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Política de Transporte 10 (2003) 197–208


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Rumo a indicadores de mobilidade sustentável: aplicação


para a aglomeração de Lyon

J.-P. Nicolasuma,*, P. Pochetuma, H. Poimboeufb


umaLaboratoire d'Economie des Transports, ENTPE, rue Maurice Audin, 69 518 Vaulx-en-Velin cedex, França
bAssociation pour les Pratiques du Développement Durable, APDD, 35 rue Ponchardier, BP23,
42 009 Saint-Etienne cedex 02, França

Resumo
Este trabalho aplica o tema do desenvolvimento sustentável ao caso do transporte urbano e da mobilidade diária dos habitantes de uma cidade.
Sugere-se um conjunto de indicadores que consideram simultaneamente as três dimensões da sustentabilidade – ambiental, econômica e social.
Apresentamos aqui os resultados de uma pesquisa exploratória financiada pela Renault Automobile Manufacturers, realizada para verificar a viabilidade
e a utilidade da elaboração de tais indicadores de mobilidade sustentável. Valores dos indicadores econômicos, ambientais e sociais são apresentados
para o caso Lyons. Estas estimativas baseiam-se principalmente no inquérito às viagens aos agregados familiares realizado nesta cidade em 1994-1995.
No final, este conjunto de indicadores deve permitir a comparação de diferentes estratégias de transporte urbano dentro de uma área urbana, mas
também entre diferentes contextos urbanos, e através do tempo. As condições de generalização dessas medidas de indicadores são então discutidas. q
2003 Elsevier Science Ltd. Todos os direitos reservados.

Palavras-chave:Distância da viagem; Mobilidade diária; Indicadores de sustentabilidade; Pesquisa de viagens domiciliares; Metodologia; Emissões de poluentes; Despesas; Custos globais

1. Introdução – atender às necessidades de mobilidade dos moradores urbanos,


especificando um sistema de transporte eficiente;

Nas suas diferentes dimensões, ambiental, económica e – permitir o acesso ao serviço de transporte para todos;

social, o tema do desenvolvimento sustentável encontra-se hoje – oferecer uma melhor qualidade de vida nas cidades, nomeadamente através

com regularidade quando se faz alusão ao futuro dos de uma melhor protecção do ambiente.
transportes urbanos.
A nível europeu, uma diretiva-quadro define uma estratégia Este exemplo francês não é um caso isolado. A maioria dos países
comum de avaliação e gestão da qualidade do ar nos estados ocidentais exige que suas políticas de transporte estejam em conformidade
membros (JOEC, 1996). A nível francês, esta directiva deu com os padrões de desenvolvimento sustentável. As ferramentas de avaliação
origem à Lei do Ar e do Uso Racional da Energia de 30 de estão sendo desenvolvidas gradualmente para atender a essa vontade
Dezembro de 1996, que repete as exigências europeias de política.
normas de qualidade do ar, monitorização e informação ao Essas ferramentas às vezes permanecem centradas em questões
público sobre a poluição atmosférica. Mas, acima de tudo, esta ambientais. Por exemplo, o projeto TERM oferece uma série de
lei oferece uma estratégia de planejamento dentro da qual a indicadores calculados anualmente para acompanhar a evolução da
implementação de 'Plans de Déplacements Urbains' (Planos de pressão ambiental relacionada ao transporte nos países europeus (
Mobilidade Urbana – UMPs) desempenha um papel importante EEE, 2000). Em um nível mais urbano, o projeto SUTRA1propõe
em todas as cidades com mais de 100.000 habitantes. Articula insights altamente desenvolvidos sobre os impactos das viagens
três elementos necessários ao desenvolvimento sustentável urbanas na qualidade do ar e no consumo de combustível,
aplicado à mobilidade urbana. Todos os UMPs devem: combinando tráfego, emissões de poluentes atmosféricos e
modelos de dispersão.
No entanto, abordagens integradas que tomam simultaneamente as
dimensões econômica, social e ambiental da mobilidade
* Autor correspondente. Tel.:º33-4-72-04-77-42; fax:º33-4-72-04-70-
92. 1SUTRA: Transporte Urbano Sustentável. cf.http://www.ess.co.at/
Endereço de email:nicolas@entpe.fr (J.-P. Nicolas). SUTRA/.

0967-070X/03/$ - veja a capaq2003 Elsevier Science Ltd. Todos os direitos reservados.


doi:10.1016/S0967-070X(03)00021-0
198 J.-P. Nicolas et ai. / Política de Transporte 10 (2003) 197–208

em conta também estão aparecendo (Jones e Lucas, 2000; 2.1. Quais requisitos, para quais indicadores?
Kennedy, 2002). É o caso do 'Centro de Transporte Sustentável'
no Canadá. Neste projeto, foi enfatizado o processo de consulta Uma série de requisitos são necessários para indicadores
para se chegar a uma série de indicadores que contemplem as eficazes em relação aos objetivos aqui expressos.
necessidades de todos os envolvidos (Gilbert et al., 2002). Em Nomeadamente, os indicadores devem abranger as questões
França, o programa RESPECT faz parte da rede de cidades mais essenciais em jogo, devem ter uma forte coerência com a
europeias com uma Agenda 21 de 'cidades sustentáveis'. base de dados estatística e devem ser simples na fase de
Também oferece um sistema de indicadores voltados para o apresentação para que possam ser utilizados por todos os
desenvolvimento sustentável em cidades com componente de interessados. São fornecidas duas tabelas que apresentam os
transporte, mesmo que a área abrangida seja um pouco maior ( indicadores escolhidos (tabela 1), os dados usados para medi-
ARPE Midi Pyrénées, 2001). Outros trabalhos oferecem los e indicações sobre os métodos de estimativa (mesa 2).
ferramentas de avaliação da política de transportes de forma Em primeiro lugar, os indicadores devem levar em conta as questões
mais direta. O projeto europeu PROSPECTS é um excelente importantes trazidas à tona pela mobilidade dos moradores urbanos.
exemplo. Ele compila um registro de medidas concebíveis e as Temos assim nos esforçado para representar a diversidade de
avalia (Maio et al., 2002). Também oferece ferramentas de problemas inerentes. No entanto, devido à falta de dados adaptados,
tomada de decisão para tomadores de decisão e técnicos ( não desenvolvemos indicadores de poluição sonora, embora as questões
Minken et al., 2003). relacionadas ao ruído estejam se tornando cada vez mais importantes.
Comparado com essas abordagens, nosso trabalho é mais do Também não integramos questões ligadas à segurança rodoviária, pelas
que uma abordagem analítica para a compreensão dos fenômenos mesmas razões.
de mobilidade e seus impactos econômicos, ambientais e sociais ( Além disso, os problemas podem ser facilmente vistos em termos de
Nicolas et al., 2001a). Esses impactos são considerados aqui em custos econômicos, pressão ambiental e equidade social. A cobertura
termos de 'indicadores de mobilidade sustentável'. O objetivo é criar destas questões implica que as vantagens adquiridas pela mobilidade
uma ferramenta para o diagnóstico da sustentabilidade dos não sejam esquecidas. Devem ser considerados os intercâmbios diários
sistemas de viagens urbanas. No entanto, isso só é possível após na cidade, os intercâmbios econômicos, a participação social resultante
um estudo prévio dos dados disponíveis e outras informações. das viagens. Essas vantagens (velocidade, flexibilidade, possibilidade de
Esses dados devem ser ricos para permitir uma análise multinível chegar a lugares não conectados) devem ser ponderadas contra
(tipo de viagem, modo, grupos populacionais, zoneamento espacial, desvantagens quantificáveis. Estes são considerados abaixo através dos
etc.) e existir em diferentes contextos urbanos para análise níveis de mobilidade, atividades realizadas, modos utilizados, distâncias
comparativa. Assim, começamos usando pesquisas de viagens percorridas e tempo gasto em viagens (Figura 1).
domiciliares francesas como base de referência estatística. Só então
serão realizados trabalhos em outras cidades francesas, depois A forma de medir esses indicadores também é de grande
europeias, levando à comparação e análise de resultados. importância. A abordagem mais integrada possível é usada aqui,
calculando os indicadores na mesma base da mobilidade. Um
Abaixo são apresentados os resultados para Lyons. A exemplo é o da poluição atmosférica, pois seria possível referir-se
primeira consiste na metodologia adotada em relação aos às concentrações de poluentes na atmosfera. Esses dados estão
indicadores. Segue-se uma breve apresentação da pesquisa de disponíveis na maioria das grandes áreas urbanas e correspondem
viagens domiciliares e outros dados usados para o cálculo. Em diretamente à questão da qualidade do ar. No entanto, não
segundo lugar, a abordagem é apresentada através de um depende apenas da mobilidade dos habitantes, mas também de
resumo dos resultados de Lyon. outras atividades, condições climáticas, etc. Preferimos considerar
como indicador o nível de emissões calculado a partir de viagens
encontradas na pesquisa de viagens domiciliares. Os valores
2. Metodologia observados por tais indicadores podem ser explicados diretamente
por meio de análises realizadas nos moradores urbanos em
O objetivo é analisar de perto os fatores relacionados à questão.
sustentabilidade de um sistema de viagens urbanas. Isso é possível Finalmente, esses indicadores devem fornecer
com: resultados simples e acessíveis. A noção geral de
desenvolvimento sustentável implica um amplo debate e a
– Um sistema de indicadores mensuráveis que mostram as questões democratização da tomada de decisões (Nações Unidas,
relacionadas ao desenvolvimento sustentável para o transporte 1992, 2000). Isso parece ainda mais essencial no quadro da
urbano; questão da mobilidade urbana sustentável, onde a poluição
– Uma fonte de dados suficientemente detalhada para realizar a análise é causada e sofrida por todos, em diferentes graus e
e que possa ser encontrada em outras áreas urbanas para formas. Para facilitar o debate e estendê-lo para além do
estabelecer comparações. círculo de especialistas, técnicos e representantes eleitos, a
necessidade de simplicidade é óbvia, mesmo que acarrete o
A abordagem utilizada para a elaboração dos indicadores e a risco de reducionismo em relação a sistemas complexos.
utilização dos dados estatísticos é apresentada a seguir.
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tabela 1
Descrição dos indicadores

Dimensão da sustentabilidade Indicador Nível de análise

Mobilidade

Serviço prestado Número diário de viagens Estrutura Geral e por local de residência (Centro/1º anel/2º anel)
de propósitos de viagem Orçamento

de tempo médio diário Divisão

Organização da mobilidade urbana modal Em geral e por meio de transporte


Distância média diária percorrida
Velocidade média (global e por pessoa)

Econômico
Custo para a comunidade Custos anuais a cargo dos residentes da Geral e por modo (Carro, Transporte Público, Outro)
conurbação, devido à sua mobilidade nesta zona
(totaluma, por residente e por passageiro-km)
Despesas dos participantes Famílias:
envolvidos
Despesas médias anuais Geral e por modo
turas para sua mobilidade urbana (por pessoa)
Empresas:
Custos de estacionamento de funcionários Geral e por modo
Subsídios a funcionários (carros da empresa…)
Possíveis impostos locais (total, por residente e
por funcionário)
Autoridades públicas:
Despesas anuais para investimentos e operações Geral e por modal (Rodoviário/Transporte Público)
(total e por morador)

Social
Proporção de famílias que possuem 0, 1 ou mais carros No geral, por faixa de renda (Baixa, média, alta) e local de
residência (Centro/1º anel/2º anel)
Distância viajada
Gastos com mobilidade urbana:
– valores para transporte público/privado; para custo
fixo/variável do carro
– participação na renda média das famílias

Ambiental
Poluição do ar—questão global Consumo anual de energia e CO2emissões Globalmente, por modo, por zona de emissão, por local de residência
(total e por morador)
Poluição do ar—questão local Níveis de CO, NÃOx, hidrocarbonetos e partículas Globalmente, por modo, por zona de emissão, por local de residênciab
(em g/m2, total e por morador)
Consumo de espaço Consumo individual diário de espaço público envolvido Em geral, por modalidade e por local de residência
em viagens e estacionamento (em m2h) Espaço ocupado
pelas infraestruturas de transporte Níveis de intensidade Geral e por local de residência
Outros itensc de ruído
Risco de acidente

umaAntes dos impostos, para evitar contas duplas.


bA expressão das densidades populacionais em cada uma dessas zonas facilitará a comparação dos resultados das diferentes conurbações.
cNão medido em nosso estudo de caso, devido à falta de dados.

Deve-se ressaltar que este trabalho de comparação deve ser é pertinente para cidades europeias, não pode ser reproduzido
aplicado a diferentes cidades onde as configurações espaciais, sem cautela, por exemplo, em cidades norte-americanas, onde
compartilhamento de densidade, zoneamento administrativo a noção de 'centro' pode às vezes ser vaga.
podem ser muito diferentes. Para melhor controlar este fator Para serem transferíveis para outros contextos, estes indicadores
optou-se, sempre que possível, por distinguir o núcleo urbano necessitam de informações relativamente básicas: um (ou mais) inquéritos de
denso histórico, sendo o primeiro anel constituído por municípios viagens ao domicílio, permitindo conhecer as características das viagens num
vizinhos e o segundo anel que abrange os restantes municípios da determinado dia (origens e destinos; modos de utilização; tipo de automóvel:
área de estudo. A medição da densidade de cada uma dessas zonas combustível, idade e potência , estacionamento) e as características do
permite, portanto, observar eventuais divergências entre as cidades domicílio (tamanho e composição, renda, localização, motorização). Certos
comparadas. Note-se que esta distinção, que elementos, como custos fixos, podem ser
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mesa 2
Fontes de dados e método de medição

Indicador Fonte de informação Principais indicações sobre o método de estimativa

Mobilidade
Número de viagens, orçamento de tempo, propósitos de viagem, divisão HTSLuma Medição direta
modal Distâncias:
– Viagens motorizadas HTSL (para matriz O-D)b Estimado com um modelo de atribuição (DAVISUM) Estimado
– Viagens não motorizadas HTSL com hipótese de velocidade: 3 km/h para caminhada, 12 km/h
para bicicleta
Velocidade HTSL ¼Distância/Duração (para viagens motorizadas)

Econômico
Investimento total anual em estradas e custos operacionais Custos Administrações locaisc Estimativa com alocação parcial para vias
de estacionamento público HTSL urbanas Medição direta
Imposto local ('Verst. Transport') SYTRALd Medição direta
Custos de estacionamento e subsídios aos funcionários HTSL Medição diretaºestimativas locais de acordo com a
localização das empresas (Centro/1º anel/2º anel) Estimativa
Despesas das famílias HTSLºNHCSeºNTCSf para cada item, veja abaixo, 'Social'

Social
Renda familiar por unidade de consumo HTSL Medição direta
Nível de motorização HTSL Medição direta
Despesas de transporte público HTSL Estimado com o custo unitário médio (0,65e/viagem)
Despesas de combustível HTSL Estimado a partir da distância urbana total e do consumo
unitário de combustível dependendo do modelo do carro
Estacionamento diurno HTSL Medição direta
Estacionamento residencial NHCS Estimativas nacionais alteradas por estimativas locais, por
local de residência (Centro/1º/2º anel)
Custos fixos do carro alocado à mobilidade urbana (em NHCSºDados de fabricantes Estimado para habitantes de grandes cidades, por grupo de renda por
proporção de sua % no total de quilômetros de carro) de automóveisºNTCS unidade de consumo (Baixa/média/alta)pnível de motorização (0/1/2 e
mais)
NTCS: usado para estimar a mobilidade urbana de fim de semana e a %
do total de km de carro percorrido na conurbação de residência

Ambiental
Consumo de energia e emissões de poluentes HTSLºENCONTRO (1999) Estimado com base no modo utilizado, distância percorrida e
consumo unitário de combustível de acordo com as características
do veículo utilizadog
Consumo do espaço público:
– viajando HTSL Estimadoh
- pelo estacionamento HTSL Estimadoeu
Espaço ocupado pelas infraestruturas de transporte Bancos de dados de estradasj Medição direta com hipótese de largura da via de acordo
com o tipo de via

umaHTSL: Household Travel Survey realizado na conurbação de Lyon em 1994 e 1995.


bO–D em 329 zonas. Para viagens intrazonais, distância estimada por: 1/2 sqrt (S) onde S: superfície da zona.
cou seja, 'Grande Lyons', Departamento, Região e Serviços Departamentais de Equipamentos.
dSYTRAL: Autoridade Local de Transporte Público.
eNHCS: Pesquisa Nacional de Consumo das Famílias ('Enquête Budget des Familles') INSEE 1995.
fNTCS: Pesquisa Nacional de Transportes e Comunicações INSEE-INRETS 1993–1994.
gÔnibus urbano/mot. 2 rodas (,50 cm3, .¼50 cm3)/carro (por cavalo-vapor, faixa etária, combustível usado).
hCdeu¼deueueuk=veuneuOndedeu¼dimensão de um veículoºdistância entre dois veículos (m),eueu¼largura da pista (m),k¼duração da viagem (km),veu¼velocidade média (km/h),n
eu¼taxa de ocupação do veículo (número de passageiros).

euCeu¼seuheu=neuOndeseu¼superfície de um lugar (m2),heu¼duração do estacionamento (h),neu¼taxa de ocupação do carro.


jFontes de dados fornecidas pelo Instituto Geográfico Nacional (IGN).

estimado em outros lugares em base semi-agregada (por categoria 2.2. As pesquisas de viagens domiciliares e as outras fontes de
de renda, por nível de motorização e por local de residência). informação
Também as distâncias podem ser estimadas desde a origem e
destino. Finalmente, os custos colectivos podem ser Esse conjunto de requisitos nos levou a considerar o uso de
complementados por fundos atribuídos pela comunidade às redes pesquisas de viagens domiciliares como uma boa fonte de dados.
rodoviárias, transportes públicos, bem como contribuições diversas As informações fornecidas por tais pesquisas são extremamente
de empresas privadas (possíveis impostos, parques de ricas. O item estatístico básico é a viagem, mostrada através do
estacionamento para funcionários). modo, sua origem, seu destino, etc. Para cada viagem podemos
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Fig. 1. A mobilidade e seus desafios de sustentabilidade.

assim, juntar seu impacto ambiental e seu custo – que é o famílias, ou seja, 14.000 indivíduos que realizaram 53.000
que fizemos aqui. Essas pesquisas também fornecem uma viagens.
descrição das pessoas que realizaram essas viagens, suas As vantagens destes inquéritos não devem, contudo,
características socioeconômicas e suas razões: indicadores mascarar os seus limites. Não foram feitas com o objetivo de
sociais podem, portanto, ser construídos a partir dessas estudar o desenvolvimento sustentável, sendo necessário um
pesquisas. Essa riqueza também leva a inúmeras certo número de estimativas de outras fontes. Seus limites
investigações para entender a dinâmica socioeconômica do dependem do método específico escolhido para cada país.
sistema de viagens observado e descrever seus impactos. A Neste artigo, nos contentaremos aqui com aqueles encontrados
análise pode, portanto, ser feita em nível de viagem ou em na França.
nível mais agregado por modo ou tipo de população,
dependendo do que for necessário. Essas vantagens foram 1. Em primeiro lugar, as informações fornecidas pela pesquisa devem ser
usadas por Jean-Pierre Orfeuil para apresentar a ideia de preenchidas de várias maneiras, dependendo dos indicadores a
Orçamentos de Energia de Transporte (Orfeuil, 1984), serem elaborados. Por exemplo, as pesquisas francesas não
posteriormente ampliado para Orçamentos de Energia do oferecem nenhuma indicação sobre a geração de poluição ambiental
Ambiente de Viagem (veja, por exemplo,Gallez, 1995, 2000). de uma viagem e muito pouca informação que permita o cálculo de
Inquéritos deste tipo foram realizados na maioria das custos. Portanto, outras bases de dados foram consultadas,
cidades europeias. Existem diferentes metodologias de país notadamente para emissões de poluição (ENCONTRO, 1999) e, para
para país, mas mesmo que necessitem de tratamento os custos fixos do automóvel doméstico.

específico, a margem de comparação é real. 2. Além disso, as pesquisas de viagens domiciliares francesas
Em nível francês, as pesquisas de viagens domiciliares que foram fornecem apenas a origem e o destino de cada viagem, sem
usadas em nosso trabalho seguem um procedimento padrão em todo o precisão quanto ao itinerário. No caso de Lyon utilizamos
país, garantindo fácil reprodutibilidade para os indicadores propostos. A um modelo de atribuição de viagens motorizadas, que
pesquisa é supervisionada pelo CERTU2(CERTO, 1998). Renovadas representa a maioria das distâncias percorridas (94% dos
localmente a cada 10 anos ou mais em todas as grandes cidades passageirospquilômetros pelos nossos cálculos). Testes de
francesas, essas pesquisas levam em consideração todas as pessoas com sensibilidade mostram, no entanto, que a utilização de
idade superior a 5 anos pertencentes às famílias pesquisadas, que são distâncias em linha reta entre origens e destinos corrigidas
representativas da área em estudo. Eles registram as características
por um fator de 1,3 dá resultados muito satisfatórios em um
socioeconômicas juntamente com todas as viagens realizadas no dia
nível mais agregado.3

anterior ao levantamento. No caso de Lyon, em 1995 dispomos assim de


3Os melhores resultados são obtidos com uma correção desse coeficiente de 1,3
informações relativas a 6000 sob o princípio de que quanto maior a distância, mais a viagem tende a se aproximar
de uma linha reta (Galez, 1995): CC¼cfd*ð1; 1º0; 3* eð2cfd=20ºº;com CC¼0 para cfd¼0 e
2Centre d'Etudes sur les Réseaux, les Transports, l'Urbanisme et les CC¼cfd*1; 1 para cfd. 20km; dc: distância corrigida; cfd: como a distância de vôo do
constructions publiques—Centro de Estudos para Redes, Transportes, corvo. Mais precisão nesses testes e no coeficiente de 1,3 podem ser encontrados em
Urbanismo e Obras Públicas. (Nicolas et al., 2001b).
202 J.-P. Nicolas et ai. / Política de Transporte 10 (2003) 197–208

3. Qual mobilidade urbana para quais resultados?

3.1. Mobilidade dos habitantes de Lyon através da pesquisa de viagens


domiciliares de 1994-1995

A Grande Lyon, como mostra a pesquisa de viagens


domiciliares de 1995, conta com 1,2 milhão de habitantes
por 1.100 km2. A população está altamente concentrada em
um centro urbano denso: 45% da população reside em 5,7%
do território, resultando em uma densidade de 8.900 hab/
km2em oposição a 430 no 2º toque. Este perímetro é inferior
ao da área urbana do INSEE, que melhor representa a zona
de influência de Lyon.
Essas diferenças são claramente visíveis na mobilidade dos
moradores das cidades. De uma zona para outra, os sistemas de
viagem são facilmente vistos mudando com a densidade e o tipo de
habitação. A mobilidade medida em número de viagens parece
idêntica: 3,7 viagens por pessoa em média. Por outro lado, ao
caminhar, o transporte público e o automóvel são utilizados de
forma relativamente equilibrada no centro (1,59; 0,63 e 1,57 viagens
Fig. 2. Tráfegos urbanos não considerados nas pesquisas de viagens domiciliares.
diárias, respetivamente), o automóvel assume rapidamente a
3. Por fim, esse tipo de levantamento registra apenas as liderança nas zonas menos densas (0,73; 0,30 e 2,50 viagens
viagens diárias de quem reside dentro de um determinado diárias). As distâncias diárias por habitante constituem o indicador
perímetro. O tráfego de trânsito, os residentes peri-urbanos determinante das emissões de poluentes. Eles são muito mais
que entram na cidade e o tráfego de mercadorias na área da longos em áreas periféricas (Fig. 3), pois são cobertos mais
cidade não são cobertos (Figura 2). No nosso caso, rapidamente graças ao carro. Desta forma, o tempo de deslocação
combinando com resultados de modelos de tráfego de mantém-se mais ou menos o mesmo em toda a cidade (59 min em
diferentes naturezas que ocorrem na área urbana de Lyon ( média por dia e por pessoa).
Routhier e Ambrosini, 2001; Durand e Masson, 2001), O contexto urbano, e notadamente o tamanho da cidade,
estima-se que representem cerca de 45% do total de desempenham um papel determinante que pode afetar
veículospquilômetros expressos em PCU4coberto em toda a sensivelmente os indicadores propostos de mobilidade sustentável.
cidade de Lyon. Nas horas de ponta, segundo estimativas do Assim, uma comparação com a região de Paris que conta com 10
Lyons CETE (Centre d'Etude Technique de l'Equipement— milhões de habitantes (em uma área de estudo maior do que Lyon,
Centro de Estudos Técnicos de Equipamentos), esta parcela, pois abrange toda a região de Ile-de-France,Galez, 1995) mostra
ainda não contabilizada, atinge 51% devido às distâncias simultaneamente:
significativas percorridas dentro do perímetro por
residentes periurbanos que trabalham na conurbação. – fortes semelhanças no número de viagens por dia por
pessoa e na estrutura de propósitos,
– mas também diferenças notáveis:
Estas viagens, tanto de pessoas como de bens, que não
pquanto às distâncias percorridas, se o local
se enquadram no âmbito do nosso campo de estudos, não
de residência é central ou periférica (em média
estão sujeitas à mesma lógica económica ou social e a sua
º70% na região parisiense),
regulação não envolve as mesmas ferramentas que a
mobilidade que focamos: a mobilidade diária dos citadinos
nas áreas urbanas. Deve-se sublinhar para exercícios de
comparação que sua importância depende do tamanho do
perímetro levantado. Em particular, quanto maior o
perímetro, mais tráfego periurbano é considerado dentro
da área de estudo. Para comparar corretamente duas áreas
urbanas, é importante estimar os diferentes tipos de
viagens não considerados. A distinção entre centro, 1º e 2º
anel também facilita a comparação entre vários perímetros.

4Unidade de Automóveis de Passageiros. Um veículo leve de mercadorias é 1,5 Fig. 3. Distâncias diárias percorridas por modo de acordo com o local de residência,
PCU, um veículo pesado, 2 PCU e um caminhão articulado, 3 PCU. Lyon, 1995.
J.-P. Nicolas et ai. / Política de Transporte 10 (2003) 197–208 203

p alto uso de transporte público em Paris (12,1 km sistema de viagens. Outras fontes de informação são, portanto,
por dia por pessoa em carros particulares e 10,0 necessárias (mesa 2).
em transporte público, contra 10,4 e 2,6 em Lyon), Em primeiro lugar, no que diz respeito às viagens de indivíduos,
é essencial estimar os custos fixos do automóvel. Isso foi feito
p e em velocidades mais altas em Paris (17,4 km/h, graças à Pesquisa Nacional de Consumo Domiciliar de 1995. Apenas
todos os modos juntos, contra 14,1 em Lyon). uma parte desses custos fixos deve ser destinada à mobilidade
urbana. Para esse objetivo, são necessárias chaves para o
No entanto, apesar de um sistema de transporte mais compartilhamento da mobilidade entre áreas 'urbanas' e
eficiente em Paris, um diário parisiense gasta 30% mais tempo 'interurbanas' (Nicolas et al., 2001b). Utilizámos o Inquérito Nacional
em viagens do que o seu homólogo de Lyon. As definições das aos Transportes e Comunicações para estimar, em primeiro lugar, a
áreas de estudo explicam até certo ponto estas diferenças: ao percentagem de quilómetros urbanos percorridos durante o fim-de-
contrário do inquérito de viagens domiciliares que foi realizado semana e, em segundo lugar, a proporção de quilómetros
em toda a Ile-de-France, em Lyon não incluiu toda a bacia da percorridos na própria cidade.
área habitada: levando em consideração Lyon e seus arredores, Além disso, os orçamentos comprometidos pelos outros
resultar em uma população adicional de 20%, e com um participantes (empresas, autarquias, Estado) não são, por
aumento das distâncias totais da ordem de 30% sobre o total. definição, abrangidos por estes inquéritos. Uma vez que ainda
As distâncias médias seriam assim afetadas, mas as diferenças não existem 'contas de viagem' na conurbação de Lyon, as
de escala entre os dois exemplos seriam tais que a principal diferentes autoridades envolvidas permitiram-nos reconstituir
divergência em termos de distância e orçamento de tempo esta informação.
permaneceria. As viagens urbanas realizadas pelos habitantes de Lyon têm um
Assim, mesmo que atendam ao mesmo tipo de necessidades, os custo total global dee1,15 bilhão 2002, antes de impostos e para
sistemas de transporte das duas cidades poderiam ser organizados de todos os participantes (famílias, autoridades públicas e empresas).
forma diferente e aparentemente teriam impactos ambientais, Isso corresponde a um custo coletivo médio dee955 por pessoa e
econômicos e sociais marcadamente divergentes. por ano, sendo 670 para o automóvel (69% para veículos e seu
Para além do serviço prestado pelo sistema de viagens assim funcionamento, 21% para estacionamento, 10% para estradas), 260
apresentado (nível de mobilidade e finalidades da viagem) e pelas para transporte público urbano e 25 para os demais modais (Fig. 4).
suas características organizativas (modos utilizados, distâncias
percorridas, velocidades e distâncias diárias das viagens), ficam por Considerando a organização dos diferentes modos de
colocar questões sobre o seu funcionamento e os seus impactos transporte, e os respetivos custos e a frequência da sua utilização
ambientais. pelos habitantes de Lyon, isto corresponde a um custo médio total
dee0,23 por passageiro-quilômetro. Grandes variações aparecem
3.2. Indicadores econômicos: custos globais do sistema de transporte por modo (e0,21 por passageiro-quilômetro em carros, 0,46 para
urbano de Lyon transporte público urbano, 0,23 para outros transportes públicos,e
0,37 para duas rodas motorizadas e um custo considerado nulo
Do ponto de vista econômico, o objetivo é determinar a para os demais modos). Essas diferenças devem ser interpretadas
relação custo-benefício das viagens dentro da conurbação por com cautela, pois, isoladas das demais dimensões, não levam em
uma análise detalhada de seu custo global, por um lado, e o consideração o serviço prestado por cada modalidade. Por exemplo,
custo por modo de viagem, por outro. A ideia é se inspirar nas o transporte público permite um bom fluxo de carros no centro e
'contas de viagem' francesas (Duprez, 2001; Quin et al., 2001), cumpre um papel de serviço público, notadamente para os 'não
identificando “quem paga o quê” e sobrepondo os diferentes motorizados'. Estes números ajudam a lembrar que se uma
pontos de vista: o da comunidade como um todo em primeiro alternativa à política do automóvel for oferecida pelo
lugar, e também o dos diferentes participantes envolvidos: desenvolvimento do transporte público, isso acarreta custos não
famílias, empresas e poder público. Os custos e negligenciáveis.
constrangimentos sentidos por esses participantes não se
enquadram necessariamente neste primeiro quadro devido às
transferências fiscais de todo o tipo geridas pelo Estado.
Ressalta-se que a poluição ambiental, como a poluição
atmosférica e a ocupação do espaço público, embora tenham
sido medidas fisicamente, não foram consideradas
economicamente. Procurámos evitar que o mesmo elemento
fosse tido em conta duas vezes, na esfera ambiental e na esfera
económica. Também quisemos distinguir claramente, do ponto
de vista analítico, o que pertence a cada uma dessas duas
dimensões.
O levantamento de viagens domiciliares por si só não é suficiente Fig. 4. Componentes de custo para mobilidade urbana: o ponto de vista coletivo,
para estimar os custos e a eficiência econômica de uma conurbação Lyons, 1995.
204 J.-P. Nicolas et ai. / Política de Transporte 10 (2003) 197–208

Devido às transferências estatais, estes custos não são sentidos de


forma uniforme pelos diferentes participantes. Com todos os impostos
incluídos, as famílias gastame835 por pessoa por ano no carro ee75
sobre transporte público (todos os domicílios juntos, com ou sem carro,
sobre sua mobilidade urbana dentro da cidade). As empresas pagame
510 impostos por ano e por trabalho, oue130 por habitante (este
imposto, denominado 'transporte de verso', financia parcialmente os
investimentos em transporte público). Eles também pagam um
equivalente anual dee83 por funcionário para estacionamento e
aproximadamentee70 pela sua mobilidade (carros da empresa). Quanto
ao Estado, consagrae76 por pessoa por ano para estradas e
estacionamento, ee70 por pessoa por ano para transporte público.
Fig. 5. Taxa de posse individual de automóvel nos domicílios segundo sua
categoria de renda por unidade de consumo.
Sublinhe-se que o conjunto de figuras aqui apresentado
parece ser sólido. As despesas domésticas calculadas estão para calcular os custos fixos do automóvel (compra, reparação e
associadas às contas da SYTRAL relativas ao transporte público manutenção, seguro, imposto de circulação) de acordo com as
e às avaliações nacionais da mobilidade geral do automóvel (em diferentes categorias de rendimento*motorização. Por último, estimou-
médiae4415 por agregado familiar em Lyon em 1995, contra, se um valor para os custos de estacionamento em função do local de
respectivamente,e4100 e 4570 a nível nacional para as contas residência e do número de viaturas do agregado familiar. Este valor foi
nacionais e para os fabricantes de automóveis). Essas médias inteiramente atribuído ao uso urbano (mesa 2).
escondem disparidades importantes dependendo do tamanho Os primeiros resultados obtidos indicam que o carro não é de
da família, sua renda e sua localização na cidade. forma alguma um bem totalmente democratizado (Fig. 5). Entre as
famílias de baixa renda, 40% não possuem carro, contra menos de
25% nas de renda média e menos de 10% nas de alta renda. Além
disso, tanto em Lyon como a nível nacional, a multipropriedade de
3.3. Indicadores sociais: distâncias percorridas não afetadas pela
automóveis ocorre essencialmente em agregados familiares de
renda, mas restrições orçamentárias altamente variáveis
rendimentos elevados (Hivert, 2000).
A posse de carro, no entanto, é suficientemente difundida para que,
Em um contexto de crescentes desigualdades de renda na
mesmo entre as famílias de baixa renda, mais de 2/3 dos casais em que
França, como na maioria dos países da OCDE, e de acentuada
nenhum dos cônjuges trabalha possuem carro, assim como 85% dos
sensibilidade dos moradores das cidades à evolução de seus custos
casais sem filhos e 90% das famílias com pelo menos um membro
diários de mobilidade, as questões de equidade social devem ser
trabalhador. Esta generalização da propriedade privada e o uso
examinadas com muito cuidado. Que distâncias urbanas cobrem,
crescente do automóvel têm gerado custos privados consideráveis para
para que finalidades e quanto do seu orçamento representam as
determinadas categorias de agregados familiares, colocando a questão
despesas com a sua mobilidade diária? Para considerar os
da equidade social no centro do debate sobre o transporte urbano.
constrangimentos relativos e as posições dentro da população
urbana, é necessário relacionar os vários indicadores (distância
Dez por cento dos moradores urbanos, principalmente
percorrida, despesas) tanto ao nível de renda5e para o local de
trabalhadores, residentes suburbanos, respondem por 40% das
residência.
distâncias totais percorridas. Globalmente, esta análise confirma que a
Vimos que as pesquisas de viagens domiciliares francesas não
dimensão do agregado familiar e a sua estrutura determinam em
fornecem nenhuma informação sobre as despesas. Esta despesa
grande medida as atividades e as deslocações a realizar, bem como as
teve, portanto, de ser estimada de diferentes formas de acordo com
distâncias diárias percorridas, estando este último indicador
as seguintes rubricas: para despesas de combustível, com base na
intimamente ligado ao local de residência. Vale a pena notar que, tudo o
quilometragem percorrida, para estacionamento diurno, com base
mais constante, as economias de escala têm pouco impacto na
no número de viagens como condutor de um automóvel em
organização da mobilidade: os casais não trabalhadores cobrem
parques de estacionamento pagos. A Pesquisa de Consumo das
aproximadamente o dobro da quilometragem dos não trabalhadores
Domicílios, complementada por dados das montadoras, possibilitou
solteiros; o mesmo se aplica a casais trabalhadores sem filhos em
comparação com indivíduos trabalhadores solteiros. A comparação das
5Para classificar os domicílios em três terços iguais (baixa, média e alta
distâncias percorridas por famílias e casais com apenas um assalariado
renda) utilizou-se a renda porUnidade Equivalente para Adultos (AEU), que
permite ter em conta as economias de escala que podem existir em indica que a presença de crianças no domicílio aumenta as necessidades
determinadas despesas das famílias e é um fator de comparação mais fiável de mobilidade da unidade domiciliar muito além das viagens realizadas
para famílias de dimensão e estrutura diferentes do que apenas o rendimento pelas próprias crianças. No entanto, para uma dada situação económica
total. A renda aqui é dividida por um número deequivalentes adultosou um
e local de residência, as distâncias percorridas dificilmente variam. Se a
número de AEU. O número de AEU é calculado da seguinte forma: o primeiro
renda desempenha um papel crucial, sua influência ocorre bem antes,
adulto tem o valor de um, quaisquer outros com 14 anos ou mais têm o valor
de 0,5 e os menores de 14 anos têm o valor de 0,3 (verHourriez e Olier, 1997). na escolha do local de residência, nas possibilidades de motorização
(especialmente
J.-P. Nicolas et ai. / Política de Transporte 10 (2003) 197–208 205

Fig. 6. Valores e participação da renda média dedicada ao transporte urbano pelos domicílios, segundo renda e local de residência.

bimotorização) e o tipo de carro utilizado.6A sua influência situa- 3.4. Indicadores ambientais: urbano x suburbano?
se também a jusante, nas despesas ligadas à mobilidade
urbana. A lacuna entre transporte e meio ambiente parece
O montante gasto por agregado familiar está, assim, crescer cada dia mais:
intimamente dependente do rendimento e do local de residência,
desde pouco menos dee100 por mês para famílias de baixa renda – a nível global, desde as duas crises petrolíferas dos anos 70 e a
do centro da cidade, para aproximadamente 330 para famílias consciência do consumo de energia até agora, com as
suburbanas de alta renda (Fig. 6). No entanto, devido às preocupações com o efeito de estufa;
significativas disparidades de renda, o esforço das famílias para – a nível local, com a crescente ansiedade em relação à
atender às necessidades de mobilidade urbana, medida em parcela poluição atmosférica, o aumento da poluição sonora, a
da renda, proporciona uma classificação totalmente diferente, de 6 presença física mais visível com o aumento da
a 12% entre os moradores urbanos de alta renda e as famílias de mobilidade automóvel e o desenvolvimento das
baixa renda de no 2º anel, essas taxas aumentam para além de 15% infraestruturas rodoviárias.
para os domicílios motorizados deste último grupo.
Outro resultado interessante que os indicadores de despesa Dentro desse quadro, três conjuntos de questões foram
esboçam, nas famílias de baixo rendimento, é que a estrutura retidos para tratar a questão ambiental: os do efeito estufa
da despesa é ligeiramente mais afetada pelos custos variáveis, global e do consumo de energia; questões locais de poluição
nos transportes públicos (20% do total, contra menos de 10% atmosférica local (a poluição sonora também deve ser
nas restantes famílias). e em combustível (24% do orçamento integrada, mas não pode ser devido à dificuldade de trazer à luz
do carro contra 20%). Esta maior participação dos custos indicadores simples pertinentes); questões relativas ao espaço
variáveis no 'orçamento do transporte urbano' das famílias ocupado pelas infra-estruturas rodoviárias e pelos diferentes
menos privilegiadas pode ser atribuída à utilização mais modos.
frequente do transporte público e também à compra mais Em relação aos níveis de poluentes emitidos por modo,
frequente de veículos usados, embora a utilização de cada um nossos cálculos deram origem a um certo número de
destes veículos seja tão importante para eles como é para as resultados (Tabela 3):
famílias privilegiadas.
Esta maior percentagem de rendimentos dedicada à mobilidade – O automóvel, incluindo condutor e passageiros, que
urbana, reforçada por um maior impacto dos custos variáveis no representa 53% das viagens e 74% das distâncias
total global, evidencia a extrema sensibilidade das famílias menos percorridas na conurbação, ocupa o primeiro lugar
privilegiadas a qualquer variação do custo de funcionamento do como responsável pela quase totalidade das emissões
automóvel. Isso foi demonstrado pelos súbitos aumentos nos de CO e hidrocarbonetos, mais de 90% do CO2emissões
custos de combustível no ano 2000, especialmente (embora não e consumo de combustível, mais de 80% do NOx
apenas) no caso de famílias suburbanas que tendem a usar seu(s) emissões e partículas.
carro(s) com frequência. O mesmo raciocínio se aplica, em menor – O transporte público, que representa 13% das viagens e 19% de
todas as distâncias percorridas, contribui para o NÃOx
grau, aos custos do transporte público, especialmente no caso de
famílias de baixa renda no centro da cidade ou no primeiro anel.
(19,5%) e partículas (15%) devido a motores diesel. O
impacto do transporte público é relativamente limitado
6Há duas vezes mais veículos antigos (com mais de 5 anos) em famílias de por causa do sistema de metrô que não emite nada e
baixa renda do que em famílias de alta renda (61% contra 31%). responde por 35% dos passageiros-quilômetro de
206 J.-P. Nicolas et ai. / Política de Transporte 10 (2003) 197–208

Tabela 3
Papel dos diferentes modos nas viagens e emissões de poluentes na conurbação de Lyon

% de viagens urbanas % de distâncias % de emissões de poluentes

CO2 CO COV NÃOx Partículas

Passageiro de carro 12.3 15.1 – – – – –


Motorista 40,7 58,9 91,8 98,4 94,7 80,3 84,7
Veículos a gasolina 29.2 40,2 60,7 96,7 91,4 64,9 0,0
Veículos a diesel 11,5 18,7 31.1 1,7 3.3 15,5 84,7
Transporte público urbano 12.2 16,8 6.9 0,7 1.3 17,3 12,9
Transporte público não urbano 1.1 2.3 1.1 0,1 0,3 2.2 2.2
Veículos motorizados de 2 rodas 0,6 0,6 0,1 0,9 3.7 0,0 0,0
Caminhar 32,0 5.2 0 0 0 0 0
Bicicleta 0,7 0,6 0 0 0 0 0
Outros modos 0,4 0,5 0 0 0 0 0
Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

da rede, e pela sua taxa de ocupação: aqui estão locais de residência. De fato, a dispersão das atividades nas zonas
colocadas as apostas essenciais para os sistemas de suburbanas aumenta a duração das viagens e os moradores locais
transporte público, ou seja, estas duas variáveis de precisam de mais espaço para circular. Eles emitem 2,5 vezes mais
ocupação e a proporção de tração elétrica. poluentes atmosféricos do que os moradores do centro da cidade,
contribuindo significativamente mais para a poluição regional e
Vale ressaltar que os veículos motorizados de 2 rodas emitem 6 vezes mundial.Fig. 8).
mais hidrocarbonetos do que a proporção de quilometragem percorrida O contexto no centro da cidade é diferente. A concentração
- mesmo que seus números ainda sejam relativamente baixos. humana e de atividades leva a uma concentração considerável de
emissões; esta zona do espaço urbano é, portanto, muito mais
Para melhor destacar os problemas locais, esses sensível à poluição local. O nível de emissão por m2é, por exemplo,
comentários iniciais precisam ser refinados por uma 15 vezes maior do que em áreas suburbanas, e está diretamente
abordagem mais geográfica, que dará uma visão geral das relacionado à concentração de tráfego de automóveis (Fig. 7).
concentrações de acordo com a zona de emissão. Os poluentes Por um lado, temos um centro urbano denso que concentra
foram, portanto, atribuídos ao seu local de emissão com base fluxos de tráfego e populações que têm um impacto negativo
na viagem que os gerou; isso nos permitiu estimar as taxas de significativo nas fontes de poluição percebidas imediata e
emissão por m2dentro do centro da cidade, o primeiro e localmente; por outro lado, temos zonas suburbanas extensas,
segundo anéis. onde as emissões de poluentes são menos perceptíveis, pois
Os resultados obtidos enfatizam a importância do tipo de são diluídas em áreas maiores. Nessas zonas suburbanas, os
urbanização e, principalmente, da densidade de locais de problemas de ocupação do espaço e de poluição regional e
residência sobre os níveis de emissão de poluentes. O global provavelmente aumentarão como resultado do
automóvel é o meio de transporte mais utilizado e também o crescimento esperado do tráfego.
mais poluente por quilómetro percorrido; variações em seu uso Em termos de ocupação do espaço, podem notar-se diferenças
podem explicar os níveis muito diferentes de emissão ligados a ligadas ao local de residência. Hipóteses de consumo de
tempo*espaço de mobilidade e de consumo de espaço de
estacionamento dos diferentes modos de transporte (Vivier, 1997ou
veja mesa 2), nos permitem analisar o espaço ocupado por

Fig. 8. Níveis de emissão por pessoa e por dia dependendo do local de


Fig. 7. Taxas de emissão por m2dependendo da zona. residência.
J.-P. Nicolas et ai. / Política de Transporte 10 (2003) 197–208 207

Tabela 4
Consumo individual diário de espaço público ocupado em viagens de acordo com o local de residência na conurbação de Lyon (em m2h)

Automóvel Transporte público Caminharºbicicleta Motorizado de 2 rodas Total


(Viajar por) (Viajar porºestacionamento no exterior) (Viajar porºestacionamento no exterior)

Viajar por Estacionamento público

Centro 10,7 31,7 0,83 0,53 0,28 44,0


1º toque 15,6 27,9 1,45 0,44 0,24 45,6
2º toque 22,5 21,6 0,98 0,50 0,43 46,0
Todos juntos 15,4 27,8 1,03 0,50 0,32 45,0

que os habitantes de Lyon se desloquem de acordo com pode diferir muito de cidade para cidade, como se pode supor a
o seu local de residência e o meio de transporte partir da comparação da mobilidade na área urbana de Lyon e
escolhido. Foi escolhido focar esta medição na ocupação na região de Paris. O destaque dessas diferenças alimentará o
do espaço público (Tabela 4) para o uso feito pelos pensamento sobre o caráter sustentável dos sistemas de
indivíduos de seu espaço privado já foi valorizado nas viagens urbanas. Esta análise comparativa também permitirá
dimensões econômica e social (mesa 2). refinar a lista não exaustiva de indicadores aqui proposta.
O espaço público ocupado diariamente por viagens individuais é
relativamente pouco afetado pelo local de residência: aproximadamente Como as fontes de dados são homogêneas para a França, uma
45 m2h por pessoa e por dia. Outro dado estável é que o automóvel análise comparativa está em andamento. Também parece ser muito
representa a maior parte do consumo do espaço público (em média 96%) interessante explorar recursos estatísticos em diferentes países
independentemente do local de residência. O estacionamento parece ser europeus para conduzir uma comparação internacional com
uma componente essencial deste consumo de espaço. De fato, mesmo diferentes culturas de mobilidade e políticas urbanas contrastantes.
que um carro em movimento ocupe mais espaço do que um carro
parado, ele está se movendo menos de 5% do tempo (4,7% de acordo
Uma segunda direção diz respeito à possibilidade de
com a pesquisa de viagens domiciliares de Lyon). Embora os
integrar tais indicadores em ferramentas de previsão. Dada a
estacionamentos privados sejam a opção preferida na conurbação de
evolução atual das questões ligadas à mobilidade, parece útil
Lyon, um carro fica estacionado em média 7 horas em espaços públicos,
ter um modelo estratégico para lançar luz econômica, social e
totalizando 31% do tempo total de estacionamento. A ocupação do
ambiental sobre os diferentes cenários de desenvolvimento do
espaço ligada aos modos de transporte evidencia assim diferenças claras
sistema de viagens urbanas a serem testados. Estudos prévios
relacionadas com a proximidade ao centro da cidade.
de comparação em diferentes áreas urbanas ajudariam na
seleção dos indicadores mais pertinentes.
Dentro da conurbação, para cada m2ocupados pelas viagens, 30
Por fim, deve-se insistir na abordagem mais descritiva e
são ocupados pelas infra-estruturas. Esta alta taxa varia de acordo
analítica, em oposição à normativa, proposta no artigo. Nosso
com as zonas: 1–11 para o centro da cidade, 1–22 para o 1º anel e 1–
objetivo não é oferecer normas para definir sustentabilidade e
65 para o 2º anel. Mesmo que as estimativas tenham sido feitas no
nossa definição da noção de desenvolvimento sustentável
momento da construção, esses números são lembretes claros de
permanece relativamente vaga. Dois princípios ligados a essa
que a expansão da habitação suburbana é um maior consumidor de
noção nortearam este trabalho. Em primeiro lugar, torna-se
espaço do que a habitação no centro da cidade.
cada vez mais urgente poder considerar a mobilidade e as suas
diferentes dimensões de forma integrada em vez de olhar
sistematicamente apenas uma de cada vez. Além disso, e
4. Conclusão e pesquisa adicional dentro da lógica do ponto anterior, a agregação de diferentes
indicadores não parece ser uma boa abordagem. Os campos
O objetivo foi alcançado: é possível desenvolver indicadores econômico, social e ambiental são, em parte, irredutíveis um do
de mobilidade urbana sob a ótica do desenvolvimento outro. A ferramenta aqui proposta não é oferecer uma
sustentável. A aplicação realizada no caso Lyons mostra que hierarquia de situações e projetos que possam ser comparados.
resultados consistentes podem ser obtidos com a possibilidade Nosso objetivo, a montante, é ampliar pontos de vista para
de uma análise minuciosa dentro de cada dimensão, alimentar o debate. As necessidades para o desenvolvimento
econômica, social e ambiental. O uso de pesquisas de viagens sustentável podem ser encontradas mais na ideia de que as
domiciliares resulta em forte coerência entre as análises condições de desenvolvimento de um sistema de transporte se
realizadas nos três campos. unem às de um processo paritário no que diz respeito às
O próximo passo a ser dado é reproduzir essa abordagem diferentes dimensões previstas. Entre o serviço prestado pela
em um conjunto de áreas urbanas com características mobilidade urbana, seus impactos ambientais, seus custos e as
diferenciadas, tanto pelo tamanho e organização do sistema de questões de equidade social que surgem, todos registraram
transporte quanto pela estrutura urbana. Esses contextos melhoria dentro de um
208 J.-P. Nicolas et ai. / Política de Transporte 10 (2003) 197–208

dimensão pode ser interpretada positivamente desde que não seja Projeto MEET, 1999. Metodologia para Cálculo de Emissões de Transporte

em detrimento de outra. e Consumo de Energia, Serviço das Publicações Oficiais das


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