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Emissão de Gases de Efeito Estufa Na Disposição Final de Lodo de Esgoto
Emissão de Gases de Efeito Estufa Na Disposição Final de Lodo de Esgoto
Campinas, SP
2021
INSTITUTO AGRONÔMICO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRICULTURA TROPICAL
E SUBTROPICAL
Campinas, SP
2021
Ficha elaborada pela bibliotecária do Núcleo de Informação e Documentação
do Instituto Agronômico
CDD 581.52
APROVAÇÃO
iii
“As práticas que curam nossos solos,
também curarão nosso clima”
Johnny O’hara, Josh Tickell e Rebecca Tickell
iv
AGRADECIMENTOS
À Deus por permitir de uma forma não imaginada chegar até aqui e me dar forças
para vencer todas as dificuldades.
Ao meu esposo Samuel, pela cumplicidade, incentivo, apoio e compreensão.
Aos meus pais, Eda e Ramon (in memorian), pelo amor e apoio incondicional.
Aos meus familiares que mesmo longe, torceram para que eu alcançasse meus
objetivos.
Ao professor Dr. Cristiano Alberto de Andrade pela valiosa orientação, paciência,
amizade, compreensão e empatia.
A Dra. Priscila Grutzmacher pela orientação, amizade e conselhos ao longo dessa
empreitada.
Aos pesquisadores Dra. Adriana e Dr. Marcos Ligo pelo conhecimento
compartilhado, ensino pelo exemplo e confiança.
Aos professores de Pós-graduação do IAC por dividir o conhecimento.
Aos amigos da pós por dividir conhecimento, risadas e desabafos.
Ao Programa de Pós-graduação do IAC pela oportunidade e formação.
A EMBRAPA – Meio Ambiente e ao PNUD pelas oportunidades.
Ao Dr. Jonas da Biossolo, pela solicitude em esclarecer todas as dúvidas quanto a
operalização de uma usina de compostagem.
Aos membros da banca por contribuírem e melhorarem esse trabalho.
Ao prof. Roberto de Assis, meu chefe, pelo suporte para que pudesse adequar meu
expediente frente aos compromissos acadêmicos.
Muito Obrigada!
v
SUMÁRIO
RESUMO ............................................................................................................. xi
ABSTRACT ........................................................................................................xii
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................. 1
3 MATERIAL E MÉTODOS.............................................................................. 23
5 CONCLUSÃO.................................................................................................. 44
vi
6 REFERÊNCIAS ............................................................................................... 45
vii
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Estrutura do setor Resíduos proposta para inventários nacionais pelo IPCC,
2006. .................................................................................................................................. 6
Figura 2: Exemplo genérico das fases da compostagem em função da temperatura e
tempo. .............................................................................................................................. 19
Figura 3: Esquema das rotas da disposição do LE para aterro, incineração, compostagem
e aplicação direta no solo. ............................................................................................... 23
Figura 4: Detalhamento das fases das rotas da disposição do LE para aterro, incineração,
compostagem e uso agrícola. .......................................................................................... 25
Figura 5: Emissões de gases do efeito estufa para quatro alternativas de disposição final
do lodo de esgoto no ambiente específico por gases. ...................................................... 37
Figura 6: Emissões de metano (CH4) associadas ao processo de decomposição anaeróbia
da carga orgânica de lodo de esgoto equivalente a uma tonelada (1 Mg) de carbono
aterrado ............................................................................................................................ 38
viii
LISTA DE TABELAS
ix
LISTA DE ABREVIAÇÕES
x
Emissão de gases de efeito estufa na disposição final de lodo de esgoto
RESUMO
xi
Emission of greenhouse gases in the final disposal of sewage sludge
ABSTRACT
The agricultural reuse of sewage sludge has a potential positive impact on the
carbon (C) balance of agricultural systems, in addition to representing an alternative route
that should be considered in sectoral, regional or national greenhouse gas (GHG)
emission inventories. The objective of this research was to estimate GHG points and to
carry out C balances for different options for final disposal of sludge in the environment,
in order to specific policies, official communications (emission inventories) and decision
recovery of public management. The four possible ways of disposal of sewage sludge
were considered: landfill; incineration; composting (with and without forced aeration)
and agricultural use; and direct application to the soil in the soil. The functional unit
chosen for the comparisons was the equivalent of 1 megagram (Mg) of carbon from the
sludge at the destination. The necessary, possible mitigations and C balance were
estimated using the methodology of the Intergovernmental Panel on Climate Change
(IPCC) and the Brazilian GHG Protocol Program. The sludge that goes through
composting, regardless of its management, generates the highest total totals (12,187 Mg
CO2-eq and 11,775 Mg CO2-eq.), Followed by the disposal in a landfill (10,344 Mg
CO2-eq), incineration (0,447 Mg CO2-eq) and agricultural use (0.194 Mg CO2-eq). At
the landfill there is the possibility of recovering CH4 by burning biogas, avoiding an
emission of 8.37 Mg CO2-eq. When sludge is applied to the soil, part of the C is stabilized
in the system, which corresponded to something between 0.22 to 0.44 Mg CO2-eq., for
direct use (without composting), and between 1.06 to 1.47 Mg CO2-eq., for composted
sludge. In terms of C balance, the use of direct sewage sludge in the soil resulted in more
favorable values, with the generation of carbon credits (0.1 to 0.55 Mg CO2-eq) that can
be used to compensate in other activities or sectors.
xii
1 INTRODUÇÃO
1
aumentar os estoques de C do solo (Bettiol & Ghini, 2011; Pitombo et al, 2015). Diversos
estados da federação, como São Paulo, Paraná e Distrito federal têm normas especificas
para disciplinar o uso do lodo solo, como a Norma Técnica P4.230, a Resolução nº 021/09
e a lei nº 3.581/2005, respectivamente; além da Resolução 498 do Conama, que tem este
papel em nível federal de estabelecer critérios e padrões técnicos de poluição, a fim de
padronizar o tema no território nacional.
O uso agrícola do lodo, compostado ou não, implica em potencial para dreno de C
por meio da estabilização parcial no solo (sequestro de C). Mas isso depende também da
magnitude de emissão de N2O pelo aporte de N via lodo ao solo. Nessa contabilidade
também se pode agregar emissões evitadas na fabricação de fertilizantes sintéticos
minerais, uma vez que o lodo de esgoto substituiria esta fonte.
Embora não seja contabilizado pelo setor, o aumento dos estoques de C faz parte
do impacto agrícola nas mudanças climáticas se considerarmos todas as fontes e drenos de
GEE da cadeia produtiva numa perspectiva mais ampla como em uma análise de ciclo de
vida de um produto. Dessa forma, destinações mais nobres como a reciclagem agrícola dos
nutrientes e C contidos no LE devem ser priorizadas. A escolha de uma ou outra opção de
disposição final no ambiente deve considerar a identificação e contabilização das fontes e
drenos de C, com suficiente detalhamento para estimar o impacto sob a ótica das mudanças
climáticas globais.
A hipótese testada é que o uso do lodo de esgoto no solo implica em balanço
ambiental mais favorável, comparativamente as demais alternativas, devido ao sequestro
de C no solo; e embora o lodo compostado promova maior sequestro de C no solo, o
balanço do uso direto é ainda mais favorável, pois há menor emissão de GEE no transporte
e manejo da massa orgânica.
Diante disso, este trabalho teve por objetivo estimar as emissões de GEE e realizar
balanços de C-CO2 de forma a identificar opções ambientalmente menos impactantes para
destinação final do lodo de esgoto, principalmente considerando-se o uso agrícola, em
que o potencial de sequestro de carbono no solo é negligenciado.
2
2. REVISÃO DE LITERATURA
O clima global é ajustado pelo fluxo constante da energia solar que alcança a
atmosfera da Terra, sendo que parte dessa energia retorna para o espaço como radiação
infravermelha. Gases como o vapor d’agua, CO2, CH4 e N2O presentes naturalmente na
atmosfera absorvem a radiação infravermelha e impedem que parte desse calor se dissipe
para o espaço, processo este conhecido como efeito estufa, que mantém o planeta aquecido,
garantindo a manutenção da vida (Marin et al, 2008).
Diversas atividades humanas vêm aumentando a concentração desses gases na
atmosfera, principalmente após a Revolução Industrial, com importante papel do consumo
crescente de combustíveis fósseis (Abram et al, 2017), intensificando o efeito estufa. A
principal consequência é a alteração no balanço de radiação da Terra, que aumenta a
temperatura média do planeta, interferindo diretamente na dinâmica dos processos
meteorológicos. Esse efeito é chamado de efeito estufa antrópico ou aquecimento global.
(Marin et al, 2008).
Estima-se que a temperatura média global aumente 1,5° a 2,0°C até 2100 (Ranger
et al., 2012; Rogelj et al., 2015; Jackson et al., 2017), trazendo consequências aos
ecossistemas, como derretimento das geleiras (Rosenzweig, 2007; Shiklomanov et al.,
2007; Collins, 2008), branqueamento e mortandade dos corais (Baker et al., 2008),
aumento dos riscos de incêndios em florestas e campos devido a ondas de calor e seca
(Duguy et al., 2013), modificação geográfica e temporal de problemas fitossanitários
(Ghini et al., 2008), mudança no zoneamento agroclimático de cultivos agrícolas e
consequente sensibilidade na produção de alimentos (Assad et al., 2004; Porter et al.,
2014).
Em atenção a possíveis consequências, em 1988, na “Conference on the Changing
Atmosphere”, em Toronto, no Canadá, foi criado o Painel Intergovernamental sobre
Mudanças Climáticas (IPCC), organização dos governos das Nações Unidas, criado pelo
Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e Organização
Meteorológica Mundial (OMM). O objetivo é fornecer as principais descobertas científicas
sobre os fatores originadores, impactos nos ecossistemas e consequentes riscos
socioeconômicos futuros sobre as mudanças climáticas (IPCC, 2019). Em 1990, o IPCC
publicou o Primeiro Relatório (IPCC's First Assessment Report) relatando os possíveis
3
aumentos na temperatura média global no período de 1990 a 2030 e suas consequências
(Frame & Stone, 2013). Motivados por esses resultados e dando continuidade aos
trabalhos, em 1992, a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança Climática
no Rio de Janeiro no Brasil, conhecida como ECO 92, teve o objetivo de debater sobre os
problemas ambientais mundiais. Essas discussões resultaram na criação de um tratado
internacional para que os países assumissem o compromisso de reduzir as emissões
antrópicas de gases do efeito estufa (GEE), conhecido como Protocolo de Quioto durante
a Conferência em Quioto no Japão em 1997. Entretanto, entrou em vigor somente em 2005,
após a ratificação de 55 países membros da Convenção-Quadro das Nações Unidas, que
juntos fossem os responsáveis por pelo menos 55% das emissões globais. O Brasil ratificou
o tratado em 2002 através do decreto de legislativo no144 de 2002 (BRASIL, 2019).
O vapor d’agua é o principal gás responsável pelo efeito estufa natural. Também é
o gás de maior concentração na atmosfera, porém sua distribuição não é uniforme devido
as mudanças no clima da superfície terrestre. Por isso, para o IPCC (2007) o vapor d’água
é considerado um mecanismo de realimentação no sistema atmosférico e não agente
causador do efeito estufa. Dessa forma, os principais gases do efeito estufa antrópicos
reconhecidos no Protocolo de Quioto são o dióxido de carbono (CO2), metano (CH4), óxido
nitroso (N2O), hidrofluorcarbonos (HFC), perfluorcarbonos (PFC) e hexa-fluoreto de
enxofre (SF6). (PBMC, 2014).
Além da concentração dos gases do efeito estufa (GEE) na atmosfera, o tempo de
permanência e o forçamento radiativo determinam o potencial de aquecimento global
(Fuglestvedt et al., 2013). O tempo de permanência é a razão entre a quantidade do
composto químico na atmosfera e sua taxa de saída do sistema (Van Loon & Duffy, 2000).
O forçamento radiativo é a capacidade específica de absorção e retenção de calor do gás
(Shine et al., 1990). Esses fatores são fundamentais para determinar o potencial de um GEE
como agente radiativo forçante na atmosfera. A forçante radiativa é quantificada pela
mudança no fluxo da radiação na tropopausa, em unidade de W m-2 entre um estado de
referência e um estado perturbado. O estado de perturbação poderia ser o aumento na
concentração de GEE (IPCC, 2013). A quantificação da forçante radiativa de um agente é
usada em modelos climáticos com a finalidades de estimar as mudanças possíveis no clima
(PBMC, 2014).
Há diversos modelos relativizando o papel os GEE no aquecimento global. A
métrica assumida no Protocolo de Quioto da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre
Mudanças Climáticas (UNFCC) e usada desde 1990 é o Potencial de Aquecimento Global
4
– PAG (Global Warming Potencial – GWP) (Shine et al., 2005). O PAG é definido em
equivalência de forçamento radioativo de dióxido de carbono, para horizontes temporais
geralmente de 20 e 100 anos (Fuglestvedt et al., 2003). O PAG estima a contribuição de
um determinado gás de efeito estufa em relação a mesma quantidade do gás referência, no
caso o CO2, com valor de PAG igual a 1. A unidade de PAG é em equivalente de CO2
(CO2-e) (IPCC, 2013), resultante da multiplicação da quantidade em massa dos GEE
emitidos pelo seu potencial de aquecimento global (PBMC, 2014).
O valor de PAG para o metano é de 28 e para óxido nitroso é de 265 (IPCC, 2013),
com incertezas de ± 40% para CH4 (Reisinger et al., 2011). O IPCC reavalia
periodicamente os valores de PAG, com base em ajustes de modelos e novos dados
disponibilizados (IPCC, 2013). Isso é realizado por meio de relatórios de avaliação (AR)
desde 1990 com a atualização dos valores de PAG para serem usados em inventários
nacionais e regionais de emissões de GEE (IPCC, 2019).
Os inventários de GEE são ferramentas de gestão em escala local, regional ou
nacional que permitem identificar e quantificar as principais fontes e processos emissores,
além de auxiliar na priorização das medidas mitigadoras. A contabilização das emissões
em nível nacional é dividida em setores: (i) energia; (ii) processos industriais e uso de
produtos; (iii) agricultura, silvicultura e uso da terra; (iv) resíduos; e (v) outros não
discriminados anteriormente (IPCC, 2006). Cada setor é dividido em subsetores e, esses
por sua vez, podem ser divididos em categorias (Figura 1). Para cada categoria há um
modelo matemático específico para as estimativas das emissões de GEE. Por exemplo, no
setor de resíduo, há cinco subsetores: disposição de resíduos sólidos; tratamento biológico
de resíduos; incineração e queima de resíduos a céu aberto; e tratamento e despejo de águas
residuárias. O subsetor tratamento biológico por sua vez, é dividido nas categorias
compostagem e digestão anaeróbica. Para cada categoria há modelo matemático para a
estimativa de emissões de metano, óxido nitroso e/ou dióxido de carbono (IPCC, 2006).
5
Figura 1: Estrutura do setor Resíduos proposta para inventários nacionais pelo IPCC, 2006.
Fonte: (IPCC, 2006)
Segundo The Word Bank (2019), com base nos dados dos inventários nacionais
publicados periodicamente como exigência do Protocolo de Quioto, estima-se que as
emissões globais de GEE cresceram aproximadamente 50% entre os anos 1970 e 2012.
Dos três principais GEE, o dióxido de carbono é o gás de maior contribuição antrópica
representando 73,63% do total. Desses, aproximadamente 90% vem do uso de
combustíveis fósseis e das indústrias (Jackson et al., 2017). O metano representa 17,2%
das emissões globais sendo 74,7% provenientes dos setores de energia e de agricultura e
uso da terra. O óxido nitroso corresponde a 6,78% das emissões globais e o setor de
agricultura e uso da terra responde por 72% das emissões.
No Brasil, as emissões brutas de GEE cresceram 14% entre 1990 e 2014 (Azevedo,
2016). No último inventário nacional publicado (BRASIL, 2020c), a agropecuária é o setor
que mais contribuiu com emissões em CO2 equivalente (34%), seguido pelo setor de
energia (32%), Mudança de Uso da Terra (22%), Processos Industriais (7%) e Tratamento
de Resíduos (5%).
6
Durante o período de 1990 a 2014 as emissões que mais cresceram foram nos
setores de Energia e Resíduos, com 120% e 145% respectivamente (Azevedo, 2016). O
setor de energia cresceu em emissões devido ao aumento do uso de combustíveis derivados
do petróleo como gasolina e diesel, bem como aumento de termelétricas (EPE, 2014). No
setor de resíduos as emissões aumentaram devido ao avanço no atendimento ao saneamento
básico nesse período (Sriptore, 2010), com a ampliação da rede de coleta e tratamento de
esgoto doméstico e disposição de resíduos sólidos (IBGE, 2017).
O saneamento básico atende quatro diretrizes: o abastecimento de água, o
esgotamento sanitário, o manejo das águas pluviais e o manejo dos resíduos sólidos urbanos
(BRASIL, 2007). Esses serviços promovem qualidade de vida a população e qualidade
ambiental, atendendo as necessidades do presente, sem comprometer o uso dos recursos
naturais às futuras gerações (Mota, 2008). Dessa forma, o aumento nas emissões em função
da melhoria do saneamento é intrínseco ao desenvolvimento de um país (Hutton et al,
2007). A expectativa é que aumente a abrangência do saneamento no Brasil (De Menezes
et al., 2016) e, inevitavelmente aumentará as emissões nesse setor. Para tanto, é necessário
buscar alternativas com baixo impacto de emissão e mitigação por meios de tecnologias
para aproveitamento dos gases gerados.
No último inventário brasileiro publicado (2020), o setor de resíduos representa 5%
das emissões totais do país. 95,8% dessas emissões são de metano, outros gases gerados
são dióxido de carbono (0,4%), exclusivamente do subsetor “incineração” e o restante
(3,8%) é de oxido nitroso. O subsetor “disposição de resíduos sólidos” representa 50% das
emissões, seguido por “tratamento de efluentes domésticos” com 27,3%, subsetor
“tratamento de efluentes industriais” com 22,3% e incineração de resíduos sólidos com
0,4%.
7
decomposição da matéria orgânica do efluente e microrganismos digestores do processo; e
lodo digerido quando sofreu estabilização biológica ou anaeróbia. O lodo de esgoto pode
ser a combinação desses lodos ou não, dependendo do modelo de tratamento de esgoto
local (Andreoli, 2001).
Outro termo comumente utilizado é o biossólido, mas esse se refere ao LE final que
tenha passado por processo biológico, estabilização e higienização, com o objetivo de uso
agrícola (Hoffmann, 2012). A etapa de estabilização se refere a redução de odores e vetores,
e a higienização, a processos de redução de patógenos conforme legislação vigente
(BRASIL, 2020b)
O LE é constituído basicamente por água, matéria orgânica e minerais. Porém, essas
características variam conforme a origem (se industrial, se doméstico, ou ambos), o tipo de
tratamento de esgoto, produtos químicos utilizados, estabilização e armazenamento do lodo
(García-Delgado et al, 2007)
Na tabela 1 foram compilados parâmetros agronômicos do lodo de esgoto de 36
trabalhos nacionais, de 1982 a 2019, totalizando 85 amostras a fim de demostrar os valores
médios dos atributos da constituição do lodo.
8
Tabela 1. Valores mínimos, máximos e coeficiente de variação de parâmetros
agronômicos do lodo de esgoto a partir da consulta de 36 publicações nacionais.
Parâmetro Unidade Valor Valor CV média Amostras (n) Fonte1
Mínimo máximo (%)
pH - 2,62 13,09 20,92 78 1, 2, 3, 5, 6, 7, 8, 9, 10,
11, 13, 14, 15, 16, 18, 19,
20, 21, 22, 24, 25, 26, 27,
28, 29, 30, 31, 32, 33, 34,
35, 36
Umidade % 55,00 98,40 10,40 29 2, 3, 4, 5, 10, 14, 15, 17,
18, 19, 21, 26, 28, 29, 30,
31, 32
MO g kg-1 113,00 713,50 20,76 50 1, 2, 3, 4, 5, 6, 11, 13, 14,
15, 16, 17, 18, 19, 20, 23,
24, 27, 29, 32, 33, 34, 35
C org. g kg-1 23,00 425,00 17,65 52 5, 6, 7, 9, 10, 18, 19, 21,
25, 26, 27, 28, 30, 31, 32,
33, 34, 36
N g kg-1 8,00 300,00 48,08 55 1, 2, 3, 4, 5, 6, 8, 9, 10,
11, 12, 13, 14, 15, 16, 17,
19, 20, 21, 22, 23, 24, 26,
27, 28, 29, 30, 32, 33, 34,
35, 36
P g kg-1 0,20 75,60 56,18 77 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10,
12, 13, 14, 15, 16, 17, 18,
19, 20, 21, 22, 23, 24, 25,
26, 28, 29, 30, 31, 32, 33,
34, 35, 36
K g kg-1 0,10 15,14 66,47 81 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10,
12, 13, 14, 15, 16, 17, 18,
19, 20, 21, 22, 23, 24, 25,
26, 28, 29, 30, 31, 32, 33,
34, 35, 36
Ca g kg-1 1,35 195,00 89,41 70 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10,
12, 13, 14, 15, 16, 17, 19,
20, 21, 22, 25, 26, 28, 29,
30, 31, 32, 33, 34, 35, 36
Mg g kg-1 0,10 30,00 62,45 69 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10,
12, 13, 14, 15, 16, 17, 19,
20, 21, 22, 25, 26, 28, 29,
30, 31, 32, 33, 34, 35, 36
9
1
Referências: (1) Abreu et. al., 2017; (2) Rezende, 2005; (3) Pedrosa et. al., 2005; (4) Campos &
Alves, 2008; (5) Batista, 2015; (6) Cardoso, 2018; (7) Maio et. al., 2011; (8) Maia, 2013; (9) Souza, 2011;
(10) Nogueira et. al., 2013; (11) Pigozzo et. al., 2008; (12) Oliveira et. al., 1995; (13) Marchini et. al., 2015;
(14) Costa et. al., 2009; (15) Silva et. al., 2012; (16) Andreoli, 1999; (17) Bonini et. al., 2015; (18) Lopes,
2015; (19) Sampaio et. al., 2012; (20) Tsutiya, 2001; (21) Fernandes et. al., 1993; (22) Berton et. al., 1989
apud Moraes, 2005 (23) Carvalho, 1982 apud Moraes, 2005 (24) Bettiol et. al., 1983 apud Moraes, 2005;
(25) Nascimento, 2016; (26) Maria et. al., 2010; (27) Melo & Silva, 2008; (28) Colodro, 2005; (29) Silva et.
al., 2002; (30) Soares, 2003; (31) Abreu et. al., 2019; (32) Simonete et. al., 2003; (33) Nascimento, 2004;
(34) Gomes et. al., 2006; (35) Costa et. al., 2018; (36) Caramelo, 2014.
10
diferenças metodológicas na sua determinação dos trabalhos publicados, o carbono
orgânico pode chegar a 42,5% conforme tabela 1.
Em relação ao teor de nitrogênio e fósforo, relativamente elevado (>1-2%) o lodo
de esgoto como biossólido é utilizado como fertilizante orgânico em vários países (Binder
et al, 2002). No solo o nitrogênio mineralizado no lodo, nas formas de nitratos, nitritos e
compostos amoniacais, será absorvido pelas plantas (Boeira & Ligo, 2009). No Brasil,
segundo a Instrução Normativa MAPA no. 61/2020 que dispõe sobre as especificações e as
garantias, as tolerâncias, o registro, a embalagem e a rotulagem dos fertilizantes orgânicos
e biofertilizantes destinados à agricultura, a parcela de macronutrientes encontrada no lodo
tem potencial de fornecer nutrientes como cálcio e nitrogênio e pode ser utilizado como
condicionador ou fertilizante orgânico no solo, contanto que atenda as outras exigências da
norma.
Outros elementos também podem ser encontrados no lodo de esgoto, como metais
pesados, compostos orgânicos persistentes e organismos patogênicos, porém em
concentrações variáveis, dependendo da origem e tipo de tratamento de esgoto (García-
Delgado et. al., 2007), o que restringe seu uso e condiciona sua destinação final (Bettiol &
Camargo, 2006).
Como o LE é considerado um resíduo, deve ser submetido a classificação conforme
a Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT NBR 10.004 (2004): em resíduos
perigosos (Classe I), resíduos não perigosos e não inerte (Classe IIA), resíduos não
perigosos e inerte (Classe IIB). Conforme essa classificação, os resíduos devem ser
transportados, armazenados e descartados de modo a assegurar saúde pública e ao meio
ambiente (BRASIL, 2010).
Os resíduos Classe I podem apresentar propriedades de inflamabilidade,
corrosividade, reatividade, toxicidade ou patogenicidade. São armazenados
temporariamente, incinerados, recuperado ou disposto em aterro industrial classe I. Os
resíduos Classe IIA são aqueles que são solubilizados em água e os resíduos Classe IIB são
aqueles não são solubilizados em água e sofrem poucas alterações em sua composição com
o tempo. Resíduos Classe II podem ser dispostos em aterro sanitário ou reciclados
conforme seu potencial (ABNT, 2004; Braga et al, 2005)
O lodo de esgoto geralmente é classificado como resíduo Classe IIA, porém se
houver alguma alteração na origem ou no processo de tratamento de efluentes que altere
suas características pode passar para Classe I, mas é validado após laudo de classificação
(Diaz, 2013).
11
2.3 Disposição do lodo no Brasil e suas emissões de GEE
12
que provoquem a mortandade de animais ou a destruição
significativa da flora: (...) § 2º se o crime: (...) III - causar
poluição hídrica que torne necessária a interrupção do
abastecimento público de água de uma comunidade; (...) V -
ocorrer por lançamento de resíduos sólidos, líquidos ou
gasosos, ou detritos, óleos ou substâncias oleosas, em
desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou
regulamentos.”
13
com normas técnicas rigorosas de construção e de licenciamento. O processo consiste em
armazenar em módulos os resíduos sólidos urbanos, inclusive o lodo de esgoto,
compactando com outros resíduos de mesma classificação e revestir de terra (Elk, 2007).
O assentamento dos resíduos nos módulos do aterro sanitário, segundo Fei &
Zekkos (2013), ocorrem em 3 fases: na primeira fase ocorre uma acomodação dos resíduos,
compressão ou amolecimento dos componentes residuais a medida que a umidade é
introduzida. População microbiana baixa. Na segunda fase ocorre a biodegradação ativa,
atividade microbiana intensa leva a biodegradação dos resíduos sólidos urbanos. Depois,
na fase 3, chamada de fase residual, baixa disponibilidade e acessibilidade de resíduos
orgânicos, a biodegradação é estagnada e baixo assentamento de resíduos.
A fase da biodegradação ativa é a fase de maior contribuição na dinâmica do aterro
a longo prazo, resulta nas alterações mecânicas, hidráulicas e químicas do aterro (Datta &
Eastes, 2015). A fases de biodegradação em um aterro podem ser divididas em 5 partes
como descrevem Barlaz et al (2010): na fase inicial é um período de aclimação, acúmulo
de umidade, na espera das condições ambientais favoráveis a ação dos microrganismos
para a decomposição. Depois ocorre uma fase de transição, e o ambiente aeróbico passa
para anaeróbico. Na fase 3 ocorre rápido consumo de substratos devido a hidrólise dos
resíduos orgânicos, seguida pela produção de ácidos carboxílicos. O ambiente fica mais
ácido e predomina as bactérias acidogênicas. O lixiviado contém DBO e DQO elevadas
devido aos ácidos. Na fase 4, sulfato e nitrato são reduzidos em sulfetos e amônia, elevando
o pH do ambiente, suportando o crescimento de bactérias metanogênicas. Elas consomem
os ácidos intermediários e os convertem em metano e dióxido de carbono, por isso essa
fase é chamada de metanogênese. O biogás é a combinação de metano (CH4), dióxido de
carbono (CO2) e gases traços de compostos orgânicos voláteis (Spokas et al, 2006). Na fase
5, denominada de fase de maturação, os nutrientes e substratos estão mais limitados,
reduzindo a atividade biológica. Produção de biogás cai, lenta degradação das frações
orgânicas mais resistentes e lixiviado com DBO e DQO relativamente baixa.
Apesar desse sequenciamento, os processos ocorrem de forma complexa nos aterros
sanitários. Russo & Vieira (2007), coletaram amostras de resíduos sólidos dispostos em um
aterro sanitário, em módulos e profundidade diferentes a fim de analisar a eficiência da
biodegradação após 10 anos de operação, depararam com uma redução da matéria orgânica
de 30% a 80% dependendo da célula, o que demonstra que o processo de degradação em
um mesmo aterro pode ocorrer de forma variável. Isso ocorre, pois vários fatores inferem
no processo de degradação dos resíduos, mas os mais relevantes apontados são a umidade,
14
temperatura, pH, composição dos resíduos, forma de construção e operação do aterro (Elk,
2007).
O mesmo autor, Elk (2007), compara o aterro a um reator, onde ocorrem reações
químicas e biológicas, produzindo biogás, efluentes como o lixiviado e o resíduo
mineralizado. Para sustentar esse sistema é necessário estruturas de drenagem e de
tratamento de gases e lixiviado, drenagem superficial de águas pluviais e
impermeabilização de fundo a fim de minimizar/controlar os riscos de contaminação
ambiental (ABNT, 1997; 2010).
Apesar dos desafios no gerenciamento de um aterro, o aproveitamento energético
do biogás, a partir da Conferência de Johanesburgo em 2002, passa a representar uma
oportunidade de negócio como Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL) (Jacobi &
Besen, 2011). MDL é um instrumento financeiro onde é possível investir em projetos que
mitiguem ou capturem carbono em trocar de créditos de carbono (Figueiredo et al, 2011).
No Brasil, há 29 projetos de MDL provenientes de aterro (UNFCCC, 2019), pouco se
comparado aos 1048 aterros sanitários ativos (BRASIL, 2019). O aproveitamento
energético favorece em valores de redução de emissão de gases do efeito estufa (GEE),
considerando que uma tonelada de metano equivale 265 de dióxido de carbono, como
explicado item 2.1, representando o segundo lugar em potencial de redução de emissão dos
projetos de MDL (Torres et al, 2016).
2.3.2 Incineração:
15
de emissão de GEE, IPCC (2006) pressupõe-se que a eficiência de combustão é de 100%
para CO2 e para o N2O considera fator de emissão de 990g de N2O/T de resíduo peso seco
ou 900g de N2O/T de resíduo peso úmido.
Os incineradores são unidade complexas, com automatização, dispositivos de
controle que requer alto investimento em instalação, operação, somado a alta demanda de
energia no processo (Poletto, 2008), por isso apenas 0,5% dos municípios brasileiros
encaminham seus resíduos para incineração, sendo o lodo apenas 2% (IBGE, 2010). A
umidade e poder calorifico baixo do resíduo pode inviabilizar o uso no incinerador (Hauser,
2006), no caso o LE que é predominantemente úmido (Tabela 1) deve passar por tratamento
adicional de secagem para evitar perdas energéticas durante o processo.
Em outros países como Japão (80%), Estados Unidos (30%), Alemanha (12%)
optam por incinerarem seus resíduos devido as restrições ambientais, limitação de espaço
para disposição, “know how” tecnológico e economicamente viável (Diaz, 2013).
16
Apesar dessas possibilidades de reutilização industrial, pouco se tem utilizado,
devido ao baixo interesse de mercado (Simondi et. al., 1989; Lessa, 2005) e a dificuldade
de autorização das agências ambientais estaduais.
As emissões de gases de efeito estufa são variáveis conforme a metodologia
utilizada no tipo de reuso industrial do LE. Não há um modelo padrão ou guia para a
estimativa de emissão de GEE (IPCC, 2006), nesses casos, o que dificulta a comparação
com outras rotas de reuso ou disposição de resíduo.
Outra possibilidade de reuso é na agricultura, o que já é praticado em 11,65% dos
municípios brasileiros que geram e destinam o lodo de esgoto (IBGE, 2017). O lodo pode
ser aplicado diretamente no solo ou passar pelo processo de compostagem antes de ser
aplicado. O propósito do uso do LE é melhorar as características físicas, químicas e
biológicas do solo, reduzindo custos e aumentando a eficiência na produção agrícola, em
substituição a fontes convencionais de nutrientes e matéria orgânica, como fertilizantes
minerais (Castro et al, 2015). Os atributos que conferem ao LE esse potencial é a matéria
orgânica, micro e macronutrientes minerais de interesse para as plantas (Camargo, 2003).
Dentre os benefícios do lodo estão o aumento da capacidade de retenção e infiltração de
água no solo, a disponibilização de nutrientes, a redução da toxidez de alguns elementos e
o incremento de produtividade (Corrêa, 2004). Alguns estudos demostraram que o uso do
lodo pode substituir os fertilizantes minerais como no caso da cana-de açúcar (Chiba,
2005), do milho (Lemanski & Silva, 2006), da produção de eucalipto (Lira et al., 2008;
Poggiani et al., 2006; Ferraz & Poggiani, 2014) e de plantas ornamentais (Scheer et al.,
2012; Paixão Filho et al, 2014).
Quando o lodo de esgoto é aplicado diretamente no solo, os microrganismos de
ambos os meios (lodo e solo) são responsáveis pela decomposição da matéria orgânica. A
matéria orgânica contém materiais em diferentes estágios de estabilidade, o que condiciona
a período de permanência no solo também diferenciais (Santos et al, 2008). Parte desse
material é decomposto e retorna para atmosfera na forma de CO2, o que não é contabilizado
como emissão, uma vez que a origem é biogênica (IPCC, 2006). Outra parte dos compostos
orgânicos, resultado das transformações realizadas pela microbiota do solo, permanecem
no sistema como materiais com grau de humificação mais avançado, decomposição lenta
e representam a fração mais estável de C (Santos et al, 2008), que pode ser contabilizada
como sequestro de carbono (IPCC, 2006).
O uso do LE direto no solo é regulamentado pela resolução do Conselho Nacional
do Meio Ambiente (CONAMA) n° 498/2020 que define os critérios e procedimentos para
17
produção e aplicação de biossólido em solos (BRASIL,2020b). Nessa resolução foram
estabelecidas as concentrações máximas permitidas para agentes biológicos e metais
potencialmente tóxicos no lodo de esgoto, o licenciamento da unidade de gerenciamento
do resíduo e da área de aplicação, o monitoramento das características dos lotes de lodo e
da área de aplicação e o projeto agronômico para aplicação. A maneira mais comum de se
determinar a dose de aplicação é em função do teor e da disponibilidade de nitrogênio
indicada para a cultura a ser implantada (Pires & Andrade, 2014).
A quantidade de N aplicado via lodo tem relação direta com as emissões de N2O. A
emissão de N2O ocorre por meio dos processos bioquímicos de nitrificação e
desnitrificação. A nitrificação é a oxidação do íon amônio ao nitrato por microrganismos
aeróbicos. A desnitrificação é a redução do nitrato passando por compostos intermediários,
como o N2O, que pode evoluir até a completa redução para N2, em condições anaeróbicas
prolongadas (IPCC, 2006; Santos, 2008). Durante a decomposição da matéria orgânica, o
nitrogênio é mineralizado para as formas de amônio e nitrato. Os microrganismos
consomem o O2 disponível, aumentando os nichos de desnitrificação, em que a reação de
redução do íon nitrato em N2O é preferencial à reação de redução do N2O em N2, gerando
na maioria das vezes, emissão de óxido nitroso para a atmosfera (Weier et. al., 1993;
Bremner, 1997; Wrage et. al., 2001; Santos, 2008). Considera-se que 8% do N presente LE
será emitido como N2O após a aplicação do resíduo no solo (MCT, 2010).
Há possibilidade também de emissões de metano no metabolismo da matéria
orgânica em ambientes alagados ou com baixa concentração de O2, em que sítios
anaeróbicos favorecem a metanogênese (Denmead et al., 2010). No entanto, ao considerar
a aplicação do lodo de esgoto no solo, a normatização federal Conama n° 498/2020,
preconizam que isso seja feito em solos bem drenados, com o lençol freático em
profundidade suficiente para não alcançar a camada de incorporação do resíduo. Nesses
solos há inclusive a tendência de consumo do metano pelas bactérias metanotróficas
(Grutzmacher, 2016).
A compostagem surge como uma alternativa adicional para adequação do lodo ao
uso agrícola, permitindo a estabilização, higienização e garantia de um produto seguro para
o solo (Faria, 2018).
A compostagem é o processo de decomposição aeróbia do material orgânico,
realizado por microrganismos em um sistema controlado. Os resíduos orgânicos são
dispostos em leiras, misturados conforme seu teor de umidade, tamanhos, concentração de
carbono e nitrogênio, revolvidas periodicamente para promoção da decomposição parcial
18
do material, até a obtenção de um adubo orgânico (Cerri, 2008; Faria, 2018). O composto
obtido contém nutrientes e um material orgânico mais humificado, contribuindo para a
nutrição das plantas e melhorando suas propriedades físicas, químicas e biológicas (Kiehl,
2004).
O uso do composto orgânico é regulamentado no Brasil pela Instrução Normativa
SDA/MAPA n° 61/2020, que estabelece as especificações, exigências, garantias
tolerâncias, registro, embalagem e rotulagem dos fertilizantes orgânicos e dos
biofertilizantes. Nessa normativa o lodo de esgoto é abordado como matéria-prima do
composto orgânico (BRASIL, 2020a). Como o composto orgânico é considerado um
produto seguro a ser utilizado na agricultura, seu registro tem menor burocracia quando
comparado aos trâmites para dispor o lodo direto no solo, o que tem sido um atrativo para
o mercado (Santos et. al., 2008).
O processo de compostagem é dividido em fases conforme a figura 2:
19
orgânica mais facilmente degradável, há redução nos organismos termofílicos e da
temperatura, favorecendo a predominância dos microrganismos mesofílicos que vão
sintetizar a matéria húmica e fúlvica (Epstein, 1997). A temperatura vai diminuindo e
atinge valores próximos a temperatura ambiente. Todas essas etapas compõem a fase de
bioestabilização, onde ocorre a fermentação do material até sua estabilização, agora
denominado composto semi-curado. Nesse estágio, o composto já pode ser utilizado como
fertilizante. (Symanski, 2005).
Se o processo de compostagem continuar, inicia a fase de maturação, onde ocorre a
humificação do restante da matéria orgânica, mineralização do N, P, Ca e Mg, (Cerri, 2008;
Ribeiro, 2018) e reduz a disponibilidade de metais pesados para as plantas (Vaca, 2011),
apresentando alta qualidade e sem restrições de uso (D’Almeida e Vilhena, 2000).
Durante as fases da compostagem há emissão de GEE, lembrando que o CO2 gerado
durante o processo de decomposição aeróbia do material orgânico na pilha de
compostagem não é contabilizada nos inventários, por ser de origem biogênica (IPCC,
2006). Embora seja realizado o revolvimento periódico ou a aeração das leiras de
compostagem, sítios com baixa concentração de O2 podem ocorrer, criando condições para
alguma metagênese. Estima-se que a emissão de CH4 represente menos de 1 até 8% do
carbono inicial no material da leira de compostagem (Beck-Friis, 2001; Detzel et al., 2003;
Arnold, 2005).
A compostagem também emite N2O, em taxa estimada de 0,5 a 5% do teor inicial
de nitrogênio do material na pilha de compostagem (Petersen et al., 1998; Hellebrand 1998;
Vesterinen, 1996; Beck-Friis, 2001; Detzel et al., 2003).
20
decomposição e transformação da matéria orgânica morta, convertendo em CO2 parte do
carbono presente em seus compostos.
A matéria orgânica morta é dividida em substâncias não húmicas (20 a 30%) e
substâncias húmicas (70 a 80%). As substâncias não húmicas são compostos por açúcares,
proteínas, lipídeos, celulose, lignina e hemicelulose, sendo importante fonte de carbono e
nitrogênio para microrganismos e para a síntese do húmus. Já as substâncias húmicas são
compostas pelas frações de ácidos fúlvicos, ácidos húmicos e humina, definida com base
no meio se ácido ou alcalino (Stevenson, 1994). O húmus é a forma predominante da
matéria orgânica na maioria dos solos, caracterizado pela alta estabilidade (baixa taxa de
mineralização, de 1 a 5% ao ano), e constitui globalmente um importante compartimento
de carbono (Moreira & Siqueira, 2006).
O estoque de carbono no solo ocorre como balanço entre os fluxos de entrada e
saída de C, através de processos físicos, químicos e biológicos, da matéria orgânica viva e
morta, com influência de fatores abióticos, favorecendo o acúmulo de C no solo (Six et al,
2002; Grutzmacher, 2016).
A principal entrada de C no solo ocorre por meio do processo de fotossíntese das
plantas, que fixa no tecido vegetal o carbono do CO2 atmosférico. A entrada de carbono
orgânico no solo inicia pela biomassa das raízes das plantas e pela deposição de biomassa
da parte aérea das plantas na camada superior do solo. Já a principal rota de saída de
carbono do solo é através da decomposição da biomassa morta, que em meio aeróbio,
favorece o fluxo de CO2 proveniente do metabolismo dos microrganismos. (Ontl &
Schulte, 2012). Outros processos como lixiviação, erosão e volatização também
contribuem com as perdas de C do sistema (Lal, 1997; McCarl et al. 2007; Paula &Valle,
2007).
O resultado do balanço entre estes processos de entrada e saída de C determina o
estoque no solo. O solo sob sistema de manejo que estimula a entrada de C, em detrimento
às saídas, funciona como dreno de C, na medida em que os estoques do elemento tendem
a aumentar com o tempo. Desta forma, solos agrícolas são especificamente importantes na
dinâmica global do carbono, uma vez que se pode manejar o sistema no sentido de
mitigação ou compensação das emissões de GEE (Jarecki & Lal, 2003; Syswerda et al,
2011; De Souza et al, 2012).
Em 2015 na 21° Conferência das Partes (COP21) da Convenção-Quadro das
Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCC), nasceu a iniciativa denominada “4 per
1000”, com o objetivo de aumentar em 0,4% os estoques de carbono no solo das camadas
21
mais superficiais até 30 cm (https://www.4p1000.org/). Foi proposto o sequestro de
carbono em solo através do incremento de carbono em solos agrícolas (Powlson et al.,
2011; Dignac et al., 2017). Uma dessas formas é através da aplicação de materiais
orgânicos no solo, pois representa aporte direto de C no sistema, além de poder aumentar
a produtividade das culturas e a consequente entrada de C via restos culturais.
O uso do lodo de esgoto em solo agrícola é um exemplo de uso de resíduo orgânico
que ajuda a mitigar as emissões de GEE (Tian et al.2009; Disla et al, 2010). Como
substituto de fertilizantes minerais industriais, pode-se agregar as emissões evitadas na
obtenção e aplicação destes (Bogner et al, 2007; Brown et al., 2010; Disla et al, 2010).
Além disso, a prática implica em potencial para dreno de C por meio da estabilização
parcial no solo (sequestro de C), mas isso depende também da magnitude de emissão de
N2O pelo aporte de N via lodo ao solo (Oertel et. al.; 2016).
Na literatura estrangeira há diferentes valores encontrados para o estoque de
carbono através da aplicação direta do LE no solo: faixa de 0,064 a 0,186 Mg de C estocado
por Mg de biossólido seco (Jones et. al, 2006; Tian et al, 2009; Brown et al., 2010; Trlica
& Brown, 2013; Pan et al., 2017). Em experimento no Brasil, Grutzmacher (2016) obteve
valores de 0,059 a 0,119 Mg de C estocado no solo por C aplicado via LE.
Outra forma de aumentar o estoque de carbono é através do uso do lodo compostado
(Powlson et. al., 2011; Mondini et. al., 2012). O carbono do composto fica retido no solo a
uma faixa de 29 a 53% (Fabrizio et. al., 2009; Martínez-Blanco et. al., 2013;). Além do
sequestro de C, apresentou outros benefícios como aumento da produtividade, incremento
de nutrientes, melhorou as propriedades do solo e facilidade no manejo (Favoino & Hogg,
2008; Fabrizio et. al., 2009; Powlson et. al., 2011; Martínez-Blanco et. al., 2013; Fan et.
al., 2014; Lehtinen et.al., 2017; Jeong et. al., 2018).
A taxa de sequestro de carbono no solo varia devido a muitos fatores que interferem
no processo de estocagem, como o clima (temperatura e precipitação), tipo de solo (textura,
mineralogia e estrutura) e vegetação (biomassa e manejo) (Bayer & Mielniczuk, 1997;
Salton et al., 2005; Ressck et al., 2008; Assad et al, 2013, Oliveira, 2015, Grutzmascher,
2016). As práticas agrícolas devem ser adaptadas as condições locais para que o balanço
de carbono tende ao estoque no solo (Dignac et al., 2017).
22
3 MATERIAL E MÉTODOS
23
3.1 Tipificação do lodo de esgoto
24
Para estimar as emissões foram utilizados os fatores de emissão e modelos de
cálculo presentes nas metodologias do IPCC Guidelines (2006) e GHG Protocol
Agricultural Guidance (2014). Todas as emissões estimadas foram expressas em CO2
equivalente e para isso foram utilizados os valores de potencial de aquecimento global –
PAG de 28 para CH4 e de 265 para N2O (IPCC, 2013).
Figura 4: Detalhamento das fases das rotas da disposição do LE para aterro, incineração,
compostagem e uso agrícola.
25
21,16 Mg em massa úmida de LE a ser destinado para aterro sanitário, a incineração, a
compostagem e uso direto agrícola.
em que: Emissão GEE é a estimativa de emissão em tonelada do gás de efeito estufa (CO2,
CH4 e N2O); V é a quantidade de veículos; i é o tipo de veículo; j é o tipo de combustível
consumido; t é o tipo de estrada; D é a distância (Km); C é o consumo médio de
combustível por tipo de veículo (L Km-1 ); EF é o fator de emissão conforme tipo de
combustível; GEE é o tipo de gás de efeito estufa (CO2, CH4 e N2O).
Para o transporte do LE, bem como de composto, foi considerado caminhão do tipo
com caçamba basculante, capacidade para 13 Mg (Andreoli, 1999) e desempenho
carregado é de 1,3 km L-1 de diesel (SL Ambiental, 2012; Gomes et. al., 2015).
A distância estabelecida para a destinação foi de 100 km para o aterro sanitário
(McDougall et. al., 2001; Gomes et. al., 2015), 50 km para incineração e de 40 km para o
transporte do composto até a propriedade agrícola, segundo especialista na área. Não foi
calculada a emissão do transporte do LE da ETE para a usina de compostagem, pois,
segundo especialista, a maioria das unidades nacionais de compostagem é feita in loco.
26
Todo óleo diesel brasileiro é comercializado com adição de 10% de biodiesel
(BRASIL, 2016). As emissões de biodiesel são consideradas neutras (IPCC, 2006). Assim,
a fração do diesel puro foi calculada separadamente utilizando os fatores de emissão (EF
gee) Kg do gás por litro de combustível sendo 2,681 para CO2, 0,0003 para CH4 e 0,00002
para N2O (WRI, 2014).
Na fase do manejo, quando é utilizado veículos, foi utilizada a equação 1. Para isso
foram adotadas as seguintes premissas: a operação no aterro sanitário é feita com trator de
esteira que espalha, compacta e cobre o resíduo com terra. Foi considerado consumo médio
de 13,54 L de combustível diesel por tonelada de resíduo manejado (Codepas, 2013).
Foi considerado o uso de trator com consumo de 2,4 Km L-1 (Claros Garcia & Von
Sperling, 2010), para a aplicação do LE e do composto no solo agrícola com implemento
agrícola (espalhadores de esterco ou calcáreo) com 2,8 m de largura (Civemasa, 2020),
considerando dose de aplicação de 1 Mg de C ha-1 (BRASIL, 2020b).
Para o cálculo das emissões relacionadas ao manejo em leira aerada mecanicamente
foi utilizada a equação 1, considerando trator com implemento do tipo compostador,
consumo 6 de L h-1 (Mundstock Filho & Mundstock, 1986) e eficiência de 240 Mg h-1
(Civemasa, 2020), e com revolvimento da leira 3 vezes por semana durante 21 dias
(Fernandes & Silva, 1999; Cerri, 2008; Leite, 2015).
O cálculo das emissões relacionados ao manejo da compostagem em leiras estáticas
com aeração forçada foi realizado considerando o consumo de energia elétrica pelos
aeradores, conforme na equação 2 (WRI, 2014):
em que: CO2 energia elétrica é a emissão de CO2 em função de energia elétrica (t); EE é o
consumo de energia elétrica (MWh); EF é o fator de emissão nacional de 0,0701 Mg CO2
MWh-1 (MCTI, 2020).
Foi considerada a aeração por ventiladores de 0,5 a 2 HP, consumindo de 278 W
Mg-1, funcionando intermitentemente a cada 15 min por 21 dias (Moreira et. al., 2008).
Na rota da incineração não há manejo com tratores, pois comumente são utilizados
garras mecânicas e uso de esteiras ou roscas para alimentação do incinerador. Foi utilizada
a equação 2, considerando para essa etapa o consumo elétrico de 200 kWh Mg-1 de lodo
(Chen & Kuo, 2016).
27
3.2.2.2 Processos
Aterro sanitário
A emissão de GEE total para a disposição do LE em aterro foi quantificada usando
a seguinte fórmula:
GEE aterro = (∑ PAGGEE * Te GEE) + (∑ PAGGEE * Me GEE) + (28 * CH4 aterro) Eq. 3
em que: GEEaterro é a emissão total de GEE em CO2 equivalente (Mg CO2eq); GEE é o tipo
de gás de efeito estufa (CO2, CH4 e N2O); PAG é o valor do potencial de aquecimento
global de cada GEE avaliado; Te é a emissão de GEE no transporte (Mg CO2eq); Me é a
emissão de GEE no manejo; 28 é o valor de PAG para CH4; CH4 aterro, é a emissão de
metano do aterro.
Para estimar a emissão de CH4 na disposição em aterros foi utilizada a equação 4
adaptada do método descrito em IPCC (2006). Esse modelo matemático sugere que o
processo de decomposição global pode ser representado pelo decaimento de primeira
ordem, de modo que existe maior geração de gases nos primeiros anos e seguido de
estabilização na emissão. No presente caso foi considerado um horizonte de 30 anos para
que a emissão de CH4 estabilize.
em que: CH4 aterro é a estimativa de emissão de metano em tonelada por ano; DDOCm
decomp Y é a matéria orgânica degradável decomposta no ano Y (Mg); Y é o ano
inventariado; F é a fração de metano no biogás (adimensional) foi utilizado o valor de 0,5
28
(IPCC, 2006); 16/12 é a razão para conversão de carbono (C) para metano (CH4)
(adimensional).
Os valores para matéria orgânica degradável decomposta no ano (“DDOCm
decomp y”) foram estimados através da equação 5:
29
MCF é o fator de correção do metano para decomposição aeróbia no ano da deposição
(fração), considerado o valor de 1 para aterro sanitário (IPCC, 2006).
Incineração
A emissão total de GEE para incineração de LE foi estimada conforme a equação
8:
em que: GEE incineração é a emissão total de GEE em CO2 equivalente (Mg CO2eq); PAG é o
valor do potencial de aquecimento global de cada GEE avaliado; GEE é o tipo de gás de
efeito estufa (CO2, CH4 e N2O); Te é a emissão no transporte; 265 é o valor de PAG para
N2O; N2Oincineração é a emissão de óxido nitroso na incineração.
A estimativa de emissões de N2O para incineração é definida pela equação 9 (IPCC;
2006):
Compostagem
A emissão de GEE total para a destinação do lodo para compostagem e aplicação
do composto final no solo foi quantificada usando a seguinte fórmula:
em que: GEEcompostagem é a emissão total de GEE em CO2 equivalente (Mg CO2eq.); GEE,
é o tipo de gás de efeito estufa (CO2, CH4 e N2O); PAG é o valor do potencial de
aquecimento global de cada GEE avaliado; Te é a emissão de GEE no transporte (Mg
30
CO2eq); Me é a emissão de GEE no manejo; 28 é o valor de PAG para CH4; CH4 compostagem,
é a emissão de metano para compostagem (Mg CO2eq); 265 é o valor de PAG para N2O;
N2Ocompostagem, é a emissão de óxido nitroso na compostagem; N2Ocomposto é a emissão de
óxido nitroso do composto de LE no solo.
Durante a compostagem as estimativas das emissões são para o CH4 e de N2O,
dadas pelas equações 11 e 12 (IPCC; 2006), respectivamente:
31
de solo, mudança de uso do solo e outros fatores que contribuem com as emissões, mas não
é o foco do trabalho.
Uso agrícola
A emissão de GEE total para a disposição do LE direto no solo foi quantificada
usando a seguinte fórmula:
em que: GEEuso agrícola é a emissão total em CO2 equivalente (Mg CO2eq); GEE é o tipo de
gás de efeito estufa (CO2, CH4 e N2O); PAG é o valor do potencial de aquecimento global
de cada GEE avaliado; Te, emissão de GEE no transporte; Me é a emissão de GEE no
manejo; 265 é o valor de PAG para N2O; N2Ouso agrícola é a emissão de óxido nitroso na
aplicação de LE direto no solo.
A estimativa de emissão de N2O para o lodo aplicado direto no solo foi utilizado a
equação 13, sendo o fator de emissão (EF) de 0,95% (URSEDO et al., 2013).
32
Para o LE aplicado diretamente no solo agrícola foi considerada a porcentagem do
C do LE que pode ser estocado no solo a longo prazo. Foi utilizada a proporção 5,9 a 12%
de C do LE estocado no solo, encontrada por Grutzmacher (2016) em experimento
nacional, a qual utilizou a mesma dose de aplicação utilizada para os cálculos deste
trabalho.
Para o composto de lodo foi utilizada a faixa de 29 a 40% de C do composto
estocado no solo (Sodhi et. al., 2009; Martinez-Blanco et. al., 2013).
O carbono estocado via LE e composto, foi convertido em CO2 equivalente por
estequiometria. O resultado em CO2 equivalente foi debitado da emissão de GEE total de
sua rota de disposição.
Com o uso do lodo e composto no solo, há uma emissão evitada pela não uso de
fertilizantes nitrogenados, que está associado a fabricação e transporte. Considerando a
mesma dose de nitrogênio aplicado em forma de lodo bruto e composto que deixará de ser
aplicado em fertilizante, utilizou-se o modelo indicado pelo GHG (WRI, 2014):
33
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
34
1
Referências: (1) Abreu et al, 2017; (2) Rezende, 2005; (3) Pedrosa et al, 2005; (4) Campos &
Alves, 2008; (5) Batista, 2015; (6) Cardoso, 2018; (7) Maio et al, 2011; (8) Maia, 2013; (9) Souza, 2011;
(10) Nogueira et al, 2013; (11) Pigozzo et al, 2008; (12) Oliveira et al, 1995; (13) Marchini et al., 2015; (14)
Costa et al, 2009; (15) Silva Et Al, 2012; (16) Andreoli, 1999; (17) Bonini Et Al, 2015; (18) Lopes, 2015;
(19) Sampaio et al, 2012; (20) Tsutiya, 2001; (21) Fernandes et al, 1993; (22) Berton et al, 1989 apud Moraes,
2005 (23) Carvalho, 1982 apud Moraes, 2005 (24) Bettiol et al, 1983 apud Moraes, 2005; (25) Nascimento,
2016; (26) Maria et al, 2010; (27) Melo & Silva, 2008; (28) Colodro, 2005; (29) Silva et al, 2002; (30) Soares,
2003; (31) Abreu et al, 2019; (32) Simonete et al, 2003; (33) Nascimento, 2004; (34) Gomes et al, 2006; (35)
Costa et al, 2018; (36) Caramelo, 2014.
2
C org. calculado a partir da média da relação MO/C org. (Fator de Krahembuhl = 1,96).
3
Calculado a partir da razão do C org. com N.
35
Valores entre 1,80 a 2,36 para a relação MO/C org. para uma diversidade de
resíduos orgânicos são reportados por Melo et al. (2008). Pascual et al. (1997) propõem o
valor de 2,05 para a transformação de MO para C org. e vice-versa para resíduos orgânicos
em geral, o que está próximo do 1,96 aqui apresentado. Na presente pesquisa o valor de
1,96 foi utilizado para se estimar o valor de C org. quando a publicação trazia somente
valor(es) para MO, de forma a otimizar a estimativa do atributo C org. pelo aumento do
universo amostral. Esse aumento do universo amostral foi de 56%, passando de 52
amostras, para 81 amostras. O valor de carbono orgânico para lodo de esgoto ficou
estabelecido como 295,31 g kg-1 e foi utilizado nos cálculos para as estimativas de emissão
ou captura.
Valores extremos de Ca e Mg foram excluídos no tratamento estatístico dos dados,
por meio dos limites superior e inferior do BoxPlot.
Valores extremos ocorrem devido a composição inicial do efluente doméstico ter
alta concentração desses elementos (García-Delgado et. al.; 2007), ou mais comumente
como resultante do tratamento na estação, onde podem ser usados produtos, como óxidos
e/ou hidróxidos de Ca e Mg (Costa et. al., 2014). Dessa forma, estações de tratamento com
uso de óxidos e/ou hidróxidos de Ca e Mg devem ter o lodo mais enriquecido com esses
elementos, superando os valores de máximos de 26,8 e 4,9 g kg-1 da tabela 2.
Os valores de N (30,97 g kg-1), de P (10,10 g kg-1) e de K (2,00 g kg-1) são próximos
aos valores apresentados por Raij et al. (1996) para adubos orgânicos, que são usados de
forma complementar ou em substituição a fontes minerais de nutrientes. Diversos são os
resultados de pesquisa evidenciando o potencial de fornecimento de nutrientes pelo lodo
de esgoto, notadamente de N e P (Chiba, 2005; Lemanski & Silva, 2006; Poggiani et al.,
2006; Lira et al., 2008; Scheer et al., 2012; Ferraz & Poggiani, 2014; Paixão Filho et al,
2014).
36
Tabela 3. Estimativa das emissões de gases do efeito estufa para quatro alternativas de
disposição final do lodo de esgoto no ambiente, considerando-se as fases de cada processo.
Aterro Compostagem Compostagem Uso
sanitário Incineração leira estática leira revolvida agrícola
(kg CO2-eq.)
Fase 1 373,11 186,56 - - 186,56
Fase 2 9971,41 41,55 3760,98 3727,98 7,76
Fase 3 - 186,56 74,62 74,62 -
Fase 4 - 32,84 404,85 404,85 -
Uso agrícola
Compostagem leira revolvida
Compostagem com leira estática
Incineração
Aterro sanitário
Figura 5: Emissões de gases do efeito estufa para quatro alternativas de disposição final
do lodo de esgoto no ambiente específico por gases.
37
Aterro
Na rota do aterro, o processo de degradação da matéria orgânica representa
aproximadamente 90% do total de emissões em CO2-eq. (Figura 5), sendo o gás metano o
principal emissor. Estima que no aterro gere 331,3 kg de metano para a disposição de 1Mg
de C do LE em 30 anos (Figura 6).
0,06
0,05
0,04
t CH4
0,03
0,02
0,01
0
0 5 10 15 20 25 30 35
Anos
39
4.3 Emissões mitigadas e estoque de carbono
Tabela 4: Estimativa das emissões evitadas de gases do efeito estufa para disposição final
de 1 Mg de C via lodo de esgoto no ambiente.
40
combustível, que é comumente aplicado para aquecimento ou co-geração de eletricidade
(Zanette, 2009). Para 1 Mg de C de lodo aterrado produziria aproximadamente 4.600 kwh.
Assim, o aproveitamento energético do gás metano em aterros sanitários, além de reduzir
emissões, contribui para o desenvolvimento sustentável (Brondani, 2010). Esses são os
dois pilares para projetos de MDL e esses valores confirmam o grande potencial dos aterros
sanitários para esse tipo de projeto (Torres et. al., 2016).
Total de
ROTA emissão de Emissões mitigadas Balanço final
GEE
(Mg CO2-eq)
ETE – aterro 10,34 8,37 1,98
Emissão
C estocado
evitada
ETE - compostagem (leira
4,20 3,19 a 4,07
revolvida) - solo agrícola
0,64 a 0,88 0,13
Emissão
C estocado
ETE - uso agrícola 0,19 evitada - 0,03 a -0,55
0,22 a 0,44 0,30
Após o balanço das emissões, a compostagem é rota com maior emissão (3,19 a
4,11 Mg CO2-eq) independente do seu manejo, seguido do aterro (1,98 Mg CO2-eq.),
incineração (0,45 Mg CO2-eq) e uso agrícola (-0,03 a -0,55 Mg CO2-eq).
Apesar da compostagem ser a rota com maior emissão de GEE, é a rota com maior
potencial de emissão mitigada (até 1,01 Mg CO2-eq.). Esse valor compensa as emissões
41
relacionadas ao transporte e manejo. No cenário mais otimista, a redução alcança 24% de
mitigação global de emissão de GEE.
Após o balanço, a destinação do LE para aterro é a rota com a segunda maior
emissão. A emissão de GEE durante a decomposição da matéria orgânica no aterro é
aproximadamente 90% do total de emissões em CO2-eq. Se houver a recuperação do
metano através da combustão do biogás, a emissão de CH4 reduz de 9,28 Mg CO2e para
0,91 Mg CO2e, redução de aproximadamente 80% das emissões no aterro. O que confirma
o grande potencial dos aterros sanitários com recuperação do metano para projetos de MDL
(Torres et. al., 2016).
Na rota de incineração não há meios externos de redução da emissão dos GEE.
Entretanto, a Política Nacional de Resíduos Sólidos e a possibilidade do aproveitamento
térmico tem sido um atrativo para o setor como o uso energia térmica para secagem do lodo
de esgoto (Ma et. al., 2012; Liu et. al., 2013). Segundo Brito (2012), ainda há muito
preconceito no Brasil para esse tipo de destinação devido ao uso de equipamentos obsoletos
e de difícil manutenção no passado. Porém, com equipamentos mais eficientes é possível
a rota da incineração ter o melhor desempenho comparado com as demais disposições (Liu
et. al., 2013).
A rota do uso agrícola é a de menor emissão global em CO2 equivalente (0,19 Kg
CO2eq.). Nela é possível obter 2 tipos de mitigação de GEE: através do C estocado no solo
(0,22 a 0,44 Mg CO2-eq.) e a emissão evitada pelo não uso de fertilizante nitrogenado (0,30
Mg CO2 eq.). Considerando apenas o menor percentual de estoque de carbono no solo
(5,9%), o balanço tende a negativo (- 0,03 Mg CO2 eq.), compensando toda a emissão da
rota e ainda gerando créditos de carbono. Quando considerando apenas a emissão evitada,
o balanço ainda se mantem negativo (- 0,11 Mg CO2 eq.), ou seja, compensa toda a emissão
da rota e ainda gera crédito de C compensando parte de mais uma viagem nesse percurso.
O estoque de carbono na rota do uso agrícola gera créditos de carbono compensando
até a rota de outras destinações, por exemplo para a incineração. A mesma quantidade de
lodo destinada ao solo agrícola compensa toda a emissão da mesma quantidade de lodo
enviada para a incineração. Ou também, a mesma quantidade de lodo destinada ao solo
agrícola compensa a emissão do transporte da mesma quantidade de lodo enviada para a
aterro sanitário. É possível fazer outras combinações, o que exibirá diferente desempenho
de emissão, tornando as estratégias de gerenciamento do lodo de esgoto um importante
meio para redução de emissão de GEE. (Peters & Rowley, 2009; Wang et. al, 2010; Liu et.
al., 2013; Chen & Kuo, 2016).
42
O Brasil tem muito o que melhorar em relação a disposição final do lodo de esgoto,
a fim de atender no mínimo a legislação. A destinação do lodo de esgoto deve ser
repensada, pois é recurso potencial para fornecer nutriente e combustível necessário para a
humanidade. As destinações mais nobres demonstraram também assegurar menores
emissões de gases de efeito estufa.
43
5 CONCLUSÃO
44
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