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Resumo
Muito se tem questionado a respeito das práticas pedagógicas na educação infantil, onde nem
sempre o brincar tem espaço privilegiado. Nesta perspectiva, o presente estudo enseja
evidenciar o brincar como um instrumento metodológico e necessário para a construção da
aprendizagem na infância. Dentre as diversas práticas metodológicas que envolvem o lúdico
na aprendizagem infantil, o artigo pôs em destaque a s brincadeiras e a musicalidade na
aprendizagem, exatamente porque as crianças devem ser protagonistas de seu próprio
conhecimento, neste sentido, nada mais relevante que propiciar ações que partam do seu
cotidiano, constituindo assim, as brincadeiras e as músicas ações peculiar do seu dia-a-dia. O
professor que oportuniza a ludicidade para mediar o conhecimento possibilita a criança criar e
recriar seu espaço, desenvolver a autonomia e construir sua própria identidade cultural.
Também foi ressaltada no estudo que apesar da brincadeira ser uma ação própria da infância
esta prática metodológica não vem sendo trabalhada com êxito em alguns espaços escolares.
Acredita-se que é necessário introduzir este valioso instrumento, uma vez que a criança
precisa ser vista de fato como crianças, o qual é um ser em construção tanto física como
intelectual. As brincadeiras oportunizam a criança se integrar, dentro um grupo social e esta
determinará sua capacidade de construir relacionamentos, desenvolver competências e
construir sua personalidade. Neste sentido, o estudo teve o intuito de mostrar que a grande
questão do brincar não é disponibilizar grandes momentos e diversas brincadeiras para as
crianças e, sim identificar como as crianças desenvolvem seu pensamento e inteligência nos
momentos em que brinca. Com embasamento teórico foi utilizada a referência bibliográfica
de alguns clássicos do desenvolvimento infantil como Maria Montessori, Piaget e Vigostky. A
pesquisa realizada tinha cunho qualitativo e o instrumento utilizado foi o estudo de caso.
Introdução
A criança em qualquer cultura realizar o brincar. Desde tenra idade quando ainda no
berço levantam as mãos, os pés, tentam esconder objetos elas realizam atividades lúdicas,
todavia, com extensa contribuição para seu desenvolvimento e aprendizagem. No entanto,
estas primeiras ações não exprimem um objetivo real, ao não ser satisfazer desejos físicos.
Leontiev (2001, p.119) confirma este fato quando diz que “esta atividade é, portanto
caracterizada por uma ampla gama de ações que satisfazem necessidades que não se
relacionam com seu resultado objetivo.” A isto ele denominou com muita propriedade que é a
essência da “brincadeira”.
Então, a brincadeira pode ser caracterizada como uma manifestação espontânea,
entretanto, esta afirmação ocorre-se a cotejar à vida do homem a vida animal, uma vez que as
ações parecem ser ocasionadas por instinto. Porém, há uma proeminente divergência entre a
espécie humana e a espécie animal: A primeira possui a capacidade de reconstruir e projetar
os acontecimentos a partir das relações sociais, constituindo, portanto, uma espécie histórica.
Enquanto, a segunda não se projeta para o futuro, vive somente o presente, sendo então a-
histórica.
É na infância que se inicia os processos de reconstruções e formação de idéias, as
quais são manifestas das relações sociais ocasionadas pelas brincadeiras, sendo estas as
principais atividades do homem neste período existencial, e por propiciar novos conceitos
possui um meio de extensa eficácia para aprendizagem do homem.
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Piaget (1975) fez uma importante afirmação a este respeito, assim como ele classificou
em seis fases a inteligência infantil, também é afirmado pelo o autor que estas fases estão
presentes no desenvolvimento da aprendizagem infantil, as quais se manifestam através dos
jogos ou brincadeiras, que contribuem para o conhecimento infantil de forma significativa.
As fases ou estágio descritos por Piaget (1994) também são evidentes quando
comparados às questões de regras que as crianças possuem ao desenvolver os jogos. É
interessante observar que diversas regras são impostas por adultos, ou por pessoas que já
brincaram então a criança é dominada por um conjunto de regras que lhes são impostas e daí
como não goza de domínio próprio para se situar num “pé” de igualdade utiliza para si sem se
dar conta de seu isolamento, isto é, da reprodução de idéias e ações já construídas em
determinada sociedade.
Este fato é muito presente nas brincadeiras de rodas: corre cotia, pique pega e tantas
outras se visualiza que as mesmas regras dos anos anteriores ainda continuam em vigor nas
brincadeiras da nova geração infantil. Ressalta-se que não só as brincadeiras de roda, mas as
brincadeiras de diferentes culturas, uma vez a que a criança em qualquer civilização realiza o
brincar e muitas vezes imitam o contexto social que se está inserida e faz uso de regras já
constituídas.
Nesta perspectiva, Piaget (1994) enfatiza que se podem distinguir quatro estágios na
prática das regras durante os jogos, no entanto, para objeto deste estudo, serão destacados
apenas dois estágios, a saber:
• Motor individual - Acontece entre zero e dois anos de idade. Os jogos possuem
esquemas mais ou menos ritualizados, mas permanece o jogo individual, não
há regras coletivas, apenas motoras, ou seja, a criança manipula um objeto
sempre da mesma forma, sozinha e não há ainda um desejo final, como por
exemplo, vencer o jogo.
• Egocêntrico – Acontece entre dois e cinco anos de idade, neste estágio as
crianças recebem do exterior, regras codificadas, todavia, a criança joga
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um novo mundo, diversas vezes situações que gostariam de vivenciar: viagens para
determinados locais, objetos que gostariam de ter, super herói que sonham ser ou fazer ações
com o corpo, impossíveis ao ser humano como voar. É através destes sonhos despertos que as
crianças constroem conhecimentos a cerca de si próprio e como auxilio muitas vezes até
possuem o amigo invisível ou imaginário.
É neste sentido também que se visualiza o simbolismo descrito por Piaget (1994) onde
ele coloca que os símbolos são jogados mais que pensados, mas implicam uma forte
participação da imaginação. “A criança que empurra uma caixa dizendo “ram-ram” assimila,
em sua imaginação, esse movimento àquele do automóvel: o símbolo lúdico está
...constituído” p.37
Este comportamento enseja o desenvolvimento da aprendizagem humana, porque a
criança cria situações além daquelas que vivenciou, então, se percebe que o brinquedo torna-
se uma ferramenta, uma necessidade para a criança, e tem grande preeminência na idade pré-
escolar. Sobre esta reflexão também Celso Antunes (1998, pg 37) comenta: “a brincadeira
infantil está muito relacionada a estímulos internos que a contingência exterior. A criança não
é atraída por algum jogo por forças externas inerentes ao jogo e sim por uma força interna,
pela chama acesa de sua evolução”.
Na perspectiva do autor se ratifica a afirmação de que o brincar é um processo natural
no ser humano e que este não se dá apenas por mecanismos externos, mas, sobretudo, pela
própria necessidade de interagir em seu meio, sendo as brincadeiras ações naturais do
cotidiano, constitui de fato uma expressão sociocultural.
Alguns teóricos ainda no inicio do século XX, através da concepção de uma nova
pedagogia, especialmente na Escola Nova, por volta do ano 1932 redigiu importantes
reflexões sobre a ludicidade nos ambientes educacionais. Têm como destaques Montessori e
Dewey nas suas propostas pedagógicas, porque foram incluídos os jogos como recursos
satisfatórios para o desenvolvimento cognitivo infantil.
Para Maria Montessori (1987) seguindo os passos de Froebel, o pedagogo da infância,
consentia grande importância à existência dos jogos em sala de aula como forma de estimular
habilidades infantis. Para tanto era defendida a organização do espaço e dos instrumentos
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utilizados nas disciplinas escolares. Em todos os espaços era importante haver jogos voltados
para estimulação cognitiva e motora das crianças.
É neste período também que surge o jargão “aprender brincando” utilizado de forma
inadequada nos dias atuais. Porque é a partir da Escola Nova que se percebe a importância de
aprender brincando, uma vez que se tinha o desejo de construir uma nova educação, onde o
aluno fosse construtor de sua aprendizagem e, neste período a educação para os pequenos era
algo penoso, muito ruim, então conceber brincadeira nos espaços educativos era uma forma
de provocar a concepção de um novo homem, ou de forma mais profunda vislumbrar o
homem como ser ainda criança. Isto porque a idéia da existência da criança ainda era algo
muito recente, via-se a criança como uma miniatura de um adulto.
Piaget também foi um notável estudioso do desenvolvimento infantil, reconheceu a
importância dos jogos na aprendizagem infantil e sobre esta questão escreveu:
No início da idade pré-escolar, quando surgem os desejos que não podem ser...
satisfeito ou esquecidos... o comportamento da criança muda . Para resolver essa
tensão, a criança em idade pré-escolar envolve-se num mundo ilusório e imaginário
onde os desejos não realizáveis podem ser realizados, e esse mundo é o que
chamamos de brinquedo (Vygotsky, 1998, p.122)
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Neste sentido, a relação social da criança com outra criança, ou com um adulto e até
mesmo com o brinquedo evidencia a forte relação na zona de desenvolvimento proximal,
porque ao brincar a criança reproduz um conhecimento (re)construído a partir da relação com
o meio. Logo se percebe que a brincadeira pode ser um mediador do seu processo de
desenvolvimento e aprendizagem. Por conseguinte, vale mencionar que tanto as brincadeiras
livres como as dirigidas têm a sua importância, elas são favoráveis para o desenvolvimento da
aprendizagem.
Sobre esta questão também Maria Montessori (1987 p. 314) pontuou “O adulto e a
criança devem se unir; o adulto deve se fazer humilde e aprender a ser grande com criança”. É
uma colocação perfeita e até mesmo contraditória, uma vez que é estranho aprender com uma
alguém ainda em fase de formação. Mas por outro lado quando se pensa na questão do ser
humano, este está em constante aprendizado e as crianças de forma simples, mas com teor de
seriedade conseguem conduzir novas aprendizagens.
Esta modalidade da arte se dá através de vários mecanismos tais como a voz, a fricção
de partes do corpo além do uso de distintos objetos denominados instrumentos. Neste sentido,
seria notório definir a música como uma modalidade de arte e tipo linguagem, cuja expressão,
emite sons agradáveis a audição.
Segundo Rosa (1990) a música tem como o berço a Grécia e para esta cultura ela era
fundamental na formação do cidadão sendo exigida como disciplina escolar. Desta forma, se
percebe que a origem desta modalidade da arte é na Grécia, berço também de vários outros
tipos de arte, entretanto, a música foi contemplada com maior ênfase porque os gregos
acreditavam que ela contribuía para a formação completa do ser humano.
Isto é bastante preeminente uma vez que o ser humano não é uma máquina, mas um
ser dotado de sentimentos, os quais não devem aprender de forma sistemática determinada
atividade ou conteúdo, principalmente quando se trata da criança que adquirem conhecimento
com maior significado por meio do lúdico. É a partir destas reflexões que se entende a
educação musical como fator fundamental na formação do ser humano, a qual se inicia ainda
na infância. A criança possui profunda relação com o som, ainda bebê é possível verificar a
sua tentativa de emitir sons conhecidos ou produzir novos sons, seja no momento da iniciação
da fala ou apenas para brincar ao descobrir o som do corpo, da voz ou dos objetos próximos.
Quanto à educação musical, Platão nos diz que a música possui dois aspectos: um
intelectual e outro mais emocional. O aspecto intelectual diz respeito ao aprendizado
da leitura... ao aprender a ler o mundo das formas e sons que nos rodeiam... aspecto
afetivo ajuda o homem a descobrir o formoso de cada coisa que se vê ouve.
(TEIXEIRA, 1999, p.84)
Graças a pratica vocal e coral, à memorização das canções, aos diversos exercícios
rítmicos ou melódicos, etc., a criança desenvolve inconscientemente a sua
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observação deu-se em 3 horas, com maior atenção no momento das brincadeiras, uma vez o
que maior interesse deste estudo é verificar a brincadeira como berço da aprendizagem na
educação infantil. As crianças observadas eram do 2° período, tinham entre 4 e 5 anos de
idades. Nas duas escolas as crianças nas salas de aulas se acomodavam em pequenos grupos
com 4 alunos.
Na escola “A” as salas eram pequenas e não detinha um local para próprio para jogos.
Segundo a professora os momentos lúdicos eram realizados com maior ênfase na
brinquedoteca ou no parque infantil. Durante as atividades a professora não demonstrou
ludicidade na condução das atividades, como por exemplo, cantar, ou dinamizar na introdução
dos conteúdos, cujo tema do dia era colorir desenhos para a páscoa. Entretanto, no momento
em que a professora apresentou o desenho que era um coelho uma das alunas começou a
cantar uma canção da páscoa. A professora sorriu, mas não deu continuidade a canção.
Neste sentido percebe-se que a música contribui para assimilação de significados,
exatamente o que Teixeira (1999) afirma ao mencionar as idéias de Platão, de que a música
possui dois aspectos: intelectual e emocional. A criança constrói o conhecimento ao mesmo
tempo em que sente prazer em cantar. Neste sentido pode o professor fazer uso deste valioso
instrumento para favorecer o entendimento das atividades escolar.
No decorrer das atividades percebeu-se que as crianças realizavam os trabalhos com
alegria e o ato de pintar era uma diversão, elas trocavam cores de giz de cera e mostravam
uma para os outros o seu trabalho. Deste modo se evidência a essência lúdica da criança em
construir conhecimento, sendo principalmente nesta ação que elas desejam imprimir sua
marca, sua personalidade, uma vez que, conforme é apontado nos estudos de Galvão (1995)
sobre Wallon, as crianças entre 4 e 5 anos buscam inconscientemente construir sua
personalidade.
As crianças iam parque todos os dias, então esta ação já era parte da rotina escolar,
entretanto, a professora não fazia qualquer atividade lúdica para conduzi-las a este local, no
entanto, as crianças a seu modo transformavam este momento em brincadeiras: na fila fingiam
ser trem, andavam por cima de linha, como se estivessem se equilibrando em um alto fio e
outros. Já a professora via estas ações como desorganização e pedia insistentemente que todos
se organizassem sob pena de não ir mais ao parque, as crianças com receio mantinham-se na
fila com sorrisos acanhados umas para as outras.
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Considerações finais
O presente artigo buscou respostas para a indagação “as brincadeiras constituem berço
para as atividades intelectuais?” e através das consultas bibliografias e o estudo de caso
apresentado percebeu-se que o brincar está na essência das crianças e fazer uso deste é um
necessidade tanto para o professor conduzir os conteúdos como para a criança fazer bom
entendimento do que lhe é ensinado.
Entretanto é pertinente que a brincadeira não faça parte do currículo escolar somente
para “aliviar” o conteúdo, isto é ser pedagogizados ou ainda para ocupar horários vagos, mas,
sobretudo, o professor precisa ter consciência do seu valor significativo para a criança
absolver o aprendizado com eficácia e assim ser feliz, uma vez que o brincar é algo muito
serio da criança, faz parte da sua natureza.
Deste modo, percebeu-se que a idéia não é tornar o jogo como mais uma disciplina,
mas valorizar o jogo como um instrumento que pode provocar diferentes aprendizagens
infantis, como a autonomia, o trabalho em grupo, o sentimento de perda, o desenvolvimento
cognitivo, motor dentre outros conhecimentos advindos da brincadeira e pode estar presente
em qualquer ambiente escolar, uma vez que em uma das escolas pesquisadas as brincadeiras
ficaram reduzida ao parque infantil ou a brinquedoteca.
Através das observações também se percebeu que a música possui forte contribuição
para a assimilação e concentração da criança. No estudo de caso isto ficou bastante evidente,
uma vez que as crianças compreendiam as diferentes atividades como sentar na rodinha, ouvir
histórias, ir ao banheiro, fazer fila e até chegar ao parque infantil, tudo era muito prazeroso
quando a professora utiliza a brincadeira musical como instrumento pedagógico.
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Neste prisma, é a partir das brincadeiras que as crianças passam a conhecer seus
próprios sentimentos e dos outros; elas oportunizam a fomentar sua personalidade, neste
sentido é de fato o berço para construção do conhecimento.
Portanto, utilizar o brincar como um rico instrumento metodológico para a
aprendizagem infantil é proporcionar à criança vivenciar experiências e interpretar por si
mesmo as relações socioculturais; é favorecer a aprendizagem significativa, o qual enseja o
desenvolvimento da autonomia, da criatividade, do trabalhão em grupo e auto realização;
qualidades estas que precisam ser vislumbradas desde o “berço” do intelecto infantil.
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