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EDITORIAL

Um Orçamento
para seis meses
Paula Franco, Bastonária

A o contrário do que é tradição, o Orçamento do Es-


tado (OE) para 2022 entrou em vigor apenas no
passado dia 28 de junho. Algo de inédito no nosso regi-
É já no próximo dia 9 de julho que o convívio anual dos
contabilistas certificados decorre na Quinta da Malafaia,
no concelho de Esposende. Será o regresso a um local que
me democrático. Mas, por uma vez nos últimos dois anos já acolheu, em 2007, um evento semelhante. Desta feita,
e meio, a responsabilidade não deve ser assacada à pan- não serão 700 pessoas, mas sim mais de duas mil que estão
demia, mas sim à dissolução do Parlamento, por parte inscritas para viverem um ambiente de genuíno arraial
do Presidente da República, que precipitou a queda do minhoto. As inscrições estão esgotadas o que nos per-
governo e a convocação de eleições antecipadas para mite dizer que o número de participantes praticamen-
30 de janeiro. Quase seis meses depois do previsto o te duplica face ao último Encontro Nacional, realizado
documento, que vai orientar a vida das famílias, das nas Caldas da Rainha, em 2019.
empresas e do Estado, nos últimos meses do ano, **
pode, finalmente, ser aplicado. Enquanto isso, para o 7.º Congresso, agendado para
Alheia a estas vicissitudes políticas e formais, a Or- setembro, na Altice Arena, em Lisboa, as inscrições
dem mantém o investimento e a aposta que anual- também já superam as melhores expetativas. No mi-
mente faz neste ciclo formativo, que é, por norma, o crossítio criado para o evento, saiba como pode reser-
mais participado de todos. var o seu lugar para receber a sua medalha, caso tenha
A habitual formação da Ordem sobre o OE, que acon- 25 anos de profissão, e também para conhecer ao deta-
tece sempre em janeiro, desta feita é transferida para lhe tudo sobre as novas tendências da sustentabilidade
uma data algo atípica: entre 12 e 29 de julho. Serão e o seu impacto no trabalho dos contabilistas certifica-
29 cidades, do continente e das regiões autónomas, dos e no relato não financeiro das PME.
a receber a formação eventual em sala. Mesmo sa- **
bendo que muito do foco político já se encontra no Bem a propósito, o entrevistado deste mês é o presi-
Orçamento que será apresentado em outubro, ain- dente da Associação ZERO, Francisco Ferreira. Numa
da restam vários meses para o OE/2022 seguir o seu altura em que as conferências sobre questões cli-
caminho, aplicando-se no terreno. Esta formação máticas se realizam um pouco por toda a Europa, o
da Ordem é, pois, uma excelente oportunidade para ambientalista de reconhecido prestígio e de agenda
esclarecer as dúvidas sobre um documento da maior apertada, concedeu-nos uma entrevista – graças às
relevância. Nesse sentido, mobilizamos o conjunto novas tecnologias – enquanto aguardava, no aeropor-
de formadores mais habilitados, para que os milha- to Humberto Delgado, a chamada para embarcar rumo
res de membros sintam que valeu a pena a inscrição. a Berlim.

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FICHA TÉCNICA SUMÁRIO

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ANO XXII
REVISTA N.º 266 • MAIO 2022

Propriedade Publicidade
Ordem dos Contabilistas Departamento
Certificados de Comunicação
e Imagem da Ordem
Avenida Barbosa
du Bocage, 45 Produção editorial
1049-013 Lisboa e revisão
Contribuinte n.º 503 692 310 Departamento
Telefone: 217 999 700 de Comunicação
e Imagem da Ordem
Diretora
Paula Franco Telefone:
217 999 715/17/18/19
Diretores adjuntos Fax: 217 957 332
Joaquim Jorge Barbosa comunicacao@occ.pt
Cristina Pena Silva Entrevista a Francisco Ferreira
Manuel Teixeira www.occ.pt
Helena Costa

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Álvaro Costa Impressão
Pedro Nuno Ferreira LiderGraf

Redação Tiragem
Jorge Magalhães 10 001 exemplares
Nuno Dias da Silva
Depósito legal
Design e paginação N.º 150317/00
Duarte Camacho
João Martins ISSN
Sara Brás 1645-9237

Fotografia Organismos
Raquel Wise internacionais
Ricardo Almeida a que a Ordem pertence:
Ricardo Zambujo

Secretariado
Raquel Carvalho
Análise da OCC ao Orçamento do Estado 2022
Colaboram nesta edição
Aleydita Pires

20
Ana Lucas
Anabela Santos
Cecília Duarte
Cristina Góis
Inês Barros
Luís Monteiro
Maria José da Silva Faria
Miguel Gonçalves
Paula Franco

Os artigos publicados são da exclusiva responsabilidade dos seus autores.


Braga com nova representação permanente

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SUMÁRIO

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Novos membros registam para a posteridade momentos de um dia inesquecível

NOTÍCIAS
16 Formação eventual sobre o Orçamento do Estado 2022 | Análise ao OE/2022
17 7.º Congresso dos Contabilistas Certificados
18 XVI Encontro Nacional dos Contabilistas Certificados
20 Inauguração da representação permanente de Beja
23 XXVII Conferência de Fiscalidade e Contabilidade, em Leiria
27 Cerimóna de entrega dos certificados aos novos membros
32 Conferência anual da EFAA | Canal de denúncia | Clube mototurístico «CC sobre rodas»
33 Bastonária em “aula” sobre literacia financeira | Vice-presidente em aula aberta | Reunião livre presencial na Figueira da Foz
34 Os impostos e a sociedade explicados na escola | Reunião livre presencial na Lousã | Nova representação em Braga
35 Aprovadas “férias contributivas” e reforço do regime de justo impedimento | O futuro da contabilidade
36 Delegação da OTOCA em Lisboa | Simuladores OCC | Ordem na tomada de posse na Universidade de Aveiro
37 A ética nas organizações | Aula aberta no IPL
46 Ordem nos media

COLABORAÇÃO ISCAC
39 Entre a Contabilidade e a História: recordatória de Luca Pacioli (1446/7-1517), uma referência incontornável para os
contabilistas certificados

CONTABILIDADE
43 Acontecimentos após a data do balanço

FISCALIDADE
45 O combate à fraude e evasão fiscais em sede do imposto sobre o valor acrescentado em Cabo Verde

GESTÃO
53 Uma perspetiva sobre a evolução do XBRL

CONSULTÓRIO
63 Perguntas e respostas

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ENTREVISTA

Francisco Ferreira, presidente da ZERO - Associação Sistema Terrestre Sustentável

«O grande desafio
da sustentabilidade
está nas PME»
Sem investimento em formação, partilha de soluções e criação de economias de escala
dificilmente as empresas de pequena e média dimensão alcançarão uma performance
ambiental e de sustentabilidade que lhes permita sobreviver. O ambientalista
Francisco Ferreira considera ainda «dramático» que existam cerca de dois milhões
de portugueses em pobreza energética e elege a «desmaterialização,
a eficiência energética, o recurso a renováveis e a mobilidade» como contributos
fundamentais que cada cidadão pode dar para um planeta melhor.
Entrevista Nuno Dias da Silva Fotos Raquel Wise

Contabilista – O planeta encontra- recurso ao teletrabalho um desses téria de transição energética?


-se envolto numa sucessão de cri- instrumentos. O Plano de Recupera- F.F. – Percebeu-se a existência de
ses: alimentar, ambiental, climá- ção e Resiliência (PRR), com aplica- uma grande dependência, à escala
tica, energética e agora também ção prevista até 2026, é uma resposta europeia, em termos de combustí-
geopolítica. A pandemia e, em par- económica da União Europeia (UE) à veis fósseis, quer de petróleo mas,
ticular, a guerra na Ucrânia, foram pandemia, com exigências ambien- especialmente, de gás natural. A UE
os alarmes que fizeram despertar tais, uma vez que pelo menos 37 por lançou um programa denominado de
os países europeus para a excessi- cento do financiamento tem de ser “REPowerEU” que traduz uma in-
va dependência dos combustíveis aplicado na área do clima. tenção de mudança, mas falta saber,
fósseis russos? em termos práticos, o alcance dessa
Francisco Ferreira – Os alertas ge- Contabilista – Agora que a fase mudança. Se for para passar a receber
rados pela pandemia acabaram por aguda da Covid-19 já ficou para o gás natural e o petróleo de outros
não corresponder a uma mudança trás, parece claro que o mundo países, em vez de ser da Rússia, não
tão significativa e necessária, como inteiro está praticamente igual ao muda nada do ponto de vista estru-
se anunciava e seria desejável. Ape- que era no início de 2020. Concor- tural. Creio que devem ser garantidas
sar disso, a pandemia deu-nos uma da? determinadas condições: em primei-
série de pistas que podíamos e de- F.F. – De uma forma geral, estamos a ro lugar, a aposta, acima de tudo, na
víamos aproveitar. A pandemia en- voltar ao normal das atividades, no- redução de consumos e na eficiên-
sinou-nos a sermos mais resilientes e meadamente à dinâmica das ativida- cia energética. Depois, é necessário
a fazer uma aposta maior numa eco- des poluentes, no pré-pandemia. avançar de forma célere nos inves-
nomia local, circular e mais amiga timentos das renováveis. Finalmen-
do ambiente. Para além disso, mos- Contabilista – Por seu turno, a te, deve evitar-se, a todo o custo, a
trou-nos, também, que é possível guerra da Ucrânia pode significar promoção de investimentos ociosos.
melhorar a qualidade do ar, sendo o um caminho sem retorno em ma- Passo a explicar: são investimentos

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ENTREVISTA

feitos neste contexto de emergência Contabilista – O conflito no leste margem de manobra para cres-
energética, mas que daqui a 5 ou 10 da Europa vai definir o rumo da cer no solar, até porque o papel da
anos será questionada a sua viabili- transição energética? eletrificação é crucial. Basta ver o
dade. F.F. – Pelo menos, vai acelerá-la. crescimento que se está a operar na
Resta saber é se caminhará no sen- quantidade de veículos elétricos.
Contabilista – Quer dar alguns tido certo e de acordo com as prio- No caso da energia solar aproveita-
exemplos desses «investimentos ridades de eficiência energética e mos apenas 4 por cento para a nossa
ociosos»? renováveis, assegurando susten- eletricidade e no que à energia eóli-
F.F. – Se começarmos a construir tabilidade. Ou se, por outro lado, ca diz respeito aproveitamos cerca
terminais de gás natural e gaso- garante uma transição energética de 23 por cento. Estas duas fontes
dutos e se as apostas não forem que diversifica apenas as fontes dos de energia, à escala internacional,
devidamente ponderadas arrisca- combustíveis fósseis ou faz apostas são identificadas como as mais ba-
mo-nos a colocar em causa uma no gás e no nuclear que, em nosso ratas. De longe a mais dispendiosa,
mudança estrutural que a Europa entender, são insustentáveis. onerando custos de investimento, é
deve fazer, por razões de depen- a nuclear.
dência energética, mas também por Contabilista – Defende que Por-
motivos climáticos e de melhoria tugal pode criar uma economia Contabilista – O nuclear está, en-
da qualidade do ar. É abusivo cha- de escala na energia solar e eóli- tão, fora de questão?
mar-lhe oportunidade – até pelos ca, as mais baratas, garantindo a F.F. – O nuclear não faz qualquer
fatores dramáticos que desenca- independência energética para o sentido, tanto do ponto de vista do
dearam este contexto –, mas creio futuro… investimento, como do próprio ris-
que estamos perante um desafio. F.F. – Portugal tem uma enorme co associado. Uma central nuclear

PERFIL
Francisco Ferreira preside, atualmente, à organi-
zação ambientalista «ZERO – Associação Sistema
Terrestre Sustentável». As suas principais áreas
de investigação são a qualidade do ar e as alte-
rações climáticas. É professor no Departamento
de Ciências e Engenharia do Ambiente da Facul-
dade de Ciências e Tecnologia da Universidade
Nova de Lisboa (FCT/UNL). Foi presidente da
Quercus de 1996 a 2001 e vice-presidente entre
2007 e 2011. Foi membro do Conselho Nacional
da Água e do Conselho Nacional de Ambiente
e Desenvolvimento Sustentável. Até ao final de
2015 e após quase dez anos, foi autor e apresen-
tador na RTP da rubrica diária "Minuto Verde".

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ENTREVISTA

demora anos em termos de cons- Contabilista – Considera viável o sem esquecer a melhoria das emis-
trução e na obtenção de licencia- objetivo de neutralidade carbó- sões de gases de efeito de estufa que
mento. O que é inviável quando se nica ou climática, perspetivado provocam o aquecimento global e as
precisa de uma resposta mais rá- para 2050, ou apenas se conse- alterações climáticas.
pida. A aposta deve ser na energia guirá se o modelo de sociedade
solar, com um particular enfoque for alterado? Contabilista – Mas o horizonte de
nos edifícios, nomeadamente com a F.F. – O modelo de sociedade é um 2050 é um objetivo exequível para
instalação de painéis fotovoltaicos, tema que começa a ser cada vez mais a neutralidade carbónica ou climá-
e na criação de centrais solares, falado em fóruns internacionais e tica?
com localizações bem seleciona- pela própria comunidade científi- F.F. – Aquilo que o Painel Inter-
das. É preciso não descurar a ener- ca. Na recente Conferência de Esto- governamental para as Alterações
gia eólica, pela sua capacidade de colmo, que assinalou os 50 anos da Climáticas defendeu, ou seja, a co-
expansão, para além de sabermos conferência ambiental fundadora, munidade científica, e que está plas-
que o governo vai lançar, em bre- uma das recomendações foi mudar mado nos acordos de Paris, é que
ve, a energia eólica offshore, nas zo- o modelo de consumo e desperdí- não podemos ultrapassar 1,5 graus
nas costeiras. A nossa eólica como cio para o modelo de suficiência e de aumento de temperatura em rela-
é flutuante, devido ao facto de a economia circular, com as conse- ção à era pré-industrial. Para atingir
nossa plataforma continental mer- quências vitais em termos de clima. esse objetivo, será imperioso alcan-
gulhar, é mais dispendiosa do que Por isso, esta mudança de natureza çar a neutralidade climática à escala
os parques eólicos que existem, por estrutural deve ser encarada como global, em 2044. Já em 2025, teremos
exemplo, na Holanda, na Alemanha a visão mais importante do ponto de passar de um aumento para uma
ou na Dinamarca. de vista da sustentabilidade. Isto, redução de emissões. Restam-nos

«Claramente, o grande desafio da


sustentabilidade está nas PME.
Sem investimento em formação,
partilha de soluções e criação de
economias de escala dificilmente
alcançarão o objetivo
da sustentabilidade.»

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ENTREVISTA

três anos pela frente para inverter


esta tendência. Na nossa opinião, o
horizonte para a neutralidade cli-
mática devia ser antecipado para
2040. O desafio seria maior ainda,
mas vários modelos apontam que é
exequível. Portugal tem uma Lei de
Bases do Clima, que entrou em vigor
em fevereiro deste ano, que prevê
estudos para antecipar a neutrali-
dade climática para 2045. Contudo,
a neutralidade carbónica ou climá-
tica apresenta um grande problema
entre o deve e o haver. Explico: ao
mesmo tempo que é preciso recuar
nas emissões, é necessário garantir
a chamada capacidade de sumidou-
ro que, no caso de Portugal, reside
na floresta, e que garanta a captu-
ra de carbono equivalente às emis-
sões. O que sucede é que a floresta
– permanentemente ameaçada pelo
aumento de temperatura e pelos in-
cêndios – deverá expandir-se e ga-
nhar resiliência.

Contabilista – Com o agravar das


alterações climáticas, Portugal
pode, dentro de alguns anos, ter
um clima padrão semelhante ao
que existe, por exemplo, no norte
de África?
F.F. – Não tenhamos dúvidas em re-
lação a isso. É imperioso reduzir as
emissões, mas no entretanto, temos
de nos adaptar ao que é a nossa nova
realidade climática. Há estudos que
indicam – no pior dos cenários - que
poderemos ter aumentos de tempe-
ratura média, que oscilarão 3 a 7
graus em algumas regiões do país.
Mas as ameaças não se ficam por
aqui. O aumento de temperatura,
associado com as ondas de calor, vai
afetar a saúde da população e terá
impacto na agricultura. Expandir
o regadio também é uma estratégia
comprometida devido à escassez de
água. Um outro lado da mudança

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climática são as secas, mais prolon- 2035, o fim dos carregadores ex- a reabilitação de edifícios. Portu-
gadas, mais frequentes e mais in- clusivos e da obsolescência pro- gal tem uma péssima qualidade de
tensas, com consequências na pro- gramada dos aparelhos. Isto, para construção, que teve origem na ex-
dução de fontes renováveis, como além do Fundo Ambiental, com pansão urbana nas décadas de 70,
é o caso da hidroelétrica. Existem um leque de apoios aos edifícios 80 e 90. Atualmente, a construção
outros dois aspetos críticos em con- sustentáveis. Estas são medidas nova exige um conjunto de requisi-
sequência das alterações climáticas: avulsas ou há uma estratégia coe- tos muito apertados. Posso avançar
eventos meteorológicos extremos e rente e concertada que pode dar com outro exemplo em que também
a subida do nível do mar, sendo esta frutos? carecemos de mudanças estrutu-
a ameaça mais severa, tendo em F.F. – São medidas úteis, relevan- rais: os veículos. Os eurodeputados
consideração a imensa zona costeira tes e significativas, mas que nem decidiram acabar com os veículos
de que dispomos. Perante este con- sempre surgem com a periodicidade a gasóleo e gasolina, em 2035, fi-
texto tão adverso, é previsível que certa. O que, por vezes, acontece cando agora à espera da resposta
nas próximas décadas, face as estas é que algumas medidas aparecem dos ministros dos vários países no
contingências climáticas, aconteça sem a prioridade adequada. O Pro- Conselho Europeu. E em Portugal,
a migração para norte de ecossiste- grama Edifícios Sustentáveis é um é preciso que seja dito, já estamos
mas. bom exemplo a seguir e está a dar com uma enorme expansão de veí-
respostas. Mas apresenta, igual- culos elétricos…
Contabilista – A propósito de mente, algumas dificuldades.
crimes e outros atropelos am- Contabilista – De certeza que a
bientais, o PAN apresentou no Contabilista – Pode dar alguns sua observação tem um mas…
Parlamento um projeto para cri- exemplos? F.F. – Para além de ofertas limita-
minalizar o “ecocídio”, os crimes F.F. – Provavelmente os estímulos das de veículos elétricos, em razão
contra a natureza. Concorda? ao Programa Edifícios Sustentáveis da crise dos microchips, o principal
F.F. – O tema tem sido discutido na que estão a dar apoios à implemen- ponto é que quem não dispõe de ga-
direção da ZERO, mas honestamen- tação de energias renováveis não ragem, não tem local para carregar
te não temos uma posição favorável deviam ser tão prioritários. Digo o veículo. Isto ao nível do transpor-
ou desfavorável ao projeto do PAN. O isto comparativamente, também te privado. Mas creio que os maiores
que sabemos é que o funcionamento ao nível dos edifícios sustentáveis, investimentos devem ser direcio-
da justiça em Portugal relativamen- mas em termos do isolamento das nados para o transporte público.
te à pronunciação de infrações, por casas e janelas. Aspetos mais es- Os autarcas portugueses ainda não
parte de indústrias, municípios ou truturantes e que são investimentos valorizam o suficiente a existência
outros agentes, tarda bastante. Os mais caros, em que se torna mais de zonas pedonais e a limitação do
crimes ambientais já estão consig- demorado reaver o dinheiro. E isto acesso de automóveis aos centros
nados na nossa legislação, o proble- apesar de ser a classe média e média das suas cidades, quando existe
ma é que a lei não se está a aplicar. alta que concorre a estes incentivos. prova científica desses benefícios.
Por isso, a nossa ênfase é para que O dramático é termos cerca de dois Madrid, Bruxelas, Londres e Paris
a justiça funcione e, sobretudo, seja milhões de portugueses em pobreza são algumas das capitais da Euro-
célere. Sabemos de muitos casos, energética, que mal conseguem ga- pa que estão a seguir esse rumo. O
sem quaisquer consequências, para rantir o pagamento mensal das suas aumento da rentabilidade dos co-
quem provoca danos – por vezes, contas, com reflexos no seu confor- merciantes dessas zonas é evidente.
irreversíveis – ao ambiente. to, no verão e no inverno. Inclusive em Lisboa basta comparar
a dinâmica da Rua Augusta com as
Contabilista – Falemos agora dos Contabilista – Também aqui exis- outras artérias contíguas.
incentivos às boas práticas am- te um país desigual e a duas velo-
bientais. Apoios para quem com- cidades? Contabilista – Recentemente,
pra carros elétricos, eurodeputa- F.F. – Faltam medidas mais es- circulou uma proposta em que se
dos que votam para acabar com truturantes e mais profundas, no falava da interdição ao trânsito
os carros a gasóleo e gasolina, em sentido de promover e apoiar mais da Avenida Liberdade aos domin-

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ENTREVISTA

gos e feriados e a contestação foi demonstrado por muitas entidades


grande… e abusivo protagonizado por outras.
F.F. – As decisões devem ser pre- No fundo, fazermos todos um esfor-
cedidas por um diálogo entre todos ço para a promoção de uma econo-
os envolvidos e com dados concre- mia de bem-estar, garantindo que a
tos em cima da mesa. Muitas des- população tenha qualidade de vida.
tas soluções não são nem 8 nem Isto sim é a verdadeira sustentabili-
80, embora admita que, por vezes, dade. É preciso ter uma visão mais
tenham de ser disruptivas. O que é próxima das pessoas. Em setembro
preciso é seguir no caminho certo de 2015, os países-membros das
e fundamentar as decisões nas boas Nações Unidas aprovaram por una-
experiências, existindo sempre a nimidade o documento «Transfor-
máxima aproximação de soluções e mando o nosso mundo: A Agenda
maior abertura. Lisboa continua a 2030 para o desenvolvimento sus-
ser uma cidade do passado no que à tentável», baseado em cinco eixos
pedonalização diz respeito. de atuação: paz, pessoas, planeta,
prosperidade e parcerias. Nos úl-
Contabilista – Gostaria agora de timos 50 anos triplicámos o uso de
auscultar a sua opinião sobre im- recursos naturais, com o gradual
postos. A fiscalidade verde tem impacto na destruição de sistemas
sido um instrumento utilizado terrestres, oceanos, ecossistemas.
em Portugal de forma consisten- É preciso ter a noção que o planeta
te? é limitado e alguns desses limites já
F.F. – Mesmo ao nível dos impos- estão a ser ultrapassados.
tos, não há soluções cem por cento
verdes. Há sempre impacto no am- Contabilista – A Ordem dos Con- «O clima está, neste
biente. O que se pretende é a mini- tabilistas Certificados realiza o
momento, a ser o
mização desse impacto. Por vezes, seu 7.º Congresso em setembro
impulsionador de
parece que estamos perante um e a temática é, precisamente, a
campeonato de sustentabilidade sustentabilidade. Sendo o tecido mudanças e exigências
disputado por indústrias, empresas empresarial nacional constituí- para as empresas ao nível
e autarquias, quando o primordial do maioritariamente por PME, da contabilidade, da sua
seria distinguir entre o que poderia de dimensão assimétrica, admite performance e avaliação.»
estar feito e a realidade. que muitas terão dificuldade em
cumprir este desiderato e contri-
Contabilista – O que pretende di- buir para as boas práticas susten-
zer é que há quem apregoa fazer táveis?
sustentabilidade apenas para fi- F.F. – Quando falamos de uma
car bem na fotografia? transição justa significa que tem a
F.F. – Temos de ser mais cautelo- obrigação de respeitar um conjunto
sos, coerentes e honestos. Há uma de princípios essenciais da vida das
tendência para o chamado green- pessoas. Antecipação, prevenção e
washing. Trocado por miúdos, são programação são os passos que de-
práticas “vendidas” como verdes, vem ser seguidos por parte de todas
mas que, na verdade, não o são. Im- as empresas. Mas, claramente, o
porta, por isso, monitorizar, certi- grande desafio da sustentabilidade
ficar, fazer auditorias e envolver a está nas PME. Sem investimento em
sociedade civil, de forma a dar cre- formação, sem partilha de soluções
dibilidade ao esforço legitimo e real e criação de economias de escala

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ENTREVISTA

dificilmente alcançarão o objetivo dicionados pelo seu desempenho


da sustentabilidade. Cerca de 250 de sustentabilidade?
grandes empresas já fazem parte F.F. – Neste momento, uma grande
do comércio europeu de licenças empresa que necessite de financia-
de emissão de carbono, sendo obri- mento já tem de apresentar as suas
gadas a pagar, pelo menos, parte credenciais ESG (environmental, so-
das suas emissões. Mas é o enorme cial and corporate governance). Sem
universo das PME que tem de fazer isto, não terá acesso a financiamen-
a diferença ao longo das próximas to. E às PME também já lhes come-
décadas. E não temos dado o devido çaram a exigir estes requisitos. E se
apoio e atenção a este segmento. não é exigido pelo banco, é exigido
pelo comprador que adquire os pro-
Contabilista – Quando fala em dutos às empresas. É, por isso, ur-
formação, ela deve ser extensível gente assegurar as condições para
aos empresários? uma produção sustentável se se qui-
F.F. – Sim, especialmente a eles, ser continuar no mercado. Este é um
apetrechando-os de ferramentas processo que já está a um ritmo mui-
para o acompanhamento e monito- to acelerado, pelo que brevemente
rização das ações de sustentabilida- são de esperar mais novidades.
de, bem como aconselhá-los sobre o
que pode e como deve ser feito. As Contabilista – Admite, contudo,
empresas de maior dimensão, cota- que é urgente mudar a bússola
das em bolsa, estão sujeitas a uma mental do país?
diretiva europeia relativa a uma ta- F.F. – É absolutamente crucial. Este
xonomia que as obriga a um repor- desafio não deve ser encarado como
te muito extenso, para já na área do um obstáculo, mas antes como uma
clima, e num futuro muito próximo oportunidade. Uma empresa que
na área dos objetivos do desenvol- aposte em energias renováveis e efi-
vimento sustentado. É aquilo a que ciência energética, que tenha uma
se chama o relato não financeiro das integração social dos seus trabalha-
empresas. As empresas de maior en- dores adequada e que avalie os seus
vergadura estão a anunciar objeti- fornecedores, as suas matérias-pri-
vos de neutralidade climática e isso mas, é necessariamente mais resi-
tem a ver diretamente com as suas liente e, mais tarde ou mais cedo,
cadeias de fornecedores e de distri- verá os seus custos reduzidos.
buição dos produtos. Perante isto, as
PME, que também se inserem neste Contabilista – O Conselho das Fi-
circuito de fornecimento, acabam nanças Públicas (CFP) alertou a
por ser decisivas, na medida que po- semana passada para a necessida-
dem ou não ser escolhidas por uma de de incluir a dimensão climática
grande empresa, em função da sua nas projeções macro-orçamentais,
performance ambiental e de susten- dado que as medidas para cumprir
tabilidade. Ou seja, o rigor económi- o Acordo de Paris não são suficien-
co terá de estar articulado com cui- tes para limitar efeitos macroeco-
dados do ponto de vista social. nómicos adversos. Significa isto
que o impacto da dimensão climá-
Contabilista – É um fator crítico tica influi, cada vez mais, nas con-
para milhares de PME que os fi- tas e no crescimento dos estados?
nanciamentos passem a estar con- F.F. – Não tenho dúvidas. No próxi-

MAIO 2022 13
ENTREVISTA

mo Orçamento do Estado, de acor- Contabilista – Jorge Moreira da em que vivemos, atribuir valor aos
do com a Lei de Bases do Clima, é Silva, ex-diretor da OCDE e antigo serviços é um elemento essencial. E
preciso ter a capacidade de avaliar ministro do Ambiente, defendeu já conseguimos, por exemplo, fazer
as opções que estão em cima da que «é urgente avançar para a con- isso com o carbono, através de uma
mesa. É um desafio muito exigente, tabilização do capital natural na métrica. Uma tonelada de carbono
que esperamos seja melhorado nos contabilidade pública nacional dos custa, atualmente, cerca de 85 euros.
próximos anos. O clima está, neste países, aproveitando as metodolo- Não tem havido a capacidade de fazer
momento, a ser o impulsionador de gias que, entretanto, foram desen- o mesmo para os serviços dos ecossis-
mudanças e exigências para as em- volvidas». Concorda? temas, quando sabemos que eles nos
presas ao nível da contabilidade, da F.F. – Essa é uma valência muito im- proporcionam praticamente tudo:
sua performance e avaliação. portante. Na sociedade capitalista desde a água limpa, o oxigénio, a
captação de carbono, a construção do
solo, a paisagem, etc. Isto são serviços
que têm de ser mensuráveis através da
valorização do chamado capital natu-
ral. É, por isso, necessária uma quan-
«Uma empresa que aposte em energias renováveis
tificação mais objetiva dos diferentes
e eficiência energética, que tenha uma integração serviços que a biodiversidade nos as-
social dos seus trabalhadores adequada e que avalie segura. Portugal é um país privilegia-
os seus fornecedores, as suas matérias-primas, é do neste domínio. Para que as pessoas
necessariamente mais resiliente e, mais tarde ou percebam: se temos o turismo que te-
mais cedo, verá os seus custos reduzidos.» mos, e o seu contributo para o PIB, é
porque dispomos de praias, paisagens
únicas nas cidades e nas zonas rurais.
Por isso, este capital natural precisa
de ser valorizado e avaliado para po-
der ser protegido e reabilitado.

Contabilista – Foi durante muitos


anos o rosto do programa “Minuto
Verde”, na RTP, em que partilhou
dicas com os portugueses sobre
as boas práticas ambientais. Que
conselhos daria aos contabilistas,
enquanto cidadãos e profissionais,
em busca de um planeta melhor?
F.F. – Em síntese, a desmaterializa-
ção, a eficiência energética no local
de trabalho, o recurso a renováveis e a
mobilidade são as vertentes mais im-
portantes. No caso dos contabilistas, a
desmaterialização é muito importan-
te e tem um peso muito significativo
em termos de boas práticas. Mas não
é pelo facto de deixarmos de ter papel
ou de o termos reduzido muito que se
acaba o impacto no ambiente. Longe
disso. Continuamos a usar servidores,
usamos computadores e consumimos

14 CONTABILISTA 266
ENTREVISTA

«É dramático que tenhamos cerca de dois


milhões de portugueses em pobreza energética,
que mal conseguem garantir o pagamento
mensal das suas contas, com reflexos no seu
conforto, no verão e no inverno.»

energia. No ambiente de escritório Contabilista – O teletrabalho deve tugal tem dos melhores sistemas de
considero ser um bom investimento continuar a ser uma alternativa apoio ao transporte público à escala
contribuir para o aproveitamento de cada vez mais frequente? mundial, com o expoente máximo a
energias renováveis e, acima de tudo, F.F. – O teletrabalho evita que muitas ser o passe metropolitano. Tanto no
para a melhoria da eficiência energé- deslocações possam ser feitas. Uma trabalho, em casa ou no escritório,
tica. No escritório, mais partilhado e reunião com um cliente pode perfei- penso que é fundamental olhar-se
mais amplo, tudo o que diga respei- tamente acontecer por Zoom. Como para os gastos ligados ao conforto
to às questões da economia circular é sabido, a mobilidade está extre- térmico. Ligar ou não o ar condicio-
é crucial. É o caso de uma cozinha mamente cara, por isso, devem ser nado, substituir as janelas, otimizar
partilhada, em que se consiga evitar pensadas alternativas como é o caso o meu conforto térmico com o menor
o plástico e reduzir a quantidade de do uso do transporte público, o re- gasto energético, são gestos funda-
resíduos ao máximo. curso à bicicleta e o andar a pé. Por- mentais. 

MAIO 2022 15
NOTÍCIAS

Entre 12 e 29 de julho, a nível nacional

Formação eventual sobre


o Orçamento do Estado 2022
A Ordem organiza, entre 12 e 29 de
julho, a nível nacional, a formação
eventual sobre «Orçamento do Estado
não quis deixar de proporcionar aos seus
membros, a possibilidade de se inteira-
rem sobre as alterações que o documento
do 27 euros para quem optar pelo manual
em versão digital. No âmbito do regula-
mento de formação profissional contínua
2022». Ao contrário do que é habitual, contempla. são atribuídos 8 créditos. O Orçamento
só agora é possível levar a cabo esta Este ciclo formativo está previsto realizar- do Estado entrou em vigor a 28 de junho
formação, fruto das vicissitudes políti- -se em 29 cidades do país. A identidade dos de 2022, após ter sido promulgado a 17
cas que levaram à realização de eleições formadores será brevemente divulgada. O de junho pelo Presidente da República.
antecipadas e à entrada em cena de um custo da formação, para membros e res-
Calendário e inscrições
novo governo. Apesar de tardia, a Ordem petivos colaboradores, é de 32 euros, sen-

Destaque para alterações com influência na vida dos contabilistas

Análise da OCC ao OE/2022


A exemplo de anos anteriores, a
Ordem disponibiliza-lhe a análi-
se ao Orçamento do Estado para 2022
ções importantes que têm influência di-
reta na vida profissional (e pessoal) dos
contabilistas certificados, pelo que esta
“férias contributivas”. IRS, IRC, IVA, Esta-
tuto dos Benefícios Fiscais, Imposto Mu-
nicipal sobre Imóveis, Imposto municipal
efetuada pelos seus consultores. É um análise confere especial ênfase a essas sobre Transmissões Onerosas de Imóveis,
documento onde constam as principais novidades. Destacam-se as alterações Imposto do Selo, alterações ao Código do
novidades fiscais presentes na Lei n.º que dizem diretamente respeito aos pro- procedimento e processo tributário e SN-
12/2022, de 27 de junho e que se apre- fissionais, como é o caso da alteração ao C-AP, são outros dos items abordados.
senta no mesmo dia em que o OE foi estatuto da OCC, as alterações à Lei Ge-
publicado em «Diário da República». De ral Tributária e o diferimento e suspensão Análise OE/2022 – Documento
integral
realçar que no OE/2022 constam altera- extraordinário de prazos, as chamadas

16 CONTABILISTA 266
CONGRESSO
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Inscrições limitadas e com elevada procura

É o grande evento do ano. A 21, 22 e 23


de setembro de 2022, na Altice Arena,
em Lisboa, a Ordem organiza o 7.º Congresso
to, inscreva-se o quanto antes. As inscrições são
limitadas!
A 22 de setembro e 23 de setembro poderá igual-
dos Contabilistas Certificados. Serão três dias mente levantar a medalha, mas já sem a solenida-
de reflexão e aprendizagem, mas também de de que será emprestada ao ato do dia 21. Nestes
convívio e de enriquecimento pessoal. O tema dias, o foco estará no debate das matérias que
central desta grande realização é a sustentabi- sustentam o tema geral do congresso, ou seja, a
lidade e o relato não financeiro, o que arrastará sustentabilidade e o relato financeiro.
para a discussão de assuntos como a respon- Para a noite do dia 22 está agendado um jantar de
sabilidade empresarial, o empreendedorismo gala. A participação exige inscrição e pagamento
social, a economia sustentável ou as métricas suplementar (40 euros até 31 de julho; 70 euros
e índices contabilísticos. até 31 de agosto) e inclui um espetáculo que pro-
Tendo em conta a importância das matérias mete ir ao encontro dos gostos mais exigentes.
em debate, a bastonária Paula Franco refere que Uma vez que o programa está em permanente
este evento «se focará no debate, reflexão e dis- atualização, sugere-se a consulta regular do mi-
cussão do papel dos contabilistas certificados crossítio. As inscrições já se encontram disponíveis
numa sociedade que exige dos vários agentes e, tal como há três anos, o seu custo vai aumen-
económicos uma maior sustentabilidade ambien- tando à medida que se aproxima a data do evento:
tal, social e de gestão.» 25 euros até 31 de julho; 35 euros até 31 de agos-
to; 50 euros até 21 de setembro. E, uma vez mais,
Medalhas assinalam 25 anos de profissão não esqueça: as inscrições são limitadas. Como se
Tal como sucedeu em 2019, um dos dias do con- tem assistido a elevada procura (mais do dobro
gresso, neste caso o primeiro dos três, coincide se comparado com igual período do congresso de
com o Dia do Contabilista que será assinalado 2019), se ainda não o fez, inscreva-se!
de uma forma muito especial: a entrega de me- Caso pretenda, pode remeter a sua dúvida ou
dalhas a todos quantos completaram 25 anos pedido de esclarecimento para o email oficial do
de inscrição na Ordem dos Contabilistas Certi- evento: viicongresso@occ.pt. O 6.º congresso,
ficados. Será um dos grandes momentos desta realizado em 2019, também na Altice Arena, e
edição que levou mesmo a que seja permitido a subordinada ao tema «Liderar a profissional digi-
todos quantos não queiram participar nos traba- tal», reuniu cerca de quatro mil participantes.
lhos do Congresso a sua inscrição apenas para
ir receber a medalha. Contudo, e dado a elevada
Microssitio
procura registada, caso ainda não o tenha fei-

MAIO 2022 17
XVI Encontro Nacional dos Contabilistas Certificados, na Quinta da Malafaia

Todos a caminho do maior


encontro de sempre
Texto Jorge Magalhães

É um regresso! Quinze anos vol-


vidos, e o grande encontro de
contabilistas certificados, familiares e
amigos, está de volta à Quinta da Ma-
lafaia. Se, em 2007, a V edição levou
até ao Minho cerca de 700 pessoas, a
expectativa para o encontro deste ano
é bastante superior, ultrapassando o
anterior recorde de cerca de 1 200 pes-
soas que, em 2019, marcaram presença
nas Caldas da Rainha. Todos a caminho
do maior encontro de sempre!
Situada no coração do Minho, em An-
tas, concelho de Esposende, distrito de
Braga, mas na fronteira com o distrito
de Viana do Castelo, a Quinta da Mala-
faia apregoa que «em Portugal, não há
festa igual... e ponto final!» Isso mesmo
poderá ser testado e comprovado no
próximo dia 9 de julho porque à espera
de todos estará um dia repleto de folia
e animação.

Animação para todos os gostos


O programa promete. Desde as arrua- ao desafio, sem esquecer o conjunto da las marchas populares, o “menu” cultural
das de bombos e gaiteiros, cabeçudos e Quinta da Malafaia com música popular é vasto e não dará descanso mesmo aos
gigantones, aos jogos tradicionais, onde portuguesa e a atuação de Celso Coelho, mais folgados foliões. O menu gastronó-
cabem as corridas de sacos, a malha, as o contabilista certificado que, em várias mico, por seu lado, promete igualmente
cartas ou o dominó, passando por wor- das edições anteriores, marcou presença não defraudar expetativas, com os sa-
kshops de bordados e olaria; desde o des- também como cantor; desde a animação bores tradicionais da região sempre em
file e atuação do Rancho Folclórico Eira para os mais novos com palhaços, pintu- cima da mesa.
de Cima e Eira de Baixo, aos cantares ras faciais e jogo do pião, passando pe- Depois do interregno forçado em 2020 e

18 CONTABILISTA 266
uma nova fórmula organizativa, atra-
vés da criação de comissões compos-
tas por membros do distrito que, em
articulação com a direção da então
Câmara dos Técnicos Oficiais de Con-
tas, tratava da organização. A receita
mantém-se até aos dias de hoje.
De Coimbra, e do seu estádio munici-
pal, o encontro rumaria mais a sul e,
em 2009, coube à milenar cidade de
Évora, declarada património cultural
da Humanidade pela UNESCO, receber
cerca de 800 pessoas para um dia com
forte componente cultural e histórica.
Em 2010, Lisboa e Sintra foram os
epicentros para os contabilistas cer-
tificados de todos os pontos cardeais,
juntando cerca de mil pessoas naquele
que foi, até 2019, o encontro mais con-
corrido. No ano seguinte, a festa pros-
seguiu rumo a sul, mais concretamente
até Faro e ao Estádio Algarve.
2021, pandemia oblige, a grande festa- Certificados conheceu a sua primeira edi- O X Encontro andou por terras de Vi-
-convívio dos contabilistas certificados ção em 2002, há precisamente duas déca- riato, sendo Viseu a cidade escolhida
está, pois, de volta. E de regresso está, das e foi criado para proporcionar um dia para o acolhimento. Mais para norte e
por isso, o convívio, a oportunidade de de convívio e de fortalecimento do espíri- mais para o interior, coube a Vila Flor,
rever velhos conhecidos, a possibilidade to de classe entre os profissionais. Esses distrito de Bragança, em 2013, em dia
de fortalecer ou edificar novas amizades. objetivos mantêm-se inalterados. O de canícula, acolher a décima primeira
É para isso que esta iniciativa foi pensa- empreendimento Aldeia de Santão An- edição. Em 2014, a festa voltou ao li-
da e mantida ao longo dos anos, é com tão, próximo da Batalha, por ser cen- toral, a Aveiro. No ano seguinte seria
esse intuito que, edição após edição, se tral, foi o local escolhido, sucedendo o a vez do Porto acolher, nas instalações
tem tentado arquitetar um dia que ajude mesmo em 2003. que em breve viriam a ser a represen-
os contabilistas certificados, e respetivas As duas edições seguintes permane- tação e o centro de formação da Or-
famílias e amigos, a esquecerem, por al- ceram ainda pela região centro, desta dem na Invicta, o XIII Encontro. Em
gumas horas, a labuta diária dos lança- feita entre Alpiarça e Almeirim, em ple- 2016 e 2017, houve uma pausa. O re-
mentos, das finanças e dos impostos, ao no coração do Ribatejo. A Quinta da tomar dos encontros nacionais galgou
mesmo tempo que se reforça o espírito de Alorna, Quinta da Feiteira e Quinta da a serra do Marão para se instalar em
classe e de confraternização entre pares. Gouxaria acolheram estas edições. A Vila Real e, no ano seguinte, coube às
Para que não existam desculpas, em vá- de 2005, entre outras particularidades, Caldas da Rainha ser a anfitriã daquele
rios distritos do país está a ser organiza- teve direito, a uma garraiada. que foi, até ao momento, o encontro
do o transporte por autocarro. Toda essa Em 2006, ano em que se organizou mais multifacetado e concorrido. Vin-
informação, em permanente atualização, elevado número de eventos, fruto das te anos depois de se ter dado início a
incluindo o programa detalhado, está dis- comemorações do 10.º aniversário do esta caminhada, os contabilistas cer-
ponível no microssítio da Ordem criado reconhecimento público da profissão, tificados estão de regresso ao Minho
para o efeito. o encontro não se realizou. O regres- e à Quinta da Malafaia. Serão muitos,
so, em 2007, teve como destino... essa muitos mesmo, mais de duas mil pes-
Viagem pela história mesmo... a Quinta da Malafaia. Em soas, depois de dois anos de contenção
O Encontro Nacional dos Contabilistas Coimbra, no ano seguinte, estreou-se forçada.

MAIO 2022 19
NOTÍCIAS

Inauguração da representação permanente de Beja, a 12 de maio

...e o Alentejo fica feliz!


Texto Jorge Magalhães | Fotos Ricardo Zambujo

E vão 18! Com a inauguração da re-


presentação permanente da Or-
dem em Beja, está praticamente cober-
Alentejo queimado/ Ninguém se lembra
de ti», canta José Afonso nessa trova
de beleza superlativa chamada «Cantar
dos inscritos na Ordem e pertencentes
ao maior distrito do país em termos de
área. Alguém se lembrou do Alentejo... e
ta a totalidade dos distritos e regiões Alentejano». o Alentejo fica feliz!
autónomas em termos de presença físi- Nessa tarde de 12 de maio, esse quei- Numa cerimónia singela, que contou
ca da OCC. Falta apenas Viana do Cas- xume, por momentos, suspendeu a sua com a presença de cerca de cinco deze-
telo (o espaço está encontrado e adqui- verdade. Às 18 horas, uma tarde amena nas de membros (alguns de locais distan-
rido, prosseguindo obras de adaptação) de primavera, sem os sufocos que não tes, como Porto ou Algarve) e algumas
para que se cumpra a promessa do Con- raras vezes, por estas fases do calen- das autoridades civis e militares locais,
selho Diretivo de abrir, nos distritos em dário, afogueiam já a região e quem lá para além de todo o Conselho Diretivo,
que ainda não existiam, as respetivas teima em permanecer, Paulo Arsénio, Paula Franco deixou vincada a ideia de
representações permanentes. presidente da câmara municipal, ladea- que «este espaço é mais um ponto de
De Lisboa a Beja são hoje, grosso modo, do de Paula Franco, bastonária da OCC, união, um ponto com o qual os contabi-
duas horas de distância. A viagem rom- descerrou a placa alusiva à inauguração listas certificados se identificam. Preten-
pe pelas planícies, espaços abertos e de um espaço que, por motivos óbvios, demos, igualmente, que seja um espaço
estendidos, testemunhas seculares de assinala mais um marco histórico, sobre- de formação e de crescimento.»
incontáveis promessas e abandonos. «Ó tudo para os 457 contabilistas certifica- Mas não só. Já aqui se disse que esta

20 CONTABILISTA 266
NOTÍCIAS

representação é mais um passo para o tificados desempenham, afirmando que Luís Medeiros, um dos dois representan-
cumprimento de promessa do Conselho são «cada vez mais importantes num tes eleitos pelo círculo eleitoral de Beja,
Diretivo, mas é, igualmente, «um fator país que queremos mais transparente.» usou igualmente da palavra. «Hoje é um
de descentralização. Beja é um distrito Antigo funcionário da AT - carreira in- dia de alegria para todos os contabilis-
extenso, o que reforça ainda mais a ne- terrompida há quatro anos e meio, com tas certificados mas, em especial, para
cessidade de criarmos aqui um espaço a aposta autárquica - o edil lembrou «a aqueles que exercem a sua atividade
próprio e de aprofundarmos esta cultu- transição complexa que se fez do PO- nesta região. Sendo um anseio de longa
ra de proximidade.» CAL para o SNC-AP, mas esse caminho data, a criação desta representação só
Paulo Arsénio, por seu lado, depois de só pode ser executado por profissionais agora foi possível graças ao dinamismo
ter enfatizado o facto de ser «um gosto devidamente habilitados. E sei que a deste conselho diretivo», lembrou.
para Beja acolher este espaço que a Or- Ordem cumpre esse desígnio de manter, Um passo que irá permitir «a regular
dem agora coloca à disposição dos seus através de ações de formação e outras, formação contínua, reunir para deba-
membros», centrou as suas breves pala- esse alto padrão de exigência», rema- ter assuntos pertinentes relacionados
vras no papel que os contabilistas cer- tou Paulo Arsénio. com a atividade profissional ou reco-

Paula Franco: «Este espaço


é mais um ponto de união,
um ponto com o qual os
contabilistas certificados se
identificam. Pretendemos,
igualmente, que seja um
espaço de formação
e de crescimento.»

MAIO 2022 21
NOTÍCIAS

Paulo Arsénio: «Os contabilistas


certificados são cada vez mais
importantes num país que queremos
mais transparente. (…) Sei que a Ordem
cumpre (…), através de ações de formação
e outras, esse alto padrão de exigência.»

Luís Medeiros: «É um dia de alegria para


todos os contabilistas certificados mas,
em especial, para aqueles que exercem
a sua atividade nesta região. Sendo um
anseio de longa data, a criação desta
representação só agora foi possível
graças ao dinamismo deste conselho
diretivo.»

lher informação útil», salientou ainda no campo deontológico e na promoção e programa «Ídolos», da SIC, que interpretou
Medeiros que terminaria exortando os defesa das boas práticas.» vários temas do cancioneiro alentejano ao
contabilistas certificados alentejanos A cerimónia contou ainda com a atua- longo de cerca de 30 minutos.
(e não só), a envolverem-se «com mais ção de Miguel Pavia (acompanhado por Em funcionamento desde 13 de janeiro,
regularidade na defesa das causas que Martim Sebastião) uma jovem promes- a representação da Ordem de Beja viu a
visam a defesa da profissão, sobretudo sa do panorama musical e participante no sua inauguração adiada em mais do que
uma ocasião, por motivos relacionados
com a pandemia. Com cerca de 85 me-
tros quadrados, está situada na Avenida
Miguel Fernandes, n.º 28, no centro da ci-
dade alentejana e funciona entre as 9h e
as 17h30, com pausa para almoço entre
as 12h30 e as 13h30. Para além de per-
mitir o normal atendimento administra-
tivo, dispõe de uma sala com 35 lugares,
apta para receber reuniões e alguma da
formação ministrada pela Ordem.

Transmissão integral
da inauguração

Galeria fotográfica

22 CONTABILISTA 266
NOTÍCIAS

XXVII Conferência de Fiscalidade e Contabilidade, decorreu em Leiria, a 5 de maio

Fomentar a capitalização
das empresas
Texto Nuno Dias da Silva | Fotos Ricardo Almeida

U m feliz recomeço, após dois anos


de interregno. Foi este o sentimen-
to partilhado por todos os intervenien-
neste evento que a OCC e a ESTG orga-
nizam desde 2014, após dois anos dife-
rentes, devido à pandemia – em 2020,
mos», referiu. Sobre a escolha do tema,
a responsável da direção da instituição
leiriense, defendeu ser da «maior atua-
tes da XXVII Conferência de Fiscalidade a conferência foi cancelada e no ano lidade e importância» a abordagem do
e Contabilidade, organizada, pela Es- seguinte foi transmitida pelas platafor- capital próprio e das suas implicações.
cola Superior de Tecnologia e Gestão mas online. Em representação da outra entida-
(ESTG) do Instituto Politécnico de Leiria de organizadora, a OCC, esteve Paula
(IPL) e a Ordem dos Contabilistas Cer- Fazer parte dos resultados Franco. A responsável máxima da Or-
tificados (OCC), no dia 5 de maio. «O e das soluções das empresas dem não escondeu a sua satisfação por
capital próprio: aspetos contabilísticos Marisa Dinis, subdiretora da ESGT/ esta conferência significar o regresso
e fiscais», foi o tema escolhido para de- IPL, congratulou-se pelo regresso aos aos «eventos físicos» e ainda por cima
bate e que encheu o auditório da ESTG. eventos presenciais, tendo realçado a «com casa cheia», contribuindo tam-
Estudantes, empresários, docentes e, importância da «parceria» que há qua- bém para aprofundar o «estreitar de
claro está, contabilistas certificados se uma década mantêm a escola da ci- relações entre a Ordem e a academia.»
marcaram presença, juntos e ao vivo, dade do Lis e a OCC. «É com partilha Paula Franco acrescentou que todos os
e já com escassas máscaras nos rostos, de conhecimento que todos enriquece- interlocutores – estudantes, professo-

MAIO 2022 23
NOTÍCIAS

Por seu turno, aos contabilistas certi-


ficados cabe o papel de apresentar so-
luções à gestão para esta dar resposta
aos problemas e desafios que surgem.» António Martins
As primeiras palavras de José Gante
foram, precisamente, dirigidas à bas-
Paula Franco tonária da OCC. Objetivo: felicitá-la
pelo trabalho desenvolvido. Em primei-
ro lugar, pelo contributo que os con-
tabilistas certificados deram ao país,
em particular no início da pandemia, e
depois à própria responsável máxima
da entidade reguladora pelos desafios
lançados ao governo – nomeadamente
a identificação de problemas no paga-
mento dos apoios – que ditaram a apre- dra Carvalho, também ela docente da
sentação de medidas, por parte do exe- escola de Leiria. Sobejamente conheci-
cutivo, em prol das empresas. O diretor do dos profissionais da contabilidade e
res, Autoridade Tributária e contabilis- de finanças de Leiria aproveitou a sua da fiscalidade, Paulo Marques abordou
tas - «fazem parte dos resultados e das intervenção para uma breve radiografia a temática dos incentivos fiscais com
soluções das empresas.» sobre o impacto da Covid-19 no tecido impacto no capital próprio e o seu pro-
Sobre o tema em discussão, Paula Fran- empresarial do distrito. Este distrito do pósito de «fomentar a capitalização das
co sustentou que não foi escolhido ao centro do país «portou-se muito melhor empresas», por parte de sócios/acionis-
acaso, tendo explicado o motivo: «A do que a média nacional», mas também tas e por parte de credores. O consultor
economia tarda em recuperar para os registou quebras, nomeadamente ao ní- e formador da OCC esmiuçou, em segui-
níveis pré-pandemia. A guerra e a infla- vel do volume de negócios das empre- da, as medidas em vigor para fomentar
ção são fatores novos, que geram preo- sas, Produto Interno Bruto (PIB) e da o financiamento com capitais próprios:
cupações aos empresários e aos seus receita fiscal. Só a queda do IRC no dis- - dedução por lucros retidos e rein-
negócios. Para concorrerem a mecanis- trito alcançou os 31 por cento e o valor vestidos (DLRR) – dedução por lucros
mos de apoio como o PRR ou o Portu- dos prejuízos fiscais alcançou os 23 por retidos e reinvestidos da dependência
gal 2020, é necessário que as empresas cento. «Mas sobrevivemos», ressalvou de capitais alheios; - remuneração con-
possuam capitais próprios positivos. José Gante. vencional do capital social (RCCS) – e,
Teresa Eugénio justificou a escolha do
tema da conferência: «é uma matéria
que tem gerado algumas dúvidas, com
os contabilistas e os estudantes a decla-
rarem que é pouco tratada.» A profes-
sora da ESTG e membro da organização
Paulo Marques sintetizou ainda os objetivos do evento: José Gante
«Promover as pontes de partilha do co-
nhecimento, fomentar o debate e esti-
mular a crítica construtiva.»

Financiamento
com capitais próprios
A moderação do primeiro painel – sobre
«O capital próprio-aspetos contabilísti-
cos e fiscais» – ficou a cargo de Alexan-

24 CONTABILISTA 266
NOTÍCIAS

em 2008, este cenário alterou-se. «Nos


últimos 15 anos, o pêndulo tem vindo
a deslocar-se no sentido dos interes-
ses do Estado. Esta tendência começa
a desenhar-se com o projeto Base Ero-
sion and Profit Shifting (BEPS) da OCDE,
com a criação de inúmeras cláusulas
antiabuso», defendeu. António Martins
acrescentou que nos últimos anos a
Autoridade Tributária tem insistido em
que se prove e justifique o impacto e o
propósito económico dos negócios em
detrimento da justificação da poupança
fiscal. Não é de estranhar, por isso, que
no CAAD já estejam vários processos
finalmente, incentivos à recapitalização pre a exemplos concretos, o docente denunciando o «propósito abusivo» das
das empresas. Paulo Marques enfatizou esclareceu ainda outros aspetos termi- decisões da administração fiscal.
ainda que «as limitações à dedução nológicos, nomeadamente ao nível dos
de juros e encargos financeiros visam instrumentos de capital próprio. An- Alargamento do regime
promover a redução do endividamen- tónio Martins utilizou a parte final da de «férias fiscais»
to excessivo da economia e atenuar a sua abordagem para uma retrospetiva «As alterações fiscais ao Orçamento do
tradicional propensão do sistema fiscal dos últimos 40 anos no relacionamen- Estado para 2022» foi o tema escolhido
para privilegiar o financiamento da ati- to entre Estados e empresas: «entre para o segundo e último painel da tarde.
vidade económica através do capital.» 1980 e 2008, o pêndulo internacional Fernando Amado, docente da ESTG/IPL,
Para finalizar, uma chamada de atenção deslocou-se no sentido das empresas. A foi o moderador, tendo começado por
para o facto de a DLLR só ser aplicável maior parte das normas, especialmente destacar o facto «inédito» de em maio
relativamente a investimentos iniciais, as de fiscalidade internacional, tendeu ainda se estar a debater um documen-
considerando-se como tal, «a criação para aligeirar a carga fiscal, facilitar a to que apenas foi aprovado na genera-
de um novo estabelecimento», «o au- mobilidade internacional de capitais, lidade, em sede parlamentar. A queda
mento da capacidade do estabeleci- reduzir a tributação dos investimentos do governo no último trimestre do ano
mento já existente», «a diversificação transfronteiriços, etc.» Em suma, favo- e a realização de eleições no final de
da produção de um estabelecimento no recer os interesses fiscais das empresas. janeiro de 2022, justificam a novida-
que se refere a produtos não fabricados Mas depois da crise financeira, iniciada de. Presença assídua anualmente nesta
anteriormente nesse estabelecimento» conferência, Cristina Casalinho apre-
ou «uma alteração fundamental do pro- sentou as curtas alterações introduzi-
cesso de produção global de um estabe- das à proposta do OE 2022, em matéria
lecimento existente.» fiscal, com enfoque no IRC. A coorde-
Cristina Casalinho nadora da equipa de inspeção tributá-
Pêndulo dos interesses do Estado ria da direção de finanças de Leiria fez
«O capital próprio como instrumento de questão de destacar a alteração ao re-
gestão fiscal» foi a abordagem que cou- gime da «Patent Box», sobre os direitos
be a António Martins. O professor da de autor e propriedade intelectual e a
Faculdade de Economia da Universidade revogação do Pagamento Especial por
de Coimbra (FEUC) iniciou a sua inter- Conta (PEC). No âmbito das disposi-
venção, sempre num registo empolgan- ções transitórias sobre as tributações
te, referindo-se aos aspetos jurídicos, autónomas, a proposta no Parlamen-
financeiros e contabilísticos do capital to, propõe que, em 2022, no caso das
próprio. Recorrendo praticamente sem- cooperativas, micro, pequenas e médias

MAIO 2022 25
NOTÍCIAS

diferimento e suspensão extraordiná-


rios de prazos, com o alargamento do
regime de «férias fiscais» (Lei Geral Tri-
butária – artigo 57.º A) é uma «boa no-
Paulo Bragança tícia» para os contabilistas certificados, Cristina Sá
a comunicação dos elementos das fatu-
ras fixar-se até dia 5 do mês seguinte
ao mês da emissão é, pelo contrário,
«uma má notícia».
A sessão de encerramento aconteceu
após a entrega dos prémios SAGE e
IMB aos melhores alunos de Simulação
Empresarial. A bastonária Paula Fran-
co deixou palavras de reconhecimento
para os seis alunos distinguidos e para
todos os outros presentes na plateia:
empresas não exista aumento das taxas «sigam a profissão de contabilista cer- tamos em negociações com a secreta-
de tributação autónoma, em 10 pontos tificado. Se souberem fazer a gestão da ria de Estado para se manter o dia 8»,
percetuais, em caso de prejuízo fiscal. vossa carreira, não se vão arrepender.» esclareceu.
Já no que ao Código Fiscal ao Investi- Aproveitando um dos temas falados na O balanço final pertenceu a Cristina
mento diz respeito, a proposta pretende conferência, a bastonária defendeu que Sá, também membro da comissão or-
prorrogar o regime de benefícios fiscais o «IRS Jovem» devia ir mais além, com ganizadora. A professora da ESTG/IPL
contratuais, até 2027. maior abrangência em termos de ida- declarou que desta conferência saiu a
Paulo Bragança é outra das presenças de, de modo a que as novas gerações «necessidade de fomentar a capitaliza-
garantidas nesta conferência e já cons- se sintam aliciadas a permanecer no ção das empresas.»
tituem um clássico as suas intervenções país. Satisfeita pelo alargamento das
em parceria com Cristina Casalinho. O “férias fiscais” às obrigações contri- Transmissão integral da conferência
inspetor tributário da direção de finan- butivas, a bastonária não escondeu o
ças de Leiria debruçou-se sobre as al- seu desapontamento pela alteração à Apresentações disponíveis na
terações em matéria de IRS. No regime data-limite para submissão das decla- Pasta CC
fiscal aplicável a ex-residentes, alarga- rações periódicas de IVA. «É uma data
-se o regime fiscal dos ex-residente que demasiado curta. Foi muito radical. Es- Galeria fotográfica
venham a tornar-se residentes em 2021,
2022 e 2023. Na isenção de rendimen-
tos das categorias A e B, alarga-se o
regime «IRS Jovem», passando também
a abranger os rendimentos da categoria
B de IRS.
Uma novidade que diz respeito a mi-
lhões de portugueses relaciona-se com
as alterações de escalões de rendimen-
tos. «O desdobramento do sistema pas-
sa de sete para nove escalões, sendo
o terceiro e o sexto os que sofrem o
impacto. É a evidenciação da progres-
sividade do imposto, acautelando, no-
meadamente, os rendimentos até 15 mil
euros», sintetizou Paulo Bragança. Se o

26 CONTABILISTA 266
Cerimónia de entrega dos certificados decorreu a 20 de maio

Rigor, respeito e ética,


a receita para o sucesso
Texto Nuno Dias da Silva | Fotos Sara Matos

O dia 20 de maio de 2022 ficará


gravado de forma indelével na
memória dos 237 membros aprovados
tónio Jorge Nogueira e o violoncelo de
João Valpaços fizeram, a três tempos,
ecoar pela sala músicas de Bruno Mars,
Franco. Sendo a profissão de contabi-
lista certificado de interesse público, a
bastonária sustentou que rigor, respei-
no exame de avaliação profissional de Christina Perri e Sam Smith. Foi o emba- to e ética são receitas para o sucesso.
acesso à Ordem. Após o esforço, a de- lo perfeito para o que se seguiria. «Esta, como não podia deixar de ser, é
dicação, a cerimónia que decorreu no uma profissão exigente, complexa e que
auditório António Domingues de Aze- «Falsear resultados corresponde a um conhecimento vasto e
vedo, em Lisboa, soube a glória. Antes não salva empresas» ímpar para quem a exerce. Por isso, de-
do grande momento, a parte matutina Coube à bastonária ser a porta-voz posito enorme esperança em todos vós,
foi preenchida com um workshop sobre da mensagem de boas-vindas. Foram de modo a contribuírem para as nossas
marketing e técnicas de negociação, palavras recheadas de alertas e muita empresas e a sustentabilidade do país»,
ferramentas que os novos profissionais pedagogia. «Hoje começam os vossos acrescentou. A responsável máxima da
têm de dominar num mercado cada vez verdadeiros desafios. Hoje começa o Ordem abordou, seguidamente, a pres-
mais competitivo. Antes da ansiada su- vosso verdadeiro processo de forma- são que, permanentemente, recai sobre
bida ao palco do auditório da Ordem, ção e aprendizagem. Queremos que os contabilistas certificados: «Para além
os presentes foram brindados com uma cresçam com confiança, para que te- das responsabilidades tributárias e con-
inédita e inesperada performance musi- nham as condições para poderem ser os tributivas, as demonstrações financei-
cal nestas cerimónias. O violino de An- melhores profissionais», referiu Paula ras das empresas são decisivas para a

MAIO 2022 27
rários que destroem a profissão e que
são uma forma de concorrência desleal.
Temos de ser intransigentes nesta ma-
téria. Não se consegue trabalho sério
e rigoroso com a prática de honorários
desadequados. interiorizem isto como
um princípio de vida», insistiu.
«Não se consegue «No vosso exercício
trabalho sério e rigoroso Resistir às tentações profissional, nem
com a prática de Paula Franco argumentou que é normal tudo depende dos
honorários desadequados. existirem «tentações» no início da car- conhecimentos técnicos,
interiorizem isto como um reira para baixar preços para valores mas sim de valores
princípio de vida.» não adequados para captar clientes. e comportamentos»
Paula Franco Contudo, defendeu, «é preciso resistir a Pedro Pinheiro
estas tentações. Não é possível evoluir
concessão de financiamento bancário, se não assentarmos a nossa prática em nária foi dedicada à apresentação da
atribuição de fundos e subsídios. Como valores éticos. O dinheiro não é tudo na Ordem e dos serviços que proporciona
tal, os profissionais são muito pressio- vida». e disponibiliza aos membros. «A OCC
nados para a melhoria do “aspeto” das As questões estatutárias e deontológi- é a ordem profissional mais presen-
empresas. Por isso, temos de ser muito cas são, desde sempre, parte integrante te na vida dos seus membros e tudo
firmes, refletindo sempre uma imagem dos exames de avaliação profissional de faz para que os profissionais tenham
verdadeira e apropriada das contas das acesso à Ordem. «O respeito e o de- um desenvolvimento de competências
empresas, incorporando mais valias e ver de lealdade entre colegas, nomea- muito forte. É preciso dar solidez ao
acrescentado valor. Falseando resulta- damente no processo de transição de conhecimento concreto, até porque os
dos não estamos a salvar empresas», contabilidades entre profissionais, é ou- nossos erros têm consequências», re-
disse. Mas os alertas de natureza pro- tro dos problemas com que esta profis- feriu. Esclarecimentos à distância ou
filática não se ficaram por aqui: «Para o são se confronta», declarou, ao mesmo presenciais por parte do departamento
contabilista criar valor, tem de ter tem- tempo que recomendou, vivamente, a técnico, departamento jurídico e con-
po de dedicação aos clientes.» Estava leitura do estatuto e código deontológi- tencioso tributário fazem parte do core
dado o mote para a polémica questão co da Ordem, documento que constava da instituição no apoio diário aos seus
das avenças vir à baila: «os honorários do material recebido pelos novos mem- membros. Noutro âmbito, o seguro de
a praticar devem ser adequados à pro- bros no ato de credenciação. responsabilidade civil e o seguro de saú-
fissão. Infelizmente, praticam-se hono- A parte final da intervenção da basto- de são uma rede de proteção de grande

28 CONTABILISTA 266
de anos.» Num contexto de uma profis-
são mais tecnológica e mais exigente,
«os olhos da sociedade estão postos
nos contabilistas certificados». «Agora,
cada um decidirá, com as ferramentas
que tem à disposição, o rumo a dar à
sua carreira. Tenham a capacidade de
não ter medo da mudança», avançou
Pedro Pinheiro.
Os discursos já iam longos e a ansie-
dade aumentava. Altura mais do que
apropriada para a chamada ao palco e
para as fotos da praxe. José Sequeira
e Sónia Brito foram os escolhidos para
dar o mote ao solene juramento profis-
sional. Alinhados para a foto de família,
foi tempo de abandonar o auditório e
continuar a celebração de um dia ines-
quecível no foyeur do centro de forma-
ção da Ordem.

Transmissão integral da conferência

Reportagem-vídeo

Galeria fotográfica

utilidade. A Ordem promove ainda uma sobre o contabilista de sucesso. «Hoje,


média de duas centenas de formações entraram para uma família que partilha
(presenciais e online) por ano e todas um conjunto de valores comuns: a dig-
as quartas-feiras têm lugar as reuniões nidade, o respeito e a ética. E é preciso
livres virtuais (no canal do YouTube) e fi- que saibam que nenhuma família sub-
sicamente em dezenas de localidades do siste sem a partilha destes valores. No
continente e regiões autónomas. «A Or- vosso exercício profissional, nem tudo
dem orienta e fornece os serviços, mas o depende dos conhecimentos técnicos,
futuro está nas vossas mãos», finalizou mas sim de valores e comportamentos»,
Paula Franco. declarou Pedro Pinheiro. O também pre-
sidente do Instituto Superior de Con-
Uma família com valores tabilidade e Administração de Lisboa
partilhados (ISCAL) referiu ainda que «esta é uma
Na ausência do presidente do júri de profissão cada vez mais diferenciada e
exame de avaliação profissional, foi Pe- que acresce valor, com um reconheci-
dro Pinheiro, um dos membros da comis- mento e visibilidade social diferente –
são, a protagonizar uma breve alocução para melhor – do que era há meia dúzia

MAIO 2022 29
TESTEMUNHOS
O «bichinho» da contabilidade levou-os para a profissão.
Agora que são contabilistas certificados de pleno direito, revelam os seus sonhos
e identificam os principais problemas da carreira que agora abraçam.

A ambição de trabalhar
por conta própria

Ricardo Rebelo, 49 anos, Almada

Receber hoje o certificado de contabi- também pretendo poder fazer algum tra-
lista certificado faz deste um dia muito balho independente, vulgo prestação de
especial e é o concluir de um processo. serviços, visto que atualmente trabalho
Terminei a minha licenciatura em Con- numa empresa por conta de outrem. Di-
tabilidade, no ISCAL, há mais de 15 ficuldades? Acompanhar a evolução legis-
anos. Trabalho como técnico de contabi- lativa constante em termos fiscais. Não
lidade desde essa altura, mas o ano pas- acho que os prazos sejam o mais compli-
sado achei que era importante dar mais cado. A forma como as empresas se orga-
este passo e fui bem sucedido no exame nizam, faz com que, por vezes, se trabalhe
de avaliação profissional. Ter o apoio em cima do joelho no cumprimento das
da Ordem é algo muito importante, mas obrigações fiscais e contributivas.

Natália Silva, 24 anos, Murtosa (Aveiro)

Tirei a minha licenciatura no ISCA-UA, bilidade, embora mais simples. E foi logo
depois fiz um estágio profissional numa aí que surgiu o «bichinho» pela contabili-
empresa industrial, na qual ainda estou, dade. Com 16 anos, fiz um estágio curri-
exercendo como técnica de contabilida- cular no escritório de uma nossa colega,
de. Com este certificado penso poder vir Rosário Lacerda. E lembro-me bem que
a corresponder com outra capacidade na parede estava exposto um certificado
às necessidades de gestão. Como con- com o seu nome e número de membro da
tabilista certificado conseguirei ter um OCC. Ao ver, disse para mim própria: «É
papel mais ativo no aconselhamento e aqui que eu quero chegar!». Há colegas,
apoio da gestão. Saber ler as demons- como esta, que vejo como um apoio e
trações financeiras é fundamental no uma referência. Entendo que quem estu-
apoio à gestão. Acredito que os nossos da contabilidade e depois não atinge este
passos começam a ser marcados desde patamar, é o mesmo que morrer na praia.
jovens. No ensino secundário tirei técnica Para mim, é uma honra ser contabilista
de gestão. Ou seja, já lidava com conta- certificada.

30 CONTABILISTA 266
Tiago Pais, 28 anos, Abrantes

Estudei em Coimbra e já trabalho na área te valorizador e até prestigiante, para nós


há 3 anos. Sempre tive a vontade de ser próprios. Espero que o futuro me sorria e
contabilista certificado. O processo foi até que tenha bons clientes. Infelizmente, há
um pouco complicado. Demorei algum tem- muitos colegas que não valorizam tanto o
po, mas consegui. Espero, muito em breve, nosso trabalho como devia ser, nomeada-
começar a exercer, por conta própria. Se mente ao nível dos honorários. Espero, por
conseguimos chegar até aqui, julgo que isso, poder contribuir para inverter este es-
este é o passo seguinte a dar. Será bastan- tado de coisas.

Paula Pires, 37 anos, Quinta do Conde (Sesimbra)

É o concluir de um sonho, após vários mente trabalho por conta de outrem. As


anos de esforço, em que tive de tra- principais dificuldades para os profissio-
balhar e estudar, em simultâneo. É um nais são várias: por vezes, nem sempre é
grande orgulho e uma grande realização possível ter os documentos todos na nossa
poder dizer que sou contabilista certifi- posse, o que é um obstáculo ao trabalho
cada. Comecei a trabalhar na área no desenvolvido. A valorização e reconheci-
início da minha licenciatura, em 2017, mento da profissão na sociedade ainda é
como técnica de contabilidade, após ter um problema. Mas melhorar só depende
feito um curso profissional de técnica de de nós. É preciso acabar com os honorá-
contabilidade. Começou a nascer um «bi- rios abaixo dos preços de mercado. Isso
chinho» em mim e iniciei a licenciatura, não nos dignifica e inferioriza-nos. É pre-
para maiores de 23 anos. Como objetivos ciso que os clientes nos paguem pelo justo
futuros, tenho a ambição de conseguir tra- valor do nosso trabalho. Mas temos ainda
balhar para mim própria, visto que atual- um longo caminho a percorrer.

Jorgina Gonçalves, 42 anos, Vila Real

É uma realização pessoal que já há as nossas cabeças. Para além disso, há


muito tempo ambicionava. Depois de sempre clientes que não compreendem
muita luta e muito estudo ter o certi- o motivo por que levamos honorários
ficado nas mãos é indescritível. Estou um pouco mais elevados pelo trabalho
mesmo feliz. Já tenho experiência na desenvolvido. Para eles é «só um pa-
área, trabalho há mais de 15 anos como pel», «é só uma assinatura» e da nos-
técnica de contabilidade. E agora, acre- sa parte compete-nos contribuir para
dito, que vou conseguir voar com as o reconhecimento da profissão. Ainda
minhas próprias asas. O que muda? O há pouca valorização da profissão, mas
passo seguinte é estabelecer-me por esse trabalho depende, em grande me-
conta própria, realizando um sonho que dida, de nós próprios, os que chegam
já tenho há muitos anos. Os prazos são agora à profissão, e também dos que já
sempre uma dificuldade que está sobre estão há mais tempo no mercado.

MAIO 2022 31
NOTÍCIAS

Conferência anual da EFAA


A conferência anual da European Federa- políticas, regulamentos e padrões, para a
tion of Accountants and Auditors (EFAA) for agenda da sustentabilidade. Na ocasião,
SME’s dedicada ao tema genérico Practice Helena Costa, lembrou a realização do 7.º
transformation: SMP’s embracing change Congresso dos Contabilistas Certificados
teve lugar a 2 de junho, em Alicante (Es- (21 a 23 de setembro) dedicado em ex-
panha). clusivo a abordar os temas da sustentabi-
Helena Costa, diretora da Ordem, e Carlos lidade, referindo ainda, entre outras ma-
Menezes, membro do board da EFAA desde térias, a criação, já este ano, do projeto
2018, em representação da OCC, marca- de certificação de qualidade para que «o
ram presença neste evento que agrega al- contabilista certificado seja um verdadei-
gumas das mais importantes organizações ro agente social da mudança.»
de contabilistas e auditores da Europa. No dia seguinte, Carlos Menezes (na foto
A diretora da Ordem foi uma das orado- em baixo, segundo da direita para a es-
ras do segundo painel da manhã de traba- querda, acompanhado pelos restantes
lhos, dedicado à Diversification of services membros eleitos), presidente da Comis-
offering: Sustainability, no qual os oradores são de História da Contabilidade da Or-
foram desafiados a explicar de que forma dem, foi reeleito, por unanimidade, para
as suas organizações estão a contribuir, o board da EFAA para o mandato 2022-
junto dos seus membros, através das suas 2024.

Canal de denúncia – documento explicativo


A Lei n.º 93/2021, de 20 de dezembro, blowing.
em vigor desde 18 de junho de 2022, A Ordem preparou um documento onde
estabelece o regime geral de proteção explica, de forma sistematizada, o que
de denunciantes de infrações, transpon- está em causa, com este novo norma-
do a Diretiva (UE) 2019/1937 do Par- tivo, com destaque para os seguintes
lamento Europeu e do Conselho, de 23 pontos: o que pode ser objeto de de-
de outubro de 2019, relativa à proteção núncia? Quem pode denunciar? Como
das pessoas que denunciam violações apresentar uma denúncia? Que prazos
do Direito da União – Lei do Whistle- devem ser considerados? 

Clube mototurístico «CC sobre rodas»


O clube mototurístico «CC sobre Ro-
das» organizou, entre 16 e 18 de junho,
mais um evento de confraternização
entre os profissionais. Esta iniciativa
percorreu, desta feita, a mítica Estrada
Nacional 2, entre Chaves e Faro.

32 CONTABILISTA 266
NOTÍCIAS

Bastonária em “aula”
sobre literacia financeira

Paula Franco participou, a 31 de maio, do sistema fiscal e, mais em concreto,


na segunda sessão da AESE Talk, uma as razões da existência dos principais
iniciativa dos Salesianos do Estoril que impostos (IRS, IRC, IVA, IMI; IMT). «É
foi dedicada à literacia financeira. Para o preço que pagamos para ter um país
tal, a Ordem ofereceu a todos os alunos que nos dê respostas e aquilo de que Reunião livre
livros da série «A Joaninha e os impos- precisamos», afirmou a bastonária da presencial na
tos», conforme a idade dos destinatá-
rios.
OCC que lembrou a todos os presentes
a importância de pedir fatura em todas
Figueira da Foz
Socorrendo-se da célebre frase do juiz as compras de bens e serviços que se- A Figueira da Foz recebeu a, 30 de maio,
norte-americano Wendell Holmes - «Os jam realizadas. «Se todos pagarmos, pela primeira vez, uma reunião livre pre-
impostos são o preço que pagamos pela pagaremos menos impostos», garantiu sencial.
civilização» - Paula Franco encarnou à jovem assistência. Cerca de uma centena de contabilistas
por alguns minutos no papel de docen- Nesta passagem pelo universo fiscal, certificados da região não quis perder
te e deu uma aula a cerca de centena Paula Franco recordaria ainda o papel a oportunidade de usufruir, de perto,
e meia de alunos do ensino secundário da Segurança Social, vincando que os desta nova possibilidade, lotando prati-
daquela escola do Estoril e, posterior- descontos que para lá se fazem «não camente o Auditório da Incubadora de
mente, a sensivelmente o mesmo núme- são um imposto, são uma contribuição Mar & Indústria da Figueira da Foz.
ro de alunos do ensino do terceiro ciclo, para termos direitos diretos. É a melhor Antes do arranque da sessão, que teve
para explicar o modo de funcionamento garantia que podemos ter.» como formadores Cristina Sá e Júlio
Batista, Paula Franco, bastonária da
Ordem e Nuno Lopes, presidente da
Associação Comercial e Industrial da

Vice-presidente na Maia
Figueira da Foz, assinaram um proto-
colo de cooperação que irá permitir a
realização mensal de uma reunião livre
Jorge Barbosa participou, a 9 de junho, naquele espaço.
numa aula aberta para os alunos da li- Para além da responsável máxima da
cenciatura em Contabilidade do Instituto Ordem, estiveram ainda presentes os
Politécnico da Maia. O vice-presidente diretores Manuel Teixeira e Álvaro
da OCC apresentou a Ordem e o seu Costa, bem como os três represen-
percurso desde a sua criação, em 1995, tantes eleitos pelo círculo eleitoral de
tendo-se debruçado, igualmente, sobre Coimbra (Cristina Freire, Fernando Gi-
as condições de acesso e de exercício da rão e Sílvio Vilão). 
profissão de contabilista certificado. 

MAIO 2022 33
NOTÍCIAS

Os impostos e a sociedade
explicados na escola
A Escola Básica e Secundária Padre Ma- Madeira, foram os oradores, tendo-se
nuel Álvares, na Ribeira Brava, Madeira, debruçado sobre as causas e efeitos dos
organizou, a 6 de junho, uma conferên- impostos em Portugal e na Madeira, em
cia sobre os impostos e a sociedade, e particular, bem como dos diversos tributos
que contou com a presença de uma tur- existentes e qual a sua finalidade. Os prós
ma do 11.º e outra do 12.º ano. João e os contras da profissão, o futuro dos
Ramos e Margarida Brazão, membros da contabilistas certificados e a digitalização
Assembleia Representativa eleitos pelo foram outros dos pontos fortes deste en-
Círculo Eleitoral da Região Autónoma da contro. 

Reunião livre presencial na Lousã


Cerca de sete dezenas de contabilistas tre a OCC e esta entidade que prevê
certificados participaram, a 6 de junho, a cedência do Auditório da Biblioteca
na primeira reunião livre presencial na Municipal Comendador Montenegro
Lousã. para a realização das futuras reuniões
Jorge Barbosa, vice-presidente do Conse- livres.
lho Diretivo - a bastonária Paula Franco Manuel Teixeira e Álvaro Costa, direto-
acabou por não conseguir marcar pre- res da Ordem, bem como os três repre-
sença por compromissos de agenda de sentantes eleitos pelo círculo eleitoral
última hora - esteve acompanhado na de Coimbra (Cristina Frade, Sílvio Vi-
abertura pelo presidente da edilidade, lão e Fernando Girão) marcaram igual-
Luís Antunes e por Carlos Alves, pre- mente presença nesta nova aposta da
sidente da Associação Empresarial da Ordem que tem sempre como pano de
Serra da Lousã. O arranque dos traba- fundo melhorar a qualidade de vida
lhos foi, aliás, aproveitado para cele- dos contabilistas certificados e apostar
brar um protocolo de cooperação en- numa política de proximidade.

Nova representação em Braga


Na sequência da aquisição da Quinta do lhe seguirem, decorrerá já nas novas ins-
Pinheiro, em Braga, onde está a ser insta- talações - um moderno espaço multiusos
lada a nova representação e do respetivo para benefício de todos os contabilistas
processo de mudança, a representação certificados.
minhota abrirá ao público a 6 de julho. A Quinta do Pinheiro fica situada na Rua
Porque se trata de uma quarta-feira, a Frei José Vilaça, n.º 280, Ferreiros. 
reunião livre presencial, e todas as que se

34 CONTABILISTA 266
NOTÍCIAS

Aprovadas “férias contributivas”


e reforço do regime de justo impedimento
Garantia de Compensação do Trabalho, De realçar ainda que os prazos relativos
que devam ser cumpridas no mês de aos atos praticados nos procedimen-
agosto, sendo o prazo de tais obriga- tos contraordenacionais, bem como ao
ções estendido até ao último dia desse exercício do direito de audição ou de
mês, independentemente de ser dia útil, defesa em quaisquer procedimentos,
sem quaisquer acréscimos ou penali- exercício do direito à redução de coi-
dades. Simultaneamente, o prazo para mas, dispensa de coima, bem como de
entrega em agosto das declarações de pagamento antecipado de coimas, ou de
remunerações previstas no artigo 40.º esclarecimentos solicitados pelas ins-
do Código dos Regimes Contributivos do tituições de Segurança Social ou Auto-
Sistema Previdencial da Segurança So- ridade para as Condições do Trabalho,
cial, na sua redação atual, é estendido que terminem no decurso de agosto, são
Foi aprovada na Assembleia da Repú- até ao dia 25 de agosto, sem quaisquer transferidos para o primeiro dia útil do
blica, a 26 de maio, a Proposta de Lei acréscimos ou penalidades. mês seguinte.
n.º 4/XV/1.ª que reforça os direitos dos Por outro lado, é reforçado o regime Acresce ainda que são suspensos du-
contabilistas certificados em duas ver- do justo impedimento de curta duração rante o mês de agosto os prazos rela-
tentes fundamentais. aplicável aos contabilistas certificados. tivos aos procedimentos de fiscalização
A proposta de lei passa a incluir no re- Este reforço inclui como causa de justo resultantes da aplicação dos regimes
gime das "férias fiscais” as obrigações impedimento a assistência inadiável e contributivos do sistema previdencial de
no âmbito da relação jurídica contri- imprescindível a cônjuge ou pessoa que Segurança Social.
butiva e de regularização de dívida à viva em união de facto ou economia co- As alterações relativas ao justo impedi-
Segurança Social, bem como as obriga- mum e a parente ou afim no 1.º grau da mento entram em vigor a 1 de janeiro
ções de natureza similar decorrentes da linha reta, em caso de doença ou aciden- de 2023, enquanto as relativas às "férias
Lei n.º 70/2013, que regula o Fundo de te destes, e ajusta o regime de contagem contributivas” passam a vigorar já com
Compensação do Trabalho e o Fundo de de prazos. o Orçamento do Estado para 2022. 

O futuro da contabilidade
A bastonária Paula Franco participou, a
17 de maio, ao fim da tarde, numa con-
ferência subordinada ao tema «O futuro
da contabilidade em Portugal», promo-
vida pela Associação de Empresas de
Paredes (ASEP), no distrito do Porto.
O evento, que decorreu no auditório
da Casa da Cultura de Paredes, contou
ainda com a participação do vice-pre-
sidente da Ordem, Jorge Barbosa, e do
presidente da Câmara Municipal de Pa-
redes, Alexandre Almeida, também ele
contabilista certificado. 

MAIO 2022 35
NOTÍCIAS

Delegação da OTOCA em Lisboa


Uma delegação da OTOCA (Ordem dos
Técnicos Oficiais de Contas e Auditores)
de São Tomé e Príncipe esteve, nos úl-
timos dias de maio, na sede da Ordem
para realizar diversas ações de forma-
ção e troca de experiências. Os conta-
bilistas são-tomenses Demóstenes Pires
Santos, Adelino Batista Sousa, José
Umbelina e Adelino Vera Cruz estiveram
reunidos, posteriormente, com Paula
Franco, tendo, na ocasião, oferecido à
bastonária uma lembrança alusiva da-
quele país africano. 

Simuladores OCC atualizados


Já se encontram disponíveis os simula-
dores atualizados dos pagamentos por
conta de IRC e pagamentos adicionais por
conta de 2022. Na página da OCC cria-
da para o efeito, encontra estes e outros
simuladores (pagamentos especiais por
conta, regime simplificado da categoria
B do IRS, Segurança Social e retenção na
fonte - IVA e Segurança Social) que pode-
rão ser úteis para o seu dia a dia. 

Ordem na tomada de posse na U. Aveiro


Jorge Barbosa, vice-presidente da Or- Paulo Jorge Ferreira é doutorado em En-
dem, esteve presente, a 18 de maio, na genharia Eletrotécnica e professor Cate-
tomada de posse de Paulo Jorge Ferrei- drático no Departamento de Eletrónica,
ra para o segundo mandato como reitor Telecomunicações e Informática da Uni-
da Universidade de Aveiro. A cerimónia versidade de Aveiro, departamento do
decorreu no Auditório Renato Araújo, no qual foi diretor entre fevereiro de 2015 e
Edifício Central e da Reitoria. fevereiro de 2018.

36 CONTABILISTA 266
NOTÍCIAS

A ética nas organizações


pressão, podemos estar a ferir não só as
normas éticas, mas também a afetar toda
a economia.»
Dirigindo-se a uma plateia onde pontifica-
va a juventude, Paula Franco lembrou que
«os jovens têm uma ética mais vincada, o
que é bom para o futuro» e que a área da
contabilidade está praticamente em pleno
emprego, «o que vos dá oportunidade de
poderem escolher, mas também uma gran-
de responsabilidade. As escolhas têm que
ser ponderadas, mas também devem ser
preparadas.»
Paula Franco participou, a 17 de maio, nária defendeu que «o sucesso se baseia Numa intervenção onde vincou a im-
num seminário de Ética organizado pelo na ética, no trabalho e no rigor», ao mes- portância cada vez maior do relato não
Instituto Superior Politécnico Gaya, em mo tempo que deixou o alerta: «A falta de financeiro (será um dos temas centrais
Vila Nova de Gaia. «O papel da ética nas lealdade entre colegas dita o fim de uma do 7.º Congresso dos CC), Paula Franco
organizações do século XXI e o seu im- profissão.» reiterou ainda a necessidade de a econo-
pacto na gestão contemporânea» foi o Os assuntos éticos são, por isso, «um dos mia e o país precisarem de «profissionais
tema sobre o qual a bastonária se debru- grandes temas em todas as profissões qualificados. O contabilista, hoje, é um
çou, tendo afirmado, a propósito, que «a regulamentadas e de interesse público», consultor, não pode perder tempo a fazer
ética, ou se tem ou não se tem.» A basto- pelo que, assegurou, «quando cedemos à registos.»

Relato não financeiro aula aberta no IPL


Paula Franco participou, a 9 de junho, numa
aula aberta com alunos da licenciatura do
curso de Contabilidade e Finanças da Es-
cola Superior de Tecnologia e Gestão do
Instituto Politécnico de Leiria. Ao longo da
sessão, a bastonária da OCC abordou a
importância da contabilidade para a vida
das empresas, bem como da qualidade
da informação. O relato não financeiro,
um dos temas que estará subjacente ao
7.º Congresso dos CC, em setembro, e a
sua preponderância nos dias que correm e
nos que virão, foi outro dos pontos fortes
abordados por Paula Franco que, na fase
das perguntas e respostas, esclareceu
ainda os estudantes sobre a profissão e a
importância do contabilista certificado na
sociedade atual.

MAIO 2022 37
ORDEM NOS MEDIA

Fisco continua a aplicar


coimas apesar do justo
impedimento
«A queixa é da bastonária da OCC
que lamenta a "falta de operacio-
nalidade", com toda a utilização de
recursos que implica, quer dos contri-
buintes, quer da própria Autoridade
Tributária", sublinha. Paula Franco fa-
lava esta quarta-feira numa conferên-
cia organizada pelo Sindicato dos Tra-
balhadoresdos Impostos sobre fraude
TVI - Entrevista à bastonária, Paula Franco e evi são fiscal e aduaneira e chamava
Prorrogação até dia 6 de junho da entrega da declaração modelo 22 e análise ao a atenção para o que considera serem
Orçamento do Estado 2022, foram tópicos da conversa no programa «Esta Manhã». situações de recursos gastos desne-
cessariamente (…)»

REDES SOCIAIS

5 366 874 VISUALIZAÇÕES Reforma dos trabalhadores


33 324 FOTOS dos impostos preocupa
30 151 SUBSCRITORES contabilistas
«A bastonária da Ordem dos Conta-
bilistas mostrou-se preocupada com
72 111 GOSTOS a diminuição de trabalhadores dos
2002 SEGUIDORES impostos devido a reforma, apelando
78 250 SEGUIDORES a concentrar recursos no combate à
fraude e evasão fiscais e a reduzir li-
tigâncias “não necessárias” com con-
tribuintes (…)»
8164 SEGUIDORES 285 SEGUIDORES

NOVIDADES DE ÂMBITO TÉCNICO * CONTAS & IMPOSTOS


Isenção de IVA – análise à Lei
n.º 10-A/2022
Pareceres técnicos mais vistos em maio Artigo de Bernardo Correia,
consultor da Ordem

∞ IRC - Gratificações
IRS - Os benefícios fiscais à
∞ IVA - Sucatas
∞ IRC - Retenção na fonte
capitalização das empresas
∞ IVA - Transações intracomunitárias
Artigo de Bruno Chotas, consultor
∞ IRC - Benefícios fiscais ∞ IRS - Residência fiscal
da Ordem
∞ IRC - Benefícios fiscais (DLRR) ∞ Taxa de câmbio
∞ IRC - Declaração modelo 22 ∞ Cobertura de prejuízos
IRS - O regime do
reinvestimento
Artigo de Elsa Marvanejo da
*Mais informação em: https://www.occ.pt/pt/noticias/pareceres-tecnicos/
Costa, consultora da Ordem

38 CONTABILISTA 266 MAIO 2022 38


COLABORAÇÃO ISCAC

Entre a Contabilidade e a História:


recordatória de Luca Pacioli (1446/7-1517),
uma referência incontornável para
os contabilistas certificados
Este artigo, revisitando o pai fundador da Contabilidade moderna, Luca Pacioli,
uma personalidade histórica com grande notoriedade entre os contabilistas certificados, tem
como objetivo essencial dar a conhecer, de uma forma informativa e pedagógica,
os principais aspetos associados à sua vida e à sua obra.

Por Cecília Duarte*, Miguel Gonçalves* e Cristina Góis* | Artigo recebido em abril 2022

E m 1494 foi publicado em Veneza


um abrangente livro matemá-
tico com 616 páginas de impressão
conhecido pela classe profissional
dos contabilistas. Marginalmente,
anote-se, todavia, que Pacioli ape-
Gutiérrez, 2004).
Após este trecho introdutório, a se-
gunda secção apresenta a distinção
muita densa, a que hoje correspon- nas refere no De Computis et Scriptu- entre as partidas simples e as parti-
deriam cerca de 1 200 páginas. Esta ris que dará a conhecer aos leitores das dobradas e a terceira identifica
obra impressa, da autoria do ma- o método de Veneza (il modo di Vi- os principais traços biobibliográfi-
temático e frade franciscano Luca negia, nos seus exatos termos); por cos de Pacioli marcantes para a Con-
Pacioli (1446/7–1517) (é impreciso o conseguinte, não grafa nem cunha tabilidade. A exposição termina com
ano do seu nascimento), intitulava- a expressão ‘partidas dobradas’ no as notas finais do artigo.
-se Summa de Arithmetica, Geome- seu incunábulo de 1494 (Gonçalves,
tria, Proportioni et Proportionalita 2019). Não obstante, e como salienta Partidas simples
(Coletânea de Aritmética, Geome- Sangster (2021, p. 126), a «Contabi- versus partidas dobradas
tria, Proporções e Proporcionalida- lidade tem poucos heróis, mas aque- Monteiro (2004, p. 59) define as par-
de), um livro de matemática geral e le que mais reconhece como digno tidas simples (ou unigrafia) como o
de matemática aplicada aos negó- desse elogio é Luca Pacioli.» método contabilístico no qual «se
cios cuja importância para a Con- Nestes termos, o tema de fundo deste faz o registo de qualquer facto ape-
tabilidade radica no facto de dele escrito é justamente prestar tributo nas no deve [débito] ou no haver
fazer parte um pequeno tratado de a Pacioli e à sua relevante contri- [crédito] de uma conta sem registo
27 páginas dedicado à exposição das buição histórica para a dissemina- equivalente do mesmo facto nou-
partidas dobradas: o De Computis et ção do conhecimento contabilísti- tra ou noutras contas.» Os registos
Scripturis (Sobre as Contas e a Escri- co. O texto segue uma metodologia contabilísticos estavam confinados
turação) (Gonçalves, 2019). de investigação qualitativa através aos registos de transações que en-
Como é do conhecimento geral, o De da realização de uma revisão da li- volvessem a concessão ou o recebi-
Computis et Scripturis corresponde teratura. O artigo enquadra-se na mento de crédito (Yamey, 1947). Esta
à primeira exposição e sistematiza- corrente de investigação da história técnica baseava-se no livro razão
ção, em obra impressa, do método tradicional da contabilidade, pois (também denominado livro mestre),
das partidas dobradas, razão pela confere ênfase à origem das práticas com a particularidade de todas as
qual Luca Pacioli é sobejamente contabilísticas (Carmona, Ezzamel e suas contas representarem pessoas,

MAIO 2022 39
COLABORAÇÃO ISCAC

ou seja, devedores e credores com das dobradas respeitam a um jogo de Luca Pacioli e o primeiro livro
quem o comerciante se relacionava contas fechado, completo e coesivo impresso sobre partidas dobradas
(Gonçalves, 2017). de duas séries de contas: contas de Luca Pacioli, Luca Paciolo, Luca Pa-
Em contraponto, o método das par- elementos patrimoniais e contas de ciuolo, Luca di Borgo – por todos
tidas dobradas (ou digrafia) caracte- capital.» estes nomes é conhecido o autor da
riza-se como «um método de registo Quando comparado ao sistema con- Summa (Silva, 1995). Pacioli foi um
contabilístico em que toda e qualquer tabilístico unigráfico, o sistema di- frade franciscano que nasceu em
alteração de valor, ocorrida em qual- gráfico apresenta diversas vanta- Borgo de San Sepolcro (centro de
quer conta, provoca invariavelmen- gens, de entre as quais se destacam: Itália), em 1446 ou 1447, tendo fale-
te uma alteração noutra ou noutras - Registo ordenado dos negócios; cido em 19 de junho de 1517.
contas de igual valor, o que traduz o - Adaptabilidade do sistema a todo Em 1464, com cerca de 17 anos, Pa-
constante equilíbrio das alterações» o tipo de eventos; cioli ruma a Veneza, cidade onde
(Carqueja, 1993a, p. 174). - Registo sistematizado e ordena- desenvolve os seus estudos de ma-
Intimamente relacionado com este do, divisão de tarefas, redução do temática e na qual permanece até
conceito encontra-se a noção de erro e prevenção da fraude; 1470; neste período de seis anos, Pa-
contabilizar um determinado facto - Melhor auxiliar de memória e me- cioli trabalha para um comerciante
patrimonial. Como sugere Carqueja lhor controlo financeiro interno; judeu de nome António Rompiasi, de
(1993b, p. 456), «contabilizar os fac- - Controlo de movimentos de nu- cujos três filhos homens é preceptor,
tos é determinar quais as contas que merário; a par da sua atividade de assistên-
foram afetadas e registá-las indican- - Sistema integral de registo deter- cia comercial a Rompiasi (Sangster,
do as alterações por ordem crono- minador do lucro; 2011; Gonçalves, 2019).
lógica (no livro diário), e por ordem - Controlo de ativos e controlo efi- No entanto, o campo onde mostrava
de contas de razão (no livro razão).» caz de crédito; e, por último especial aptidão era o da matemá-
Neste sistema estabelecem-se contas - Manutenção de registos precisos tica, disciplina que veio a lecionar
para os objetos do comércio, como de auxílio à tomada de decisão em quase todas as principais uni-
sejam as contas de caixa, de merca- (Gonçalves, 2019). versidades italianas da época (Sil-
dorias, entre outras (Pequito, 1875), A possibilidade de usufruto destas va, 1995). Pacioli também ensinava
não se restringindo às contas de pes- vantagens foi possível, entre outros em escolas de ábaco, as quais en-
soas como no método anterior, as fatores, graças à disseminação de sinavam matemática comercial a
partidas simples. Nesta linha de pen- livros impressos que expusessem o rapazes de 10-12 anos destinados a
samento, Gonçalves (2019, p. 86) re- método das partidas dobradas, o pri- uma carreira no comércio (Ciocci,
fere que «de um prisma conceptual, meiro dos quais, em termos cronoló- 2009). Advirta-se que, como refere
convirá também realçar que as parti- gicos, foi a Summa de Pacioli (1494). Rabinowitz (2009), Pacioli nunca

40 CONTABILISTA 266
COLABORAÇÃO ISCAC

exerceu a atividade de contabilis- Figura 1: Retrato de Luca Pacioli e do seu discípulo (ano de 1495)
ta nem foi o criador do sistema das
partidas dobradas; ele apenas es-
creveu sobre este método, porque
acreditava que o método veneziano
(as partidas dobradas) era o mais
adequado para proporcionar aos
comerciantes informação sobre to-
dos os seus negócios.
No De Computis et Scripturis, Pacio-
li, depois das instruções para a ela-
boração do inventário inicial para o
registo de ativos, de passivos e, por
diferença, para o registo do valor
do capital inicial, refere que devem
ser abertos três livros principais
para as anotações das transações
comerciais do mercador: o me-
morial, o diário e o razão (Pacioli,
1494). No sistema pacioliano, todas
as entradas respeitantes ao método Fonte: Google Images
das partidas dobradas são primei-
ramente escrituradas no memorial mundo do comércio (Sangster e Pacioli de «o pai da contabilidade»
e, depois, no diário respetivo. Pos- Scataglinibelghitar, 2010). Regis- (cf. Sangster, 2007, p. 126; Rabi-
teriormente, são transferidas para tou uma tiragem de cerca de 2 000 nowitz, 2009, p. 14).
o razão competente. Haja em vista exemplares (Sangster, 2007). Nes- No que tange a aspetos iconográ-
que Pacioli admite que alguns co- te quadro, é importante sublinhar ficos, Pacioli foi retratado numa
merciantes, tendo um volume de que estão referenciados em Por- pintura a óleo sobre painel, em
negócios reduzido, possam utilizar tugal três exemplares da Summa 1495, um quadro que se pode ver
apenas dois livros: o diário e o ra- (1494): um encontra-se na Biblio- presentemente na cidade de Ná-
zão (Pacioli, 1494). teca Municipal Pública do Porto poles no Museu e Galeria Nacional
A Summa de Pacioli registou quatro (com a cota INC. 143); outro per- de Capodimonte (figura 1). A iden-
edições em Itália – em 1494, 1523, tence ao acervo da Biblioteca da tidade do pintor não é conhecida
1878 e 1911 (Silva, 1995) – e foi tra- Ajuda, em Lisboa (com a cota BA– com certeza plena, mas a literatura
duzida universalmente em diversos 48–XI–6); e o outro pode ser con- da especialidade costuma atribuir
idiomas, designadamente, alemão, sultado na Biblioteca Nacional de a autoria da obra de arte ao vene-
castelhano, checo, francês, inglês, Portugal, também em Lisboa (com ziano Jacopo de’ Barbari (ca. 1440–
italiano, japonês, mandarim, neer- a cota INC. 908) (Gonçalves, 2019). 1516).
landês, polaco, português (aqui, Apesar do De Computis et Scriptu- Um parêntese final para assinalar
veja-se o trabalho seminal de Car- ris representar apenas 27 das 616 que o volume de capas vermelhas
queja, 2014), romeno, russo e turco páginas totais da Summa, como se sobre o qual repousa um dodecae-
(Sangster, 2007). escreveu, «é uma referência histó- dro (sólido geométrico com 12 fa-
A Summa foi o primeiro livro im- rica, dado corresponder ao primei- ces) regular de madeira, que apa-
presso sobre temas associados à ro livro impresso sobre partidas rece no canto inferior à direita da
área dos negócios, de que consti- dobradas, o que explica a notorie- figura 1, é, como se vislumbra, o
tuem exemplos a aritmética co- dade do autor Luca Pacioli entre os incunábulo que permite a Pacioli
mercial, os pesos e as medidas e contabilistas» (Carqueja, 2011, p. figurar nos anais da Matemática e
o normativo legal dos negócios, 21). Bem assim, alguns acreditados da Contabilidade de há mais de 500
entre outros assuntos ligados ao autores qualificam frequentemente anos a esta parte: a Summa.

MAIO 2022 41
COLABORAÇÃO ISCAC

Notas finais 1758, em Lisboa, do primeiro li- àquela bem conhecida asserção de
Este texto revisitou uma das per- vro português sobre contabilidade Joaquim Cunha Guimarães (1958–
sonagens mais ilustres da Contabi- por partidas dobradas, o Mercador 2012): «Uma maior e melhor divul-
lidade mundial: Luca Pacioli. Em- Exacto nos seus Livros de Contas gação da nossa querida disciplina
bora Pacioli não seja o inventor da (título abreviado), uma obra da au- – a Contabilidade – contribui para
contabilidade por partidas dobra- toria do francês Jean Baptiste Bona- o seu enobrecimento.» (Guimarães,
das, deve-se ao frade franciscano vie (1705–1780) (Gonçalves, 2021). 2007, p. 51).
italiano a autoria do primeiro livro A encerrar, faz-se um apelo pe-
impresso de divulgação da referida dagógico à academia portuguesa * ISCAC – Coimbra Business School
temática. para uma maior difusão do legado
Em Portugal, as partidas dobradas inapagável de Pacioli e, bem as- Bibliografia disponível em («A Ordem
apenas viriam a ser difundidas du- sim, do de outros relevantes e no- - Publicações – Revista Contabilista –
rante o período de governação do táveis autores, para que assim os Bibliografia»)
Marquês de Pombal (isto é, 1750- futuros contabilistas certificados
1777), por outras palavras, cerca possam ver reforçado o seu senti- Notas
de 250 anos após a publicação da do de pertença a uma comunidade 1
A data exata da morte de Pacioli foi desco-
Summa e do seu De Computis et e mais bem internalizada a natureza berta em 1978 por Akira Nakanishi (1905–
Scripturis. Para tal difusão, tam- e a identidade da sua nobre e his- 2005), professor e investigador japonês
bém contribuiu a publicação, em tórica profissão, fazendo assim jus (veja-se Nakanishi, 1979).

42 CONTABILISTA 266
CONTABILIDADE

Acontecimentos após
a data do balanço
Têm vindo a ser divulgadas orientações em matéria contabilística sobre
o impacto do contexto geopolítico e da referida incerteza associada
ao mesmo na preparação das demonstrações financeiras.
Este texto reflete sobre o seu impacto, incluindo a divulgação.
Por Anabela Santos* | Artigo recebido em abril de 2022

O atual contexto geopolítico é mar-


cado pela incerteza, a qual tem,
necessariamente, implicações no re-
ção contabilística internacionais, e tal
como já sucedeu para o ano de 2020,
têm vindo a ser divulgadas orienta-
Definição de «acontecimentos
após a data do balanço»
Começamos por trazer à reflexão a
porte financeiro e impõe ao prepa- ções em matéria contabilística sobre o definição de «acontecimentos após a
rador das demonstrações financeiras impacto do contexto geopolítico e da data do balanço», que consta da NCRF
uma reflexão crítica e específica sobre referida incerteza associada ao mes- 24, do capítulo 19 da NCRF- PE (a nor-
os seus impactos no reconhecimento, mo na preparação das demonstrações ma contabilística das microentidades
desreconhecimento e mensuração de financeiras, desde logo porque muitas é omissa a este respeito) e também do
ativos e passivos. Para uma parte re- entidades ainda se encontram em pro- capítulo 19 da NCRF-ESNL.
levante das entidades que preparam cesso de encerramento dos exercícios. Por definição, tais acontecimentos são
demonstrações financeiras de acordo Do atual contexto geopolítico pouco aqueles, favoráveis e desfavoráveis,
com o Sistema de Normalização Con- temos a acrescentar que os leitores que ocorram entre a data do balan-
tabilística (SNC) ou as normas inter- não sejam já conhecedores: conflito ço e a data em que as demonstrações
nacionais de contabilidade, estes im- político-militar, sanções económicas financeiras forem autorizadas para
pactos serão negativos, embora não e financeiras, escalada dos preços das emissão, pelo órgão de gestão.
sejam de excluir impactos positivos matérias-primas, aumento das taxas Estes acontecimentos podem ser de
decorrentes desse mesmo contexto, de juros, reorganização de cadeias de dois tipos:
nomeadamente em entidades que ve- abastecimento na decorrência da in- - Acontecimentos após a data do ba-
nham a beneficiar dos efeitos de deslo- terrupção ou instabilidade nos circui- lanço que dão lugar a ajustamen-
calização de opções de procura e ofer- tos de abastecimento e transporte de tos; e
ta de bens e serviços, por exemplo, e bens, apenas para referir os mais im- - Acontecimentos após a data do ba-
desde logo, no setor do turismo. Nesta pactantes. Interessa-nos aqui refletir lanço que não dão lugar a ajusta-
medida, em Portugal, na Europa e ao sobre o seu impacto nas demonstra- mentos.
nível dos organismos de normaliza- ções, incluindo a divulgação. No caso dos acontecimentos que dão
lugar a ajustamentos, devem ser efe-
tuados os ajustamentos aos valores
reconhecidos nas demonstrações fi-
nanceiras, acompanhados das divul-
gações no anexo.
No caso dos acontecimentos que não
dão lugar a ajustamentos, apenas se
impõe a divulgação no anexo dos
acontecimentos considerados signi-
ficativos, ou seja, se o seu efeito for

MAIO 2022 43
CONTABILIDADE

material e quando a sua não divul- ver lugar a ajustamentos decorrentes podem ter de ser preparadas sob a
gação possa influenciar as decisões da incapacidade de cumprir compro- perspetiva da descontinuidade, as-
económicas tomadas com base nas missos financeiros, por exemplo, no sentes em incertezas relevantes, e
demonstrações financeiras. âmbito das moratórias de créditos, baseadas em julgamentos da gestão.
Concretizando estes conceitos para o ou, ainda da necessidade de efetuar Serão relevantes para o efeito, no-
contexto geopolítico atrás sumaria- reestruturações de pessoal por im- meadamente, o âmbito da disrupção
mente apresentado, diremos que os possibilidade da sua plena ocupação operacional, a potencial redução da
factos aí referidos, quando ocorram ou, alternativamente, o recurso ao procura de bens e serviços transa-
entre a data de balanço e a data de layoff como medida temporária de cionados pela entidade, mas também
emissão das demonstrações finan- fazer face à redução da capacidade a diminuição da oferta nas cadeias
ceiras e tragam provas adicionais produtiva. de abastecimento, a capacidade de a
de condições existentes à data de É ainda de voltar a considerar outros entidade cumprir com as suas res-
balanço, tendo relação com os valo- ajustamentos que se tornaram rele- ponsabilidades no curto prazo (em
res apresentados no balanço e/ou na vantes nos anos da pandemia, como regra, considera-se relevante o pe-
demonstração de resultados à data a redução das taxas de depreciação ríodo contabilístico seguinte) e os
de balanço, devem, nessa medida, de ativos, com utilização diminuí- efeitos financeiros decorrentes de
dar lugar a ajustamento nas demons- da ou em subutilização (máquinas e escassez de liquidez ou substancial
trações financeiras e atualização das equipamentos parados por onero- do seu custo por via do aumento das
notas que lhes façam referência. sidade dos custos com energia, por taxas de juro.
Neste contexto, podem estar em cau- exemplo). A descontinuidade das operações
sa, por exemplo: Em qualquer caso, e como estabelece pode ter origem na necessidade de
- Ajustamentos relacionados com a a NCRF 1, uma entidade deve divul- liquidar ou reduzir as atividades ou
mensuração do justo valor de ati- gar, no anexo, informação acerca dos unidades de negócio da entidade,
vos e passivos financeiros, bem principais pressupostos relativos ao pelo que o balanço deve ser ajustado
como de ativos não financeiros, futuro e outras principais fontes da tendo em conta os ativos que a enti-
em particular, o goodwill; incerteza das estimativas à data do dade poderá ter necessidade de alie-
- Atualização de taxas de juro, por balanço, que tenham um risco signi- nar, assim como as condições mais
exemplo, na aplicação do custo ficativo de provocar um ajustamento ou menos desvantajosas em que os
amortizado em ativos e passivos material nas quantias escrituradas passivos poderão ser liquidados, pelo
financeiros; de ativos e passivos durante o perío- que deve ser dada especial ênfase aos
- Atualização de taxas de juro na do contabilístico seguinte. critérios de mensuração e à eventual
mensuração de responsabilida- No anexo são ainda divulgados os necessidade de desreconhecimento à
des com pensões contribuídas juízos de valor que o órgão de ges- data do balanço.
pelo empregador (com redução de tão fez no processo de aplicação das A perspetiva de descontinuidade tem
responsabilidades por via do au- políticas contabilísticas da entida- em consideração os eventos até à data
mento da taxa de juro, mas a pon- de e que tenham maior impacto nas de aprovação das demonstrações fi-
derar com o eventual aumento da quantias reconhecidas nas demons- nanceiras.
massa salarial dos trabalhadores trações financeiras. Por outro lado, como o futuro é, por
abrangidos); No limite, pode estar em causa a pró- definição, incerto, os acontecimen-
- O reforço de imparidades e pro- pria continuidade das operações ou tos que não ocorram entre a data
visões, sobretudo de créditos co- um forte impacto decorrente de pa- de balanço e a data de emissão das
merciais; e ragens forçadas da atividade devido, demonstrações financeiras não são
- Uma cuidada ponderação que por exemplo, ao aumento exponen- considerados acontecimentos após
impeça o desreconhecimento de cial dos custos de energia, matérias- a data de balanço, pelo que não dão
provisões, numa ótica de pru- -primas em geral e custos de abaste- lugar a ajustamentos nem a divulga-
dência, na qual, como sabemos, cimento ou disrupção das cadeias de ções no anexo. 
assenta a preparação das de- abastecimento. Neste caso, estando
monstrações financeiras. em causa a continuidade das opera- *Consultora da Ordem dos Contabilistas
Há ainda que equacionar se pode ha- ções, as demonstrações financeiras Certificados

44 CONTABILISTA 266
FISCALIDADE

O combate à fraude e evasão fiscais


em sede do imposto sobre o valor
acrescentado em Cabo Verde
Compreender a importância do IVA para as finanças públicas do Estado, tendo em conta
que representa uma fonte geradora de receita produtiva e conhecer o impacto da evasão
e fraude fiscais em sede deste imposto, são os objetivos centrais deste trabalho.

Por Aleydita Pires*, Inês Barros**, Luís Monteiro*** e Ana Lucas**** | Artigo recebido em janeiro de 2022

O IVA é um imposto geral sobre


o consumo, incidindo sobre as
transmissões de bens e prestações de
O IVA foi introduzido no sistema fis-
cal de Cabo Verde através da Lei n.º
21/VI/2003 de 14 de julho. Posterior-
O IVA em Cabo Verde
Em 2004 entrou em vigor o IVA,
criado pela Lei n.º 21/VI/2003, de
serviços realizadas, a título oneroso, mente, a Lei n.º 81/VIII/2015, de 8 14 de julho, em conjunto com um
no território nacional, pelos sujeitos de janeiro, republicou a lei original, novo imposto sobre consumos
passivos agindo nessa qualidade. introduzindo também as alterações especiais, que veio substituir os
É um imposto plurifásico, não cumu- efetuadas pela Lei n.º 48/VI/2004, de antigos impostos incidentes sobre
lativo, funcionando em geral pelo 26 de julho; Lei n.º 53/VI/2005 de 3 as bebidas alcoólicas, tabaco e
método indireto subtrativo, de forma de janeiro; Lei n.º 4/VII/2007 de 11 de produtos petrolíferos, e com uma
a fracionar o pagamento pelos vários janeiro; Lei n.º 23/VIII/2012 de 31 de nova pauta de importação.
intervenientes do processo de produ- dezembro e Lei n.º 51/VIII/2013 de 27 Segundo Vasques (2005), o que teria
ção e distribuição dos bens e serviços. de dezembro. sido decisivo para a introdução do
Este imposto adota o princípio do Um sistema fiscal eficiente e eficaz IVA em Cabo Verde seria o papel
destino no comércio internacional, exige celeridade na cobrança das re- do Fundo Monetário Internacional
isentando totalmente as exportações ceitas tributárias e no controlo do (FMI), recomendando a sua adoção,
e operações assimiladas e tributando cumprimento das obrigações tribu- primeiro como parte do programa
as importações de bens nos mesmos tárias, razão pela qual importa dotar de ajustamento de Cabo Verde para
termos em que tributa transmissões o sistema fiscal com instrumentos 1998/2000, depois como parte do
de idênticos bens, internamente pro- legais, processuais e procedimentais programa Poverty reduction and
duzidos. adequados para que a administra- growth facility arrangement para os
A introdução do IVA em Cabo Verde ção tributária possa desenvolver na anos de 2002/2004. Porém, constata
constituiu a inovação mais impor- plenitude as suas atribuições e assim o autor que, desde o início dos anos
tante no sistema fiscal do País. Este fomentar o incremento de uma nova 90, a administração fiscal já tinha
imposto surgiu como meio de alargar cidadania fiscal, baseada numa filo- entrado em contacto com o IVA,
a base de incidência, o aumento da re- sofia, em que a relação Estado/con- tendo-o reconhecido como uma
ceita e, consequentemente, o desen- tribuintes assente na credibilidade e alternativa moderna e eficiente ao
volvimento económico do país. na confiança mútua. Daí a criação do antigo imposto de consumo. O IVA
Com a introdução do IVA, Cabo Ver- Decreto-Legislativo n.º 3/2014, de 29 em Cabo Verde é uma adaptação
de vê-se, contrariamente ao que se de outubro, que aprova o Regime Ju- do IVA em Portugal à realidade
verificava até então, com um imposto rídico das Infrações Tributárias não do país, apresentando as mesmas
mais simples e abrangente, adaptado Aduaneiras, que veio revogar a Lei n.º características como imposto
à nova realidade nacional. 23/VI/2003, de 14 de junho. (figura 1).

MAIO 2022 45
FISCALIDADE

Figura 1: Características do IVA


serviços prestados a não sujeitos
passivos são tributáveis no local
Incide sobre as transações em bens e serviços realizadas da sede do prestador ou do esta-
pelas empresas. Repercute no preço de venda, incidindo,
INDIRETO
em última instância, sobre o consumidor final e não sobre belecimento estável, a partir do
o produtor e/ou vendedor. qual os serviços são prestados.
Quanto à exigibilidade, o IVA é
A liquidação do imposto processa-se em todas as fases de devido e torna-se exigível nos se-
produção e distribuição dos produtos, ou seja, em toda a g uintes momentos:
PLURIFÁSICO
cadeia de fornecimento, na qual se incluem o produtor, o
- Nas transmissões de bens, no
grossista e o retalhista.
momento em que os bens são
colocados à disposição do ad-
Incide sobre a generalidade dos bens e serviços consumi-
GERAL quirente;
dos por quem manifesta capacidade contributiva.
- Nas prestações de serviços, no
Incide unicamente sobre o valor acrescentado, por cada momento da sua realização;
NÃO CUMULATIVO
sujeito passivo, durante as diferentes etapas económicas. - Nas importações, no momento
estabelecido pelas disposições
Não leva em conta as condições pessoais do sujeito pas- aplicáveis aos direitos adua-
REAL
sivo. neiros, sejam ou não devidos
esses direitos.
Não contempla as condições do consumidor, e então re- No entanto, sempre que a trans-
REGRESSIVO percute em maior proporção nos setores de mais baixo
missão de bens ou a prestação de
recursos e de menor riqueza acumulada.
serviços dê lugar à obrigação de
Fonte: Gomes (2010) emitir uma fatura, o imposto tor-
na-se exigível:
A incidência real do IVA é sobre: as atividades extrativas, agrícolas, - Se o prazo previsto para a
- Transmissões de bens – as silvícolas, pecuárias e de pesca. emissão for respeitado, no
transferências onerosas de bens São ainda sujeitos passivos do IVA momento da sua emissão;
corpóreos, por forma corres- as pessoas que mencionem indevi- - Se o prazo previsto para a
pondente ao exercício do direi- damente o IVA em faturas ou docu- emissão não for respeitado, no
to de propriedade; mentos equivalentes. Por último, momento em que termina;
- Prestações de serviços – todas também o Estado e outras pessoas - Se a transmissão de bens ou a
as operações efetuadas a título coletivas de direito público, quan- prestação de serviços derem
oneroso, que não constituem do realizem, de forma significati- lugar ao pagamento, ainda que
transmissões ou importações va, operações não integradas nos parcial, anteriormente à emis-
de bens; seus poderes de autoridade. são da fatura, no momento do
- Importação – a entrada de bens Como regra geral, o Código do IVA recebimento desse pagamen-
para consumo no território na- define que são consideradas tri- to, pelo montante recebido.
cional. butáveis em território nacional as Beneficiam da isenção do IVA os
Quanto à incidência pessoal, os transmissões de bens que aqui se sujeitos passivos que, não sendo
sujeitos passivos do IVA são todas encontrem no início da expedição tributados pelo método da veri-
as pessoas singulares ou coletivas, ou transporte ou, se não houver ficação, para efeitos de imposto
residentes ou não residentes, com expedição ou transporte, no mo- único sobre os rendimentos das
ou sem estabelecimento estável ou mento em que são postos à dispo- pessoas sing ulares (IRPS) ou das
representação em território nacio- sição do adquirente. pessoas coletivas (IRPC), nem
nal e que exercem de modo inde- Em relação aos serviços prestados praticando operações de impor-
pendente e com caráter habitual, a um sujeito passivo, em regra são tação, exportação ou atividades
com ou sem fins lucrativos, ativi- tributáveis no local da sede, esta- conexas, não tenham atingido, no
dades de produção, de comércio ou belecimento estável ou domicílio ano civil anterior, uma matéria
de prestação de serviços, incluindo do adquirente e, por outro lado, os coletável superior a 180 000 CVE

46 CONTABILISTA 266
FISCALIDADE

Figura 2: Tipologias de isenções do IVA


(1 636,31 euros).
A aplicação de isenções corres-
O sujeito passivo não liquida o imposto nas suas operações ati-
ponde a uma exceção ao princípio
vas, ou seja, nas vendas que realiza e nos serviços que presta,
da neutralidade, que consiste num mas pode deduzir o imposto suportado nas suas operações pas-
alicerce fundamental do sistema sivas (compra de bens a/ou nos serviços que lhe foram presta-
comum do IVA. Este princípio é ga- dos). O sujeito passivo que transmita bens constantes de uma
lista anexada ao código do IVA, pode desonerar-se da carga
rantido, principalmente, através do ISENÇÕES
fiscal suportada, sendo restituído todo o imposto que lhe foi li-
COMPLETAS
mecanismo da liquidação e da de- quidado, o que significa recuperar todo o IVA pago por altura da
dução de imposto, garantindo-se compra. Só nos casos em que vigora a taxa de zero por cento,
se pode falar numa verdadeira isenção, pois o transmitente não
que, dentro do país, bens e serviços
liquida o IVA ao adquirente, mas tem direito a deduzir o imposto
de um mesmo tipo se encontrem que suportou sobre bens e/ou serviços adquiridos, importados
sujeitos à mesma carga fiscal, in- ou utilizados para adquirir os bens constantes na lista anexa.
dependentemente da extensão dos
respetivos circuitos económicos. Por via do Código do IVA, o Estado de Cabo Verde isenta do
Sendo o IVA um imposto plurifási- IVA as prestações de serviços de saúde, Segurança Social, pro-
teção à infância, juventude e terceira idade, a cultura, serviços
co, tem lugar em todas as fases do postais, operações bancárias e financeiras, operações sujeitas
circuito económico, operando atra- ao imposto único sobre o património, operações de seguros e
ISENÇÕES
vés do método subtrativo indireto. resseguros, exploração de estabelecimentos destinados à prá-
INCOMPLETAS
tica de atividades artísticas, desportivas, religiosas, recreativas
Este método consiste na dedução e e de educação a pessoas que praticam essas atividades, ensino
liquidação do imposto em cada fase e formação. São chamadas isenções incompletas, pois o sujeito
do circuito económico, desde que as passivo não liquida o imposto e está impedido de deduzir o IVA
suportado na aquisição de bens ou serviços.
transações se processem entre su-
jeitos passivos, para efeitos de IVA, Fonte: Duarte (2014)
com direito à dedução. Assim, um
sujeito passivo não isento deverá, tivos. Para que uma entidade seja a sua distribuição.
por um lado, liquidar o IVA refe- considerada como tal, e para efei- No que respeita às taxas do IVA em
rente à transação que efetua, tendo, tos de isenção, deve cumprir os re- Cabo Verde, contrariamente ao que
por outro lado, o direito a deduzir quisitos previstos no art.º 10 da Lei acontece noutros países, optou-se
o IVA suportado a montante para a n.º 81/VIII/2015, de 8 de janeiro. por uma taxa única de 15 por cento
realização da transação em ques- O Tribunal de Justiça da União Eu- para as transmissões de bens, im-
tão. Porém, este direito de dedução ropeia (TJUE) esclareceu que uma portações e prestações de serviços,
não se verifica quando a atividade entidade comercial não pode ser evitando assim a complexidade ad-
económica praticada pelo sujeito considerada um organismo sem ministrativa para os contribuintes e
passivo esteja sujeita a uma isenção finalidade lucrativa apenas no que para a própria administração fiscal.
incompleta. Torna-se, desta forma, diz respeito a uma parcela da sua Devido ao momento conturbado vi-
importante esclarecer que existem atividade. Embora uma entidade vido pelo país e pelo mundo, decor-
dois tipos de isenções em matéria possa desenvolver atividades lu- rente do surto da Covid-19, o Go-
de IVA: as isenções completas ou crativas e atividades não lucrati- verno de Cabo Verde implementou
taxa zero e as isenções incompletas vas, para efeitos desta matéria, a medidas excecionais e temporárias,
ou simples (figura 2). atividade económica desenvolvida atribuindo uma taxa de 10 por cento
Em relação às importações de bens, como um todo tem de poder ser nas prestações de serviços de aloja-
a regra geral determina que sejam considerada como não tendo fina- mento em estabelecimento de tipo
sujeitas a IVA. Contudo, nem todas lidade lucrativa. Não pode, por- hoteleiro e similar e de restauração
estão sujeitas à regra geral. Estão tanto, uma empresa pretender ser no Orçamento Retificativo de 2020 e
isentas do imposto, as importações abrangida por uma isenção, na renovou a mesma taxa para o ano de
de bens cuja transmissão no terri- qualidade de organismo sem fina- 2021, através do Orçamento do Es-
tório nacional seja isenta. lidade lucrativa, por praticar ape- tado para o ano económico de 2021.
Uma última isenção do IVA aplica- nas algumas atividades, não tendo Após a determinação da incidên-
-se aos organismos sem fins lucra- em vista a produção de lucros nem cia e do lançamento, surge a fase

MAIO 2022 47
FISCALIDADE

da liquidação. Na liquidação, a co- Por último, o pagamento pode ser mentos referentes às operações de
laboração dos contribuintes reves- efetuado pelo contribuinte ou por compra e de venda que efetuaram,
te particular relevo. Isto porque, na terceiro, na qualidade de substitu- em particular as faturas ou docu-
generalidade das situações, cabe to ou responsável tributário, sendo mentos equivalentes, onde consta
aos sujeitos passivos proceder a esta que tal poderá ser realizado de modo claramente o IVA recebido ou pago.
operação de cálculo e apuramento faseado e antecipado, como são os Esta condição, que ocorre em todas
do imposto a pagar. No caso do IVA, designados pagamentos por conta. as fases da cadeia produtiva e dis-
estamos perante a autoliquidação. A Estes são os modos de pagamento vo- tributiva, confere transparência ao
Administração Tributária, na maio- luntário do imposto. Porém, se exis- imposto, da qual podem beneficiar
ria dos casos, apenas intervém em tir incumprimento no pagamento do todas as entidades que com ele li-
sede e no âmbito das funções ins- imposto por parte do contribuinte, a dam (Oliveira, 2010).
petivas que lhe estão cometidas, administração tributária procede à Ainda segundo Oliveira (2010), o
podendo proceder a correções do sua cobrança coerciva. Com o paga- consumidor final toma conheci-
rendimento e/ou da matéria coletá- mento do imposto pelo contribuinte, mento do imposto efetivo que re-
vel, tendo lugar, então, a liquidação extingue-se a obrigação tributária. caiu sobre a sua compra. O adqui-
oficiosa. rente fica na posse do documento
O apuramento do IVA consiste em Fraude e evasão fiscais em sede que lhe permitirá exercer o direito
deduzir o IVA dedutível, ou seja, do IVA - a transparência do IVA à dedução e provar às autoridades
o imposto que a empresa suporta A transparência do imposto pode ser tributárias que a sua compra foi su-
quando faz aquisições de mercado- facilmente detetável em qualquer jeita a imposto e o fornecedor obtém
rias, matérias-primas e bens e servi- fase da cadeia de transações a que os a prova de que liquidou o imposto.
ços sujeitos, ao IVA liquidado, que é o bens foram sujeitos, e em qualquer A administração fiscal pode, pelo
imposto que a empresa recebe com as circunstância. acesso a tais documentos, efetuar o
vendas e prestações de serviços. A forma correta de aplicação e ges- cruzamento das informações para
O sujeito passivo deverá entregar a tão do IVA obriga a que todos os melhor controlar as transações tri-
declaração periódica, Mod. 106, agentes económicos envolvidos nas butáveis, com vista à penalização
mensalmente, até ao último dia do transmissões de bens ou prestações dos infratores, ou mesmo à preven-
mês seguinte àquele a que respeitam de serviços registem e conservem ção de possíveis comportamentos
as operações. na sua contabilidade todos os docu- de fuga ao imposto.

48 CONTABILISTA 266
FISCALIDADE

A fraude ao IVA das condutas ilegítimas por parte dos sa de exibição de livros de escri-
Almeida (2011) afirma que a luta con- contribuintes, nomeadamente a não turação ou qualquer documento
tra os vários tipos de infrações deve liquidação, entrega ou pagamento da exigido pela lei fiscal;
acompanhar a evolução da própria prestação tributária ou a obtenção in- - Uso de livros ou documentos fis-
infração e que, para distinguir o tipo devida de benefícios fiscais, reembol- calmente relevantes, sabendo-os
de infração, há que ter em considera- sos, restituições ou outras vantagens viciados ou falsificados por ter-
ção as diferenças existentes no modo patrimoniais suscetíveis de causarem ceiro;
de atuação, uma vez que os esquemas diminuição das receitas tributárias - Celebração de negócio simulado,
fraudulentos utilizados são diversos. com vista à obtenção de vantagem quer quanto ao valor quer quanto
Tal como qualquer outro imposto, o patrimonial indevida, para si ou para à natureza, quer por interposição,
IVA tem-se mostrado passível de ser outrem. omissão ou substituição de pes-
contornado pelos seus destinatários A fraude fiscal pode ocorrer por: soa.
com consequências danosas, não só - Prestação de falsas declarações, Segundo o RJITNA, comete o crime de
para os interesses creditícios dos Es- ocultação ou alteração de factos abuso de confiança fiscal «quem não
tados, como, igualmente, para o bom ou valores que devam constar entregar à Administração Tributá-
funcionamento da concorrência entre nas declarações apresentadas ou ria, total ou parcialmente, prestação
os agentes económicos. prestadas, a fim de que a adminis- tributária de valor igual ou superior
No caso de Cabo Verde, as infrações tração tributária especificamen- a 3 000 CVE (27,27€) que tenha sido
fiscais em sede do IVA, dividem-se te fiscalize, determine, avalie ou retida, deduzida, apurada, recebida
em crimes fiscais e transgressões fis- controle a matéria tributável; ou liquidada, ainda que por conta da
cais (figura 3). - Ocultação de factos ou valores não prestação devida, nos termos das leis
Os crimes fiscais incluem a fraude declarados e que devam ser reve- tributárias e que estivesse legalmen-
fiscal e o abuso de confiança fiscal. lados à administração tributária; te obrigado a entregar. É punível com
De acordo com o Regime Jurídico das - Viciação, falsificação, ocultação, pena de prisão de 1 a 3 anos ou pena de
Infrações Tributárias não Aduanei- destruição, danificação, não pro- multa até 500 dias.»
ras (RJITNA), a fraude fiscal decorre cessamento, inutilização ou recu- Por outro lado, são exemplos de trans-

Figura 3: Infrações fiscais em sede do IVA

Fonte: Elaboração Própria

MAIO 2022 49
FISCALIDADE

gressões fiscais: do que é normal. por não adotarem formalmente um


- A recusa de entrega, exibição ou conjunto de medidas e mecanismos de
apresentação de escrita e de do- O combate à fraude troca de informação e cooperação ad-
cumentos fiscalmente relevan- e à evasão ao IVA em Cabo ministrativa que permita um controlo
tes; Verde reforçado e mitiga o risco associado à
- A falta de entrega do imposto; Nos países onde a fiscalização, a fraude e evasão fiscais, sendo ainda
- Falta ou atraso de declarações; inspeção e a vigilância dos contri- considerados outros aspetos relativos a
- Falta ou atraso na apresentação ou buintes é mais apertada, tradicio- medidas substantivas de concorrência
exibição de documentos ou de de- nalmente, a fuga e a fraude aos im- fiscal prejudicial, elaborado pelo Con-
clarações tributárias e de comu- postos são menos acentuadas. selho da UE e publicada anualmente.
nicações; Segundo Oliveira (2010), é eviden- A inclusão de um país na referida lis-
- A falsificação, viciação e alteração te que a lealdade fiscal demons- ta tem geralmente implicações muito
de documentos fiscalmente rele- trada pelos contribuintes é menor gravosas em matéria fiscal, como a
vantes; quando tiverem consciência de que aplicação por outros Estados de cláu-
- Omissões e inexatidões nas decla- o seu mau comportamento, não é sulas anti abuso nas transações com
rações ou em outros documentos detetado, e não é adequadamente sujeitos passivos do Estado não coope-
fiscalmente relevantes; combatido e sancionado. Comba- rante.
- Omissões e inexatidões nos pedi- ter eficazmente a fuga e a fraude É neste contexto que Cabo Verde tem
dos de informação vinculativa; aos impostos, revela uma defesa vindo a adotar várias medidas, a fim
- Inexistência de contabilidade ou para os cumpridores e uma forma de cumprir com as exigências pro-
de livros fiscalmente relevantes; de dissuasão para quem prevarica. postas pela UE, visando a transpa-
- Não organização da contabilida- Significa defender a transparência, rência e a justiça fiscais, e evitando
de de harmonia com as regras de prevenir as distorções da concorrên- consequências indesejáveis para o
normalização contabilísticas e cia, e um contributo decisivo para se posicionamento estratégico do país, o
atrasos na sua execução; alcançar maior justiça fiscal. que vem dificultando a atração ao in-
- Falta de apresentação, antes da No caso de Cabo Verde, o Governo vestimento, a internacionalização das
respetiva utilização dos livros de tem vindo a adotar várias medidas empresas locais e, consequentemente,
escrituração. para o combate à fuga ao fisco e eva- a competitividade, podendo ainda ser
Ainda de acordo com o RJITNA quem, são fiscal. Nesse contexto, Cabo Verde prejudicial no que diz respeito a acor-
dolosamente, falsificar, viciar, adul- comprometeu-se junto da UE a adotar dos e parcerias com outros Estados em
terar, destruir ou danificar elemen- um conjunto de medidas propostas matérias fiscais e não fiscais. Deste
tos fiscalmente relevantes, quando por esta, visando a transparência e a modo, foi desenvolvido um plano de
não deva ser punido pelo crime de justiça fiscais, com o objetivo de Cabo ação, designado por Plano de Ação
fraude fiscal, será punido com coi- Verde não constar na lista de países para Combate à Fuga e Evasão Fiscal,
ma de 150 000 CVE (1 363,60 euros) considerados como não cooperantes que assenta em 3 pilares/premissas (fi-
a 10 000 000 CVE (90 906,36 euros). em matéria fiscal, nomeadamente, gura 4).
A falsificação de documentos fiscal-
mente relevantes tem como objetivo
não só documentar custos inexisten-
tes como servir para obter reembol-
sos fiscais indevidos do IVA.
A fraude do IVA afeta significativa-
mente a receita fiscal do Estado e cria
constrangimentos na atividade eco-
nómica interna, criando uma grande
quantidade de circulação de bens e
permitindo que estes sejam coloca-
dos no mercado a preços mais baixos

50 CONTABILISTA 266
FISCALIDADE

Figura 4: Pilares do Plano de Ação para Combate à Fuga e Evasão Fiscal

A adesão ao Fórum Mundial


sobre a Transparência e Troca
de Informações Fiscais (Global
Forum on Transparency and Ex-
change of Information for Tax Uma das medidas ne- É um plano de ações da
Purposes), sendo Cabo Verde cessárias é a elimina- OECD para lidar com a
membro efetivo dessa Orga- ção ou alteração de erosão da base tributá-
nização desde 16 de julho de regimes fiscais conside- ria e da deslocalização
2018 rados potencialmente do lucro – Base Erosion
prejudiciais and Profit Shifting, que
foi cumprida integra-
mente pelo Governo de
Cabo Verde
A assinatura do acordo MAC
2014-2020 (Programa de Coo-
peração Territorial Interreg
V-A) em 26 de novembro de
2019, em Paris

Fonte: Elaboração Própria

Em abril de 2020 foi aprovada a Lei sorteio para a atribuição de prémio Neste sentido, «está-se a introdu-
n.º 86/IX/2020, de 28 de abril, com às pessoas singulares «cujo NIF se zir o modelo de fatura eletrónica e
as alterações aos Regimes Jurídi- encontre associado a uma fatu- obrigará a que o futuro valor to-
cos das Micro e Pequenas Empre- ra, fatura-recibo, talão de venda tal dos prémios a atribuir em cada
sas – REMPE, e das Infrações Tri- ou recibo de renda, designado de ano» – ainda por definir – fique
butárias Não Aduaneiras – RJITNA, Fatura da Felicidade.» Tem como «legalmente estabelecido» previa-
assim como os Códigos Tributários, objetivo realizar sorteios para pre- mente, com «suporte em despesa
particularmente o Código de Be- miar os contribuintes que pedem inscrita no Orçamento do Estado.»
nefícios Fiscais – CBF, Código do faturas, para assim o Governo as- Em Cabo Verde os contribuintes
Imposto sobre o Rendimento das sumir uma forma de travar a evasão têm pouca consciência cívica, no
Pessoas Coletivas – CIRPC, Código fiscal. que respeita ao cumprimento das
do Imposto sobre o Rendimento das O ministro das Finanças, Olavo obrigações fiscais. Sabendo que a
Pessoas Singulares – CIRPS e Códi- Correia, explicou que esta medi- evasão e a fraude fiscais provocam
go Geral Tributário – CGT, com o da «tem por finalidade promover uma diminuição das receitas nos
propósito de reforçar o princípio da e premiar a cidadania fiscal dos cofres do Estado, que resulta num
transparência, o combate à fuga e cidadãos no combate à economia prejuízo para a economia nacional
evasão fiscais, bem como a eficiên- paralela e na prevenção da evasão e, consequentemente, para os con-
cia e eficácia da Administração Tri- fiscal.» Afirma ainda que «a atri- tribuintes cumpridores, achamos
butária, como forma de fortalecer, buição dos prémios visa a preven- que o Estado deveria apostar for-
cada vez mais, uma relação de con- ção da fraude e evasão fiscais, va- temente na educação fiscal, como
fiança mútua com os contribuintes, lorizando a atuação dos cidadãos na uma das ferramentas mais impor-
ancorada na justiça fiscal, no prin- exigência de fatura, fatura-recibo, tante no combate à fraude e evasão
cípio da igualdade e no exercício da talão de venda ou recibo de renda, fiscais, com o objetivo de formar
cidadania fiscal. comprovativo da realização de uma cidadãos capazes de compreender
No dia 30 de abril de 2021, foi pu- operação tributável para efeitos de a função social dos tributos e de
blicado o Decreto-Legislativo n.º 3, IVA ou IRPS, conforme aplicável, entender a importância de acom-
que estabelece o regime jurídico do localizada em território nacional.» panhar a aplicação dos recursos

MAIO 2022 51
FISCALIDADE

públicos, ficando motivado para o empresas dos setores de comércio a Tendo em conta a sua característica
exercício da cidadania plena. grosso e a retalho e dos transportes creditícia, podemos observar que
Podemos concluir que é importan- e da construção civil, superando a atualmente cumpre o seu papel, na
te promover a consciência fiscal da performance do ano anterior que medida em que representa a maior
sociedade, entendida como o reco- abrange um encontro de contas de fonte de receita do Estado desde a
nhecimento individual e coletivo aproximadamente mil milhões de sua adoção.
do dever cívico de pagar impostos CVE. Posto isto, podemos afirmar que o
e contribuir, assim, para a manu- Em 2020, para mitigar os efeitos da IVA está bem enquadrado, tendo em
tenção das despesas públicas, em crise sanitária e económica, o Go- conta a realidade do país. No entan-
conformidade com os princípios verno implementou um conjunto to, serão sempre necessárias melho-
da solidariedade, da justiça, da de medidas, com o objetivo de fazer rias no sentido de evitar a fraude e
igualdade e da generalidade, que face aos impactos negativos da pan- a evasão fiscais, e os efeitos de re-
pode ser reforçada através de di- demia da Covid-19, destacando-se gressividade, característicos desse
versos meios. É necessário olhar o as medidas de reforço sanitário e de tributo.
pagamento dos impostos como um apoio à tesouraria das empresas. Tais Para a prevenção da fraude e eva-
dever cívico, um dever de cidada- medidas necessárias, consubstan- são fiscais ao IVA, tem-se apostado
nia, que todos têm a obrigação de ciaram-se numa maior pressão às muito na utilização das novas tecno-
cumprir. finanças públicas, para além do im- logias, nomeadamente a utilização
pacto direto sobre as receitas fiscais. de programas certificados de fatura-
Importância do IVA para O IVA registou, no período em aná- ção e a sua comunicação obrigatória,
as contas públicas do Estado lise, uma execução de 12 602 mi- através do sistema e-fatura, contri-
O sistema fiscal cabo-verdiano é lhões de CVE (114,288 milhões de buindo para um maior controlo da
composto por vários impostos, sen- euros), traduzindo-se numa redu- emissão de faturas pelos agentes
do estes a principal fonte de receita ção de 4 131 milhões de CVE (37,46 económicos.
do Estado. Concretamente, o IVA re- milhões de euros), representando Em resumo, se todos os agentes ti-
presenta a maior fonte de receita do uma diminuição de 24,7 por cento. verem uma boa literacia fiscal ou
Estado. Este decréscimo na cobrança deriva cultura de cidadania fiscal, estarão
Em 2019 registou-se uma execução dos fortes impactos da crise da Co- a contribuir fortemente para uma
de 16 733 milhões de CVE (151,75 vid-19, principalmente a nível do maior equidade fiscal. 
milhões de euros), traduzindo as- turismo, com a diminuição da taxa
sim, uma evolução positiva de 510 do imposto das empresas de aloja- *Licenciada em Economia
milhões de CVE (4,6 milhões de eu- mento e restauração de 15 para 10 Mestranda em Ciências Empresariais
ros), (+3,1 por cento), em relação ao por cento, e das medidas excecionais
ano anterior, com variações positi- decretadas pelo Governo, nomeada- **Licenciada em Contabilidade – Ramo:
vas em ambas as fontes de arrecada- mente a possibilidade de pagamento Auditoria
ção do IVA (DGA – Direção-Geral das do imposto em prestações. Mestranda em Ciências Empresariais
Alfândegas e DGCI – Direção-Geral
das Contribuições e Impostos), sen- Notas finais ***Licenciado em Engenharia de Construção
do que no IVA-DGA apurou-se um O IVA surgiu em Cabo Verde como Civil
aumento de 5,9 por cento (+459 mi- um meio de alargar a base de inci- Mestrando em Ciências Empresariais
lhões de CVE (4,2 milhões de euros) dência, o aumento da receita e, con-
e no IVA-DGCI de 0,6 por cento (+51 sequentemente, o desenvolvimento ****Professora auxiliar na Universidade
milhões de CVE (0,46 milhões de económico do país. Europeia e no Instituto Politécnico de Leiria
euros)). Esse desempenho reflete a No entanto, a sua introdução no sis- Investigadora integrada no CiTUR
tendência de crescimento deste im- tema fiscal não foi tão simples, pois Contabilista certificada n.º 16 275
posto, impulsionado, por um lado, sendo a data prevista para o efei-
pela cobrança de atrasados e maior to em 1991, a sua entrada em vigor Bibliografia disponível em («A Ordem
eficiência na cobrança e, por outro, apenas se verificou em janeiro de - Publicações – Revista Contabilista –
pelo aumento do imposto pago por 2004. Bibliografia»)

52 CONTABILISTA 266
GESTÃO

Uma perspetiva sobre


a evolução do XBRL
Para poder funcionar segundo os seus princípios basilares, o relato integrado necessita
que as atuais IFRS incorporem um conjunto de itens que garantam uma linguagem comum.
Essa linguagem é o XBRL que a Portugal apenas chegou em 2014...

Por Maria José da Silva Faria* | Artigo recebido em novembro de 2021

O entendimento do relato in-


tegrado constitui um estádio
avançado do uso da uma linguagem
gia como é conhecida, denomina-se
XBRL – eXtensible Business Reporting
Language.
tica do elemento filho para com
o pai, que pode ser de adição (1),
subtração (-1) ou nenhum (0).
comum e de uma forma de prepa- A origem do XBRL reside na lingua- - Order: ordem física de apresenta-
ração e utilização da informação gem XML, tendo sido apresentado ção do elemento.
do negócio que garante uma visão a 15 de janeiro de 1999 e em agos- - Label: rótulo do elemento, o qual
de longo prazo (AECA, 2012). Não to desse mesmo ano teve o apoio de pode ser diferente para os dife-
se trata de um formato inexistente, mais 11 instituições que se juntaram rentes idiomas utilizados.
pois já é usado por algumas gran- ao trabalho do AICPA, a Arthur An- Note-se que o XBRL, ao não ser uma
des empresas mundiais, desde há dersen, Deloitte & Touche, e-content taxonomia recente, tem propiciado o
alguns anos como a Novo Nordisk, Company, Ernest & Young, Edgar desenvolvimento de mais formatos,
United Technologies Corporation, Online, FRx Software Corporation, discussão e necessidade crescente da
Philips, etc. Esta forma de relato in- Great Plains, KPMG, Microsoft Cor- harmonização e reunião da informa-
tegrado foi desenvolvida pelo IIRC poration, PricewaterhouseCoopers ção sob um padrão comum (da Silva
- International Integrated Reporting e a The Woodburn Group (Riccio, & Cerqueira, 2020). O facto de exis-
Council, instituição que tem por ob- Sakata, Moreira e Quoniam, 2006). tir há vários anos e do seu aprimo-
jetivo criar uma framework do relato Com o apoio de instituições ligadas à ramento constante vem garantir que
integrado que seja aceite globalmen- área económica e financeira o desen- se trata de uma ferramenta útil no
te, que permita às organizações co- volvimento do XBRL foi crescente, mundo empresarial. Segundo Perda-
municar de forma prospetiva e re- mas para o seu correto funcionamen- na, Robb e Rohde (2015) a primeira
trospetiva, de forma a ir de encontro to foi necessária uma lista de infor- literatura sobre XBRL que apareceu
às necessidades da economia global mações tais como as descritas por em jornais académicos foi publicada
sustentável. (Riccio, Sakata, Moreira e Quoniam, em 2001 e intensificou-se a partir do
O relato integrado para poder fun- 2006, 172): ano de 2009.
cionar segundo os seus princípios - Name: nome do elemento.
basilares necessita que as atuais - Type: tipo de dado que é o ele- História e evolução do XBRL
IFRS incorporem um conjunto de mento descrito. A adoção do XBRL na América, seu
itens que garantam uma linguagem - Documentation: uma descrição do país de acolhimento, foi voluntária
comum. Essa linguagem vai pa- facto financeiro. durante vários anos e verificou-se
dronizar a informação financeira - To: para onde o elemento é dire- que só começou a fazer-se sentir a
garantindo mais características à cionado. partir do momento em que se im-
mesma (AECA, 2012). A linguagem - From: de onde provém o elemento. pôs obrigatória a sua utilização pela
comum que utiliza, ou terminolo- - Weight: indica a relação matemá- Securities and Exchange Commission

MAIO 2022 53
GESTÃO

– SEC. Mais tarde foi adotada pela 2013, depois de detetar diferenças setor na União Europeia (Gostimir,
FDIC - Federal Deposit Insurance Cor- entre as taxonomias das IFRS e do 2015). O objetivo é reduzir o esforço
poration, que ainda hoje o usa para a FASB, a SEC recomendou a prepa- de preparação e divulgação da in-
recolha de relatórios de conformi- ração de um mapa mais detalhado formação entre e para instituições
dade. Pode-se inferir que alguns dos para assegurar a comparação e evi- de crédito. Desde então um conjun-
fatores que estiveram na base do uso tar riscos de informação incorreta to de outras entidades se têm junta-
do XBRL na América se deveram aos (Singerová, 2015). do a este grupo de trabalho, o que
custos de implementação e de ado- Contudo, a história e abrangência está a permitir uma maior difusão
ção, que eram relativamente reduzi- do XBRL não se ficam pelas empre- e aprimoramento do XBRL. Enti-
dos, mas para Boritz e Timoshenko sas cotadas ou pequenas e médias dades como os seguros europeus e a
(2015) foram outros aspetos como o empresas - PME na América. A sua Autoridade Ocupacional de Pensões
baixo custo de capital, a elevada ca- aceitação na região europeia está a (Solvency II Taxonomy), o GRI (GRI
pitalização no mercado e o acesso ao disseminar o seu uso pelo mundo Taxonomy), o Carbon Disclosure Pro-
crédito mais robustecido, no caso de inteiro. Igualmente, a convergên- ject e o Climate Disclosure Standards
empresas cotadas em bolsa. cia entre o FASB e o IASB está a fa- Board (Climate Change Reporting
Em 2005, a SEC aprovou a Lei n.º zer aumentar a taxa de aceitação, Taxonomy) (Enachi e Andone, 2015)
33-8529 que permitia o registo vo- tal como a expectativa dos governos são algumas das que têm contri-
luntário das demonstrações finan- dos Estados-membros ao estabele- buído para a utilização de relatórios
ceiras no sistema de relato EDGAR cerem regras específicas especifica- segundo o COmmum REPorting e o
– Eletronic Data Gathering and Re- mente no setor financeiro para uso FINancial REPorting.
trieval. Este sistema tratava-se de do XBRL (Gostimir, 2015). O COREP é usado para providen-
um portal web que usava o formato O comité de supervisão dos bancos ciar regulamentação ao mercado,
XBRL no relato da informação (Ma- europeus decidiu em 2004 usar o para permitir mais transparência
rkelevich, Shaw e Weihs, 2015). Era formato de relato XBRL como uma e acautelamento do risco de ges-
facilmente acessível, mas não era ferramenta interativa para orga- tão, por isso reduz as barreiras de
manuseado de forma interativa, por nizações financeiras e os regula- acesso ao crédito e garante o efi-
outras palavras, necessitava de ser dores nacionais para promover a ciente funcionamento dos merca-
manualmente ajustado (Singerová, solvabilidade e robustez da estru- dos (Gostimir, 2015). O FINREP faz
2015). tura financeira da União Europeia parte das normas técnicas de exe-
Em 2006, a SEC contratou o XBRL (Gostimir, 2015). Neste âmbito, o cução da European Banking Authori-
US – XBRL United States para de- Parlamento Europeu propôs que o ty – EBA, e garante a conformidade
senvolver uma taxonomia denomi- XBRL pudesse ser usado pelas em- com os princípios fundamentais
nada US GAAP Financial Reporting presas para depósito das contas após de Basileia III para uma supervi-
Taxonomy (Li e Nwaeze, 2015). Em 2018. Facto que tem sido defendido são eficaz realizada tanto a nível
2008, a SEC impôs obrigatório o pelo IIRC ao advogar que o XBRL é de contas consolidadas como indi-
uso de XBRL por empresas públicas a chave tecnológica para o futuro do viduais (Instrução n.º 24/2014, do
cotadas em bolsa, incluindo as que relato integrado, facto que dá va- Banco de Portugal).
seguiam as IFRS (Singerová, 2015). lidade e continuidade ao trabalho Com o uso das dimensões do XBRL
Em 2009, o que anteriormente era desenvolvido pela AECA nesta área podemos ver diferentes proporções
um relato voluntário passou a ser (AECA, 2012). do mesmo facto, razão pela qual é
obrigatório para as grandes empre- A informação de XBRL produzida possível ter várias visões do mesmo
sas pela regra n.º 33-9002 (Marke- no setor financeiro europeu tem por facto como, por exemplo, a tempo-
levich, Shaw e Weihs, 2015), permi- base o COmmum REPorting – CO- ral e a espacial (Silva, 2007). Para
tindo um download de informação REP, e o relato financeiro, FINancial se perceber a evolução e antecipar
rápida em folhas de cálculo e outras REPorting – FINREP, que são dois uma visão futurista do que será a
ferramentas financeiras. Em 2011, projetos que o XBRL iniciou com o implementação do XBRL no mundo
a SEC alargou o relato obrigatório comité de supervisão dos bancos empresarial observem-se os princi-
pelo XBRL a todas as empresas (Li e europeus para garantir a harmo- pais marcos históricos desde o apa-
Nwaeze, 2015; Singerová, 2015). Em nização no relato financeiro deste recimento do XBRL (quadro n.º 1).

54 CONTABILISTA 266
GESTÃO

Quadro 1: Cronologia dos principais marcos históricos do XBRL

País/Conti-
Data Descrição
nente
Protótipos de informações financeiras a programas de auditoria com uso de linguagem XBRL.
04/1998 Reconhecimento por parte da ISO International Organization da primeira linguagem de marcação chamada
de SGML Standard Generalized Markup Language.
06/1999 Início do projeto de desenvolvimento da XFRML - eXtensible Financial Reporting Markup Language.
1.º Encontro sobre o XFRML em Nova Iorque que começou o desenvolvimento desta taxonomia. A taxono-
10/1999 mia começou por versar sobre as demonstrações financeiras de empresas comerciais e industriais abarcan-
do 80 por cento das empresas cotadas nos EUA.
EUA
1.ª conferência de imprensa que apresenta a tecnologia XBRL ampliando o processo de informação além da
04/2000
componente financeira.
Conclusão da taxonomia que assume a especificação 1.0.
07/2000 É formado um consórcio a nível internacional – XBRL internacional. Instituição sem fins lucrativos que tem
por objetivo a rápida expansão e adoção a nível global da linguagem XBRL.
A Microsoft anuncia a inclusão das ferramentas XML nos seus produtos.
2000
A SEC reconhece e recomenda um maior desenvolvimento da linguagem XBRL.
Início de uma vaga de conferências que se espalhou por diferentes países: EUA, Inglaterra, Austrália, Ale-
manha, Canadá, Japão, Holanda, Nova Zelândia, Bélgica e Espanha.
2001 Vários
O atual IASB apresentou para revisão uma versão da taxonomia para as demonstrações financeiras de
acordo com as normas internacionais de contabilidade.
2/2001 Inglaterra 1.ª Conferência XBRL Internacional em Londres.
6/2001 EUA 2.ª Conferência XBRL Internacional em New Orleans.
10/2001 Austrália 3.ª Conferência XBRL Internacional em Sidney.
3/2002 Alemanha 4.ª Conferência XBRL Internacional em Berlim.
6/2002 Canadá 5.ª Conferência XBRL Internacional em Toronto.
Lançamento da nova especificação XBRL 2.0, baseada no Enhanced XML – Schema Specification e utiliza o
Desconhecido
novo Schema Recommendation da WWW e a nova tecnologia XML Linking.
12/2001
Vários países faziam apoio ao desenvolvimento do XBRL tais como a Austrália, Canadá, Alemanha, Japão,
Vários
Holanda, Inglaterra e o organismo internacional IASB.
02/2002 Alemanha Publicação da taxonomia de acordo com a especificação XBRL 1.0 sendo atualizada para 2.1 em 2006.
A Microsoft assume-se como a primeira empresa tecnológica a apresentar as suas demonstrações financei-
03/2002 EUA
ras em formato XBRL.
08/2002 Nova Zelândia É criada a jurisdição da Nova Zelândia sobre o XBRL.
11/2002 Japão 6.ª Conferência XBRL Internacional em Tóquio.
04/2003 Coreia A Coreia estabeleceu a sua jurisdição provisória.
05/2003 Holanda 7.ª Conferência XBRL Internacional em Amesterdão.
Fundação de uma associação austríaca do XBRL que, entretanto, foi descontinuada. Neste momento a única
06/2003 Áustria entidade com ligações ao XBRL é o Oesterreichische Nationalbank que embora não produza informação em
formato XBRL tem acompanhado os seus desenvolvimentos.
11/2003 EUA 8.ª Conferência XBRL Internacional em Seatle.
12/2003 Desconhecido Criação do consórcio internacional do XBRL da especificação do XBRL 2.1.
Implementação da jurisdição provisória, que, entretanto, passou a definitiva e conta atualmente com mais
02/2004 Suécia de 20 membros. Em junho de 2007 foi publicada a mais recente taxonomia que obedece à taxonomia XBRL
2.1.
A jurisdição definitiva da Irlanda foi em 2004 e hoje tem mais de 15 membros. Em novembro de 2007 publi-
cou a taxonomia com base na especificação XBRL 2.1.
Irlanda e A Espanha tem mais de 48 membros. Teve a sua primeira versão de relato aprovada em 2005, a 2.ª versão
03/2004
Espanha em 2006 e atualizada em 2007. O Banco de Espanha desenvolveu um sistema para receber as contas de em-
presas públicas e de instituições de crédito. As empresas cotadas em bolsa têm que relatar de acordo com o
XRBL à CNMV – Comisón Nacional del Mercado de Valores.
05/2004 Nova Zelândia 9.ª Conferência XBRL Internacional em Auckland.

08/2004 Dinamarca A jurisdição provisória foi aprovada nesta data tornando-se definitiva em 2005 e tem mais de 13 membros.

MAIO 2022 55
GESTÃO

Constituição da jurisdição provisória belga do XBRL, tornando-se definitiva em julho de 2006. A sua juris-
dição é sediada no Banco Nacional da Bélgica e constituída por 22 membros. Em janeiro de 2006 nasceu a
1ª taxonomia e mais tarde em janeiro de 2008 uma nova versão da mesma. Na Bélgica o relatório enviado
11/2004 Bélgica
para o Banco Nacional provenientes de todos os bancos belgas é feito em XBRL, sendo enviados para o
setor da banca, finanças e seguros.
10.ª Conferência XBRL Internacional em Bruxelas.

Criação da jurisdição provisória que passaria a definitiva em junho de 2007.


A utilização da linguagem XBRL em empresas não financeiras encontrou alguns entraves devido à existência
França
de normas suportadas pela ordem dos técnicos de contas franceses e que eram aceites pela administração
fiscal francesa. A tradução da taxonomia IFRS só foi possível em finais de 2006.

O Deutsche Bundesbank em conjunto com as instituições financeiras da Alemanha desenvolveu um reposi-


2004
Alemanha tório de dados eletrónicos para as contas de empresas alemãs que enviam em formato XBRL e desde 2004
recebe mais de 115 mil demonstrações financeiras por ano.

A jurisdição definitiva foi implementada em março de 2004 com base na especificação XBRL 2.1. adaptou-se
Irlanda às normas de contabilidade, em novembro de 2007 e conta, atualmente, com mais de 15 membros. Em 2013
acolheu a 26.ª Conferência Internacional de XBRL.

A jurisdição foi reconhecida em 01/2005 e em junho desse mesmo ano publicada a 1.ª taxonomia. Conta
Países Baixos
01/2005 atualmente com mais de 60 membros sendo a administração central alemã um deles. Surgiu na Holanda
(Holanda)
para reduzir custos de acesso ao capital, impostos e para efeitos de estatísticas.

11.ª Conferência XBRL Internacional em Boston que demonstrou vantagens da linguagem XBRL para os
04/2005 EUA preparadores, reguladores e analistas, com apresentação de aplicações reais de produtos tecnológicos com
uso da linguagem XBRL.

O IASCF – International Accounting Standards Committee Foundation apresenta uma nova versão da taxono-
05/2005 mia IFRS (Internacional Financial Reporting Standard) para as demonstrações financeiras de entidades com
Europa fins lucrativos.

07/2005 O consórcio XBRL Internacional publica uma nova versão da taxonomia GL (Global Ledger).
Mais de 800 empresas chinesas apresentavam as suas contas do 1.º semestre em formato XBRL ao abrigo
China da taxonomia desenvolvida pela Bolsa de valores de Changai com o reconhecimento do consórcio XBRL
09/2005 Internacional.
Implementação da jurisdição provisória do XBRL, que em 2007 passou a definitiva com o apoio do Banco
Polonia
Nacional da Polónia.
11/2005 Japão 12.ª Conferência XBRL Internacional em Tóquio.
A SEC anuncia que 17 empresas vão participar no projeto piloto de uso interativo do formato XBRL para ar-
quivo das suas demonstrações financeiras, este programa é uma extensão do programa EDGAR Online, Inc.
03/2006 EUA
(programa voluntário que se iniciou anos antes, com esta empresa fornecedora de informação interativa
económica e financeira sobre a generalidade das empresas.).
04/2006 Polónia Implementação da jurisdição provisória com mais de 15 membros atualmente.
05/2006 Espanha 13.ª Conferência XBRL Internacional em Madrid.
09/2006 Itália Criação da jurisdição que só obteve reconhecimento provisório em junho de 2007.
Desde 2006 é usado pelo Banco do Japão de forma voluntária quer em inglês quer em japonês. Atualmente
Japão no japão todas as empresas estão obrigadas a relatar as suas contas segundo a EDINET – Eletronic Disclo-
sure for Investor NETwork e a Tdnet (Timely Disclosure network) em formato XBRL.

Nasceu em 2006 em Nairobi no Quénia, mas desenvolveu-se fortemente na África do Sul. A bolsa de valores
África de Joanesburgo, a maior de África, inicializou o uso do XBRL com a adoção da taxonomia das IFRS. É obri-
gatório o relato pelo XBRL na África do Sul.
2006
O XBRL passou a ser usado em 2006 na banca e neste momento encontra-se implementado em todo o
Chipre
sistema de supervisão bancária.
Trabalha-se em XBRL desde 2006 tendo 2007 implementado a sua obrigatoriedade associada às entidades
de supervisão bancária. O objetivo fundamental da XBRL Finlândia é finalizar e publicar o XBRL finlandês
Finlândia
e criar a taxonomia para as demonstrações financeiras de acordo com a finlandesa GAAP (FAS, Finland
Accounting Standards).
07/2006 EUA 14.ª Conferência XBRL Internacional em Filadelfia.

05/2007 Luxemburgo Apresentação da jurisdição provisória com cerca de 20 membros incluídos.

06/2007 Alemanha 15.ª Conferência XBRL Internacional em Munique.

56 CONTABILISTA 266
GESTÃO

Publicação da taxonomia para o setor financeiro, uma vez que desde então todos os bancos publicam infor-
10/2007 Bélgica
mação consolidada em formato XBRL.

O IASCF reforça a sua aposta na linguagem XBRL anunciando membros nas novas equipas: XBRL Advisory
Council e o XBRL Quality Review Team. O primeiro é um conselho consultivo que presta aconselhamento
11/2007 Europa estratégico aos administradores e à equipa que trata do desenvolvimento e adoção de taxonomias XBRL
para as IFRS. O segundo é uma equipa de controlo de qualidade que assegura a qualidade da taxonomia
desenvolvida pelo IASCF.
12/2007 16.ª Conferência XBRL Internacional em Vancouver.
Canadá Desde 2007 tem um programa voluntário para o relato financeiro de XBRL. Não é um programa aceite pela
2007
legislação vigente.

Coreia do Sul Começou a relatar em formato XBRL

Apresentou duas propostas para uma taxonomia XBRL baseada nas normas de contabilidade e outras na
01/2008 Reino Unido comunicação dos dados empresariais e poderá ser usada com conjunto com a primeira ou com a taxonomia
das IFRS.

Implementação de jurisdição provisória com o apoio do Banco Central do Brasil, da secretaria da Receita
04/2008 Brasil Federal, da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), da Superintendência de Seguros Privados (Susep) e do
Conselho Federal de Contabilidade.

Holanda 17.ª Conferência XBRL Internacional em Eindhoven.


05/2008
Fundação da XBRL europeia, associação sem fins lucrativos com sede em Bruxelas e com os seguintes mem-
Europa
bros de jurisdições: Bélgica, França, Irlanda, Espanha e internacional.

06/2008 SEC tem já 68 empresas que submetem as suas contas de acordo com o XBRL de forma voluntária.

18.ª Conferência internacional em Washington com discussão de diferentes assuntos:


EUA a) Imposição do Japão e da China para que as empresas públicas publiquem relatórios em XBRL;
11/2008 b) Proposta da SEC para as 500 maiores empresas apresentarem as suas contas em XBRL em 2008;
c) Parecer da Comissão dos Assuntos Económicos e monetários que recomenda a utilização da lingua-
gem XBRL na União Europeia.

1.ª utilização da taxonomia XBRL na matriz de riscos do governo nacional. Foi obrigatório a partir de 1 de
2008 Chile
janeiro de 2010 para todas as empresas do mercado financeiro e segurador.

Em período de plena crise mundial reawliza-se em Paris a 19.ª conferência internacional de XBRL intitulada
06/2009 França Reducing Reporting Burden with XBRL: A Catalyst For Better Regulation, evidenciando aos reguladores dos
mercados financeiros as vantagens da utilizaçãwwo da linguagem XBRL.

04/2010 Itália 20.ª Conferência XBRL Internacional em Roma.

Adoção do XBRL por empresas brasileiras em conformidade com a taxonomia das IFRS, pela convergência
05/2010 Brasil
das normas brasileiras com as internacionais desde 2010.

11/2010 China 21.ª Conferência XBRL Internacional em Beijing.

5/2011 Bélgica 22.ª Conferência XBRL Internacional em Bruxelas.

11/2011 Canadá 23.ª Conferência XBRL Internacional em Montreal.


Emirados
3/2012 24.ª Conferência XBRL Internacional em Abu Dhabi
Árabes Unidos
11/2012 Japão 25.ª Conferência XBRL Internacional em Yokohama.

A jurisdição provisória teve início em 2010 e em 2012 passou a definitiva com o apoio da bolsa de valores e
Indonésia
do Banco Nacional da Indonésia.
Trabalhos preparatórios para a implementação da jurisdição provisória que passou a definitiva em
Emirados 1/1/2014, apenas para as empresas cotadas em bolsa. Para financiar a introdução da plataforma XBRL no
Árabes Unidos país foi cobrada às empresas adotantes uma pequena taxa. Com 250 empresas listadas em bolsa esta é
2012 mais uma das fontes de receitas só em Abu Dhabi e no Dubai.
A jurisdição provisória teve início em 2012 apenas para empresas cotadas em bolsa, na altura eram cerca
Peru
de 177 empresas com adoção do XBRL.
A jurisdição provisória teve início em 2012 para entidades do setor bancário sob a superintendência do
Panamá
Banco do Panamá. Na altura começaram a reportar em XBRL cerca de 78 bancos.
04/2013 Irlanda 26.ª Conferência XBRL Internacional em Dublin.

MAIO 2022 57
GESTÃO

Conferência anual do XBRL, em Las Vegas, com o objetivo de preparar empresas públicas e auditores para
9/2013 EUA
o uso do XBRL.

Emirados A bolsa de valores dos Emirados Árabes Unidos implementou o XBRL e nessa altura teve a adesão de apro-
Árabes Unidos ximadamente 250 empresas.

A jurisdição provisória teve início em 2013 e desde que se tornou definitiva é aplicada apenas a empresas do
2013 Colômbia
setor financeiro Colombianas.

Constituição de jurisdição provisória que passou a definitiva com apoio da entidade de superintendência de
Chile
valores e seguros. O uso do XBRL está limitado às empresas com valores admitidos à cotação.

12/2014 FASB lança a Taxonomia US GAAP Financial Reporting não obstante ficou pendente de aceitação da SEC.
EUA
27.ª Conferência XBRL Internacional em Orlando (Flórida).
Antes de Portugal ter uma jurisdição provisória várias entidades apoiaram a sua introdução em territó-
rio nacional como o Banco de Portugal, Ordem dos Contabilistas Certificados, Comissão de Mercados de
Valores Mobiliários, Comissão de Normalização Contabilística, Instituto de Seguros de Portugal, Instituto
Portugal
Nacional de Estatística, Ordem dos Revisores Oficiais de Contas, Ministério das Finanças e da Justiça,
Autoridade Tributária e Aduaneira, etc.
A jurisdição provisória teve início em 2014 e em 2016 passou a definitiva no setor bancário e segurador.
2014
Iniciou a sua jurisdição voluntária em 2014 com supervisão do Banco Mexicano e da bolsa de valores do
México
país impondo uso obrigatório para cerca de 143 empresas cotadas e bolsa.

O uso do XBRL estendeu-se às empresas privadas, estando desde então cerca de 1000 empresas a relatar
Colômbia
em Integrated Financial Reporting System (SIRFIN), um sistema que usa o formato XBRL.

Jurisdição provisória implementada em janeiro de 2014 passou a definitiva em 2016 para mais de 550 em-
Turquia
presas que se encontram na bolsa de valores de Istambul.

1/2015 Dinamarca 28.ª Conferência XBRL Internacional em Copenhaga.

7/2015 Suécia Foi aprovado o XBRL como padrão nacional Sueco.

9/2015 Dinamarca 29.ª Conferência XBRL Internacional em Copenhaga.

Com apoio do Banco Central Russo foi implementado o XBRL para instituições financeiras não-bancárias. A
2015 Rússia mudança para o XBRL é feita em conjunto com uma transição gradual para um quadro unificado de contas e
de normas contabilísticas da indústria com base nas IFRS.

Aprovou taxonomia a ser aplicada em empresas que tenham valores admitidos na bolsa (FYE 2015) para a
Colômbia
apresentação de contas de 2015.
03/2016
Mais de 900 mil demonstrações financeiras são arquivadas em Itália no Registo Comercial da Câmara de
Itália
Comércio Italiana com uso da taxonomia XBRL.

O conselho de relato financeiro eletrónico em Inglaterra em conjunto com a comissão de organizações de


Reino Unido
caridade lançou uma taxonomia XBRL adaptada às suas necessidades de relato.

O Banco Central da Índia lançou um conjunto de dados XBRL relacionados com a performance não-gover-
04/2016 India
namental, não financeira e de investimentos para o período de relato de 2014 e 2015.

Europa Ultima versão aprovada da taxonomia das IFRS.


Coreia Conferência anual do XBRL em Seul na Coreia do Sul.
11/2016 Singapura Conferência XBRL Internacional em Singapura.
Conferência de XBRL Internacional nas Caraíbas sobre a adoção mundial do XBRL com o lema «Simplificar
11/2017 Caribe a Supervisão através da Automatização». Esta conferência terá como apoio a Autoridade Monetária das
Ilhas Cayman.
01/2018 Nigéria Associação nacional de contabilistas da Nigéria criada em 1993 aderiu ao XBRL international desde 2018.
Constituição de jurisdição provisória em 2018. Na Suíça, o XBRL continua a promover eventos informativos
e em cooperação com organizações de impostos tem potenciado a sua jurisdição. O trabalho conjunto com
a Comissão Suíça de Normalização Financeira (SCSF) tem permitido o desenvolvimento de aplicativos para
2018 Suíça
a recolha de dados sobre a Pequenas e Médias Empresas – PME, bem como a atualização da versão 1.0 do
XBRL. Atualmente assiste-se a novos progressos no desenvolvimento de taxonomias que estão a ser utiliza-
dos no setor de supervisão bancário e de seguros.
01/2021 Para as empresas com valores admitidos à cotação as contas devem ser preparadas de acordo com o XBRL
Portugal
01/2022 desde 1 de janeiro de 2021 e o anexo às contas em 1 de janeiro de 2022.
Fonte: adaptado de Coutinho e Santos (2010, 10-15); Singerová (2015, 137-139); Extensible Business Reporting Language International (2014).

58 CONTABILISTA 266
GESTÃO

De acordo com os dados conhecidos Quadro 2: Configurações dos dados em XBRL


até ao momento podemos eviden- Dados de entrada Dados híbridos Dados de saída Observações
ciar que existem esforços de alguns US GAAP Não há possibili-
A equipa interna da Ficheiros HTML
países para implementação de uma Manual de EDGAR dade pela empre-
empresa tem conheci- produzidos pelo
jurisdição provisória tais como a Regras da SEC sa de consumir
mentos sobre o XBRL XBRL
mais tempo e
Grécia, Hungria, Letónia, Lituânia, mas qualquer desafio
recursos para
Luxemburgo, Noruega, Malta, Re- está para além das
rever os campos
Membros da equi- suas capacidades.
pública Checa, Roménia, Bulgária, pa do XBRL A equipa apresenta Outros ficheiros
preenchidos ou
não preenchi-
Eslováquia e Eslovénia. Peritos no plano limitações na execução produzidos pelo
dos pelo XBRL.
Nos últimos anos nota-se uma ace- de transição para técnica e no julga- XBRL
Presume-se um
o XBRL mento da informação
lerada procura das instituições fi- produzida.
correto preenchi-
nanceiras no uso do XBRL, embora mento.

haja o compromisso e o entendi- Fonte: adaptado de Fall, 2014 – Financial executive

mento de disseminar o uso do XBRL


a todo o tipo de empresas. De acordo Figura 1: Distribuição do relato em XBRL
com o XBRL internacional este for-
mato é usado em mais de 50 países Autoridade Tributária e Aduaneira

onde atuam mais de 600 organiza-


ções membros (Singerová, 2015). Banco de Portugal

Uso do XBRL Sistema de XBRL Comissão de Mercados


informação (ERP, AIS, etc.) Relato financeiro de Valores Mobiliários
A adoção do XBRL difere da adoção
das normas de contabilidade, por-
Analistas financeiros/auditores
que o primeiro não produz qual-
quer impacto direto nos resultados
Investidores/stakeholders
(Boritz e Timoshenko, 2015), já o
segundo origina. Por isso, não é
Web
estranho que o formato XBRL seja
usado de diferentes formas e por di- Fonte: adaptado de Gostimir (2015, 33)

ferentes utilizadores como regula-


dores, governos, autoridades fiscais, tos. No final os utilizadores podem XBRL, a implementação do XBRL e
empresas, analistas, investidores, automaticamente usar os dados reco- a realização de valor permitida pelo
etc. (Singerová, 2015). lhidos numa variedade de configura- XBRL.
Cumulativamente, podemos afirmar ções (quadro n.º 2) (Singerová, 2015). Dado que o XBRL é uma tecnologia
que o XBRL é usado cada vez mais O XBRL, ao proporcionar uma ele- avançada e uma extensão da comu-
por profissionais informáticos que vada quantidade de informação na nicação do relato empresarial estru-
procuram desenhar produtos que contabilidade desde o ano 2000 (Per- turada de forma a ser compreensível
permitam agregar as operações ne- dana, Robb e Rohde, 2015), continua, e acessível a todos (Ilias, Razak e
cessárias ao correto uso do XBRL, por segundo os investigadores, a oferecer Ruhman, 2015), esta linguagem ne-
exemplo: criar, modificar, mapear, oportunidades aos negócios que se cessita de um software específico de
validar, visualizar e analisar, a fim de resumem a uma informação com- relato, que facilite a visualização e
se tornarem uma solução de software preensível e com elevada qualidade análise dos dados, pois não se preten-
(Enachi e Andone, 2015), para ser in- (Perdana, Robb e Rohde, 2015). Para de analisar dados com referências,
corporado nas empresas com maior Liu (2013) a investigação em torno do mas tabelas numéricas. No entanto,
comodidade. O software usado pelo XBRL pela importância que tem pre- as referências são importantes para
XBRL consegue reconhecer a infor- cisa de destacar a sua divisão tripar- as máquinas/computadores traba-
mação no documento, selecioná-la, tida (Perdana, Robb e Rohde, 2015) lharem e fornecerem a informação já
analisá-la, agrupá-la, transformá-la que se relaciona com as etapas do seu preparada de acordo com as necessi-
e traduzi-la para diferentes forma- uso e funcionamento: a adoção do dades individuais (figura n.º 1)

MAIO 2022 59
GESTÃO

Para Hoffman (2010), Gandra e XBRL que contêm os valores das in- global (Yen e Wang, 2015). No en-
Campos (2009) os conceitos fun- formações financeiras publicadas, tanto, não é um processo de relato
damentais para o entendimento da num banco de dados, em determi- pacífico, há defensores e resistentes
linguagem XBRL, são: nado período. São compostas por à sua adoção e implementação.
- Especificações: são normas em referências às taxonomias XBRL, Grande parte dos defensores e re-
formato de sintaxe a fim de definir contextos, unidade, factos, comen- sistentes identificam no corpo nor-
preceitos de uso. O XBRL nada mais tários e notas explicativas. mativo do XBRL e na literatura as
é do que um conjunto de especifi- - Style sheet: define a forma de saída bases de defesa e os argumentos
cações as quais foram criadas pelo das informações no formato pre- contra o uso desta ferramenta de
XBRL Internacional. tendido, como por exemplo, XML, relato. A literatura avança rápida e
- Taxonomias: são classificações PDF, HTML, Excel ou outro. fortemente na defesa dos benefícios
entre elementos, que permitem a O processo de conversão de infor- e desafios que o XBRL coloca, en-
um sistema, organizar, extrair e mação é complexo, mas neste mo- quanto os profissionais são lentos a
analisar informações codificadas mento existem empresas especia- emitirem o seu parecer (Perdana,
dentro dessa classificação, isto é, lizadas em trabalhar com o XBRL, Robb e Rohde, 2015). Apesar de se
definem os factos a serem descritos. criando aplicações que disponibi- verificar que o XBRL está a revolu-
As taxonomias podem ser descritas lizam às empresas adotantes tais cionar o relato financeiro podemos
como dicionários que definem as como a Dragon Tag, EDGAR Online, dizer que é no mínimo uma tec-
tags (marcadores) específicas para I-Metrix, Core Filing Lda., Fujitsu nologia vanguardista (Singerová,
cada item nas demonstrações con- Interstage XWand e TagEeze. Com 2015). Por isso, e por um conjunto
tabilísticas, vocábulo de termos que todo o apoio fornecido é expectável de outros fatores de natureza cul-
serão utilizados, e define a relação que o XBRL seja uma ferramenta em tural, social, política, económica,
entre esses termos. uso nos próximos anos e que reduza etc., diferentes países têm diferen-
- Instâncias: são os documentos as barreiras no fluxo de informação tes normas contabilísticas e o XBRL

60 CONTABILISTA 266
GESTÃO

pode ajudar a que cada um tenha a trolo interno. Estes inibidores têm medida que se vão testando mais e
sua própria taxonomia para o relato causado um atraso na utilização do melhores medidas (Perdana, Robb e
financeiro (Gostimir, 2015). XBRL, na sua inovação e difusão Rohde, 2015). De notar também que
Se procuramos desde há muito a servindo de fator explicativo para algumas das medidas não favorecem
harmonização contabilística de- as taxas de adesão em determina- a comparabilidade informatival, por
preende-se que são múltiplas as dos países (Perdana, Robb e Rohde, isso alguns elementos não podem ser
vantagens do uso do XBRL, desde 2015). comparáveis mesmo dentro de em-
logo ultrapassa as limitações do re- Para Riccio, Sakata, Moreira e Quo- presas da mesma indústria (Perda-
lato de negócio tradicional, reduz niam (2006) algumas das desvan- na, Robb e Rohde, 2015).
a assimetria de informação, facili- tagens residem na divulgação de Uma das maiores limitações do
ta o acesso detalhado à informação informação pela internet como cus- XBRL reside na dimensão do rela-
particularmente em transações fi- tos de manutenção constantes de tório produzido ou dos documentos
nanceiras, facilita o controlo, reduz websites, possibilidade de receber gerados (Santos, Castro e Velasco,
o tempo de gestão financeira da in- informação simultaneamente audi- 2016). Além disso podemos con-
formação, permite rapidamente a tada e não auditada, possibilidade cluir que a Europa está obsoleta na
comparação entre demonstrações de ocorrer publicação de informa- adoção do XBRL, uma vez que só foi
financeiras, elimina as fronteiras ções parciais que podem prejudicar obrigatório em 2020 para todas as
geográficas e integra o processo a visão de conjunto da imagem das empresas, facto que pode prejudi-
contabilístico com a cadeia de valor empresas. car a competitividade das empresas
do negócio (Perdana, Robb e Rohde, Debrecenty et al. (2005) estudou a europeias (Singerová, 2015). Não
2015). perda de comparabilidade informa- obstante sabe-se que a taxonomia
Um dos aspetos que tem travado o tiva com o uso do XBRL. Liu, Wang e do XBRL é consistente com as IFRS
avanço do XBRL deve-se ao facto de Yao (2014) verificaram uma associa- bem como com as International Ac-
muitos contabilistas e auditores não ção negativa entre o uso obrigatório counting Standards – IAS e as IFRS
terem experiência, ou pouca, na uti- do XBRL que clarificava a necessida- para pequenas e médias empresas
lização do XBRL, e também pouco de dos profissionais e académicos de (Singerová, 2015). Em conjunto com
interesse no seu uso (Perdana, Robb melhorarem a qualidade e exatidão as IFRS, o XBRL traz um novo para-
e Rohde, 2015). Acresce-lhes outros dos relatórios produzidos pelo XBRL. digma que por si só pode constituir
problemas como o desenvolvimento Debrecenty, Farewell, Piechocki, um entrave ao processo de relato
de aplicações inteligentes, e relato Felden e Gräning, (2010) verificaram (Singerová, 2015).
financeiro e de auditoria com co- a existência de erros quando preen- Em Portugal, a discussão do XBRL
nhecimento de internet, a seguran- chidos alguns dos campos do XBRL. tem levado a impedimentos de al-
ça, os metadados, a integração entre Na Alemanha, Felden (2011) obser- gumas ordens de profissionais da
diferentes fontes, ações e agentes vou que o uso do XBRL não garante classe contabilística, por exemplo
envolvidos no processo de informa- veracidade e que o valor acrescenta- as declarações do antigo bastonário
ção, a linguagem modelo unificada, do não é conhecido. Du, Vaarheyi e da Ordem dos Contabilistas Certifi-
uma base de dados aberta, etc. Zheng (2013) observaram uma série cados, Domingues de Azevedo, era
Residem também pensamentos con- de erros nos primeiros períodos em de opinião que o relato em XML já é
trários ao one-size-fits-all, dado que que o XBRL foi obrigatório nos EUA. realizado pelas empresas nacionais
que a utilização de uma taxonomia Esses erros incluíam uma gestão do com o envio das declarações de ren-
genérica pode incompatibilizar in- cálculo familiar e dados omissos ou dimentos e da IES de forma eletró-
teresses específicos ou taxonomias itens estranhos no cálculo das re- nica. O valor acrescentado do XBRL
específicas de determinadas indús- lações familiares (Perdana, Robb deverá ser ponderado. Além disso,
trias (Bovee, Ettredge, Srivastava e e Rohde, 2015). O caso israelita es- em Portugal é importante alguém
Vasarhelyi, 2012) tudado pelos autores Markelevich, ser o pioneiro, mas o passo para a sua
Há dúvidas sobre a capacidade do Shaw e Weihs (2015) demonstra que implementação deve ser ajustado
XBRL facilitar a convergência entre os erros detetados questionam a uti- e tem de ser muito bem executado,
FASB e IASB, a capacidade para di- lidade desta forma de relato. De no- estudado e adaptado à atual situação
minuir a fraude e melhorar o con- tar que os erros estão a diminuir à económica.

MAIO 2022 61
GESTÃO

Conclusão sistema financeiro e desde 2021 e controlo. A modalidade ofereci-


Podemos inferir que esta lingua- 2022 para as empresas que apre- da por este sistema de informa-
gem não é tão recente quanto a sentarem valores admitidos à co- ção distingue-o dos demais, pois
imensa abordagem que tem tido tação. proporciona duas importantes
nos últimos anos. Nasceu em 1960 De início este formato de lingua- características: a comunicação e
pela IBM e espalhou-se pelo mun- gem era pouco evoluído, mas com o apoio ao processo de tomada de
do não só sob o formato de uma o tempo foi ganhando mais corpo decisão/direção das empresas.
linguagem de comunicação de in- e conteúdo. Tal vem permitir um O uso de uma linguagem formal e
formação financeira e não finan- relato mais completo na medida distinta das usadas até ao momento
ceira das empresas, como também em que contempla informação fi- deve ser objeto de meditação pelos
se mostrou uma ferramenta útil nanceira que está já padronizada CC e mais ainda acompanhada de
para apoiar a gestão dos negócios. nos modelos em uso e legalmente muita formação que garanta uma
Começou nos EUA e rapidamente obrigatórios de serem apresenta- transição pacífica para as empresas,
espalhou-se por todo o mundo: dos. A vantagem reside na infor- que brevemente, se espera, também
Inglaterra, Austrália, Alemanha, mação de caráter não financeiro adotem o XBRL.
Canadá, Nova Zelândia, Japão, que aparecia dispersa em vários
Coreia, Holanda, Áustria, Suécia, documentos, relatórios, páginas *Doutorada em Ciências Empresariais
Irlanda, Espanha, Dinamarca, web e tantos outros sítios que as Professora na Universidade Lusíada e na
Bélgica, França, China, Polónia, empresas usavam para o relato Universidade da Maia
Itália, continente africano, entre destes elementos. Cumulativa- Investigadora no COMEGI e UNICES
tantos outros países europeus, mente também tem servido de
asiáticos e sul-americanos. apoio ao governo das empresas, Bibliografia disponível em
A Portugal apenas chegou em desempenhando funções de pla- («A Ordem – Publicações – Revista
2014, obrigatoriamente para o neamento, direção, avaliação e Contabilista – Bibliografia»)

62 CONTABILISTA 266
CONSULTÓRIO

Tributação autónoma principal, atividade de natureza comer- sido entendimento que estes encargos
e inventário cial, industrial ou agrícola, relacionados estão sujeitos a tributação autónoma,
com viaturas ligeiras de passageiros, de acordo com o n.º 3 do artigo 88.º do
Determinada entidade tem como viaturas ligeiras de mercadorias referi- CIRC (vide informação vinculativa rela-
objeto a «compra, venda ou revenda das na alínea b) do n.º 1 do artigo 7.º tiva ao Processo: 840/17, Despacho de
especializada de veículos automóveis do Código do Imposto sobre Veículos, 2017-03-31, da subdiretora-geral, com
ligeiros e motociclos, novos, usados e motos ou motociclos, excluindo os veí- o assunto: «Encargos com “viaturas de
de coleção e de peças e acessórios.» culos movidos exclusivamente a energia serviço” - sujeição a tributação autóno-
Em concreto, esta entidade compra elétrica, às seguintes taxas: ma»).
para revenda ou para investimen- - 10 por cento no caso de viaturas com De facto, esta é uma norma antiabuso
to, automóveis ou motos antigas de um custo de aquisição inferior a 27 500 e todos os encargos efetuados ou su-
coleção. Estando os mesmos ativos euros; portados com as viaturas mencionadas
registados em «Inventários», e assu- - 27,5 por cento no caso de viaturas com no n.º 3 do artigo 88.º, estão sujeitos
mindo-se que podem perdurar no pa- um custo de aquisição igual ou superior a tributação autónoma, a não ser que
trimónio da sociedade durante mui- a 27 500 euros e inferior a 35 000 euros; se enquadrem nas exceções previstas
tos anos, estão sujeitos a tributação - 35 por cento no caso de viaturas com no n.º 6 do artigo 88.º do CIRC, o que
autónoma? um custo de aquisição igual ou superior não é o caso. Uma vez que, o n.º 6 do
a 35 000 euros. artigo 88.º do Código do IRC só exclui
Relativamente às exclusões, chamamos de tributação autónoma a utilização
O pedido de parecer está relacionado a atenção para o disposto na alínea a) de viaturas diretamente relacionadas
com a sujeição a tributação autónoma, do número 6 do artigo 88.º do CIRC, com a exploração do serviço público de
numa empresa que se dedica à compra que refere o seguinte: transportes ou com o aluguer das viatu-
e venda de viaturas, das despesas su- «6 – Excluem-se do disposto no n.º 3 os ras no exercício da atividade normal do
portadas com viaturas, reconhecidas encargos relacionados com: sujeito passivo.
como inventários. a) Viaturas ligeiras de passageiros, mo- De acordo com o exposto, os encargos
De acordo com o n.º 3 do artigo 88.º do tos e motociclos, afetos à exploração com viaturas num stand de venda de
CIRC, e sem prejuízo do disposto nos de serviço público de transportes, des- veículos automóveis, não estão excluí-
números 6 e 14 do mesmo artigo, são tinados a serem alugados no exercício dos da tributação autónoma, pois não
tributados autonomamente os encargos da atividade normal do sujeito passivo.» existe enquadramento no n.º 6 do artigo
efetuados ou suportados por sujeitos Neste sentido, e apesar de tais encargos 88.º do Código do IRC.
passivos que não beneficiem de isen- serem considerados imprescindíveis ao
ções subjetivas e que exerçam, a título desenvolvimento da sua atividade, tem Resposta de abril de 2022

MAIO 2022 63
CONSULTÓRIO

Revalorizações está a adotar a norma contabilística valorização registado na conta 589,


de microentidades para microentidades (NC-ME). sendo o mesmo apresentado na rúbri-
No âmbito da NC-ME, os itens do ati- ca «Outras variações no capital pró-
Uma empresa que resultou de uma vo fixo tangível são mensurados sub- prio» do balanço no formato para as
cisão utiliza a NCRF-ME. Contudo, a sequentemente pelo modelo do custo, microentidades.
empresa cindida adotava a NCRF (28 sendo a quantia escriturada determi- Quanto ao montante de passivo por
normas) e um dos bens cindidos foi nada pelo custo menos depreciações imposto diferido, o mesmo não deve
um terreno que tinha uma reserva de acumuladas. ser reconhecido no âmbito da NC-ME,
reavaliação livre. Todavia, é possível o reconhecimento devendo ser anulada a conta 5892 –
Assim, a microentidade regista no inicial de itens do ativo fixo tangível Impostos diferidos, por contrapartida
capital próprio uma conta 58.9 – por quantias revalorizadas, quando da conta 2742 – Passivos por impostos
Excedente de revalorização de AFT tal decorra do registo inicial de ati- diferidos.
– Reserva de reavaliação livre, bem vos e passivos obtidos no decorrer da Quanto aos subsídios não reembol-
como uma conta 2742 – Passivo por operação de cisão, bem como manter sáveis relacionados com ativos (sub-
impostos diferidos. o reconhecimento de itens de capital sídios ao investimento), a conta 278x
Adicionalmente, e porque tem sub- próprio referentes aos excedentes de – Ajustamento em subsídios pode
sídios ao investimento, regista numa revalorização já contabilizados em pe- manter-se reconhecida no âmbito da
conta 278 – Ajustamento em subsí- ríodos anteriores à aplicação da NC- NC-ME, podendo manter-se também
dios. -ME. reconhecida a conta 5932 – Outras
O valor da reserva de reavaliação No caso em concreto, a entidade pode variações no capital próprio - Subsí-
livre deve manter-se na conta 58.9 contabilizar os itens do ativo fixo tan- dios - Ajustamentos em subsídios.
(não existente no plano para ME) ou gível pelas quantias revalorizadas,
deve transferir-se este valor para re- bem como manter o excedente de re- Resposta de abril de 2022
sultados transitados?
O valor na 2742 – Passivo por im-
postos diferidos (não existente em
microentidades) deve ser transferido
para resultados transitados?
Relativamente ao valor a crédito da
278 – Ajustamento em subsídios,
igual ao valor a débito na 5932 – Sub-
sídios – ajustamentos, deve ser anu-
lado entre estas contas?
Caso a reserva de revalorização fos-
se ao abrigo de diploma legal (1992
e 1998) e sendo microentidade, este
valor deveria manter-se na conta 58
ou deveria ser reclassificado para ou-
tra conta de capital próprio?

A questão colocada refere-se ao tra-


tamento contabilístico de utilização do
modelo da revalorização em itens do
ativo fixo tangível por uma nova enti-
dade que resultou de um processo de
cisão de sociedade.
A nova sociedade beneficiária da cisão

64 CONTABILISTA 266
CONSULTÓRIO

Remuneração que o registo do aumento de capital Na parte geral do Código das Socieda-
convencional se realize até à entrega da declaração des Comercias (CSC), estão contem-
do capital social de rendimentos modelo 22 relativa ao pladas expressamente duas modali-
exercício em causa, conforme previsto dades de aumento de capital: através
Relativamente à remuneração con- na alínea a) do n.º 2 do artigo 41.º do da realização de novas entradas dos
vencional do capital social, como é EBF. sócios (artigo 89.º) e por incorporação
que funciona este benefício fiscal, Quanto às obrigações da legislação de reservas (91.º).
nomeadamente quanto ao âmbito da comercial, se o referido aumento do O capital social pode ser aumentado
sua aplicação? capital social for efetuado através de por entradas suplementares de capital,
incorporação de reservas (onde se in- com a respetiva ata da deliberação e
clui o lucro do período imediatamente registo na Conservatória de Registo
A questão colocada refere-se à aplica- anterior), deve atender-se à delibera- Comercial.
ção do benefício fiscal da remuneração ção que incluía o disposto no n.º 3 do Também, em assembleia-geral, pode
convencional do capital social. artigo 91.º do Código das Sociedades ser deliberado o respetivo aumento
Nos termos do n.º 1 do artigo 41.º-A Comerciais. de capital social por incorporação de
do Estatuto dos Benefícios Fiscais, na Em termos societários, apenas existem reservas. Com efeito, o artigo 91.º do
determinação do lucro tributável duma dois tipos de aumentos de capital so- Código das Sociedades Comerciais
sociedade unipessoal por quotas, pode cial, por entradas de sócios (dinheiro permite o aumento do capital social
ser deduzida uma importância corres- ou espécie) ou através de incorporação por incorporação de reservas disponí-
pondente à remuneração convencional de reservas. veis para o efeito.
do capital social, calculada mediante Os aumentos de capital por incorpora- Este aumento de capital só pode ser
a aplicação da taxa de sete por cento ção de reservas, incluindo os lucros do realizado depois de aprovadas as con-
ao montante das entradas realizadas exercício imediatamente anterior, não tas do exercício anterior à deliberação,
através de entregas em dinheiro, da são objeto de relatório de revisor ofi- mas, se já tiverem decorrido mais de
conversão de créditos, ou por recurso cial de contas previsto no artigo 28.º seis meses sobre essa aprovação, a
aos lucros do próprio exercício, para do Código das Sociedades Comerciais existência de reservas a incorporar só
efeitos de aumento do capital social, (CSC). As disposições desse artigo pode ser aprovada por um balanço es-
desde que: apenas se aplicam a entradas de sócios pecial, organizado e aprovado nos ter-
- O seu lucro tributável não seja de- para a sociedade. mos prescritos para o balanço anual.
terminado por métodos indiretos; Em termos de fiscalização, no aumento Por outro lado, o capital da sociedade
- E, a sociedade beneficiária não re- do capital social através de incorpo- não pode ser aumentado por incorpo-
duza o seu capital social com resti- ração de reservas, incluindo os lucros ração de reservas enquanto não esti-
tuição aos sócios, quer no período obtidos no exercício imediatamente verem vencidas todas as prestações do
de tributação em que sejam reali- anterior, o pedido de registo desse au- capital, inicial ou aumentado.
zadas as entradas relevantes para mento do capital deve ser acompanha- Nos termos do artigo 92.º do CSC, ao
efeitos da remuneração convencio- do do balanço que serviu de base à de- aumento de capital por incorporação
nal do capital social, quer nos cinco liberação, caso este não se encontre já de reservas corresponde o aumento da
períodos de tributação seguintes. depositado na conservatória, tal como participação de cada sócio, proporcio-
A referida dedução fiscal é efetuada na previsto no n.º 1 do artigo 93.º do CSC. nalmente ao seu valor nominal ou ao
determinação do lucro tributável para A gerência deve declarar por escrito respetivo valor contabilístico, salvo se,
efeitos de IRC relativo ao período de não ter conhecimento de que, no perío- estando convencionado um critério di-
tributação em que ocorram as mencio- do compreendido entre o dia a que se verso de atribuição de lucros, o contra-
nadas entradas e nos cinco períodos de reporta o balanço que serviu de base to o mandar aplicar à incorporação de
tributação seguintes. à deliberação e a data em que esta reservas ou para esta estipular algum
Para além das condições referidas, a foi tomada, haja ocorrido diminuição critério especial.
aplicação deste benefício fiscal, quan- patrimonial que obste ao aumento de Finalmente, a deliberação deve men-
do efetuada por recurso aos lucros ob- capital, conforme previsto no n.º 2 do cionar expressamente:
tidos no próprio exercício, determina artigo 93.º do CSC. - A modalidade do aumento do ca-

MAIO 2022 65
CONSULTÓRIO

pital; deliberação e o registo na conservató- de IRC até um milhão de euros anuais


- O montante do aumento do capital; ria do registo comercial. ou até 30 por cento do resultado antes
- As reservas que serão incorpora- Como se constata, no caso em con- de depreciações, amortizações, gastos
das no capital. creto, para a realização do aumento de financiamento líquidos e impostos,
O pedido de registo de aumento do de capital em causa, deverá na deli- dos dois o maior.
capital por incorporação de reservas beração de aprovação e aplicação dos Atendendo a que o benefício fiscal da
deve ser acompanhado do balanço lucros do exercício serem, em primei- remuneração convencional do capital
que serviu de base à deliberação, caso ro lugar, os lucros serem aplicados na social tem por objetivo uma dedução
este não se encontre já depositado na constituição de reservas, e de seguida, fiscal através de entradas de sócios
conservatória e o órgão de adminis- utilizar essas reservas para a realiza- para a sociedade (capitais próprios), e
tração e, quando deva existir, o órgão ção do aumento do capital social. com o objetivo de incentivo a esse tipo
de fiscalização, devem de clarar por De acordo com o n.º 5 do artigo 41.º-A de capitalização, o legislador desin-
escrito não ter conhecimento de que, do EBF, caso se utilize a remuneração centiva o financiamento da sociedade
no período compreendido entre o dia convencional do capital social é redu- através de capitais alheios através da
a que se reporta o balanço que serviu zido a 25 por cento o limite previsto redução da limitação dos gastos dos
de base à deliberação e a data em que na alínea b) do n.º 1 do artigo 67.º do encargos com esses financiamentos,
esta foi tomada, haja ocorrido diminui- Código do IRC para efeitos da dedução reduzindo o limiar de 30 para 25 por
ção patrimonial que obste ao aumento dos encargos com financiamento. cento do resultado antes de deprecia-
de capital. De acordo com o n.º 1 do artigo 67.º do ções, amortizações, gastos de financia-
O aumento de capital não carece de CIRC, os gastos de financiamento líqui- mento líquidos e impostos.
escritura pública, devendo para supor- dos têm uma limitação de dedução fis-
tar a operação existir uma ata com tal cal na determinação do lucro tributável Resposta de abril de 2022

66 CONTABILISTA 266
CONSULTÓRIO

Ativos intangíveis dispêndios relativos a um ativo intan- cionados com o ativo intangível podem
gível adquirido a terceiros ou gerado incluir réditos da venda ou prestações
Determinada empresa está atual- internamente. de serviços, poupanças de custos ou
mente em fase de implementação de De acordo com o disposto no parágra- outros benefícios resultantes do uso
um novo Enterprise Resource Planning fo 8 da NCRF 6, um ativo intangível é desse ativo pela entidade (parágrafo
(ERP) adquirido a uma empresa ter- um ativo não monetário identificável 17).
ceira. A nível fiscal, qual o tratamento sem substância física. Desta forma, caso se trate da aquisi-
que poderá ser dado, nomeadamente Para que um dispêndio possa ser de- ção separadamente de um ativo intan-
a nível de amortizações? Sendo um finido como um ativo intangível, há a gível a outra entidade, juridicamente
ativo intangível, terá que ser sempre necessidade do cumprimento das três distinta da adquirente, este não será
amortizado pelo período de 10 anos condições previstas no parágrafo 10 considerado um ativo gerado interna-
ou haverá a possibilidade de o amor- da NCRF 6: identificabilidade, controlo mente. Consequentemente, para o seu
tizar por período superior/inferior? e benefícios económicos futuros. reconhecimento como ativo intangível,
Para se efetuar a amortização por Um ativo intangível cumpre o requisito basta que estejam verificados os re-
um período diferente dos dez anos, de identificabilidade quando este for quisitos acima enumerados, devendo a
terá que haver algum tipo de comu- separável do conjunto da entidade, de sua mensuração ser efetuada de acor-
nicação à Autoridade Tributária (AT)? modo que possa ser vendido, transferi- do com o disposto nos parágrafos 25 a
do, licenciado, alugado ou trocado, ou 31 da NCRF 6.
então, quando este resultar de direitos A partir do momento em que este ati-
contratuais ou legais separáveis da en- vo esteja pronto a ser usado, todos os
A questão apresentada respeita ao tidade. (parágrafos 11 e 12) encargos subsequentes já não poderão
registo contabilístico dos encargos su- Uma entidade controla um ativo se ti- ser capitalizados, devendo ser conside-
portados por uma entidade com aqui- ver o poder de obter benefícios econó- rados como gasto do período, confor-
sição de um ERP a uma outra empresa, micos futuros relacionados diretamen- me decorre do parágrafo 30 do mesmo
questionando-nos qual o tratamento te com esse ativo intangível, e possa normativo.
acerca do seu reconhecimento, bem restringir o acesso de terceiros a esses Se for possível reconhecer o dispêndio
como das amortizações que devem ser benefícios. Normalmente, esse poder como ativo intangível, em termos de
aplicadas. advém de direitos legais que a empresa amortização, há que avaliar ainda a
Em termos contabilísticos, a NCRF 6 – possua sobre esse ativo intangível (pa- existência ou não de vida útil finita, nos
Ativos intangíveis estabelece critérios rágrafos 13 a 16). termos previstos nos parágrafos 86 a
de reconhecimento específicos para os Os benefícios económicos futuros rela- 94 da NCRF 6.

MAIO 2022 67
CONSULTÓRIO

Neste âmbito, os registos contabilísti- - Despesas com projetos de desen- - O goodwill adquirido numa concen-
cos a efetuar poderiam ser os seguin- volvimento; tração de atividades empresariais.
tes: - Elementos da propriedade indus- De acordo com o n.º 4 do mesmo ar-
Pela aquisição do software: débito da trial, tais como patentes, marcas, tigo, esta norma não é aplicável:
conta 443 – Ativos intangíveis, por alvarás, processos de produção, - Aos ativos intangíveis adquiridos
contrapartida da conta 271 – fornece- modelos ou outros direitos assimi- no âmbito de operações de fusão,
dores de investimentos (cf. parágrafo lados, adquiridos a título oneroso cisão ou entrada de ativos, quan-
64 e 65 da NCRF 6). e cuja utilização exclusiva seja re- do seja aplicado o regime especial
conhecida por um período limitado previsto no artigo 74.º ;
Amortização contabilística de tempo. - Ao goodwill respeitante a participa-
Quando o ativo intangível tiver uma Exceto em caso de deperecimento ções sociais;
vida útil definida e finita, deve a sua efetivo, devidamente comprova- - Aos ativos intangíveis adquiridos
amortização ser imputada numa base do e reconhecido pela Autoridade a entidades residentes em país,
sistemática durante esse período, Tributária e Aduaneira, não são território ou região sujeitos a um
conforme decorre do parágrafo 69 da amortizáveis: regime fiscal claramente mais fa-
NCRF 6. - Trespasses de estabelecimentos co- vorável constante de lista apro-
A amortização deve começar quando o merciais, industriais ou agrícolas; vada por portaria do membro do
ativo estiver disponível para uso, isto - Elementos mencionados na segun- Governo responsável pela área
é, quando estiver na localização e con- da alínea acima, quando não se ve- das finanças;
dição necessárias para que seja capaz rifiquem as condições aí referidas. - Aos ativos intangíveis adquiridos a
de operar da forma pretendida. Neste caso, se o ativo intangível com entidades com as quais existam re-
Por outro lado, se não for possível de- vida útil definida for enquadrável no lações especiais nos termos do n.º
terminar com fiabilidade a vida útil do acima disposto, a sua amortização 4 do artigo 63.º.
ativo intangível, tendo este uma vida fiscal deverá ser efetuada à taxa de Nestas situações, note que a dedução
útil infinita ou indefinida, esse ativo 33,33 por cento, para projetos de de- fiscal prevista no n.º 1 do artigo 45.º-A
intangível deve ser amortizado em 10 senvolvimento, ou, no caso dos ativos do CIRC deve ser deduzida no campo
anos, conforme o parágrafo 105 da intangíveis mencionados na última alí- 792 do quadro 07 da modelo 22, en-
NCRF 6, aplicando-se-lhe, com as ne- nea, a taxa que decorra do período de quanto a amortização contabilística
cessárias adaptações, o disposto nos tempo em que tiver lugar a utilização reconhecida em resultados deve ser
parágrafos 95 a 104. exclusiva. acrescida no campo 719 do mesmo
Assim, tratando-se de ativos intangí- No caso de um ativo com vida útil in- quadro da declaração modelo 22.
veis que têm uma vida útil definida, es- definida, determina o artigo 45.º-A, A título de conclusão, entendemos
tes devem ser amortizados em confor- n.º 1 do CIRC que é aceite como gasto que deverá a entidade primeiramente
midade. No caso de ativos intangíveis fiscal, em partes iguais, durante os pri- aferir se o ativo intangível cumpre os
com vida útil indefinida, estes devem meiros 20 períodos de tributação após critérios para o seu reconhecimento
ser amortizados num período máximo o reconhecimento inicial, o custo de como tal, ou se, contrariamente, deve
de 10 anos. aquisição dos seguintes ativos intangí- ser diretamente contabilizado como
veis quando reconhecidos autonoma- custo do exercício.
Dedução/amortização fiscal mente, nos termos da normalização Após esta primeira definição do teor
No caso de um ativo intangível que te- contabilística, nas contas individuais da operação, e no caso de estarem
nha vida útil finita, determina o art.º do sujeito passivo: cumpridos os critérios para o seu reco-
16.º do Decreto-Regulamentar n.º - Elementos da propriedade indus- nhecimento como ativo intangível, de-
25/2009, que são amortizáveis quando trial tais como marcas, alvarás, verá ser identificado se o mesmo tem
sujeitos a deperecimento, designada- processos de produção, modelos vida útil definida ou indefinida, para
mente por terem uma vigência tempo- ou outros direitos assimilados, que se determine o correspondente
ral limitada. adquiridos a título oneroso e que critério de amortização a praticar.
Desta forma, são amortizáveis os se- não tenham vigência temporal li-
guintes ativos intangíveis: mitada; Resposta de abril de 2022

68 CONTABILISTA 266
CONSULTÓRIO

Isenção de IVA - adubos outros produtos para alimentação de os peixes de viveiro, destinados à
gado, aves e outros animais, quando alimentação humana.
No âmbito da publicação da Lei n.º utilizados em atividades de produção 2 - As operações referidas no número
10-A/2022, nomeadamente no que agrícola. anterior conferem o direito à dedução
concerne à venda de adubos com Resulta do artigo 4.º da Lei n.º 10- do imposto que tenha incidido sobre
isenção de IVA, existe algum requisito A/2022, de 28 de abril, que: bens ou serviços adquiridos, importa-
específico que devemos fazer constar «(…) 1 - Estão isentas de IVA as trans- dos ou utilizados pelo sujeito passivo
nas faturas que titulem estas opera- missões dos seguintes bens, quando para a sua realização (…).»
ções? normalmente utilizados no âmbito das Posteriormente, foi divulgado pela
atividades de produção agrícola: Autoridade Tributária o Oficio-Cir-
Questiona-nos acerca da informação a) Adubos, fertilizantes e corretivos culado n.º 30 246, de 29 de abril de
a colocar na fatura relativa à isenção de solos; e 2022, onde se clarifica que, relativa-
de IVA na venda de adubos consa- b) Farinhas, cereais e sementes, mente às faturas a emitir ao abrigo
grada na Lei n.º 10-A/2022, de 28 de incluindo misturas, resíduos e desta isenção, «devem fazer menção
abril. desperdícios das indústrias ali- a esta norma legal como motivo justi-
O diploma referido aprovou diversas mentares, e quaisquer outros pro- ficativo da não liquidação do imposto
medidas excecionais e temporárias de dutos próprios para alimentação (Exemplo: “IVA – Isenção prevista na
resposta ao aumento extraordinário de gado, aves e outros animais, Lei n.º 10-A/2022, de 28 de abril”, ou
dos preços dos combustíveis, entre referenciados no Codex Alimenta- semelhante).»
as quais, a isenção de IVA sobre adu- rius, independentemente da raça e
bos, fertilizantes, corretivos de solos e funcionalidade em vida, incluindo Resposta de abril de 2022

MAIO 2022 69
CONSULTÓRIO

Ativos biológicos
– movimentos
contabilísticos

Determinada empresa agrícola


possui 40 hectares de vinha e uma
adega que também vinifica as uvas
colhidas. Ao longo do ano, todos os
custos relacionados com as vinhas
são registados nas respetivas con-
tas e num centro analítico criado
especificamente para custos com
fornecimento e serviços externos,
com pessoal e outros.
No momento em que é efetuada a
colheita (vindima) a adega recebe
as uvas e a contabilidade dá entra-
da do respetivo ativo na conta 33
por contrapartida da conta 73 ao tem a vinha para produção das uvas que entendido de forma ampla, abarcando
custo unitário apurado da seguinte são utilizadas na produção do vinho. qualquer atividade de transformação
forma: Na questão não é referido o normativo biológica de ativos biológicos (vinhas) em
- Os custos apurados no centro contabilístico adotado pela entidade. produtos biológicos (uvas) ou em ativos
analítico são divididos pelo total de Assim iremos partir do pressuposto que biológicos adicionais (por exemplo, bace-
quilos colhidos e assim é apurado adota as NCRF (28 normas), ao abrigo los para serem replantados) para venda.
o custo unitário. Todos os meses é das alterações introduzidas pelo Decre- No caso em concreto, a atividade agríco-
efetuado um relatório de gestão à to-Lei n.º 98/2015, de 2 de junho ao De- la é a plantação e gestão de uma vinha
administração que inclui uma de- creto-Lei n.º 158/2009, de 13 de julho. para produção de uvas para venda (viti-
monstração de resultados e balan- No sentido de dar resposta à questão cultura) e/ou para fazer vinho (vitivinicul-
ço. colocada, na emissão do parecer vamos tura).
No mês em que é realizada a vin- proceder ao enquadramento contabilís- O glossário do SNC e a NCRF n.º 17 de-
dima, como é assumido o proveito tico da produção da uva e da produção fine também vários conceitos associa-
pela variação da produção, o EBI- do vinho. dos à atividade agrícola, estabelecendo
TDA aumenta pelo valor da uva A viticultura, sendo entendida como a como ativo biológico: animal ou planta
recebida, cujos custos já foram re- produção agrícola de uvas, deve ter o vivos, como por exemplo a vinha; como
conhecidos ao longo do ano, como tratamento contabilístico previsto na transformação biológica: os processos
referido. norma contabilística e de relato financei- de crescimento natural, degeneração,
O movimento contabilístico que se ro (NCRF) n.º 17 - Ativos biológicos. produção e procriação que causem al-
efetua atualmente está correto ou As entidades que apliquem a NCRF (28 terações qualitativas e quantitativas
existe um outro entendimento para normas) e exerçam a atividade agrícola num ativo biológico; e como colheita: a
o registo da receção de uva de pro- devem atender aos conceitos e defini- separação de um produto (neste caso,
dução própria? ções, bem como os critérios de reconhe- as uvas ou bacelos resultantes da poda)
cimento e mensuração previstos na NCRF de um ativo biológico ou a cessação dos
n.º 17, bem como glossário do SNC, com processos de vida de um ativo biológico.
Na situação em análise a questão colo- o objetivo de enquadrar a atividade de A NCRF n.º 17 descreve o tratamento
cada refere-se ao enquadramento conta- viticultura. contabilístico de ativos biológicos du-
bilístico da produção de uvas numa vinha Em termos de âmbito, define-se o trata- rante o período de crescimento, degene-
para produção de vinho. mento contabilístico da atividade agríco- ração, produção e procriação e da men-
No caso em apreço, a empresa agrícola la, sendo este um conceito que deve ser suração inicial do produto agrícola no

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CONSULTÓRIO

momento da colheita, definindo o justo - Ou ainda, referências do setor, tais biológico na condição atual em que se en-
valor menos custos de alienação, como como o valor de uma plantação expresso contra (em estado inicial de plantação).
critério de mensuração preferencial (pa- por hectare ou outra unidade de medida Como último recurso, no caso das vinhas,
rágrafo 14). do setor. que são plantas implantadas em terre-
O conceito de justo valor definido por À data de hoje, não existe um mercado nos, o justo valor dessas plantações pode
esta NCRF é a quantia pela qual um ativo ativo de vinhas regulamentado em Por- ser determinado pelo chamado «método
pode ser trocado, ou liquidado um passi- tugal, sendo difícil estabelecer um justo residual», previsto no parágrafo 28 da
vo, entre partes conhecedoras e dispos- valor para cada tipo de plantações, tendo NCRF 17.
tas a isso, numa transação em que ne- em atenção o local de plantação e o es- A determinação do justo valor pelo
nhum relacionamento existe entre elas. tado de maturação da vinha. «método residual» pressupõe que, em
Este critério de mensuração (justo valor Assim, apenas é possível determinar o princípio, como as plantações estão im-
menos custos de alienação) deve ser uti- justo de valor no momento da plantação plantados num terreno não têm um valor
lizado quando exista um mercado ativo da vinha, se a entidade conseguir obter de mercado separado desse terreno, mas
para o ativo biológico ou produto agrí- preços de transação para essas planta- pode existir um valor de mercado para o
cola, podendo-se utilizar o preço cotado ções nesse mesmo estado de crescimen- ativo combinado (terreno mais planta-
nesse mercado como base para determi- to, em locais semelhantes, o que, em prin- ção, incluindo melhoramentos decorren-
nar o justo valor. cípio, pode ser de difícil determinação. tes da plantação).
O mercado ativo é um mercado no qual Desta forma, no caso de não existirem Por este método residual, o justo valor da
se verifiquem todas as condições seguin- preços ou valores determinados pelo plantação pode ser determinado pela di-
tes: mercado para o ativo biológico na sua ferença entre o justo valor do terreno em
- Os itens negociados no mercado são condição atual (plantações), podem uti- bruto e o justo valor do ativo combinado
homogéneos; lizar-se estimativas alternativas do justo (terreno com melhoramentos).
- Podem ser encontrados em qualquer valor, como por exemplo, a determinação Ainda assim, normalmente, no momento
momento compradores e vendedores dis- do justo valor através do cálculo do valor da aquisição ou plantação, não é possível
postos a comprar e vender; e presente dos fluxos de caixa líquidos des- determinar com fiabilidade o justo valor
- Os preços estão disponíveis ao público. se ativo, descontados a uma taxa pré-im- dessa plantação, devido à incerteza da
O exemplo de mercado para ativos bio- posto determinada no mercado corrente. sua capacidade produtiva ou dos preços
lógicos e produtos agrícolas pode ser o Na prática, este cálculo é a determinação das plantações, com ou sem terreno.
SIMA (Sistema de Informação de Mer- do justo valor dos ativos biológicos atra- Nesse caso (que é a situação mais co-
cados Agrícolas), disponibilizado pelo vés da estimativa da soma dos resultados mum nestes casos), essa plantação pode
Ministério da Agricultura, ou outro seme- a obter (acrescidos dos encargos não de- ser mensurada inicialmente pelo mode-
lhante. sembolsáveis: depreciações e provisões) lo do custo (custo menos depreciações
No caso de existir mais de um mercado com esses ativos biológicos, durante o e perdas por imparidade acumuladas),
ativo desses bens, deve utilizar-se os pre- período de utilização na atividade, deter- conforme o parágrafo 30 da NCRF.
ços do mercado mais relevantes para o minados em função da sua atualização Assim, não sendo possível obter a deter-
ativo biológico em questão, ou seja, os à data presente com base numa taxa de minação de um justo valor fiável e não
preços do mercado no qual o ativo bioló- desconto pré-determinada. estejam disponíveis preços ou valores
gico irá ser usado. A condição atual de um ativo biológico determinados pelo mercado, pode men-
Se não existir qualquer mercado ativo deve excluir quaisquer aumentos de va- surar-se o ativo biológico (vinha) pelo
para esses ativos biológicos, podem ser lor derivados de transformação biológica custo menos qualquer depreciação acu-
utilizados os seguintes indicadores na adicional e de atividades futuras da en- mulada e qualquer perda por imparidade
determinação de uma aproximação ao tidade, tais como os relacionados com o acumulada.
justo valor: aumento por transformação biológica, Esta mensuração dos ativos biológicos
- Os preços mais recentes de transação colheita e venda futura. pelo custo (sujeitos a depreciações e
no mercado; Face a tal limitação, no momento da imparidades) apenas deve ser utilizada
- Ou, os preços de mercado de ativos se- plantação das vinhas, dificilmente será quando o justo valor seja de todo impra-
melhantes com ajustamento para refletir possível efetuar uma determinação fiá- ticável ou com uma determinação pouco
diferenças; vel de fluxos de caixa a obter desse ativo fiável.

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CONSULTÓRIO

Se a mensuração do ativo for ao custo, da NCRF n.º 17. guarda ou as árvores de um jardim. Estes
este é determinado em função dos crité- Se a entidade estiver a utilizar o crité- animais ou plantas vivas devem ser clas-
rios previstos para a mensuração inicial rio de mensuração do custo, deve divul- sificados como ativos fixos tangíveis, com
dos inventários, conforme estabelecido gar no anexo quais os ativos biológicos tratamento na NCRF 7.
na NCRF n.º 18 - Inventários, atendendo abrangidos por esse critério, o método de No caso dos ativos biológicos de pro-
à remissão do parágrafo 33 da NCRF n.º depreciação utilizado, as vidas úteis esti- dução (vinhas) estarem mensuradas ao
17. madas e respetivas taxas de depreciação custo, ficando, portanto, sujeitas a depre-
O custo do ativo biológico (plantações para esses ativos biológicos, discriminan- ciações e imparidades, estas devem ser
da vinha) é, então, o somatório de todos do ainda as quantias brutas dos ativos registadas nas contas 644 - «Gastos de
os custos necessários à sua aquisição e biológicos e as respetivas depreciações depreciação e de amortização - Ativos
colocação em condições e no local pron- acumuladas. biológicos de produção mensurados ao
to a ser usado. Podem incluir-se custos, Em termos de registo contabilístico, os custo» e 6527 - «Perdas por imparidade
como o preço de compra dos pés a ser ativos biológicos, como por exemplo, as - Ativos biológicos de produção mensu-
implantados no terreno, o trabalho de vinhas, devem ser incluídos numa conta rados ao custo», respetivamente, por
colocação desses pés, seja este trabalho da classe 3 - «Inventários e ativos bioló- contrapartida das contas 3728 - «Depre-
subcontratado ou realizado por mão-de- gicos» (conta 37 - «Ativos biológicos»). ciações acumuladas - Ativos biológicos
-obra da empresa, produtos para trata- Os ativos biológicos de produção (vinhas) mensurados ao custo.»
mento das plantações e outros bens e não devem ser registados na conta 436 - Sugestões de registos contabilísticos do
serviços indispensáveis à plantação. «Equipamentos biológicos», conforme reconhecimento inicial da plantação, pela
De referir que se devem apenas incorpo- referido nas notas de enquadramento mensuração ao justo valor menos custos
rar no custo do ativo os dispêndios com para esta conta. no ponto-de-venda e pela mensuração
bens e serviços até que o ativo biológico A conta 436 deve ser utilizada para ani- pelo custo:
(plantação) esteja colocado no local e mais ou plantas que não tenham sido re- Plantação mensurada pelo custo:
pronto a ser usado na atividade agrícola. conhecidos no âmbito de uma atividade Pela aquisição dos pés para plantar:
A partir desse momento, o ativo bioló- agrícola, ou seja, ainda que os animais - Débito da conta 3722 - «Ativos biológi-
gico fica sujeito a depreciações e a im- ou plantas tenham a respetiva transfor- cos - De produção – Plantas» por contra-
paridades, conforme as regras gerais mação natural, o objetivo da sua criação partida a crédito da conta 22 - «Fornece-
definidas para os ativos fixos tangíveis não é a sua venda. Os exemplos des- dores», pelo custo de aquisição (e conta
(NCRF n.º 7), conforme o parágrafo 33 te tipo de ativos podem ser os cães de de IVA se aplicável);

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Pela aquisição de outros bens e serviços direta) e com os restantes gastos gerais mantendo-se vivas após a separação dos
na plantação da vinha: diretamente relacionados com a plan- produtos agrícolas (colheita).
- Débito da conta 62/68 (dependendo da tação, nomeadamente, outras matérias Existe ainda a necessidade da separação
natureza do gasto) por contrapartida a utilizadas (por exemplo, fertilizantes), entre os ativos biológicos consumíveis e
crédito da conta 22 - «Fornecedores», trabalhos subcontratados, materiais utili- de produção, por ativos maduros, que já
pelo custo de aquisição; zados (sem características de ativo), gas- estão prontos a ser colhidos ou a produ-
Pela aquisição de itens que cumprem tos com a depreciação de equipamentos zir, e os imaturos, que são ativos biológi-
a definição de ativo fixo tangível ou in- e materiais utilizados na plantação. cos juvenis.
tangível, a serem utilizados na plantação A partir do momento em que a vinha As demonstrações financeiras devem
(sistema de rega, aramação e paus tra- esteja pronta a produzir uvas, devem divulgar também as atividades desenvol-
tados): iniciar-se as depreciações, determinadas vidas, as medidas de quantificação utili-
- Débito da conta 43/44 (dependendo da com base na estimativa da vida útil da zadas, o enquadramento da utilização do
respetiva natureza) por contrapartida a vinha. justo valor ou a razão da utilização da
crédito da conta 271 - «Fornecedores de Os registos contabilísticos podem ser: mensuração pelo custo, e ainda uma ex-
investimentos», pelo custo de aquisição. Pelas depreciações do período: plicação da diferença entre a existência
Pelas depreciações dos ativos fixos tangí- - Débito da conta 644x - «Gastos de de- inicial dos ativos biológicos e a final, no
veis ou intangíveis: preciação e de amortização - Ativos bio- período corrente.
- Débito da conta 64 - «Gastos de de- lógicos de produção mensurados ao cus- Esta demonstração deve incluir: o ganho
preciação e de amortização» por con- to» por contrapartida a crédito da conta ou a perda proveniente de alterações
trapartida a crédito da conta 438/448, 378x - «Depreciações acumuladas», pelo no justo valor menos custos estimados
pelas respetivas depreciações ou amor- montante da depreciação do período. no ponto-de-venda; aumentos devido a
tizações. Em relação aos produtos agrícolas (uvas), compras; os decréscimos atribuíveis a
Pelos custos com a mão-de-obra própria em princípio existe sempre um mercado vendas e a ativos biológicos classificados
nos trabalhos da plantação: ativo, sendo mais fácil a determinação do como detidos para venda; diminuições
- Débito da conta 63 - «Gastos com o justo valor desses itens. devidas a colheitas, e outras alterações.
pessoal» por contrapartida a crédito da Desta forma, os produtos agrícolas Se a entidade estiver a utilizar o crité-
conta 23/2722, pelos custos com o pes- (uvas) devem estar sempre mensurados rio de mensuração do custo, deve divul-
soal. pelo justo valor menos os custos de alie- gar no anexo quais os ativos biológicos
Pelo reconhecimento inicial do ativo bio- nação, logo desde o seu reconhecimento abrangidos por esse critério, o método de
lógico de produção relativo à plantação: inicial, na colheita. depreciação utilizado, as vidas úteis esti-
- Débito da conta 372 - «Ativos biológi- madas e respetivas taxas de depreciação
cos de produção» por contrapartida da Demonstrações financeiras para esses ativos biológicos, discriminan-
conta 734 - «Variações nos inventários Em termos de apresentação e divulgação do ainda as quantias brutas dos ativos
de produção - Ativos biológicos», pelo nas demonstrações financeiras, a NCRF biológicos e as respetivas depreciações
custo de produção da plantação (soma- n.º 17 estabelece que para os ativos acumuladas.
tório de todos os encargos relacionados biológicos devem existir descrições por Em termos de registo contabilístico, os
com a plantação), ou seja, a soma de grupo de ativos, sendo esses agrupamen- ativos biológicos, como por exemplo, as
todos os custos referidos nos outros lan- tos de ativos biológicos ou de produto videiras e os bacelos, devem ser incluídos
çamentos, que estejam diretamente rela- agrícola definidos de acordo com os seus numa conta da classe 3 - «Inventários e
cionados com a plantação. atributos significativos, por exemplo, por ativos biológicos» (conta 37 - «Ativos
Na prática, o custo de produção (plan- idade (crescimento da vinha) ou qualida- biológicos»).
tação) é determinado de acordo com as de (tipo de castas). As uvas, como produtos agrícolas, devem
regras da contabilidade analítica. Deve existir ainda a distinção entre ati- ser reconhecidas na conta 34 - «Produtos
Este custo de produção (plantação) inclui vos biológicos consumíveis, que são colhi- acabados e intermédios», no momento
os custos relacionados com o custo de dos e vendidos como produtos agrícolas, da colheita, quando sejam destinadas a
aquisição dos bacelos (matéria direta), e ativos biológicos de produção, que são venda, sendo mensuradas pelo justo va-
com os gastos de pessoal diretamente ativos de regeneração própria, como por lor menos os custos de alienação a essa
utilizados na plantação (mão-de-obra exemplo, as vinhas que produzem uvas, data, por contrapartida conta 73 - «Va-

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riação dos inventários de produção». Há que considerar o IVA a liquidar, caso contrapartida da respetiva conta, pelos
Se as uvas forem destinadas à produção seja aplicável. Pelo gasto de vendas das custos suportados e incorridos com a
de vinho, no momento da colheita devem uvas: produção vinho.
ser classificadas como matérias-primas, - Débito da conta 73 - «Variação dos - Débito da conta 34 - «Produtos acaba-
na conta 33. inventários de produção» por contrapar- dos» por contrapartida a crédito da con-
No momento da colheita das uvas, os re- tida a crédito da conta 34 - «Produtos ta 73 - «Variação dos inventários de pro-
gistos contabilísticos podem ser: acabados», pelo custo dos inventários, dução», pelo custo de produção do vinho,
Pelo reconhecimento do produto agríco- determinado nos termos da fórmula de incluindo o custo das uvas e das restantes
la, mensurado ao justo valor menos cus- custeio utilizada pela empresa. matérias e outros encargos diretamente
tos estimados no ponto-de-venda: Produção de vinho: necessários a essa produção, determina-
- Débito da conta 33/34 - «Matérias-pri- Pelo consumo de uvas na produção de do nos termos dos custos de conversão
mas/Produtos acabados» por contrapar- vinho: previstos na NCRF 18.
tida a crédito da conta 73 - «Variação - Débito da conta 61 - «CMVMC - Maté- Pela venda do vinho:
dos inventários de produção», pelo justo rias-primas» por contrapartida a crédito Pela venda do vinho produzido:
valor menos custos estimados no ponto- da conta 33 - «Matérias-primas», pelo - Débito da conta 21 - «Clientes» por
-de-venda das uvas. custo dos inventários, determinado nos contrapartida a crédito da conta 712 -
Conforme já referido, as uvas para venda, termos da fórmula de custeio utilizada «Vendas - Produtos acabados», pelo ré-
sem qualquer transformação, devem ser pela empresa. dito de vendas (preço de venda);
classificadas como produtos agrícolas. As O custo das uvas, classificadas como in- Pelo gasto de vendas do vinho produzido:
uvas para a produção de vinho devem ser ventários, é o resultante da aplicação da - Débito da conta 73 - «Variação dos
classificadas como matérias-primas. mensuração ao justo valor menos custos inventários de produção» por contrapar-
Pela venda das uvas (sem transforma- estimados no ponto de venda, no mo- tida a crédito da conta 34 - «Produtos
ção): mento da colheita. acabados», pelo custo dos inventários,
- Débito da conta 21 - «Clientes» por Pela produção de vinho: determinado nos termos da fórmula de
contrapartida a crédito da conta 712 - Pelos custos de produção do vinho: custeio utilizada pela empresa.
«Vendas - Produtos acabados», pelo ré- - Débito da conta 61/62/63/64/6... -
dito de vendas (preço de venda); «Atendendo à natureza do custo» por Resposta de outubro de 2021

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