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Crimes Militares
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MILITAR
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SISTEMA DE ENSINO
Livro Eletrônico
DIREITO PENAL MILITAR
Crimes Militares
Sumário
Douglas Vargas
Apresentação. . .................................................................................................................................. 3
1. Crimes Militares – Introdução................................................................................................... 3
2. Classificação dos Crimes Militares.. ........................................................................................ 5
2.1. Crime Militar Praticado por Civil............................................................................................ 7
3. Código Penal Militar.................................................................................................................... 9
4. Art. 9º do CPM.............................................................................................................................12
4.1. Outros Aspectos (Lei n. 13.491/2017)..................................................................................21
5. A Polêmica sobre os Crimes Dolosos contra a Vida........................................................... 23
5.2. Art. 10........................................................................................................................................ 27
Resumo............................................................................................................................................. 29
Exercícios......................................................................................................................................... 35
Gabarito............................................................................................................................................ 39
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Apresentação
Olá, querido(a) aluno(a)!
Na aula de hoje, vamos tratar detalhadamente o conceito de Crime Militar, bem como ou-
tros tópicos da parte geral contidos em seu edital.
Mais especificamente, vamos estudar os seguintes assuntos:
• crimes militares;
− conceito;
− disposições do CPM.
• Lei n. 13.491/2017 e as alterações ao COM.C
Como você já deve saber, a tabela acima é excelente porque nos mostra que não basta ler
o Código Penal Militar para entender se uma determinada conduta é crime militar.
É possível notar claramente que o art. 121 do Código Penal e o art. 205 do Código Penal Mili-
tar apresentam o mesmo comportamento: matar alguém. A pena aplicada, inclusive, é a mesma!
Então quando um indivíduo mata alguém, qual vai ser o ponto chave para diferenciar se
foi um homicídio comum (Art. 121 CP) ou o crime militar de homicídio (Art. 205 do CPM)?
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Como provavelmente você já sabe, o ponto que permite diferenciar ambos os delitos está
no bem jurídico que foi atingido pela conduta!
Diz a doutrina:
Pode-se dizer que crime militar é aquela conduta que, direta ou indiretamente, ATENTA CONTRA
OS BENS E INTERESSES JURÍDICOS DAS INSTITUIÇÕES MILITARES, qualquer que seja o agente.
(Direito Penal Militar: Marcelo Uzeda de Faria – 4ª Edição)
Com base nesse conceito, podemos compreender melhor a diferença entre ambos os Có-
digos (e entre ambos os delitos de homicídio):
Vamos comparar alguns exemplos de bens jurídicos tutelados por ambos os Códigos:
Dependendo das circunstâncias (as quais ainda iremos estudar na aula de hoje) uma
mesma conduta pode atingir bens jurídicos diferentes – ensejando a aplicação de uma nor-
ma ou de outra!
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Resumindo:
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Questão fácil depois da nossa aula, certo? Crime propriamente militar é aquele previsto uni-
camente no CPM. O delito de homicídio está previsto tanto no CPM quanto no CP, de modo
que é classificado pela doutrina como impropriamente militar.
Errado.
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Questão que segue o mesmo padrão de elaboração da anterior, tratando do conceito de crime
impropriamente militar – só que dessa vez, da forma correta. O militar praticou homicídio,
sendo que tal delito está previsto tanto no CP quanto no CPM (o qual é, portanto, crime im-
propriamente militar).
Certo.
Art. 183. Deixar de apresentar-se o convocado à incorporação, dentro do prazo que lhe foi marca-
do, ou, apresentando-se, ausentar-se antes do ato oficial de incorporação.
Pouca gente sabe, mas o convocado a se apresentar para incorporação que deixa de com-
parecer no prazo marcado, ou que se apresenta mais se ausenta antes do ato oficial de incor-
poração pratica crime militar.
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O art. 183 é, portanto, o único exemplo de crime propriamente militar praticado por CIVIL!
Vamos praticar?
Veja como fica fácil depois que estudamos apresentando alguns exemplos. Você acabou de
ver um delito que é propriamente militar e que é praticado por CIVIL!
Errado.
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Opa, examinador... você disse FURTO? Não precisamos nem ler o restante da questão! Furto
é um delito que está previsto tanto no CPM quanto no CP – de modo que é crime impropria-
mente militar, e não propriamente militar, como afirma a assertiva!
Errado.
Outras classificações
Por fim, é importante ainda mencionar novas classificações que vem surgindo com o ad-
vento da mudança do art. 9º do CPM, ocorrida em 2017.
Alguns doutrinadores vêm apresentando os seguintes entendimentos:
1. crime militar por extensão: aquele previsto exclusivamente na legislação penal comum,
adquirindo natureza militar por força do inciso II do art. 9º do CPM;
2. crime militar extravagante: crime tipificado fora do CPM.
Cabe ressaltar que a doutrina ainda não pacificou os entendimentos em relação ao adven-
to da mudança ocorrida em 2017. De todo modo, por segurança, é bom conhecer a existência
das nomenclaturas acima.
Ótimo. Agora você já sabe a diferença entre um militar da ativa, da reserva e da reforma –
termos que utilizaremos bastante daqui pra frente. Mas antes que possamos analisar o art. 9º
do CPM, no entanto, é necessário tratar rapidamente sobre COMPETÊNCIA, de acordo com a
Constituição Federal. Vamos lá:
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Por força dessa previsão constitucional é que temos as seguintes regras que você PRECI-
SA guardar com toda a atenção:
1. a Justiça Militar ESTADUAL não pode julgar CIVIS!
a) Isso ocorre, pois, ao tratar da Justiça Militar Estadual, a CF/1988 reconheceu a compe-
tência apenas para julgamento dos MILITARES dos ESTADOS.
2. Por outro lado, a Justiça Militar da UNIÃO pode julgar tanto militares quanto civis, pois
a CF/1988 não restringiu sua competência da mesma forma como fez com a Justiça Militar
dos Estados.
3. Atos disciplinares não estão previstos no CPM!
Muitas questões vão tentar te induzir em erro, dizendo que há previsão de infrações dis-
ciplinares no CPM. Isso não é verdade. Veja que a CF/1988 diz que a Justiça Militar Estadual
tem competência para julgar “as ações judiciais contra atos disciplinares militares”, e não os
atos disciplinares em si.
Em outras palavras: a JME tem competência para julgar uma ação judicial intentada por
um militar CONTRA uma punição disciplinar que este considera ter sofrido injustamente. Não
existem atos disciplinares previstos no Código Penal Militar!
Pronto. Mais um tópico chave para a nossa conta. Finalmente é hora de analisar o famoso
art. 9º do CPM, suas alterações recentes, e as circunstâncias em que um delito será conside-
rado como crime militar, de forma prática!
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4. Art. 9º do CPM
Chegamos ao trecho mais importante da nossa aula. Cheio de polêmicas (e recentemente
alterado pelo legislador), o art. 9º é o ponto chave para diferenciar crimes militares e comuns.
Você já sabe que a diferença entre um crime militar e um crime comum está no bem jurí-
dico atingido pela conduta. A questão que resta é a seguinte: como dizer qual o bem jurídico
foi atingido pela infração penal?
E a resposta está no CPM, em seu art. 9º, o qual apresenta as situações em que um crime
será considerado como crime militar.
Dessa forma, o legislador “simplificou”. Apresentou um rol taxativo que mostra, de forma
direta, que uma determinada situação irá ensejar a responsabilização do autor por crime mi-
litar – perante a justiça militar – por ter atingido um bem jurídico inerentemente castrense.
Você verá que, uma vez que você trabalhe alguns exemplos práticos, o CPM fica mais fácil
de entender. E dessa forma, as confusões entre Direito Penal e Penal Militar se tornarão cada
vez menos frequentes!
Inciso I
O inciso I é o mais simples: se o delito está previsto no CPM de modo DIVERSO da lei co-
mum, ou só está previsto no CPM, será crime militar.
Veja que isso você já sabia, só com base na nossa aula (sem sequer ler o CPM). Vejamos
um exemplo:
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II – os crimes previstos neste Código e os previstos na legislação penal, quando praticados: (Reda-
ção dada pela Lei n. 13.491, de 2017)
a) por militar em situação de atividade ou assemelhado, contra militar na mesma situação ou as-
semelhado;
Veja que a situação acima seria um crime comum (de lesões corporais ou vias de fato) se
não envolvesse dois militares da ativa. Por força do CPM, no entanto, quando um militar da
ativa pratica um delito contra outro militar da ativa (mesmo que durante a folga de ambos)
estará configurado um crime militar!
Esse exemplo é muito bom, pois nos permite verificar o seguinte: por que uma simples
briga de bar pode se tornar um crime militar?
Pois ofende valores militares como a disciplina e as instituições militares.
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Pense de uma maneira prática: Não “pega bem” para o Exército e para a Aeronáutica ter
dois de seus membros da ativa brigando, bêbados, em um bar. E por esse motivo, o legislador
resolveu transferir a competência desse tipo de situação para a Justiça Militar.
Há mais em jogo do que a mera integridade física de ambos: outros bens jurídicos, ineren-
temente militares, foram atingidos pela má conduta dos envolvidos. Simples assim!
Nessa situação, veja que o local foi fundamental para a configuração da ofensa aos bens
jurídicos militares. Se Sargento Jack ainda estivesse na ativa, o crime militar se configuraria
de qualquer forma. Mas como este é da reforma, só houve crime militar, pois a conduta se deu
dentro do quartel!
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Mais uma vez, veja que a competência da Justiça Castrense é atraída pelas circunstân-
cias da infração penal (praticada por militar em serviço em formatura) e não meramente pelo
fato do tipo penal constar no CPM.
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d) por militar durante o período de manobras ou exercício, contra militar da reserva, ou reformado,
ou assemelhado, ou civil;
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No exemplo acima, temos o que seria um crime de dano, mas que como foi praticado por
militar da ativa e contra patrimônio sob administração militar, acaba configurando o crime mili-
tar da mesma espécie – cuja apuração fica sob competência da Justiça Castrense.
Inciso III
III – os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado, ou por civil, contra as instituições
militares, considerando-se como tais não só os compreendidos no inciso I, como os do inciso II,
nos seguintes casos[...]
O inciso III nos apresenta outras situações em que militares da reserva, reformado ou civil
podem praticar crimes militares, uma vez que irão praticar sua conduta contra as instituições
militares.
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Cuidado: note que não basta que a prática do delito seja contra as instituições militares.
Há a necessidade de que a situação se enquadre nas alíneas A, B, C e D do inciso III, as quais
estudaremos logo adiante.
Em outras palavras: não é qualquer crime praticado por militar da reserva, reforma ou civil
contra as instituições militares que irá configurar a previsão do caput do inciso III. As condi-
ções das alíneas devem também estar presentes!
Inciso III, a
Aqui o legislador estendeu o que se aplica ao militar da ativa para os militares da reserva
e reforma, bem como aos civis. Caso tais indivíduos pratiquem um determinado delito contra
patrimônio sob a administração militar, configura-se crime militar nos termos do art. 9º, III, a.
Por exemplo:
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Imagine que um determinado civil pratique o delito de dano contra um veículo do Exército
(patrimônio sob administração militar). Nesse caso, estará atraída a competência da Justiça
Militar, e se configura a previsão contida no CPM.
Sobre esse ponto, cabe fazer uma orientação que sempre tenho feito em minhas aulas.
Pensando com base no que estudamos até agora, faça a análise da situação a seguir:
Na imagem, temos uma viatura da PM/SP, alvo de ataques (dano) por parte de vândalos
em uma manifestação nada pacífica.
Ou seja, temos o crime de dano, praticado por civis, contra patrimônio sob administra-
ção militar.
A pergunta que resta é a seguinte:
(Não fique triste se você errar, essa é uma pergunta difícil). A resposta é NÃO!
Muito embora formalmente falando a conduta se enquadra com o previsto no CPM, é pre-
ciso lembrar de um detalhe importantíssimo:
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A viatura é da PM-SP (um órgão militar ESTADUAL). E como estudamos mais cedo em
nossa aula, a Justiça Militar Estadual não tem competência para julgar civis!
Por isso, numa situação como essa, se os autores são presos, devem ser conduzidos
a uma delegacia da polícia civil, para que sejam tomadas as providências de acordo com o
Código Penal Comum – mesmo que um bem jurídico militar tenha sido atingido pela conduta
dos autores! O processo, consequentemente, também irá tramitar na justiça comum.
É o mesmo que acontece quando um indivíduo desacata um policial militar. Embora o art.
299 CPM apresente o chamado Desacato a Militar, o civil irá praticar o delito de DESACATO
previsto no CP – pois a Justiça Militar Estadual não possui competência para julgá-lo.
Já se o desacato é praticado contra militar das Forças Armadas, aí sim é possível aplicar
a previsão do CPM (pois a Justiça Militar da União possui competência para julgar civis).
Lembre-se sempre: de nada adianta o bem jurídico ser atingido e o delito se configurar, se
a Justiça não tiver competência para alcançar o autor do delito!
Inciso III, b
É o caso, por exemplo, de um indivíduo que em uma visita às instalações das Forças Armadas
(lugar sujeito à administração militar) profere ofensas contra um militar da ativa que ali está
trabalhando.
Inciso III, c
Do mesmo modo, é também crime militar praticável por militar da reserva, reforma ou civil
aquele cometido contra militar em formatura, ou período de prontidão, vigilância (entre outras
atividades arroladas na alínea c).
Lembre-se de que se o autor for civil, o militar deverá ser da União, por conta da limitação
de competência da Justiça Militar Estadual.
Inciso III, d
d) ainda que fora do lugar sujeito à administração militar, contra militar em função de nature-
za militar, ou no desempenho de serviço de vigilância, garantia e preservação da ordem pública,
administrativa ou judiciária, quando legalmente requisitado para aquele fim, ou em obediência a
determinação legal superior.
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Por fim, temos ainda o crime militar praticado por militar da reserva, reformado ou civil,
ainda que fora de lugar sujeito à administração militar, contra militar em função de natureza
militar, como, por exemplo, em atividade de preservação da ordem pública.
Ou seja: até o início de 2017, era muito mais fácil identificar um crime militar – pois só
seria possível sua configuração se este delito estivesse previsto no Código Penal Militar.
Desse modo, um delito que estava previsto apenas em uma lei especial, ou apenas no
Código Penal, jamais poderia ser considerado crime militar.
Atualmente, no entanto, é possível que um crime previsto apenas em lei penal externa
ao CPM (como o Código Penal ou leis extravagantes) se torne crime militar, dependendo das
circunstâncias.
Esse assunto é bastante recente, nunca foi objeto de provas de concursos, e sem dúvidas
começará a ser cobrado. O problema é que ainda não há muita doutrina ou jurisprudência
sobre o tema – de modo que certamente questões polêmicas estão vindo por aí.
Certo é que, antigamente, crimes previstos em legislação penal especial (como o delito
de abuso de autoridade, os da lei de drogas, de tortura, entre outros) não podiam ser con-
siderados como crime militar, mesmo que praticados por militares em serviço. Este não é
mais o caso.
Relembrando o que prevê o CPM atualmente:
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Súmula n. 172/STJ
Compete a justiça comum processar e julgar militar por crime de abuso de autoridade,
ainda que praticado em serviço.
Veja que a Súmula n. 172/STJ vai de encontro à nova redação do CPM (a qual permite que
o CPM alcance uma conduta praticada por um militar e prevista em legislação especial, como
a lei de abuso de autoridade).
E desse modo, surge a seguinte dúvida: o crime de abuso de autoridade, previsto em legis-
lação penal especial, quando praticado por militar, passou a ser competência da Justiça Militar?
A verdade é que ainda não existe resposta pacífica para essa questão. O STJ não cancelou
formalmente a Súmula n. 172. No entanto, cabe ressaltar que a doutrina já tem se posicio-
nado pelo no sentido de que a referida súmula não tem mais aplicabilidade, encontrando-se
SUPERADA e devendo ser objeto de futuro cancelamento.
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Esquematizando
§ 2º Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e cometidos por militares
das Forças Armadas contra civil, serão da competência da Justiça Militar da União, se praticados
no contexto [...]
Quase todo aluno sabe que, por expressa previsão constitucional, a competência de julgar
crimes dolosos contra a vida é do Tribunal do Júri – e não de qualquer outro ramo da Justiça
Brasileira.
Entretanto, como é possível aduzir do parágrafo acima, o legislador infraconstitucional
abriu uma exceção, concedendo à Justiça Militar da União a competência para julgar milita-
res das Forças Armadas quando estes praticarem crimes dolosos contra a vida de civil, em
determinados casos.
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Essa é uma excelente pergunta. São cabíveis argumentos em ambos os sentidos (de que
tal norma é inconstitucional ou mesmo de que é perfeitamente válida). A verdade é que o Su-
premo Tribunal Federal é o único que tem competência para responder a essa pergunta – e
que ainda não há manifestação nesse sentido.
Para parte da doutrina, até o momento, não há inconstitucionalidade na referida norma.
Por esse motivo, o correto é considerar que a letra da lei está valendo – e que é competên-
cia da Justiça Militar da União o julgamento de crimes dolosos contra a vida quando pratica-
dos por militares das Forças Armadas e dentro do contexto previsto no CPM.
Inclusive, a literalidade do texto legal tem sido objeto recorrente de provas de concursos.
Então não se perca no debate doutrinário. Sendo a previsão legal utilizada para elaborar o
item, siga o que diz o texto legal!
É aquele que se enquadra nas circunstâncias previstas nos incisos e alíneas do art. 9º,
parágrafo 2º:
§ 2º Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e cometidos por militares das
Forças Armadas contra civil, serão da competência da Justiça Militar da União, se praticados no
contexto: (Incluído pela Lei n. 13.491, de 2017)
I – do cumprimento de atribuições que lhes forem estabelecidas pelo Presidente da República ou
pelo Ministro de Estado da Defesa;
II – de ação que envolva a segurança de instituição militar ou de missão militar, mesmo que não
beligerante; ou
III – de atividade de natureza militar, de operação de paz, de garantia da lei e da ordem ou de atri-
buição subsidiária, realizadas em conformidade com o disposto no art. 142 da Constituição Federal
e na forma dos seguintes diplomas legais:
a) Lei n. 7.565, de 19 de dezembro de 1986 – Código Brasileiro de Aeronáutica;
b) Lei Complementar no 97, de 9 de junho de 1999;
c) Decreto-Lei n. 1.002, de 21 de outubro de 1969 – Código de Processo Penal Militar; e
d) Lei n. 4.737, de 15 de julho de 1965 – Código Eleitoral.
Para os militares estaduais (não vinculados às forças armadas) e para os militares das
Forças Armadas que praticarem o crime de homicídio doloso contra a vida de civil fora das
circunstâncias do parágrafo 2º, aplica-se a regra do parágrafo 1º:
§ 1º Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e cometidos por militares
contra civil, serão da competência do Tribunal do Júri.
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Cabe salientar, ainda, que EM REGRA o homicídio praticado por militar da ativa contra
militar da ativa é de competência da Justiça Militar (configurando o crime impropriamente
militar de homicídio).
E é claro que nossos problemas não param por aí. Vamos ler o art. 82 do CPPM:
O CPPM (assim como o CPM) é um Código antigo – e em seu texto original, prevê que o
foro militar não se aplica aos crimes dolosos contra a vida praticados contra civil – de forma
totalmente contrária à Lei n. 13.491/2017!
E agora?
Fato é que, até o presente momento, não há julgado, jurisprudência pacificada, posiciona-
mento do STF, ou mesmo da doutrina que nos oriente quanto ao aparente conflito entre o art.
82 do CPPM e a redação da Lei n. 13.491/2017.
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Alguns doutrinadores e juristas, no entanto, já se manifestaram (mas não em uma obra for-
malmente publicada) dizendo que entendem que o artigo 82 do CPPM encontra-se tacitamen-
te derrogado pela Lei n. 13.491/2017. Em outras palavras, esse artigo perdeu parcialmente sua
validade, pois encontra-se obsoleto o texto sobre os crimes dolosos contra a vida.
Temos que ser cautelosos em situações assim. Não temos provas anteriores sobre o as-
sunto, nem jurisprudência... ou seja – quase respaldo nenhum. Minha orientação é a seguinte:
• se o examinador cobrar a literalidade do texto da Lei n. 13.491/2017, marque correto.
• Se o examinador cobrar a literalidade do art. 82 do CPPM, algo pouco provável, também
marque correto (mesmo estando o artigo parcialmente revogado).
• Se no enunciado da questão o examinador apenas questionar sobre a competência
para julgar militares das Forças Armadas nos crimes dolosos contra a vida de civil, nas
circunstâncias previstas no art. 9º do CPM, ou utilizar uma situação hipotética sobre
o assunto, utilize a previsão da Lei n. 13.491/2017 (de que é competência da Justiça
Militar da União).
Esse é o caminho mais seguro – e também que possibilita maior chance de sucesso
em caso de necessidade de elaboração de recurso contra um gabarito desfavorável para
as questões.
Infelizmente, até que existam questões específicas sobre o tema, não há como oferecer
uma orientação mais assertiva sem ser um professor irresponsável!
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DIREITO PENAL MILITAR
Crimes Militares
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5.2. Art. 10
Crimes militares em tempo de guerra
Art. 10. Consideram-se crimes militares, em tempo de guerra:
I – os especialmente previstos neste Código para o tempo de guerra;
II – os crimes militares previstos para o tempo de paz;
III – os crimes previstos neste Código, embora também o sejam com igual definição na lei penal
comum ou especial, quando praticados, qualquer que seja o agente:
a) em território nacional, ou estrangeiro, militarmente ocupado;
b) em qualquer lugar, se comprometem ou podem comprometer a preparação, a eficiência ou as
operações militares ou, de qualquer outra forma, atentam contra a segurança externa do País ou
podem expô-la a perigo;
IV – os crimes definidos na lei penal comum ou especial, embora não previstos neste Código, quan-
do praticados em zona de efetivas operações militares ou em território estrangeiro, militarmente
ocupado.
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Crimes Militares
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Em que pese o art. 10 estar previsto na primeira parte do CPM (Aplicação da lei penal mi-
litar), a sugestão é que você conheça apenas a previsão legal, haja vista o foco do conteúdo
programático nos crimes militares em tempo de paz.
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RESUMO
Crimes Militares
• Crime militar é aquela conduta que, direta ou indiretamente, ATENTA CONTRA OS BENS
E INTERESSES JURÍDICOS DAS INSTITUIÇÕES MILITARES, qualquer que seja o agente.
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Pontos-chave
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Art. 9º CPM
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Quadro Geral
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Crimes Militares
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EXERCÍCIOS
001. (IADES/POLÍCIA MILITAR DO DISTRITO FEDERAL/SOLDADO POLICIAL MILI-
TAR/2018) Segundo a nova redação do artigo 9º do Código Penal Militar (CPM), dada pela Lei
n. 13.491/2017, assinale a alternativa correta.
a) Somente aqueles que estiverem previstos no CPM serão crimes militares.
b) O civil menor de 18 anos de idade responderá, perante a Justiça Militar Estadual, por crime
militar que praticar contra policial militar.
c) Os crimes de que trata o artigo 9 o do CPM, quando dolosos contra a vida e cometidos por
militares das Forças Armadas contra civil, serão da competência da Justiça Militar da União,
se praticados no contexto do cumprimento de atribuições que lhes forem estabelecidas pelo
presidente da República ou pelo ministro de Estado da Defesa.
d) Somente aqueles cometidos em área sob administração militar, e desde que cometidos por
militar da ativa contra militar da ativa, serão considerados crimes militares.
e) Não há mais hipótese de que crimes militares possam ser cometidos por civil, mesmo os
de competência da Justiça Militar da União.
a) Conforme estudamos, podem ocorrer crimes militares previstos em legislação fora do CPM.
b) A JME não julga civis, muito menos menores de 18 anos.
c) Alternativa certa, na literalidade do art. 9º do CPM, conforme estudamos. Veja que o exami-
nador observou o texto legal, somente.
d) Existem muitas outras hipóteses além das narradas no item.
e
) Existe sim possibilidade de a JMU julgar civis, desde que preenchidos os requisitos do art. 9º.
Letra c.
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Art. 9º, II – os crimes previstos neste Código e os previstos na legislação penal, quando praticados:
[...]
c) por militar em serviço ou atuando em razão da função, em comissão de natureza militar, ou em
formatura, ainda que fora do lugar sujeito à administração militar contra militar da reserva, ou re-
formado, ou civil;
A questão extrapola um pouco o conteúdo de hoje (haja vista que ainda não estudamos os
crimes em espécie), mas por hora basta que você saiba que se trata de hipótese de concus-
são, prevista no art. 305 do CPM.
Letra d.
Conforme estudamos, o crime militar impróprio tem uma natureza mais comum, não ineren-
temente militar. Normalmente, possui um “par” na legislação penal comum, se tornando crime
militar por conta do contexto em que é praticado.
Nesse sentido, quem preenche o referido conceito é o crime de roubo.
Letra c.
Mais uma vez o examinador segue a literalidade do texto legal sobre a nova competência da
JMU nos crimes contra a vida.
De fato, o item está correto, com fulcro no Art. 9º, § 2º, I, CPM.
Certo.
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Lembre-se. Usualmente, o crime propriamente militar é praticado apenas por militares – exis-
tindo a exceção reconhecida pelo STM na figura do crime de insubmissão.
A assertiva, portanto, está correta, ao apresentar a única exceção à regra vista na aula de hoje!
Certo.
Muito cuidado. Estamos diante de crime impropriamente militar e não de crime propriamente
militar, como afirmou o examinador.
Errado.
Conforme estudamos, o art. 9º do CPM prevê como hipótese de competência da justiça mi-
litar a prática do crime por militar da ativa contra militar da ativa, de modo que a assertiva a
está correta.
Letra a.
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Crimes Militares
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Mais uma vez estamos diante da previsão do crime militar praticado por militar da ativa, con-
tra militar da ativa, nos termos do CPM, o que torna a assertiva a a opção correta.
Letra a.
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GABARITO
1. c 4. C 7. a
2. d 5. C 8. c
3. c 6. E 9. a
Douglas Vargas
Agente da Polícia Civil do Distrito Federal, aprovado em 6º lugar no concurso realizado em 2013. Aprovado
em vários concursos, como Polícia Federal (Escrivão), PCDF (Escrivão e Agente), PRF (Agente), Ministério
da Integração, Ministério da Justiça, BRB e PMDF (Soldado – 2012 e Oficial – 2017).
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