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FACULDADE DE EDUCAÇÃO

DEPARTAMENTO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES E


ESTUDOS CURRICULARES
Curso de Licenciatura em Língua de sinais de Moçambique

Disciplina: Metodologia de Investigação

Projecto de Pesquisa

Causas da Desistência da Rapariga nas Escolas do Ensino Básico, Caso da Escola


Primária Completa de Laulane (2018-2021)

Estudante: Artur Marrengula Docente: Carla Zavale


Maputo, Dezembro de 2022

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

DEPARTAMENTO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES E ESTUDOS


CURRICULARES

Causas da Desistência da Rapariga nas Escolas do Ensino Básico, Caso da Escola


Primária Completa de Laulane (2018-2021)

Estudante: Artur Marrengula


Maputo, Dezeembro de 2022

Índice

1.1. Delimitação do tema e contexto do estudo...........................................................................5

1.3. Justificativa...............................................................................................................................7

1.4. Objectivos.................................................................................................................................8

1.4.1. Objectivo Geral......................................................................................................................8

1.4.2. Objectivos Específicos...........................................................................................................8

1.5. Hipóteses...................................................................................................................................8

CAPITULO II: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.........................................................................9

2.1. Educação...................................................................................................................................9

2.2. Desistência escolar....................................................................................................................9

2.3. Teoria das necessidades de Maslow.......................................................................................10

2.4.1. Causas Socioculturais..........................................................................................................12

2.5.2. Causas internas à escola.......................................................................................................14

CAPÍTULO III: METODOLOGIA...............................................................................................16

3.1. Quanto a natureza...................................................................................................................16

3.2. Quanto a abordagem do problema..........................................................................................16

3.3. Quanto aos objectivos.............................................................................................................17

3.4. Quanto aos procedimentos......................................................................................................17


3.5. Técnicas e procedimentos de colecta de dados.......................................................................17

3.7. População e amostra...............................................................................................................18

3.8. Cronograma das actividades...............................................................................................18

3.9. Orçamento...........................................................................................................................18

3.10. Resultados esperados......................................................................................................19

Referências bibliográficas.............................................................................................................21
CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO

As causas da desistência da rapariga é uma realidade no país e constituem uma grande


preocupação para as estruturas educacionais, pais e encarregados de educação.

As desistências das raparigas têm comprometido o processo de ensino e aprendizagem e o


rendimento escolar dos alunos, fenómeno este encontrado dentro das escolas moçambicanas.
A UNESCO, refere que 67 milhões de crianças estavam fora da escola em 2008, e das quais
mais de um terço viviam em países de renda baixa como é o caso de Moçambique.
(UNESCO, 2011:40)

A Constituição da República de Moçambique, no artigo 122, afirma que “o Estado promove,


apoia e valoriza o desenvolvimento da mulher e incentiva o seu papel na sociedade, em
todas as esferas da actividade política, económica, social e cultural”. A educação está
inclusa, pois estamos de acordo que uma população educada é fundamental para o
desenvolvimento nacional, e que a educação é um factor chave na promoção do bem-estar
social e na redução da pobreza.

O Plano de Acção e Redução da Pobreza Absoluta PARPA (2000-2004), por sua vez prevê
uma atenção especial a rapariga em assegurar o acesso a escola e a manutenção desta dentro
do sistema educacional através da sensibilização dos pais e encarregados de educação e a
comunidade educativa sobre os benefícios da escola.

O presente trabalho tem como tema: Causas da Desistência da Rapariga nas Escolas do
Ensino Básico, Caso da Escola Primária Completa de Laulane, 2018-2021. Para a
realização deste trabalho e para compreender o fenómeno da desistência naquela instituição
optou-se pelo estudo do tipo exploratório, com base numa abordagem do tipo qualitativa por
considerarmos mais apropriada para alcançar os objectivos pretendidos.

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1.1. Delimitação do tema e contexto do estudo

O estudo sobre as Causas da Desistência da Rapariga nas Escolas do Ensino Básico será
realizado na Escola Primária Completa de Laulane, no distrito Municipal Kamavota, cidade
de Maputo, no período compreendido entre 2018 a 2021. A escolha desta escola deve-se
pela natureza do curso que o autor deste estudo frequenta.

1.2. Problema da pesquisa

A educação constitui um instrumento para garantir a sobrevivência da sociedade no geral, e


em particular dos seres que nela fazem parte como membros. É por meio da educação que os
jovens adquirem conhecimentos, habilidades, valores e as práticas de vida próprias da
sociedade. É nesta perspectiva que o governo de Moçambique consciente da missão da
educação: a emancipação do homem, a sua libertação que levará à construção de uma nova
ordem social promove o ensino primário gratuito para garantir a igualdade de acesso e
permanência na escola a todas as crianças: rapazes e raparigas.

Segundo o Relatório de avaliação do Plano Estratégico de Educação e Cultura (2006-


2010/11), o nível de acesso no EP1 é muito alto, mas as taxas de conclusão e reprovação não
apresentam o mesmo grau de sucesso. A proporção dos alunos que concluem o ciclo
completo do ensino primário (1ª a 7ª classes) permanecem baixas, dos 100 alunos que
ingressaram na 1ª classe, apenas 37 sobrevivem até a 5ª classe, na 7ª classe apenas 15 alunos
permanecem no sistema. Dadas as altas taxas de reprovação e desistência à medida que os
alunos progridem no sistema escolar a alta taxa de acesso da 1ª classe torna-se muito menos
significante. As fracas taxas de sobrevivência ao longo das classes subsequentes no EP1 é
baixa. E a situação é ainda alarmante no EP2 com maior índice de desistência das raparigas.
Esta situação também caracteriza o ambiente escolar na EPC de Laulane pois o número de
alunos matriculados em cada ano é maior entretanto, nem todos alunos chegam a concluir o
ano lectivo escolar e os que chegam na sua maioria são rapazes.

Na escola onde o estudo será realizado verificou-se que ano de 2018, cerca de 5.7% das
raparigas matriculadas abandonaram a escola, sendo a 2ª e 7ª classe com maior taxas de
desistência na EPC- Laulane, tal como mostra os quadro a seguir:
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Quadro 1: Taxa de desistência de alunos na EPC de Laulane, ano de 2019

Ano 2019 Alunos no Alunos Desistência % de Alunos no


início do ano Transferidos Desistência fim do ano

Classe M HM M HM M HM M HM M HM

1ª e 2ª 440 898 25 55 17 38 8,2% 6,9% 411 835

3ª, 4ª e 5ª 668 1324 25 60 26 32 5,5% 6,0% 629 1242

6ª e 7ª 434 880 11 11 14 26 5,4% 9,7% 427 881

Total 1542 3102 61 126 57 96 5,7% 6,7% 1467 2958

Fonte: Aproveitamento pedagógico final da EPC- Laulane 2019

Quadro 2: Taxa de desistência de alunos na EPC de Laulane, ano de 2018

Ano 2018 Alunos no Alunos Desistência % de Alunos no


início do ano Transferidos Desistência fim do ano

Classe M HM M HM M HM M HM M HM

1ª e 2ª 390 718 17 46 13 31 3,2% 4,9% 377 687

3ª, 4ª e 5ª 588 1024 23 57 23 30 3,9% 5,3% 565 994

6ª e 7ª 427 810 8 7 11 21 2,6% 4,9% 416 789

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Total 1405 2552 48 110 47 82 3,4% 3,7% 1467 2958

Fonte: Aproveitamento pedagógico final da EPC- Laulane 2018

Os dados acima referenciados mostram que a aposta pela erradicação do analfabetismo


mediante o acesso gratuito à educação básica na EPC de Laulane é uma realidade pois o
número de alunos que entram na escola cresceu de 2018 a 2019 não obstante não ter-se
registado o mesmo no tocante ao número de alunos que chegaram ao final do ano, a situação
manteve-se estacionária. Diante do exposto colocou-se a seguinte questão da qual a pesquisa
se orientou: Quais são as Causas da Desistência da Rapariga na Escola Primária Completa
de Laulane?

1.3. Justificativa

A oferta de uma educação de qualidade para todos constitui estratégia para o


desenvolvimento do país e por conseguinte a redução da pobreza. A retenção dos alunos no
Sistema de Educação até a conclusão do ensino primário obrigatório e a progressão para o
nível seguinte é o principal desafio para as autoridades de educação em Moçambique.

É nesta perspectiva que o autor escolheu estudar a problemática de desistência de alunas na


EPC de Laulane dada a necessidade de promoção da igualdade e equidade de oportunidade
no acesso a educação.

Espera-se com este estudo contribuir no contexto social, para alertar os pais e encarregados
de educação e sociedade no geral sobre as verdadeiras causas da desistência escolar da
rapariga no ensino primário.

A importância da escolarização da mulher justifica-se pelo facto dela ser uma das bases para
o desenvolvimento e crescimento da família. Para tal facto, é imperioso que tenha um certo
grau de escolaridade para que não ponha em risco a saúde e a vida dos seus filhos e outros
parentes. Em casos de doenças para interpretar as indicações médicas, a gestão do lar, a
educação dos filhos mediante a transmissão de conhecimentos claros e coesos acerca da vida

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passa necessariamente pela sua escolarização. O nível de instrução da mãe quase sempre
reflecte-se nos filhos e finalmente com o crescimento e desenvolvimento do país pois os
filhos são o garante da continuidade de uma sociedade.

1.4. Objectivos

Os objectivos indicam o que se pretende conhecer, medir ou provar no processo da pesquisa,


ou seja, as metas que se desejam alcançar, (Ivala, 2007, p. 119). Neste estudo, os objectivos
foram desenhados em dois grupos: geral e específico.

1.4.1. Objectivo Geral

 Analisar as Causas da Desistência da Rapariga na Escola Primária Completa de


Laulane.

1.4.2. Objectivos Específicos

 Identificar as causas da desistência da rapariga na EPC de Laulane;


 Descrever as causas da desistência da rapariga na EPC de Laulane;
 Sugerir estratégias de redução do índice de desistência escolar da rapariga na Escola
Primária Completa de Laulane.

1.5. Hipóteses

Segundo Gil (2004, p. 31), “hipótese é uma preposição estável que pode vir a ser a solução
do problema, para que a hipótese seja aceitável, teve ser clara específica, parcimoniosa, ter
referências empíricas, relacionada a uma teoria e com as técnicas disponíveis”. Para o
presente estudo foram traçadas as seguintes hipóteses:
 Fraco conhecimento das comunidades sobre a importância da escola leva a
desistência da rapariga na EPC de Laulane.

 A distância escola-casa do aluno contribui para a desistência da rapariga na EPC de


Laulane.

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CAPITULO II: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Nesta parte do estudo é reservado às ideias de autores que falam sobre a temática em
análise. No início são apresentados os conceitos educação, desistência escolar. Na mesma
parte faz-se, também, a descrição das causas da desistência escolar tendo em foco os
factores condicionantes.

2.1. Educação

Cotrim e Parisi (1985:21), “consideram educação como um processo de adquirir


experiências que actuam sobre a mente e o seu físico. Essas experiências influenciam no
comportamento do individuo em termos de ideias ou acções, enquanto outros poderão ser
rejeitados e não assimilados.”
Nesta perspectiva visa a educação visa essencialmente integrar a pessoa no meio social onde
ela vive, convive, trabalha e se diverte; por meio da educação a pessoa socializa-se, adquire
conhecimentos que poderão ser úteis no presente e no futuro.
Assim a educação da rapariga torna-se necessária na medida em que possibilita a sua
inserção nas actividades e tomada de decisão na sociedade a que estiver inserida
contribuindo deste modo para o desenvolvimento da mesma.

2.2. Desistência escolar

Etimologicamente, a palavra desistência vem do latim, o que significa “malogro, mau êxito,
falta de sucesso que se desejava” ou ainda desastre, fracasso. O termo desistência ou
fracasso é habitualmente referenciado por analogia ao termo abandono que advêm do latim,
o qual assume, entre outros, os seguintes significados “ o mau êxito, perda, malogro”.
Portanto, no decorrer do trabalho termos como desistência, abandono ou fracassos são
considerados similares.
Benavente (1976), a partir de diversos estudos, reuniu para esta designação vários termos
nomeadamente, abandono, desperdício, desadaptação, desinteresse, desmotivação fracasso.
Face a esta terminologia pode-se afirmar que o termo desistência escolar refere-se ao
abandono da escola pelos alunos sem atingirem a meta desejada, pois a desistência leva as
reprovações, repetências e mau rendimento escolar, originando o insucesso escolar.
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O mesmo autor refere que a questão de desistência escolar pressupõe a coexistência de
inúmeros factores que incluem as políticas educativas, as questões de aprendizagem, aos
conteúdos e mesmo a relação pedagógica que se estabelece. Contudo dá ênfase aos
problemas que os alunos não conseguem resolver, nomeadamente:
 Entre a escola e a realidade em que vivem;

 Entre as aprendizagens exigidas pela escola e as da família e do meio social;

 Entre as aspirações, normas e valores da família e as exigências da escola.

Marchesi e Perez (2004) defendem que o termo de desistência escolar é ainda mais
discutível por enquanto encerra algumas ideias: em primeiro lugar, a ideia de que o aluno
“fracassado” não progrediu praticamente nada em âmbito dos seus conhecimentos escolares,
nem a nível pessoal e social, o que não corresponde em absoluto a realidade. Em segundo
lugar, porque o termo “fracasso” oferece uma imagem negativa do aluno ao mesmo tempo
que centra neste, toda a responsabilidade do insucesso escolar, esquecendo a
responsabilidade de outros agentes e instituições como condições sociais, a família, o
sistema educativo ou a própria escola”. Depois de discutido a terminologia da desistência
escolar, os autores acima encaram o presente termo de forma unânime ao considera-lo como
sendo um acto de deixar ou abandonar os estudos ou a escola antes do término do
período/ciclo, sem atingir os objectivos pretendidos.

2.3. Teoria das necessidades de Maslow

A teoria das necessidades foi apresentada por Abraham Maslow na metade do século XX,
como resultado dos seus estudos sobre o comportamento humano explica o que motiva os
indivíduos a partir das necessidades humanas em um dado contexto, que obedecem uma
hierarquia, onde para a satisfação do topo o individuo precisa satisfazer primeiro as
necessidades básicas, (Texeira, 2005):
Necessidades fisiológicas: referem-se a alimentação, abrigo, repouso, ar, etc.
Necessidades de segurança: dizem respeito a protecção contra perigo ou privação, ou seja,
contra violência, a doença, a guerra, a pobreza, etc.

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Necessidades sociais: tem a ver com a afeição, a inclusão nos grupos, a aceitação e
aprovação pelos outros;
Necessidade de estima: englobam a reputação, o reconhecimento, auto-respeito, admiração;
Necessidades de auto realização: referem-se á realização do potencial de cada indivíduo, a
utilização plena dos seus talentos.

Esta teoria contribui para o processo de ensino e aprendizagem a medida que explica a
importância do ciclo motivacional, pois quando este não existe no ambiente escolar, causa
desde comportamento ilógico até passividade e não colaboração por parte do aluno. A teoria
de Maslow por enfatizar que o aluno tem a capacidade de aprender tendo como base as suas
necessidades pois vê no aluno potencialidades que o levam a aprender sem no entanto estar
sujeito a conteúdos e condições de aprendizagem que não resolvem seus problemas e os da
sua comunidade. Neste sentido, o fenómeno de desistência pode ter explicação pois a
rapariga não encontra motivação para aprender optando por abandonar a escola.

O aluno precisa de ter as necessidades fisiológicas satisfeitas plenamente para que consiga
entender as aulas, a necessidade de estima é relevante pois o sucesso e o insucesso do aluno
depende muito de como ele se sente na sala de aula e na escola. Através das necessidades
sociais, o aluno sente-se integrado num certo grupo oque motiva ainda mais a sua vontade
de ir a escola.

2.4. Causas da desistência escolar


Neves (2012, p. 12), na sua dissertação, resume o ponto de início das causas de desistência
escolar, onde recorre ao indivíduo, família, escola e meio envolvente, defendendo que as
causas da desistência escolar tem origem nas interacções desses quatro sistemas, e que esta
correlação pode ditar o abandono escolar, primeiro pelos aspectos sócio culturais exigidas
pela escola e ainda pelo perfil do aluno que esta escola necessita. Assim, o aluno que não se
adequar ao padrão, terá incidência de afastar desse meio escolar. Partindo da visão deste
autor, fez-se a correlação entre o ambiente externo considerando os aspectos socioculturais,
para aferir-se as causas e o ambiente interno a escola.

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2.4.1. Causas Socioculturais

Rumberguer e Lima (2008:93) discutindo sobre a desistência escolar na análise de 203


estudos, constataram o seguinte:
 Que o processo para abandono começa-se a fazer sentir com o rendimento baixo por
parte dos alunos;
 Comportamentos dos alunos no ambiente interno e externo da escola, que incide-se
mais com actos de faltas, actos delinquentes e abuso de substâncias ilegais.
Os autores referem ainda que os dois aspectos, acima citados, tendem a diminuir quando o
ambiente familiar é estável e acesso a recursos sociais e financeiros influenciam de forma
significativa para o aluno permanecer no sistema escolar.
Brandão (1983), na sua pesquisa sobre a desistência e a repetência no ensino do 1º grau do
Brasil aponta a família como sendo determinante do fracasso escolar da criança, seja, por
não acompanhar as actividades escolares da criança ou pelas condições de vida que a família
oferece a criança. Destacam ainda que o factor importante para compreender os
determinantes do rendimento escolar é a família do aluno, sendo que quanto mais elevado o
nível de escolaridade da mãe, a criança permanecerá mais tempo na escola e o seu
rendimento será maior.
As atitudes e crenças dos pais influenciam a construção da personalidade e crenças dos
filhos, assim sendo o valor atribuído pelos pais a escola e as aprendizagens vai influenciar a
representação que os alunos fazem das mesmas.
Enquanto isso, Avanzini (1967) complementa apresentando o nível cultural do agregado
como sendo a causa que indiscutivelmente mais influencia o sucesso escolar. Uma família
rica culturalmente fornece a criança, uma diversidade de estímulos que lhe permite viver na
escola uma continuidade do ambiente familiar ao invés de vivenciar um passo entre ambos.
Outras características familiares são fluentes no contexto do abandono escolar, como o
tamanho e tipo de família, existência de outra evasão no seio da família, educação da família
e o nível socioeconómico dos pais. Os pais mais permissivos com pouca ambição
educacional também são factores importantes para o abandono.
Muitas das vezes as famílias não têm consciência que o seu comportamento e atitudes
prejudicam o sucesso do filho na escola, todavia não é fácil para nenhum professor, ou
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membro da escola informar isso abertamente, pois esta atitude provocaria reacções
agressivas, de tristeza ou magoas que de um jeito recairiam sobre a criança (Avanzini 1967).
Queiroz (2002) aponta para os factores sociais com grande impacto na vida dos alunos, o
desemprego dos pais, necessidades de trabalhar para ajudar com as despesas da família, ma
companhias, problemas familiares e desinteresse pelo estudo. Queiroz por meio de um
estudo qualitativo apontou para os factores sociais como tendo alto impacto na rotina dos
alunos, como:
 Desemprego dos pais;
 Necessidade em trabalhar para ajudar nas despesas familiares;
 Problemas familiares;
 Desinteresse pelos estudos.

Por sua vez, Jimerson et all (2000), apontam que a qualidade do meio familiar e atenção ou
cuidados nas fases iniciais (12-24 meses de vida) diminuem a probabilidade de evasão. Com
isso o actor afirma que devemos considerar a desistência como um processo de
desenvolvimento, em que eventos ocorridos no passado têm efeitos significativos na decisão
de evasão presente.
Os problemas financeiros das famílias ainda são um factor preponderante para as saídas dos
jovens do período diurno da escola.
Os alunos dos turnos nocturnos também das camadas trabalhadoras chegam as escolas
exaustos da maratona diária de trabalho e desmotivado pela baixa qualidade de ensino
acabam desistindo.

Dupont e Ossandom (1987:121), identificaram o perfil de um potencial desistente,


apontando para o seguinte:

 Tem um fraco rendimento escolar;


 Vive mal a relação educativa;
 Sente ausência de empatia;
 Não se sente bem na sua pele de aluno;
 Não tem confiança em si mesmo, veicula consigo perspectivas de fracasso.

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Algumas crianças não manifestam qualquer curiosidade, as tarefas escolares não lhes
interessam, não possuem uma disciplina favorita e muitas vezes são desprovidas de
expectativas futuras.
Santos (2009:11), defende “que a desistência escolar nem sempre está ligada a falta de
vontade, motivação ou preguiça dos alunos. Além dos factores escolares, sócio económicos
e culturais o autor aponta algumas disfunções cognitivas, sensor ou motora, como
contribuintes para que o aluno não alcance os objectivos esperados”.
Por sua vez, Montegner (1996), afirma que não é possível culpar sistematicamente a criança
e os seus possíveis défices cognitivos pela dificuldade de aprendizagem, acrescentado que o
obstáculo em aprender pode ser resultado de construção cognitivas inacabadas ou mal
consolidadas, desde o nascimento, ou mesmo antes deste, e de acordo com Guerreiro (1998),
leva a deteorização progressiva das atitudes com o avanço da idade.
Aprender supõe esforço, e afirma que aprendizagem tem como base a actividade mental do
aprendiz, deve ser o mais consciente possível e inclusive deve ser feito um esforço para
relacionar a nova informação com a já existente atribuindo-lhes um significado valido. Para
o autor, o dinamismo do processo, com avanços e recuos constantes provoca no sujeito uma
reestruturação cognitiva que leva a criação de modelos mentais ou remodelações dos
existentes.

2.5.2. Causas internas à escola

Fukui (1983) e Cunha (1997), afirmam que a responsabilidade da desistência recai sobre a
criança e seu fracasso, mas que de facto a responsabilidade é da escola. Fukui (1983),
acrescenta ainda que os fenómenos desistência e repetência estão longe de serem fruto de
características individuais dos alunos e suas famílias, mas reflictamos como a escola recebe
e exerce acção sobre os membros destes diferentes segmentos da sociedade.
Vários estudos defendem que a escola “fabrica” o fracasso escolar de muitas das suas
crianças e jovens, afirmando assim que a perda de valores atribuída a assistência e
permanência num estabelecimento de ensino, também está relacionado com o que acontece
dentro dela. Não somente as crianças e jovens que pelo seu desenvolvimento pessoal

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perdem o interesse pela escola mas também de alguma forma são expulsos dela, (Rumberger
1961).

Na mesma perspectiva Benavante et all (1994), afirmam que apesar da existência das causas
múltiplas, não devemos desviar atenção daquela que frequentemente é apontada como sendo
uma das principais razões: os alunos que abandonaram a escola foram por ela
antecipadamente abandonados.

Benavante e Correia (1980), citados por Sil (2004:38), acrescentam ainda que uma das
explicações para a problemática das desistências escolares é a própria escola, e os
mecanismos que operam nela, o seu funcionamento e organização, onde a necessidade de
diversidade e diferenciação pedagógica é sublinhada pela teoria sócio institucional que
evidencia o carácter da escola na produção da desistência escolar do aluno.

Segundo Vaz (1994), a escola produz a violência em seu quotidiano; uma violência subtil e
invisível, ou violência simbólica, que se esconde também sob o nome de abandono, pode ser
inconscientemente promovida pelos próprios educadores, através de regulamentos
opressivos, currículos e sistemas de avaliação inadequados a realidade onde esta inserida a
escola, medidas e posturas que estigmatizam e descriminam e afastam os alunos.

Lopez e Menezes (2002), afirmam que as reprovações sucessivas têm peso significativo na
decisão de continuar ou não os estudos, pois geralmente a repetência é seguida pelo
abandono escolar.
Segundo Costa e Menezes (1995), sejam quais forem as razões, a repetência e a reprovação
constituem o primeiro passo em direcção a evasão escolar.

Numa análise do sistema educacional americano Bridgeland et al (2006), alertam para as


elevadas taxas de abandono escolar nos Estados Unidos, e os motivos para isso através de
uma pesquisa com os próprios estudantes, e obtiveram as seguintes respostas:

 O facto de terem reprovado em mais de uma classe.


 A falta de preparo anterior para compreender o material apresentado em cada ano.

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CAPÍTULO III: METODOLOGIA

A metodologia deve ajudar a explicar não apenas os produtos da investigação científica, mas
principalmente seu próprio processo, pois suas exigências não são de submissão estrita a
procedimentos rígidos, mas antes da fecundidade na produção dos resultados (Bruyne, 1991,
p. 29). Assim, neste ponto do trabalho são descritas as tipologias da pesquisa, os
instrumentos usados no processo de recolha de dados, o universo e amostra da pesquisa e as
técnicas de análise de dados obtidos no trabalho de campo.

3.1. Quanto a natureza

Segundo Gil (1994), descreve dois momentos de natureza da pesquisa, a básica e aplicada.
Pesquisa básica: objectiva gerar conhecimentos novos, úteis para o avanço da ciência sem
aplicação prática prevista, envolve verdades e interesses universais.

Pesquisa aplicada: objectiva gerar conhecimentos para aplicação prática, dirigidos solução
de problemas específicos, envolve verdades e interesses locais.

A presente pesquisa enquadra-se na pesquisa básica, por pretendermos gerar novos


conhecimentos científicos, mas a sua aplicação de ponto de vista prático, será de longo
prazo.

3.2. Quanto a abordagem do problema

Marconi e Lakatos (2010:32), considerando o rumo que o problema toma, referem que
podemos discutir a abordagem do problema de pesquisa, tendo em conta a visão qualitativa
e quantitativa.
Para o caso deste trabalho, o estudo orientar-se-á na perspectiva qualitativa pois procurara
analisar dados relacionados às causas da desistência da rapariga em contexto escolar, no
caso da EPC de Laulane, sem ter o enfoque de traze-los sob forma numérica mas sim
traduzi-los em inferências.

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3.3. Quanto aos objectivos

Quanto aos objectivos, esta pesquisa é descritiva, tal como afirma Gil (1999), a pesquisa
descritiva busca uma visão ampla de informações para que de outro aspecto do problema
possam ser alcançados mediante outros procedimentos. Com este tipo de pesquisa será
possível descrever as causas que levam as alunas a deixar de ir a escola sem no entanto
terminar pelo menos o ensino básico.

3.4. Quanto aos procedimentos

A pesquisa em destaque é estudo de campo. Em conformidade com Marconi & Lakatos


(1990, p. 83), a pesquisa de campo é aquela utilizada com o objectivo de conseguir
informações e/ou conhecimentos acerca de um problema para o qual se procura uma
resposta, ou de uma hipótese que se queira comprovar, ou, ainda, descobrir fenómenos ou as
relações entre eles.

3.5. Técnicas e procedimentos de colecta de dados

Para a efectivação da pesquisa será usada a técnica de entrevista. Ruiz (2002), refere que a
entrevista “consiste num diálogo com objectivo de colher de determinada fonte, de
determinada pessoa ou informante dados relevantes para a pesquisa em andamento”.

3.6. Técnica de análise de dados

Para análise dos dados será utilizada a técnica de a análise de conteúdo. Esta técnica refere
Bardin (2010) é como um conjunto de técnicas de análise das comunicações, que utiliza
procedimentos sistemáticos e objectivos de descrição do conteúdo das mensagens. Neste
contexto será feita a descrição das entrevistas e agrupadas em categorias de acordo com a
aproximação das respostas dadas respeitando-se a originalidade e finalmente fez-se a
inferência e as respectivas conclusões.

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3.7. População e amostra

População como se refere Markoni e Lakatos (2010:54) “são seres, que se podem apresentar
como seres animados ou inanimados, que apresentam pelo menos uma característica em
comum”.
Como população para o presente estudo, farão parte os alunos, professores, membros da
direcção e pais ou encarregados de educação da Escola Primária completa de Laulane.
Como modalidade de selecção da amostra, usar-se-á a de conveniência. Gil (1994:82)
defende que este tipo de amostra consiste em seleccionar elementos que satisfazem aquilo
que é as condições de estudo, nesse caso para o nosso estudo apenas seleccionamos
professores, pais ou encarregados de educação e alunos que fazem parte da Escola Primária
Completa de Laulane.

3.8. Cronograma das actividades

Quadro 3: Cronograma das actividades

Nr. Actividades Meses/2023

J F M A M J J A S O N D

01 Elaboração do Projecto

02 Levantamento de dados

03 Análise de dados

04 Compilação do trabalho final

3.9. Orçamento

Quadro 4: Orçamento necessário


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Quantidade Valor Valor total
Especificação / Artigos
(unts) unitário (mts) (mts)

Recarga de Telemóvel 3 100 300

Resma 1 250 250

Cópias 100 1.5 150

Encadernação (3 exemplares) 3 75 225

Envelopes A4 3 25 75

Deslocação para o local de estudo (ida e 45 Dias 50 2250


volta)

Total 9550

3.10. Resultados esperados

Com o desenvolvimento deste presente projecto de pesquisa, arrolados todos os pontos


consignados aqui, espera-se que o mesmo venha a resolver na generalidade o problema de
desistência da rapariga no ensino básico, despoletado na EPC de Laulane, assim como em
todas as escolas ao nível nacional.

Consumido este artigo, espera-se ainda que o Governo, por intermédio do MINEDH possa
mobilizar condições de apetrechamento das escolas com kits de higiene e água para retenção
da rapariga; Maior acesso, transparência e divulgação da atribuição de bolsas de estudo para

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raparigas e rapazes; Necessidade de sistema combate ao consumo de álcool e drogas, e
afastamento dos locais de venda de bebidas dentro e ao redor das escolas.

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