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Autor:
Paulo Moutinho
IPAM - Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia
O autor é grato a Ana Carolina Crisostomo e a Simone Mazer pelo auxilio na coleta de dados
para este artigo. Parte dos dados apresentados neste documento são oriundos de estudos
do IPAM financiados pelas Fundações ClimateWorks, Ford e Moore e do Instituto Nacional de
Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas (INCT-MC).
Realização:
Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável - FBDS
www.fbds.org.br
Patrocinadores:
Ambev, BNDES, JSL, Light, Shell, Tetra Pak
Conselho Curador (FBDS):
Israel Klabin, Jerson Kelman, José Luiz Alquerés, Maria Silvia Bastos
Marques, Philippe Reichstul, Rubens Ricupero e Thomas Lovejoy
Coordenação Geral (FBDS): Walfredo Schindler
Equipe FBDS: Luis Saporta, Liana Gemunder, Thais Mattos
O Brasil é sede da Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável (RIO+20), mar-
cada para junho de 2012. Fruto de uma longa caminhada pela conscientização da sociedade para a
urgência de tratarmos nossa relação com o meio ambiente de maneira responsável, ética e sem com-
prometermos o futuro das próximas gerações, este encontro internacional é uma ótima oportunidade
para revermos a trajetória das ações realizadas nos últimos anos, identificando sucessos e fracassos.
Só assim poderemos ajustar nossas políticas e práticas rumo ao desenvolvimento sustentável.
O encontro traz também uma interessante proposta analítica chamada Economia Verde. Nessa pers-
pectiva, estão reunidas as noções de uma economia de baixo carbono – com menores impactos sobre
o equilíbrio climático, com uso eficiente dos recursos naturais e inclusão social. Realmente, é incon-
cebível acreditarmos em um desenvolvimento humano de longo prazo que não tenha essas premis-
sas como alicerce.
Nesta coleção de cadernos de conteúdo, listamos as principais barreiras identificadas para o desen-
volvimento de uma Economia Verde no Brasil, assim como propomos diretrizes que deverão ser adota-
das pelas diferentes esferas do poder público, do setor produtivo e da sociedade civil organizada para,
enfim, ajustarmos nossa trajetória de desenvolvimento.
Esse trabalho foi possível graças ao decisivo apoio financeiro e institucional oferecido por alguns dos
mais importantes parceiros da FBDS, empresas não somente preocupadas, mas efetivamente enga-
jadas na prática da agenda da sustentabilidade: AMBEV, BNDES, JSL, LIGHT, SHELL e TETRA PAK.
Em 2011, os desembolsos associados à Economia Verde alcançaram R$ 18,4 bilhões, com o apoio a
projetos de energias renováveis, eficiência energética, gestão de resíduos e lixo urbano, transporte
coletivo não poluente, bem como outras atividades que promovem a redução de emissões de carbono.
A expectativa para os próximos anos é a intensificação das contribuições à dinamização desses seto-
res, com destaque para o incentivo à inovação em tecnologias verdes.
Um dos caminhos para a inovação é, sem dúvida, a multiplicação e divulgação do conhecimento por
meio de estudos como os que estão oportunamente reunidos nas publicações Diretrizes para uma
Economia Verde no Brasil.
O patrocínio a esse conjunto de publicações é, para o BNDES, uma oportunidade de estimular novas e
melhores práticas, processos e comportamentos nos diversos setores da economia brasileira, mos-
O Brasil ocupa a quarta posição no ranking dos países emissores, levando-se em conta as emis-
sões por desmatamento florestal. Como caminhar rumo à Economia Verde diante deste quadro?
O país tem condições para adotar um regime nacional de REDD, mas é urgente que a sociedade bra-
sileira aumente o debate e aproveite a oportunidade que este mecanismo traz à construção de uma
lógica econômica verde e ao desenvolvimento de baixa emissão de carbono. É preciso trazer valor
econômico à conservação florestal e entre os muitos desafios estão o reforço ao compromisso dos
governadores estaduais em relação aos planos de redução de desmatamento; a definição dos direi-
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tos de posse de terra e propriedade de créditos REDD+, evitando mais disputas por terra; a garantia
de que todos os biomas brasileiros sejam capazes de medir e monitorar as reduções de emissões; e
a relação com mercados globais de carbono, já que o financiamento público pode não ser suficiente.
O REDD é um instrumento economicista. Por meio dele é possível promover a conscientização am-
biental da sociedade e proteger as florestas?
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http://radarrio20.org.br/index.php?r=conteudo/view&id=12&idmenu=20#Panorama%20hist%C3%B3rico
Tabela 1 – Iniciativas de financiamento ambiental no Brasil
Iniciativa O que é? Onde/como está sendo aplicado?
ICMS Ecológico Instrumento que beneficia municípios que con- Apenas 14 das 27 unidades da federação possuem
templarem atividades como saneamento básico e este mecanismo de operação: AC, AP, CE, MT, MS,
unidades de conservação. Este benefício provém MG, PR, PE, PI, RJ, RS, RO, SP e TO.
de uma porcentagem do ICMS arrecadado pelo
estado ou Distrito Federal.
Compensação Ambiental Mecanismo financeiro criado para contrabalançar Aplicada em obras que, segundo órgão responsá-
os impactos ambientais de processos de licen- vel pelo licenciamento, causam impactos ambien-
ciamento ambiental (princípio poluidor-pagador). tais. Agências Públicas (federais ou estaduais)
Cobra-se o mínimo de 0,5% do valor total do são responsáveis por estabelecer a quantia e o
projeto como compensação pelo impacto. destino dos recursos de compensação.
Empreendimentos De acordo com a Lei complementar 140, é ação Exemplo de empreendimentos em U.C.: a MP 558
em Unidades administrativa dos Estados e da União promover o de 5 de janeiro de 2012 exclui áreas de alagamen-
de Conservação licenciamento ambiental de atividades ou empre- to de hidrelétricas em parques na Amazônia.
endimentos, supressão e/ou manejo de vegetação
em unidades de conservação (exceto APAs).
Há casos de alteração na legislação para alocar
empreendimentos de “utilidade pública”.
Cobrança pelo uso e A cobrança pelo uso e descarte da água foi estabe- Os Comitês de Bacias Hidrográficas têm como
descarte da água lecida pela Política Nacional de Recursos Hídricos competências principais aprovar o Plano de
(Lei 9.433/1997) e tem como objetivo aplicar Recursos Hídricos da Bacia, arbitrar conflitos pelo
recursos prioritariamente na bacia hidrográfica uso da água, em primeira instância administrati-
em que foram gerados a fim de financiar estudos, va, estabelecer mecanismos e sugerir os valores
Servidão florestal Consiste na possibilidade de o proprietário rural A área que será destinada à servidão florestal
renunciar aos direitos de supressão/exploração deve pertencer ao mesmo ecossistema e à
de vegetação nativa para figuração de reserva mesma micro-bacia da propriedade que será
legal de terceiros, desde que aprovado pelo órgão compensada.
ambiental estadual.
Créditos por Reduções Créditos equivalentes a uma tonelada de CO2eq China, Índia e Brasil são os países com o maior
Certificadas de Emissões gerados em países em desenvolvimento, que número de projetos de MDL e em termos de
de GEE podem ser negociados e vendidos pelos países obtenção de RCE.
industrializados signatários do Protocolo de
Quioto, no âmbito do MDL, para obtenção de suas
metas de redução de emissões.
Programa de Áreas Protegi- Programa do governo federal para expandir, con- Apoiou a criação de 44 novas unidades de con-
das na Amazônia (ARPA) solidar e manter uma parte do Sistema Nacional servação o, área de 24 milhões de ha, 64 UCs
de Unidades de Conservação (SNUC) no Bioma recebem apoio do ARPA sendo 32 de proteção
Amazônia, protegendo pelo menos 50 milhões de integral e 32 de uso sustentável. Na 1ª fase, o
ha e promovendo o desenvolvimento sustentável investimento foi de U$ 125,6 milhões. Para a 2ª,
da região. É gerido pelo MMA e pelo Funbio. estima-se uma demanda de U$ 121 milhões.
Associação de compradores Grupo de compradores que se comprometem a FSC (Forest Stewardship Council), ISSO (Interna-
e produtores de produtos
florestais certificados
comercializar ou utilizar apenas produtos flo-
restais certificados.
tional Organization for Standardization), Rainfor-
est Alliance, SCS - Scientif Certification System,
Soil Association, Skal, IMO, PEFC (Program for the
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Endorsement of Forest Certification), Abimovel
(Associação Brasileira das Industrias do Imobil-
iario). Países: EUA, Alemanha, Espanha, Canadá,
Noruega, Bélgica, Austrália, Holanda, Áustria,
Suécia, Suíça, Finlância, Dinamarca, Inglaterra.
Outras ações do setor pri- IR Ecológico seria uma ação inovadora nas leis Em discussão no Ministério da Fazenda, Receita
vado – Imposto de Renda de incentivo fiscal no Brasil, ampliando as pos- Federal e Ministério do Meio Ambiente.
Ecológico sibilidades de financiamento de projetos de
conservação e uso sustentável dos recursos
naturais nacionais, dando uma nova dinâmica de
captação para organizações sem fins lucrativos,
comprometidas com o meio ambiente.
Cobrindo uma área de aproximadamente 5.4 A ocupação de novas áreas através de investi-
milhões de km2, a Amazônia abriga o maior mentos em obras de infraestrutura sem salva-
bloco de floresta tropical remanescente e con- guardas socioambientais tem conduzido à ex-
tínua do mundo. Um verdadeiro armazém de pansão da fronteira agrícola e à consolidação
carbono da ordem de 50 bilhões de toneladas, de sistemas extensivos de produção agrope-
volume equivalente a 25 Protocolos de Kyoto cuária, com alto impacto ambiental e, especial-
ou a cinco anos de emissão mundial de gases mente no caso da pecuária, de baixa rentabi-
GEE. Pouco mais de 80% da floresta estão pre- lidade. As consequências econômicas de tal
servadas, das quais 60% no Brasil. Berço da bio- modelo podem fornecer a dimensão dos preju-
diversidade planetária, a Amazônia abriga mais ízos provocados pela derrubada da floresta. Os
de 20% das espécies terrestres conhecidas e incêndios florestais e as queimadas ocorridas
é peça fundamental para o equilíbrio climático em 1998 por conta de uma seca prolongada,
regional e global (Malhi et al. 2007). cada vez mais comum na região, atingiu mais
de 10 milhões de hectares de vegetação nati-
A região também apresenta um crescimento va, levando a perdas econômicas da ordem de
econômico expressivo. Entre 2000 e 2007, o cinco bilhões de dólares, quase 10% do PIB da
PIB da região teve um crescimento de 62%, en- região (Mendonça et al. 2004).
quanto o do Brasil cresceu 38% (Pereira, 2010).
A maior parte deste crescimento foi oriunda do Somente na agricultura, atingida pelas queima-
setor de serviços (60%), seguido pela indús- das descontroladas, as perdas alcançaram cer-
tria (25%) e a agropecuária (15%), este último ca de US$ 40 milhões. Outros US$ 11 milhões
rendendo ao país USD 9 bilhões (ano de refe- foram gastos pelo Sistema Único de Saúde
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rência: 2004) (Celentano e Veríssimo, 2007). (SUS), somente com o tratamento de proble-
Em 2011, o valor bruto da produção agrícola mas respiratórios devido ao excesso de fumaça
no Brasil foi recorde, rendendo ao país cerca de no ar. O maior prejuízo foi o florestal. Bilhões de
USD 113 bilhões (MAPA 2011). dólares se perderam com a queima de floresta
e redução do potencial de exploração madeirei-
Historicamente, o modelo atual de produção ra na região (Mendonça et al. 2004). Os prejuí-
da região é, contudo, ancorado na exploração zos secundários oriundos da ação do fogo ama-
predatória de seus recursos naturais, no des- zônico ainda não foram avaliados para aquele
matamento, na má distribuição de renda e na ano, mas podem ser dimensionados, por exem-
perpetuação da pobreza. plo, pelo número de mortes nas estradas ou de
horas com aeroportos fechados devido à baixa
de visibilidade que a fumaça impôs.
Esta combinação de desmatamento na região No caso do manejo florestal de floresta nativa,
com o aquecimento global poderá trazer para não há sequer um programa de incentivo forma-
a Amazônia fortes períodos de seca, no futuro, lizado, a não ser aqueles voltados para Conces-
com reduções no volume de chuva de 20 a 30% sões Florestais, por meio do Fundo Nacional de
(Nobre et al. 1991, Hansen et al. 2006, Oyama & Desenvolvimento Florestal. Neste caso, o fundo
Nobre 2003, Malhi et al. 2008), culminando num receberia dos concessionários 40% do valor mí-
processo de degradação florestal que poderá le- nimo estipulado para as concessões (Lei de Ges-
var a “savanização” de boa parte da região Ama- tão de Florestas Públicas, nº 11.284/2006), mas
zônica (Malhi et al. 2008, Nepstad et al. 2008) e o volume de concessões ainda e tímido para ge-
trazer impactos socioeconômicos incalculáveis, rar recursos substanciais para o fundo. Ainda, o
especialmente para a produção agrícola nas áre- programa governamental de Agricultura de Baixo
as já desmatadas. Assim, manter a floresta ama- Carbono (ABC) não chega a três bilhões de Reais
zônica em pé é um passo fundamental na cons- (Plano Agrícola e Pecuário 2011). Cabe lembrar
trução de uma Economia Verde no Brasil e um que, dos ganhos com a produção de commodities
fundamento importante para o desenvolvimento (carne e grãos) na Amazônia, não são desconta-
de baixa emissão de carbono do país. dos os prejuízos ambientais e sociais provoca-
dos, como aqueles já descritos e relacionados
Apesar do avanço da agropecuária nos moldes aos incêndios e queimadas.
convencionais, as bases para o desenvolvimento
12 de uma Economia Verde amazônica estão plan- O valor da Economia Verde amazônica pode ser
tadas e com grande potencial de crescimento. A bem maior do que aquele calculado na produção
receita bruta oriunda do setor madeireiro é esti- sustentável de madeira e no uso de produtos não-
mada em R$ 4.94 bilhões, para 2009 (Hummel -madeireiros, se a este valor forem somados os
et al. 2010) e somente este potencial econômi- potenciais ganhos com a manutenção da flores-
co madeireiro relacionado às áreas protegidas ta em pé, no que se refere a emissão evitada de
na região poderá gerar R$ 1,2 bilhão a R$ 2,2 bi- carbono ou ação de preservação do carbono flo-
lhões (Medeiros et al. 2012). Adicionalmente, a restal através da implementação de um regime
produção de borracha em reservas extrativistas nacional de REDD+. Adicionando-se o valor eco-
tem o potencial de mover algo em torno de 16,5 nômico da conservação florestal, dos serviços
milhões anuais e a de castanha R$ 39,2 milhões ambientais que a floresta presta e da redução de
(Medeiros et al. 2012). Parece pouco se com- desmatamento, o potencial econômico da região
parado à contribuição econômica da agropecuá- através do REDD+ poderia atingir USD 85 bilhões,
ria na região. Cabe lembrar, no entanto, que, ao caso toda a emissão evitada pela redução do
contrário da economia baseada no uso susten- desmatamento pretendida até 20202 pela PNMC
tável da floresta, os setores agrícola e pecuário fosse alcançada (Moutinho et al. 2011). O valor
recebem incentivos da ordem de R$ 70 bilhões de tal emissão evitada, somada à renda gerada
(Plano Agrícola e Pecuário 2011), um valor infini- pela exploração sustentável de recursos madei-
tamente maior do que o incentivo oferecido pelo reiros e não-madeireiros, e combinada com uma
governo em programas de fomento à atividade agricultura de baixa emissão de carbono estabe-
extrativista: R$ 15 milhões em subvenções para lecidas nas áreas já desmatadas, poderia então
2012 (PGPM–Bio, Conab 2011). gerar um volume significativo de divisas.
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Considerando que a emissão evitada estimada de CO2 oriunda da redução desmatamento até 2020, caso as metas da PNMC sejam cumpridas, é de
5.7 bilhões e, considerando um valor de referencia da tonelada de carbono de USD 5-15/tCO2, o potencial estimado de recursos gerados é de 30-85
bilhões até 2020. Este valor pode ser 50% menor dependendo do modelo de transação das emissões evitadas.
REDUÇÃO DE EMISSÕES POR DESMATAMENTO E DEGRADAÇÃO
FLORESTAL (REDD): O PILAR DA ECONOMIA VERDE?
No Brasil, enquanto mais de 80% da energia Este progresso tem o respaldo crescente da so-
consumida vem de fontes renováveis, o desma- ciedade brasileira, que entende que os custos
tamento tem colocado o país entre os maiores econômicos e sociais envolvidos com o des-
emissões de GEE. A média para os anos 1990 foi matamento na Amazônia são muito maiores do
uma emissão de 0.2 PgC/ano3, oriunda apenas que aqueles relacionados à sua conservação. A
do desmatamento na região Amazônica, o que melhor evidência de engajamento no tema é o
representa de 2 a 3% do total global (Houghton, aumento do debate sobre REDD+ entre setores
2005). Atualmente, apesar das reduções sig- privados, governos, organizações não governa-
nificativas do desmatamento, entre 60 e 70% mentais (ONGs) e movimentos sociais, incluin-
das emissões totais vem do uso da terra: des- do povos indígenas e comunidades tradicionais
matamento (~50%) e incêndios florestais na (Moutinho et al. 2011).
Amazônia (MCT 2010). Uma área maior do que
a da França (~700.000 km²) já foi desmatada e No entanto, o avanço em reconhecer a redução
convertida, em sua maioria, em pastagem. Ape- do desmatamento como algo crucial para re-
sar da contribuição relativamente baixa do país duzir emissões e contribuir para mitigação das
para emissão global de GEE, o desmatamento, mudanças do clima, encontra-se ameaçado. O
apenas na Amazônia brasileira, resulta em emis- intenso e amplo ataque à legislação ambiental
sões equivalentes a 30-40% dos objetivos anuais (Código Florestal), os investimentos federais
de redução para países industrializados, listados e privados em infraestruturas que promovem o
no Anexo I do Protocolo de Quioto (Santilli et al
2005, Moutinho et al. 2011).
desmatamento e a inevitável recuperação dos
preços da carne e da soja no mercado interna-
cional pressionam a floresta (Soares et al. 2010,
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Paradoxalmente, nos últimos cinco anos, o Bra- Moutinho et al. 2011). No longo prazo, o setor
sil se tornou a nação que mais se comprometeu agrícola está planejando, até 2020, dobrar sua
a alcançar reduções de GEE. Durante a UNFCCC, produção, tanto agrícola como pecuária (Plano
realizada em Copenhagen (COP-15), o governo Agrícola e Pecuário, 2011), ameaçando os obje-
brasileiro anunciou o compromisso em reduzir tivos da PNMC. Estudos têm mostrado que o des-
emissões de GEE. Após o anúncio, o Congresso matamento na Amazônia poderá aumentar nas
Nacional transformou em lei a Política Nacional próximas décadas. Estima-se que 32 PgC podem
de Mudanças Climáticas (PNMC) e no último ano, ser emitidos para a atmosfera até 2050, caso o
durante a COP-16 em Cancun, o governo brasilei- desmatamento siga o padrão das últimas duas
ro buscou regulamentar a lei através do Decreto décadas (Soares et al. 2010) ou se não houver
7.390, que forneceu detalhes sobre o caminho continuidade nas ações para reduzir as taxas
que o Brasil pretende seguir para alcançar seus com que a floresta é derrubada.
objetivos até 2020. A PNMC incluiu o objetivo de
reduzir o desmatamento na Amazônia (a maior Considerando essas ameaças, é urgente que o
fonte de emissões) em 80% até 2020, um ob- Brasil escolha um caminho de desenvolvimento
jetivo que já está começando a ser alcançado que seja baseado numa economia de baixa emis-
(Nepstad et al. 2009). O Brasil lançou ainda, de são de carbono, onde o setor florestal desempe-
forma pioneira, o Fundo Amazônia, com apoio ini- nhe um papel fundamental como alavanca do
cial da Noruega (US$ 1 bilhão), que vem dando crescimento econômico do país. Certamente, o
suporte atualmente a programas de REDD+. Brasil, através de sua PNMC, está bem situado
para promover tal desenvolvimento, tendo o me-
canismo de REDD como um elemento fundamen-
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PgC = Bilhões de toneladas de carbono tal dessa nova ordem econômica.
REDD+ NO BRASIL: A HISTÓRIA
Historicamente, a posição do Brasil, em conside- Outro aspecto que influenciou a mudança na po-
rar a redução de emissões de GEE causadas pelo sição do governo brasileiro em relação ao esta-
desmatamento elegível como meio para mitigar belecimento de objetivos quantitativos para re-
a mudança climática, tem sido conservadora. A duzir o desmatamento, abrindo portas para uma
base técnica para oposição foi centralizada em discussão mais ampla sobre REDD, foi a redução
preocupações sobre ‘adicionalidade’ (por exem- expressiva (65%) das taxas de desmatamento
plo, evitar o desmatamento não representa uma no período 2006 a 2010. Tal redução, resultan-
ação efetiva para reduzir emissões), a incerteza te das ações de fiscalização, da sofisticação do
sobre a ‘permanência’ do carbono em florestas monitoramento por satélite e, especialmente,
(que podem ser cortadas e queimadas), o alto da criação de mais de 24 milhões de hectares de
risco de ‘vazamento’ (como a possibilidade de áreas protegidas na região (Soares et al. 2010),
que enquanto uma floresta é conservada em somadas às campanhas do governo federal e ao
uma área, o desmatamento pode ser deslocado cancelamento do crédito àqueles que ocuparam
e promovido em outro local), a falta de uma ga- terras ilegalmente (Moutinho et al. 2011), con-
rantia de que a lei esteja sendo cumprida e da tou sobremaneira para que o governo ganhasse
capacidade tecnológica para monitorar o desma- confiança sobre a governança do desmatamen-
tamento com maior precisão. Vários destes de- to amazônico.
safios foram, contudo, superados ao longo dos
últimos anos (Moutinho et al. 2011). Os movimentos sociais e ambientais passaram a
No entanto, para o sucesso da PNMC, algumas dificuldades terão que ser superadas. A mais funda-
mental é aquela relacionada à contradição das macro-políticas de desenvolvimentos. Por exemplo,
simultaneamente ao cumprimento das metas da PNMC até 2020, o governo brasileiro está planejan-
do aumentar a produção agrícola e a área sob cultivo, durante o mesmo período (Plano Agrícola e Pe-
cuário 2011). Os investimentos em infraestrutura planejados pelo Plano de Crescimento Acelerado
(PAC) ameaçam o sucesso da PNMC, pois o plano não possui clareza quanto às salvaguardas socio-
ambientais, além do que indiretamente poderia aumentar os lucros daqueles setores dependentes
Será preciso ainda que os principais setores industriais e as organizações que estão conduzindo o
desmatamento sejam engajadas. Em particular, os produtores de commodities agrícolas e carne
que excluírem de suas cadeias de produção a pecha do desmatamento estarão mais aptos e compe-
titivos frente à parte do mercado nacional e, principalmente, internacional. É fundamental que eles
abracem uma estratégia de crescimento da produção agrícola e pecuária em terras já desmatadas
sem, contudo, cair da armadilha criada pela suposta anistia gerada pela mudança no Código Flores-
tal. Essa transição é tecnicamente possível e pode ser feita com o conjunto certo de incentivos. A
estratégia de uma agricultura mais sustentável deve ir além da grande produção. No Brasil, existe
quase um milhão de famílias de pequenos proprietários rurais (propriedades < 100 ha), o qual tem
um enorme potencial de trilhar o caminho do desenvolvimento de baixas emissões.
Na Amazônia, a medida que os grandes produtores passam a utilizar seu poder econômico para ban-
car a redução do desmatamento em suas propriedades, os pequenos proprietários se vêem em uma
situação de pouco apoio para fazer o mesmo. Estes continuarão a manter suas propriedades de sub-
sistência e dependentes do desmatamento, por simples falta de alternativa. É, portanto, crucial que
os incentivos sejam também carreados para a pequena produção de baixa emissão de carbono. Sem
um rápido progresso no desenvolvimento de alternativas econômicas viáveis não dependentes de
desmatamento para pequenos produtores, estes seguirão derrubando a floresta. A estimativa é a de
que eles desmatem no mínimo de 6000-8000 km² por ano, o que colocaria em xeque as metas da
PNMC de atingir um desmatamento amazônico de no máximo 4000 km² em 2020.
Comunidades indígenas e tradicionais são me- Essas ameaças aparentemente insuperáveis à
nos numerosas do que as dos pequenos pro- PNMC podem ser contornadas parcialmente pelo
prietários (cerca de 70 mil famílias), porém eles aumento da produtividade agrícola em áreas já
ocupam e defendem mais de 40% das florestas desmatadas, na intensificação da agricultura,
remanescentes da região e 30% do estoque de num zoneamento cuidadoso para o cultivo, em
carbono (Moutinho et al. 2011). Apesar do cres- áreas já abertas, da cana e da soja. Estas estra-
cente engajamento de seus líderes no debate tégias deverão estar aliadas a uma politica de
REDD+, há ainda uma necessidade crítica para valorização florestal, por meio da implementa-
melhor compreensão do que seja este meca- ção de um regime nacional de REDD+ e pelo in-
nismo. É importante levar o conhecimento a um centivo à produção e à exploração sustentável
nível local e ir além da visão de que a REDD+ é de produtos florestais.
apenas mais um sistema de pagamento por
prestação de serviços ambientais. Em resumo, enquanto as ameaças são signi-
ficativas e não devem ser subestimadas, há
De maneira geral, as políticas e programas bra- também uma enorme oportunidade para o Bra-
sileiros que contradizem os objetivos da PNMC sil consolidar a PNMC, levar o desmatamento ao
são construídos para apoiar a imagem do país nível zero, nos próximos 10 anos, e fazer a ne-
como a nova superpotência agrícola global. Além cessária transição para que a Amazônia possa
do conflito entre a necessidade de redução do suportar um modelo de desenvolvimento de bai-
desmatamento e os planos de expansão do se- xas emissões, em nível nacional (Moutinho et al.
tor agropecuário, que representa um terço do PIB 2011, Nepstad et al. 2009). Isso é especialmen-
da nação, a agroindústria está atraindo quanti-
dades substanciais de capital privado para o Bra-
sil com o objetivo de adquirir terras e melhorar
te válido se consideradas as decisões tomadas
na COP de Cancun e relacionadas à REDD+, as
quais descrevem as intenções de garantir apoio
21
a infraestrutura (estradas, rodovias, hidrovias e técnico e financeiro para que economias em de-
portos). Adicionalmente, o lobby ruralista atua senvolvimento trabalhem em suas estratégias
em uma estratégia para remover as restrições nacionais de redução do desmatamento.
do desmatamento no Cerrado e na Amazônia.
O resultado do trabalho realizado pelo Ad Hoc
Este processo de remoção das restrições à ex- Working Group da UNFCC, que versa sobre as
pansão da agricultura é reforçado pelos padrões Ações de Cooperação de longo prazo, faz um
globais dos mercados de commodities agrícolas. apelo aos países em desenvolvimento para que
Segundo análises da FAO e do Banco Mundial, o desenvolvam estratégias nacionais de redução
estoque mundial de alimentos caminha para um de emissões causadas pelo desmatamento e
padrão, no longo prazo, de preços mais altos de degradação florestal, e promovam esforços para
commodities alimentares, incentivado pela au- a conservação florestal e o aumento de esto-
sência de terras para a expansão agrícola nas ques de carbono. Nesse sentido, a PNMC brasi-
zonas temperadas. Contribui para isto, a deman- leira poderia claramente receber apoio para ser
da crescente por ração animal nas economias desenvolvida e implementada de forma partici-
emergentes, os preços elevados do petróleo e o pativa. O texto do grupo de trabalho ainda desta-
aumento da produção de biocombustível. Dada a ca a importância de se desenvolver e implemen-
capacidade de governança do Brasil e seu sofis- tar estratégias nacionais ou planos de ação para
ticado setor agroindustrial, com acesso a grande garantir “a participação completa e eficiente das
volume de terra arável (grande parte em flores- partes interessadas relevantes, por exemplo,
tas), o país poderá fornecer uma parcela signi- povos indígenas e comunidades locais”.
ficativa da demanda global por commodities de
alimento e biocombustível, até 2020.
OS PLANOS DOS ESTADOS DA AMAZÔNIA
PARA A REDUÇÃO DO DESMATAMENTO
O caminho de REDD+ no Brasil passa necessariamente pelos esforços dos estados da Amazônia
para reduzir taxas de desmatamento em seus territórios. Por conta da implementação do Plano
de Ação para a Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia (PPCDAm) e dos resultados
da força-tarefa iniciada pelo Fórum dos Governadores da Amazônia, os estados da região estão
implementando programas próprios , alguns com nítida abordagem de REDD+. Desde 2008, sete
dos nove estados da Amazônia iniciaram planos estaduais de redução de desmatamento: Amazo-
nas, Pará, Mato Grosso, Acre, Tocantins, Rondônia e Amapá. Os estados do Amazonas, Pará, Mato
Grosso e Acre já estabeleceram metas voluntárias próprias de redução da derrubada de florestas,
algumas das quais visando uma futura e direta conexão com o objetivo propostos pela PNMC.
Estes planos estão possibilitando a criação de uma estrutura subnacional para lidar com a opor-
tunidade oferecida pelo REDD+. Tais estruturas estão sendo coordenadas por diferentes agentes
estatais e envolvem arranjos e ações conjuntas com governos estaduais, incluindo aquele de
outros países, como Indonésia e Califórnia, como é o caso do acordo amealhado pelo Fórum Glo-
bal dos Governadores para Clima e Floresta (GCF). Tal Fórum vem trabalhando no que pode ser
identificado como a base de um regime REDD+ integrada, com potencial de funcionar como uma
plataforma para um projeto REDD+ nacional nos respectivos países participantes do GCF.
Seja no âmbito do GCF ou dos estados da Amazônia brasileira, há um crescente consenso entre os
governos de que é preciso estabelecer padrões para medir as emissões causadas por desmata-
22 mento e registrar aquelas que forem evitadas, como preparação para um regime nacional futuro
para a REDD+. Esses padrões e mecanismos de registro têm sido vistos como fundamentais para
atrair potenciais investidores para a REDD+ e evitar dupla contabilidade do carbono que deixou de
ser liberado para atmosfera. Além disto, estes padrões evitariam em parte o risco de vazamento,
contribuindo para que cenários positivos para um sistema de desenvolvimento REDD+ fossem
estabelecidos. No entanto, um desafio à eficiência dos planos estaduais tem sido a recorrente
ruptura politica causada pela troca de governadores, a cada quatro anos. Os novos eleitos ten-
dem a ignorar as politicas anteriores e criar alternativas novas, interrompendo todos os proces-
sos de consolidação do que até então foi implementado. Associado a isso, a recente redução nas
taxas de desmatamento entre 2006 e 2010 tem proporcionado a falsa sensação de que o des-
matamento está controlado. O risco é haver um relaxamento no reforço do cumprimento de polí-
ticas de controle. Em conclusão, é fundamental que os planos estaduais de REDD+ e de controle
do desmatamento sejam reforçados pelo governo federal e se posicionem como prioridades dos
governadores, se o país quiser mesmo cumprir com as metas da PNMC.
O POTENCIAL PARA IMPLEMENTAÇÃO
DE UM REGIME NACIONAL DE REDD+
5
A percentagem é ilustrativa. O governo federal e os governos estaduais
poderiam chegar a uma proporção pela aplicação de algum critério ou
consultas à sociedade.
6 C-REDD = 1 tCO2eq
7 Foi utilizado o valor mínimo de US$ 5/Ton CO2 e máximo de US$ 15).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerando todas as condições positivas que Os desafios futuros para estabelecer um regime
o Brasil possui para a implementação de um regi- REDD+ no Brasil já foram identificados. Eles pre-
me nacional de REDD+, é urgente que a socieda- cisam ser vencidos para que este instrumento se
de aumente o debate sobre a oportunidade que torne um mecanismo apto e confiável.
este mecanismo traz a construção de um lógica
econômica verde e ao desenvolvimento de bai- Esses desafios são: (1) reforçar o compromis-
xa emissão de carbono. Talvez esta seja a última so dos governadores estaduais em relação aos
oportunidade de se trazer um valor econômico à Planos Estaduais de Redução de Desmatamento
conservação florestal e adicionar tal valor àque- e os objetivos assumidos, (2) definir direitos de
les já conhecidos e conferidos a produção agríco- posse de terra e propriedade de créditos REDD+
la e de outras commodities. A existência de um (titularidade) para garantir que a REDD+ não irá
sistema para monitorar o desmatamento de for- gerar mais disputa por terras ao invés de resolver
ma eficiente, de uma legislação nacional flores- os antigos problemas, (3) estabelecer um siste-
tal (embora ameaçada) e para as mudanças cli- ma MRV nacional para todos os biomas brasilei-
máticas, somadas aos mecanismos de proteção ros, capaz de medir reduções de emissões de
dos direitos dos povos indígenas e comunidades carbono e monitorar as florestas e a degradação
locais, são os componentes principais para de- no Cerrado, Mata Atlântica, Caatinga e Pampas,,
senvolver esse regime. (4) garantindo que não haja vazamento da Ama-
zônia para esses biomas. Ainda será preciso (5)
A maioria dos estados da Amazônia já elaborou garantir que fundos para promover a REDD+ glo-
planos próprios de REDD+. O crescente consen- balmente e por certo período de tempo estejam