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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO

FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS


DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA
CAMPUS JANE VANINI

Docente: Dra. Leila Nalis Paiva da Silva Andrade

Discentes: Dhjonnes Paulo Gonçalves, Jefferson Lopes de Assunção, Josué de Souza,


Natiély Honorato Araújo e Relaine Cruz Poquiviqui.

Disciplina: Geomorfologia I

Atividade 1: Levantamento e estudo morfoestrutural e morfoescultural do


município de Porto Esperidião/MT através do projeto RADAMBRASIL e análise
da aplicação dos táxons por Jurandyr Ross no texto da Província Serrana.

O município de Porto Esperidião situado à sudoeste do estado de Mato Grosso,


possui uma inúmera diversidade de paisagens caracterizada por grandes rios e serras em
todo o seu extenso território.
Através do projeto RADAMBRASIL, que foi operado entre os anos de 1970 e
1985, e da classificação do relevo brasileiro que foi baseado no próprio projeto e
proposta pelo professor Jurandyr L. S. Ross nas décadas de 80/90, foi possível
identificar os fatores geomorfológicos e litológicos que compõe o relevo da cidade.
O município se localiza na região da Depressão do Alto-Paraguai que segundo
o projeto, “é uma superfície de relevo pouco dissecada, com pequeno caimento
topográfico de nordeste para sudoeste, com topos planos e drenagem pouco profunda”
(RADAMBRASIL, 1982). Essa região é banhada pelo rio Paraguai e seus afluentes
dentre os quais está o rio Jauru, que percorre a cidade de Porto Esperidião, sendo um
grande atrativo turístico e um dos meios de subsistência da população.
Essa subunidade de relevo é caracterizada, principalmente, pela sua
composição litológica quaternária e pela organização da sua drenagem
(RADAMBRASIL, 1982), que faz com que ela se diferencie de outras paisagens. Nos
trechos que correspondem ao município de estudo, pode-se destacar uma unidade
geomorfológica de relevo bem perceptível que é a Serra de Santa Bárbara, que fica
localizada entre os territórios de Porto Esperidião e Pontes e Lacerda, no domínio do
Vale do Guaporé entre os estados de Mato Grosso e Rondônia, e que possui como
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principais características as extensas “cuestas” em todo o seu entorno e a sua formação


litológica bem antiga, composta por rochas vulcânicas e sedimentares (MATOS, 1994).
A região do município cortada pelo rio Jauru, desenvolveu o modelado
geomorfológico do tipo T41 que se caracteriza pelo “padrão de drenagem paralelo, com
fraca dissecação no relevo e com interflúvios razoavelmente amplos, com topos planos
e drenagem de primeira ordem pouco profunda” (RADAMBRASIL, 1982). Em
decorrência, essa região será coberta por areias Quartzosas (Neossolo Quartzarênico)
com vegetação de Florestas Estacionais nas regiões do tipo Apf (planícies fluviais).
Enquanto as regiões planas do tipo Epi (pediplano inundado), que corresponde a uma
pequena porção do Vale do Guaporé, é caracterizada pelos Latossolos Vermelho-
Amarelos com vegetação de Savana Arbórea Densa (RADAMBRASIL, 1982).
Alguns trechos dessa região, denominada Planície Cristalina do Jauru
(ALMEIDA, 1964) é caracterizada por uma área de superfície pediplana do tipo C21,
que também se caracteriza pela fraca dissecação contendo algumas formas tabulares.
Esta acima citada é estruturada pelas formações mais antigas da Formação Pantanal e
caracteriza-se por períodos de alagamentos (RADAMBRASIL, 1982).
Segundo o Mapa Geológico v.26 (Ministério de Minas e Energia;
RADAMBRASIL, 1982), quanto à formação geológica, o município apresenta uma
grande diversidade na sua composição. Destaca-se as formações Fortuna (P€f), Pantanal
(Qp), Jauru (Cj), Bauxi (P€bx), Complexo do Xingu (P€x), Suíte Intrusiva do Rio
Alegre (P€ao) além da presença de aluviões atuais (Há). A composição mineralógica
das rochas que dão origem a estas formações é bem ampla e diversificada: cobre, zinco,
areia, siltes, argilas, quartzo são exemplos dos minerais e dos sedimentos mais
abundantes encontrados na região. Destaca-se que essas formações se deram pelo
depósito destas partículas em planícies inundadas, que foram se sedimentando e
compactando ao longo do tempo.
No que se refere aos solos presentes na região, pode-se observar uma grande
variedade trazida pelo Mapa Exploratório de Solos v.26 (Ministério de Minas e Energia;
RADAMBRASIL, 1982). Os Argilossolos (PVd11, PVd19, PE1) e os Latossolos (PLd1
e PLd2) são os tipos de solo em maior abundância na região. Todavia, existem nela
também solos do tipo BV1 (Chernossolo), HLa2 (Plintossolo) e Neossolos
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Quartzarênicos, presentes em menor frequência.


A vegetação local também é bem sortida: ressaltam-se as do tipo Saf (Arbórea
Aberta com Floresta de Galeria), Sps (Parque Sem Floresta de Galeria), Sd (Arbórea
Densa) e a Fae (Floresta Aluvial Dossel Emergente), onde quase todas são marcadas
pela presença de florestas densas, abertas ou de galerias, que são características dos
biomas Cerrado e Savana que são os predominantes na região (Ministério de Minas e
Energia; RADAMBRASIL, 1982).
Por conter essa variedade de solos e uma formação litológica diversificada, a
região é propícia para a criação de gado (pecuária) e para a cultura de certos grãos e
plantas, como a soja, o milho e o algodão que são os principais produtos gerados pela
agricultura local. Essas culturas juntamente da pecuária e da pesca são as formas mais
típicas de uso e exploração do solo e dos recursos naturais da região, além de serem as
fontes de geração de renda e sobrevivência do munícipio.

Aplicação dos táxons por Jurandyr Ross

A questão da taxonomia do relevo surge justamente da necessidade de


classificá-lo e organizá-lo de acordo com os detalhes observados na análise do relevo
em estudo. Para isso, se faz necessário o conhecimento de toda a estrutura da superfície
estudada, considerando desde as pequenas unidades até as maiores, que conseguinte
implicaram em sua melhor caracterização e classificação.
Jurandyr Ross (1992), propõe em sua classificação seis unidades taxonômicas
(táxons), que são definidas conforme suas características. São elas:
1° Táxon – Unidades Morfoestruturais;
2° Táxon – Unidades Morfoesculturais;
3° Táxon – Padrões Fisionômicos de Formas;
4° Táxon – Formas de Relevo;
5° Táxon – Elementos em formas de vertentes;
6° Táxon – Formas de processos atuais.
No estudo da Província Serrana, Ross aborda algumas dessas categorias
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taxonômicas como meio de compreensão e classificação do relevo. São elas: a


morfoestrutura (1° táxon); a morfoescultura (2° táxon); os padrões fisionômicos de
formas (3° táxon) e os elementos em forma de vertentes (5° táxon), ambas observadas e
analisadas através do uso de cartas geomorfológicas em escalas médias, imagens de
radar e materiais bibliográficos de outros autores, que permitem o estudo da superfície e
sua caracterização.
A análise da morfoestrutura (1° táxon) dentro da Província Serrana, consistirá
em representar os processos endógenos da Terra que são encarregados de moldar todas
as grandes/extensas formas do relevo (ROSS, 1991). A morfoescultura (2° táxon) é
abordada no texto como um elemento ativo no processo de desenvolvimento do relevo
associada aos processos exógenos, que se manifesta melhor nas pequenas formas do
relevo contidas nas grandes formas (ROSS, 1991).
Os processos endógenos (morfoestrutura) sobre o relevo inicial da Província
Serrana foi moldando-o e posteriormente, esculturando-o, dando origem a novas formas
(morfoescultura) sobre a superfície. As depressões (Periférica de Paranatinga, Alto-
Paraguai) presentes em quase todo o território serrano e os planaltos (Parecis, Planalto
da Bacia do Paraná) são exemplos de unidades morfoesculturais oriundas do processo
de esculturação do relevo.
Dentro dessas unidades morfoesculturais estão contidos alguns compartimentos
morfológicos específicos, que são classificados pela terceira categoria taxonômica,
como padrões fisionômicos de formas. Na Província Serrana pode-se citar como
exemplos dessas unidades as Serras de Cuiabá, do Tombador, Vira-Saia, entre outras.
A quinta categoria taxonômica (elementos em formas de vertentes) é trazida no
texto a partir da análise dos materiais disponíveis, que apontam para a existência de três
níveis morfológicos bem distintos (450-550m, 600-700m, 800-860m), planos ou
retilinizados, cujas características altimétricas variam em cada ponto da Província
Serrana. Esses níveis apresentam processos erosivos em maior ou menor evidência que
combinado aos processos endógenos da Terra, atuaram/atuam como os principais
agentes de formação e transformação destas vertentes.
O primeiro nível dessas vertentes possuí altitude variável de 450m a 550m
(Serras da Cancela e de Nobres), sendo o mais baixo e o menos erodido da Província
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Serrana. O segundo nível apresenta altitudes de 600m à 700m (Serras do Cuiabá e Azul-
Morro Selado) a leste-nordeste da Província e contém topos planos e retilinizados. Já o
terceiro nível está a 800m-860m (Serra da Araras e Serra Água Limpa) no sul da
Província e caracteriza-se por topos planos em sinclinais alçadas (ROSS, 1991).

Parte II: Estudo da morfoescultura e da fisiologia do relevo do munícipio


de Porto Esperidião/MT e sua aplicação na sala de aula.

Quanto a morfoescultura, inúmeros fatores intempéricos tem agido sobre a


região atuando na esculturação e na reformulação do relevo e da paisagem do município
desde a sua origem. O clima e a própria ação humana são exemplos de agentes
exógenos ativos e recentes que vêm atuando intensamente nos últimos tempos na
transformação deste território.
A princípio, a formação inicial do relevo deu-se a partir do esculpimento, por
processos erosivos, de rochas pré-cambrianas e de sedimentos que datam dos períodos
terciários e quaternários (RADAMBRASIL, 1982), que foram se fragmentando e se
compactando em planícies inundadas, dando origem as formações sobre as quais
surgiram as vegetações, os solos e as paisagens presentes no município. Destacam-se as
serras, as cachoeiras e as florestas densas como principais constituintes desse relevo.
Todavia esse relevo tem sido transformado por meio de processos naturais e
humanos, que tem atribuído a ele novas formas e características. Os primeiros, por meio
das chuvas, dos ventos e das temperaturas, atuam na varredura de sedimentos e
nutrientes da superfície do solo deixando-o totalmente exposto a várias situações
erosivas. Já o homem, através das queimadas e dos desmatamentos, seja para a criação
de pastagem ou para agricultura, tem moldado essa região de acordo com suas
necessidades, removendo a camada de vegetação natural causando danos ao solo e ao
meio ambiente.
Desse modo, nota-se atualmente no território, grande degradação ambiental
resultante das modificações ocasionadas pelos agentes antrópicos e naturais da Terra.
Regiões antes marcadas por florestas densas ou serras de mata fechada, hoje deram
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lugar a pastos ou a culturas específicas, o que ocasionou grande perda de espécies


nativas e enfraquecimento do solo local.
A necessidade de abordar essas questões fisiológicas e morfoesculturais na sala
de aula, surge exatamente da precisão em se conhecer esses impactos a fim de discutir
sobre o relevo para além do que se lê nos livros didáticos. Esses, por sua vez, podem ser
debatidos a partir das experiências de cada aluno, através da inserção de categorias
como lugar e paisagem, que fazem com que eles assimilem suas realidades com o
conteúdo em estudo, de modo que as mudanças sobre o relevo sejam perceptíveis e não
mais presas as definições trazidas nos livros. A aula a campo é um exemplo de
metodologia que pode ser utilizada para tornar essa visualização pelo aluno um pouco
mais direta, de forma que ele possa analisar de perto tudo aquilo que já foi dito no
material teórico.
Ademais conhecer o sobre o relevo, em específico o da nossa região, e
entender sobre seus fatores de esculturação, serve-nos de orientação para sabermos
quais as melhores formas de trabalharmos sobre ele, de modo menos danoso e
prejudicial ao ambiente.

REFERÊNCIAS

Projeto RADAMBRASIL: Folha SD.21 Cuiabá; geologia, geomorfologia, pedologia,


vegetação e uso potencial da terra. Rio de Janeiro, 1982.

MATOS, João Batista de. Contribuição à geologia de parte da porção meridional


do cráton amazônico: região do Rio Alegre, MT. Orientador: Johann Hans D.
Schorscher. 1994. 108 fls. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em
Mineralogia e Petrologia, Instituto de Geociências, Universidade de São Paulo, São
Paulo, 1994. Disponível em: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/44/44135/tde-
02102015-154743/publico/Matos_Mestrado.pdf. Acesso em: 25 de set. 2022.
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ROSS, Jurandyr Luciano Sanches. O contexto geotectônico e a morfogênese da


Província Serrana de Mato Grosso. Revista do Instituto Geológico, São Paulo, V.12,
N° 1-2, p. 21-37, jan./dez., 1991. Acesso em: 25 de set. 2022.

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