, projeto de organização territorial envolvendo sete estados Em 1927 foi  aberto um concurso internacional de arquitetura para sele­  ' 
americanos e que viria a se prolongar por anos. donar  o projeto para o Palбcio da Sociedade das  Naзхes,  a ser edifi­
Para o Brasil, também, o período foi muito significativo, especialmente cado em Genebra. A Sociedade das Naзхes fora  criada em 1919 com a 
a partir da década de trinta, quando, a serviço do Estado ou em seus finalidade   de garantir a justiзa a nнvel das relaзхes internacionais. 
trabalhos para o setor privado, arquitetos como Lúcio Costa, Oscar Arquitetos do mundo todo apresentaram seus trabalhos, em sua maio­
Niemeyer, Affonso Reidy, Gregori Warchavchik, Attilio Correia Lima ria tradicionais, havendo todavia entre os cento e setenta e sete projetos 
e tantos outros souberam não apenas manter-se a par das mais re- concorrentes diversos modernos, como os de Charles­Edouard Jeanneret 
centes pesquisas da arquitetura contemporânea e produzir ш л а obra (Le Corbusier) e Piore Jeanneret, Hannes Meyer e Hans Wittwer e H. 
bem informada sobre ela, como também desenvolver trabalhado sufi- T. Vijdeveld, entre outros. 
cientemente criativo para virem a se constituir, em alguns anos, em O jъri, composto de quatro arquitetos de linha acadкmica — J. Burnet 
grandes nomes do cenário mundial. da  Inglaterra,  Carlos  Gato  da  Espanha,  Charles  Lemaresquier  da 
O movimento moderno não inovou exclusivamente a arquitetura; tam- Franзa, Attilio Muggia da Itбlia — e quatro arquitetos mais abertos ao 
bém a música, a literatura e as artes plásticas foram repensadas na Movimento Moderno — Hendrik P. Berlage da Holanda, Karl Moser 
busca de adequação ás solicitações de uma época na qual escalas Inusi- da Suнзa, H. Hoffmann  da Бustria e Ivar Tengbam da Suйcia —, era 
tadas de população, de áreas edificada» e de produtos traziam perma- presidido por Victor Horta, da Bйlgica, arquiteto cheio de qualidades 
nente desafio  ŕs possibilidades e potencialidades da tecnologia atй en­ mas pouco preparado  para  entender  as propostas  inovadoras  que  se 
tгo desenvolvida, Inclusive aquela da dominaзгo.  apresentaram. 
O fato  de terem surgido oportunidades novas para a pesquisa e a ino­
vaзгo arquitetфnicas nгo significou,  contudo, que o academicismo  ti­ •  Ver fina!  deste livro. 
Foram premiados ex aequo sete projetos de orientaзхes variadas, entre  presentantes  nos  CIAM*  que,  embora  nгo  tivesse  jamais  sediado 
os quais um de  Le Corbusier  e P. Jeanneret.  No final,  porйm,  o jъri  reuniхes  dos  comitкs,  constituнa  um  "centro  particularmente  fervi­
decidiu  premiar  um projeto acadкmico,  utilizando  inclusive artifнcios  lhante" de criaзгo arquitetфnica moderna (Le Corbusier,  1951). Ŕ reu­
pouco recomendбveis em seu encaminhamento.  niгo  de 1928, em La  Sarraz,  compareceram  apenas  europeus,  agre­
Segundo Benevolo (L. Benevolo: 1974, p. 519), ainda que tenha preva­ gando­se sob a presidкncia  de Karl  Moser  nomes significativos  como 
lecido a linha  acadкmica,  "moralmente  fora  dado o golpe  de  miseri­ May, Mendelsohn, Mies van der Rohe, Victor Bougeois, Tony Garnier, 
cуrdia  no prestнgio da academia"; os projetos vencedores  nгo  apenas  Perret, Van Eesteren, Oud, Guinsbourg e Loos, entre outros. 
eram inferiores  ao de Le Corbusier como tiveram que buscar no projeto  Conquanto  Le Corbusier tivesse levado para  La  Sarraz  um  manifesto 
deste algumas soluзхes na tentativa, frustrada,  de tornar o edifнcio  sa­ pronto  para  ser  endossado  e  publicado**,  o  fato   й  que  a  possнvel 
tisfatуrio.  unidade  existente  entre  os  participantes  da  reuniгo  nгo  foi   maior 
O lamentбvel inicio do edifнcio  da Sociedade das Naзхes constituiu, in­ do que o grande nъmero de questхes deixadas sem soluзгo ou para as 
felizmente,  uma antecipaзгo do prуprio destino da instituiзгo.  quais foram  oferecidas  soluзхes diferentes  daquelas por ele propostas, 
Diante dessas circunstвncias,  alguns arquitetos do que veio a  se cha­ especialmente no que dizia respeito ao papel desempenhado  pelo  E
mar Movimento Moderno decidiram  reunir­se e sistematizar  em con­ Diante das divergкncias optou­se por estabelecer uma organizaзгo nгo 
junto as pesquisas, as propostas e as conquistas que vinham  desenvol­ muito rнgida, de modo a cumprir pelo menos duas funзхes:  comparar 
vendo  hб  tempos  em  seus  paнses,  e  uс j а   convergкncia  vinha  sendo  periodicamente o trabalho de pesquisa dos diversos arquitetos e decidir 
observada quer nas exposiçőes internacionais, como ocorrera em Stut­ sobre a melhor  forma  de levar  ao  conhecimento  pъblico  as  soluзхes 
tgart, em 1927, quer por ocasiгo dos concursos que permitiam a divul­ encontradas. Na medida em que o Movimento Moderno propunha uma 
gaзгo e a comparaзгo de seus trabalhos. 
/ Assim, em 1928, sob a lideranзa de t e  Corbusier, criaram os CIAM — 
;  Congressos  Internacionais  de  Arquitetura  Moderna  e  o  CIRPAC — 
Comitк Internacional para a Resoluзгo dos Problemas  Arquitetфnicos  *  Lucio Costa. Oscar Niemeyer. Firmino Saldanha. Josй de Souza Reis. entre outros. 
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  Contemporвneos, que era o comitк diretor dos CIAM. Diferentes  paн­ ** Segundo M. Ragon, o texto divulgado habitualmente й a versгo de Le Corbusier — "Mani­
ses eram sucessivamente eleitos para a realizaзгo de suas reuniхes pre­ festo  de La Sarraz" — e nгo corresponde ŕs decisхes do CIAM I, as quais foram  objeto de uma 
ediзгo  em alemгo sob o tнtulo Monifato dos CIAM t  redigida anonimamente (Ragon, M.: 
paratуrias e congressos.  1972). Na impossibilidade de ter «cesso ŕ versгo alemг. reproduzimos nesta ediзгo a versгo 
Anos mais  tarde,  em  1939,  o  Brasil  seria  citado  como  paнs  com  re­ francesa  de. Le Corbusier. 
cidade diferente,  correspondendo a uma nova maneira de viver e nгo a  urbanнsticos do primeiro plano quinquenal. Ali, em 1925, um grupo de 
uma mudanзa  mais de estilo arquitetфnico,  o contato com o pъblico  arquitetos  fundara  a  OSA  — Sociedade  dos  Arquitetos  Contempo­
assumia um valor novo e importante para os arquitetos.  rвneos — buscando a anбlise das questхes arquitetфnicas. Deste grupo, 
A atividade  dos CIAM desenvolveu­se num  crescendo  atй  a  Segunda  vбrios membros passam posteriormente a fazer  parte dos CIAM. 
Guerra, mas, a partir de 1945, esses congressos nгo lograram mais que  Em 1931 foi  realizado na Uniгo Soviйtica o concurso para a escolha do 
sobreviver. 0  nono e o dйcimo CIAM evidenciaram a ruptura entre a  projeto para o Palбcio das Naзхes, e diversos arquitetos modernos par­
geraзгo  que atuara  no prй­guerra  e a geraзгo de  formaзгo  mais  re­ ticiparam  com  entusiasmo.  Le Corbusier. que jб  projetara  em  1928­
cente, levando ŕ dissoluзгo do grupo no momento em que  muitas de  1929 o Centrosoyus — Palбcio da Uniгo das Cooperativas — em Mos­
suas teorias eram transformadas  em prбticas. No segundo  pуs­guerra  cou, foi  convidado a participar do novo concurso, o mesmo ocorrendo 
foi  intensa a influencia  do Movimento Moderno na arquitetura e no ur­ com Walter Gropius, Hans Poelzig e Erich Mendelsohn. 
banismo.  Tambйm  neste caso, embora  elogiados,  os projetos  modernos foram 
Le Corbusier foi,  ao longo dos anos, o grande animador dessa atividade  derrotados por opзхes vinculadas ŕ Unha acadкmica; tambйm aн insi­
e algumas das vicissitudes pelas quais passou sгo brevemente referidas  nuavam­se as novas tendкncias de polнtica cultural que viriam a preva­
no texto que escreveu para a apresentaзгo da "Carta de Atenas".  lecer. Van Eestern e Siegfried  Gideon estivaram em Moscou no final  de 
Foram realizados, ao todo, dez congressos CIAM, e os problemas abor­ 1932 e puderam constatar as mudanзas de orientaзгo em curso. 
dados iniciaram­se com o alojamento mнnimo e cresceram em comple­ No inнcio de 1933 o governo soviйtico faz  saber aos organizadores que 
xidade atй chegar ŕ cidade funcional.  nгo seria possнvel a realizaзгo do congresso naquele ano, o que os levou 
A cidade funcional  foi  o tema escolhido para o quarto congresso CIAM  a procurar uma alternativa para a realizaзгo do evento. 
e  Moscou  a cidade apontada  para  vir a sediar o  evento  em  1933. A  A alternativa encontrada chamava­se "Patris II", um navio de proprie­
Uniгo  Soviйtica  constituнa  entгo  territуrio  privilegiado  para  os  pro­ dade de um armador grego que, por ligaзхes pessoais com alguns ar­
gramas  da  nova arquitetura.  Em  1918,  a  propriedade  do solo  e dos  quitetos, colocara sen paquete ŕ disposiзгo  dos  congressistas  para  o 
bens imуveis passara para o controle estatal; no final  daquele mesmo  percurso Marselha­Pireu­Marselha. 
ano fora  Instituido um serviзo para a planificaзгo  das cidades, e, em  Voltava ŕ cena uma questгo que desde La Sarraz dividira os arquitetos: 
1922, o planejamento urbanнstico tornara­se obrigatуrio por lei.  tua relaзгo com o Estado. Como bem assinai» Benevolo (Benevolo, L., 
Arquitetos da Alemanha, da Бustria e de vбrios outros paнses europeus  1974), os arquitetos italianos e alemгes, mais acostumados a trabalhar 
acorreram em grande nъmero para trabalhar na URSS, nos programas  para o Estado, tinham maior consciкncia de que Isso significava  graus 
variбveis de renъncia б sua liberdade de criaзгo, o que ainda  nгo era  sбrias  ao urbanismo contemporвneo  implicavam  uma  opзгo  polнtica 
patente para  os arquitetos franceses.  O prуprio  Le Corbusier  sempre  diferenciada   e  nгo  apenas  na  melhoria  tйcnica  das  prбticas  profis­
acreditou  no Estado com o patrocinador  ideal de seus projetos,  entre  sionais existentes. O resultado dos trabalhos foi  reunido no documento 
outras  razхes,  pela  suposta  neutralidade  da  qual  seria  por definiзгo  que se chamou "Carta de Atenas". 
dotado; a vida encarregou­se de dar­lhe vбrias oportunidades  de per­ Tratava­se  de  propor  uma  cidade  que  funcionasse   adequadamente 
ceber o irrealismo dessa expectativa.  para o conjunto de sua populaзгo, distribuindo entre todos as possibi­
Iniciado em 29 de julho de 1933 a bordo do "Patris II", o quarto Con­ lidades  de  bem­estar  decorrentes  dos  avanзos  tйcnicos;  semelhante 
gresso foi  concluнdo dias apуs, em Atenas, prestigiado por um grande  objetivo supunha, evidentemente, alternativas polнticas muito precisas, 
apoio oficial  do governo grego. Durante a viagem, feita  em companhia  ainda que utуpicas para a etapa histуrica entгo em curso. 
de crнticos de arte, literatos e pintores, cem delegados analisaram trinta  Essas colocaзхes nгo surgem com кnfases  idкnticas nas diferentes  ver­
e trкs cidades de quatro continentes, com base em uma cartografia  uni­ sхes relatando o congresso. A primeira publicaзгo oficial  com esse teor 
formizada  para facilitar  as comparaзхes.  coube aos Anais Tйcnicos уrgгo oficial  da Cвmara Tйcnica cie Atenas, 
Utilizaram para isso dois mapas na escala 1: 10. 000, um documentando que publicou em grego e francкs  um nъmero triplo 44, 45 e 46, reunido 
I residęncias, atividades produtivas e áreas públicas equipadas, e outro na ediзгo de novembro de 1933. Por outro lado, as conclusхes dos tra­
documentando o tráfego e a rede viária; e ainda um mapa em escala balhos — manifestaзгo  apenas moderada — foram  organizadas e ano­
1: 50.000 assinalando a cidade comseuentornoimediato, as ligaçőes nimamente publicadas por Le Corbusier em 1941, sob o tнtulo de  "A 
suburbanas e as características do relevo e da paisagem. Carta de Atenas", quando este acrescentou­lhes tуpicos e кnfases  que 
Nesta reunião os arquitetos limitaram-se a constataçőes e não se reali- refletiam  a sua maneira de encarar as questхes. * 
zaram comparaçőes entre alternativas de planejamento, uma vez que a Em 1942 foi  publicada ńos Estados Unidos uma outra versão da "Carta
crise econômica tinha interrompido tanto experimentos parciais, como de Atenas", como parte da obra de José-Luis Sert, Can Our Cities Sur-
os de Berlim e Frankfurt, como o programa de habitação popular de vive? Esta versão apresentava diferenças em relação á de Le Corbusier,
Viena; por outro lado, a precariedade da legislação urbanística tornava sendo que nenhuma das duas correspondia exatamente ás Atas do IV
problemática a realização de novas propostasnosdiversospaíses. CIAM. Uma terceira versão foi publicada, desta vez em holandês, na
Embora os participantes do congresso o tenham concluído com uma
série de constataçőes, sem formular propostas de ação comum ou mo-
delos urbanísticos concretos, ficou patente que as mudanças neces- * A data aparece ŕsvezes como 1941, ŕs vezes como 1942. 
das  soluзхes  propostas  na  "Carta  de  Atenas" jб  eram  realidade  hб 
quai confrontava­se  o texto de Le Corbusier com as atas das conclusхes  anos; й o caso do zoneamento funcional,  do planejamento regional, dos 
do IV Congresso.  conjuntos habitacionais providos de eficiente  equipamento coletivo etc. 
A versгo  organizada  por  Le  Corbusier  vinha  acompanhada  de  uma  A Franзa tinha uma situaзгo peculiar pois, do ponto de vista do desen­
apresentaзгo cheia de imagens e em alguns  pontos bastante confusa,  volvimento  industrial,  estava  muito  atrasada  se  comparada  ŕ  Ale­
de autoria  de Jean Giraudoux. 4 '  Mais do que apresentar  um  relatуrio  manha de Weimar, ŕ Rъssia, Suйcia ou Holanda. Todavia, do ponto de 
de trabalho,  Le Corbusier pretendia fazer  do texto  a  contribuiзгo es­ vista  da  arquitetura,  as  inovaзхes  tйcnicas  e  plбsticas  colocavam  a 
pecifica  do CIAM­Franзa a sociedade francesa.  Franзa na vanguarda da criatividade, ainda que subutilizada.  Assim, o 
Em diversos paнses, membros do CIAM vinham sendo chamados a co­ que vinha expresso na "Carta de Atenas" era evidente para vбrios paн­
laborar  em  trabalhos  de  arquitetura,  urbanismo,  administraзгo  pъ­ ses europeus e para os profissionais  dos Estados Unidos; sу nao o era 
blica e docкncia, enquanto que atй 1941 u . . .  a Franзa nгo recorreu ao  para a prуpria Franзa. 
grupo CIAM  francкs  para  colaborar  no  estudo  dos  problemas  colo­ A "Carta de Atenas" sintetiza o conteъdo do Urbanismo Racionalista, 
cados pela reconstruзгo das cidades destruidas". (CIAM: 1954).  tambйm  chamado  de  Urbanismo  Funcionalista.  Nela  estгo  incorpo­
Na medida em que a "Carta de Atenas" foi  redigida por Le Corbusier  radas as contribuiзхes de mais de um sйculo de arquitetura,  incluindo 
refletindo  a condiзгo peculiar da Franзa, e na medida em que o CIAM­ desde as propostas do socialismo utуpico atй as da Bauhaus, passando 
Franзa sempre dominou os congressos CIAM, foi  esta a visгo da cidade  por Morris, Howard e Tony Garnier, entre outros. К freqьente  a afir­
funcional  que prevaleceu.  maзгo de que a "Carta", excetuados os tуpicos relativos ao patrimфnio 
Em diversos paнses da Europa, bem como nos Estados Unidos,  multas  histуrico  — introduzidos  nas  constataзхes  por  solicitaзгo  dos  dele­
gados italianos ao IV Congresso — nгo trazia nada de novo. 
*  Jean H. Giraudoux (1882­1943) fora  nomeado Comissбrio de Informadlo  do Ministйrio de 
O  Urbanismo  Funcionalista  supunha  a  obrigatoriedade  do  planeja­
Relaзхes Exteriores da Franзa em 1939. Neste mesmo ano, este escritor e dramaturgo publi­ mento regional e intra­urbano, a submissгo da propriedade privada do 
cou Pleins Pouvoirs,   conclamando p povo francкs  a buscar sua modernidade. Em 1940, apis o  solo  urbano  aos  interesses  coletivos,  a  industrializaзгo  dos  compo­
armistнcio de junho, retirou­se para Cusset. Le Corbusier. com quem jб travara conhecimento, 
propфs­lhe a  redaзгo  do Prefбcio  da "Carta  de Atenas".  A vinculadlo  de Giraudoux com  nentes e a padronizaзгo das construзхes, a limitaзгo do tamanho e da 
problemas urbanos e rurais nгo era nova. Antes da Segunda Guerra criara, com Raoul D an try.  densidade dбs cidades, a edificaзгo  concentrada porйm adequadamente 
uma Liga Urbana, seguida em 1943 por uma Liga Urbana e Rural que publicou, em 1944,  relacionada com amplas бreas de vegetaзгo. Supunha ainda o uso in­
um manifesto  sobre polнtica urbana. Pierre Lavedan. R. P. Riegamey e Paul Claudel fizeram 
parte desta Liga. Em 1947, os artigos de Giraudoux foram  reunidos num livro pуstumo, sob o  tensivo da tйcnica moderna na organizaзгo das cidades, o zoneamento 
tнtulo Por uma Política Urbana.
funcional,  a separaзгo da circulaзгo de veнculos e pedestres,  a elimi­
enquanto  recurso  metodolуgico,  para  chegar  ŕ  deduзгo  de  necessidades­
naзгo da rua­corredor e uma estйtica geometrizante. 
anбlise funcional.  A etapa presente representaria a negaзгo dos proce­
A habitaзгo era o elementos  primordial  de suas preocupaзхes,  privi­
dimentos classistas evidenciados ao longo da histуria. 
legiando­se os fatores  condicionantes de sua  higiene: "... o sol, a vege­
O Urbanismo Racionalista  tem da arquitetura  uma visгo demiъrgica. 
taзгo e o espaзo sгo as trкs matйrias­primas do urbanismo", "... intro­
"A arquitetura preside os destinos da  cidade" (C.  de Atenas: 1941; v. 
duzir o sol (nas habitaзхes) й o novo e mais imperioso dever do  arquiteto"  (C.  de Atenas: 1941; v. pp. 50 e 64). 
p.  141) e й capaz  de eliminar,  pelo  uso  adequado  da  tйcnica  e pela 
adequada instruзгo das autoridades,  as i injustiзas sociais que "... por­
A anбlise  aн  contida  supunha  a elaboraзгo  de um  modelo  de  cidade  que  se ignoraram  certas  regras... "  (C.  de  Atenas:  1941;  v.  p.  143) 
infinitamente   reprodutнvel,  uma  vez  que  seria  baseado  em  estudos  assolam  as  cidades  desde  a  Revoluзгo  Industrial.  Na  verdade,  esta 
exaustivos das necessidades bбsicas dos seres humanos e que seriam as  crenзa  na  engenharia  social  a  ser  implementada  pelos  arquitetos  sу 
mesmas em todas as partes do mundo. A cidade deveria  organizar­se  pode ser entendida  no quadro do perнodo entre­guerras.  Segundo  Arg
para satisfazer  quatro necessidades bбsicas, "as chaves do urbanismo  do temor de um instrumento mais drбstico chamado revoluзгo. 
estгo nas quatro funзхes:  habitar, trabalhar,  recrear­se (nas horas li­ Na "Carta  de Atenas" o Estado e a  administraзгo  pъblica sгo vistos 
vres), circular" (C  de Atenas: 1941; v. p. 130).  como elementos neutros, voltados para  a consecuзгo do bem comum, 
Os homens eram vistos como uma soma de constantes bio­psicolуgicas,  que, devidamente informados,  pautariam sua aзгo pela suposta racio­
ignorando­se tanto as diferenзas  presentes nas diversas culturas quanto  nalidade inerente ao conhecimento tйcnico e cientнfico. 
as diferenзas  de classe no interior das sociedades. Conseqьentemente,  '  Esta perspectiva deixa de lado tanto o acesso preferencial  que as classes 
propunha­se para o espaзo um tratamento homogкneo que nгo incor­ dominantes tкm ao poder do Estado, quanto aos grupos de poder cons­
porava a anбlise das. diferenзas  de classe, jб que estas eram vistas ape­ tituнdos no interior do prуprio aparelho estatal. 
nas como diferentes  e nгo como estruturalmente antagфnicas, deixan­ Nгo deixa, contudo, de reiterar o conflito  existente entre os interesses 
do­se de lado as diversas condiзхes de apropriaзгo do espaзo presentes  privados e os interesses coletivos, aos quais aqueles devem  ser subor­
a nнvel intraurbano.  dinados. O Estatuto do Solo e um plano "que nгo deixe nada ao acaso" 
Algumas anбlises generosas deste procedimento (Sica: 1981) procuram  (C.  de  Atenas:  1941)  sгo  os  instrumentos  dos  quais  deve  se  valer  o 
justificб­lo  como uma tentativa de eliminaзгo dos preconceitos e parв­ poder pъblico para garantir a justiзa social. 
metros ideolуgicos que por sйculos reafirmaram  a discriminaзгo no in­
terior das sociedades. Tratar­se­ia  de eliminar  a  historicidade  apenas 
O crescimento desmesurado das cidades й visto como produto  da  aзгo  produtivas as diferentes  parcelas das redes urbanas nacionais; a valori­
de interesses privados conjugados ŕ displicкncia do poder pъblico; po­ zaзгo do patrimфnio histуrico, artнstico e ambiental no quadro e even­
rйm, em nenhum  momento sгo aventados os mecanismos economices  tualmente como instrumento  do planejamento urbano; a busca  de al­
de natureza  estrutural  que  condicionam  a  produзгo e o consumo  da  ternativas para a questгo habitacional  com o compromisso polнtico de 
mercadoria  espaзo,  as peculiaridades  de sua  natureza  e o  pape!  do  garantir habitaзгo adequada para todos. 
poder pъblico em sua realizaзгo.  A arquitetura  brasileira  foi  desde muito cedo influenciada  pelo racio­
O fato  de o Urbanismo  Racionalista  evidenciar sempre a  necessidade  nalismo e pela obra de Le Corbusier, que os arquitetos do Movimento 
de um estatuto da terra e da submissгo dos interesses individuais aos  Moderno transformaram   "numa  espйcie de  livro sagrado  da  arquite­
coletivos, nгo significa  que constitua um ideбrio revolucionбrio no sen­ tura"  (Bruand:  1981),  sistematicamente  analisada  e  integralmente 
tido de investir contra o sistema capitalista. Significa,  antes, a  explici­ aceita. 
taзгo da nova etapa do capitalismo, que acentua o carбter interventor  Esta adesгo, oriunda provavelmente do fato  de serem ali integrados ar­
do  Estado  e submete a sociedade civil бs  suas  determinaзхes,  legiti­ gumentos de ordem sуcio­econфmica  aos de ordem  tйcnica  e estйtica, 
mando­as pela necessidade de coordenaзгo e pela competкncia  cienti­ nгo  significou,  todavia,  a  renъncia  ŕ  pesquisa  originai  e  ŕ  evoluзгo 
fica  e tecnolуgica amplamente ideologizadas.  para formas  prуprias de expressгo e criaзгo. 
As inъmeras criticas que vкm sendo feitas  ao Urbanismo Funcionalista  Verificando­se  os projetos que concorreram  para  a seleзгo  do  Plano­
atacam  pontos como a  dificuldade  de adaptaзгo a processos de mu­ Piloto de Brasнlia, constata­se que todos eles tinham inspiraзгo racio­
danзa, a rнgida subordinaзгo das partes ao todo, a indefiniзгo  social  nalista. O projeto vencedor, de autoria  do arquiteto Lъcio Costa, em­
das бreas verdes em torno  da  habitaзгo,  a  monotonia  dos  ambientes  bora  contenha  soluзхes  inovadoras,  й  considerado  a  mais  completa 
criados, o incentivo ŕ rarefaзгo  das relaзхes sociais etc.  aplicaзгo dos princнpios contidos na "Carta de Atenas"... 
Conquanto muitas dessas crнticas sejam pertinentes e conquanto muito 
do discurso  racionalista  tenha  sido grosseiramente  simplificado   para  Rebeca Scherer 
atender  aos  interesses  do  mercado  imobiliбrio,  й importante  que  se  Dezembro de 1986 
atente para alguns de seus elementos componentes, a saber: a  revisгo 
do direito de propriedade de modo a liberar o solo para sua  utilizaзгo 
mais adequada do ponto de vista urbanнstico; a sistematizaзгo do pla­
nejamento local e regional de modo a tornar mais integradas, fluentes  e 
GENERALIDADES 

PRIMEIRA PARTE
A CIDADE
E SUA REGIÃO

A CIDADE Й SУ UMA PARTE  DE  UM CONJUNTO  ECO­
NФMICO,  SOCIAL E  POLНTICO  QUE CONSTITUI  A RE­
GIГO. 

Raramente   a unidade administrativa  coincide com a  unidade  geogrб­


fica,  ou seja, com a regiгo. O recorte territorial administrativo das ci­
dades pode ter sido arbitrбrio desde o inнcio ou pode ter vindo a sк­lo 
posteriormente, quando, em decorrкncia de seu crescimento, a aglome­
raзгo  principal  uniu­se a  outras comunidades  e depois  as  englobou. 
Esse recorte artificial  se охр е  a uma boa gestгo do novo conjunto. De 
fato,   certas  comunidades  suburbanas  puderam  adquirir  inopinada­
mente  um  valor  imprevisнvel,  positivo  ou  negativo,  seja  tornando­se 
sede dй residкncias luxuosas, seja acolhendo centros industriais dinв­
micos, seja reunindo miserбveis populaзхes operárias. Oslimitesadmi­ 
nistrativos que compartimentam o complexo urbano tornam-se então
paralisantes. Uma aglomeração constitui o núcleo vital de uma exten­
são geográfica cujolimite é constituido pela zona de influęncia de uma
outra aglomeração. Suas condiçőes vitais são determinadas pelas vias
de comunicação que asseguram suas trocas e ligam-na intimamente
ΰ sua  zona particular.  Sу se pode enfrentar um problema  de urba-
nismo reportando-se constantemente aos dementes constitutivos da
região e, principalmente, ΰ sua geografia, chamada a desempenhar um
papel determinante nessa questão: linhas de divisão de águas, morros
vizinhos desenhando um contorno natural confirmado pelas vias de
circulação, naturalmente Inscritas no solo. Nenhuma atuação pode ser
considerada se não se liga ao destino harmonioso da região. O plano
da  cidade  й sу  um  dos  elementos  do todo  constituнdo  pelo  plano  re­ preguiзa,  a  estupidez  e  o  egoнsmo  assolam  o grupo,  este,  enfraque­
gional.  cido e entregue ŕ desordem, sу traz a cada um de seus membros riva­
lidades,  rancor e desencanto. Um plano й sбbio quando  permite uma 
JUSTAPOSTOS AO ECONФMICO, AO SOCIAL E AO POLН­

2 TICO, OS VALORES DE ORDEM PSICOLУGICA  E FISIO­
LУGICA  PRУPRIOS  AO  SER  HUMANO  INTRODUZEM 
NO DEBATE PREOCUPAΗХES DE ORDEM  INDIVIDUAL 
colaboraзгo frutнfera,   propiciando ao mбximo a liberdade  individual. 
Irradiaзгo da pessoa no quadro do civismo. 

E DE ORDEM COLETIVA. A VIDA SУ SE DESENVOLVE NA ME­
DIDA EM QUE SAO CONCILIADOS OS DOIS PRINCНPIOS CON­
TRADITУRIOS QUE REGEM A PERSONALIDADE HUMANA: O 
INDIVIDUAL E O COLETIVO 
3 ESSAS CONSTANTES PSICOLУGICAS E BIOLУGICAS SO­
FRERГO  A  INFLUКNCIA  DO  MEIO:  SITUAΗГO  GEO­
GRБFICA E TOPOGRБFICA,  SITUAΗГO ECONФMICA E 
POLНTICA. PRIMEIRAMENTE, DA SITUAΗГO GEOGRБ­
FICA E TOPOGRБFICA, O CARБTER DOS ELEMENTOS, БGUA 
E TERRA, DA NATUREZA, DO SOLO, DO CLIMA. 
Isolado,  o  homem  sente­se  desarmado;  por  isso  liga­se  espontanea­
mente a  um  grupo.  Entregue somente a  suas  forзas,   ele  nada  cons­ A geografia  e  a  topografia   desempenham  um  papel  considerбvel  no 
truiria alйm de sua choзa e levaria, na inseguranзa,  uma vida subme­ destino dos homens. Й preciso nunca esquecer que o sol comanda, im­
tida a perigos e a fadigas  agravadas por todas as angъstias da  solidгo.  pondo sua lei a todo empreendimento cujo objeto seja a salvaguarda do 
Incorporado ao grupo, ele sente pesar sobre si o constrangimento  de  ser humano. Tambйm planнcies, colinas e montanhas contribuem para 
disciplinas inevitбveis, mas, em troca, fica  protegido em certa medida  modelar uma sensibilidade e determinar uma mentalidade. Se o mon­
contra a violкncia, a doenзa, a fome;  pode aspirar melhorar sua mora­ tanhкs  desce voluntariamente  para  a  planнcie,  o  homem  da  planнcie 
dia  e  satisfazer   tambйm  sua  profunda   necessidade  de  vida  social.  jaramente sobe os vales e dificilmente  transpхe os desfiladeiros.  Foram 
Transformado  em elemento constitutivo de uma sociedade que o man­ os cumes dos montes que delimitaram as бreas de aglomeraзгo onde, 
tйm, ele colabora direta ou indiretamente nas mil atividades que  asse­ pouco a pouco,  reunidos  por  costumes e usos comuns,  os homens se 
guram  sua vida fнsica e  desenvolvem sua vida espiritual. Suas inicia­ constituнram  em povoaзхes. A proporзгo dos elementos бgua  e  tenra, 
tivas tornam­se mais frutнferas,  e sua liberdade, melhor defendida,  sу  quer atue na superfнcie,  opondo as regiхes lacustres ou fluviais  бs ex­
se  detйm  onde  ameaзaria  a  de  outrem.  Se  os  empreendimentos  do  tensхes  de  estepes,  quer  se expresse em  densidade,  produzindo  aqui 
grupo sгo sбbios, a vida  do indivнduo й ampliada  e  enobrecida.  Se a  gordos pastos e alhures pвntanos ou desertos, conforma,  da  tambйm, 
atitudes mentais que se inscreverгo nos empreendimentos e encontra­ invariбveis, pode ser modificada  a cada momento pelo aparecimento de 
rгo sua expressгo na casa, na  aldeia  ou na  cidade.  Conforme  a inci­ forзas  imprevistas, que o acaso ou a iniciativa humana podem  tornar 
dкncia do sol na  curva  meridiana,  as estaзхes contrapхem­se  brutal­ produtivas ou deixar inoperantes. Nem as riquezas latentes, que й pre­
mente ou  sucedem­se  em  passagens  imperceptнveis  e,  ainda  que em  ciso querer  explorar,  nem a  energia  individual  tкm  carбter  absoluto. 
sua esfericidade  contнnua, de parcela em parcela,  a terra  nгo experi­ .  Judo  й movimento, e o econфmico, afinal,  й sempre um valor momen­
mente ruptura,  surgem  inъmeras combinaзхes,  cada  uma  das  quais  tвneo. 
com seus caracteres particulares. Enfim  as raзas, com suas religiхes ou 
suas filosofi as variadas, multiplicam a diversidade dos empreendimen­
tos e cada uma propхe seu modo de ver e sua razгo de viver pessoais.  5 EM TERCEIRO  LUGAR,  DA SITUAΗГO  POLНTICA,  SIS­
TEMA ADMINISTRATIVO. 

4 EM SEGUNDO LUGAR, DA SITUAΗГO ECONФMICA. OS 
RECURSOS  DA  REGIГO,  CONTATOS  NATURAIS  OU 
ARTIFICIAIS COM O EXTERIOR... 

A situação econômica,riquezaou pobreza, é uma das grandes forças


Fenфmeno mais variável do que qualquer outro, sinal da vitalidade do
pais, expressão de uma sabedoria que atinge seu apogeu ou já toca seu
declínio... Se a política й de natureza essencialmente variável, sen fru­
to, o sistema administrativo, possui uma estabilidade natural que lhe
permite, ao longo do tempo, uma permanęncia maior e não autoriza
da vida, determinando-lhe o movimento na direção do progresso ou modificaçőes muito freq٧entes. Expressão da dinámica política, sua
da regressão. Ela desempenha o papel de um motar que, de acordo duração й assegurada por soaprσprianaturezaepela prσpriaforça das
com л força de soas pulsaçőes, introduz a prodigalidade, aconselha a coisas. £ um sistema que, dentro de limites bastante rígidos, rege uni-
prudęncia ou impőe a sobriedade; ela condiciona as variaçőes que tra- formemente o territσrio e a sociedade, impőe-lhes seus regulamento* e,
зam a histσria da aldeia, da cidade ou do país. A cidade cercada por atuando regularmente sobre todos os meios de comando, determina
uma região coberta de cultivos tem seu abastecimento assegurado. modalidades uniformes de ação em todo o país* Esse quadro econômico
Aquela que dispőe de um subsolo precioso, se enriquece com matérias e político, embora seu valor tenha sido confirmado pelo uso durante
que lhe servirão como moeda de troca, sobretudo se ela é dotada de um certo período, pode ser alterado a qualquer instante em uma de
uma rede de circulação suficientemente abundante para permitir-lhe suas partes, ou em sen conjunto. Algumas т е ш , basta шв а  descoberta 
entrar em contato útil com seus vizinhos prσximos ou distantes. A ten- científica para provocar ema ruptura de equilíbrio, para fazer surgir a
são da mola econômica, embora dependa em parte de circunstβncias incompatibilidade entre o sistema administrativo de ontem e as impe-
riosas realidades de hoje. Pode ocorrer que algumas comunidades, que  porзгo, a  hierarquia  e a conveniкncia.  Os caminhos partiam  dos por­
souberam renovar seu quadro particular, sejam asfixiadas  pelo quadro  tхes da muralha e estendiam­se obliquamente na direзгo de alvos dis­
geral do paнs. Este ъltimo pode, por sua vez, sofrer  diretamente a inves­ tantes.  Podemos  encontrar  ainda  no desenho das  cidades  o primeiro 
tida  das grandes  correntes.  Nгo  hб  quadro  administrativo  nъcleo compacto do burgo, as muralhas sucessivas e o traзado dos ca­
que possa pretender a imutabilidade. 
minhos divergentes. As pessoas aн se aglomeravam e encontravam, con­
forme  o grau  de  civilizaзгo,  uma  dose  variбvel  de  bem­estar.  Aqui, 
regras profundamente  humanas ditavam a escolha dos dispositivos; ali, 

6 NO DECORRER DA HISTУRIA, CIRCUNSTΒNCIAS PAR­
TICULARES  DETERMINARAM  AS  CARACTERISTICAS 
DA CIDADE: DEFESA MILITAR, DESCOBERTAS CIENTН­
FICAS, ADMINISTRAΗХES SUCESSIVAS,  DESENVOLVI­
constrangimentos  arbitrбrios  davam  origem  a  injustiзas  flagrantes. 
Sobreveio a era do maquinismo. A uma medida milenar, que se pode­
ria crer imutбvel, a velocidade do passo humano,  somou­se  uma  me­
d i d a  e m  plena  evoluзгo,  a  velocidade  dos  veнculos  mecвnicos. 
MENTO PROGRESSIVO  DAS COMUNICAΗХES  E  DOS  MEIOS 
DE TRANSPORTE (ROTAS TERRESTRES,  FLUVIAIS  E  MARН­

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TIMAS, FERROVIБRIAS E AЙREAS).  AS RAZХES QUE PRESIDEM O DESENVOLVIMENTO
DAS CIDADES ESTĂO, PORTANTO, SUBMETIDAS A MU-
DANÇAS CONTНNUAS.
A histσria está inscrita nos traçados e nasarquiteturasdascidades.
Aquilo que dela subsisteforma о fi о condutor que, juntamente com os
Aumento ou redução de uma população, prosperidade ou decadęncia
textos e os documentos gráficos, permite a representação de imagens
da cidade, demolição de muralhas que se tornaram asfixiantes, novos
sucessivas do paitado. Os motivos que deram origem ás cidades foram
meios de transporte ampliando a zona de trocas, benefícios ou male-
de natureza diversa. Por vezes era o valor defensivo. E o alto de um
fícios de uma política escolhida ou suportada, aparecimento do maqui-
rochedo ou a curva de um rio viam nascer um pequeno burgo fortifi-
nismo,tudoémovimento.А medida que o tempo passa, os valores
cado. Аs vexes, era o cruzamento de duas, rotas, uma cabeça de ponte
indubitavelmente se inscrevem no patrimonio de um grupo, seja ele
ou uma baía do litoral que determinava a localização do primeiro esta-
cidade, país ou humanidade; a vetustez, não obstante, atinge um dia
belecimento. A cidade «ra de formato incerto,maisfreq٧entemente em
todo conjunto de construçőes ou de caminhos. A morte atinge tanto as,
circulo ou semicírculo. Quando era uma cidade de colonização, organi-
obras como os seres. Quem fará adiscriminaçãoentreaquilo que deve
zavam-na como um acampamento, com eixos de βngulos retos e cer-
subsistir e aquilo que deve desaparecer?Oespírito da cidade formou-se"
cada de paliçadas retilíneas. Tudo nela era ordenado segundo a pro-
no decorrer dos anos; simples construзхes adquiriram um valor eterno  decadкncia, revolta. O mal й universal,  expresso nas  cidades  por um 
na medida em que simbolizam a alma coletiva; constituem o arcabouзo  congestionamento  que  as  encurrala  na  desordem  e,  no  campo,  pelo 
de uma tradiзгo que, sem querer limitar  a amplitude  dos progressos  abandono de numerosas terras. 
futuros,  condiciona a formaзгo  do indivнduo,  assim  como o clima, a 
regiгo,  a  raзa,  o costume.  Por  ser uma  "pequena  pбtria",  a  cidade 
comporta um valor moral que pesa e que estб indissoluvelmente ligado 
a ela. 

8
O ADVENTO DA ERA DA MΑQUINA PROVOCOU IMEN-
SAS PERTURBAÇХES NO COMPORTAMENTO DOS HO-
MENS, EM SUA DISTRIBUIÇĂO SOBRE A TERRA, EM
SEUS EMPREENDIMENTOS, MOVIMENTO DESENFREA-
DO DE CONCENTRAÇĂO NAS CIDADES A FAVOR DAS VELO-
CIDADES MECΒNICAS, EVOLUÇĂO BRUTAL E UNIVERSAL
SEM PRECEDENTES NA HISTΣRIA. O CAOS ENTROU NAS CI-
DADES.

O emprego da máquina alterσn as condiçőes de trabalho. Rompeu um


equilíbriomilenar,aplicando um golpe fatal ao
o campo» entupindo as cidadese,aodesprezarharmoniassecuIares,
perturbando as relaçőes naturais que existiamentrea casa e os locais
de trabalho. Um ritmo furioso «sodado a uma precariedade desenco-
rajante desorganiza as condiçőes de vida, opondo-se ao ajuste das ne-
cessidades fundamentais. As moradias abrigam mal as famílias, cor-
rompem sua vida íntima, e o desconhecimento das necessidades vital
tanto físicas quanto morais, traz seus frutos envenenados; doença,
ESTADO ATUAL
DAS CIDADES
CRНTICAS
V ' 
& REMÉDIOS

SEGUNDA PARTE
HABITAÇÃO
OBSERVAÇХES
9
NO INTERIOR  DO NÚCLEO HISTУRICO  DAS CIDADES, 
ASSIM COMO EM DETERMINADAS ZONAS  DE EXPAN­
SГO  INDUSTRIAL  DO  SЙCULO  XIX,  A  POPULAΗГO  Й 
MUITO DENSA (CHEGA A MIL E ATЙ MIL E  QUINHEN­ 
TOS HABITANTES POR HECTARE). 

A densidade, relaзгo entre as cifras  da populaзгo e a superficie  que ela 


ocupa,  pode ser  totalmente  modificada  pela  altura  dos edificios.  Po­
rйm,  atй entгo,  a tйcnica  de  construзгo  tinha  limitado  a  altura  das 
casas  a  aproximadamente  seis  pavimentos.  A  densidade  admissнvel 
para as construзхes dessa natureza й de 250 a 300 habitantes por hec­
tare. Quando essa densidade atinge, como em vбrios bairros, 600, 800 
e atй 1. 000 habitantes,  tem­se o cortiзo) caracterizado pelos seguintes 
sinais: 1. Insuficiкncia  de superficie  habitбvel por pessoa; 2. Mediocri­
dade das aberturas para o exterior; 3. Ausкncia de sol (orientaзгo para 
o norte* ou em conseqькncia da sombra projetada na rua ou no pбtio); 
4. Vetustez e presenзa permanente de germes mуrbidos (tuberculose); 
5* Ausкncia  ou insuficiкncia  de  Instalaзхes  sanitбrias;  6.  Promiscui­
dade  proveniente  das disposiзхes internas  da  moradia,  da  mб  orien­
taзгo do imуvel, da presenзa de vizinhanзas desagradбveis. O nъcleo 
das cidades antigas, cerceado pelas  muralhas  militares,  era em geral 
cheio de construзхes comprimidas e privadas de espaзo. Mas, em com­
pensaзгo,  ultrapassada  a porta  da  muralha,  os espaзos  verdes  eram 
imediatamente acessнveis, dando бs proximidades um ar de qualidade. 
Ao longo dos sйculos, foram  sendo acrescentados anйis urbanos, subs­
tituindo a vegetaзгo pela pedra e destruindo as superficies  verdes, pul­
mхes da  cidade.  Nessas  condiзхes,  as  altas  densidades  significam  o  tas, tolera­se que uma mortalidade assustadora e todo tipo de doenзas 
mal­estar e a doenзa em estado permanente.  faзam  pesar sobre a coletividade uma carga esmagadora. 
11  O  CRESCIMENTO  DA  CIDADE  DEVORA  PROGRES­
10  NOS  SIVAMENTE 
SETORES  AS URBANOS 
SUPERFНCIES  VERDES  LIMНTRO­
CONGESTIONADOS,  AS 
CONDIΗХES DE  HABITAΗГO  SГO  NEFASTAS  PELA  FES, SOBRE AS QUAIS SE DEBRUΗAVAM AS SUCES­
FALTA DE ESPAΗO SUFICIENTE DESTINADO Ŕ MO­ SIVAS MURALHAS. ESSE AFASTAMENTO CADA VEZ 
RADIA, PELA FALTA DE SUPERFНCIES VERDES DIS­ MAIOR  DOS  ELEMENTOS  NATURAIS  AUMENTA  PROPOR­
PONНVEIS,  PELA  FALTA,  ENFIM,  DE  CONSERVAΗГO  DAS  CIONALMENTE A DESORDEM HIGIКNICA. 
CONSTRUΗХES (EXPLORAΗГO BASEADA NA ESPECULAΗГO). 
ESTADO DE COISAS AINDA AGRAVADO PELA PRESENΗA DE  Quanto mais a cidade cresce, menos as "condiзхes naturais" sгo nela 
UMA POPULAΗГO COM PADRГO DE VIDA MUITO BAIXO, IN­ respeitadas. Por "condiзхes naturais" entende­se a presenзa, em pro­
CAPAZ DE ADOTAR, POR SI MESMA, MEDIDAS  DEFENSIVAS  porзгo suficiente,  de  certos elementos indispensбveis aos  s e r e s  vivos: 
(A MORTALIDADE ATINGE ATЙ VINTE POR CENTO).  sol, espaзo,  vegetaзгo.  Uma expansгo sem controle privou as cidades 
desses alimentos fundamentai s, de ordem psicolуgica  e  fisiolуgica.  O 
indivнduo que perde contato com a natureza й diminuнdo e paga caro, 
Й o estado interior da moradia que constitui o cortiзo, mas a  misйria 
com a doenзa e a decadкncia, uma ruptura que enfraquece  seu corpo 
deste й prolongada no exterior pela estreiteza das ruas sombrias e total  e arruma  sua sensibilidade,  corrompida pelas alegrias ilusуrias da ci­
falta  de espaзos verdes, criadores de oxigкnio e que seriam tio propн­ dade. Nessa ordem  de idйias,  a  medida  foi  ultrapassada  no decorrer 
cios aos folguedos  das  А despesa comprometlda numa cons- dos ъltimos cem anos, e essa nгo й a causa menor da penъria pela qual 
truзгo erguida  hб  sйculos  foi  amortizada  hб muito tempo; tolera­se  o mundo se encontra presentemente oprimido. 
todavia que aquele que a explora possa considerб­la ainda, sob forma 
de moradia, uma mercadoria negociбvel. Ainda que seu valor de habi­  AS CONSTRUΗХES DESTINADAS Ŕ HABITAΗГO SГO 
seja  nulo,  ela  continua  a  fornecer,   impunemente е  ŕs expen­
12 DISTRIBUНDAS  PELA  SUPERFНCIE  DA  CIDADE  EM 
sas da espйcie, uma renda importante. Condenar­se­ia  um aзougueiro que vendesse carne podre, mas 
a  legislaзгo permite impor habitaзхes podres ŕs populaзхes pobres. Para o enrique
CONTRADIΗГO COM OS REQUISITOS DA HIGIENE. 
O primeiro dever do urbanismo й р м -sc de acordo com as necessidades
fun damentais dos homens. A saъde de cada  um depende,  em  grande  perados e, ŕs vezes, mais baixos. Um geфmetra municipal nгo hesitarб  
em traзar  uma rua que privarб de sol milhares de casas. Certos edis, 
parte, de sua submissгo as "condiзхes naturais". O sol, que comanda 
infelizmente,  acharгo natural  destinar  ŕ instalaзгo de um  bairro ope­
todo crescimento, deveria penetrar no interior de cada moradia,  para 
rбrio uma  zona atй entгo negligenciada  porque as nйvoas a  invadem, 
espalhar seus raios, sem os quais a vida se estiola. O ar, cuja qualidade 
porque a umidade й excessiva ou porque os mosquitos  nela  pululam. 
й  assegurada  pela  presenзa  da  vegetaзгo,  deveria  ser  puro,  livre  da 
Ele considerarб que uma encosta voltada para o norte,  que em decor­
poeira em suspensгo e dos gases nocivos. O espaзo, enfim,  deveria ser  rкncia de sua orientaзгo nunca atraiu  ninguйm,  que um terreno enve­
distribuнdo com liberalidade. Nгo se esqueзa que a sensaзгo de espaзo  nenado pela fuligem,  pela fumaзa  de carvгo, pelos gases deletйrios de 
й de ordem psicofisiolуgica  e que a estreiteza das ruas e o estrangula­ alguma indъstria,  ŕs vezes ruidosa,  serб  sempre bom o bastante  para 
mento  dos  pбtios  criam  uma  atmosfera   tгo  insalubre  para  o  corpo  acomodar as populaзхes desenraizadas  e sem vнnculos sуlidos, a  qual 
quanto deprimente para o espнrito. O 4o Congresso  CIAM,  realizado  chamamos de mгo­de­obra comum. 
em Atenas, chegou ao seguinte postulado: o sol, a vegetaзгo, o espaзo 
sгo as trкs matйrias­primas do urbanismo. A adesгo a esse postulado 
permite julgar as coisas existentes e apreciar as novas propostas de um 
ponto de vista verdadeiramente humano.  14  AS CONSTRUΗХES AREJADAS (HABITAΗХES RICAS) 
OCUPAM  AS  ZONAS  FAVORECIDAS,  AO  ABRIGO 
13 OS BAIRROS MAIS DENSOS SE LOCALIZAM NAS ZO­ DOS VENTOS HOSTIS, COM VISTA E ESPAΗOS GRA­
NAS MENOS FAVORECIDAS (ENCOSTAS MAL ORIEN­ CIOSOS DANDO PARA PERSPECTIVAS  PAISAGНSTI­
TADAS,  SETORES  INVADIDOS  POR  NEVOEIROS,  CAS, LAGOS, MAR, MONTES ETC  E COM UMA INSOLAΗГO 
POR  GASES INDUSTRIAIS,  PASSНVEIS  DE  INUNDA­ ABUNDANTE. 
ΗХES ETC. ). 
As  zonas  favorecidas  sгo  geralmente  ocupadas  pelas  habitaзхes  de 
Nenhuma legislaзгo  interveio ainda para fixar  as condiзхes  da  habi­ luxo; prova­se assim que as aspiraзхes instintivas  do homem  o indu­
taзгo moderna, que devem nгo somente assegurar a proteзгo da pes­ zem, sempre que seus recursos lhe permitan,  а procurar  condiзхes de 
soa humana mas tambйm dar­lhe meios para um aperfeiзoamento  cres­ vida e uma qualidade de bem­estar  cujas raнzes se encontram  na prу­
cente. Assim, o solo urbano, os bairros residenciais,  as moradias sгo  pria natureza. 
distribuнdos segundo 
a circunstвncia, ao sabor 
dos interesses mais ines­
ESSA  DISTRIBUIΗГO  PARCIAL  DA  HABITAΗГO  Й 

15 SANCIONADA PELO  USO  E POR  DISPOSIΗХES  EDН 


LICAS QUE SE CONSIDERAM  JUSTIFICADAS:  O ZO­
NEAMENTO. 
vante zonas independentes ŕ habitaзгo e ŕ circulaзгo. A casa entгo nгo 
estarб mais unida ŕ rua por sua calзada. A habitaзгo se erguerб em seu 
meio prуprio, onde gozarб de sol, de ar puro e de silкncio. A circulaзгo 
se desdobrarб por meio de vias de percurso lento para o uso de pedes­ 
tres, e de  vias de percurso rбpido para o uso de veнculos. Cada uma 
O zoneamento й a operaзгo feita  sobre um plano de cidade com o obje­ dessas  vias desempenharб  sua funзгo,  sу se aproximando  ocasional­
tivo de atribuir a cada  funзгo  e a cada indivнduo seu justo  lugar.  Ele  mente da habitaзгo. 
tem  por base  a discriminaзгo  necessбria  entre as diversas  atividades 
humanas, cada uma das quais reclama seu espaзo particular: locais de  17  O  ALINHAMENTO TRADICIONAL DAS HABITAΗХES 
habitaзгo, centros industriais ou comerciais, salas ou terrenos destina­ Ŕ  BEIRA  DAS  RUAS  SУ  GARANTE  INSOLAΗГO  A 
dos ao lazer. Mas se a forзa  das coisas diferencia  a habitaзгo rica da  UMA PARCELA MНNIMA DAS MORADIAS. 
habitaзгo modesta, nгose tm odireto detransgdi erasque dvriam ser sagradas,  reservando sу para alguns favorecidos  da sorte o 
benefнcio  das condiзхes necessбrias para uma vida sadia  e  ordenada.  O alinhamento tradicional dos imуveis ao longo das ruas acarreta uma 
disposiзгo obrigatуria do volume construнdo. Ao serem cortadas,  ruas 
Й  urgente e necessбrio modificar  certos usos. Й preciso tornar acessнvel 
paralelas ou oblнquas desenham superficies  quadradas ou retangulares, 
para  todos, por meio de uma legislaзгo  implacбvel,  uma  certa  quali­ trapezoidais  ou  triangulares,  de  capacidades  diversas  que,  uma  vez 
dade de bem­estar, independente de qualquer questгo de dinheiro. Й  edificadas,  constituem os "blocos". A necessidade de iluminar o centro 
preciso impedir, para sempre, por uma rigorosa regulamentaзгo  ur­ desses blocos engendra pбtios internos de dimensхes variadas. As regu­
bana,  que famнlias  inteiras sejam privadas de luz, de ar e de espaзo.  lamentaзхes edнlicas deixam, infelizmente,  ŕqueles que buscam  o lu­
cro, a liberdade de restringir esses pбtios a dimensхes verdadeiramente 

16
AS  CONSTRUΗХES  EDIFICADAS  AO  LONGO  DAS  escandalosas. Chega­se entгo a este triste resultado: uma fachada  em 
VIAS DE COMUNICAΗГO E AO REDOR DOS CRUZA­ quatro, seja ela voltada para a rua ou para o pбtio, estб orientada para 
MENTOS SГO PREJUDICIAIS Ŕ HABITAΗГO: BARU­ o norte e nгo conhece o sol, enquanto as outras trкs, em conseqькncia 
L H O S ,  POEIRAS E GASES NOCIVOS.  da estreiteza das ruas,  dos pбtios e da  sombra  projetada disso resul­
tante, sгo tambйm parcialmente privadas de sol. A anбlise revela que 
Se se quiser levar em consideraзгo esta interdiзгo,  atribuir­se­б dora­ nas cidades a proporзгo de fachadas  nгo ensolaradas varia entre a me­
tade e trкs quartos  do total.  Em certos casos, essa  proporзгo  й  ainda  As escolas, limitando­se o julgamento a seu  programa  e ŕ  sua  dispo­
mais desastrosa.  siзгo arquitetфnica,  estгo em  geral  mal situadas  no interior  do com­
plexo urbano. Muito longe da moradia, elas colocam a crianзa em con­
tato  com os perigos  da  rua.  Alйm  disso,  й freqьente  que  nelas sу se 
ΗХES  DE  USO  COLETIVO  DEPENDENTE  DA  HABI­ dispense  a  instruзгo  propriamente  dita,  e  a  crianзa,  antes  dos  seis 
TAΗГO.  anos, ou o adolescente, depois dos treze, sгo regularmente privados de 
organizaзхes  prй ou pуs­escolares  que  responderiam  ŕs  necessidades 
A moradia  abriga  a  famнlia,  funзгo  que constitui  por si sу  todo  um  mais imperiosas de sua idade. O estado atual e a distribuiзгo do domн­
programa e coloca um problema cuja soluзгo — que outrora jб foi  por  nio edificado  prestam­se mal бs inovaзхes por meio das quais a infвncia 
vezes feliz  — estб  hoje  entregue,  em  geral,  ao  acaso.  Mas, fora  da  e a juventude seriam nгo somente protegidas de inъmeros perigos, mas 
moradia, e em suas proximidades, a fam нlia ainda reclama a presenзa  ainda  colocadas  nas  ъnicas  condiзхes  que  permitem  uma  formaзгo 
de instituiзхes coletivas que sejam verdadeiros prolongamentos da­ sйria, capaz de lhes assegurar, ao lado da instruзгo, um pleno desen­
quela. Sгo elas: centros de abastecimento,  serviзos  mйdicos,  creches,  volvimento tanto fнsico  quanto moral. 
jardins de infвncia,  escolas, ŕs quais se somarгo organizaзхes intelec­
tuais e esportivas destinadas a proporcionar aos adolescentes a ocasiгo 
de trabalhos ou  de jogos adequados б satisfaзгo  das  aspiraзхes  prу­
prias dessa idade e, para  completar, os "equipamentos de saъde",  as  E SEM LIGAΗГO NORMAL COM A CIDADE. 
бreas prуprias ŕ cultura  fнsica  e ao esporte cotidiano de cada  um.  O 
benefнcio  dessas instituiзхes coletivas й evidente,  mas sua necessidade  Os subъrbios sгo descendentes degenerados  dos arrabaldes.  O burgo 
й  ainda  mal  compreendida  pela  massa.  Sua  realizaзгo  estб  apenas  era outrora uma unidade organizada no interior de uma muralha mili­
esboзada, da maneira  mais  fragmentбria  e desvinculada  das necessi­ tar. O falso  burgo, contнguo a ele pelo lado de fora,  construнdo ao longo 
dades gerais da habitaзгo.  de uma via de acesso e desprovido de proteзгo,  era o escoadouro  da 
populaзгo excedente que, bom ou mau grado, devia acomodar­se em 
sua  inseguranзa.  Quando a  criaзгo de uma  nova muralha  encerrava 
AS  ESCOLAS,  MUITO  PARTICULARMENTE,  NГO   ESTГO SITUADAS NAS VIAS DE CIRCULAΗГO 
RARO burgo, com seu trecho de via, no seio da cidade, ocorria 
um  dia o falso
E MUITO AFASTADAS DAS HABITAΗХES.  uma primeira alteraзгo na regra normal dos traзados. A era do maqui­
algum barraco, galpгo ou oficina
nismo   nгo pode ser desapropriado sem inъ­
й  caracterizada  pelo  sub
sгo jogados todos os resнduos, onde se  arriscam  todas  as  tentativas,  meras dificuldades.  A densidade  populacional  nele й muito  baixa  e o 
onde se instalam  em geral os artesanatos  mais  modestos,  com  as in­ solo dific ilmente explorado; entretanto, a cidade й obrigada  a  prover 
dъstrias julgadas  de  antemгo  provisуrias,  algumas  das  quais  porйm  a бrea  dos subъrbios dos serviзos necessбrios: vias pъblicas,  canaliza­
conhecerгo  um  crescimento  gigantesco.  O  subъrbio  й  o  sнmbolo  ao  згo,  meios  de transporte  rбpidos,  polнcia,  iluminaзгo  e  limpeza  pъ­
mesmo tempo do fracasso  e da tentativa. Й uma espйcie de onda ba­ blica, serviзos hospitalares ou escolares etc. Й chocante a desproporзгo 
tendo nos muros da cidade. No decorrer  dos sйculos  XIX e  XX, essa  entre as despesas ruinosas causadas por tantas obrigaзхes e a pequena 
onda  tornou­se  marй,  e  depois  inundaзгo.  Ela  comprometeu  seria­ contribuiзгo que pode dar uma роpulaзгo  dispersa. Quando a admi­
mente o destino da cidade e suas possibilidades  de crescer conforme  nistraзгo intervйm para corrigir a situaзгo, ela se choca com obstбculos 
uma regra. Sede de uma populaзгo incerta, destinada  a suportar inъ­ insuperбveis e se arruina em vгo. Й antes do nascimento dos subъrbios 
meras misйrias, caldo de cultura de revoltas, o subъrbio й com frequencia  que a administraзгo deve apropriar­se  da  gestгo  do solo que cerca a 
dez vezes, cem vezes mais extenso do que a cidade. Deste subъrbio doente,  cidade para assegurar a esta os meios para um desenvolvimento harmo­
onde a funзгo  distвncia­tempo suscita uma difнcil  questгo que continua  nioso. 
sem soluзгo, alguns procuram fazer  cidades­jardins. Paraнsos ilusуrios, 
FREQ٢ENTEMENTE OS SUB٠RBIOS NADA MAIS
soluзгo irracional. O subъrbio й um erro urbanнstico, disseminado por todo 
o universo e levado ŕs suas consequencias extremas na Amйrica. Ele 
constitui um dos grandes males do sйculo.  22 SĂO DO QUE UMA AGLOMERAÇĂO DE BARRACOS
ONDE A INFRA-ESTRUTURA INDISPENSΑVEL DIFI-
CILMENTEÉRENTΑVEL.

21 PROCUROU-SE INCORPORAR OS SUB٠RBIOS AO


DOMНNIO ADMINISTRATIVO.

Muito tarde! O subúrbio foi incorporado tardiamente ao dominio ad-


Casinhas mal construídas, barracos de madeira, galpőes onde se mis-
turam bem ou mal os materiais mais imprevistos, domínio dos pobres-
diabos que oscilam nos turbilhőes de uma vida sem disciplina, eis o
subúrbio! Sua feiúra e sua tristeza são a vergonha da cidade que ele
ministrativo. A circunda. Sua miséria, que obriga a malbaratar o dinheiro público sem
a contraparte de recursos fiscais suficientes, é uma carga sufocante
—^pr^lWçaS^Oproprietárk
• ) de um terreno vago onde tenha surgido para а  coletividade. Ossubúrbiossãoasσrdidaantecβmaradascida-
enganchados ŕs grandes vнas de acesso por suas ruelas, eles tornam 
ai a circulaзгo perigosa; vistos de aviгo, expхem aos olhos menos avi­
sados a  desordem  e a incoerкncia  de sua  distribuiзгo;  cortados  por 
ferrovias,  eles sгo, para o viajante atraнdo pela reputaзгo da cidade, 
uma penosa desilusгo! 
23  DORAVANTE OS BAIRROS HABITACIONAIS DEVEM 
É PRECISO EXIGIR OCUPAR NO ESPAΗO URBANO AS MELHORES LOCA­
LIZAΗХES, APROVEITANDO­SE A TOPOGRAFIA, OB­
SERVANDO­SE O CLIMA, DISPONDO­SE DA INSOLA­
ΗГO  MAIS  FAVORБVEL  E  DE  SUPERFНCIES  VERDES  ADE­
QUADAS. 

As cidades, tal como existem hoje, estгo construнdas em condiзхes con­
trбrias  ao bem pъblico e privado.  A histуria  mostra  que  sua  criaзгo 
e seu desenvolvimento obedeceram a razхes profundas,  superpostas ao 
longo do tempo, e que elas nгo apenas cresceram, mas freqьentemente 
se renovaram no decorrer dos sйculos, e sobre o mesmo solo. A era da 
mбquina,  ao modificar  brutalmente determinadas condiзхes  centenб­
rias, levou­as ao caos. Nossa tarefa  atual й arrancб­las de sua desordem 
por meio de planos nos quais serб previsto o escalonamento  dos  em­
preendimentos ao longo do tempo. O problema da moradia, da habi­ 
taзгo, prevalece sobre todos. Os melhores locais da cidade devera ser 
reservados a ela, e se estes foram  devastados pela indiferenзa  ou pela 
concupiscкncia, tudo deve ser feito  para  recuperб­los.  Muitos fatores 
concorrem para  a qualidade da moradia. Й preciso buscar ao mesmo 
tempo as mais belas paisagens, o ar mais saudбvel, levando em consi­
deraзгo os ventos e a neblina,  os declives melhor expostos, e, enfim, 
utilizar as superficies  verdes existentes, criб­las se nгo existem ou recu­
perб­las se foram  destruнdas. 
lizar um ato de gestгo pleno de conseqькncias. Quando surgiu a era da 
mбquina, as cidades se desenvolveram sem controle e sem freio.  A dis­
DEVE SER DITADA POR RAZХES DE HIGIENE.  plicкncia  й a ъnica  explicaзгo  vбlida  para  esse crescimento  desmesu­
rado e absolutamente irracional, que й uma das caus
As leis de higiene universalmente reconhecidas fazem  uma grave acu­ Tanto para nascer como para crescer, as cidades tкm razхes particula­
saзгo contra  as  condiзхes  sanitбrias  das  cidades.  Porйm,  nгo  basta  res, que devem ser estudadas e que levarгo a previsхes que abarquem 
formular  um diagnуstico e nem sequer encontrar  uma soluзгo; й pre­ um  certo espaзo  de tempo:  cinqьenta  anos  por  exemplo.  Poder­se­б 
ciso ainda que esta seja imposta pelas autoridades responsбveis.. Bair­ pressupor  uma certa cifra  de populaзгo.  Serб  necessбrio  alojб­la, sa­
ros inteiros deveriam  ser condenados em nome da  saъde pъblica.  Al­ bendo­se em que бrea ъtil, prever qual "tempo­distвncia" serб seu qui­
guns, fruto  de uma  especulaзгo  prematura,  sу  merecem  a  picareta;  nhгo cotidiano, fixar  a superfнcie  e a capacidade necessбrias ŕ realiza­
згo desse programa de cinqьenta anos. Quando a cifra  da populaзгo e 
outros, em funзгo  das memуrias histуricas ou dos elementos de valor 
artнsticos que contкm, deverгo ser parcialmente respeitados; hб modos  as  dimensхes  do terreno sгo  fixadas,  a  "densidade"  й  determinada. 
de preservar o que merece ser preservado, destruindo implacavelmente  
aquilo que constitui um  perigo., Nгo basta  sanear  a  moradia,  mas  й 
r
  preciso ainda criar e administrar  seus prolongamentos exteriores,  lo­ 26  UM NÚMERO  MНNIMO  DE  HORAS  DE  INSOLAΗГO 
cais de educaзгo fнsica  e espaзos diversos para esporte, inserindo, ante­ DEVE SER FIXADO PARA CADA MORADIA. 
cipadamente, no plano geral, as бreas que lhes serгo  reservadas. 
A ciкncia, estudando as radiaзхes solares, detectou aquelas que 
sгo indispensбveis ŕ saъde humana e tambйm aquelas que, em certos 
DENSIDADES RAZOБVEIS  DEVEM  SER  IMPOSTAS, 
casos, poderiam ser­lhe nocivas. O sol й o senhor da vida. A medicina 
DE ACORDO COM AS FORMAS DE HABITAΗГO POS­
demonstrou  que a tuberculose se instala onde o sol nгo penetra; ela 
TAS PELA PRУPRIA NATUREZA DO TERRENO. 
exige que o indivнduo seja recolocado, tanto quanto possнvel, nas "con­
diзхes naturais". O sol deve penetrar em toda moradia algumas horas 
As densidades populacionais  de uma cidade devem  ser ditadas  pelas  por dia, mesmo durante a estaзгo menos favorecida.  A sociedade nгo 
autoridades. Elas poderгo variar segundo a destinaзгo do solo urbano  tolerarб mais que familias  inteiras sejam privadas de serf  e, assim, con­
e  resultar,  de acordo com seu indice numa cidade  muito  extensa  ou  denadas ao definhamento.  Todo projeto de casa no qual um ъnico alo­
numa concentrada sobre si mesma. Fixar as densidades urbanas й rea­
canalizadas para  um leito particular,  enquanto o pedestre  disporб  de 
jбmenlo seja orientado exclusivamente para o norte,  ou privado de sol 
caminhos diretos ou de caminhos de passeio para ele reservados. 
devido ŕs sombras projetadas, serб  rigorosamente  condenado.  Й  pre­
ciso exigir dos construtores uma planta demonstrando que no solsticio 
de inverno o sol penetrarб em cada moradia no mнnimo 2 horas por dia. 
LEVADOS EM CONTA PARA ERGUER CONSTRUΗХES 
Na falta  disso serб negada  a autorizaзгo para  construir. Introduzir o 
sol й o novo e o mais imperioso dever do arquiteto.  ELEVADAS. 

Cada йpoca utilizou em suas construзхes a tйcnica que lhe era imposta 

27 O ALINHAMENTO DAS HABITAΗХES AO LONGO DAS 
VIAS DE COMUNICAΗГO DEVE SER PROIBIDO. 

As vias de comunicaзгo,  isto й, as ruas de nossas cidades,  tкm  finali­


por seus recursos particulares.  Atй o sйculo  XIX,  a arte  de  construir 
casas sу conhecia paredes constituнdas de pedras, tijolos ou tabiques de 
madeira e tetos constituнdos por vigas de madeira. No sйculo XIX, um 
perнodo intermediбrio fez  uso dos ferros  perfilados;  depois vieram, en­
dades dнspares. Elas recebem as mais variadas  cargas e devem  servir  fim,   no sйculo XX, as construзхes homogкneas todas em aзo ou cimento 
tanto para  a  caminhada  dos pedestres  quanto  para  o trвnsito,  inter­ armado. Antes dessa inovaзгo absolutamente revolucionбria  na histу­
rompido por paradas intermitentes, de veнculos rбpidos de  transporte  ria da construзгo de casas, os construtores nгo podiam erguer um imу­
coletivo, фnibus ou bondes, ou para aquele ainda mais rбpido dos cami­ vel  que  ultrapassasse seis pavimentos. O presente nгo й mais tгo limi­
nhхes ou dos automуveis particulares. As calзadas, criadas no  tempo,  tado. As construзхes  atingem  sessenta  e  cinco  pavimentos  ou  mais. 
dos cavalos e sу apуs a introduзгo dos coches, para evitar  Resta determinar, por  um exame criterioso dos 
os atropelamentos, sгo um remйdio irrisуrio desde que as velocidades  mecвnicas  problemas urbanos, a 
introduziram  nas  ruas  uma  verdadeira  ameaзa  de  morte.  A  cidade  altura  que mais  convйm  a  cada  caso  particular.  No que  concerne  ŕ 
atual abre as inumerбveis portas de suas casas para esta ameaзa e suas  habitaзгo, as razхes que postulam a favor  de uma determinada decisгo 
inumerбveis janelas para os ruнdos, as poeiras e os gases nocivos, resul­ sгo: a escolha da vista mais agradбvel, a busca do ar mais  puro  e da 
tantes de uma intensa circulaзгo mecвnica. Este estado de coisas exige  insolaзгo mais completa,  enfim,  a possibilidade de criar nas proximi­
orna modificarгo  radical: as velocidades do pedestre,  4km horбrios,  e  dades imediatas da moradia instalaзхes coletivas, бreas escolares, cen­
as velocidades mecвnicas, 
50 a  100km horбrios, devem ser separadas. 
tros de assistкncia, terrenos para jogos, que serгo seus prolongamentos. 
Apenas  construзхes  de  uma  certa altura  poderгo  satisfazer  com felici dade a essas legнt
As habitaзхes serгo afastadas  das  velocidades  mecвnicas,  sendo estas 
DE  DISTANCIA  UMAS DAS  OUTRAS  DEVEM  LIBE­
RAR O SOLO PARA AMPLAS SUPERFICIES  VERDES. 

Й  preciso ainda  que elas estejam  situadas  a  distвncias  bem  grandes 


umas das outras, caso contrбrio sua altura, longe de constituir um me­
lhoramento, sу agravaria o mal existente; й o grave erro cometido nas 
cidades das duas Amйricas. A construзгo de uma cidade nгo pode ser 
abandonada sem programa  ŕ iniciativa privada.  A densidade  de sua 
populaзгo deve ser elevada o bastante para validar a organizaзгo das 
instalaзхes coletivas  que serгo os prolongamentos  da  moradia.  Uma 

LAZER
vez fixada  esta densidade, serб admitida uma cifra  de populaзгo pre­
sumнvel que permita calcular a superfнcie  reservada ŕ cidade.  Decidir 
sobre a maneira como o solo serб ocupado, estabelecer a relaзгo entre a 
superfнcie  construнda e aquela deixada livre ou plantada,  dividir o ter­
reno necessбrio tanto para as moradias particulares quanto para seus 
diversos prolongamentos,  fixar  uma superfнcie  para  a cidade que  nгo 
poderб ser  ultrapassada  durante  um  perнodo  determinado,  constitui 
esta grave operaзгo, da qual a autoridade estб incumbida: a promul­
gaзгo do "estatuto do solo". Assim se construirб a cidade daqui  para 
diante com toda seguranзa e, dentro dos limites das regras estabeleci­
das por esse estatuto, serб dada toda a liberdade ŕ iniciativa privada e ŕ 
imaginaзгo do artista. 
1

OBSERVAÇХES 30  AS SUPERFНCIES  LIVRES SГO,  EM  GERAL,  INSUFI­


CIENTES. 

. Hб ainda superfнcies  livres no interior de algumas cidades. Elas sao a 
sobrevivкncia, miraculosa em nossa йpoca, de reservas constituнdas no 
passado: parques rodeando residкncias principescas, jardins adjacen­
tes a casas burguesas, passeios sombreados  ocupando  a  бrea  de uma 
muralha militar derrubada.  Os dois ъltimos sйculos consumiram com 
voracidade essas reservas, autкnticos pulmхes  da  cidade,  cobrindo­os 
de imуveis, colocando alvenaria no lugar  da  relva  e das бrvores.  Ou­
trora os espaзos livres nгo tinham outra razгo de ser senгo o prazer de alguns privilegiados
Nгo interviera ainda o ponto de vista social, que 
dб hoje um sentido novo ŕ sua destinaзгo. Eles podem ser os p r o l o n g a ­

Em  ambos  os casos, sua desti­


naзгo serб a mesma: acolher as atividades coletivas da juventude, pro­
piciar um espaзo favorбvel  ŕs distraзхes, aos passeios ou aos jogos das 
horas de lazer. 

31  QUANDO  AS  SUPERFНCIES  LIVRES  TКM  UMA  EX­


TENSГO SUFICIENTE, NГO RARO ELAS ESTГO MAL 
DESTINADAS  E,  POR  ISSO,  SГO  POUCO  UTILIZБ­
VEIS PELA MASSA DOS HABITANTES. 
Quando as cidades modernas comportam algumas superfнcies  livres de  pъblica para a espйcie. Esse й um  tema que constitui  parte integrante 
uma extensгo suficiente,  estas estгo situadas ou na periferia  ou no со *  dos postulados do urbanismo e ao qual os edis deveriam ser obrigados 
raзгo de uma zona residencial  particularmente  luxuosa.  No primeiro  a dedicar toda a sua a t e n з г o .  Justa proporзгo entre volumes edifica dos 
caso,  distantes  dos locais de  habitaзгo  popular,  elas  sу  servirгo  aos  e espaзos livres, eis a ъnica fу rmula que resolve o problema  da  habi­
citadines no domingo e nгo terгo influкncia  alguma sobre a vida coti­ taзгo. 
diana, que continuarб a se desenrolar em condiзхes deplorбveis. No se­
gundo, elas serгo, de fato,  proibidas  ŕs multidхes,  sendo sua  funзгo  reduzida ao embelezamento, sem que desempenhem sei papel de pro­

longamentos ъteis da moradia. Seja como for,  o grave problema da hi­ 33 AS  RARAS  INSTALAΗХES  ESPORTIVAS,  PARA  SE­


giene popular permanece ainda sem melhoria.  REM COLOCADAS NAS PROXIMIDADES  DOS USUБ­
RIOS, ERAM EM GERAL INSTALADAS PROVISORIA­
MENTE  EM  TERRENOS  DESTINADOS  A  RECEBER 
32  A  SITUAΗГO  EXCКNTRICA  DAS  SUPERFICIES LI­ FUTUROS  BAIRROS  RESIDENCIAIS  OU  INDUSTRIAIS.  PRE­
VRES NГO  SE  PRESTA  Ŕ  MELHORIA  DAS  CONDI­ CARIEDADE E TRANSTORNOS INCESSANTES. 
ΗХES DE HABITAΗГO  NAS ZONAS  CONGESTIONA­
DAS DA CIDADE.  Algumas associaзхes esportivas desejosas de utilizar seu lazer semanal 
encontraram na periferia  das cidades  um abrigo provisуrio;  mas sua 
O urbanismo й chamado para conceber as regras necessбrias para asse­ existкncia,  que nгo й oficialmente  reconhecida,  й em geral  das  mais 
gurar aos citadinos as condiзхes de vida que salvaguardem nгo somente  precбrias. Pode­se classificar  as horas livres ou de lazer em trкs cate­
sua saъde fнsica  mas tambйm sua saъde morai e a alegria de viver delas  gorias: cotidianas, semanais ou anuais. As horas de liberdade cotidiana 
decorrente. As horas de trabalho, em geral  muscular  e nervosamente  devem ser passadas nas proximidades da moradia.  As horas de liber­
extenuantes, devem ser seguidas, a cada dia, por um nъmero suficiente  dade semanal permitem  a saнda da  cidade e os deslocamentos regio­
de horas livres. Essas horas livres, que o maqumismo  infalivelmente  nais. As horas de liberdade  anual,  isto й,  as fйrias,  permitem  verda­
ampliarб, serгo consagradas a uma reconfortante  permanкncia no seio  deiras viagens, fora  da cidade e da regiгo. O problema assim exposto 
de elementos  naturais.  A manutenзгo  ou  a criaзгo de espaзos  livres  implica a criaзгo de reservas verdes: 1. ao redor das moradias; 2. na 
sгo, portanto,  uma  necessidade e constituem  uma  questгo  de  saъde  regiгo; З . п о  paнs. 
34 
AO LAZER  SEMANAL  ESTГO  FREQÜENTEMENTE 
MAL ARTICULADOS Ŕ CIDADE. 
Uma vez escolhidos os locais situados nos arredores imediatos da ci­
dade e prуprios para se tornarem ъteis centros de lazer semanal, colo­
car­se­б o problema dos transportes de massa. Esse problema deve ser 
considerado desde o instante em que se esboзa o plano da regiгo; ele 
implica o estudo de diversos meios de transporte possнveis: estradas, 
ferrovias  ou rios. 
35  DORAVANTE  TODO  BAIRRO  RESIDENCIAL  DEVE 
É PRECISO EXIGIR COMPREENDER A SUPERFICIE VERDE NECESSБRIA 
Ŕ ORGANIZAΗГO  RACIONAL  DOS JOGOS E  ESPOR­
TES  DAS  CRIANΗAS,  DOS  ADOLESCENTES  E  DOS 
ADULTOS. 

Esta decisгo sу terб resultado se estiver sustentada  por uma verdadeira 
legislaзгo: o "estatuto do solo"'. Esse estatuto  terб  a diversidade  cor­
respondente ŕs necessidades a satisfazer.  Assim, a densidade da popu­
laзгo  ou  a  porcentagem  de  superfнcie  livre  e de  superfнcie  edificada 
poderгo variar segundo as funзхes,  os locais ou os climas. Os volumes 
edificados  serгo intimamente  amalgamados  ŕs superfнcies  verdes que 
os cercam. As zonas edificadas  e as zonas plantadas serгo distribuнdas 
levando­se em consideraзгo um tempo razoбvel para ir de umas ŕs ou­
tras. De qualquer modo, a textura do tecido urbano deverб mudar; as 
aglomeraзхes tenderгo a tornar­se cidades verdes. Contrariamente ao 
que ocorre nas cidades­jardins, as superfнcies verdes nгo serгo compartimentads em pequenos el mentos de uso privado, mas consagra­

das ao desenvolvimentos 
das diversas atividades c omuns 
que form am o prolongamento 
da
titui,  de fato,  o principal  argumento  a favor  das  cidades­jardins,  po­
derб muito  bem  ser levado em consideraзгo  aqui;  uma  porcentagem 
do solo disponнvel lhe serб destinada,  dividida em  mъltiplas  parcelas 
individuais; mas certas organizaзхes coletivas, como a aragem eventual 
e  a  irrigaзгo  ou  a  rega,  poderгo  diminuir  o trabalho  e  aumentar  o 
rendimento. 
venis, centros de entretenimento intelectual  ou de cultura fнsica,  saias 
LIDOS E SUBSTITUIDOS POR SUPERFНCIES VERDES:  de leitura ou de jogos,  pistas  de corrida  ou  piscinas  ao ar  livre. Elas 
OS  BAIRROS  LIMНTROFES  SERГO  SANEADOS.  serгo o prolongamento da habitaзгo e, como ela,  deverгo estar subor­
dinadas ao "estatuto do solo". 
Um  conhecimento  elementar  das  principais  noзхes  de  higiene  basta 
para  discernir  os  cortiзos  e discriminar  os  quarteirхes  notoriamente 
insalubres. Estes quarteirхes deverгo ser demolidos. Dever­se­б  apro­ RER EM LOCAIS ADEQUADAMENTE  PREPARADOS: 
veitar essa ocasiгo para substituн­los por parques que serгo, pelo menos  PARQUES, FLORESTAS, БREAS DE ESPORTE, ESTБ­
nos bairros  limнtrofes,  o primeiro passo no caminho  do  saneamento.  DIOS, PRAIAS ETC... 
Todavia,  pode  acontecer  que  alguns  desses  quarteirхes  ocupem  um 
local particularmente conveniente ŕ construзгo de certos edifнcios  indis­ Nada ou quase nada foi  ainda previsto para o lazer semanal. Na regiгo 
pensбveis ŕ vida da cidade. Nesse caso, um urbanismo inteligente sa­ que cerca  a cidade,  amplos espaзos  deverгo ser  reservados  e organi­
berб dar­lhes a destinaзгo que o plano geral  da  regiгo e o da  cidade  zados, e o acesso a eles deverб ser assegurado por meios de transporte 
tenham antecipadamente considerado a mais ъtil.  suficientemente  numerosos e cфmodos.  Nao se trata  mais de simples 
grama  cercando  a casa,  com uma  ou outra  бrvore plantada,  mas de 
am  AS NOVAS SUPERFНCIES VERDES DEVEM SERVIR A  verdadeiros prados, de bosques, de praias naturais ou artificiais  cons­
­ С   Я   OBJETIVOS  CLARAMENTE  DEFINIDOS:  ACOLHER  tituindo  uma  imensa  reserva  cuidadosamente  protegida,  oferecendo 
J f   JARDINS DE INFΒNCIA, ESCOLAS, CENTROS JUVE­ mil oportunidades de  atividade saudбvel ou de entretenimento ъtil aos 
NIS OU TODAS AS CONSTRUΗХES DE USO COMUNI­ habitantes da cidade. Toda cidade possui em sua periferia  locais capa­
TБRIO LIGADAS INTIMAMENTE Ŕ HABITAΗГO.  zes de corresponder a este programa, os  quais,  atravйs de  uma orga­
nizaзгo bem estudada dos meios de transporte, tornar­se­гo facilmente 
As superfнcies  verdes, que se terб intimamente amalgamado aos volu­ acessнveis. 
mes edificados  e  inserido  nos setores habitacionaist   nгo terгo por fun­
згo ъnica  o embelezamento  da  cidade.  Elas  deverгo,  antes  de  mais 
nada, ter um papel ъtil, e as instalaзхes de carбter  coletivo ocuparгo  ETC... 
seus gramados: creches, organizaзхes prй ou pуs­escolares, cнrculos ju­
Deve ser estabelecido um  protrama  de entretenimento  comportando  Uma destinaзгo fecunda  das horas livres forjarб  uma saъde e um cora­
atividades de todo tipo: o passeio, solitбrio ou coletivo, em meio ŕ be­ згo para os habitantes das cidades. 
leza dos lugares; os esportes de toda natureza: tкnis, basquete, futebol, 
nataзгo, atletismo; os espetбculos, concertos, teatros ao ar livre, jogos 
de quadra  e torneios  diversos.  Enfim,  serгo  previstos  equipamentos 
precisos: meios de transporte que demandam uma organizaзгo racio­
nal; locais para alojamento, hotйis, albergues ou acampamentos e, en­
fim,   nгo menos importante,  um abastecimento  de бgua  potбvel  e vн­
veres que deverб ser cuidadosamente assegurado em toda parte. 

DERADOS:  RIOS,  FLORESTAS,  MORROS,  MONTA­


NHAS, VALES, LAGO, MAR ETC. 

Graзas ao aperfeiзoamento  dos meios mecвnicos de transporte, a ques­
tгo da distвncia nгo desempenha mais aqui um papei  preponderante. 
Mais vale escolher bem, ainda que se tenha  que procurar um  pouco 
mais longe. Trata­se nгo sу de preservar as belezas naturais ainda in­
tactas, mas tambйm de reparar as agressхes que algumas delas tenham 
podido sofrer;  enfim,  que a industria do homem crie, em parte, sнtios e 
paisagens que correspondam ao programa. Esse й um outro problema 
social muito importante, cuja responsabilidade estб nas mгos dos edis: 
encontrar uma contrapartida para o trabalho estafante  da semana, tor­
nar o dia de repouso verdadeiramente re vitalizante para a saъde fнsica  e 
moral, nгo mais abandonar a populaзгo бs mъltiplas desgraзas da rua. 
OS LOCAIS  DE  TRABALHO  NГO  ESTГO  MAIS  DIS­

OBSERVAÇХES 41 POSTOS  RACIONALMENTE  NO  COMPLEXO  URBA­


NO: INDÚSTRIA,  ARTESANATO,  NEGУCIOS,  ADMI­
NISTRAΗГO, COMЙRCIO. 

Outrora, a moradia e a oficina,  unidas por vнnculos estreitos e perma­
nentes, estavam situadas uma perto da outra.  A expansгo inesperada 
do maquinismo rompeu essas condiзхes de harmonia; em menos de um 
sйculo, ela transformou   a fisionomia  das cidades, quebrou as tradiзхes 
seculares do  artesanato  e deu  origem  a  uma  nova  mгo­de­obra  anф­
nima e instбvel. O desenvolvimento industrial depende essencialmente 
dos meios de abastecimento de matйrias­primas e das facilidades  de es­
coamento dos produtos manufaturados.  Foi,  portanto,  ao  longo  das 
vias fйrreas  introduzidas pelo sйculo XIX, e ŕs margens das vias  flu­
viais, cujo trбfego  a navegaзгo a vapor multiplicava, para onde as in­
dъstrias verdadeiramente se precipitaram. Mas, aproveitando as dispo­
nibilidades  imediatas  de  habitaзхes  e  de  abastecimento  das  cidades 
existentes, os fundadores  das indъstrias instalaram  suas empresas na 
cidade ou em seus arredores, a despeito do mil  que disso poderia  re­
sultar. Implantadas no coraзгo dos bairros habitacionais, as fбbricas  aн 
espalham  suas podras  e seus ruidos. Instaladas na  periferia  e  longe 
desses bairros, elas condenam os trabalhadores a percorrer diariamente 
longas distвncias 
em condiзхes cansativas de pressa e de agitaзгo, f a­
zendo-os perder inutilmente uma parte de suas horas de lazer. A rup­
tura  com  a  antiga  organizaзгo do trabalho criou uma desordem indi­
zнvel e colocou  um  problema  para  o  qual,  atй o  presente,  sу foram 
dadas soluзхes paliativas. Derivou disso o grande mal da йpoca  atual:  a  agitaзгo neles й frenйtica,  e os usuбrios  pagam  caro,  de seu  bolso, 
o nomadismo das populaзхes operбrias.  uma organizaзгo que lhes vale, diariamente, horas de sacolejo somadas 
ŕs fadigas  do trabalho.  A exploraзгo  desses transportes  й ao mesmo 
tempo minuciosa e cara; sendo a cota dos passageiros insuficiente  para 
TRABALHO NГO Й MAIS NORMAL; ELA IMPХE PER­ cobrir sua despesa, eles se tornam  um  pesado  encargo  pъblico.  Para 
CURSOS DESMESURADOS.  remediar semelhante estado de coisas, foram  sustentadas teses contra­
ditуrias: fazer  viver os transportes ou fazer  viver bem os usuбrios dos 
Desde entгo foram  rompidas as relaзхes normais entre essas duas fun­ transportes? Ј preciso escolher! Umas supхem a reduзгo e as outras o 
зхes essenciais da vida: habitar, trabalhar. Os arrabaldes se enchem de  aumento do diвmetro das cidades. 
oficinas  e manufaturas,  e a grande indъstria, que continua seu desen­
volvimento sem limites, й empurrada para fora,  para os subъrbios. Fi­ 44 PELA  FALTA  DE  QUALQUER  PROGRAMA  ­  CRES­
cando a cidade saturada,  sem poder acolher  novos habitantes, fez­se  CIMENTO DESCONTROLADO DAS CIDADES, AUSКN­
surgir apressadamente cidades suburbanas, vastos e compactos blocos  CIA DE PREVISХES, ESPECULAΗГO COM OS TERRE­
de caixotes para alugar ou loteamentos interminбveis. A mгo­de­obra  NOS ETC. — A INDÚSTRIA SE INSTALA  AO ACASO, 
intercambiбvel, que absolutamente nгo estб ligada por um vinculo es­ NГO OBEDECENDO A REGRA ALGUMA. 
tбvel  ŕ  indъstria,  suporta  de  manhг,  ŕ  tarde e a noite, no verгo e no  
inverno, a perpйtua movimentaзгo e a deprimente confusгo  dos trans­ O solo das cidades e o das regiхes vizinhas pertencem quase que intei­
portes  coletivos.  Horas inteiras se dissolvem nesses deslocamentos de­ ramente a particulares. A prуpria indъstria estб nas mгos de socieda­
sordenados.  des privadas, sujeitas a  todo tipo de crises e сuj а  situaзгo й ŕs vezes 
instбvel. Nada foi  feito  para submeter o surto industrial a regras lуgi­
cas; ao  contrбrio,  tudo  foi  deixado  ŕ  improvisaзгo  que,  se бs vezes 
favorece  o indivнduo, sempre oprime a coletividade. 
UM ESTADO CRITICO. 

Os transportes coletivos, trens de subъrbio, фnibus e metrфs sу funcio­
nam verdadeiramente em quatro momentos do dia. Nas horas de pico, 
45  NAS  CIDADES,  OS  ESCRITУRIOS  SE CONCENTRA­
RAM EM CENTROS DE NEGУCIOS. OS CENTROS DE 
NEGУCIOS, INSTALADOS NOS LOCAIS PRIVILEGIA­
DOS  DA CIDADE,  DOTADOS  DA  MAIS  COMPLETA 
CIRCULAΗГO, SГO LOGO  PRESA  DA ESPECULAΗГO.  COMO 
SГO NEGУCIOS PRIVADOS, FALTA ORGANIZAΗГO PROPНCIA 
PARA SEU DESENVOLVIMENTO NATURAL. 

O desenvolvimento industrial  tem por corolбrio o aumento  dos negу­


cios, administraзгo privada e comйrcio. Nada, nesse domнnio, foi  seria­
mente medido e previsto. Й preciso comprar e vender, estabelecer con­
tatos entre a fбbrica  ou a oficina,  o fornecedor  e o cliente. Estas tran­
saзхes precisam de escritуrios. Esses escritуrios sгo locais  que reque­
rem uma instalaзгo especнfica,  delicada, indispensбvel ao  andamento 
dos negуcios. Tais equipamentos,  quando  isolados,  sгo caros.  Tudo 
aconselha um agrupamento, que asseguraria a cada um deles as melho­
res condiзхes de funcionamento:  circulaзгo fбcil,  comunicaзхes fбceis 
com o exterior, iluminaзгo, silкncio, boa qualidade do ar,  instalaзхes 
de aquecimento e de refrigeraзгo,  centros postai e telefфnico,  rбdio etc. 
AS DISTΒNCIAS ENTRE OS LOCAIS DE TRABALHO E 
OS LOCAIS  DE  HABITAΗГO  DEVEM  SER  REDUZI­
É PRECISO EXIGIR DAS AO MНNIMO. 

Isso supхe uma nova distribuiзгo, conforme  um piano cuidadosamente 
elaborado, de todos os lugares destinados ao trabalho. A concentraзгo 
das indъstrias em anas  em torno das grandes cidades pфde ser,  para 
certas empresas, uma fonte  de prosperidade,  mas й preciso denunciar 
as deplorбveis condiзхes  de vida que disso resultaram  para  a  massa. 
Essa  disposiзгo arbitrбria  criou  uma  promiscuidade  insuportбvel. A 
duraзгo das idas e vindas nгo tem relaзгo com a trajetуria cotidiana do sol. As indъstrias devem ser transferidas para locais de pas agem das matйris­primas, ao longo das grandes vias fluvias, terres
reas.  Um lugar de passagem й um elemento linear. As cidades industriais, ao invйs de se

triais, ao invés de serem concęntricas, tornar-se-ão portanto lineares.

OS SETORES  INDUSTRIAIS  DEVEM  SER  INDEPEN­

47 DENTES DOS SETORES HABITACIONAIS E SEPARA­
DOS UNS DOS OUTROS POR  UMA ZONA DE VEGE­
TAΗГO. 

A cidade industrial se estenderб ao longo do canal, estrada  on via  fйr­


rea ou, melhor ainda, dessas tres vias conjugadas. Tornando­se linear 
e  nгo  mais anelar,  ela  poderб  alinhar, 
ŕ medida  de seu desenvolvimento, seu prуprio setor hab
rida desde entгo em pleno campo, estarб completamente protegida dos  apropriadas. Ele emana diretamente do potencial acumulado nos cen­
tros urbanos. O artesanato de livros, bijuterias,  costura  ou  moda en­
ruнdos  e das poeiras, mantendo­se a uma proximidade que suprimirб os longos trajetos diбrios. Ela voltarб a ser um organismo familiar  normal. 
contra na concentraзгo intelectual da cidade a excitaзгo criadora que 
As "condiзхes naturais" assim reencontradas contribuirгo para fazer  lhe  й necessбria.  Sгo atividades essencialmente  urbanas  e,  portanto, 
cessar o nomadismo das populaзхes operбrias. Trиs tipos de habitaзгo  os locais de trabalho poderгo ficar  situados nos pontos mais intensos da 
estarгo disponнveis para escolha dos habitantes: a casa  individual  da  cidade.  ї 
cidade­jardim, a casa individual acoplada a uma pequena exploraзгo 
rural e, enfim,  o imуvel coletivo provido de todos os serviзos necessбrios 
50  AO CENTRO DE NEGУCIOS, CONSAGRADO Ŕ ADMI­
ao bem­estar de seus ocupantes.  NISTRAΗГO PRIVADA  OU PÚBLICA,  DEVE SER GA­
RANTIDA  BOA  COMUNICAΗГO,  TANTO  COM  OS 
BAIRROS HABITACIONAIS QUANTO COM AS INDÚS­
TRIAS OU  OS  ARTESANATOS  INSTALADOS  NA CIDADE  OU 
48  AS ZONAS INDUSTRIAIS DEVEM SER CONTНGUAS Ŕ  EM SUAS PROXIMIDADES. 
ESTRADA DE FERRO, AO CANAL E Ŕ RODOVIA. 
Os negуcios assumiram uma importвncia tгo grande que a escolha da 
A velocidade inteiramente nova dos transportes mecбnicos, utilizando 
localizaзгo que lhes serб reservada exigй um estudo muito particular. 
a rodovia, a ferrovia,  o rio ou o canal, exige a criaзгo de novas vias ou  O centro de negуcios deve encontrar­se na confluкncia  das vias de cir­
a transformaзгo  daquelas jб existentes. Й um programa de coordena­ culaзгo que sorvem ao mesmo tempo os setores de habitaзгo, os seto­
згo que deve levar em conta a nova distribuiзгo dos estabelecimentos  res da  indъstria  e do artesanato,  as  administraзхes  pъblicas,  alguns 
industriais e das moradias operбrias que os acompanham.  hotйis e diversas estaзхes (estaзхes ferroviбria,  rodoviбria,  marнtima, 
aйrea). 
49  O  ARTESANATO,  INTIMAMENTE  LIGADO  Ŕ  VIDA 
URBANA,  DA  QUAL  PROCEDE  DIRETAMENTE, 
DEVE  PODER  OCUPAR LOCAIS CLARAMENTE  DE­
SIGNADOS NO INTERIOR DA CIDADE. 

O artesanato, por sua natureza, difere  da indъstria e requer disposiзхes 
CIRCULAΗГO 
51  A REDE ATUAL DAS VIAS URBANAS Й UM CONJUN­
OBSERVAÇХES TO  DE  RAMIFICAΗХES  DESENVOLVIDAS  EM  TOR­
NO DAS GRANDES VIAS DE COMUNICAΗГO. NA EU­
ROPA, ESSAS ÚLTIMAS REMONTAM  A UM  TEMPO 
BEM ANTERIOR Ŕ IDADE MЙDIA, OU ŔS VEZES ATЙ MESMO 
Ŕ ANTIGÜIDADE. 

Certas cidades militares ou de colonizaзгo beneficiaram­se  em seu nas­
cimento, de um plano deliberado. Primeiro foi  traзada  uma  muralha 
de forma  regular, nesta muralha terminavam as grandes vias de comu­
nicaзгo. A disposiзгo interna tinha uma ъtil regularidade. Outras ci­
dades, mais numerosas, nasceram na intersecзгo de duas grandes rotas 
que atravessam a regiгo ou no ponto de cruzamento de vбrios caminhos 
radiais  que partiam de um centro comum. Essas vias de comunicaзгo 
estгo intimamente ligadas ŕ topografia  da regiгo, que freqьentemente 
lhes impхe um  traзado  sinuoso.  As primeiras  casas  se  instalaram  ŕ 
beira delas; assim tiveram origem as ruas principais a partir das quais 
vieram  ramificar­se,  no  decorrer  do crescimento  da  cidade,  artйrias 
secundбrias cada vez mais numerosas. As vias principais sempre foram 
filhas  da geografia;  multas delas puderam ser corrigidas ou retificadas, 
mas sempre conservarгo sua determinaзгo fundamental. 
52  AS  GRANDES VIAS DE COMUNICAΗГO FORAM CON­
CEBIDAS PARA RECEBER PEDESTRES OU  COCHES;  INADEQUADO, SE OPХE Ŕ UTILIZAΗГO DAS NOVAS 
HOJE  ELAS  NГO  CORRESPONDEM  AOS  MEIOS  DE  VELOCIDADES  MECΒNICAS  E  Ŕ EXPANSГO  REGU­
TRANSPORTE  MECΒNICOS.  LAR DA CIDADE. 

As cidades antigas eram, por razхes de seguranзa, cercadas por mura­ O  problema  й criado pela impossibilidade  de conciliar  as  velocidades 


lhas.  Nгo podiam  portanto  estender­se proporcionalmente  ao  cresci­ naturais, do pedestre ou do cavalo, com as velocidades mecвnicas dos 
mento de sua populaзгo. Era preciso agir com economia para  fazer  o  automуveis, bondes, caminhхes ou фnibus. Sua mistura й fonte  de mil 
terreno  render  o mбximo de superfнcie  habitбvel.  К  isso  que  explica  conflitos.  O pedestre circula em uma inseguranзa perpйtua,  enquanto 
sua disposiзгo em ruas e ruelas estreitas que permitiam servir ao maior  os veнculos mecвnicos, obrigados a frear  com freqькncia,  ficam  parali­
nъmero possнvel de portas de habitaзгo. Alйm disso, essa organizaзгo  sados, o que nгo os impede de serem um perigo permanente de morte. 
das cidades teve como conseqькncia  o sistema  de blocos edifi cados a 
prumo  sobre a  rua,  de onde eles recebiam  luz,  e  perfurados,   com  a  mesma finalidade,  por pбtios internos. Mais tarde,  quando  as  mura­
lhas fortificadas  foram  sendo  afastadas,  ruas  e  ruelas  foram  prolon­
gadas  em  avenidas  e  bulevares  para  alйm  do  primeiro  nъcleo,  que 
conservava sua  estrutura  primitiva. Esse sistema  de  construзгo,  que 
nгo corresponde mais, hб muito tempo, a nenhuma necessidade, tem  RUAS SГO MUITO PEQUENAS. 
ainda hoje forзa  de lei. Й sempre o bloco edificado,  subproduto direto 
da  rede viбria.  Suas fachadas  dгo para ruas  ou para pбtios  internos  Para  atingir  sua  marcha  normal, os veнculos mecвnicos  precisam  do 
mais ou menos estreitos. A rede circulatуria que o contйm tem  dimen­ arranque e da aceleraзгo gradual. A freada  nгo pode  intervir  brutal­
sхes e intersecзхes  mъltiplas.  Prevista para  outros tempos,  essa  rede  mente sem causar um desgaste rбpido de seus principais уrgгos. De­
nгo pфde adaptar­se ŕs novas velocidades dos veнculos mecвnicos.  ver­se­ia, portanto, prever uma unidade de extensгo  razoбvel entre o 
local do arranque e aquele onde a freada  torna­se necessбria. Os cru­
zamentos das ruas atuais, situados a 100, 50, 20, ou mesmo 10 metros 
de distвncia uns dos outros, nгo convкm ŕ boa progressгo dos veнculos 
mecвnicos. Espaзos de 200 a 400 metros deveriam separб­los. 
A  LARGURA  DAS RUAS Й INSUFICIENTE. PROCU­ siderar seu estado presente e procurar soluзхes que respondam de fato 

55 RAR ALARGБ­LAS Й QUASE SEMPRE  UMA  OPERA­


ΗГO ONEROSA E, ALЙM DISSO, INOPERANTE. 

Nгo hб uma largura­tipo uniforme  para as ruas. Tudo depende de seu 
a necessidades estritamente definidas. 

OBJETIVOS REPRESENTATIVOS, PUDERAM  OU PO­
trбfego,  em nъmero e natureza dos veнculos. As antigas vias principais,  DEM  CONSTITUIR  PESADOS  ENTRAVES  Ŕ  CIRCU­
impostas desde o inicio da  cidade pela topografia  e pela  geografia,  e  LAΗГO. 
que formam  o tronco da inumerбvel ramificaзгo  de ruas, conservaram 
quase sempre um trбfego  intenso. Elas sгo geralmente muito estreitas,  Aquilo que era  admissнvel e atй  mesmo admirбvel  no tempo  dos pe­
mas seu  alargamento nгo  й sempre uma  soluзгo  fбcil  e  nem  sequer  destres e dos coches pode ter­se  tornado,  atualmente,  uma  fonte  de 
eficaz.  Й preciso que o problema  seja  retomado  bem  mais  de  cima.  problemas constantes. Certas avenidas concebidas para assegurar uma 
perspectiva monumental, coroada por um monumento ou um edifнcio 
DIANTE  DAS  VELOCIDADES  MECΒNICAS  O  QUA­ sгo, no presente, uma causa de engarrafamento,  de atraso, e, ŕs vezes, 

56 DRO DAS RUAS APRESENTA­SE IRRACIONAL,  FAL­
TANDO PRECISГO, FLEXIBILIDADE,  DIVERSIDADE 
E ADEQUAΗГO. 
de perigo. Essas composiзхes de ordem arquitetфnica deveriam ser pre­
servadas da invasгo de veнculos mecanicos,  para  os quais nгo foram 
feitas  e ŕ cuja velocidade nunca poderгo ser  adaptadas.  A circulaзгo 
tornou­se hoje uma funзгo  primordial da  vida urbana.  Ela pede um 
A circulaзгo moderna  й  uma operaзгo das mais  complexas.  As vias  programa  cuidadosamente estudado,  que saiba  prever  tudo  o  que  й 
destinadas a mъltiplos usos devem permitir, ao mesmo tempo: aos au­ preciso para regularizar os fluxos,  criar os escoadouros indispensбveis 
tomуveis, ir de um extremo a outro; aos pedestres, ir de um extremo a  e chegar assim a suprimir os engarrafamentos  e o mal­estar constante 
outro; aos фnibus e bondes, percorrer itinerбrios prescritos; aos cami­ dos quais sгo a causa. 
nhхes, ir dos centros de abastecimento a locais de distribuiзгo infini­
tamente variados; a determinados veнculos, atravessar a cidade em sim­
ples transito. Cada uma dessas atividades exigiria uma pista particular, 
condicionada para satisfazer  necessidades claramente  caracterizadas. 
Й, portanto, preciso dedicar­se a um estudo profundo  da questгo, con­
58  EM INÚMEROS CASOS, A REDE DAS VIAS FЙRREAS 
TORNOU­SE, POR OCASIГO DA EXTENSГO DA CI­ 
DADE, UM GRAVE OBSTБCULO Ŕ URBANIZAΗГO. 
ELA ISOLA OS BAIRROS HABITACIONAIS, PRIVAN­
DO­OS DE CONTATOS ÚTEIS COM OS ELEMENTOS VITAIS DA 
CIDADE. 
Tambйm aqui o tempo andou muito depressa.  As estradas de  ferro 
foram   construнdas antes da prodigiosa expansгo industrial que  elas 
mesmas provocaram. Penetrando nas cidades, elas seccionam arbitra­ 
riamente  zonas inteiras. A estrada de ferro  й uma via que nгo se atra­
vessa; ela isola uns dos outros setores que, tendo­se coberto pouco a 
pouco de habitaзхes, viram­se privados de contatos para eles indispen­
sбveis. Em certas cidades, a situaзгo й grave para a economia geral 
e o urbanismo й chamado para considerar o remanejamento e o deslo­
camento de certas redes, de modo a fazк­las   i n s e r i r ­ s e na harmonia de 
um plano geral. 

I
É PRECISO EXIGIR EM  ESTATНSTICAS  RIGOROSAS  DO  CONJUNTO  DA 
CIRCULAΗГO  NA CIDADE  E  SUA REGIГO, TRABA­
LHO  QUE  REVELARБ  OS LEITOS DE  CIRCULAΗГO 
E A QUALIDADE DE SEUS TRБFEGOS. 

A circulaзгo й uma funзгo  vital сuj о  estado presente deve ser expresso 


em  grбficos.  As causas  determinantes  e os efeitos  de  suas diferentes 
intensidades aparecerгo entгo claramente e serб mais fбcil  discernir os 
pontos crнticos. Somente uma visгo clara da situaзгo permitirб realizar 
dois progressos indispensбveis: dar a cada uma das vias de  circulaзгo uma  des
automуveis, seja as cargas  pesadas  ou  os  veнculos  em  trвnsito;  dar 
depois  a  essas vias, de acordo com  a  funзгo  para  a  qual  elas  forem 
destinadas, dimensхes e caracterнsticas especiais: natureza do leito, lar­
gura  da  calзada,  locais  e  natureza  dos  cruzamentos  ou  das  interli­
gaзхes. 

DAS CONFORME SUA NATUREZA,  E CONSTRUНDAS 
EM  FUNΗГO  DOS  VEНCULOS  E  DE  SUAS  VELOCI­
DADES. 

A rua  ъnica,  legada pelos sйculos,  recebia outrora  pedestres  e  cava­


leiros misturados, e sу no final  do sйculo XVIII o emprego generalizado 
de coches provocou a criaзгo  das  calзadas.  No sйculo  XX,  abateu­se 
como um cataclisma a massa de veнculos mecвnicos — bicicletas, moto­
cicletas, automуveis, caminhхes, bondes — com suas velocidades ines­
peradas.  O  crescimento  fulminante  de algumas  cidades  como  Nova  DIVERSOS DOS DO AUTOMУVEL. 
York,  por exemplo,  provocou  um fluxo  inimaginбvel  de  veнculos em 
certos pontos determinados. Jб й bem tempo de remediar, por meio de  Isso constituiria uma reforma  fundamental  da circulaзгo nas cidades. 
medidas apropriadas,  uma  situaзгo  que caminha  para  o  desastre. A  Nгo haveria nada mais sensato nem que abrisse uma era de urbanismo 
primeira medida ъtil seria separar radicalmente,  nas artйrias conges­ mais nova e mais fйrtil.  Essa exigкncia concernente ŕ circulaзгo pode ser 
tionadas, o caminho dos pedestres daquele dos veнculos mecвnicos. A  considerada tгo rigorosa quanto aquela que, no domнnio da habitaзгo, condena toda orientaзгo 
segunda, dar бs cargas pesadas um leito de circulaзгo particular. A ter­
ceira, considerar, para  a grande circulaзгo,  vias de trвnsito  indepen­
dentes das vias usuais destinadas somente ŕ circulaзгo miъda.  |  63  AS RUAS DEVEM SER DIFERENCIADAS DE ACORDO 
COM  SUAS  DESTINAΗХES:  RUAS  RESIDENCIAIS, 
OS CRUZAMENTOS DE TRŔFEGO INTENSO SERГO  RUAS DE PASSEIO, RUAS DE TRΒNSITO, VIAS PRIN­
ORGANIZADOS EM CIRCULAΗГO CONTНNUA  POR  CIPAIS. 
61 MEIO DE MUDANΗAS DE NНVEIS. 
As ruas, ao  invйs de serem entregues a tudo e  a  todos, deverгo, con­
Os veнculos em trвnsito nгo deveriam «cr submetidos ao regime de pa­ forme  sua categoria, ter regimes diferentes.  As ruas residenciais e as 
radas obrigatуrias a cada cruzamento, que torna inutilmente lento seu  бreas destinadas aos usos coletivos exigem uma  atmosfera  particular. 
percurso.  Mudanзas  de nнvel, em cada via transversal,  sгo o melhor  Para  permitir  ŕs  moradias  e  a  seus  "prolongamentos"  usufruir  da 
meio de assegurar­lhes uma marcha contнnua. Nas grandes vias de cir­ calma e da paz que lhes sгo necessбrias,  os veнculos mecвnicos serгo 
culaзгo e а  distвncias calculadas para obter o melhor rendimento, se­ canalizados para circuitos especiais. As avenidas de trвnsito nгo terгo 
rгo estabelecidas Interligaзхes unindo­as бs vias destinadas  ŕ  circula­ nenhum contato com as ruas de circulaзгo miъda, salvo nos pontos de 
згo miъda.  interligaзгo. As grandes vias principais, que estгo relacionadas a todo 
o conjunto da regiгo, afirmarгo  naturalmente sua prioridade. Mas se­
rгo tambйm  levadas em consideraзгo as ruas de  passeio,  nas  quais, 
sendo rigorosamente imposta uma velocidade reduzida a todos os tipos 
de veнculos,  a  mistura  destes com os pedestres  nгo  oferecerб  mais 
inconvenientes. 

64 
PRINCНPIO, OS LEITOS DE GRANDE CIRCULAΗГO. 
Sendo as vias de trвnsito ou de grande circulaзгo bem diferenciadas 
das vias de circulaзгo miъda, nгo terгo nenhuma razгo para se apro­
ximarem das construзхes pъblicas ou privadas. Serб bom que elas se­
jam ladeadas por espessas cortinas de vegetaзгo. 
PATRIMÔNIO
HISTÓRICO
DAS CIDADES
VAGUARDADOS (EDIFНCIOS ISOLADOS OU CONJUN­ lesados pela persistкncia de determinadas presenзas insignes, majesto­
TOS URBANOS). 
ciliar  dois pontos de vista opostos: nos casos em que 
A vida de uma cidade й um acontecimento continuo que se manifesta  construзхes repetidas em numerosos  exemplares, algumas serгo con­
ao longo dos sйculos por obras materiais, traзados ou construзхes que  servadas a tнtulo de documentбrio, as outras demolidas; em outros ca­
dotam­na  de sua personalidade  prуpria  e  dos  quais  emana  pouco  a  sos poderб ser isolada uma ъnica parte que constitua uma lembranзa 
pouco a sua alma. Sгo testemunhos preciosos do  passado  que  serгo  ou um valor real; o resto serб modificado  de maneira ъtil. Enfim,  em 
respeitados, a princнpio por seu valor histуrico ou sentimental, depois,  certos casos excepcionais, poderб ser aventada a transplantaзгo de ele­
porque alguns trazem em si uma virtude plбstica na qual se incorporou  mentos incфmodos por sua situaзгo, mas que merecem ser conservados 
o mais alto grau de intensidade do gкnio humano. Eles fazem  parte do  por seu alto significado  estйtico ou histуrico. 
patrimфnio humano, e aqueles que os detкm  ou  sao encarregados  de 
sua proteзгo, tкm а responsabilidade e a obrigaзгo de fazer  tudo o que 
й licito para transmitir intacta, para os sйculos futuros,  essa nobre he­
ranзa.  67  SE SUA CONSERVAΗГO NГO ACARRETA O SACRI­
FНCIO  DE POPULAΗХES MANTIDAS EM CONDIΗХES 
INSALUBRES... 

REM EXPRESSГO  DE UMA CULTURA  ANTERIOR  E  i 


SE CORRESPONDEREM  A UM INTERESSE  GERAL...  Um culto estrito do passado nгo pode levar a desconhecer as regras da 
justiзa social. Espнritos mais ciosos do estetismo do que da solidarie­
dade militam a favor  da conservaзгo de certos velhos bairros pitores­
A morte, que nгo poupa nenhum ser vivo, atinge tambйm as obras dos 
cos, sem se preocupar com a misйria, a promiscuidade e as doenзas que 
homens. Ј necessбrio saber reconhecer e discriminar nos testemunhos  estes  abrigam.  Й  assumir  uma  grave responsabilidade.  O  problema 
do passado aquelas que ainda estгo bem vivas.  Nem tudo que й pas­ deve ser estudado e pode ŕs vezes ser eliminado por uma soluзгo enge­
sado  tem,  por definiзгo,  direito ŕ  perenidade;  convйm  escolher  com  nhosa; mas, em nenhum caso, o culto do pitoresco da histуria deve ter 
n  nue  deve ser  respeitado.  Se os  interesses  da  cidade  sгo  primazia sobre a salubridade da moradia da qual dependem tгo estrei­ 
tamente o bem­estar e a saъde moral do indivнduo. 
68...  SE  FOR  POSSНVEL  REMEDIAR  SUA  PRESENΗA 
PREJUDICIAL  COM  MEDIDAS  RADICAIS:  POR  se­б a situaзгo para introduzir superfнcies  verdes. Os vestнgios do pas­
EXEMPLO,  O  DESVIO  DE  ELEMENTOS  VITAIS  DE  sado  mergulharгo  em  uma  ambiкncia  nova,  inesperada  talvez,  mas 
CIRCULAΗГO  OU  MESMO  O  DESLOCAMENTO  DE  certamente tolerбvel, e da  qual,  em  todo  caso,  os bairros  vizinhos se 
CENTROS CONSIDERADOS ATЙ ENTГO IMUTБVEIS.  beneficiarгo  amplamente. 

O crescimento excepcional de uma cidade pode criar uma situaзгo peri­ 70 
O  EMPREGO  DE  ESTILOS  DO  PASSADO,  SOB  PRE­ 
gosa, levando a um impasse do qual sу se sairб mediante alguns sacri­ TEXTOS  ESTЙTICOS,  NAS  CONSTRUΗХES  NOVAS 
fнcios.  O obstбculo sу poderб  ser suprimido  pela  demoliзгo.  Porйm,  ERIGIDAS  NAS  ZONAS  HISTУRICAS,  TEM CONSE­
quando esta medida acarreta a destruiзгo de verdadeiros valores arqui­ QÜКNCIAS  NEFASTAS.  A  MANUTENΗГO  DE  TAIS 
tetфnicos,  histуricos ou  espirituais,  mais  vale,  sem  dъvida,  procurar  USOS OU A INTRODUΗГO DE TAIS INICIATIVAS NГO SERГO 
uma outra soluзгo. Ao invйs de suprimir o obstбculo  ŕ circulaзгo, des­ TOLERADAS DE FORMA ALGUMA. 
viar­se­б a prуpria circulaзгo  ou,  se as condiзхes o permitem,  se lhe 
imporб uma passagem sob um tъnel. Enfim,  pode­se tambйm deslocar  Tais mйtodos sгo contrбrios ŕ grande liзгo da histуria. Nunca foi  cons­
um centro de atividade intensa e, transplantando­o para  outra  parte,  tatado  um  retrocesso,  nunca o  homem  voltou  sobre  seus  passos.  As 
mudar  inteiramente  o  regime  circulatуrio  da  zona  congestionada.  obras­primas do passado nos mostram que cada geraзгo teve sua maneira de pensar, suas concepзхes, sua estйtica, recor endo, como trampolim ŕ sua imaginaзгo, ŕ to alidade dos recursos tйcnicos da sua йpoca. Copiar servilmente o p
A imaginaзгo,  a invenзгo e os recursos  tйcnicos  devem  combinar­se 
para chegar a desfazer  os nуs que parecem mais inextrincбveis. 
"falso"  como princнpio, pois as antigas condiзхes de trabalho nгo po­
NUMENTOS  HISTORICOS  DARБ  A  OCASIГO  PARA  deriam ser reconstituнdas e a aplicaзгo da tйcnica moderna a um ideal 
CRIAR SUPERFНCIES VERDES.  ultrapassado sempre leva a um simulacro  d e s p r o v i d o de qualquer vida. 
Misturando o "falso"  ao "verdadeiro", longe de se alcanзar uma im­
Й possнvel que, em certos casos, a demoliзгo de casas insalubres e de  pressгo de conjunto e dar а  sensaзгo de pureza de estilo, chega­se so­
cortiзos ao redor de algum monumento de valor histуrico destrua uma  mente a uma reconstituiзгo factнcia,  capaz apenas de desacreditar  os 
ambiкncia secular. Й uma coisa lamentбvel mas inevitбvel. Aproveitar­ testemunhos autкnticos que mais se tinha empenho em preservar. 

CONCLUSХES 

TERCEIRA PARTE
PONTOS
DE DOUTRINA
ESTA  SITUAΗГO  REVELA,  DESDE  O  COMEΗO  DA 
71  АMAIORIA DAS CIDADES ESTUDADAS OFERECE
HOJE A IMAGEM DO CAOS: ESSAS CIDADES  NГO 
CORRESPONDEM  DE MODO ALGUM Ŕ SUA DESTI­
NAΗГO,  QUE  SERIA  SATISFAZER  AS NECESSIDA­
72 ERA  DO  MAQUINISMO,  O  CRESCIMENTO  INCES­
SANTE DOS INTERESSES PRIVADOS. 

A base desse lamentбvel estado de coisas estб na preeminкncia das ini­
DES PRIMORDIAIS,  BIOLУGICAS E  PSICOLУGICAS,  DE SUA  ciativas privadas  inspiradas  pelo interesse  pessoal  e  pelo  atrativo  do 
POPULAΗГO.  ganho. Nenhuma autoridade consciente da  natureza e da  importвncia 
do movimento do maquinismo interveio atй o presente  para  evitar os 
As cidades analisadas por ocasiгo do congresso de Atenas, por diligкn­ danos pelos quais ninguйm pode ser efetivamente  responsabilizado. As 
cia dos grupos  nacionais dos "Congressos Internacionais  de Arquite­ empresas estiveram, durante cem anos, entregues ao acaso. A constru­
tura Moderna" foram  trinta e trкs: Amsterdг,  Atenas, Bruxelas, Bal­ згo de habitaзхes ou de fбbricas,  a organizaзгo das rodovias, hidrovias 
timore, Bandoeng, Budapeste, Berlim, Barcelona, Charleroi,  Colфnia,  ou ferrovias,  tudo se multiplicou  numa pressa  e numa  violкncia  indi­
Como,  Dalat,  Detroit,  Dessau,  Frankfurt,  Genebra,  Gкnova,  Haia,  vidual da qual estavam excluнdos qualquer plano preconcebido e qual­
Los Angeles, Litoria, Londres, Madri, Oslo, Paris, Praga,  Roma, Ro­ quer reflexгo  prйvia. Hoje, o mal estб feito.  As cidades sгo desumanas, 
terdг, Estocolmo, Utrecht, Verona, Varsуvia, Zagreb e Zurique. Elas  e da  ferocidade  de alguns interesses privados nasceu a infelicidade  de inъmeras pessoas. 
ilustram a histуria da raзa branca nos mais diversos climas e latitudes. 
Todas  testemunham  o mesmo fenфmeno:  a desordem  instituнda  pelo 
maquinismo em uma situaзгo que comportava atй entгo uma relativa  73  A  VIOLКNCIA  DOS  INTERESSES  PRIVADOS PRO­
harmonia; e tambйm a ausкncia de qualquer esforзo  sйrio de adapta­ VOCA UM DESASTROSO DESEQUILIBRIO  ENTRE O 

moralfoi salvaguardado
згo. Em todas essas cidades o homem й molestado. Tudo que o cerca, 
sufoca­o  e esmaga­o.  Nada  do que й necessбrio ŕ sua  saъde  fнsica  e 
 ou  organizado.  Uma  crise  de  humanidade 
assola as grandes cidades e repercute em toda a extensгo dos territуrios. 
A cidade nгo corresponde mais ŕ sua funзгo,  que й a de abrigar os 
НMPETO DAS FORΗAS ECONФMICAS, DE UM LADO, 
E, DE OUTRO, A FRAQUEZA DO CONTROLE ADMI­
NISTRATIVO E A IMPOTENTE SOLIDARIEDADE SOCIAL. 

O sentimento de responsabilidade administrativa e o da  solidariedade 
homens, e abrigб­los  bem.  social sгo derrotados diariamente pela forзa  viva e sem cessar renovada 
do interesse privado. Essas diversas fontes  de energia estгo em perpй­ A CIDADE DEVE ASSEGURAR, NOS PLANOS ESPIRI­
tua contradiзгo, e quando uma ataca, a outra se defende.  Nessa luta, 
infelizmente  desigual,  o  interesse  privado  triunfa  o  mais  das  vezes, 
assegurando o sucesso dos mais fortes  em detrimento dos fracos.  Mas, 
do prуprio excesso do mal ŕs vezes advйm o bem; e a imensa desordem 
75 TUAL E MATERIAL, A LIBERDADE INDIVIDUAL E O 
BENEFНCIO DA AΗГO COLETIVA. 

Liberdade individual e aзгo coletiva sгo os dois pуlos entre os quais se 
material e moral da cidade moderna terб talvez como resultado fazer  desenrola o jogo da vida. Todo empreendimento cujo objetivo й a me­
surgir enfim  o estatuto da cidade que, apoiado em uma forte  respon­ lhoria  do destino humano deve levar em consideraзгo esses dois fato­
sabilidade administrativa, instaurarб as regras indispensбveis  ŕ prote­ res. Se ele nгo chega a satisfazer  suas exigкncias, freqьentemente  con­
згo da saъde e da dignidade humanas.  traditуrias, ele se condena a um inevitбvel fracasso.  Й impossнvel, em 
todo caso, coordenб­los de maneira  harmoniosa  se nгo  se elabora  de 
EMBORA  AS  CIDADES  ESTEJAM  EM  ESTADO  DE  antemгo um programa cuidadosamente estudado e que nada deixe ao 

74 PERMANENTE TRANSFORMAΗГO, SEU DESENVOL­
VIMENTO Й CONDUZIDO SEM PRECISГO NEM CON­
TROLE, E SEM QUE SEJAM LEVADOS EM CONSIDE­
acaso. 

O  DIMENSIONAMENTO  DE  TODAS  AS  COISAS  NO 


RAΗГO OS PRINCНPIOS  DO URBANISMO  CONTEMPORΒNEO 
ATUALIZADOS NOS MEIOS TЙCNICOS QUALIFICADOS. 

Os princнpios do urbanismo moderno foram  produzidos pelo trabalho 
76 DISPOSITIVO URBANO SУ PODE SER REGIDO PELA 
ESCALA HUMANA. 

A medida natural do homem deve servir de base a todas as escalas que 
de inъmeros tйcnicos: tйcnicos da arte de construir, tйcnicos de saъde,  estarгo  relacionadas ŕ  vida e ŕs diversas  funзхes  do  ser.  Escala  das 
tйcnicos  da  organizaзгo  social.  Eles foram  objeto de  artigos, livros,  medidas  que se aplicarгo ŕs  superficies  ou  ŕs  distancias,  escala  das 
congressos, debates pъblicos ou privados. Mas й preciso fazer  com que  distancias que serгo consideradas em sua relaзгo com o ritmo natural 
sejam  admitidos  pelos уrgгos  administrativos  encarregados  de  velar  do homem, escala dos horбrios que devem  ser  determinada  conside­
pelo destino das cidades e que nгo raro sгo hostis ŕs grandes transfor­ rando­se o trajeto cotidiano do sol. 
maзхes propostas por esses dados novos. Й necessбrio portanto que a 
autoridade seja esclarecida e, depois, que ela aja. Clarividencia e energia podem vir a restaurar a situaзгo comprometida. 
77  AS CHAVES DO  URBANISMO ESTГO  NAS  QUATRO  OS  PLANOS  DETERMINARГO  A  ESTRUTURA  DE 
FUNΗХES:  HABITAR,  TRABALHAR,  RECREAR­SE 
(NAS HORAS LIVRES), CIRCULAR. 

O urbanismo exprime a maneira  de sor de uma йpoca. Atй agora, ele 
78 CADA UM DOS SETORES ATRIBUНDOS ŔS QUATRO 
FUNΗХES­CHAVE,  E ELES FIXARГO  SUAS RESPEC­
TIVAS LOCALIZAΗХES NO CONJUNTO. 

sу atacou um ъnico problema, o da circulaзгo.  Ele se contentou em  Desde o congresso dos CIAM, em Atenas, as quatro funзхes­chave  do 


abrir avenidas ou traзar ruas, constituindo assim quarteirхes edifica­ Urbanismo exigem, para manifestar­se  em toda a sua plenitude e tra­
dos cuja destinaзгo й deixada ao acaso das iniciativas privadas. Essa й  zer ordem e classificaзгo  ŕs condiзхes. habituais de vida, trabalho e cul­
uma visгo estreita e insuficiente  da missгo que lhe estб  destinada.  O  tura, disposiзхes particulares que ofereзam,  a cada um  delas,  as con­
urbanismo  tem  quatro  funзхes  principais  que  sгo:  primeiramente, 
assegurar aos homens moradias saudбveis, isto й, locais onde o espaзo,  diзхes mais favorбveis  ao desenvolvimento de  sua atividade prуpria.  O 
o ar puro e o sol, essas trкs condiзхes essenciais da natureza, lhe sejam  aspecto das cidades, romperб a opressгo esmagadora de usos que per­
deram sua razгo de ser e abrirб aos criadores um campo de aзгo ines­
largamente asseguradas; em segundo lugar, organizar os  locais  de  trabalho,  de  tal modo que este, ao invйs de ser uma sujeiзгo penosa, re­
tome seu carбter de atividade humana natural; em terceiro lugar,  prever 
as  gotбvel. Cada uma das funзхes­chave
instalaзхes   terб sua autonomia, apoiada nos 
necessбrias  ŕ boa utilizaзгo das horas  livres,  torna
quatro funзхes,  que sгo as quatro chaves do Urbanismo, cobrem um  dados fornecidos  pelo clima, pela topografia,  pelos costumes; elas serгo considera s entida es ŕs quais erгo atribuнdos teritуros e locais 
sos recursos das tйcnicas modernas. Nessa distribuiзгo, serгo conside­
radas as necessidades vitais do individuo e  nгo o interesse ou o lucro 
de um grupo particular. O Urbanismo deve assegurar a liberdade indi­
vidual e, ao mesmo tempo, f avorecer e se apropriar dos beneficios  da 
aзгo coletiva. 
domнnio imenso, sendo o Urbanismo a conseqькncia de uma  maneira 
de pensar levada ŕ vida pъblica por uma tйcnica de aзгo. 
79  O CICLO  DAS FUNΗХES COTIDIANAS  ­  HABITAR,  cidade, trazer um ganho apreciбvel de tempo. Mas sua acumulaзгo e 
TRABALHAR,  RECREAR­SE  (RECUPERAΗГO)  ­ sua concentraзгo em certos pontos tornaram­se,  a um sу tempo, uma 
SERБ  REGULAMENTADO  PELO  URBANISMO  DEN­ dificuldade  para a circulaзгo e a ocasiгo de perigos permanentes. Alйm 
TRO  DA  MAIS  RIGOROSA  ECONOMIA  DE  TEMPO,  disso, eles introduziram na vida citadina inъmeros fatores  prejudiciais 
SENDO A HABITAΗГO CONSIDERADA O PRУPRIO CENTRO  ŕ  saъde.  Seus gases de  combustгo  difundidos  no  ar  sгo  nocivos  aos 
DAS PREOCUPAΗХES URBANНSTICAS E O PONTO DE UNIГO  pulmхes e seu barulho determina no homem um estado de nervosismo 
DE TODAS AS MEDIDAS.  permanente. Essas velocidades, doravante utilizбveis, despertam a ten­
taзгo de evasгo cotidiana,  para longe, na natureza, difundem  o gosto 
O desejo de reintroduzir na vida cotidiana as "condiзхes naturais" pa­ por uma mobilidade sem freio  nem medida e favorecem  modos de vida 
que,  deslocando  a famнlia,  perturbam  profundamente  a  estabilidade 
rece, ŕ primeira vista, aconselhar uma maior extensгo  horizontal  das  da sociedade. Elas condenam os homens a passar horas cansativas em 
cidades; mas a necessidade de regulamentar as diversas atividades se­ todo tipo de veнculos e a perder, pouco a pouco, a prбtica da mais sau­
gundo a duraзгo do trajeto solar se opхe a esta concepзгo, сuj о  incon­ dбvel e natural de todas as funзхes:  a caminhada. 
veniente й impor  distвncias  que  nгo guardam  relaзгo  com  o  tempo 
disponнvel. Й а  habitaзгo que estб no centro das preocupaзхes do urba­
nista e o Jogo das distвncias serб regido de acordo com a sua posiзгo no 
plano urbano em conformidade  com a jornada solar de vinte e quatro  BANA DEVE SER REVISTO.  DEVE  SER FEITA  UMA 
horas, que ritma a atividade dos homens e dб a justa medida a todos os  CLASSIFICAΗГO  DAS  VELOCIDADES  DISPONНVEIS. 
seus empreendimentos. 
AS FUNΗХES­CHAVE DA CIDADE, CRIARБ ENTRE ELAS VНN­
80  AS  NOVAS VELOCIDADES MECΒNICAS CONVULSIO­ CULOS NATURAIS PARA CUJO ESTREITAMENTO  SERБ PRE­
NARAM O MEIO URBANO, INSTAURANDO O PERIGO  VISTA UMA REDE RACIONAL DE GRANDES ARTЙRIAS. 
PERMANENTE, PROVOCANDO O ENGARRAFAMEN­
TO  E A PARALISIA  DOS TRANSPORTES,  COMPRO­ O zoneamento, levando em consideraзгo as funзхes­chave  — habitar, 
METENDO A HIGIENE.  trabalhar,  recrear­se  — ordenarб  o  territуrio  urbano.  A circulaзгo, 
esta quarta funзгo,  sу deve ter um objetivo: estabelecer uma comuni­
Os veнculos mecвnicos deveriam ser agentes liberadores e, por sua velo­ caзгo proveitosa entre as outras trкs. Sгo inevitбveis grandes transfor ­
plo, de mudanзas de nнvel destinadas a regularizar certos fluxos  inten­
inaзхes. A cidade e sua regiгo devem ser munidas de uma  rede exata­ sos de veнculos. 
mente proporcional aos usos e aos fins,  e que constituirб a tйcnica mo­
derna da circulaзгo. Serб preciso classificar  e diferenciar  os meios de 
transporte e estabelecer para cada um deles um leito adequado  ŕ prу­ 83  A CIDADE DEVE SER ESTUDADA NO CONJUNTO DE 
pria natureza  dos veнculos utilizados.  A circulaзгo  assim  regulamen­ SUA  REGIГO  DE  INFLUКNCIA.  UM  PLANO  DE  RE­
tada torna­se uma funзгo  regular e que nгo impхe nenhum incфmodo ŕ  GIГO  SUBSTITUIRБ  O  SIMPLES  PLANO  MUNICIPAL. 
estrutura da habitaзгo ou ŕ dos locais de trabalho.  O  LIMITE  DA  AGLOMERAΗГO  SERБ  FUNΗГO  DO 
RAIO DE SUA AΗГO ECONФMICA. 
82  O  URBANISMO  Й  UMA  CIКNCIA  DE  TRКS DIMEN­
SХES E NГO APENAS DE DUAS. Й FAZENDO INTER­ Os dados de um problema de urbanismo sгo fornecidos  pelo conjunto 
VIR O ELEMENTO  ALTURA QUE SERБ  DADA  UMA  das  atividades  que  se  desenvolvem  nгo somente  na  cidade,  mas  em 
SOLUΗГO PARA AS CIRCULAΗХES MODERNAS,  AS­ toda a regiгo da qual ela й o centro. A razгo de ser da cidade deve ser 
SIM COMO PARA OS  LAZERES,  MEDIANTE  A  EXPLORAΗГO  procurada e expressada em cifras  que permitirгo prever para o futuro 
DOS ESPAΗOS LIVRES ASSIM CRIADOS.  as  etapas  de um  desenvolvimento  plausнvel.  O  mesmo  trabalho  apli­
cado  бs  aglomeraзхes secundбrias  fornecerб  uma  leitura  da  situaзгo 
As funзхes­chave  habitar, trabalhar e recrear­se desenvolvem­se no in­ geral. Poderгo ser decididas atribuiзхes, restriзхes e compensaзхes que 
terior de volumes edificados  submetidos a trкs imperiosas necessidades:  fixarгo   para  cada  cidade  envolvida  por  sua  regiгo  um  carбter  e  um 
espaзo suficiente,  sol e aeraзгo. Esses volumes nгo dependem  apenas  destino prуprios. Assim, cada uma tomarб seu lugar e sua classificaзгo   na 
do solo e de suas duas dimensхes,  mas sobretudo  de uma  terceira,  a  economia  geral do paнs. Resultarб disso uma delimitaзгo clara dos 
altura. Й levando em consideraзгo a altura  que o urbanismo  recupe­ limites da regiгo. Este й o ubanismo total, capaz de levar o equilнbrio  ŕ 
rarб os terrenos livres necessбrios ŕs comunicaзхes e os espaзos ъteis ao  provнncia e ao paнs. 
lazer. Й preciso distinguir as funзхes  sedentбrias, que se desenvolvem 
no interior de volumes — onde a terceira dimensгo desempenha o pa­
pel mais importante — das funзхes  de circulaзгo, as quais,  utilizando 
apenas duas dimensхes, estгo ligadas ao solo, para as quais a altura sу 
intervйm excepcionalmente e em pequena  escala,  no caso,  por  exem­
84  A  CIDADE,  DEFINIDA  DESDE  ENTГO  COMO  UMA  a  pouco por  etapas  sucessivas.  A  lei fixarб  o "estatuto  do solo",  do­
UNIDADE FUNCIONAL, DEVERБ CRESCER HARMO­ tando cada funзгo­chave  dos meios de melhor se exprimir, de se  insta­
NIOSAMENTE  EM  CADA UMA DE SUAS PARTES,  lar  nos  terrenos  mais favorбveis  e a  distвncias  mais  proveitosas.  Ela 
deve prever  tambйm  a  proteзгo  e  a  guarda  das  extensхes  que  serгo  DISPONDO
RГO  SE  INSCREVER  EQUILIBRADAMENTE  AS  ETAPAS  DE  ocupadas um dia.  Ela terб o direito de autorizar  — ou de proibir —, 
SEU DESENVOLVIMENTO.  ela favorecerб  todas as iniciativas adequadamente planejadas, mas ve­
larб  para  que elas se insiram  no plano geral e sejam sempre  subordi­
A cidade adquirirб  o carбter  de uma empresa  estudada  de  antemгo  nadas aos interesses coletivos que constituem o bem pъblico. 
e submetida ao rigor de um plano geral. Sбbias previsхes  terгo esbo­
зado seu futuro,  descrito seu carбter, previsto a amplitude de seus de­ 86  O PROGRAMA  DEVE  SER  ELABORADO  COM  BASE 
senvolvimentos  e  limitado  previamente  seu  excesso.  Subordinada  бs  EM ANБLISES RIGOROSAS,  FEITAS  POR ESPECIA­
necessidades  da  regiгo,  destinada  s  enquadrar  as  quatro  funзхes­ LISTAS. ELE DEVE PREVER AS ETAPAS NO  TEMPO 
chave, a cidade nгo serб mais o resultado desordenado  de  iniciativas  E NO ESPAΗO. DEVE REUNIR EM UM  ACORDO  FE­
acidentais. Seu desenvolvimento, ao invйs de produzir uma catбstrofe,  CUNDO OS RECURSOS NATURAIS DO SНTIO, A TOPOGRAFIA 
serб um coroamento. E o crescimento das cifras  de sua populaзгo  nгo  DO CONJUNTO, OS DADOS ECONФMICOS, AS NECESSIDADES 
conduzirб  mais a essa confusгo  desumana  que й um  dos flagelos  das  SOCIOLУGICAS, OS VALORES ESPIRITUAIS. 
grandes cidades. 
A obra nгo serб mais limitada ao plano precбrio do geуmetra que pro­
Й DA MAIS URGENTE NECESSIDADE QUE CADA CI­ jeta,  ao acaso dos subъrbios,  blocos de  imуveis  na  poeira  dos  lotea­

85 DADE  ESTABELEΗA  SEU  PROGRAMA,  PROMUL­


GANDO  LEIS  QUE  PERMITAM  SUA  REALIZAΗГO. 
mentos.  Ela  serб  uma  verdadeira  criaзгo  biolуgica,  compreendendo 
уrgгos claramente definidos,  capazes de desempenhar  com perfeiзгo 
suas funзхes  essenciais. Os recursos do solo serгo analisados e as limi­
taзхes ŕs quais de  obriga reconhecidas, a  ambiencia geral estudada e 
O  acaso cederб  diante  da  previsгo,  o  programa  sucederб  a  improvisaзгo.  Cada  caso serб inscrito no plano regional; os terrenos serгo me­
didos  e  atribuidos  a  diversas  atividades:  claro  ordenamento  no  em­ os valores naturais hierarquizados. Os grandes leitos de circulaзгo se­
preendimento que serб iniciado a partir de amanhг e continuado pouco  rгo confirmados  e instalados no lugar adequado,  e a natureza  de seu 
equipamento fixada  segundo o uso para  o qual eles serгo  destinados. 
Uma curva de crescimento exprimirб o futuro  econфmico previsto para 
a cidade. Regras inviolбveis assegurarгo aos habitantes o bem­estar da  casa, hб mais de um sйculo submetida  aos jogos brutais  da  especula­
moradia,  a facilidade  do  trabalho,  o emprego  feliz  das  horas  livres.  згo, deve tornar­se uma empresa humana. A casa й o nъcleo inicial do 
A alma das cidades serб animada pela clareza do plano.  urbanismo.  Ela  protege o crescimento  do homem,  abriga  as  alegrias 
e as dores de sua vida cotidiana.  Se ela deve conhecer interiormente o 
sol e ar puro,  deve, alйm  disso,  prolongar­se  no exterior  em diversas 
REFAS DO URBANISMO,  O INSTRUMENTO  DE ME­ Instalaзхes  comunitбrias.  Para  que seja mais fбcil  dotar  as  moradias 
DIDA SERБ A ESCALA HUMANA.  dos serviзos comuns destinados  a realizar  com  facilidade  o  abasteci­
mento, a  educaзгo,  a  assistкncia  mйdica ou  a  utilizaзгo dos lazeres, 
serб preciso reuni­las em "unidades habitacionais" de proporзхes ade­
A arquitetura, apуs a derrota desses ъltimos cem anos, deve ser reco­ quadas. 
locada a serviзo do homem. Ela deve deixar as pompas estйreis, debru­
зar­se sobre o indivнduo e criar para a felicidade  deste as organizaзхes 
que envolverгo, tornando­os mais fбceis,  todos os gestos de sua  vida.  89  Й  A PARTIR DESSA UNIDADE­MORADIA QUE SE ES­
Quem poderб tomar as  medidas necessбrias para levar a  bom  termo  TABELECERГO NO ESPAΗO URBANO AS RELAΗХES 
essa tarefa  senгo o arquiteto  que possui o  perfeito  conhecimento  do  ENTRE A HABITAΗГO, OS LOCAIS DE TRABALHO E 
homem, que abandonou os grafis mos ilusуrios, e que, pela justa adap­ AS  INSTALAΗХES  CONSAGRADAS  ŔS  HORAS LI­
taзгo dos meios aos fins  propostos, criarб uma ordem  que tem  em si  VRES. 
sua prуpria poesia? 
A primeira das funзхes  que deve atrair a atenзгo do urbanismo й ha­
bitar e... habitar bem. Й preciso tambйm trabalhar, e fazк­lo  em con­
HABITACIONAL (UMA MORADIA) E SUA INSERΗГO  diзхes que requerem uma sйria revisгo dos usos atualmente em vigor. 
NUM GRUPO FORMANDO UMA  UNIDADE  HABITA­ Os escritуrios, as oficinas,  as fбbricas  devem ser dotados de instalaзхes 
CIONAL DE PROPORΗХES ADEQUADAS.  capazes de assegurar o bem­estar necessбrio ao desempenho desta se­
gunda  funзгo.  Enfim,  nгo se pode negligenciar  a  terceira,  que й re­
Se a  cйlula  й o elemento  biolуgico primordial,  a  casa,  quer  dizer,  o  crear­se, cultivar o corpo e o espнrito. E o urbanista  deverб  prever os 
abrigo de uma famнlia,  constitui  a cйlula social.  A  construзгo  dessa  sнtios e os locais propнcios. 
90  PARA  REALIZAR  ESSA  GRANDE  TAREFA  Й  INDIS­ condiзхes  de vida,  elaboradas  e  inscritas  no  papel  dos  planos;  uma 
PENSбVEL  UTILIZAR  OS  RECURSOS  DA  TЙCNICA  populaзгo esclarecida para compreender, desejar, reclamar aquilo que 
MODERNA. ESTA, PELO CONCURSO DE SEUS ESPE­ os especialistas planejaram para ela; uma situaзгo econфmica que per­
CIALISTAS, RESPALDARБ  A  ARTE  DE  CONSTRUIR  mita empreender e prosseguires trabalhos, alguns dos quais serгo con­
COM TODAS AS GARANTIAS DA CIКNCIA E A ENRIQUECERБ  siderбveis. Pode ser, todavia, que mesmo em uma йpoca em que tudo 
COM AS INVENΗХES E OS RECURSOS DA ЙPOCA.  caiu ao nнvel mais baixo, em que as condiзхes polнticas, morais e eco­
nфmicas sгo as mais desfavorбveis,  a necessidade de construir abrigos 
А era do maquinismo introduziu tйcnicas novas, que sгo uma das cau­ decentes apareзa de repente como uma imperiosa obrigaзгo, e que ela 
sas da desordem e do transtorno reinante nas cidades. Й a ela, no en­ venha dar ao polнtico, ao social e ao econфmico o objetivo e o programa 
tanto, que й preciso pedir a soluзгo do problema. As modernas  tйcnicas  coerentes que justamente lhes faltavam. 
de construзгo instituiram novos mйtodos, trouxeram novas facilidades, 
permitiram  novas dimensхes.  Elas  abrem  verdadeiramente  um  novo 
ciclo na  historia da arquitetura.  As  novas construзхes serгo nгo so­
mente de uma amplitude, mas ainda de uma complexidade desconhe­ 
cidas  atй  aqui.  Para  realizar  a  tarefa  mъltipla  que  lhe  й  imposta,  o 
arquiteto deverб associar­se a numerosos especialistas em todas as eta­
92 E NГO  Й  AQUI  QUE  A  ARQUITETURA  INTERVIRБ 
EM ÚLTIMA INSTΒNCIA. 

A arquitetura preside os destinos da cidade. Ela ordena a estrutura da 
pas do empreendimento.  moradia, cйlula essencial do tecido urbano, cuja salubridade,  alegria, 
harmonia sгo subordinadas ŕs suas decisхes. Ela reъne as moradias em 
A MARCHA DOS ACONTECIMENTOS SERA PROFUN­ unidades habitacionais cujo кxito dependerб da justeza de seus cбlcu­

91 DAMENTE  INFLUENCIADA  PELOS  FATORES  POLН­


TICOS, SOCIAIS E ECONФMICOS... 

Nгo basta que a necessidade do "estatuto do solo" e de certos princн­
los. Ela reserva de antemгo os espaзos livres em melo aos quais se er­
guerгo os volumes edificados  em proporзхes harmoniosas. Ela organiza 
os prolongamentos da moradia, os locais de trabalho, as бreas consa­
gradas ao entretenimento. Ela estabelece a rede de circulaзгo que colo­
pios de construзгo seja admitida. Й preciso ainda, para passar da teo­ carб  em  contato as diversas  zonas.  A arquitetura  й  responsбvel  pelo 
ria aos atos,  o concurso dos  seguintes fatores:  um poder polнtico tal  bem­estar e pela beleza da cidade. Й ela que se encarrega de sua cria­
como se o deseja, clarividente, convicto, decidido a realizar as melhores  згo ou sua melhoria, e й ela que estб incumbida da escolha  e da dis­
tribuiзгo dos diferentes  elementos cuja proporзгo feliz  constituirб uma 
94  A  PERIGOSA  CONTRADIΗГO  AQUI  CONSTATADA 
obra harmoniosa e duradoura. A arquitetura й a chave de tudo. 
SUSCITA  UMA  DAS  QUESTХES  MAIS  PERIGOSAS 
DA ЙPOCA: A URGКNCIA DE REGULAMENTAR, POR 
93 A ESCALA DOS  TRABALHOS  A EMPREENDER  COM 
UM MEIO LEGAL, A DISPOSIΗГO DE TODO O SOLO 
URGКNCIA  PARA  A ORGANIZAΗГO  DAS  CIDADES, 
ÚTIL  PARA EQUILIBRAR AS NECESSIDADES VITAIS DO INDI­
DE OUTRO LADO, O ESTADO INFINITAMENTE PAR­
VНDUO  EM  PLENA HARMONIA  COM  AS NECESSIDADES  CO­
CELАD О DA PROPRIEDADE TERRITORIAL, SГO 
LETIVAS. 
DUAS REALIDADES ANTAGФNICAS. 

Devem ser empreendidos sem demora trabalhos de importвncia  capi­ Hб  anos  que  as  empresas  de  equipamento,  em  todos  os  pontos  do 
tal,  uma  vez que  todas  as cidades do mundo,  antigas  ou  modernas,  mundo, se batem contra o estatuto petrificado  da propriedade privada. 
revelam as mesmas taras advindas das mesmas causas. Mas nenhuma  O  solo — territуrio  do paнs  — deve tornar­se  disponнvel  a  qualquer 
momento ,  e por seu justo valor, avaliado antes do estudo dos projetos. 
obra fragmentбria  deve ser empreendida se ela  nгo se insere  no con­
texto da cidade e no da regiгo, tais como eles terгo sido previstos por  O solo deve ser mobilizбvel  quando se trata  do  interesse  geral.  Inъ­
um amplo estudo e um grande plano de conjunto. Este plano, forзosa­ meros inconvenientes  se abateram  sobre os povos que nгo  souberam 
mente, comportarб partes cuja realizaзгo poderб ser imediata e outras  medir  com exatidгo  a amplitude  das  transformaзхes   tйcnicas  e  suas 
cuja execuзгo deverб ser remetida para datas indeterminadas. Inъme­ formidбveis  repercussхes sobre a vida pъblica e privada. A ausкncia de 
urbanismo й a causa da anarquia que reina na organizaзгo  das cida­
ras parcelas fundiбrias  deverгo ser expropriadas e serгo objeto de tran­ des,  no equipamento  das indъstrias. Porque  se  ignoraram  certas  re­
saзхes. Entгo serб preciso temer o jogo sуrdido da especulaзгo, que tгo  gras, o campo se esvaziou, as cidades se encheram para alйm de qual­
freqьentemente  esmaga  no  berзo  os  grandes  empreendimentos  ani­ quer limite razoбvel, as concentraзхes industriais se fizeram  ao acaso, 
mados pela preocupaзгo com o bem pъblico. O problema da proprie­ as moradias operбrias tornaram­se cortiзos.  Nada  foi  previsto para  a 
dade do solo e de sua possнvel requisiзгo se coloca nas cidades, em sua  salvaguarda do homem. O resultado й catastrуfico  e й quase uniforme 
periferia,   e  se  estende  atй  a  zona  mais  ou  menos  ampla  que  constitui  em todos os paнses. Й o fruto  amargo de cem anos de maquinismo sem 
sua regiгo. 
direзгo. 
95 O  INTERESSE  PRIVADO  SERБ  SUBORDINADO  AO 
INTERESSE COLETIVO. 

Entregue a si mesmo, o homem й rapidamente esmagado pelas dificul­
dades de todo o tipo que deve superar. Pelo contrбrio, se estб subme­
tido a muitas obrigaзхes coletivas, sua personalidade resulta sufocada. 
O direito  individual e o direito coletivo devem  portanto  sustentar­se, 
reforзar­se  mutuamente e reunir tudo aquilo que comportam  de infi­
nitamente construtivo. O direito individual nгo tem relaзгo com o vul­ 
gar interesse privado. Este, que satisfaz  a  uma  minoria  condenando 
o  resto da massa social a uma vida medнocre, merece severas restriзхes. 
Ele  deve ser, em todas as partes, subordinado ao interesse coletivo, 
tendo cada indivнduo acesso ŕs alegrias fundamentais:  o bem­estar do 
lar,  а beleza da cidade.
NOTAS SOBRE OS CONGRESSOS  IN­
TERNACIONAIS  DE  ARQUI­
TETURA MODERNA 

1928. FUNDAÇĂO DOS CIAM


Em 1928 um grupo de arquitetos modernos se reunia na Suнзa, no cas­
telo de La Sarraz Vaud, graзas ŕ generosa hospitalidade  de  Madame 
Hйlиne de Mandrot.  Depois  de  ter  examinado,  a  partir  de  um  pro­
grama elaborado em Paris, o problema que colocava a arte de edificar, 
eles firmaram  um ponto de vista sуlido e decidiram reunir­se para co­
locar  a  arquitetura  diante de  suas  verdadeiras  tarefas.  Assim foram 
fundados  os  Congressos  Internacionais  de  Arquitetura  Moderna,  os 
CIAM. 

DECLARAÇĂO DE LA SARRAZ
Os arquitetos abaixo assinados, representantes dos grupos nacionais de
arquitetos modernos, afirmam sua unidade de pontos de vista sobre as
concepçőes fundamentais da arquitetura e sobre suas obrigaçőes pro-
fissionais. Eles insistem particularmente no fato de que "construir"
éumaatividade elementar do homem, ligada intimamente ΰ evolução
da vida. O destino da arquitetura é o de exprimir o espirito de uma
época. Eles afirmam hoje a necessidade de uma concepção nova da
arquitetura que satisfaça as exigęncias materiais, sentimentais e espi-
rituais da vida presente. Conscientes das perturbaзхes profundas  cau­ U  R  В A N I S M О
sadas pelo maquinismo, eles reconhecem que a transformaзгo  da estru­
tura  social  e da  ordem  econфmica  acarreta  fatalmente  uma transfor­ O urbanismo й a administraзгo  dos lugares e dos  locais  diversos  que 
maзгo correspondente do fenфmeno  arquitetфnico. Eles estгo reunidos  devem abrigar o desenvolvimento da vida material, sentimental e espi­
com a intenзгo de pesquisar a harmonizaзгo dos elementos presentes  ritual em todas as suas manifestaзхes,  individuais ou coletivas. Ele en­
no  mundo  moderno  e  de  recolocar  a  arquitetura  em  seu  verdadeiro  volve tanto as aglomeraзхes  urbanas  quanto  os agrupamentos  rurais. 
plano, que й de ordem econфmica e sociolуgica e inteiramente a serviзo  O urbanismo nгo poderia mais estar exclusivamente subordinado ŕs re­
da pessoa humana. Й assim que a arquitetura escaparб da  dominaзгo  gras de um estetismo gratuito. Por sua  essкncia,  ele й de ordem fun­
esterilizante das Academias. Firmes nesta convicзгo, eles declaram as­ cional. As trкs funзхes  fundamentais  pela  realizaзгo  das quais o  ur­
sociar­se para realizar suas aspiraзхes.  banismo deve velar sгo: 1o habitar; 2o trabalhar; 3o recrear­se.  Seus 
objetivos sгo: a) a ocupaзгo do solo; b)  a organizaзгo  da  circulaзгo; 
E C O N O M I A  G E R A L  с ) a legislaзгo. As trкs funзхes  fundamentais  acima indicadas nгo sгo 
favorecidas  pelo estado atual  das  aglomeraзхes.  As relaзхes entre os 
O equipamento de um paнs reclama a нntima vinculaзгo da arquitetura  diversos locais que lhes sгo destinados devem ser recalculadas de ma­
com a  economia geral.  A noзгo de  "rendimento",  introduzida  como  neira a determinar uma justa proporзгo entre volumes edificados  e es­
axioma da vida moderna, nгo implica absolutamente o lucro comercial  paзos livres. O problema  da  circulaзгo  e o  da  densidade  devem  ser 
mбximo, mas uma produзгo suficiente  para satisfazer  plenamente  as  reconsiderados. O parcelamento desordenado do solo, fruto  de parti­
necessidades humanas.  O verdadeiro rendimento serб o fruto  de uma  lhas, de vendas e da especulaзгo, deve ser substituнdo por uma econo­
racionalizaзгo  e de  uma  normatizaзгo  (aplicadas  com  flexibilidade  mia territorial de reagrupamento.  Este reagrupamento,  base de todo 
tanto nos projetos arquitetфnicos como nos mйtodos industriais de exe­ urbanismo capaz  de responder  бs necessidades  presentes,  assegurarб 
cuзгo). Urge que a arquitetura, ao invйs de recorrer quase que exclusi­ aos proprietбrios e ŕ comunidade a justa  distribuiзгo  das mais­valias 
vamente a  um artesanato  anкmico, sirva­se tambйm  dos imensos  re­ resultantes dos trabalhos de interesse comum. 
cursos que lhe oferece  a tйcnica industrial, mesmo quando uma tal de­
cisгo  conduza  a realizaзхes muito diferentes  daquelas  que fizeram  a 
glуria das йpocas passadas. 
A ARQUITETURA E A OPINIĂO P٠BLICA O B J E T I V O S DOS CIAM
E indispensбvel que os arquitetos exerзam uma influкncia  sobre a opi­ Os objetivos dos CIAM sгo: formular  o problema  arquitetфnico con­
niгo pъblica e a faзam  conhecer os meios e os recursos da nova arqui­ temporвneo; apresentar a idйia arquitetфnica moderna; fazer  essa idйia 
tetura. O ensino acadкmico perverteu  o gosto pъblico, e nгo raro os  penetrar nos cнrculos tйcnicos, econфmicos e sociais; zelar pela soluзгo 
problemas autкnticos da habitaзгo sequer sгo levantados. A opiniгo  do problema da arquitetura. 
pъblica estб mal informada  e os usuбrios, em geral, sу sabem formular 
muito mal seus desejos em matйria de moradia. Alйm disso, essa mora­ OS C O N G R E S S O S CIAM
dia tem estado hб muito tempo excluнda das preocupaзхes maiores do 
arquiteto. Um punhado de verdades elementares, ensinadas na escola  Desde o momento de sua fundaзгo,  os CIAM avanзaram pelo caminho 
primбria, poderia constituir  o fundamento  de uma educaзгo domйs­ das  realizaзхes  prбticas;  trabalhos  coletivos,  discussхes,  resoluзхes, 
tica. Esse ensino resultaria  na  formaзгo  de geraзхes possuidoras de  publicaзхes. Os congressos CIAM, que sempre foram  assemblйias de 
uma concepзгo saudбvel da moradia. Essas geraзхes, futura  clientela  trabalho, escolheram sucessivamente diferentes  paнses para se reunir. 
do arquiteto, seriam capazes de lhe impor a soluзгo do problema da  A cada  vez, eles provocaram, nos centros profissionais  e na  opiniгo 
habitaзгo, por tanto tempo negligenciado.  pъblica, uma agitaзгo fecunda,  uma animaзгo,  um despertar.  1928. 
1o Congresso, La Sarraz. Fundaзгo dos CIAM.  1929. 2o Congresso, 
A  A R Q U I T E T U R A  E  O  E S T A D O  Frankfurt  (Alemanha).  Estudo da  moradia  mнnima.  1930. 3o Con­
gresso, Bruxelas. Estudo do loteamento racional.  1933. 4o Congresso, 
Os arquitetos, tendo a firme  vontade de trabalhar no interesse verda­ Atenas. Anбlise de 33 cidades. Elaboraзгo da Carta  do  Urbanismo. 
deiro da sociedade moderna, consideram que as Academias, conserva­ 1937. 5o Congresso, Paris. Estudo do problema Moradia e Lazer. 1947. 
doras do passado, negligenciando o problema da moradia em beneficio  6o Congresso, Bridgwater. Reafirmaзгo  dos objetivos dos CIAM. 1949. 
de uma arquitetura puramente suntuбria, entravam o progresso social.  7o Congresso, Bйrgamo. Execuзгo da  Carta  de Atenas.  Nascimento 
Por sua apropriaзгo do ensino, elas viciam desde a origem a vocaзгo do  da  "grille"  CIAM  de  urbanismo.  1951.  8o  Congresso,  Hoddesdon. 
arquiteto e, pela quase exclusividade que tкm dos cargos do Estado,  Estudo do centro, do coraзгo das cidades.  1953. 9o Congresso, Aix­
elas  se opхem ŕ penetraзгo do novo espнrito, o ъnico que poderia vivi­ en­Provence. Estudo do habitat  humano.  1956. 10o Congresso,  Du­ 
ficar  e renovar a arte de edificar.  brovnik. Estudo do habitat humano. 
PUBLICAΗХES  DO CIAM 

1929. DIE  WOHNUNGTUR  DAS  EXISTENZ  MINIMUM.  Julius 


Hoffmann,  Stuttgart. 
1931. RATIONELLES  BEBANUNGSWECH,  Englert  y  Schlosser, 
Frankfurt. 
1937. LOGIS ET LOISIRS. L'Architecture d'aujourd'hui, Paris. 
1941. LA CHARTE  D'ATHENES,  Pion,  Paris. CAN  OUR  CITIES 
SURVIVE? University Press, Harvard. 
1948. LA GRILLE CIAM D'URBANISME. Coleзгo Ascoral, L'Archi­
tecture d'aujourd'hui, Paris. 
1951. DIX ANS D'ARCHITECTURE CONTEMPORAINE.  Girsber­
ger, Zurique. 
1952. THE HEART OF THE CITY. Lund Humphries London,  Lon­
dres. 
1954. IL CUORE DELLA CITTŔ. Ulrico Hoeph, Milгo. 
P R I M E I R A P A R T E
DA  CARTA 
SUMΑRIO
DE ATENAS 
GENERALIDADES
A CIDADE  E SUA  REGIГO  1 a 8 

S E G U N D A P A R T E

ESTADO ATUAL CRНTICO DAS CIDADES


1.  HABITAΗГO 
Observaзхes  9 a 22 
Й  preciso exigir  23 
a 29 
2.  LAZER 
Observaзхes  30 a 34 
Й  preciso exigir  35 a 40 
3.  TRABALHO 
Observaзхes  41 a 45 
Й  preciso exigir  46 a 50 
4.  CIRCULAΗГO 
Observaзхes  51 a 58 
Й  preciso exigir  54 a 64 
5.  PATRIMФNIO  HISTУRICO  65 a 70 

T E R C E I R A P A R T E

CONCLUSХES
PONTOS  DE  DOUTRINA  71 a 95 
A JORNADA SOLAR DE 2 4 HORAS
RITMAAATIVIDADE DOS HOMENS

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