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Disciplinas: Oficina de texto em segurança pública I e Métodos e técnicas de pesquisa I.

Aluna: Alice Campanate Melo Schulz.

Trânsito ou mobilidade urbana? – uma análise do trabalho dos mototaxistas de


Niterói (RJ/Brasil)
(Revista Campo Minado, n. 2, Niterói, páginas 91-108, 2o sem. 2021)

Talitha Mirian do Amaral Rocha

A mobilidade urbana é um conceito muito discutido nas políticas públicas que envolvem o
planejamento das cidades. Trata-se do modo como a população urbana se locomove pelos
espaços geográficos urbanos, além de interferir diretamente no bem-estar social da população.
O tema central da pesquisa trata das (i)mobilidades que os mototaxistas da cidade de Niterói
(RJ) são submetidos durante seu trabalho, o que acarreta esses agentes serem associados a
categorias de acusação, tais como, ilegalidade, marginalidade e criminalidade. A autora Thalitha
Miriam do Amaral Rocha construiu esse artigo como tese de seu doutorado para que possamos
entender melhor esse cenário.

Thalitha acompanhou esses mototaxistas no período de um ano na localidade fixa onde


trabalham, no centro de Niterói, na Rua Quinze de Novembro (uma das principais ruas da
cidade, onde se localiza o shopping, o prédio da receita federal e a entrada da “comunidade”
Morro do Estado). O contexto empírico em questão se trata do Morro do Estado, onde não
possui acesso ao transporte público e os moto táxistas são um serviço que transporta
passageiros de um local a outro para facilitar o cotidiano dos moradores. O processo para a
regularização desses mototaxistas ocorre lentamente mesmo já havendo lei pescrita. Por serem
considerados informais, acabam sendo mal vistos e sendo vestidos de preconceitos sociais onde
costumam ser associados a ilegalidade, marginalidade e criminalidade, como conivência ao
tráfico dentro dessa comunidade.

Os mototaxistas não utilizam do termo "mobilidade urbana" para se tratar dos seus
movimentos pela cidade, e sim, a palavra "trânsito" para se referir ao deslocamento de ir e vir
no espaço público e todos os percalços e impedimentos que podem estar relacionados.
Enfatizando então, a relação que eles possuem com as motos, onde há uma facilidade em
"costurar o trânsito", quando há a presença de algum congestionamento. Agilidade e rapidez
acompanha todo mototaxista. Entretanto, isso não os isenta de receios em relação a possíveis
acidentes, que acontecem com uma certa frequência, mesmo eles possuindo “confiança,
segurança, atenção e malemolência” ao pilotar. Para evitar esses “riscos”, os mototaxistas
destacam que é preciso desenvolver um saber prático, que não é ensinado nas aulas da auto-
escola, e sim, no cotidiano. De certa forma, a visão que os demais agentes do trânsito possuem
dos mototaxistas é como se fossem causadores do “caos” no trânsito, uma maneira de colocá-
los do lado negativo da oposição.

É importante mencionar que somente o cargo de mototaxista não é muita das vezes o
suficiente para o sustento de suas famílias, o que acarreta em o mesmo indivíduo realizar vários
"bicos" para consquistar o seu "ganha pão", o que explica, de certa forma, estarem sempre com
muita pressa. É notório que a associação dos mototaxistas com a “desordem” não deriva
exclusivamente da postura que eles adotam no trânsito. Constantemente eles são associados à
impureza principalmente, por destoarem da paisagem social do seu entorno. A presença de um
ponto de mototáxi numa das principais ruas da cidade é quase um desaforo para a concepção
de “ordem” que a sociedade niteroiense procura impor. Nesse sentido, a presença de
mototaxistas circulando pela cidade representa a eminência de “perigo” e “desordem”,
inclusive, por conta desse serviço não ser regularizado.

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