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Título: Intenso
Revisão: Lidiane Mastello
Capa: Larissa Chagas
Diagramação: Nathalia Santos
O lugar que acontecia a festa naquele domingo era um antigo bar que
eu e meus amigos costumávamos vir. Ele nunca foi muito movimentado e
talvez fosse por isso que o dono quis mudar o entretenimento para uma casa
noturna, atraindo mais jovens para o estabelecimento.
Tudo estava incrível, eu não podia negar isso.
Mas eu estava no tédio.
Kate agarrou o braço de Edward e foram dançar há dez minutos e eu
fiquei no bar, bebendo uma água, porque não queria estar de ressaca no meu
primeiro dia de serviço. Minha amiga até tentou me levar junto para a pista
de dança, mas não estava a fim, talvez eles estivessem com razão e eu
estava muito enferrujado para esse tipo de programação.
Tudo o que eu queria agora era ir para a minha casa e passar um
tempinho com Lady, a minha cachorrinha. Ela provavelmente estava
sentindo mais a minha ausência nessa semana e deveria estar triste com
isso.
Há dois anos eu adotei Lady, ela era considerada da raça SRD e estava
na rua quando a encontrei machucada. Acho que foi amor à primeira vista, a
levei para o meu hospital e cuidamos da sua saúde, mais tarde descobri que
ela tinha apenas cinco meses e foi então que aproveitei para fazer a sua
castração quando já estava comigo.
Hoje, com um olho azul e o outro caramelo, ela conquistava o coração
de cada pessoa que encontrava na rua.
Inclusive o meu, todos os dias.
Uma jovem mulher se sentou ao meu lado e pediu uma bebida, o
esbarrão que ela deu em mim que me despertou dos meus pensamentos.
— Desculpa. — Ela sorriu, mostrando os dentes brancos. — Está
sozinho?
Bom, essa é direta.
Seus cabelos eram loiros e os olhos castanhos claros, se não fosse a
sua juventude explícita por trás da maquiagem marcante, eu até poderia
conversar mais com ela.
Quantos jovens menores de vinte e um anos entraram nessa festa? Que
tipo de segurança este estabelecimento tinha?
— Com alguns amigos — respondi.
Antes que ela falasse qualquer coisa, me levantei.
— Licença, tenha uma ótima noite.
Desejei antes de sair de perto dela.
Uma hora dentro daquele estabelecimento foi o suficiente para saber
que não estava mais em forma e que eu precisava voltar para casa, e
descansar. Amanhã o dia será longo e com um novo serviço.
Fui para a pista de dança procurar os meus amigos e avisá-los que
voltaria para a minha casa, quando fui abruptamente interrompido.
Não foi um tipo de interrupção normal.
Foi um beijo.
Meus olhos estavam bem abertos quando a garota de cabelos escuros e
olhos marcados por uma sombra forte, grudou a boca na minha.
Do nada.
Eu realmente estava enferrujado para esses tipos de coisas.
Passados os primeiros segundos de puro choque, eu consegui me
movimentar. Segurei os ombros da morena e a afastei de mim, sem
corresponder àquela loucura.
Quando os seus olhos abriram, senti o meu próprio coração dar uma
batida mais forte que o normal ao ver seus olhos. Eram verdes.
Os verdes mais lindos que eu já havia visto na vida.
Ela usava uma maquiagem forte que apenas destacava aquela cor, os
cabelos eram lisos e meio encaracolados nas pontas, dando um volume que
só a deixava mais bonita.
A primeira pergunta que me fiz foi: por que essa garota precisava
beijar alguém do nada?
Ela tinha toda a beleza do mundo concentrada em cada parte do rosto e
do seu corpo.
Que por falar nele, ela estava vestindo um vestido preto e justo, que
marcava as suas coxas grossas, a bunda firme, cintura fina e os seios
médios.
Eu parei de inspecionar no momento que meus olhos voltaram a olhar
nos seus e a vi chorando. Até pisquei três vezes para ver se não estava tendo
um tipo de sonho maluco, mas não, ela realmente estava chorando.
Lágrimas deslizavam por seu rosto como uma cachoeira.
A música alta e as pessoas dançando ao nosso redor me
impossibilitavam de perguntar o que estava acontecendo com aquela garota.
Sem pensar em nada, além do seu bem-estar, peguei a sua mão e a
levei para a porta dos fundos do estabelecimento. Quando entrei na casa
noturna foi a primeira coisa que vi, uma segunda porta de saída.
Saímos da casa noturna e finalmente pudemos respirar um ar livre,
sem música alta e sem pessoas ao nosso redor.
A jovem estava tão presa na sua tristeza que não percebeu nem o que
estava ao seu redor. Ela estava chorando tanto que eu me peguei sem saber
o que fazer.
Minha mão ainda estava segurando a sua, quando eu as separei e me
afastei um pouco do seu corpo. Não sabia o que dizer naquele minuto, a
situação era muito constrangedora para nós dois, tanto para ela que me
beijou sem pedir permissão como para mim, que não fazia ideia do que
fazer com alguém que começava a chorar.
Estendi a garrafinha de água intocável que eu peguei antes de sair do
bar para ela.
A garota pareceu finalmente notar a minha presença e segurou a
garrafa com a mão trêmula, abriu a tampinha e tomou um gole, mesmo que
seus olhos ainda derramassem lágrimas.
— Eu nem deveria estar me metendo, mas... — A olhei, procurando as
palavras certas. — Por que fez isso?
Não era lógico perguntar se ela estava bem, não quando estava claro
que não estava.
Ela suspirou, em meio às lágrimas e se sentou no chão, pouco se
importando que o vestido havia levantado e mostrado mais das suas coxas.
Desviei o olhar.
— Me... des... desculpa. — A sua voz era muito bonita. — Eu...
Foi a minha vez de respirar fundo.
Fiz o mesmo que ela e me sentei ao seu lado, encostando as minhas
costas na parede da casa noturna.
— Eu aceito as desculpas, se você prometer que não vai sair agarrando
o primeiro que aparecer por aí novamente. — Tentei usar o senso de humor
para dissipar a sua tristeza.
Ela parecia muito mal.
E por algum motivo isso me incomodava.
— Foi apenas um erro — ela disse, tentando controlar o choro. — Não
vai se repetir.
A garota não olhava nos meus olhos, e isso também me incomodava.
— Está tudo bem, eu aceitei as suas desculpas — a tranquilizei. —
Acho que todos temos aqueles dias ruins que agimos por impulso.
Ela bebeu um pouco mais de água.
— É — disse, simplesmente.
Ficamos alguns minutos em silêncio.
Quando ela finalmente controlou o choro, me olhou. Seus olhos
analisaram cada pedaço do meu rosto e desceram demoradamente para o
meu corpo, suas pupilas se arregalaram por um minuto, até que ela fechou
os olhos e pareceu resmungar consigo mesma.
A cena seria engraçada se estivéssemos em outra situação.
— Está tudo bem? — perguntei, apenas por curiosidade.
Ela abriu bem os olhos.
— Você é tipo...muito mais velho.
Eu ri.
— Estou me sentindo um senhor de sessenta anos agora. — A olhei
curioso. — Quantos anos você tem?
— Eu não vou dizer — se negou.
— Tenho trinta e cinco — falei a minha idade. — Até você me chamar
de velho eu não me sentia um.
— Ah, me desculpe, eu não quis... ofendê-lo, é só que... — Ela se
atrapalhou nas palavras. — Você é muito bonito, não é velho e... Meu Deus!
Que vergonha! Eu não deveria ter beijado você.
Prendi o riso, ela parecia estar se distraindo do que quer que tivesse
acontecido essa noite e que a fez me beijar.
— Você é menor de idade?
Uma parte de mim temeu a sua resposta.
O corpo e a maquiagem não condiziam com uma garota menor de
idade, mas desses jovens eu podia esperar qualquer coisa.
— Eu sou maior de dezoito anos, não se preocupe — ela disse, me
deixando muito mais aliviado.
— Fico mais tranquilo quanto a isso.
— Preciso entrar. — Ela tentou levantar. — Devem estar me
procurando.
Me levantei e estendi a mão para ela.
— Você está bem? — perguntei, enquanto a ajudava a se levantar.
— Com muita vergonha, mas bem. — Sorriu de lado. — Obrigada por
não me xingar ou fazer algo ruim comigo, não sei o que um homem na sua
situação faria.
— Você deve ter tido um motivo para ter feito o que fez. — Tentei
entender. — Só não faça mais, ok? Nem todos os caras são como eu.
Ela assentiu.
Percebi um rubor mais forte que o blush que usava cobrir as suas
bochechas, ela estava mesmo com vergonha.
— Vai me dizer o seu nome?
Ela me devolveu a garrafa de água.
— Para quê? Sinceramente? Eu não quero ver o senhor tão cedo. —
Foi muito sincera, o que me fez rir.
— Eu gostaria de vê-la novamente. — Também fui sincero.
— Bom... já dizia a minha mãe, querer não é poder. — Ela se afastou.
— Até nunca mais.
Balancei a cabeça rindo.
— Você não quer ajuda para encontrar os seus amigos?
— O lugar é pequeno, eu me viro muito bem sozinha. — Acenou. —
Me desculpa novamente.
Pisquei os olhos, ela já não havia pedido desculpas?
— Está tudo bem — a tranquilizei novamente. — Daqui alguns dias
você nem vai se lembrar do que aconteceu.
— Engano seu... — murmurou, mas eu consegui ouvir.
Antes que eu pudesse falar mais alguma coisa, a garota entrou dentro
da casa noturna, me deixando sozinho com uma garrafa de água inacabada.
Eu perdi o interesse pela festa assim que não encontrei mais a garota
de olhos tristes, passaria a chamá-la daquela forma, já que a tristeza
profunda que vi naqueles olhos mexeu muito comigo.
Não me passou despercebido como ela passou do choro a
espontaneidade em questão de minutos, talvez por se sentir mais
envergonhada por estar chorando na minha frente como uma garota que
havia acabado de levar um pé na bunda do namorado.
Quando cheguei em casa fui recebido por Lady, ela ficou contente pela
minha farra ter durado apenas duas horas e eu poder passar boa parte da
noite ao seu lado, porque sim, a cachorra gostava de dormir comigo.
— Também senti sua falta, amigona. — Acariciei a sua cabeça. —
Espero que não tenha feito nenhuma bagunça.
Ela latiu e eu esperava que fosse uma resposta negativa.
Fomos para o meu quarto e quando abri a porta, Lady foi direto para
cima da cama, bagunçando os lençóis enquanto corria de um lado para o
outro no colchão. Sorri para a cena e a deixei se divertindo sozinha
enquanto ia até o meu guarda-roupa.
Peguei uma nova cueca e fui para o banho.
Retirei a minha roupa quando entrei no banheiro, mas antes disso, abri
o registro da água para ir esquentando mais, devido ao frio que fazia lá fora.
Mesmo que o aquecedor da casa estivesse ligado, ainda tinha um ar frio por
algumas partes do imóvel.
Só então fui para baixo do chuveiro.
A água quente foi bem recebida por todo o meu corpo frio do ar da
noite.
Janeiro era um mês muito frio em Campbell.
Não fiquei muito tempo na água quente, mesmo que o meu corpo
protestasse quando eu saí do banheiro alguns minutos depois, vestido com a
minha cueca e pronto para aumentar o aquecedor do quarto e dormir como
um bebê.
Lady latiu assim que me viu se aproximar da cama, seu rabo abanando
e entre as suas patas estava um ursinho de pelúcia que minha mãe havia
dado para ela brincar.
— Você quer brincar a essa hora?
Ela latiu novamente.
Peguei o ursinho e o balancei no ar, a fazendo ficar agitada e para só
depois jogar do outro lado do quarto. Lady foi correndo buscar.
Ela corria de um lado para o outro no quarto com o ursinho na boca.
Usei aquele momento para relaxar a cabeça no travesseiro e fechar os
meus olhos, quase que automaticamente os olhos verdes e tristes da garota
de mais cedo tomaram conta dos meus pensamentos.
Seu choro parecia esconder muita dor.
Por que uma jovem tão bonita como ela precisou beijar alguém
daquela forma? E o mais estranho... o seu choro logo depois.
Como se alguém tivesse partido o seu coração naquele momento.
A curiosidade sempre me levou muito longe, foi com esse traço que eu
segui um caminho difícil e longo para chegar aonde eu estava. Ser curioso
nos abria portas inimagináveis, mas para haver um lado positivo nisso, você
tinha que ser curioso com coisas que o fariam crescer, que o fariam bem.
Eu estava curioso a respeito da garota de olhos tristes.
Ela era uma mistura de tristeza e mistério, ao mesmo tempo, que eu
conseguia ler algumas das coisas que parecia estar sentindo, seu lado
misterioso ofuscava tudo. Em alguns momentos, ficou claro que ela estava
sofrendo e em outros... parecia que ela estava... tranquila.
Mas a probabilidade de encontrá-la novamente era mínima. Campbell
não era uma cidade gigante, mas havia muitos jovens devido a universidade
e se eu a visse, era provável que a perderia no meio de uma multidão.
Foi por isso que decidi parar de pensar no ocorrido, amanhã iniciaria
um novo emprego em uma universidade que fez parte do meu crescimento.
A garota de olhos tristes só ficaria nos meus pensamentos, atiçando a
minha curiosidade e a minha preocupação, porque esse também foi outro
traço que ela despertou em mim.
Quando me separei dela e a vi chorando... algo dentro de mim se
comoveu como nunca havia acontecido antes, era como se eu tivesse que
protegê-la e foi o que eu fiz naquele momento, a levei para fora e tentei
acalmá-la.
Suspirei, ao mesmo tempo que Lady subiu na cama e deitou a cabeça
no meu braço.
— É melhor dormimos, não é mesmo, garota?
Ela aninhou mais a cabecinha no meu braço.
— Tenha uma boa noite, Lady.
Seus olhinhos se fecharam e eu aproveitei para estender o outro braço
e apagar a luz do quarto. Fechei os meus olhos e me permiti sonhar naquela
noite, mesmo que fosse com olhos tristes me encarando de longe.
Queria me esconder.
Não, melhor.
Queria morrer.
Eu não podia acreditar que o homem que eu ataquei de forma
vergonhosa ontem à noite era o meu professor.
Isso só podia ser uma brincadeira de muito mau gosto do destino. Só
ele para me fazer passar por uma situação constrangedora dessa forma.
Senti aquela mesma vontade de chorar, igualzinho a que senti ao ter o
meu beijo ignorado pelo homem na noite passada. É claro que ele ignoraria,
qualquer um com cérebro faria isso, mas juntou com a mágoa que senti ao
ver Jordan com outra, tudo desandou e acabei chorando que nem um bebê
na frente do desconhecido, tornando tudo ainda mais vergonhoso.
Mas dessa vez o choro que estava entalado na minha garganta era de
puro constrangimento.
Meu Deus!
Eu gostaria de estar tendo um pesadelo, pelo menos poderia acordar e
perceber que tudo não passava de um sonho ruim.
O homem, ou melhor, meu professor, me olhava igualmente surpreso.
Pelo visto, ele também pensava que tudo era uma brincadeira do destino.
Com um pouco mais de clareza consegui o observar melhor.
Eu estava certa quando disse que ele era bonito.
Pele negra, olhos escuros e cabelos em um corte buzcutt. Ele tinha um
pouco de barba, o que dava um certo charme para o homem. Combinado a
tudo isso, ele também tinha muitos músculos e era neles que a minha amiga
estava babando desde que me puxou de forma vergonhosa.
Que vergonha.
Que vergonha.
Que vergonha.
Repetia mentalmente, querendo sumir como um fantasma de dentro
daquela sala de aula.
O professor foi o primeiro a desviar o olhar.
— Bom dia, turma — primeiro ele cumprimentou com aquela voz
grossa e rouca, largando uma pasta em cima da mesa. — Sou Vincent Bell
Gray, o novo professor de vocês. Provavelmente não sabem sobre as
últimas mudanças, mas a Sra. Quinn teve que se mudar de última hora por
motivos pessoais e a diretora me convidou a substituí-la.
Valeu, Sra. Quinn.
Alguns alunos cumprimentaram de volta.
— Tenho trinta e cinco anos, me formei há quatorze anos em Medicina
Veterinária, atualmente sou dono do hospital Animals e Cheers aqui em
Campbell.
— Aquele hospital gigante? — um aluno perguntou na primeira fila.
Ele sorriu, mostrando os dentes incrivelmente brancos.
— Aquele mesmo, é o único em Campbell. Espero que esse semestre
seja produtivo para todos e que aprendam e se apaixonem ainda mais pela
profissão que escolheram — desejou a todos. — Medicina Veterinária não é
tão simples, exige cuidados e atenção, mas sei que todos já devem saber
disso.
Preferi parar de olhar para ele, a fim de diminuir a vergonha que
estava sentindo. Abri o meu caderno e comecei a rabiscar na minha folha,
pouco me importando com o olhar questionador de Rebeca em minha
direção.
Ia ter que explicar isso para ela mais tarde.
Já foi difícil explicar o meu sumiço ontem à noite, quando ela saiu do
banheiro e não me encontrou em lugar nenhum. Felizmente voltei rápido
para dentro da festa, ou então meus amigos e irmãos achariam eu e Vincent
do lado de fora do estabelecimento.
Vincent...
O nome era muito bonito.
— É a minha primeira vez como professor e acho que posso agregar
em muitos conhecimentos para vocês. Não gosto de trabalhar com
chamada, acredito que aquele caderno de presença não prova nada —
começou a falar sobre os seus planos. — Isso não significa que podem
faltar por querer, afinal, os únicos que vão perder serão vocês.
— E como vai funcionar a presença? — uma garota perguntou.
— Vocês vão se apresentar para mim, gravo muito bem os nomes —
explicou. — Podemos começar? Gostaria de saber nome, idade e o motivo
de estudarem medicina veterinária.
Ah, merda.
Droga.
Queria chorar.
De verdade.
— Está tudo bem? — Rebeca questionou baixinho no meu ouvido.
Apenas assenti.
— Você está tremendo — ela observou.
Só então notei a mão que segurava a caneta, eu estava mesmo
tremendo.
As apresentações começaram e eu segurei a minha mão trêmula,
tentando conter o que quer que aquilo fosse. Provavelmente nervosismo.
Quase fechei os meus olhos quando chegou a vez de Rebeca se
apresentar, ela estava tranquila como sempre, dizendo o seu nome
completo, a idade e o motivo de estudar o curso de medicina veterinária.
A minha vez chegou e eu queria só gritar.
Mas mantive a calma.
Eu sempre fui boa em fingir.
— Meu nome é Alexandra. — Agora ele finalmente soube o meu
nome e o sorrisinho de lado que ele deu me fez ter certeza de que pensou o
mesmo. — Tenho dezenove anos e o motivo de estudar Medicina
Veterinária? — Ele assentiu, pensei um pouco e resgatei uma lembrança
antiga. — Eu tinha oito anos quando não consegui salvar um pequeno
pássaro que acabou caindo de um ninho em cima de uma árvore, lembro de
ter feito de tudo com a ajuda dos meus pais, mas, mesmo assim, me senti
uma inútil por não o ajudar, naquela mesma noite fiz uma promessa de que
estudaria para cuidar de animais que precisam de cuidados. Com o tempo
me vi apaixonada pela profissão e pelos animais, como se algo me
conectasse com eles.
— É um ótimo motivo — ele avaliou. — Quem é o próximo?
As outras apresentações continuaram e de vez em quando, eu sentia o
olhar do meu professor sobre mim, mas estava envergonhada demais para
retribuir.
Não conseguia acreditar que fiz aquela cena.
Logo quando grudei a minha boca na do desconhecido, eu soube que
estava fazendo algo muito errado. Infelizmente me deixei ser tomada por
um impulso de chamar atenção do Jordan, não me importando com as
consequências daquela atitude.
Eu estava com raiva.
Eu estava furiosa.
E me deixei levar.
— Você está mesmo bem? — Rebeca voltou a perguntar.
O professor Vincent estava retirando o notebook da pasta.
Sorri para a minha amiga, tentando tranquilizá-la.
— É claro, só estou um pouco nervosa com a volta às aulas. — Usei a
desculpa.
— Ninguém parece lembrar do ocorrido do ano passado — minha
amiga disse. — Isso é bom.
— Também percebi o mesmo e isso é muito bom.
O professor Vincent começou a dar aula e eu tentei me concentrar em
tudo o que ele falava, mesmo que a minha mente estivesse em uma
completa bagunça.
— Pode me esperar no refeitório? — pedi para a minha amiga depois
que a aula acabou, havíamos acabado de sair da sala de aula. — Esqueci a
minha pasta debaixo da mesa.
Rebeca assentiu, parecendo não desconfiar de nada.
Era melhor assim.
— Te vejo daqui a pouco.
Caminhei de volta para a sala de aula, determinada a pedir mais um
monte de desculpas e também a não deixar que a situação de ontem
prejudicasse o meu futuro na disciplina. Não conhecia Vincent, portanto,
podia esperar qualquer coisa.
Quando voltei a abrir a porta e entrei na sala, a primeira coisa que vi
foi o meu professor. Ele estava sentado digitando algo até que notou a
minha presença.
O constrangimento pareceu se multiplicar ainda mais agora que
estávamos sozinhos.
Mas eu não tinha outra escolha.
Precisava resolver aquela situação como uma adulta, mesmo que
provavelmente quando eu chegasse em casa, fizesse exatamente o contrário.
— Alexandra Blossom — ele disse o meu nome completo. — Parece
que o seu desejo de não me ver novamente foi completamente ignorado
pelo destino.
Ele estava brincando?
— Eu...
Não consegui dizer nada, estava envergonhada demais para encará-lo.
— Está tudo bem? — ele perguntou depois de alguns segundos.
Balancei a cabeça em negativa.
— Você é... meu professor — confirmei em voz alta. — E eu passei
aquela vergonha com o senhor ontem à noite, eu estou muito env...
— Pensei que já havíamos nos resolvido quanto a isso. — Ele franziu
as sobrancelhas, não pude ignorar como o deixou mais bonito.
— Eu sei que conversamos, mas eram em outras situações —
justifiquei. — Eu realmente pensei que não o veria mais.
— Eu sei.
— E então você está aqui na minha frente e... — Senti a garganta
apertar, era aquele sinal de que voltaria a chorar. — Você pode querer me
reprovar, fazer da minha vida um inferno e...
Dessa vez fui interrompida pela sua risada.
Vincent se levantou e caminhou até mim. Ele era um homem muito
alto, felizmente eu não era baixinha, ou do contrário, me sentiria
intimidada.
— Pare de se preocupar. — Segurou os meus ombros. — Vamos fazer
um trato?
Fiquei sem entender.
Vincent me soltou apenas para estender uma de suas mãos para mim.
— Sou Vincent Bell Gray, seu professor nesse semestre.
Ele estava propondo um recomeço?
A mão balançando na minha frente foi o suficiente para eu apertá-la.
— Alexandra Blossom, sua aluna.
— Ótimo. — Piscou.
Aquele ato foi...
— Então quer dizer que o que aconteceu não aconteceu, é isso? —
perguntei, apenas para me certificar.
Ele rebateu.
— O que aconteceu?
Por um momento fiquei tonta, mas sorri.
— Obrigada.
Ajeitei a minha mochila no ombro e dei as costas para o professor.
— Alexandra? — ele chamou.
Me virei.
— Até a próxima aula — se despediu.
— Até.
Deixei a sala do meu novo professor antes que passasse mais uma
vergonha na sua frente. Caminhei em direção à saída do prédio A, precisava
encontrar Rebeca e meus irmãos, almoçar e depois encarar mais uma aula.
Mas fui interrompida por um corpo na minha frente, me impedindo de
seguir o meu caminho.
Jordan.
Surpreendentemente não senti nada quando seus olhos encontraram os
meus.
A raiva, a dor e a tristeza pareciam ter se escondido em uma parte
trancada com sete chaves dentro de mim.
— Precisamos conversar — ele disse.
— Não precisamos — falei, sem pensar.
Jordan se surpreendeu com a minha resposta.
— Precisamos sim. — Seus olhos passaram demoradamente pelas
minhas mãos e ele me conhecia.
Jordan me conhecia bem o suficiente para saber que a minha mão
trêmula não era apenas um sinal de nervosismo.
— Vem.
Quis gritar que ele não mandava em mim, mas eu respirei fundo.
Não podia demonstrar nada.
Primeiro eu precisava provar a todos que podia ser normal.
— O que você quer? — perguntei quando meu ex-namorado fechou a
porta de uma sala de aula, que estava vazia. — Preciso encontrar Rebeca
dentro de dez minutos.
— Serei rápido.
Esperei por alguns segundos.
— Eu vi o que você fez ontem — começou a dizer —, e não gostei.
Eu quase ri, na verdade, o riso ficou preso entre os meus lábios. Ele
percebeu.
— O que eu fiz? Até um segundo atrás você não era meu namorado
para gostar ou não gostar de uma atitude minha.
— Eu ainda continuo sendo o seu ex-namorado — ele afirmou, não
senti nada com aquelas palavras. — E quando digo que não gostei, não é de
uma forma ruim e sim preocupante.
Dessa vez não me controlei e revirei os olhos.
— Viu só? — Apontou para mim. — A Alex nunca faria essas coisas.
— Tem razão, a Alex estaria chorando em uma cama por ter perdido o
amor da sua vida até hoje — apontei, sendo irônica. — Eu estou muito bem
sem você, Jordan, é sério.
— Desde quando você está bem sem mim? Desde que a ausência dos
remédios no seu corpo se fez presente?
— Não. — Me aproximei rapidamente dele e apontei o indicador em
seu rosto. — Não repita isso, você não sabe do que está falando.
— Eu conheço você há quatro anos, Alex, acha mesmo que não sei
quando você não é você mesma? — Seus olhos pareciam demonstrar
mágoa, mas eu ignorei, raiva transbordava dentro de mim. — Eu errei feio
com você nesse último ano, fui um completo babaca, mas ainda me
preocupo com o seu bem-estar.
— Eu estou bem. — Me afastei, tentando manter a calma. — Estou
superando você e se o seu ego é gigante demais para aceitar isso, não estou
me importando.
— Há quanto tempo está sem os remédios?
— Caralho, Jordan! Eu estou bem.
Respirei fundo.
Eu não podia me descontrolar, era só isso que ele queria.
— Você está ficando daquela forma novamente... a forma que você
sempre me disse que detestava. Por que fez isso?
Eu balancei a cabeça para depois o olhar seriamente.
— Não foi você que disse para eu parar com os comprimidos?
— Eu estava bêbado — justificou.
— Parece que você usa bastante dessa desculpa. — Me lembrei do seu
perdão logo depois que me traiu. — Você é outra pessoa quando está
bêbado e eu sou outra pessoa quando estou de coração partido, é apenas
isso, não parei com os remédios.
Ele me olhou desconfiado.
— Sabe qual é a diferença entre nossas versões novas? — Jordan
negou. — Eu não finjo arrependimento depois.
Saí da sala, o deixando sozinho com os seus pensamentos.
Precisava organizar os meus, porque se Jordan estava desconfiado do
que eu estava fazendo, mais tarde minha família também ficaria.
E ainda não era hora para aquilo.
Mais tarde naquele dia, Nathan queria um relatório de todos para saber
como foi o primeiro dia de cada um, enquanto todos estávamos na sala,
alguns jogando videogame e outros apenas conversando.
— Eu e Alex temos um professor gostoso — Rebeca respondeu por
mim.
É claro que a minha amiga citaria esse evento do ano, principalmente
depois que ficou todas as cadeiras do dia falando sobre como Vincent
conseguia ser gostoso com aqueles músculos e cara séria.
— Pela primeira vez estou feliz de acordar cedo para estudar — minha
amiga continuou: — E detalhe: na segunda-feira.
— Depois vocês falam que eu sou o tarado por professoras. — Nathan
riu. — Eu sou um anjo perto dessa aqui.
Apontou para Rebeca.
Tyler balançou a cabeça, rindo.
— Fale isso por você.
— E o que você acha desse professor gatinho, Alex? — Sky perguntou
para mim.
É claro que essa pergunta se voltaria para mim.
Dei de ombros, tentando fingir indiferença.
— Ela não acha nada — Rebeca resmungou. — Posso arriscar dizer
que ela nem reparou no professor, já que estava sempre com a cabeça
abaixada, rabiscando no caderno ao invés de apreciar aquela visão.
— Deixa de ser dramática, Beca! — Eu ri. — Eu não acho nada do
professor porque realmente não reparei nele — menti. — Ele pode até ser
bonito, mas é muito mais velho que a gente.
— Isso porque você não reparou. — Mack sorriu maliciosamente. —
Bonito, é?
Quase revirei os meus olhos.
Jack caminhou de sua caminha ao meu encontro, se sentou na minha
frente e ergueu as patinhas da frente. O peguei no colo.
Parecia que o meu furão era mais interessante do que qualquer um
naquela sala. Alisei seus pelinhos, enquanto o animal deitava a cabeça em
meu braço, abrindo a boquinha de sono. Eu amava demais aquele bichinho.
— Só sabe dormir — Sky resmungou.
— Talvez você devesse arrumar um furão também. — Caleb sorriu
para ela. — Parece gostar muito de Jack.
— Está zoando com a minha cara? — Sky revidou.
O namorado riu.
Nathan bocejou ao meu lado, abraçando os meus ombros de lado.
— Eu daria tudo por uma festa agora, estou no tédio.
— Você só pensa em festa? — Tyler questionou, mesmo que soubesse
da resposta.
— E eu deveria pensar em outra coisa além de festas e garotas na
universidade? — Sorriu de forma sem-vergonha.
— Você não presta. — Ty jogou uma almofada nele e se concentrou na
televisão. — Quem está ganhando?
Andrew e Caleb quase não piscavam jogando aquele jogo de pura
violência. Que graça tinha em jogos de luta?
— Andrew — Caleb respondeu chateado.
— Está perdendo a prática, bebê — Andrew zombou, o chamando
pelo apelido. — O namoro está afetando o seu desempenho no jogo.
— Você está muito engraçadinho, Andrew — Sky rebateu.
Minha mão, que até então estava normal, deu uma leve tremida. Eu
respirei fundo, estava tentando me controlar o máximo possível, mas só de
imaginar que lá em cima estava um carrinho on-line cheio de compras para
o meu quarto, me dava vontade de subir correndo e apertar o botão de
concluir a compra.
Queria muito mudar a cor do meu quarto, a cama, o roupeiro e
também o espelho, eu queria um maior para me ver todos os dias.
Até mesmo a minha autoestima estava elevada.
— O que vai ter de janta hoje? — Nathan murmurou a pergunta.
— Ainda não sei, eles vão jantar aqui? — perguntei me referindo aos
nossos amigos.
— Acho que sim.
A verdade era que eu não estava nem um pouco a fim de fazer o jantar.
— E como foi a festa ontem? Eu e Andrew fomos embora mais cedo
— Mack questionou.
— Eu trouxe uma garota para casa — Nathan disse, todo convencido.
— Tyler atingiu um novo record de ausência de sexo em sua vida. — Meu
irmão mais velho o fuzilou com o olhar, levando todos a rir. — E Sky e
Caleb só namoraram naquele banco. Sério, da próxima vez vão para um
quarto, eu não quero nem saber o que vocês fizeram no andar de cima.
A bochecha de Caleb ficou vermelha e a minha irmã encarou Nathan
boquiaberta.
— Você é muito idiota. — Jogou uma almofada nele, mas acabou
pegando em Jack.
— Ei, cuidado — pedi, acariciando o meu furão.
Jack olhou com os olhinhos pequenos para Skyller, parecia prometer
uma vingança muito em breve.
Às vezes eu sentia que o entendia.
— E Alex sumiu por alguns minutos — Rebeca lembrou.
Antes que surgissem perguntas, expliquei:
— Eu precisava tomar um ar fresco, só isso.
— Eu já estava pensando que você estava escondida em um canto com
alguém. — Nathan colocou a mão no coração. — Não me assuste.
— E se eu tivesse? — A pergunta surpreendeu a todos. — Eu estou
solteira.
Sky riu.
— Mas você é a Alex — disse, como se isso justificasse tudo.
Dessa vez eu bufei e foi alto.
Eu sabia que ela estava brincando, como sempre essas brincadeiras
eram normais em nossa relação, mas, mesmo assim, eu dei atenção a parte
de mim que estava se irritando com isso.
— Alexandra Blossom, a santa virgem que não pode fazer nada. —
Me levantei, não aguentando mais aquela conversa sem sentido. — Vou
adiantar algumas matérias.
Eles sabiam que eu estava mentindo quanto a isso, mas pouco me
importei, eu queria o meu espaço e se eles não respeitassem isso, iriam se
ver comigo.
— Alex... — Tyler tentou falar, mas eu o interrompi.
— Não vou fazer o jantar.
O meu comportamento deve ter pegado todos de surpresa, porque até
Caleb e Andrew haviam parado de jogar.
— Estou cansada — justifiquei, mesmo que não precisasse.
Segurei Jack no colo e subi para o meu quarto, deixando todos
confusos.
Acontece que eu também estava dessa forma.
Foi o que eu pensei ao me atirar na minha cama com Jack ao meu
lado. Ele se aninhou mais ao meu corpo, parecendo preocupado comigo.
Meu bichinho parecia ser o único que conseguia compreender a bagunça
que eu me encontrava.
— Alexandra Blossom não pode ir em uma festa porque não é do seu
feitio. — Fiz uma voz fininha, sendo ouvida por Jack. — Alex não pode
beijar um desconhecido porque ela não faria isso. Alex não pode fazer nada
que outros jovens fazem porque não é quem ela é.
Suspirei, muito irritada.
— Por que eles são assim? Sempre foram e só agora estou
percebendo? — Jack colocou a patinha direita em meu nariz. — Eu quero
ser normal, amor, quero arriscar, quero beber, quero ficar com um
desconhecido em uma festa, quero tudo o que uma jovem normal pode fazer
com essa idade.
Jack parecia me questionar silenciosamente: tem certeza?
Eu tinha.
Eu tinha que ter certeza.
Aqueles remédios sempre me deixaram lenta, e na maioria das vezes
sem vontade de fazer nada, e em outras, com falta de animação para coisas
normais.
E agora eu estava livre deles e percebia tudo com mais clareza.
Não surtei, estava com tudo sob controle e não precisava desses
medicamentos.
Um dia iria agradecer a Jordan por isso, se não fosse o seu término, eu
provavelmente nunca me libertaria daquela prisão.
Alguns minutos depois a porta foi aberta.
— Não quero falar agora — disse para quem quer que fosse.
— É o seu irmão preferido. — Nathan fechou a porta. — Tem certeza?
— O que você quer?
Senti o seu corpo se deitar na cama e ele me abraçar por trás. Nathan
sempre fazia isso quando estava preocupado, triste ou buscando consolo.
— Está tudo bem?
— Sim.
— Está mentindo — ele observou. — Por quê?
Sempre era mais difícil esconder a verdade de Nathaniel. Eu amava
todos os meus irmãos igualmente, mas assim como Tyler e Skyller tinham
uma conexão sinistra e muito mais profunda, eu sempre tive essa conexão
invisível com Nathan.
Me virei para ele e o encarei.
Precisava ser convincente.
— Meu ex-namorado me humilhou na frente dos amigos e de
desconhecidos ao me trair na frente de todos, além disso, nem olha na
minha cara. Na festa de ontem, Jordan estava lá aos beijos com outra e foi
por isso que precisei sair para tomar um ar, ainda dói muito.
O que falei pareceu comover o meu irmão.
— Eu imagino que sim — acariciou a minha testa —, mas eu fico
muito mal a vendo desse jeito e principalmente por não conseguir fazer
nada que a ajude a melhorar.
— Acho que só o tempo pode fazer isso.
Ele concordou.
— Você ficou muito brava com a gente — ele concluiu. — Tenho
certeza de que Skyller não falou daquela forma para ofender.
— Eu sei que não, mas parece que eu sou sempre a previsível, já que
sou mais quieta, mais santa, e mais tudo o que vocês dizem.
— As brincadeiras nunca incomodaram você, inclusive, eu lembro de
você sempre retrucar me chamando de cafajeste, galinha ou qualquer ofensa
sobre o meu modo de me divertir.
— Acontece que essas brincadeiras estão cansando.
— Você poderia ter falado, nunca mais brincaríamos dessa forma. —
Ele foi sincero.
— Estou dizendo agora.
Nathan assentiu.
— É só isso? Não tem mais nada para me contar? — perguntou.
Fiquei sem entender.
— Não.
— Jordan me procurou depois do treino hoje — meu irmão começou a
dizer e eu senti a minha mão tremer. — Em um primeiro momento eu quis
socar a cara dele por tanto atrevimento, mas ele me implorou para ouvi-lo.
Meu coração acelerou.
— O que... ele queria?
— Jordan disse que pode não estar mais com você, mas se preocupa
com o seu bem-estar. — Nathan avaliou bem o meu rosto antes de
continuar. — Ele disse que você está se comportando de forma estranha, na
verdade, ele acha que você pode estar eufórica e tudo isso por não estar
tomando os remédios.
Se antes eu estava com raiva de Jordan, agora eu queria estrangulá-lo.
— E você acreditou? — Fingi plenitude.
Meu irmão me olhou, se passou alguns segundos que pareceram
minutos antes dele rebater:
— Eu deveria acreditar?
Balancei a cabeça e me sentei na cama.
— Impressionante. — Minha voz soou magoada. — Você prefere
acreditar naquele... nele, do que na sua própria irmã.
— Eu não disse isso.
— Mas está pensando na possibilidade de eu estar sem os remédios.
Me levantei da cama, nervosa.
— Eu sei que você sempre foi responsável com os remédios, sei que
sempre soube da importância dele para a sua doença, mas isso não a impede
de ter uma recaída, principalmente depois de terminar um relacionamento
de quatros anos que você jurava amar e ser correspondida.
Eu ri, caminhando em direção a minha gaveta ao lado da cama. Nathan
não entendeu no primeiro momento e se sentou na beirada do colchão,
esperando uma resposta minha que não fosse uma gargalhada.
— Aqui está. — Joguei as cartelas no seu colo. — Faça todas as
contas, instale uma câmera no meu quarto, venha até aqui e me enfie esses
medicamentos garganta abaixo, faça o que achar melhor.
Percebendo a minha explosão, Nathan largou os medicamentos na
cama e caminhou até ficar na minha frente, segurou o meu rosto e me
abraçou.
— Eu... me desculpa — pediu. — Eu fui idiota, por um momento eu
achei que você tomaria uma atitude dessas, eu não sei, eu só pensei.
Não o abracei de volta.
Não consegui.
— Você não pode negar que está reagindo de forma estranha
ultimamente — murmurou. — Não pode me culpar por me importar com
você.
Suspirei.
— Eu vou ficar bem, estou apenas de coração partido.
— Me desculpe por duvidar.
— Me desculpe por surtar.
Ele riu, se afastando e beijando a minha testa.
— Vamos voltar lá pra sala? Eu sou péssimo cozinhando, mas sou
ótimo te ajudando. — Piscou.
Eu sorri.
— Você corta os legumes e eu cozinho.
— Fechado.
Segurando a minha mão e Jack no outro braço, descemos as escadas
do nosso apartamento.
Naquele instante, eu só conseguia pensar que aquela havia passado por
muito pouco.
Parece que você não liga
Por que você não reconhece que eu sou tão rara?
Eu estou sempre lá
Você não faz o mesmo por mim
RARE — SELENA GOMEZ
— Ei, ei, ei! Não tão rápido — Nathan me interrompeu antes que eu
subisse as escadas até o meu quarto. — Que história é essa que você brigou
com Jordan na frente de todos?
Merda.
Eles até haviam demorado para descobrir.
Dei de ombros, mostrando que não me importava.
— De todos é muita gente, foi apenas na frente do time de futebol —
expliquei. — E o idiota mereceu.
— Você quase agrediu ele, irmã — Tyler se meteu no assunto, parecia
cauteloso. — Por que você agrediria alguém?
— Eu não posso sentir raiva do meu ex-namorado?
— É um bom ponto — Skyller concordou, recebendo olhares
negativos dos nossos irmãos. — O quê? O cara disse na frente dela que a
traiu inúmeras vezes, confirmando todas as nossas teorias, e o que esperam
que ela faça? Sorria?
Algo no que ela disse fez a minha mente estalar.
— Teorias? Vocês sabiam que isso poderia estar acontecendo? —
perguntei.
— Alex... — Nathan tentou falar, mas eu o interrompi.
— É claro que sabiam — ri forçado —, mas nunca falaram porque não
queriam que a Alexandra Blossom parasse de tomar os remédios, ou
melhor, que surtasse como UMA MALDITA LOUCA — gritei as últimas
palavras.
— Você está nervosa, é melhor se acalmar — Tyler pediu.
— Não se preocupe, eu não vou bater em você — bufei. — Vocês
sabiam e não me contaram nada.
— Não. — Skyller se levantou e veio até mim. — Nós não sabíamos,
tudo o que tínhamos eram teorias e se falássemos, você nunca acreditaria,
assim como eu disse diversas vezes que ele não prestava e você não dava
ouvidos.
— Você nunca acreditaria em teorias, Alex — Nathan complementou.
— Tudo o que acreditava era em um conto de fadas com Jordan.
Eles tinham razão.
Mas eu estava nervosa demais para dar essa razão a eles.
— Vou para o meu quarto.
— Não tão rápido — Tyler interveio. — Nossos pais sabem de todas
aquelas compras no seu quarto?
— Sabem e me permitiram comprar, preciso de uma autorização sua
também? — O olhei no fundo dos seus olhos negros, o surpreendendo com
a forma gelada que o tratei. — Parem de me tratar como criança, isso está
ficando chato. Caralho! Eu tenho dezenove anos.
Me esquivei rispidamente do braço de Skyller. Ela ia tentar me adular
com a mão em mim, mas eu não queria suas frases prontas, não queria nada
deles além de que parassem de encher a porra do meu saco.
— Ninguém está tratando você como criança — Nathan falou. —
Estamos preocupados com os seus últimos comportamentos e vamos nós
quatro ligar para a médica para saber se podemos aumentar a sua...
— Nem ouse terminar essa frase ridícula. — Apontei o dedo na sua
cara. — Nem ouse dizer o que tem para dizer.
— Alex — Sky murmurou baixinho, mas eu a ouvi. — Você está se
reconhecendo? Está eufórica, talvez os remédios não estão sendo
suficientes e precisamos aumentá-los. Você nunca invadiria o treino de
Jordan daquela forma e chamaria atenção, você nunca falaria conosco desse
jeito, como se nos odiasse.
— Eu não odeio vocês e pensei que estivesse do meu lado em relação
a dizer umas verdades na cara de Jordan. — Suspirei, tentando manter a
calma, mas estava cada vez mais difícil. — Eu não vou fazer essa ligação,
sabe por quê?
Eles esperaram.
Joguei novamente como a grande manipuladora que eu era.
Só esperava que eles caíssem novamente nisso.
— Quando Clarke terminou com Nathan, nosso irmão ficou
irreconhecível — os lembrei. — Deixou de ser um cara romântico para se
tornar um galinha, alguém falou sobre essa mudança de comportamento?
Eu não me lembro. Quando Skyller quebrou o coração de Caleb, a primeira
coisa que fez foi beijar outro para finalmente entender o que estava
sentindo, nossa como ela é madura.
Fui irônica e percebi a dor do arrependimento passar pelos olhos de
minha irmã.
— E Tyler....vamos mesmo falar sobre Tyler? Usa das corridas
clandestinas para disfarçar que está totalmente quebrado por dentro e
alguém fala sobre isso? Não, nós acobertamos toda essa loucura ilegal
porque sabemos o que o nosso irmão sofre.
Por fim, joguei as perguntas finais, que os fariam se sentir
arrependidos:
— Por que vocês não podem me entender por alguns minutos e
pararem de me julgar por uma doença? Fui traída na frente de todos e
humilhada, por que não posso querer o mesmo para Jordan? Principalmente
depois dele inventar coisas absurdas para todos vocês? Por que não posso
querer socá-lo depois de descobrir na frente DE TODOS que ele me traiu
inúmeras vezes? Eu estou eufórica por isso? Não, eu estou apenas sendo
uma pessoa normal.
A minha explosão teve o resultado que eu esperava: todos me
encararam com ar de arrependidos.
— Eu vou subir, tenho um quarto para arrumar.
Subi para o meu esconderijo, satisfeita porque ninguém me
incomodaria mais pelas próximas horas.
Quando entrei no meu quarto tudo estava uma bagunça devido as
caixas fechadas das decorações novas e também de novas roupas que havia
comprado em algumas lojas on-line. Hoje eu mudaria aquele cômodo para
algo mais vivo.
Estava animada para isso.
Deixei a mochila na cadeira e abri as portas do meu roupeiro.
Seria um longo e grande trabalho.
Na terceira semana eu conseguia dizer que estava bem sem sentir que
estava mentindo.
Conseguia sorrir com mais sinceridade e conseguia falar mais
abertamente sobre tudo o que eu estava pensando e sentindo com Elena, a
minha psicóloga. Com consultas dia sim dia não, estávamos em um trabalho
duro sobre autodescoberta e autoaceitação.
Não era muito fácil.
E tornava mais difícil porque eu já não aguentava mais estar naquele
lugar.
As paredes brancas pareciam rir da minha cara e a escrivaninha da
mesma cor não me servia para nada, até ontem, quando finalmente recebi
um entretenimento: trabalhos da faculdade para fazer e recuperar a primeira
nota de todas as cadeiras do primeiro semestre.
Havia muitos e eu me distraí o dia anterior inteiro, nem saí do quarto
para fazer companhia para a minha mais nova amiga Sophie.
Hoje eu receberia visitas pela primeira vez e diferente do que eu
pensava na última semana, gostaria muito de ver a minha família. Eu estava
com muitas saudades de todos, a única coisa que não conseguiria lidar era
com os olhares julgadores, mas Elena havia me tranquilizado quanto a isso.
A segunda semana havia passado lentamente, assim como todos os
dias que eu vivia dentro desse lugar. Comecei a fazer terapia em grupo com
Sophie e era a coisa mais horrível do mundo, contar sobre os seus
problemas na frente de uma miniplateia não era reconfortante e por isso,
pedi para Elena se eu podia fazer apenas individual.
Não houve uma resposta negativa quanto ao meu pedido e eu me senti
mais aliviada em não ter aquele tipo de programação na minha agenda
hospitalar.
Os remédios ainda continuavam fortes e me deixando com todos os
sintomas comuns: sono e muito cansaço. Com a mudança de algumas doses
e também de alguns nomes, outro sintoma também surgiu: enjoos.
Pelo menos uma vez por dia eu fazia ânsia de vômito ajoelhada em
frente a um vaso sanitário. Sarah disse que era normal devido às mudanças
e que levaria um tempo para o meu organismo se acostumar.
Eu estava contando os dias para isso acontecer.
Quando Penélope, a enfermeira, abriu a porta do meu quarto naquela
manhã me senti um pouco empolgada e aquela sensação era nova depois de
meses sem senti-la.
— Bom dia, Alex — ela cumprimentou. — Como você está essa
manhã?
— Bem — respondi.
Ela fez o mesmo procedimento de todas as manhãs, organizou os
remédios e me entregou. Só depois que engoli todos com a ajuda da água
nova no copo de vidro, que ela retirou um envelope do bolso.
— Muito bem. — Sorriu. — O seu presente da semana.
Reconheci o meu celular, o peguei no mesmo momento.
— Tem direito a uma hora, pode usar da forma que quiser. — Ela
apontou para a cadeira no canto do quarto. — Estarei lendo o meu livro e
não prestando atenção se optar por uma ligação.
— Sabe quem vem me visitar hoje?
— Sua família inteira — ela respondeu. — E uma amiga, Rebeca
Wilson.
Sorri.
Sentia falta daquela maluca.
Liguei o meu celular e esperei a conexão funcionar, não levou muito
tempo para isso acontecer e houve um monte de notificações recebidas de
duas semanas sem utilizar o telefone.
Havia mensagens dos meus irmãos, que mesmo sabendo que eu não
podia usar o celular nas primeiras semanas me enviaram mensagens que me
pegaram de surpresa.
A primeira que li foi a de Nathan.
“Ei, pequena, como você está? Essa casa não é a mesma coisa sem
você, por favor, melhore logo e venha para casa. Estou morrendo de
saudades.”
“Acho que vou enlouquecer sem você aqui, e como sei que detestaria
que todas essas mensagens fossem sobre você, aí vai uma bomba: sonhei
com ela ontem à noite e não tinha você para cuidar de mim.”
“Faltam alguns dias para você pegar o seu celular, mas também é o
mesmo dia que a abraçarei e não a soltarei por um bom tempo. Amo você,
maninha.”
Algumas lágrimas caíram dos meus olhos.
Nathan não estava bravo comigo e isso me deixava muito aliviada.
As outras mensagens dos meus irmãos eram todas expressando que
sentiam muito a minha falta e que queriam a minha volta o mais rápido
possível. Ler todas elas me deixou feliz pela primeira vez depois de longas
semanas.
A próxima mensagem era de Vincent e meu coração por algum motivo
palpitou dentro do peito.
“Oi, como você está?”
Essa havia sido no dia que fui internada, já a próxima no dia posterior.
“Oi. Eu fiquei sabendo do que está acontecendo, Rebeca me disse que
você não tem acesso ao celular nas primeiras semanas, mas assim que você
tiver, poderia me mandar uma mensagem dizendo como está se sentindo?
Você é importante para o mundo, Alexandra, do jeitinho que é. Não se
esqueça disso.”
O final daquela mensagem me fez sorrir.
Não li as outras mensagens, cliquei em fazer uma ligação sem pensar
muito no que eu diria. Ele atendeu no primeiro toque.
— Alexandra?
— Sou eu — murmurei, me afastando da enfermeira e caminhando até
a janela grande do quarto, ela era repleta de grades, mas eu conseguia ver o
jardim daqui de dentro. — Pensei que toda a situação faria você me chamar
de Alex pela primeira vez.
Eu podia visualizá-lo do outro lado da linha com um sorriso nos
lábios, seu riso foi a prova de que a minha imaginação estava certa.
— Eu prefiro ser o único a chamá-la de Alexandra.
— Parece que está me dando uma bronca, é estranho.
— Gosto do seu nome — admitiu.
— O seu nome também não é nada mal — brinquei, a verdade era que
eu achava muito lindo o seu nome.
Ele riu.
— Como você está? — perguntou depois de um tempo.
— Estou bem e não estou mentindo.
— Fico feliz que esteja bem depois de tudo.
— Agora você sabe o meu segredo. — Olhei para Penélope e ela
mantinha a sua promessa de permanecer lendo o livro. — Sou bipolar.
— Essa definição explicou muito os últimos acontecimentos — ele
comentou. — Você... parou de tomar os medicamentos? Por isso teve as
crises?
— Sim... eu achei que poderia ser normal sem eles — admiti e me
senti um pouco envergonhada. — Acabei dando mais dor de cabeça do que
antes.
— Foi... o término com o garoto que a motivou a isso?
— No início eu o culpei por não me achar normal o suficiente para tê-
lo como namorado — ri comigo mesma —, mas Elena me fez perceber que
não foi apenas isso.
— Elena?
— Minha psicóloga — expliquei. — Ela me fez entender que eu tenho
que me aceitar da forma que eu sou antes de tudo, o processo é bem longo,
já que não estou nem perto de me aceitar.
— Por quê? — ele simplesmente perguntou.
— Porque eu sou refém dessa doença.
— Não acho que seja isso — ele argumentou. — Posso dar a minha
opinião?
— Pode.
— Você não é refém da bipolaridade, ela vive em você assim como
vice-versa. O seu transtorno faz parte de quem você é, e acho que aprender
a lidar com ele faz parte do processo de crescimento.
Sorri de lado.
— Se o seu hospital falir, você pode se formar em psicologia e abrir
um consultório — brinquei.
— Engraçadinha.
— Eu estou tentando, Vincent — falei. — Tentar é o primeiro passo.
— E isso me deixa orgulhoso.
Fiz a pergunta que nas últimas semanas pairava na minha mente.
— Está tudo bem eu ser assim? Ainda posso ser sua assistente? Ou já
colocou outra em meu lugar? Não que eu tenha motivos para reclamar, já
que não o ajudei em muita...
— Alexandra — ele me interrompeu com a voz divertida. — Não se
preocupe, eu não me importo que você é bipolar e o cargo de assistente é
apenas seu, ninguém pode substituí-la.
— Tem certeza?
— É claro que sim, todos nós temos tempos ruins e difíceis. Você teve
um, acha que eu a demitiria por isso?
— Não sei, meu primeiro pensamento é que ninguém gostaria de ter
uma louca como assistente.
— Você não é louca.
— Você me entendeu. — Suspirei. — Podemos falar de outra coisa?
Que não seja a minha doença?
— Quanto tempo vai permanecer aí? — ele perguntou.
— Eu ainda não tenho previsão de alta — admiti, um pouco magoada
com aquilo. — Por quê?
— As segundas são sem graça sem você aqui.
Foi automático.
Ao ouvir aquela frase meu coração acelerou e um arrepio diferente
passou pela minha nuca. Era óbvio que ele estava falando sobre o meu
serviço de assistente, mas... ainda assim, reagi daquela forma.
— Está sentindo falta dos meus choros e dos meus surtos? — brinquei
porque foi a única salvação do silêncio perturbador que se instalou depois
que ele disse aquilo.
Vincent riu.
— No nosso próximo encontro você estará sorrindo.
— Como pode ter tanta certeza?
— Porque você está bem e também me deve alguns sorrisos depois de
tantas lágrimas — ele também brincou.
Era leve conversar com ele.
Era divertido.
Eu quase me sentia alguém normal.
— Sinto falta da sala de aula — confessei. — Ficar presa em um
quarto branco sem decoração é um pesadelo.
— Pensei que sentia falta de mim, o cara que a cuidou naquela sexta-
feira difícil — brincou novamente. — Esse pesadelo logo vai passar e você
vai poder matar a saudade da sala de aula.
Idiota.
Quis chamá-lo, mas apenas ri, não sabia se tínhamos intimidade o
bastante para isso. Diferente das brincadeiras, que sempre foram naturais na
nossa relação.
— Alexandra? — Penélope chamou. — Acabei de receber uma
mensagem, sua família chegou mais cedo.
Ah.
Por um lado, estava feliz por minha família não ter aguentado esperar
e virem me visitar, por outro, estava triste por ter que desligar a ligação.
— Preciso desligar — comuniquei. — Minha família veio me visitar.
— Isso é ótimo. — Ele pareceu mesmo feliz por mim. — Significa
que já pode receber visitas.
— Tive a liberação hoje, mas estou com medo.
Ele estranhou.
— Medo do quê?
— Do que a minha família vai pensar de mim — contei, com receio.
— Eles sempre confiaram em mim, então eu os enganei esse tempo todo
com a imagem de que estava lidando bem com o meu transtorno, agora eles
sabem de tudo e nunca mais irão confiar em mim.
— Nunca é tempo demais — comentou. — Eles vão voltar a confiar
em você, pode ser amanhã, depois ou daqui alguns anos, leve o tempo que
for preciso.
— Você acha?
— Eu tenho certeza, vai dar tudo certo — Vincent disse. — Sobre o
uso do celular... É todos os dias?
— Uma hora por dia nessa semana e na próxima só eles sabem —
admiti. — Por quê?
— Pode me ligar amanhã? Eu... gostaria de saber como estará.
Sorri.
Amanhã eu também conversaria com ele.
Foi o suficiente para encerrar aquela ligação menos triste.
— Posso.
— Então até amanhã — se despediu. — E lembre-se, vai dar tudo
certo.
— Até.
Desliguei a ligação um pouco mais confiante para ver a minha família
e entreguei o telefone para Penélope.
— Está pronta para ver sua família?
— Estou.
BABACA.
RACISTA.
IDIOTA.
Todos os nomes feios possíveis que eu não conseguia pensar no
momento para aquele recepcionista que se achava no direito de ter aquela
profissão. Como ele pôde tratar alguém dessa forma? Como ele podia se
achar superior a Vincent? E como as pessoas negras conseguiam aguentar
esse tipo de comportamento vindo de outros?
Não foi difícil reconhecer o desprezo no olhar do babaca, ele não fez
questão de esconder o quanto estava incomodado com a presença de
Vincent. Eu conhecia muito bem aquele olhar, eu e meus irmãos passamos
muitas situações semelhantes com Tyler, infelizmente o racismo ainda
acontecia e a maioria era em pequenas atitudes, como essa.
Eu ainda estava abraçando Vincent e não sabia se tinha uma resposta
certa do motivo de ter envolvido o meu braço ao redor da sua cintura, eu só
fiz. Fiquei tão irritada daquele homem estar ignorando todas as provas na
frente dele e só prestar atenção na cor de Vincent, que acabei fazendo um
ato impulsivo.
Um outro funcionário nos apresentou a mesa que estava reservada no
nome de Vincent e eu até fiquei mais grata pelo recepcionista idiota não ter
dirigido mais a palavra para nós. Nos desfizemos do abraço em silêncio.
— Vou conversar com o gerente — Vincent falou. — Me espera aqui?
Ótimo.
Era o certo a se fazer.
Assenti e me sentei em frente à mesa que havia sido reservada.
Talvez o meu comportamento tenha surpreendido Vincent e eu não o
culpava, acho que nunca comentei sobre a adoção dos meus pais e
principalmente sobre Tyler, o irmão que mais tinha uma vida complicada,
tanto o passado como o presente. Ele só sabia que éramos entre quatros.
Aguardei alguns minutos, observando o interior do restaurante e
evitando olhar para o funcionário idiota. Vincent estava mais afastado,
conversando com um homem de estatura média e passado algum tempo,
ambos apertaram as mãos e meu professor voltou para a nossa mesa.
— Está tudo bem? — Tive que perguntar assim que ele se sentou à
minha frente, mesmo que a resposta provavelmente fosse negativa.
Ninguém ficaria bem em uma situação como essa.
— Estou surpreso — admitiu. — Achei que precisaria socar a cara do
desgraçado e criar uma cena, mas você lidou com a situação melhor do que
eu.
Percebi que ele usava aquele tom brincalhão, mesmo que seus olhos
parecessem demonstrar algo completamente diferente. Não era o meu lugar
de fala, mas viver essas situações era doloroso, independente do tempo que
se passasse.
— Ele foi um idiota, fez certo em falar com o gerente.
— Fiz porque não acho justo que outras pessoas passem por essas
situações, e isso aconteceria se ele continuasse na recepção.
— Ele vai ser demitido?
— Não sei — Vincent disse. — O gerente disse que eu fui a segunda
reclamação e ele não vai esperar por uma terceira, a primeira não foi tão
grave quanto a minha, não entrei em detalhes porque não me interessa.
Assenti, compreendendo.
— Eu detesto essas pessoas. — Não escondi o que sentia. — Acho que
não comentei para você que todos os filhos Blossom são adotados, meu
irmão mais velho é negro e já passamos por diversas situações dessas com
ele.
— Você não comentou sobre adoção, isso é incrível — admirou.
— Meu pai não pode ter filhos — expliquei. — Acho que no fim de
tudo, foi a melhor decisão do mundo nos adotar.
O garçom se aproximou de nós e foi muito simpático ao perguntar
sobre os nossos pedidos, não havíamos pegado o cardápio ainda, mas
parecia que Vincent já havia visitado o lugar antes, pois sugeriu um prato
especial de frutos do mar com alguns legumes e eu obviamente aceitei, a
fome havia aumentado depois de toda a irritação do início.
Quando o garçom saiu, ele perguntou:
— Por que foi a melhor decisão?
— Somos uma família incrível e você já deve ter percebido isso pelo
que eu digo. — Vincent assentiu. — Meus pais são os melhores do mundo e
eu tenho ótimo irmãos, mesmo que, na maioria das vezes, não tenha
valorizado isso.
— Você só estava confusa — disse e quando segurou a minha mão em
cima da mesa, meu coração disparou, como há muito tempo não fazia. —
Obrigado pelo que fez, você foi incrível.
Sua mão sobre a minha era grande e fazia da minha minúscula. Seu
toque sobre a minha pele fez com que eu engolisse em seco, gostando mais
daquilo do que deveria, principalmente quando ele a segurou mais forte e
levemente, com o polegar acariciou o dorso da minha mão.
Senti minha barriga se contrair com o contato.
Sorri nervosa.
— Isso que amigos fazem, né?
Ele assentiu e largou devagar a minha mão.
Amigos.
Apenas isso.
Mandei aquela mensagem o mais claramente para o meu cérebro e
também para o meu coração. Essas coisas não podiam acontecer
novamente, e mesmo que Elena tivesse garantido que tudo poderia tomar
caminhos diferentes agora que eu estava em uma terapia mais intensa e
também uma pouco mais confiante, ainda sentia medo.
De forma muito assustadora eu percebi que Vincent tinha tudo que
uma mulher como eu poderia se apaixonar.
Era simpático, muito gentil, bonito, paciente e prestativo. Sua
aparência era algo que eu não podia nem comparar, aquele homem parecia
não ser desse mundo, principalmente quando sorria ou quando relaxava
mais o corpo, evidenciando os músculos que as camisas sociais faziam
questão de esconder.
Precisava focar nos motivos de não me deixar cair em tentação.
1. Minha recuperação.
2. Nossas diferenças de idades.
3. Nossa situação, professor e aluna.
Eram os únicos três motivos que eu conseguia pensar no momento,
mas o trio parecia fraco comparado a como eu me sentia quando estava com
ele.
Amizade.
Sim, esse era um bom motivo.
Eu tinha o dom de confundir amizade com algo a mais, Jordan foi a
prova disso, talvez sempre foi um sentimento de amizade, mas insistimos
tanto, ele por seus motivos e eu pelos meus que terminou dessa forma. Me
tornei dependente do que nós tínhamos, porque era refém da minha própria
cabeça.
Vincent era apenas meu amigo, é isso.
Como eu disse uma vez, ele nunca notaria alguém como eu e com
certeza não precisava de uma Alexandra na sua vida.
— O que você tanto pensa? — Ele percebeu meus devaneios.
— No tanto de coisa que eu preciso pôr em dia até o final da próxima
semana. — Dei a desculpa, mesmo que já estivesse quase perto de estar em
dia com as matérias perdidas. — Me lembre de nunca mais provocar
motivos para ser internada.
Ele sorriu com a minha brincadeira.
— Farei o possível para vê-la bem — disse, não fazendo nada para
aquela sensação parar. — Precisa de ajuda com os conteúdos? Ainda me
lembro de muitas coisas.
— É você quem precisa de ajuda aqui — o lembrei. — Sou sua
assistente, lembra?
— Tem razão, eu estava ficando louco sem você aqui — admitiu. —
Uma assistente foi a melhor decisão que os diretores tiveram para os
professores.
— E você tem a melhor assistente de Campbell. — Me convenci.
— Não tenho dúvidas disso.
Sorri.
O meu celular estava em cima da mesa e acendeu a tela, indicando
uma mensagem de Nathaniel.
“Você vai demorar muito nesse almoço? Saudadessssss”
Era falta de educação pegar o celular, mas consegui visualizar a
mensagem sem pegar o telefone na mão e acabei rindo.
— O que foi? — Vincent quis saber.
— Meu irmão e seus dramas — comentei. — Ele ficou um pouco mais
grudento que o normal depois de tudo o que aconteceu.
— Nathaniel? — ele adivinhou. — Você me disse que ele era o mais
dramático.
Era surpreendente como ele se lembrava de tudo o que conversamos.
— Ele mesmo, se importa se eu responder? Porque se eu não enviar
uma mensagem agora, ele vai achar que eu fui sequestrada — brinquei.
— Claro que não. — Ele riu.
Peguei o telefone e digitei rapidamente.
“Deixa de drama porque eu sei que você foi almoçar com a Anne,
inclusive, precisamos ter uma conversa bem séria quanto a isso. Te vejo
depois, amo você.”
Enviei a mensagem.
— Ei, tem uma coisa que eu não contei para você. — Voltei a falar
com Vincent e procurei na galeria de fotos uma em específico, quando
achei, mostrei para ele. — Esse aqui é meu filho.
Por um momento vi os olhos de Vincent se arregalarem, mas assim
que notou a foto melhor e viu que se tratava de Jack, relaxou.
— Um furão?
Assenti.
— O quê? Achou que era um bebê de verdade? — Ri da cara dele.
— Engraçadinha. — Apontou para foto. — Ele é lindo.
— Ele é mesmo. — Bloqueei o celular. — Terrível, mas eu não vivo
sem ele.
— Na maioria das vezes as pessoas têm cachorros e gatos, agora ter
um furão é algo diferente — comentou.
— Amo cachorros e gatos, mas também gosto desses tipos de animais.
— Como é o nome dele?
— Jack.
— E você só tem ele?
— Por enquanto sim, queria arrumar uma companhia para ele, porque
boa parte do dia ele fica sozinho, mas acho que Sky surtaria se tivesse que
conviver com dois Jack.
— Ela não gosta?
Eu ri, imaginando como seria se tivesse outro furão.
— Jack e Skyller tem uma relação de amor e ódio, entende? Ele ama
ela, mas não admite e ela também — expliquei. — Você tem que ver Jack
estragando as coisas dela.
— Ele é mesmo um furão terrível. — Vincent riu. — E a sua irmã?
— Fica furiosa e eu tenho que comprar sempre o que ele estragou.
— Os furões passam a maior parte do tempo dormindo, por que Jack é
diferente? — questionou, curioso.
— Não se engane, ele ama dormir e vive fazendo isso, mas também
ama incomodar Sky.
— Toda relação de amor e ódio é assim, não é mesmo?
Concordei.
Vincent pegou o celular do bolso e desbloqueou a tela, para logo em
seguida me mostrar a foto de um cachorrinho. Ele era branquinho, com
algumas manchas amarelas e os olhos eram cada um de uma cor, azul e
castanho.
— Essa é Lady, a minha filha.
— Ela é linda! É uma SRV?
Ele assentiu e depois de admirá-la mais um pouco, bloqueou o celular.
— Encontrei ela ainda muito pequena, estava machucada, a levei para
o meu hospital e a salvamos — explicou. — Quando ela ficou bem, foi
impossível me desfazer dela. Acho que Lady estava destinada a mim.
Nossos pedidos chegaram e o garçom interrompeu nosso assunto,
colocando os pratos, o almoço e as bebidas na mesa.
— Se precisarem é só chamar — disse, o senhor com simpatia. —
Bom almoço.
— Obrigada.
Agradecemos.
— Se todos fossem como ele seria incrível, não? — Vincent sorriu.
— É uma pena que não sejam. — Olhei para os nossos pratos. — Meu
Deus! É muita comida.
— Você não estava com fome? Esse lugar faz os melhores frutos do
mar de Campbell.
Servi o meu prato já sentindo o meu estômago protestar de fome, eu
não tinha tomado café da manhã e estava louca por esse almoço. Talvez a
quantidade fosse exagerada, mas a minha barriga não reclamava.
Levei um camarão à boca e quase gemi ao sentir o sabor daquilo.
Caramba!
— Ok! Eu estou apaixonada por essa coisa. — Fechei os olhos e
mastiguei mais um.
Muito bom.
Quando abri os meus olhos encontrei os de Vincent me encarando,
havia algo de diferente naquele olhar, estava mais brilhante e com aquele
semblante sério fez com que novamente uma onda de nervosismo e coração
acelerado passasse por mim.
Eu fui a primeira a desviar o olhar, uma parte de mim nervosa com
todas as sensações que eu andava sentindo nos últimos dias. Era Vincent, o
mesmo cara que eu conversei por telefone durante duas semanas, o mesmo
homem que me abraçou e cuidou de mim quando eu estava entrando em um
estado depressivo.
Não se deixe confundir, Alex.
— É bom, não é?
— O quê? — perguntei, perdida.
— A comida.
Ah.
— É ótima. — Sorri. — Não lembro de ter comido algo tão bom nos
últimos meses.
Consegui brincar e ele notou, sorrindo.
Vincent retirou o paletó do corpo e ajeitou as mangas da camisa social,
perdi um pouco do foco ao ver os ombros largos e os braços musculosos.
Coisas que eu nunca reparei muito em um homem, comecei a reparar
naquele momento em Vincent, estava para nascer alguém mais bonito.
Bebi um gole de refrigerante.
De repente eu estava muito consciente de tudo o que ele era.
E não sabia se isso era bom para mim mesma.
— Podemos falar sobre a assistência? — pedi.
— Claro.
Por mais alguns minutos me senti segura em falar sobre algo que não
me distraísse daquela forma.
Não foi difícil convencer os meus irmãos que iria fazer um trabalho no
dormitório com Rebeca, o complicado foi explicar os motivos de fazer no
prédio da faculdade e não no conforto da nossa casa.
Se eles desconfiaram da minha desculpa de: preferência de Rebeca,
não comentaram nada e simplesmente me deixaram ir sem nenhum
questionamento a mais. Talvez estivessem muito animados para os seus
compromissos mais tarde. Nathan e Tyler iriam em uma festa e Sky iria
jantar fora com Caleb, Andrew e Mackenzie.
Menos mal para mim.
O endereço que Vincent me passou era vinte minutos de distância da
minha casa, e quando cheguei em frente à sua casa fiquei surpresa com a
beleza do imóvel.
Eu sabia que meu professor era rico.
Mas sua casa não era nem perto do que eu imaginava.
Era de dois andares, com uma grama bem aparada na parte da frente e
um caminho de lajotas até a porta de entrada. Segui aquelas pedras
observando encantada os detalhes em plantas ao redor, tudo combinando
com as lajotas de pedra.
Apertei a campainha assim que a vi e fui atendida em seguida por um
Vincent vestido com calça de moletom cinza e uma blusa simples branca.
Eu estava muito errada.
Pensei que nada poderia superar roupas sociais, mas estava muito
enganada. Vê-lo com roupas informais era demais para mim.
Atração passa.
Repeti para mim em pensamentos.
Ele também me olhou, mas não deve ter ficado nada surpreso com as
roupas que eu usava, continuava com as mesmas sem graça de sempre.
Calça jeans justas claras e uma blusa de manga comprida preta, básica e que
não podia superá-lo. Não que eu quisesse...
Ai meu Deus.
O que eu estou pensando?
— Oi — cumprimentei.
— Oi, entra. — Ele deu espaço para eu entrar, assim fiz. — Seja bem-
vinda a minha residência.
— Sua casa é linda. — Admirei ainda mais o interior.
Móveis cinzas escuros e um estofado branco que dava até medo de me
sentar e acabar sujando formavam uma sala incrível, com uma decoração
simples, com quadros de pinturas, porta-retratos e abajur.
— Obrigado — agradeceu.
Quase caí para trás ao ser empurrada por uma pequena cachorrinha.
Lady.
Ela estava em pé, escorada em mim e latiu assim que eu a olhei,
esperando algum carinho.
— Lady, o que eu já te ensinei? — Vincent perguntou para a
cachorrinha como se ela fosse uma pessoa. — Não se pode sair pulando nas
visitas.
Parecendo entender, Lady se sentou na minha frente, mas ainda
continuou me olhando.
— Oi, Lady. Eu sou a Alex. — Acariciei sua cabeça e ela pareceu
amar o toque.
— Ela gostou de você.
— Eu também gostei dela. — Dei um tapinha fraco em sua cabeça
antes de afastar a minha mão. — Você é linda, Lady.
Ela latiu.
Olhei para Vincent, encontrando seus olhos em mim.
— Você me surpreendeu ao aceitar o meu convite — disse.
— Eu não posso ficar devendo uma noite de pizzas — brinquei. — E
também não tinha nada melhor para fazer em casa.
Ele semicerrou os olhos e riu.
— Admita que você estava louca para conhecer minha casa,
Alexandra. — Segurou os meus ombros e me guiou para algum lugar que
eu não fiz questão de prestar atenção.
Alexandra fica sempre fora de área quando Vincent a toca.
Cozinha.
Ele me levou até a cozinha.
— Essa é a minha cozinha e é aqui que vamos fazer o nosso jantar.
— O quê? — perguntei confusa. — Pensei que iria pedir pizza.
— Vamos fazer nossas próprias pizzas — disse. — Você me disse que
adora cozinhar, pensei em fazermos isso.
— Você me trouxe para a sua casa para cozinhar? Que horror! — Ri,
brincando. — A sua sorte é que eu gosto mesmo de cozinhar.
— E eu sei fazer pizzas desde que era uma criança. — Piscou. — Uma
das minhas especialidades.
Por algum motivo senti um rubor subir pelo meu pescoço.
— Por onde começamos? — perguntei para evitar que ele reparasse no
meu rubor.
— Eu já deixei todos os ingredientes misturados na tigela, precisamos
sovar a massa e depois montar a pizza — explicou. — Já fez isso alguma
vez?
Neguei.
— Minha especialidade é lasanha.
— Olha só... eu vou cobrar essa lasanha algum dia.
Sorri.
— Pode cobrar. — Olhei para os ingredientes misturados na tigela e ao
não ver nenhuma batedeira por perto, perguntei: — Você não usa batedeira?
— Prefiro fazer a mão, pode parecer loucura, mas o sabor fica melhor.
Eu ri.
— Do que está rindo?
— Você pareceu um velho falando isso — falei, ainda rindo. — Por
que sofrer sovando uma massa quando pode usar a tecnologia?
Ele indicou a tigela.
— Agora só porque me chamou de velho vai ficar quinze minutos
sovando a massa.
— Sinto em te dizer, mas eu não sei sovar uma massa.
— E você ainda se diz saber cozinhar? — Riu. — Que piada.
Eu levei aquilo como um desafio e acho que esse era o objetivo dele
quando o vi sorrir ao me observar remangando as minhas mangas.
— Não deve ser tão difícil. — Olhei para a massa amontada com os
outros ingredientes, só faltava começar a sovar. — Eu já vi alguns vídeos.
— Vai em frente.
Por que ele estava me olhando com um sorrisinho de que sabia que eu
faria errado? Eu iria provar que conseguia fazer isso.
Tirei a massa da tigela e coloquei na mesa que Vincent também já
havia deixado pronta para sovar. Comecei a fazer como me lembrava em
um vídeo de pão caseiro, mas que nunca fiz, já que quando descobri que a
mesma receita podia ser feita com batedeira, mudei a forma de fazê-lo. Eu
chamava isso de praticidade.
— Meu Deus! Se você continuar assim vamos ter que pedir pizza.
— O que eu estou fazendo de errado?
— Tudo?
Vincent só não estava rindo da minha cara por ter educação, mas eu
sabia que ele estava controlando-se para não rir da minha falta de
experiência.
— Talvez seja melhor você fazer. — Larguei a massa. — Eu realmente
prefiro a batedeira.
— Vem. — Segurou o meu pulso antes que eu me afastasse. — Posso
te ensinar?
— O quê? — murmurei um pouco aérea.
— Posso ensinar você a sovar a massa?
— Desde que você não tire sarro de mim pode — falei, brincando.
— Eu nunca tiraria sarro de você.
Engoli em seco quando ele segurou as minhas duas mãos e prendi a
respiração quando ele se posicionou atrás de mim. Vincent era um pouco
mais alto do que eu e aproveitou daquela diferença para me passar o passo a
passo de como sovar uma massa, me usando como uma boneca em suas
mãos. Eu deveria estar prestando atenção no que ele começou a dizer, mas
tudo o que eu conseguia pensar era naquela posição.
Sua respiração batendo no meu pescoço e arrepiando lugares que eu
nunca me imaginei arrepiando, suas mãos massageando a massa por cima
das minhas foi direto para os meus pensamentos e eu imaginei algo muito
ousado, como elas passando por todo o meu corpo.
Seu corpo não estava grudado no meu, mas eu sentia o calor emanar
dele e também sabia que se eu desse um pequeno passo para trás
conseguiria senti-lo por completo perto de mim.
Eu estava completamente fora de mim.
Me forcei para prestar atenção na massa sendo sovada à minha frente,
mas notei que Vincent também estava em silêncio. Seu rosto estava
próximo do meu e eu senti quando ele respirou mais forte.
— Seu... perfume é bom — murmurou com a voz rouca.
— Não estou usando perfume. — Acho que a minha voz saiu quase
em um sussurro, mas ele escutou.
Ele suspirou profundamente.
Suas mãos ainda estavam sobre as minhas, mas elas não sovavam mais
a massa e eu não consegui prestar atenção quando havíamos parado de fazer
aquilo. Elas estavam ali, sobre as minhas, as segurando.
Quando ele as acariciou devagar senti um calor crescer pelo meu
corpo, mas ele não teve espaço e nem tempo de se espalhar, porque logo em
seguida Vincent estava dizendo:
— Talvez seja melhor eu sovar e você fazer o recheio.
Assenti e me afastei da massa assim que ele se afastou de mim,
sentindo o que aquele calor havia feito comigo e o entendendo com um
certo pavor.
Eu havia ficado molhada.
Não muito, mas o suficiente para entender que eu estava excitada pelo
meu professor.
Espere, se eu estou pegando fogo
Como eu estou tão apaixonado?
Quando sonho em morrer
Eu nunca me sinto tão amado
TRAMPOLINE — SHAED feat. ZAYN
Tive que respirar fundo duas vezes e amassar aquela massa nas minhas
mãos com mais força do que deveria.
Por um segundo quase joguei a razão pelos ares.
Ter o corpo de Alexandra perto do meu daquela forma e notar a sua
respiração descompassada foram motivos o suficiente para eu me perder na
minha própria explicação, como ela também estava.
Eu era um homem experiente e sabia reconhecer quando uma mulher
estava afetada, e porra... vê-la daquela forma foi insuportável para mim.
Queria jogar aquela massa no chão, subir Alexandra naquela bancada
e a beijar, tocar cada parte do seu corpo gostoso que estava escondido
naquelas roupas justas que apenas provocavam a minha imaginação, me
deixando com mais tesão.
Eu estava a um passo de perder o controle.
Tive que resgatá-lo rapidamente, principalmente quando a senti
estremecer nos meus braços e quando me dei conta do quanto a sua pele era
macia.
Me afastei antes que tivesse uma ereção como um adolescente
inexperiente e pedi que fizesse o recheio da pizza, era o melhor para mim
mesmo que ficássemos a uma distância considerável, mesmo que ficar
longe dela fosse cada vez mais insuportável.
Convidá-la para a minha casa foi apenas uma desculpa para jantar com
ela, não tenho dificuldades em admitir isso, até porque o problema no
sistema era fácil de resolver.
O meu único problema no momento era como resistir a Alexandra.
Estava cada vez mais difícil.
— Ei. — Ela quebrou o silêncio que havia se instalado depois da cena
de alguns minutos. — Quanto tempo mesmo tem que ficar mexendo nessa
massa?
Olhei para a massa nas minhas mãos e notei que ela já estava pronta
para assar.
— Está pronta, eu só... me distraí.
Com você. Com seu corpo. Com seu perfume.
Inferno de perfume bom!
E ainda era natural, sem nenhuma substância. Eu quase tive dúvida de
que alguém pudesse cheirar tão bem como ela sem algum perfume, tive
vontade de aproximar mais o meu nariz e aspirar diretamente da fonte.
Balancei a cabeça, tentando afastar aqueles pensamentos.
Me concentrei na massa, a arrumando da forma correta para colocá-la
na forma.
— Como está o molho? — perguntei.
Alexandra havia o arrumado do seu jeito, porque segundo ela, molho
também era a sua especialidade.
— Ainda não provei, mas tenho de certeza que está muito bom. —
Sorriu, orgulhosa.
— Tenho certeza de que sim. — Sorri, tentando deixar a tensão de
alguns minutos atrás passar.
Ela estava concentrada no seu molho, assim que desligou a chama
usou a colher que mexia para pegar um pouco e provar.
Engoli em seco, prestando atenção nos detalhes.
Mais uma vez fui nocauteado pelos meus próprios pensamentos
quando Alexandra lambeu a colher. Se fosse qualquer outra mulher no seu
lugar eu acharia que era de propósito, mas estava no seu semblante que o
gesto era inocente e que o único malicioso era eu.
Imaginei Alexandra ajoelhada, segurando o meu pau e o lambendo
daquela mesma forma, só para depois colocá-lo na boca. Ela não conseguia
enfiar todo, mas o levaria até o seu limite e me faria gozar dentro da sua
boquinha.
Para com isso!
— Você quer?
Me despertei dos pensamentos com a sua voz.
— O quê? — perguntei tentando evitar de ter uma ereção na sua
frente.
Eu estava de calça de moletom, elas não disfarçam bem.
E meus trinta e cinco anos de experiência deveriam adiantar para
alguma coisa, eu não podia me excitar tão facilmente dessa forma.
— Provar. — Ela apontou para o molho.
— Claro.
Alexandra trocou a colher na pia e eu quase a impedi, querendo provar
a mesma que ela havia lambido há pouco. Ela pegou outra colher na
primeira gaveta e eu me aproximei do fogão.
Devagar, ela pegou um pouco do molho na panela e me ofereceu. Eu
sabia que a intenção era que eu pegasse na mão a colher e provasse, mas
não resisti e fiz diferente, me curvando e provando diretamente da sua mão.
Alexandra prestou atenção em cada detalhe e foi nítido ver os seus
olhos se arregalando junto com a sua respiração se tornando mais forte.
Caralho! Eu deveria parar de brincar com essas coisas.
Minha aluna.
Alexandra é minha aluna.
Aquilo parecia uma desculpa bosta comparado com a mulher que eu
tinha na minha frente.
— Está ótimo — elogiei.
Seus olhos desceram para a minha boca e ela apontou meio incerta.
— Tem um... pouco de molho aí. — Sua voz saiu como um sussurro,
como aquele momento em que ela estava nos meus braços.
Passei o dedo onde ela apontou e lambi o restante do molho. Ela
prestou atenção em cada detalhe e vi o exato momento em que ela engoliu
em seco, as pupilas dilatadas foram o meu fim e eu me virei rapidamente,
tentando controlar tudo o que eu estava sentindo.
Mesmo que sentisse uma ereção querendo aparecer no meio das
minhas pernas ao ter a confirmação que Alexandra estava excitada.
Lady entrou na cozinha no mesmo momento, parecendo saber que
precisava salvar o seu dono de uma situação que nem eu tinha controle. Ela
trouxe o ursinho e foi correndo na direção de Alexandra, pedindo para
brincar.
— Oi, Lady. — Olhei para trás e vi ela se abaixando para brincar com
a minha cachorrinha.
Mas ainda parecia como eu, perdida em pensamentos.
Talvez fosse melhor mesmo manter distância, não de contato, mas pelo
menos de forma física.
Respirei fundo, olhando para baixo e vendo que não tinha nada além
do volume normal do meu pau. Menos mal. Um pouco mais controlado, me
virei e a vi brincando agachada com Lady, ignorei a bunda redonda marcada
na calça jeans clara e me agachei ao lado delas.
— Minha mãe que deu esse ursinho para ela — contei. — Ela o ama.
Alexandra o jogou para longe e Lady foi buscar.
— Vou arrumar o recheio na massa — avisei. — Obrigado pela ajuda.
— Gosto de cozinhar. — Sorriu de lado, se levantando.
Coloquei a massa na forma e em seguida arrumei o seu recheio de
frango, só para depois colocá-la no forno, ajustando na temperatura correta
para não acabar queimando a pizza.
— O que quer beber?
— O que você vai beber? — perguntou.
— Vinho.
Era tudo o que eu precisava naquele momento.
— Prefiro ficar no suco ou refrigerante se tiver — disse, suas
bochechas estavam levemente vermelhas. — Não é recomendável alguém
na minha situação beber.
— Por causa dos remédios? — Peguei duas taças no armário.
Assenti.
— Mas você já bebeu.
Ela sorriu, até sabendo à qual situação eu estava me referindo.
— Sim, mas desobedeci. Agora estou seguindo todas as regras.
Peguei o refrigerante na geladeira e servi uma taça.
— Refrigerante em uma taça? Essa é nova. — Ela sorriu.
— Não vou deixar que beba em um copo enquanto eu vou beber em
uma taça. — Peguei o meu vinho e me servi. — O que acha de resolvermos
aquele problema?
— Seria ótimo, eu ainda estou devendo essa atividade para você.
Caminhamos até a sala. Lady já estava deitada no sofá maior,
brincando com o ursinho que Alexandra havia jogado longe. Peguei o meu
notebook em cima da mesa de centro e usei da almofada para fazer de apoio
para as minhas costas no sofá, enquanto me sentava no tapete grosso da
sala.
Olhei para Alexandra, que me encarava com a sobrancelha arqueada.
— E esse sofá aqui? — Ela apontou para o móvel atrás de nós.
— Você pode sentar nele se quiser, prefiro apoiar o meu notebook
dessa forma. — O coloquei em cima da mesinha de centro.
Ela se sentou ao meu lado no chão.
— Me mostre o problema tão complicado.
Abri o notebook e fiz login na minha conta do portal do professor da
universidade de Campbell. Eu sabia de qual problema ela se referia, por
isso foi fácil entrar nas configurações e habilitar um campo de permissão
para o computador dela conseguir acesso a todas as ferramentas do meu
portal. Eu havia desabilitado quando ela foi internada e havia me esquecido
de habilitar novamente.
— Só isso? — perguntou.
— Sim, só isso. — Não consegui esconder o sorriso.
Tomei um gole do meu vinho e a olhei, Alexandra me olhava com os
olhinhos semicerrados em minha direção. Aquela expressão só a deixava
mais sexy.
— Você me enganou.
— Um pouco — admiti e levei um tapa no braço.
Ela era forte.
— Queria tanto a minha presença na sua casa que teve que usar essa
desculpa? — brincou.
— Sim, eu queria.
Alexandra não ficou surpresa com a minha confissão, mas me olhou
com aquele mesmo brilho no olhar que me atraía cada vez mais. Ela
mordeu o canto inferior do lábio e levou a taça de refrigerante até a boca
logo depois, parecia sem saber o que dizer.
— Bom, agora eu vou comer a sua pizza.
Sorri.
Mas ao mesmo tempo quis gemer de frustração. Eu daria qualquer
coisa para tomar aqueles lábios nos meus. Qualquer maldita coisa.
— Como foi o seu dia? — inquiri, querendo que me distraísse desses
pensamentos.
— Foi bom. — Sorriu de lado. — Eu acordei sem nenhum enjoo, acho
que eu finalmente voltei a me adaptar aos remédios.
Alexandra estava em uma fase que ela mesma chamava de transição.
Havia dias que ela ficava enjoada por conta dos medicamentos serem mais
fortes do que antes, já que ainda era um processo de adaptação. Quando
saiu da clínica, ficou alguns dias sem enjoos, mas logo voltou a tê-los. Eu
me preocupei, obviamente, e fiz ela ligar para a psiquiatra, para saber o
motivo já que quando saiu da clínica estava bem do estômago, a doutora
Sarah respondeu o que Alexandra já havia cansado de me dizer: tudo se
resumia a adaptação.
— E o sono? — perguntei, ela ainda se sentia muito sonolenta.
— Um pouco mais controlado. — Ela riu e deitou a cabeça no assento
do sofá. — Está parecendo a Elena me questionando.
Eu ri.
— Me preocupo com você. — Deitei a minha cabeça da mesma forma
que ela.
Erro meu.
Daquela forma eu ficava mais próximo do seu rosto.
Seus olhos passaram por cada parte do meu rosto, observando com
aquelas íris verdes vivas que sempre me encantaram, desde que a vi pela
primeira vez.
Alexandra não tinha nenhum defeito.
Talvez o seu único defeito fosse não poder ser minha.
Sua pele era delicada e eu já havia comprovado que era macia, não
havia nenhuma manchinha e mesmo se houvesse, ainda assim, seria
perfeita. Sobrancelhas bem-feitas e cílios grossos que apenas davam
contraste para aqueles olhos verdes.
— Eu sei que se preocupa — murmurou. — Desde o primeiro dia que
nos conhecemos.
— Você ficou nos meus pensamentos naquele fim de semana —
admiti baixinho.
— É mesmo? Eu nem vou perguntar o motivo porque ele é bem óbvio.
— Não foi por causa do beijo — me adiantei. — Se é que podemos
chamar aquilo de beijo.
Suas bochechas coraram.
Tão adorável.
Se eu fechasse os olhos por alguns segundos eu conseguiria me
lembrar da sensação dos seus lábios sobre os meus, foi tão rápido, mas ao
mesmo tempo marcante.
— Seus olhos — contei. — Foram os seus olhos que ficaram na minha
mente por todo aquele final de semana. Eles me apresentavam algo que eu
só saberia um mês depois.
— Toda a minha bagagem — concluiu.
Concordei.
— Então eu sou uma garota expressiva.
Ela com certeza era.
Me lembrei de minutos atrás na cozinha, as pupilas dilatadas, o
estremecimento do seu corpo e a respiração agitada.
Não podia me lembrar dessas coisas.
— Você é. — Sorri de lado. — Eu gosto disso, me possibilitou ajudá-
la em vários momentos.
— Você foi muito importante — disse com os olhos presos aos meus.
— Em cada um deles.
— Fico feliz em ouvir isso — falei com sinceridade. — Espero ser
importante em vários outros momentos.
— Ah, você com certeza vai ser, pois acabou de se tornar o meu
melhor amigo.
Meu sorriso se abriu.
Seria o certo se tudo não estivesse uma bagunça em nossa relação.
Conversar com Alex todos os dias e agora vê-la toda a semana, me deixava
bem consciente da mulher que ela era. Eu sempre fui, mas agora... parecia
mais intenso.
— Você também é a minha — preferi responder.
Ficamos um tempo apenas nos olhando, nos admirando e aproveitando
o silêncio confortável que se instaurava ao nosso redor, pensei por um
momento que nunca estive tão relaxado com alguém dessa forma.
Aquela noite de sexta-feira passou rapidamente com a presença de
Alexandra na minha casa. Quando a pizza ficou pronta, jantamos e
conversamos sobre amenidades, sem aprofundar em nossas histórias de
vidas ou então sobre essa tensão que parecia sempre aumentar quando nos
aproximávamos. Depois da refeição, a levei embora porque já estava tarde e
os irmãos poderiam desconfiar da demora.
Era estranho ter uma amizade praticamente em segredo assim e eu não
sabia se eu gostava tanto dessa ideia, mas por enquanto era a única solução
para nós dois. Ninguém acreditaria na ideia de que um professor jovem e
solteiro era apenas amigo da aluna bonita e solteira.
No dia seguinte eu me ocupei com afazeres do novo hospital de Nova
Jersey, me encontrei com o engenheiro chefe da construção para saber como
estava ficando a obra, que já começava a receber forma no terreno. O novo
hospital seria maior que o de Campbell, era definitivamente um sonho que
estava prestes a se realizar. Finalmente a minha marca estava se
expandindo, e tudo devido ao meu profissionalismo.
O dia foi tão longo e ocupado em reuniões com engenheiros, com
papeladas para assinar que eu tive que mandar uma mensagem para
Alexandra explicando o motivo de não conseguir ligar para ela às três horas
da tarde. É claro que ela foi compreensível, mas eu senti falta de ouvir a sua
voz naquele dia.
No domingo eu combinei com os meus amigos de almoçarmos fora ou
então minha mãe teria um colapso nervoso por eu estar esquecendo a minha
vida pessoal e só focando no trabalho. Combinamos de irmos em um
restaurante perto do hospital que os dois trabalhavam, já que infelizmente
naquele fim de semana ambos tiveram que trabalhar.
— Chegamos, pode desfazer essa cara amarrada. — Kate se jogou nos
meus braços, me abraçando fortemente. — Que saudades de apertar você,
Vince.
— Quanto amor. — Ouvi Ed dizer logo atrás dela. — Eu posso entrar
nesse abraço ou é só para o Vince?
Sorri.
— Ciumento — Kate disse e beijou a minha bochecha. — Ele é todo
seu.
Vincent me abraçou rapidamente e me deu um tapa na cabeça logo em
seguida. Isso que eu chamava de amor.
— Cara, você sumiu.
— Vocês também — acusei. — Eu não fui o único.
— Essa vida de adulto consumindo a gente a cada dia que passa. —
Kate se sentou à minha frente e Ed ao lado dela. — É sério, se me
dissessem que administrar um hospital fosse tão difícil assim, eu teria
preferido ficar só como cirurgiã.
— Eu duvido — Ed disse. — Você ganha mais e trabalha menos com
corpos humanos.
— Isso é verdade. — Suspirou.
— E como está a vida do nosso novo professor? Muitas alunas
gatinhas?
Uma em específico.
Foi o que passou pela minha mente, mas nunca diria isso em voz alta.
— O trabalho como professor está ótimo, obrigado por perguntar,
amigo. — Fui sarcástico.
— Eu sei que é profissional, só quero saber se está comendo alguém
— choramingou quando Kate o beliscou. — Transando, ai, bela
adormecida, isso dói.
— Pare de falar dessa forma, ou vou apertar outro lugar da próxima
vez — ameaçou.
Só de imaginar ao que ela se referia senti dor. Meu amigo não ficou
muito longe, fazendo uma careta e voltando a olhar para mim.
— Não estou com ninguém no momento — respondi. — E vocês?
— Tenho certeza de que Katherine tem muito o que contar sobre a sua
vida amorosa — Ed alfinetou, me deixando curioso.
— O que eu perdi?
— Edward está com ciúmes do enfermeiro.
— Ah, eu lembro disso. — Sorri. — Vocês saíram da fase flertes e
finalmente foram a um encontro juntos?
— Ele é um frouxo — Ed interrompeu, parecendo irritado de uma
hora para a outra. — A fase flerte durou até ontem e quem teve que
convidar para sair foi a Katherine.
— Pare de me chamar de Katherine — minha amiga pediu. — Parece
que está bravo comigo.
— Katherine deveria pensar com quem sai para encontros.
Ela bufou.
— O que quer dizer com isso?
— Que o cara não teve nem coragem de chamá-la para sair, então
obviamente ele não é o homem certo para você.
— E quem é o homem certo? — minha amiga questionou, o olhando
brava. — Porque eu juro, enquanto ele não aparece eu vou aproveitar com o
que tenho.
Tomei um gole de água e continuei a observar aquele pequeno diálogo.
Algumas semanas sem os ver pessoalmente e eu já sentia que havia perdido
algo inédito.
O telefone de Edward tocou no mesmo momento, o interrompendo de
dar uma resposta que eu tenho certeza que Kate queria. Ele pediu licença e
foi até uma área afastada do restaurante para atender.
— Mas que porra está acontecendo? — Tive que perguntar.
— O quê? Nada — ela murmurou e bebeu a sua água. — E o garçom?
Você já fez os nossos pedidos?
— Pedi o prato do dia já que vocês se atrasaram de novo — respondi.
— E não tente mudar de assunto, que merda está acontecendo?
— Por que estaria acontecendo alguma coisa?
— Porque Edward estava com os punhos fechados e isso só tem um
significado, ele está muito irritado.
Eu havia reparado nisso e na sua expressão emburrada.
— Loucura de Edward. — Ela sorriu de lado.
— Katherine...
Minha amiga revirou os olhos e olhou para atrás de mim, assim que se
certificou que Ed continuava na ligação, murmurou:
— Teve uma festa há duas semanas e nós meio que... — suspirou —,
nos beijamos.
— O quê? — Arregalei os meus olhos, em puro choque.
— É isso mesmo que você ouviu e seja menos expressivo, pelo amor
de Deus, Vincent.
— Meus melhores amigos se beijaram, você quer que eu reaja como?
Bebi mais um gole de água, dessa vez foi muito maior que o anterior.
— Estávamos bêbados.
— Nossa, isso justifica muito. — Fui irônico. — Quantas vezes já
ficamos bêbados juntos no passado e aconteceu um beijo? Nunca.
— Ele estava irritado com Mason, o enfermeiro — explicou. —
Discutimos e acabamos nos beijando, foi naquela festa que você não quis ir,
lembra? Talvez se tivesse ido teria evitado isso.
Ah, puta que pariu.
Comecei a entender perfeitamente o que estava acontecendo na minha
frente. Peguei na mão da minha amiga, a fazendo prestar atenção em mim.
— Você gosta do Edward?
— O quê? — Ela sorriu, nervosa. — Não desse jeito, somos amigos
e...
— Você está mentindo — declarei, eu conhecia essa mulher há muito
tempo para saber quando estava falando a verdade e quando mentia.
— Mexi com o nariz, né?
Sorri.
— Você sempre mexe com ele quando está mentindo.
— Merda — choramingou. — Eu não sei como isso foi acontecer,
Vince. Em um dia ele era meu melhor amigo e no outro... eu estava
completamente ciente de tudo o que ele era.
— Por que não conversa com ele?
Ela apertou a minha mão.
— Sou muito insegura, você sabe, depois de toda a merda que
aconteceu com Kai — disse, se referindo a traição do ex-namorado. —
Acha mesmo que Edward largaria uma vida de festas, mulheres e farra para
ficar comigo?
— Eu acho que se ele estivesse apaixonado por você faria qualquer
coisa por essa paixão — pisquei —, ele nunca se apaixonou, então talvez
seja um pouco mais complicado.
— Ele não está apaixonado por mim. — Teve certeza. — Se estivesse,
teria tomado uma atitude, não acha? Não me deixaria sair com Mason.
— Ed estava irritado por culpa de Mason — a lembrei. — Não pode
achar isso um comportamento normal.
— Mason poderia nem existir para mim se ele falasse algo.
— Mas você falou? — perguntei.
Ela não respondeu. Touche.
— Somos melhores amigos desde a faculdade e talvez isso esteja
assustando mais ele do que você. — Dei a minha opinião pelo pouco que vi
e pelo que conhecia de ambos. — Edward nunca vai querer estragar o que
vocês dois têm e você pode estar sendo bem convincente que quer o
enfermeiro, isso pode o estar confundindo ainda mais depois do beijo.
— Ai meu Deus... — disse baixinho. — Não havia pensado nisso.
— Talvez não seja ele que tenha que dar o primeiro passo nessa
relação e sim você — voltei a aconselhar. — Vocês já se beijaram, o que
poderia acontecer de pior?
— Tem razão.
— Eu sempre tenho.
Como se algo me chamasse do outro lado do restaurante, desviei o
olhar da minha amiga e foquei na entrada do restaurante. Tive um misto de
sensações ao ver Alexandra entrar no estabelecimento.
Os cabelos soltos e cheios, vestindo um casaco mais fino sobre a blusa
rosa clara, as pernas firmes e as coxas grossas escondidas em uma calça
jeans escura.
Mais uma vez fiquei completamente abobalhado com a sua presença.
Mas meu encanto não durou muito ao vê-la abraçada com alguém. Era
um garoto loiro, de ombros largos e alto, parecia um atleta só pela forma
que caminhava. Senti algo muito ruim no estômago ao ver ambos abraçados
e murmurando um para o outro, pareciam íntimos, pareciam se conhecer tão
bem e aquilo me nocauteou a ponto de me deixar levemente tonto no
assento.
Não podia ser ciúmes.
Parecendo sentir o meu olhar sobre si, Alexandra se virou e me
enxergou, mas completamente nocauteado pelas últimas emoções me
esqueci que ainda estava com a mão em cima da de Kate quando estava
tentando encorajá-la.
Retirei rapidamente, mas não foi rápido o suficiente para ela não notar
e algo passou naqueles olhos verdes, eu só não tinha certeza do que era.
— Desculpa a demora. — Ed apareceu e se sentou de volta no seu
lugar. — Era uma paciente do hospital, aquela que dei alta na semana
passada. Estava com dúvidas sobre o medicamento.
— Tenho certeza de que a senhora de setenta anos queria mais do que
sanar dúvidas — Kate zombou, tentando não demonstrar a conversa que
tivemos há alguns minutos.
— Muito engraçado, bela adormecida. — Me olhou. — Sobre o que
conversavam?
Alexandra já não olhava mais para mim e sim para a recepcionista do
restaurante, que apontava para uma mesa próxima a minha. Uma parte
dentro de mim ficou contente por saber que ela teria que me cumprimentar.
— Vincent — Kate chamou.
— Oi?
— Edward está planejando fazer uma festa para comemorar o
aniversário dele no final do mês, o que acha?
— Eu acho uma ótima ideia, vocês sabem que estarei lá.
Voltei a olhar para Alexandra.
Ela estava caminhando em nossa direção com o garoto ao lado dela, a
abraçando, evitei prestar atenção na forma como ambos se olhavam porque
aquilo estava me deixando nervoso.
Eu fui o primeiro a cumprimentar, notando a atenção dos meus amigos
em cima de mim.
— Oi, Alexandra.
Ela não parecia estar tão feliz ao me ver e eu achei aquilo estranho.
— Oi — disse, simplesmente.
Suas bochechas coraram ao notar atenção dos meus amigos e do seu...
amigo em cima de nós dois.
— Esses são Edward Reynolds e Katherine Owens, meus melhores
amigos — apresentei. — Pessoal, essa é minha aluna, Alexandra.
— Então você é a famosa Alexandra. — Kate não foi nenhum pouco
discreta. — Prazer em conhecê-la, você é linda, garota.
— Obrigada. — Alexandra sorriu mais abertamente, mesmo que
estivesse corada. — Esse é o meu irmão, Nathaniel.
Irmão.
Irmão.
Me senti o homem mais idiota do mundo. Eu estava mesmo ficando
nervoso por causa do... irmão? Olhei novamente para o garoto, sentindo um
alívio me consumir ao saber da relação que ele e Alexandra
compartilhavam.
Em minha defesa, eles não eram nada parecidos, mas aí me lembrei da
adoção e tudo fez sentido.
— Você é o famoso professor Vincent. — Nathaniel estendeu a mão.
— Sou o melhor amigo e melhor irmão dessa pequena.
Sorri, mais aliviado e apertei a sua mão.
— Prazer em conhecê-lo.
— Como Alexandra está se saindo como assistente? — questionou.
— Sério, Nathan? — Alexandra o olhou com as sobrancelhas
arqueadas. — Não precisa responder, Vincent. Nathan sabe ser um idiota na
maioria das vezes.
— Sou o irmão mais velho, quero saber — defendeu.
— Alexandra é uma excelente assistente — respondi.
— Nunca duvidei dela. — Ele a abraçou novamente. — Bom, se nos
derem licença nós vamos comer porque eu estou morrendo de fome.
Sorri da sua espontaneidade. Parecia ser um ótimo irmão.
— Tenham um bom almoço — desejei.
— Vocês também — Alexandra disse e arrastou o irmão para a mesa
que a recepcionista tinha reservado para eles.
— Caralho! Ela é uma gata — Edward falou baixinho, mas recebeu
um tapa de Kate.
— É melhor você controlar esse vocabulário mesmo — alertei. —
Alexandra merece respeito.
— Hum... — Meu amigo fez aquela voz maliciosa que eu detestava.
Nossos pratos chegaram bem na hora e calou a sua boca.
O garçom arrumou nossa mesa com nossos almoços e só depois que
ele saiu que voltei a dar atenção para os meus amigos, me distraindo com
outro assunto que não fosse a mulher a duas mesas de distância da nossa.
— Como vai ser esse aniversário mesmo?
Não é sua culpa que dêem em cima de você
Não quero ser desrespeitoso
Mas tenho o direito de ficar bravo
Ainda sinto ciúmes
JEALOUS — NICK JONAS
Merda.
Saí da sala de cirurgia ainda preso nas emoções de algumas horas
atrás. Felizmente o cachorro que havia sido atropelado estava a salvo, teria
que fazer algumas fisioterapias, mas ainda teria uma vida repleta de alegria
se os donos o cuidassem bem.
Era Jake, meu diretor, que havia me mandado uma mensagem de voz
avisando que eu precisava ir até o hospital e fazer essa cirurgia de
emergência. Eu não sei se agradecia ou xingava Jake por ter me tirado
daquele momento com Alexandra.
Eu perdi o controle ao ver aquela cena com Adam Johnson.
Alexandra sorrindo, apertando a mão do idiota e conversando com ele,
prestando atenção naquele convite ridículo e talvez teria até mesmo
aceitado. Me descobri um homem mais ciumento do que eu imaginava, tudo
porque ela despertava isso em mim.
Eu não queria assustar Alexandra.
Mas tê-la na minha frente, questionando ao mesmo tempo que eu
ainda estava irritado comigo mesmo por sentir tudo isso por alguém que
nem minha era, fez com que eu despejasse tudo em seu colo, mas receber
aquela reação que ela demonstrou foi ainda mais torturante do que vê-la
com o idiota.
Ela gostou de ouvir o que eu disse.
E por Deus, eu teria a beijado naquele momento.
Pouco me importando de estarmos na sala de aula, onde eu era o seu
professor e ela a minha aluna, um lugar que poderia entrar qualquer um e
ver aquela cena.
Desde quando eu me descontrolava assim por alguém? Nunca.
A resposta veio rapidamente. Eu nunca havia perdido a cabeça dessa
forma, sempre fui um homem muito responsável e centrado, não fazia nada
sem pensar, todos os meus passos até aqui foram calculados, foi exatamente
por isso que cheguei onde estava.
Mas Alexandra me fazia esquecer de tudo.
Da minha nova profissão como professor, do fato de termos uma
grande diferença de idade e das nossas outras diferenças. O que eu
agregaria em um relacionamento com Alexandra? O quanto eu era bom
para ela? O quanto eu a queria era suficiente? Era passageiro? Eu corria
risco de machucá-la? Tudo não seria acelerado demais? Levando em conta
todos os últimos acontecimentos dos últimos meses na vida dela.
Minha mente não conseguia formular as respostas para aquelas
perguntas, porque diante de tudo o que estava acontecendo, também me
descobria um homem mais inseguro em relação a Alexandra. Era um tipo
de insegurança boa, porque não me fazia agir como um louco para cima
dela e me fazia pensar mais coerentemente.
Ela merecia alguém que a amasse, não que só a desejasse.
Desejo era passageiro, mas amor não.
E eu não tinha certeza dos meus sentimentos, não ainda. Todos eles
estavam em conflito dentro de mim.
Eu queria dizer que evoluímos rapidamente para amigos que apenas se
achavam bonitos para amigos que se desejavam, mas estaria me enganando.
Sempre a achei gostosa e sempre a desejei.
Mas com todos os acontecimentos dos nossos primeiros encontros, a
preocupação prevaleceu e a amizade evoluiu, mas eu sempre a admirei,
tanto por dentro como por fora.
Podia dizer com certeza que nunca foi tão intenso como agora, antes
sempre foi mais como achar alguém bonita e gostosa, mas agora era quase
insuportável ficar no mesmo lugar que ela sem tocá-la.
Entrei no meu escritório e me joguei na cadeira.
Minha cabeça parecia que ia explodir. Tudo por causa de uma mulher.
O Vincent de antigamente daria risada dessa minha nova versão.
Uma batida na porta me despertou dos meus pensamentos, e Jake
entrou na minha sala.
— Oi, como você está? — perguntou, se sentando à minha frente.
— Oi, com um pouco de dor de cabeça. — Não era mentira. — E
você?
— Estou ótimo. — Sorriu. — Desculpa ter atrapalhado a sua aula,
espero ter sido no final dela.
Atrapalhou outra coisa, mas tudo bem.
— Já havia acabado e você fez certo em me chamar, o caso do
cachorro precisava de um cirurgião experiente.
— E graças a você esse cachorro vai ter uma vida repleta de alegria —
comentou. — Você foi excelente como sempre, Vincent.
— Obrigado.
— Trouxe alguns currículos novos que vou entrevistar na próxima
semana. — Colocou alguns papéis em cima da mesa. — Avalie até o fim da
semana e me diga se fiz uma ótima seleção para entrevistados.
— Tenho certeza que sim.
Confiava o bastante em Jake para cuidar da parte da seleção do
hospital. Todos os currículos passavam por mim antes, mas eu sempre
deixava a palavra final para o meu diretor. Era ele que estaria mais presente
no dia a dia com a pessoa.
Mas isso não significava que os candidatos que ele entrevistava não
passassem por mim, todos eles passavam.
— Tenho um convite para você — disse. — Na verdade, eu e a minha
mulher temos.
— É mesmo? Que convite? — perguntei, curioso.
— Você sabe que Giovanna está prestes a abrir um restaurante, né? —
Assenti. — Vamos abrir no domingo e gostaríamos que fosse degustar das
massas italianas que só ela consegue fazer.
Sorri.
— É claro que eu aceito o convite, mas isso não é nenhuma tática para
conseguir um aumento, né? — brinquei.
Ele riu.
— Não — se levantou —, mas se você quiser, meu bolso está aberto.
— Abusado. — Dei risada. — Vai sonhando que pode conseguir dois
aumentos em um ano.
Jake piscou.
— Eu sempre tenho que arriscar, não é mesmo? — Caminhou até a
porta. — Convite feito, mas agora preciso ir porque o trabalho me chama.
— Até mais.
Ele saiu da sala.
Olhei no relógio e faltavam quinze minutos para as três horas da tarde.
Não sabia se Alexandra gostaria de visitar o meu hospital depois de tudo o
que aconteceu, não conseguia imaginar como o nosso relacionamento
estava depois do último encontro.
Idiota.
Me recriminei por ser tão impulsivo.
Impulsividade não combinava com um homem como eu.
Peguei o celular para enviar uma mensagem para Alexandra, mas já
havia uma dela. Abri rapidamente.
“Não estou na faculdade, precisei vir para casa. Caso o passeio no
seu hospital ainda aconteça, eu te espero na esquina.”
Não adiaria aquele momento.
Precisávamos conversar.
“Chego aí em dez minutos.”
Rápido demais.
Foi tudo o que eu consegui pensar enquanto dirigia o meu carro em
direção ao apartamento de Kate.
Minha amiga havia mandado uma mensagem no nosso grupo nos
convidando para almoçar no seu apartamento, já que ela e Edward estavam
de folga e eu era dono de um hospital, podia tirar uma horinha para os
melhores amigos. Palavras dela, não minhas.
Não recusei porque sabia que Alexandra teria uma outra aula depois
da minha e que provavelmente iria almoçar com Rebeca, que deveria estar
curiosa sobre o paradeiro de sua melhor amiga na última noite.
Não conversamos sobre contar para ela.
Mas eu sabia que Alexandra teria que contar sobre nós.
Eu também teria que contar aos meus melhores amigos, como um bom
adolescente que precisa de conselhos por não saber o que fazer depois de ter
visto aquele olhar em Alexandra.
Mas que olhar?
O olhar que parecia mergulhado em um mar de incertezas. Ele não
estava ali ontem à noite, mas quando me afastei dela hoje pela manhã, eu vi
aquele brilho cada vez mais confuso e nublado.
Era incrível e ao mesmo tempo assustador a forma como eu conseguia
decifrá-la apenas com um olhar.
Alexandra me desejava e não se arrependia do que fizemos, mas isso
não significava que ela não estivesse incerta sobre tudo o que estava
sentindo.
Rápido demais.
Repeti na minha mente.
Eu não deveria ter me deixado levar pela vontade de beijá-la e tocá-la,
eu sou um homem de trinta e cinco anos, conseguia manter o meu pau
controlado, então por qual motivo eu não esperei o tempo certo?
Uma risadinha irônica soou no fundo da minha mente.
Eu não tinha controle quando se tratava de Alexandra.
Essa era a única resposta plausível para o que aconteceu.
Vê-la com aquela vestido na noite de ontem foi uma tortura e levá-la
para a minha casa não era parte de um plano, era apenas o desejo de estar
mais próximo e prolongar aquela tortura. Mas quando vi um pedaço de sua
calcinha vermelha e imaginei como aquela bunda gostosa deveria ficar com
aquele pedaço de pano enterrado entre suas nádegas, foi demais para o meu
autocontrole.
Derrubado por uma calcinha.
Muito bem, Vincent.
Isso era tão patético como o meu próprio controle, que eu acreditava
fielmente ter.
Mas mesmo sendo rápido demais e provavelmente correndo o risco de
estragar o que havíamos acabado de começar, eu ainda não me sentia
arrependido.
Não conseguia me arrepender.
Ter Alexandra no meu colo, rebolando contra o meu pau e me
beijando com uma fome que refletia em mim era tudo o que eu sempre
sonhei. E o seu gosto... meu Deus, eu poderia me embebedar apenas com
aquele gosto.
Acho que as responsabilidades do dia seguinte caíssem como um peso
pesado em cima dos seus ombros e eu, fui um idiota em não a ajudar a
segurá-lo. Não conseguia imaginar como estava a cabeça dela nesse
momento, havia acabado de beijar o seu professor com diferença de idade
de dezesseis anos, somando com o peso de alguém que ainda estava se
recuperando.
Rápido demais, Vincent.
Como pude perder a cabeça dessa forma?
A minha paranoia só se tornou mais concreta quando mandei uma
mensagem desejando uma boa aula e ela não respondeu.
Alexandra nunca deixava de me responder, nem que fosse apenas uma
figurinha, qualquer coisa, ela ainda respondia.
Precisava dar um tempo para a sua cabeça e então conversar como um
homem sobre tudo o que estava acontecendo. Eu só não permitiria que ela
se afastasse, seria demais para mim, que já estava completamente
acostumado com a sua presença.
Se Alexandra quisesse ser apenas minha amiga, ela teria apenas a
minha amizade.
Eu mesmo precisava organizar os meus pensamentos em relação ao
que eu queria com ela, não podia brincar com os seus sentimentos e nem
com os meus. Nunca fui um homem de enrolar uma mulher, não era agora
que seria.
Estacionei o carro na frente da casa de Kate e desci do automóvel,
louco por um tempo a sós com os meus melhores amigos.
Travei o carro e caminhei até a entrada da casa charmosa da minha
melhor amiga. Pelo carro estacionado logo na frente do meu, Edward já
havia chegado. Bati na porta de entrada e Kate logo atendeu.
— Oi. — Ela sorriu e me abraçou fortemente. — Finalmente tirou um
tempinho para comer a comida da amiga.
— Me diga que você não está cozinhando — murmurei a abraçando.
— Não posso ter uma indigestão essa semana.
— Idiota. — Ela bateu no meu ombro. — Entra e se surpreenda, eu e
Edward estamos fazendo um prato juntos.
Entrei na casa sendo recepcionado pelo seu Ragdoll, uma gata
chamada Diana, muito carinhosa para um felino.
— Diana, como vai? — A gata miou, se esfregando nas minhas
pernas.
— Ela está carente hoje — Kate disse, fechando a porta.
— Eu percebi. — Me agachei até conseguir acariciar a sua cabeça. —
Sua dona não tem te dado atenção, gatinha?
— Ela é ingrata — minha amiga disse, indo até a cozinha. — Só se
interessa por carinho de mim quando quer alguma coisa.
Sorri.
— Esse é o mundo dos inteligentes. — Fiz mais um carinho atrás da
sua orelha antes de me levantar e ir até a cozinha. — Edward cozinhando só
pode se resumir à chuva durante a semana toda.
Meu amigo riu.
— Kate me colocou na cozinha — ele disse. — Eu nunca cozinharia
por livre e espontânea vontade.
— Não posso convidar os meus amigos para almoçar e fazer comida
queimada — Kate explicou. — Eu e Ed formamos uma boa dupla.
Ele piscou para ela.
Me perguntei como estava a relação de ambos agora.
Será que haviam se resolvido? Ou ainda continuavam se torturando
quando podiam viver uma história juntos e felizes?
— Como vocês estão? — decidi perguntar.
— Eu estou ótima e você? — Kate respondeu.
— Estou bem também, cansado de tanto serviço, mas ainda arrumo
tempo para uma festinha — Edward disse.
Me sentei na cadeira da ponta da mesa.
— Eu também estou bem.
— Não parece — Kate observou. — Na verdade, você parece mais
preocupado, sua saúde parece estar ótima.
Eu sabia que eles iriam perceber. Katherine e Edward me conheciam
há muito tempo para notarem quando havia alguma coisa me incomodando,
foi assim durante os últimos períodos da faculdade. A diferença era que
agora a minha preocupação era alta, tinha cabelos volumosos preto e um
corpo que me fazia perder a linha do raciocínio.
— Quero saber sobre vocês primeiro — falei. — Me falem as
novidades.
Eles se entreolharam, logo percebi que estavam escondendo alguma
coisa.
— O que eu perdi?
Edward abaixou o fogo e se sentou ao meu lado, seguido por Kate.
Percebi que iriam me contar alguma coisa e eu só torci para ser algo bom,
porque a minha cabeça estava prestes a explodir com tantos pensamentos,
não precisava de mais uma preocupação.
— Conversei com Ed como você aconselhou aquele dia — minha
amiga começou a dizer. — Nós tivemos uma conversa que durou mais de
quatro horas e decidimos nos dar uma chance.
Meu coração acelerou e um sorriso brotou em meu rosto
automaticamente. Alívio e felicidade misturados ao mesmo tempo em que
uma emoção grande tomava conta de mim, finalmente eles perceberam que
eram melhores juntos do que separados e eu não podia estar mais orgulhoso
de ambos.
E de como contornaram aquilo com uma maturidade invejável.
Peguei as mãos dos dois.
— Estou muito feliz por vocês, de verdade. — O sorriso no meu rosto
era impossível de fingir. — E orgulhoso.
Ed apertou a minha mão.
— Obrigado, cara. — Parecia emocionado. — Você foi uma grande
ajuda, eu provavelmente não teria coragem de dizer o que sinto porque sou
um covarde quando se trata de coisas novas, mas você fez essa mulher vir
falar comigo e eu sempre vou ser grato por isso.
— Não precisa agradecer, era o certo a se fazer. — Me levantei,
fazendo os dois se levantarem também. — Suponho que esse almoço não é
um simples almoço então.
Kate negou, sorrindo.
— Era para contar para você — disse.
— Estou muito feliz — repeti, os abraçando. — Vocês merecem toda a
felicidade do mundo e sei que só um é capaz de dar para o outro. Meu
coração está mais tranquilo agora que Kate tem um homem de verdade ao
seu lado e que Edward se apaixonou pela primeira vez por uma mulher
maravilhosa.
Alguém fungou no nosso abraço.
— Deixa de ser chorão, Ed — Kate zombou.
— Estou sensível, só vocês conseguem isso de mim — resmungou.
— Isso me lembra quando terminamos a faculdade. — Sorri, me
afastando de ambos. — Amo vocês.
— Nós também amamos você — Kate falou.
Voltamos a nos sentar.
— Então quer dizer que Ed não pode mais ir em festinhas e pegar
todas. — Tive que zombar.
— Não — ele fez um beicinho e levou um tapa de Kate, me fazendo
rir —, mas eu gostei de ser enlaçado por minha melhor amiga.
Ele parecia realmente apaixonado.
Como nunca desconfiei disso? Sempre esteve na minha frente e eu
nunca percebi, poderia tê-los ajudado muito tempo antes.
— E temos mais uma notícia boa — Kate se pronunciou. — Minha
mãe está oficialmente separada do meu pai, morando em cidades separadas
e parecem mais calmos do que antes.
— Isso é sério? — perguntei. — Nunca pensei que ficaria aliviado em
ouvir que um casal finalmente se divorciou.
— Eu sinto o mesmo e são os meus pais. — Minha amiga suspirou e
sorriu de lado. — O que importa é que eles estão livres do relacionamento
horrível que eles criaram no final dessa relação, e estão abertos a
encontrarem novas pessoas.
— A felicidade deles é o que importa afinal de contas — Ed disse.
Concordei.
— E agora que você já sabe o que está acontecendo entre nós — meu
amigo falou. — Queremos saber o que está acontecendo com você, esse
rostinho bonito não fica bem preocupado.
Respirei fundo.
— Você tem uma bebida? — perguntei para Kate.
— Pensei que iria trabalhar hoje. — Ela se levantou e foi até a
geladeira.
— Jake pode dar conta do serviço hoje, não tenho nenhuma cirurgia
marcada — respondi.
— É melhor trazer três, Kate — Ed pediu. — Acho que vamos
precisar também.
Minha amiga trouxe três Budweiser e voltou a se sentar do lado de
Edward.
— Pode começar a falar.
Tomei um gole da cerveja gelada e os olhei, ambos estavam curiosos e
também preocupados, decidi parar com aquele drama logo e despejar o que
estava acontecendo de uma vez.
— Beijei Alexandra.
Observei os olhos dos meus amigos se arregalarem e levarem a garrafa
de cerveja à boca, as bebendo simultaneamente. Seria engraçado se não
fosse uma situação tão enlouquecedora, não fazia ideia o que eles iriam
pensar sobre isso.
— Eu presumo que não seja uma Alexandra que acabou de conhecer.
— Edward quebrou o silêncio. — Afinal, quantas Alexandra podem existir
nesse mundo? Muitas.
— Não conheci nenhuma outra Alexandra. — Deixei claro.
— Ah. — Levou mais um gole de cerveja à boca.
— Sua aluna — Kate afirmou. — A sua aluna?
Assenti.
— Que... situação. — Ela parecia sem saber o que dizer e acabou
soltando essas palavras.
— Como isso se iniciou? E eu não estou perguntando do beijo, estou
perguntando da atração — Ed perguntou. — Porque para você beijar
alguém muito mais nova e sua aluna, é porque a atração foi difícil de
suportar.
Eu falei que eles me conheciam muito bem.
— Da mesma forma que vocês — exemplifiquei. — Kate me disse
que acordou em um dia e estava ciente de tudo o que você era, foi quase
dessa forma que me senti em relação a Alexandra, a diferença que eu já
estava ciente desde que a vi pela primeira vez, mas com tudo o que
aconteceu na sua vida, nossa amizade cresceu e a atração foi deixada de
lado.
— Que loucura, cara — meu amigo comentou. — E como ela reagiu?
— O beijo aconteceu ontem — respondi. — E eu pensei que
estávamos bem até nos beijarmos hoje. Eu vi nos seus olhos que ela estava
confusa, parece estranho, mas eu consegui sentir.
— Compreensível — Kate concordou com a atitude de Alexandra. —
Pelo pouco que você me disse sobre essa garota, ela tem muitos demônios
lutando dentro de si e mesmo estando atraída por você, ainda está tentando
se adaptar com tudo o que tem acontecido na sua vida nos últimos meses.
Assenti.
— Eu sei disso e por isso não paro de me culpar, preocupado por ter
sido rápido demais e estragado tudo. — Bebi mais da minha cerveja. — Ela
não respondeu a minha mensagem até agora.
— Ela pode estar ocupada — Ed arriscou.
Neguei.
Eles não conheciam o que tínhamos.
— Acho que na hora certa, vocês dois vão ter uma conversa séria
quanto ao que está acontecendo — Kate disse. — Não pode surtar de
preocupação antes de ter uma conversa com ela, calma, você está parecendo
desesperado.
— Eu sei que estou parecendo um idiota.
— Está parecendo apaixonado — Ed corrigiu. — E o medo é normal
nessa ocasião. Tem muito medo de ter estragado tudo e tê-la afastado.
Apaixonado?
Isso nunca havia se passado pela minha cabeça.
— Se ela quiser ser só minha amiga, então eu vou ser apenas o seu
amigo — contei para eles. — Não posso forçar nada, não posso deixar essa
atração falar mais alto dentro de mim. Alexandra precisa de mim e eu
também preciso dela, criamos um laço incrível nos últimos meses e não
quero destruir isso.
— Dê um tempo para a garota e depois conversem — Kate sugeriu. —
Tenho certeza que as coisas vão se resolver facilmente.
— Esse é o plano — falei. — Pensei que reagiriam de outra forma.
— E de que forma poderíamos reagir? — Kate perguntou.
Dei de ombros, levando mais um pouco de cerveja para boca.
— Só por que beijou uma aluna? — Ed perguntou. — Isso não é nada
comparado àquelas gêmeas que peguei no ano passado.
Recebeu um tapa forte no ombro.
— Ai!
— Vou começar a falar dos meus casos do passado e ver se você gosta
— Kate revidou.
— Não, por favor, precisamos almoçar e eu não quero ficar enjoado —
disse, me fazendo rir. — Prometo pensar antes de falar nas próximas vezes.
Minha amiga sorriu.
— Ótimo!
— O que eu quis dizer é isso mesmo, pensei que por ser uma aluna eu
ouviria um sermão — falei.
— Idiota — Kate ofendeu de graça. — Como ousa pensar isso dos
seus amigos? Só queremos a sua felicidade e se para ser feliz você precisa
daquela garota na sua vida, não nos importamos se ela for sua aluna.
— E você não precisa do serviço como professor — Ed lembrou. —
Se tudo der certo, pegue a garota e saia desse serviço, vive uma vida repleta
de amor e sexo.
— Que romântico — Kate ironizou.
— Foi por essa versão que você se apaixonou. — Ele piscou.
Sorri com a nova interação dos dois.
— Está bem, agora vamos arrumar a mesa e almoçar, quero fofocar
mais com o nosso melhor amigo.
Peguei o meu celular e ainda não havia recebido nenhuma mensagem.
Apaixonado.
Aquela palavra iria permanecer em meus pensamentos por um bom
tempo. A única coisa que eu tinha certeza era de que estava marcado por
Alexandra.
Pela primeira vez depois de muito tempo eu não tinha nada para fazer.
Havia me concentrado 100% no trabalho naquela semana, não me
sobrando tempo para pensar em outras coisas que não estavam sob meu
controle, como a situação de Alexandra, por exemplo. As únicas horas que
eu me sentia aliviado naqueles últimos dias era quando ela atendia a minha
ligação.
Eu estava respeitando o seu tempo.
Mas com uma sensação diferente se apoderando por dentro, percebi
que sentia saudades daquela garota mais do que imaginava sentir.
Nossas conversas não eram mais as mesmas no telefone e eu temia ter
ferrado com tudo ao ter sido rápido demais, resultando em deixá-la
assustada, como ela mesmo assumiu que estava.
Cada dia que passava era um pouco mais difícil, me fazendo perceber
que eu estava apegado pra caralho por Alexandra, mais do que já fiquei por
qualquer mulher antes. A preocupação também permeava a minha mente,
mas eu sentia muito a falta da sua presença.
Naquela sexta-feira à noite, sem nada para fazer, eu teria ligado para
os meus amigos e marcado um encontro em algum bar, ou até mesmo nas
nossas casas, mas eu não iria atrapalhar esse início de namoro. Edward
havia me dito mais cedo que passaria a noite com Kate hoje, e ele parecia
muito contente por isso e com certeza me odiaria se eu atrapalhasse o que
quer que estivessem fazendo.
Era estranho, mas ao mesmo tempo incrível, vê-los juntos.
Então resolvi que a minha melhor companhia para aquela sexta à noite
seria uma boa série com a presença da minha cachorrinha.
Eu estava mesmo velho.
Teen Wolf estava parado no segundo episódio e novamente voltei a
pensar em Alexandra. A última vez que liguei a Netflix foi com ela, na
mesma noite que nos beijamos, e assistimos um episódio da sua série
favorita. Eu aproveitei aquelas horas para zombar dos efeitos péssimos na
sua frente e reclamar um pouquinho da história que era muito adolescente,
mas fiz tudo isso apenas para vê-la defender com orgulho aquele programa.
Naveguei pelas categorias, ignorando Teen Wolf e procurando outra
coisa para assistir.
Encontrei um filme chamado Run, de suspense com uma história que
parecia ser interessante, foi nele que cliquei para assistir.
Mas a minha sessão de filme não durou nem dez minutos.
Pausei o filme assim que a campainha da minha casa começou a tocar.
Lady foi a primeira a levantar, latindo para a porta e abanando o rabo,
como se reconhecesse quem estava do outro lado pelo cheiro. E eu não
duvidava disso, os animais têm o olfato muito sensível.
Abri a porta e fiquei surpreso ao encontrar a garota que perpetuava os
meus pensamentos nos últimos dias ali na minha frente.
Alexandra vestia uma calça jeans apertadíssima no corpo,
evidenciando aquelas pernas que eu só sabia admirar cada dia mais, blusa
larga e um boné do time de basquete da universidade de Campbell.
— Oi — ela cumprimentou.
Acho que ela percebeu que eu estava surpreso e sorriu de lado,
parecendo um pouco nervosa.
— Estou atrapalhando você?
Neguei.
— Você nunca incomoda. — Dei espaço para ela entrar. — Entre, por
favor.
Assim ela fez, entrou na sala e observou com atenção ao redor até ser
quase empurrada por Lady, que queria muita atenção dela.
Alexandra a cumprimentou, alisando a sua cabeça e brincando um
pouco com suas mãos.
Fechei a porta e observei a interação das duas, com um misto de
ansiedade e receio dela estar aqui a essa hora da noite.
Quando ela me olhou havia um nervosismo que dificilmente eu vi
nela, o que automaticamente me deixou nervoso também.
— Podemos conversar? — perguntou.
Assenti e apontei para o sofá.
Alexandra foi até o assento e se sentou. Ao ver que eu estava
assistindo um filme antes da sua chegada, ela sorriu.
— Nunca assisti. — Observou o nome. — Parece bom.
Me sentei ao seu lado.
— É o que parece.
Ela juntou as mãos em cima das pernas e me olhou.
— Estava no jogo do meu irmão — contou, o que explicava as suas
vestimentas. — Foi divertido.
— Eles ganharam?
Assentiu.
— Provavelmente estão todos dançando e bebendo na festa de Bradley
a essa hora — disse.
— Você não quis ir?
— Não — negou. — Eu não gosto muito de festas, prefiro sempre
ficar em casa ou ocupada com alguma outra coisa, mas quando não tenho
escolhas como por exemplo na semana passada, eu tento aproveitar o que
posso.
— Também nunca fui muito de festas, sabia? Sei que é estranho para
um homem, mas acho que sempre tive a alma mais velha — me zombei. —
Só ia quando queria me divertir com os meus amigos, mesmo que preferisse
estar em uma casa com eles.
— É mais divertido quando é mais reservado, né? — Assenti.
Alexandra suspirou.
— Precisamos conversar — disse.
Eu sabia que precisávamos, mas estava confuso por essa conversa ser
agora e apreensivo com o que quer que ela tivesse decidido. Esperei que
começasse a falar, já que algo me dizia que eu não escutaria coisas
agradáveis.
— Você sabe que eu fui diagnosticada com o transtorno bipolar
quando eu tinha quinze anos, mas eu nunca expliquei tudo o que aconteceu
comigo naquela época — começou a dizer. — Acho que falar sobre isso
ainda machuca porque enquanto as garotas da minha idade estavam
curtindo a adolescência, eu estava dentro de uma banheira... tentando...
você sabe.
Peguei a sua mão, sentindo um caroço se formar na minha garganta só
de imaginar o que ela não havia dito por trás daquela frase. O transtorno
bipolar tinha vários picos, dentre eles uma depressão profunda, e se matar
era um dos pensamentos mais recorrentes de alguém que estava nessa
situação. Eu havia estudado um pouco sobre a doença essa semana,
tentando entender a mente da garota que estava roubando tudo de mim.
— Então minha mãe me salvou e eu fui parar em uma clínica —
continuou. — Como qualquer início de tratamento forte, eu não me lembro
de muita coisa, mas consigo me lembrar perfeitamente tudo o que
aconteceu quando eu voltei.
Parecia ser tão difícil para Alexandra contar, como para mim ouvir.
— Então eu me tornei uma nova Alexandra, estava consciente que
tinha uma doença que não tinha cura, teria que tomar os remédios todas os
dias e viver com aquilo para sempre, essa era a teoria de toda a situação,
mas na prática eu estava me odiando, ainda é difícil me olhar no espelho e
amar tudo que se passa aqui dentro. — Apontou para si mesma com a mão
livre, só para depois colocá-la em cima da minha novamente. — Foi dessa
forma, me odiando em segredo, odiando a minha doença e desejando ser
alguém normal que eu conheci Jordan. Hoje eu consigo ver que estava em
um momento muito frágil e que qualquer relacionamento naquela época era
muito para uma adolescente, mas quando ele me tratou com carinho,
paciência e preocupação, eu me apaixonei.
Ouvir aquilo de certa forma incomodou uma parte dentro de mim,
exatamente como no dia que a vi com o aluno idiota.
— Iniciamos um relacionamento logo em seguida, e para a minha
família era bom, eu estava feliz, não estava me importando de ter esse
transtorno e estava me concentrando em viver como qualquer adolescente.
— Ela sorriu de lado e desviou o olhar para nossas mãos. — Eu os enganei
direitinho.
Uma risada baixa e sem graça saiu dos seus lábios em meio as
lágrimas que já começavam a descer pelo seu rosto.
— Caramba, eu fui tão boa em enganar eles que acabei me enganando
por quatro anos.
Apertei a sua mão, usando a outra para limpar as suas lágrimas.
— Quer uma água? — perguntei, alisando suas bochechas.
Ela negou.
— Eu amei Jordan, amei de verdade — confessou —, mas não era um
amor saudável, eu não confiava nele o bastante para termos um
relacionamento de verdade e fazia daquele relacionamento a âncora para me
sentir normal. Como se Jordan fosse a única pessoa que me possibilitasse
isso, entende?
Infelizmente eu entendia.
Acenei que sim com a cabeça.
— Passamos anos nos enganando e eu acho que no fundo ele também
me amou, ou melhor, amou a parte que eu mostrava ser — se corrigiu. —
Eu não parecia ser doente, os dias que eu estava ruim, fazia o máximo para
estar bem. Nunca respeitei os meus limites, sempre fui para cima deles,
achando que podia e que era maior do que aquilo. Eu achei que podia lutar
contra o meu transtorno e não com ele.
— Sinto muito por ter passado tudo isso ainda tão jovem — falei de
verdade. — Jordan ainda continua sendo um idiota por não ter amado cada
parte de você.
— Eu não o culpo por isso. — Deu de ombros. — Eu sou complicada
demais.
— Você não é nada disso — fiz questão de lembrá-la. — Conheci você
quando estava tendo uma crise por estar sem tomar os remédios.
— E, ainda assim, conseguiu se sentir atraído por mim.
Não resistindo a trouxe para mais perto de mim e com um movimento
rápido a coloquei sentada no meu colo, o lugar que por mim ela nunca
sairia. Alexandra me encarou em choque, os olhos agora apenas brilhantes,
já que as lágrimas não caíam mais.
— O quê...
— Sim, eu me senti atraído por você, mesmo assim, e me atrairia
quantas vezes fosse possível, sua doença nunca foi um problema para mim
e ela não deveria ser para você. Ela faz parte daqui de dentro. — Apontei
para o seu peito.
— Estou trabalhando nisso. — Sorriu. — Por que me colocou no seu
colo?
Coloquei uma mecha do seu cabelo atrás da orelha apenas para ver
aquele rosto por completo.
— Senti sua falta — admiti. — Foi uma semana horrível sem você.
— Ainda conversávamos por telefone.
— Mas não como antes.
Alexandra assentiu, concordando.
— Também senti sua falta.
Quis tanto beijá-la porque também sentia falta daqueles lábios e
daquele corpo grudado ao meu, mas respeitei o seu espaço, esperando que
falasse o que tinha para falar, para eu finalmente ter uma conclusão de tudo
o que estava acontecendo.
— Continua a me contar o que estava contando — pedi.
— Eu e Jordan namoramos por quatro anos, mas eu nunca... — Suas
bochechas ficaram vermelhas. — Consegui transar com ele. Você deve se
lembrar muito bem o que eu gritei para todos aquela vez na quadra de
futebol.
Lembrava daquele dia, foi uma cena que também ficou na minha
cabeça por um tempo. Vê-la de uma forma descontrolada me chocou.
— Nos últimos meses me senti tão culpada e Jordan disse tanta merda
que achei que a minha doença tinha algo a ver com isso. Cheguei a pensar
que era frígida, e fiz algumas pesquisas na época, vi que em alguns casos a
bipolaridade pode afetar a parte sexual e... — Ela parecia envergonhada de
dizer tudo aquilo, voltei a pegar a sua mão. — Tudo desandou no final do
ano passado quando o vi me traindo.
Senti mais raiva do garoto agora que sabia tudo o que havia acontecido
nesse relacionamento de merda. Como alguém podia fazer isso? Até mesmo
uma criança conseguia ser mais madura que Jordan. Com tudo o que
Alexandra havia acabado de me falar só consegui concluir que o garoto não
a amava de verdade, só queria ter uma namorada bonita e gostosa, tudo o
que Alexandra era por fora. Mas para assumir o relacionamento com
alguém você tem que aceitar todas as suas partes.
— Eu parei de tomar os meus remédios porque estava triste, magoada
e achando que havia perdido o amor da minha vida. — Riu fraco. — Mal eu
sabia que aquilo era apenas uma crença.
— Precisamos cometer erros e aprender com eles, amor. — Voltei a
acariciar a sua bochecha, chamando a sua atenção para mim. — Agora você
sabe que o que sentiu por Jordan não era um amor de verdade.
— Foi por isso que pedi um tempo para você — voltou a falar. —
Nossas brincadeiras, flertes e beijos não me possibilitavam pensar direito,
porque sempre quando estou com você é como se eu não precisasse de mais
nada.
Ouvir aquilo me fez sorrir. Sentíamos o mesmo um pelo outro, disso
não me restavam dúvidas, mesmo com tantas diferenças entre nós, aquela
mulher no meu colo havia conseguido o que nenhuma outra teve
capacidade.
— Também sinto o mesmo quando estou com você, inclusive, nesse
momento só penso em deitá-la nesse sofá e beijá-la.
Vi aquele brilho de excitação brilhar em seus olhos depois de tantos
dias sem vê-lo. Alexandra olhou para o sofá e depois para mim, como se
estivesse imaginando tudo o que poderia acontecer se ela decidisse não falar
o que veio aqui para falar.
Beijei a curva do seu pescoço, sentindo aquele aroma maravilhoso da
sua pele, só para me afastar e continuar segurando as suas mãos.
— Mas primeiro você tem mais coisas para me contar.
Ela balançou a cabeça e riu.
— Viu como você me distrai? — perguntou, brincando. — Como eu
estava dizendo... pedi um tempo porque não estava conseguindo pensar
direito e eu tive um surto de inseguranças. Me perguntando se a história
toda estava se repetindo novamente porque eu não conseguia ficar sozinha,
precisava de alguém para me deixar menos vulnerável ou porque ainda não
me aceitei o suficiente. Nada era em relação a você, porque sei o quanto é
diferente de Jordan. Todas as minhas inseguranças eram apenas minhas e da
minha história.
— Eu entendo — a tranquilizei. — Fomos muito rápidos e isso
também acabou assustando você.
— Talvez, mas... eu gosto do que sinto quando eu estou com você —
admitiu, as bochechas ficando naquele tom rosado que eu amava. — Nunca
me senti assim com ninguém.
— Eu também gosto muito.
— Tirei esses dias para pensar em como o que eu sinto em relação a
você é diferente do que eu sentia por Jordan. — Sua mão largou a minha e
tocou o meu rosto, por um momento, quase fechei os olhos ao sentir o seu
carinho na minha pele. — Com você sempre teve confiança, preocupação,
carinho, amor e amizade.
Peguei a sua mão e a beijei, ela sorriu e passou a contornar os meus
lábios com os dedos.
— Em algum momento tudo isso evoluiu para uma atração forte e
avassaladora, mas esse novo sentimento nunca me afastou de você, apenas
me trouxe para mais perto — resumiu. — Não quero passar uma vida com
medos e inseguranças, quero poder contorná-los antes que atinja o meu
limite exatamente como eu fiz dessa vez.
Sorri, orgulhoso da garota que crescia na minha frente. Ela seria uma
grande mulher.
— O que quer fazer? — perguntei. — Eu sou seu para que faça
qualquer coisa.
Beijei a ponta do seu dedo.
Ela riu.
— Você não pode falar essas coisas, ainda é meu professor —
lembrou. — Mas eu gostaria de continuar de onde paramos.
Sim, eu ainda era o seu professor e aquele era um assunto que eu
deixaria para me preocupar amanhã, porque naquele momento eu só queria
beijar essa garota.
Aproximei meu rosto do seu e levei as minhas mãos até a sua nuca,
seus olhos foram parar em meus lábios e eu não vi mais nada depois que
colei a minha boca na sua. Fechei os meus olhos e tive que me controlar
para não gemer quando senti o seu gosto na minha boca, o gosto de menta
estava forte e só tornava aquele beijo melhor.
Alexandra segurou os meus ombros, se ajeitando no meu colo e
ficando de frente para mim enquanto retribuía com a mesma fome. Suguei a
sua língua e deslizei as minhas mãos para a sua bunda, a espremendo contra
mim e me deixando mais faminto por tê-la em todos os ângulos possíveis.
Virgem, Vincent.
Tive que me lembrar.
Não era algo que me surpreendia, mas requer paciência e em muitos
casos eu teria que me virar sozinho, como agora.
Meu pau já dava sinal de vida dentro da calça de moletom enquanto
sentia a bocetinha de Alexandra ainda tapada pela calça jeans em cima dele.
Eu estava completamente ferrado.
Mas era um tipo de tortura que eu gostava.
— Janta comigo? — perguntei depois que desgrudamos nossos lábios.
Ela assentiu.
— Acho que não tenho nenhum lugar melhor para ir. — Sorriu e
voltou a me beijar.
Era bom acrescentar que eu também estava perdido.
Mas quem disse que eu queria me encontrar?
Sem calcinha.
Meu pau estava duro sob a calça.
A cada dia que se passava eu estava parecendo mais um adolescente
de dezessete anos do que um homem de trinta e cinco, mas levando em
conta que na época que eu era novo só pensava em estudar e ter um futuro,
tinha que aproveitar o que tinha agora.
E estava cada vez mais difícil resistir a Alexandra.
Como se fosse uma droga injetada diretamente na veia.
Antes de beijá-la eu ainda conseguia estar sob controle, mas depois
tudo parecia evaporar. Eu só queria essa mulher para mim, em todos os
sentidos. A semana havia sido uma droga sem a presença dela perto de
mim, sem os seus sorrisos, seus beijos, suas conversas e sua carinha quando
gozava.
Que por falar nela...
Estava louco para ver aquele rosto se encher de prazer como naquele
sábado.
Tudo estava nublado na minha mente, mas eu tinha certeza de uma
coisa. Nunca foi tão intenso, nunca foi tão saboroso e nunca foi tão incrível.
Com Alexandra eu podia ser exatamente o que eu era.
Segurando a sua mão e a guiando para fora da casa de Edward não me
importei como aquilo pareceria. Eu conseguia enxergar o desejo nos seus
olhos brilharem tão intensos como os meus, e sabia que mesmo sem dizer
nada, Alexandra queria o mesmo que eu.
Mas eu precisava ter certeza e aproveitando a rua vazia, com todas as
pessoas na casa do meu amigo, a encurralei na porta, segurando o seu rosto.
— Você não me respondeu, amor — falei, desviando o olhar para os
seus lábios entreabertos.
Estava claro que ela estava excitada como eu estava.
Isso era o suficiente para me deixar louco por essa garota.
Suas mãos subiram pelos meus braços, arrepiando o meu corpo
quando suas unhas rasparam pelo meu pescoço e seguraram a minha nuca.
— Quero que me mostre tudo o que quer fazer comigo — murmurou.
Eu não precisava de mais nenhuma resposta.
Abri a porta de trás do carro e nos coloquei lá dentro, fechando a porta
e beijando aquela boca maravilhosa.
Não me importava se o lugar era pequeno demais ou que corríamos o
risco de ser pegos ali, mesmo que existisse película escura nos vidros do
carro, eu só queria mais de Alexandra e dar tudo o que ela também queria
de mim.
A beijei enquanto minhas mãos deslizavam por todo o seu corpo até
chegar nas coxas deliciosas e trazê-las para o meu colo, de onde ela nunca
deveria ter saído. Alexandra se sentou bem em cima do meu pau duro, me
fazendo lembrar da maldita ausência da calcinha e sentir a bocetinha
molhada lambuzando a minha calça.
Porra!
De novo eu ia gozar nas calças como um adolescente.
Alisei suas coxas, subindo as minhas mãos para a blusa e retirando de
dentro da sua saia. Alexandra gemeu contra a minha boca quando rebolou
no meu colo, procurando um alívio que eu sabia bem como dar para ela.
Separei nossas bocas e retirei a sua blusa, podendo observar aqueles
seios maravilhosos cobertos pelo sutiã preto rendado de perto.
Ela era toda linda.
Como um anjo caído.
Olhei para o seu rosto e a encontrei envergonhada, me perguntei
novamente como alguém conseguia ser tão transparente. Em alguns
momentos ela era atrevida, em outros tímida, e eu amava isso pra caralho.
— Você é linda, amor — falei, deslizando a minha mão do seu
pescoço até o vão entre os seus seios. — Posso abrir?
Ela assentiu, toquei no fecho da frente do sutiã que não era de abrir
por trás, notei as batidas do seu coração tão aceleradas quanto as minhas.
Abri o sutiã revelando os seios que eu sonhava em tocar nos últimos dias.
Eles eram médios e caberiam perfeitamente nas minhas mãos.
O sutiã deslizou pelos seus braços até cair no chão do carro e minhas
mãos se arrastaram delicadamente até aquelas preciosidades. Alexandra
ofegou quando os toquei e eu quase gemi ao senti-la estremecer de desejo
enquanto eu segurava aqueles dois.
— Linda demais — admirei.
Coloquei a ponta dos polegares em cada bico enrijecido, massageando
e brincando com os dois montes enquanto abaixava o meu rosto e dava
atenção para o seu pescoço.
Ela deitou a cabeça de lado, me dando mais acesso a sua pele que
estava avermelhada dos últimos chupões. Passei a minha língua por aquela
parte a fazendo arrepiar e se remexer no meu colo, principalmente com o
carinho que eu dava especialmente para os seus seios.
Meu pau estava molhado dentro da calça sentindo aquela bocetinha se
remexer em cima dele.
Chupei sua pele mais uma vez, deslizando a boca por seu peito e então
me aproximei dos seus seios. Alexandra ofegou quando meus lábios
beijaram por cima do seu seio direito.
— Estou louco para sentir seu gosto, amor, mas também quero muito
colocá-los na minha boca. — Apertei os seios.
— Vincent... — Rebolou contra o meu pau. — Por favor...
Ela não precisava pedir mais de uma vez.
Abocanhei seu seio direito e nós gememos ao mesmo tempo.
Enquanto uma mão apalpava um, eu chupava e mamava o outro, adorando a
forma como ela rebolava e perdia o controle no meu colo.
Passei a mamar o outro, ouvindo Alexandra gemer, louca para atingir
o orgasmo, mas eu ainda tinha mais planos para ela essa noite.
Me ergui da forma que pude no carro e a deitei no banco, beijando os
seus dois seios para depois descer a minha boca pela sua barriga.
Quando cheguei na barra da sua saia, Alex ergueu o rosto para me
olhar, corada com tanta excitação e consegui reconhecer um pouco de
vergonha.
— Não precisa ter vergonha de mim, amor. — Ergui suas pernas e
beijei seu joelho. — Mantenha elas abertas para mim, ok?
Eu estava a ponto de explodir dentro da calça, mas não podia ir muito
rápido, não quando Alexandra merecia essa descoberta. Ela era como uma
borboleta que havia acabado de sair do casulo, aberta a todas as descobertas
que ainda estavam por vir e eu queria fazer parte de pelo menos metade
delas.
Alexandra fez o que eu pedi, sem nenhum receio ela abriu as pernas
para mim e levantando a sua saia eu contive a vontade de gemer alto,
apenas de ver a sua boceta depilada e escorrendo lubrificação de tão
excitada que estava.
Minha boca salivou.
Meus olhos deveriam refletir tudo o que eu estava sentindo porque ao
olhar rapidamente nos seus, encontrei um brilho de confiança que não
estava ali antes, e a admirei mais por isso. Ela tinha todos os motivos para
se sentir desse jeito.
Alexandra era a garota mais bonita que os meus olhos já haviam
observado.
— Estou louco para provar o seu gosto. — Deslizei a minha mão pelas
suas coxas, chegando bem perto da sua boceta. — Posso?
Ela estava vermelha.
— Vince... eu nunca... fiz isso.
— Eu sei. — Beijei a sua coxa. — Você deixa eu ser o primeiro e
único a fazer isso?
Só de imaginar ela com outro, um lado ciumento e possessivo
despertava dentro de mim.
Alexandra assentiu.
— Sempre confiei em você, para qualquer coisa.
Sorri com suas palavras, me sentindo feliz por ser isso para ela.
Desci meus beijos pela sua coxa até chegar no meio das suas pernas,
primeiro aspirei o cheiro, usando a minha outra mão para tocá-la. Primeiro
seus grandes lábios, a fazendo remexer o quadril, ansiosa.
— Quietinha, amor. — Beijei novamente a sua coxa, dessa vez mais
perto da sua intimidade.
Deslizei os meus dedos pela umidade, tocando o clitóris inchado de
tanta excitação. A masturbei devagar, apreciando seus gemidos e as suas
levantadas do quadril, mesmo que eu tivesse pedido para ficar quieta no
lugar.
Parei de tocá-la e em seguida levei os dedos à minha boca, provando
do seu sabor.
— Deliciosa como eu sempre imaginei — aprovei, viciado naquele
sabor.
— Vincent — me chamou, os olhos em chamas. — Por favor.
Com uma só atitude, abocanhei sua boceta a fazendo gritar dentro do
carro. Agradeci as músicas altas do lado de dentro da casa de Edward,
impossibilitando que as pessoas escutassem o que estava acontecendo
dentro desse automóvel.
Recebi o gosto de Alexandra direto da fonte, lambendo e engolindo
daquela lubrificação até colocar o seu clitóris na boca e chupar, a levando
ao delírio.
Suas mãos foram até a minha cabeça, mas eu decidi a provocar ainda
mais juntando as suas mãos com a minha e a deixando presas por cima da
sua barriga, sem nunca desgrudar a minha boca da sua boceta. Alexandra
gemeu, remexeu o quadril, querendo que eu fosse mais forte, mas eu havia
esperado muito por aquele momento para acabá-lo tão rápido.
Era surpreendente.
Parece que o controle não havia se esvaído de mim como eu
imaginava.
Chupei seus lábios, colocando a minha língua na sua entrada que
deveria ser tão apertada e que nesse segundo meu pau quase gozava só de
se imaginar dentro. Alexandra tentou se desfazer do aperto de suas mãos da
minha, mas não deixei, a fazendo fechar as pernas ao meu redor e erguer o
quadril.
— Vince... droga — ela gemeu.
Sorri, eu estava tão louco como ela.
Dei um tapa fraco na sua coxa, chamando a sua atenção.
— Mantenha as pernas abertas, lembra? — Ela afastou rapidamente as
pernas, deixando-as abertas. — Muito bem.
Voltei para o meu novo lugar favorito, lambendo e sugando aquele
nervinho na minha boca com mais rapidez do que antes. Alexandra estava
quase se desfazendo embaixo de mim, se contar desde a hora que ela sentou
no meu colo há minutos.
Me tornei mais rápido, segurando as suas mãos juntas contra a sua
barriga de novo e tomando tudo o que podia na minha boca.
Alexandra se desmanchou em um orgasmo fenomenal alguns
segundos depois, despejando todo o líquido na minha boca. Eu engoli cada
parte, só me afastando da sua boceta quando estava limpa e quando ela
mesmo pediu, sensível demais para aguentar a minha língua.
Subi meus beijos e encontrei os seus olhos fechados, a boca
entreaberta, tentando recuperar o fôlego e aquele rosto vermelho de quem
havia acabado de encontrar o prazer.
Não resisti e a beijei.
Sendo o fôlego que ela precisava naquele momento.
Alexandra abraçou meus ombros, retribuindo o beijo e me fazendo ter
a certeza de que a minha vida toda eu havia esperado por ela.
— Você ainda está... — Ela apontou para o meu pau ainda duro nas
calças.
Seria difícil de abaixar isso aqui.
Alexandra já estava vestida e estávamos de volta na parte da frente do
carro. Não havia mais vontade de nenhum dos lados de participar da festa
de Edward, mandei uma mensagem para o meu amigo e ele nem se
importou direito, provavelmente ocupado se divertindo com Kate.
Aquela parte era a mais difícil.
Eu teria que devolvê-la para o mundo real.
Era quase como arrancar do mundo que criávamos quando estávamos
juntos.
— Vou ficar bem, amor. — Pisquei. — Seu prazer vem sempre antes
do meu.
Suas bochechas coraram e eu não perdi a oportunidade de provocá-la
mais.
— Como foi o seu primeiro oral recebido?
Ela arregalou os olhos e ficou mais vermelha.
— Vincent! — Deu um tapa no meu ombro.
Segurei sua mão e a trouxe para mais perto.
— Estou curioso, quero saber se ainda sei fazer um bom trabalho —
brinquei.
— É, você não está tão velho assim, satisfeito? — brincou de volta.
Beijei seu queixo.
— Tenho certeza de que tem mais do que isso, mas vou aceitar apenas
o que me disse por enquanto. — Coloquei aquela mecha teimosa que
sempre ficava na frente do seu rosto para trás da orelha. — O que acha de
dormir comigo hoje de novo?
— Eu queria, mas não posso. — Fez um beicinho. — Combinei de
fazer chamada de vídeo com os meus pais amanhã de manhã. Minha mãe
teve uma ideia de fazer essa ligação bem no café da manhã, ela está com
saudades dos filhos.
— Sua mãe parece ser incrível — comentei, só pela forma como ela
comentava tinha essa certeza. — A sua família no geral.
— Quando você os conhecer, vai se divertir muito, eles são ótimos. —
Ao perceber o que disse, desviou o olhar. — Isso, é claro, se quiser
conhecê-los.
Peguei a sua mão e levei até meus lábios, a beijando.
— Eu quero.
Ela sorriu.
— Vai me levar para casa, doutor?
— Já que não posso levá-la para a minha, é o que resta.
Me ajeitei no banco do carro e larguei a sua mão para colocar o cinco,
dando partida no carro logo em seguida.
Aquele seria outro final de semana que me ocuparia com os meus
trabalhos e atividades da faculdade, já que Alexandra não poderia passar
mais um tempo comigo.
O caminho até a sua casa foi silencioso, um tipo de silêncio que me
fazia pensar mais sobre tudo o que estava acontecendo ao meu redor,
principalmente com o meu coração.
Aquele relacionamento em segredo havia começado há algumas
semanas, mas já começava a me atormentar porque eu queria mais do que
tudo sair com Alexandra para outros lugares, sem ter medo de que algum
aluno, ou um amigo dela, pudesse nos ver juntos.
Queria beijá-la em um local público sem ter medo de ser espionado.
Eu sabia que faltavam poucas semanas para tudo isso começar a
acontecer, mas eu não era o homem mais paciente do mundo e ter esse
desespero por coisas tão simples para outros casais só me fez ter uma
certeza.
Eu amava Alexandra.
Aquela paixão que nos conectava há algumas semanas se tornou no
mais puro e devoto amor.
Eu me preocupava com essa garota como se fosse parte de mim, eu
queria sempre a ver feliz e desejava do fundo do meu coração que esse
novo tratamento, tanto quanto as medicações e também as terapias, a fizesse
enxergar o que eu estava enxergando há dias.
Uma beleza interior difícil de se encontrar.
A garota com a alma mais humilde que eu já tive o prazer de conhecer.
A garota que conseguiu deixar um homem de trinta e cinco anos
completamente encantado por ela.
Uma Alexandra que ainda descobriria tantas coisas.
Alguém que virou o meu mundo de ponta cabeça e me fez perceber,
com uma leveza impressionante, de que eu precisava da sua presença na
minha vida tediosa.
Ela não era resumida apenas nessas coisas.
Resumir Alexandra seria difícil, porque nenhum resumo era bom o
bastante para explicar os motivos que a tornavam especial para mim.
Eu sabia que essas sensações de querer estar perto, de me preocupar
com ela a cada instante que notava algo de diferente ou até mesmo de
assistir uma série que nem fazia o meu estilo só para vê-la feliz deveriam
significar alguma coisa.
Amor.
Então, amar era isso?
Estacionei o carro em frente à sua casa e a olhei.
Alexandra sorriu para mim e até mesmo esse sorriso estava diferente
agora que eu havia notado a importância dela em minha vida.
Parecia mais lindo.
Mais diferente.
— Acho que só vamos nos ver na segunda — ela disse, alheia a todos
os meus pensamentos e tirando o cinto.
Será que ela também sente o mesmo?
Me perguntei.
Ela disse que confiava em mim, mas não sabia se confiança estava
diretamente relacionado ao amor. Nesse assunto eu parecia uma criança
perdida.
Aquela era a primeira vez que me sentia dessa forma.
— Vince? — Meu apelido soou na sua boca.
Sorri de lado.
— Vou sentir sua falta — falei de verdade.
— Eu também. — Um suspiro saiu de seus lábios. — Até segunda?
Assenti, levando a minha mão até a sua nuca e a trazendo para mais
perto de mim só para iniciar um beijo.
Agora eu consegui identificar bem o gosto quando nos beijávamos
daquela forma, lenta e apaixonante.
Era amor.
Sempre foi Alexandra.
Desde o início, sempre foi ela.
Com um aperto no peito encerrei nosso beijo com alguns selinhos e
antes de me afastar beijei a ponta do seu nariz, como eu adorava fazer.
— Até segunda, amor.
Seus olhos brilharam e sorrindo, ela saiu do carro.
Só consegui dar partida no automóvel quando Alexandra já estava
dentro de casa.
E enquanto usava das estradas vazias de Campbell para pensar em
tudo o que estava vivendo, tive a certeza de que precisava oficializar esse
relacionamento na próxima semana que ficaríamos juntos.
Você consegue ouvir no silêncio, no silêncio
Você consegue sentir na volta para casa, volta para casa
Você consegue ver com as luzes apagadas, luzes apagadas
Você está apaixonado, um amor verdadeiro
YOU ARE IN LOVE — TAYLOR SWIFT
Dormimos abraçados.
Acordei sentindo o meu braço amolecido por ter ficado a noite toda na
mesma posição, mas aquilo não se tornou um incômodo. Não quando
Alexandra estava nos meus braços dormindo tranquilamente em um sono
profundo.
Me levantei com cuidado para não a acordar e decidi surpreender com
um café na cama, muito cavalheiro da minha parte.
Meu pai gostava de fazer isso.
Eu não me lembrava porque era muito pequeno, mas minha mãe me
conta até hoje que meu pai adorava surpreendê-la com um café da manhã na
cama. E essa atitude vinha exatamente em um dia que ela não esperava,
fazendo jus à surpresa.
Vesti a minha calça de moletom e saí do quarto em silêncio.
Lady estava na sala, brincando com o ursinho e quando me viu veio
correndo e começou a pular.
— Quietinha, já vou servir o seu café da manhã. — Alisei sua cabeça.
Lady parou de pular e se sentou, aguardando.
— Boa menina.
Peguei a ração e servi a medida exata no seu potinho, Lady começou a
comer logo em seguida.
Depois de lavar a mão, comecei a preparar o café da manhã. Perdido
em pensamentos, viajando em tudo o que havia vivido naquele quarto
ontem à noite. Precisava achar uma forma de oficializar para todos que
estávamos juntos, mas antes disso o semestre teria que acabar. Faltava um
mês para isso, e eu conseguia esperar.
Ainda permaneceríamos nos vendo a distância, fingindo para todos
que éramos apenas aluna e professor, quando nos fins de semana estaremos
nessa casa fazendo amor, nos beijando, rindo e conversando como dois
amantes.
Eu podia fazer isso.
Era para o bem do meu futuro e também para o de Alexandra.
Meu celular tocou na sala, deixei os ovos mexidos pronto no prato e
fui até a mesinha de centro. Era uma mensagem de Kate no nosso grupo de
três.
Kate: Eu espero que o Vincent tenha um bom motivo para ter fugido
da festa de aniversário.
Sorri e comecei a digitar.
Eu: Fugi na sexta, você só deu falta agora?
Kate: Eu estava bêbada.
Edward mandou uma mensagem logo em seguida:
Ed: Como está a Alexandra? Ela parecia estar passando mal.
Só se fosse de tesão.
Kate: Verdade, havia me esquecido disso. Estou culpando a bebida.
Kate bêbada esquecia de tudo mesmo, não podia julgar.
Eu: Ela está bem, inclusive tenho uma novidade.
Ed: Qual?
Eu: Estou namorando.
Kate: Pensei que já estavam.
Eu: Não de forma oficial, ontem oficializamos tudo.
Ed: Comprou para ela um anel?
Eu: Que anel?
Kate: Tadinho, parece um namorado de primeira viagem... você
comprou alguma coisa para oficializar esse momento? Tipo um anel para
pedir em noivado?
Eu: Não...
Eu pretendia pedi-la em namoro na próxima semana em um jantar
romântico no restaurante da mulher de Jake, mas não havia pensado em
joias. Analisando bem, Alexandra não parecia uma garota que se importava
com essas coisas.
Kate: Pelo amor de Deus, não diga que ela parece ser o tipo de garota
que não se importa com isso.
Minha amiga tinha essas manias de ler pensamentos.
Ed: Eu comprei um anel para Kate, posso levá-lo até a joalheria.
Eu: Agradeço, cara. Vai ser de grande ajuda.
Kate: E o que seria dos dois sem mim, não é mesmo?
Eu: Da um jeito na sua mulher, Ed.
Ed: Vou dar um jeito, na cama.
Revirei os meus olhos. Desnecessário.
Kate: EDWARD!
Eu: Vocês não precisam compartilhar essas coisas, de verdade.
Eles zoaram mais um pouco e eu desliguei o celular, pronto para ir
servir a minha namorada no quarto. Fiz algumas torradas, arrumei o café e
também fiz um suco, coloquei tudo e mais algumas frutas em uma bandeja
e caminhei em direção ao quarto.
Quando cheguei, Alexandra estava de pé vestindo a minha regata e os
mamilos pontudos através do tecido só me fez ter a certeza de que estava
sem sutiã. Meu pau deu um pulo dentro da calça, pouco se importando que
era de manhã e a nossa mulher precisava se alimentar.
Fazia menos de oito horas que eu havia entrado dentro dela e queria de
novo.
Queria que ela não sentisse mais dor e só aproveitasse do prazer, mas
eu sabia que a segunda vez ainda seria um pouco complicado. Alexandra
era tão apertadinha, que só de pensar meu pau inchava dentro da cueca e
por esse motivo precisava ir com calma, para não a machucar.
Mas quando ela não sentisse mais dor...
Eu a pegaria de jeito da forma que eu sabia que ela desejava.
— Bom dia, amor — cumprimentei.
Ela se surpreendeu ao me ver segurando uma bandeja.
— Bom dia. — Sorriu, as bochechas coradas a deixando mais linda.
— Isso é...?
— Café da manhã. — Indiquei a cama. — Sente-se e vamos comer.
— Isso é incrível, mas eu... — olhou ao redor —, preciso da minha
bolsa.
Franzi a testa.
— Está na sala.
— Verdade. — Caminhou até a porta. — Eu já volto, me espera aqui,
ok?
Antes de sair, ela veio até mim e beijou os meus lábios rapidamente.
Eu sei que deveria fazer o que ela pediu, mas curioso pela forma como
ela saiu do quarto, deixei a bandeja em cima da cama e a segui.
Alexandra estava na cozinha com uma caixinha de comprimidos na
mão e enchendo um copo de água.
Entendi porque ela queria que eu ficasse no quarto.
Não queria que eu a observasse tomando os remédios.
— Você não costuma obedecer, né? — ela brincou ao notar a minha
presença.
— Gosto mais de mandar. — Pisquei e me aproximei dela. — Algum
problema, amor?
— É só... — Suspirou, mexendo com a caixinha de comprimidos. —
Acho que fiquei com vergonha de tomar na sua frente.
— Não precisa ter vergonha. — Ergui minha mão e coloquei uma
mecha do cabelo atrás da orelha. — Amo você dessa forma, lembra?
Ela assentiu e levou os comprimidos à boca, tomando tudo com a
ajuda da água. Aquilo me fez sorrir, orgulhoso.
— Não sei o que fiz para merecer você, mas vou começar a agradecer
por isso. — Me abraçou. — De todos os presentes que a vida já me deu,
você é o mais lindo.
A abracei de volta e minha boca encontrou a sua, iniciando um beijo
com sabor do mais puro e verdadeiro amor.
Era estranho você pensar que o tempo estava passando rápido e não
conseguir fazer nada para mudar aquilo porque de alguma forma, ele estava
passando normalmente, mas estávamos tão presos a uma rotina que nem
notamos o tempo passar.
Era assim que eu me sentia nos últimos dias.
Com muitos trabalhos para entregar e apresentar na faculdade, e
também todas as provas que tinha para estudar me deixavam cada vez mais
sem tempo de dar atenção para meus amigos, meus irmãos e até mesmo
Vince.
O fim de semana passado foi o último dia que pude aproveitar um
tempinho com ele como namorados, já que na segunda eu era apenas sua
aluna. Durante a semana ele também se manteve ocupado. O novo hospital
estava cada vez mais tomando o seu tempo e como ele não havia
encontrado um diretor à altura de Jake, se mantinha com todas as
responsabilidades.
Com tantas correrias eu nem notei a sexta-feira chegar.
Só percebi quando minha mãe mandou no grupo da família uma selfie
com meu pai no aeroporto do Tennessee. Eles estavam vindo para
Campbell, para o dia das mães que eu nem me lembrava mais ser no
domingo.
Naquela sexta-feira eu e Rebeca encontramos Anne, meus irmãos,
Caleb, Mack e também Andrew no nosso cantinho especial do campus:
embaixo de uma árvore.
— É uma pena que a tia Ali e o tio Matt não vão poder aparecer —
Sky comentou. — Seria legal que toda a família estivesse junto.
— Minha mãe pegou plantou no hospital e meu pai vai ficar no bar. —
Mack deu de ombros ao dizer. — Ele falou que não tinha muito sentido
viajar sem dona Alisson e eu concordo. Logo vamos estar todos juntos.
— Ansioso pelas férias — Nathan falou. — O treino está cada vez
mais puxado e para a próxima temporada, o treinador quer nos ver
ganhando.
— Vocês vão conseguir dessa vez — Anne disse. — Tenho certeza.
— E que horas temos que buscar nossos pais no aeroporto? —
perguntei porque eu não me lembrava.
— Eles chegam daqui trinta minutos — Ty respondeu. — Temos que
ir logo para casa.
— Eles vão participar do jogo? — Andrew perguntou.
Nathan assentiu.
— Meu pai está ansioso para ver um jogo de perto. — Sorriu. —
Espero que nosso time ganhe.
— Eu estou louca para ver o tio Dylan e a tia Raven, vou com vocês
para casa — Rebeca se convidou.
— Entrou mesmo para a família, né? — Nathan zombou.
— E você vai ter que me aturar.
Sorri com a interação. Minha amiga parecia muito mais leve depois
que me contou sobre o seu passado.
— Caleb vem? — perguntei.
Ele olhou para Sky e ela desviou o olhar. Franzi a testa no mesmo
momento, achando estranho.
— Preciso termina...r um trabalho. — Ajeitou os óculos no rosto,
parecendo... decepcionado? — Nos vemos no jogo?
— Claro, cara. — Nathan deu um tapa em suas costas. — Você é o
novo amuleto da sorte da família — brincou, no entanto, Caleb não riu ou
corou, parecia aéreo.
Um sininho tocou na minha cabeça alertando que havia alguma coisa
estranha entre os dois. Observando melhor, ambos não estavam nem de
mãos dadas ou grudados como sempre ficavam.
Eu questionaria isso mais tarde.
— Vou aparecer para o almoço de amanhã — Mack avisou. — Eu e
Andrew, mas óbvio que vamos ver os tios no jogo hoje à noite.
— Então é melhor irmos — falei. — Ou então eles vão chegar e não
vamos estar em casa.
Sky assentiu.
Nos despedimos dos nossos amigos e não me passou despercebido que
Sky deu apenas um beijo na bochecha de Caleb.
Enquanto caminhávamos em direção ao carro, aproveitei que Rebeca
estava digitando freneticamente uma mensagem no celular e meus irmãos
andavam mais a frente, e perguntei:
— Está acontecendo alguma coisa entre você e Caleb?
Ela franziu a testa, mas ao desviar o olhar percebi que iria mentir.
— Não.
— Tudo bem — murmurei. — Quando quiser falar vou estar aqui.
Sky percebeu que eu havia notado a mentira na sua resposta.
Ty destravou o carro e Nathan ficou na frente, deixando eu e as
meninas atrás. Rebeca ainda digitava algo no celular quando eu me curvei
na sua direção, tentando espiar algo.
— O que tanto digita aí?
Ela rapidamente colocou o celular contra a barriga.
— Que susto! Não é nada.
— Por que está escondendo de mim?
— Não estou escondendo nada.
Arqueei as sobrancelhas em sua direção. Minha amiga suspirou e
enquanto meu irmão dava partida para fora da faculdade, Rebeca sussurrou:
— Vou sair com Ryder.
É claro que ela vai.
— Eu pensei que você tinha decido que não iria sair mais com ele —
lembrei.
— Eu disse que não iria sair semana passada com ele, mas vou sair
nesse fim de semana, ele está insistindo.
— E só por que ele está insistindo você vai?
— Não. — Fez um beicinho. — Eu também quero.
Dessa vez fui eu que suspirei.
— Apaixonada pelo traficante da cidade, que momento, hein? —
Nathan se meteu no assunto. — Só não é pior do que levar um pé na bunda
da pessoa que mais amou nessa vida.
Eu e Sky nos olhamos, mas não comentamos nada. Meu irmão gostava
muito de se zombar com tudo o que aconteceu, às vezes eu achava que o
senso de humor era a sua válvula de escape. Como as corridas eram a de Ty
e como o relacionamento com Jordan era a minha.
— Ryder não faz coisas boas, Rebeca — Ty avisou.
— E você trabalha com ele.
— Eu corro para ele — meu irmão corrigiu. — É muito diferente,
então tome cuidado. Se envolver com alguém desse submundo,
principalmente o chefe dele, é mais complicado do que parece.
— Desculpa, mas vou ter que falar o mesmo para você — Rebeca
revidou. — Essas corridas também são perigosas e você está tão envolvido
quanto eu estaria se me relacionasse com ele.
Ty assentiu.
— Boa resposta.
Meu irmão odiava que julgassem o seu modo de vida e notando isso,
Nathan mudou de assunto rapidamente.
— Podemos almoçar fora hoje, o que acham?
— Uma ótima ideia — concordei. — O que acha daquele restaurante
que fomos naquele dia?
— Eles vão adorar.
Meu celular vibrou no bolso da minha calça indicando que havia
chegado uma nova mensagem. Peguei o aparelho e desbloqueei a tela.
Era de Vincent.
“Bom dia, amor, ou seria boa tarde? Como foi a aula hoje? Seus pais
já chegaram?
Sorri e comecei a digitar.
“Bom dia! Estamos quase chegando em casa, logo eles estão
chegando. Minha aula foi ótima e como você está?”
“Estou bem. Estou no horário de almoço e logo vou para uma
cirurgia emergencial.”
“Vai dar tudo certo. Infelizmente não vamos nos ver esse fim de
semana.”
“Acho que mesmo se seus pais não viessem não teríamos como nos
ver, amanhã vou passar o dia em reuniões e talvez até parte da noite.”
“Você está trabalhando demais, não cansa?”
“Não, o trabalho faz parte da minha vida e quando eu chego cansado
em casa tenho uma cama quentinha, uma namorada gostosa para foder
bem gostoso.”
Minhas bochechas esquentaram e eu, obviamente, senti um calor se
espalhar pelo meu corpo.
“Safado!”
“Só estou dizendo a verdade. Louco pelo dia que vou pegá-la de
jeito.”
Como se fosse possível, senti minhas pernas perderem a força. Isso só
podia ser um tipo de feitiço, não era possível que alguém conseguisse me
afetar por mensagens de texto.
“Pensei que já me pegasse.”
Conseguia imaginá-lo rindo do outro lado da linha.
“Espere só pelo dia, amor, é mais intenso do que a noite do carro.
Agora preciso ir, amo você.”
Como alguém conseguia ser fofo e safado na mesma medida? Ele era
tão incrível.
“Eu amo você.”
O carro parou em frente a nossa casa e um táxi em frente a ela me
chamou atenção. Quando descemos, nosso pai estava acertando o valor com
o taxista, enquanto minha mãe cuidava das malas.
— Queridos! — Ela sorriu, acenando.
Tyler foi o primeiro a falar.
— Pensei que só chegariam daqui — olhou para o relógio no pulso —,
vinte minutos.
— Vinte minutos adiantados, sabe que eu sempre preferi me adiantar
do que atrasar, né? — Meu pai se aproximou e abraçou Ty. — É bom ver
você, filho.
— Digo o mesmo. — Ty abraçou de volta.
Minha mãe deixou as malas e veio até nós, primeiro abraçou Nathan,
depois Sky e finalmente chegou em mim.
— Querida, você está tão linda. — Me apertou contra o seu corpo. —
Parece que eu não vejo vocês há meses.
— É mais ou menos esse o cálculo — murmurei. — Estou feliz que
vocês vieram.
— Eu também quero abraçar minha filha, garota da cidade — meu pai
resmungou. — Já abracei todos.
Minha mãe riu, e antes de se afastar beijou a minha testa.
— Oi, pequena. — Meu pai estendeu os braços e eu me aninhei neles,
sentindo falta daquele carinho. — Como é bom ver você.
— Rebeca! Minha querida. — Consegui ver minha mãe a abraçando
apertado. — Também senti sua falta.
— É bom ver vocês — falei de verdade.
Depois dos abraços, Ty abriu a porta de entrada da casa e todos nós
entramos.
— Esse lugar não mudou nada — minha mãe observou.
Meu pai colocou as malas em um canto da sala e ao ver o movimento
das visitas, Jack veio correndo receber todos.
— Jack, que saudades de você. — Meu pai o pegou no colo.
— Ele também estava com saudades — comentei ao ver a interação de
ambos.
— Como vocês estão? — minha mãe perguntou. — Ninguém está
dando problemas?
— Depende do que você considera dar problemas — Nathan brincou e
ao ver a cara de nossos pais, falou sério: — Tudo sob controle, até demais.
— Ótimo! — Meu pai se sentou no sofá. — Preparado para o jogo?
— Sempre. — Nathan sentou ao seu lado. — O time está cada vez
mais forte.
— Isso é incrível. — Meu pai olhou para Sky. — E onde está Caleb?
Sinto falta daquele menino.
— Ah...ele ficou no dormitório — minha irmã respondeu. — Acho
que ele vai aparecer no jogo.
— Acha? — minha mãe questionou, igualmente curiosa como eu.
— Estamos no final do semestre, estamos ficando cheios de trabalhos
e provas. — Sky deu de ombros. — Talvez ele esteja muito ocupado com
isso na hora do jogo.
— Entendi, mas e vocês? Estão com tudo em dia?
— Felizmente o mais próximo das férias, tia — Beca respondeu. —
Estou louca para passar alguns dias no rancho.
— Vai ser ótimo ter você lá, Beca — minha mãe disse.
— E as namoradas? — meu pai perguntou para Ty e Nathan.
— Nenhuma, graças a Deus. — Nathan levantou as mãos para o teto.
— O senhor sabe que eu não namoro mais.
Meu pai revirou os olhos.
— Eu disse algo parecido quando tive o meu coração partido pela
víbora. — Apontou para minha mãe. — E então sua mãe apareceu e mudou
tudo.
— E a garota da cidade conquistou o cowboy arrogante. — Me sentei
ao lado do meu pai e o abracei. — Sinto saudades de escutar essa história.
— Sinto saudades de vocês bem pequenininhos — meu pai admitiu.
— Tinha mais controle naquela época.
— Hoje nossas crianças cresceram — minha mãe continuou. — E eu
ainda não superei que vocês já saíram de casa.
— Por falar em superar, como está o treinamento de hipismo? Tenho
certeza que já está treinando para ganhar — Ty perguntou.
— É claro que sim e seu pai está me ajudando. — Minha mãe piscou
para ele. — Como nos velhos tempos.
O estômago de Nathan roncou alto.
— Cara, eu estou com muita fome. — Colocou as mãos no estômago.
— Podemos continuar essa conversa no restaurante?
— Eu topo! Também estou com fome — meu pai concordou.
Aquela tarde seria bem divertida.
— Seu pai ainda parece puto — Vincent disse mais tarde naquele dia.
— E Tyler, se fosse possível ele me socaria.
— Desculpe, eles só são superprotetores. — Deitei minha cabeça em
seu peito, enquanto seus braços abraçavam a minha cintura. — Estou feliz
que tudo se resolveu rapidamente, acho que não aguentaria brigar com meu
pai.
Depois do almoço nos reunimos na sala e meu pai aproveitou aquele
momento para saber mais sobre o nosso relacionamento. Ele ficou mesmo
surpreso ao saber de toda a história, não contei sobre o beijo na festa, mas
contei todos os dias ruins que passei naquela faculdade e de como Vince
parecia estar sempre lá.
No fundo ele sabia, mesmo que mantivesse aquele semblante fechado,
ele sabia que a havia tomado a melhor decisão em aceitar o meu
relacionamento com Vincent.
— Tive medo de perder você — Vince admitiu baixinho, baixando o
rosto até ficar na altura do meu e grudando nossas testas.
— Eu também tive, por um momento achei que teria que escolher.
— Eu nunca deixaria que fizesse isso. — Segurou o meu rosto. — Sei
o quanto ama a sua família e eles também sabem o quanto os ama, nunca
permitiriam. No final, eles são exatamente como você disse: pais incríveis.
Assenti.
— Você tem mesmo que ir embora?
Vincent riu. Estávamos em frente à minha casa, e já estava quase
anoitecendo quando ele resolveu ir embora.
— Preciso, não quero que seu pai mude de ideia em relação a nós —
brincou. — Acho que ele já viveu fortes emoções hoje.
— Ele parecia mais tranquilo conforme conversávamos — falei o que
percebi.
— Acredite, ele ainda está nervoso — Vince afirmou. — Eu percebi
pela forma como ele fica tenso quando toco você.
— Quando me toca?
— É como se a ficha estivesse demorando a cair, sabe? Isso que só
segurei a sua mão e a abracei, imagina se ele assistisse um beijo.
— Poderia cancelar o namoro no mesmo momento.
Nós rimos.
— Agora mais algumas semanas e podemos nos beijar em público, e
posso finalmente assumir você como minha namorada — Vincent contou,
observando ao seu redor. — Se bem que um beijo agora não faria mal a
ninguém.
Olhei para a rua vazia e para as janelas das casas fechadas ao nosso
redor.
— Não mesmo.
Ele me beijou.
Eu sentia tanta falta daquele contato nos últimos dias.
Sua língua encontrou com a minha e seus braços me puxaram para
mais perto do seu corpo, enquanto me beijava com uma mistura de
saudades, paixão e desejo. Segurei a sua nuca, correspondendo aquela
carícia e me sentindo a garota mais sortuda do mundo por ter alguém como
ele na minha vida.
Era sempre bom lembrar daquela sorte que eu tinha.
— Amanhã você vai para minha casa? — Vincent perguntou.
— Eu vou tentar ir, não sei como o clima aqui em casa vai ficar.
Ele assentiu, compreendendo.
— Estou com saudades de você. — Deslizou a minha mão pelo meu
corpo, passando das costelas até mais embaixo.
Quando apertou a minha bunda dei risada.
— Inclusive da minha bunda.
— Inclusive dela. — Ele riu, safado. — De toda você, amor.
— Eu também estou — beijei seus lábios —, mas veja pelo lado bom,
faltam poucos dias para as férias e eu pretendo passar boa parte dela com
você se me permitir.
— Não pretendo me desgrudar de você. — Beijou meu queixo. —
Agora tenho que ir, antes que seu pai apareça e me expulse de vez daqui.
— Mande um beijo para dona Eliza e que eu desejei um feliz dia das
mães para ela.
— Pode deixar.
Vincent me deu um último beijo antes de se afastar e caminhar até o
carro.
— Alexandra? — me chamou no momento que me virei para a porta
de entrada.
Voltei a me virar e o encontrei segurando a porta.
— Eu amo você.
Sorri como uma boba.
— Eu também amo você.
Naquela noite eu sonhei que meu pai me proibia de ver Vincent e
culpei as emoções daquele dia por ter tido a criatividade de ter aquele tipo
de pesadelo.
Acordei antes que todo mundo no dia seguinte e preparei o café
porque sabia que em breve todos acordariam.
Jack apareceu na cozinha e foi direto para o pratinho de ração. Não
consegui apresentá-lo para Vincent, já que com as discussões que tivemos
ontem meu furão preferiu ficar preso no meu quarto.
Eu o entendia.
Também odiava discutir.
Tyler foi o primeiro a aparecer na cozinha e teve sorte de conseguir ser
o primeiro a provar do café recém passado daquela manhã.
— O dia tem tudo para ser bonito hoje — ele comentou, observando
pela janela o tempo ensolarado. — Como você está, pequena?
— Bem e você?
— Bem. — Bebeu um pouco do café. — Então... você está com o
professor.
Eu sabia que ele tocaria nesse assunto. Tyler havia ficado quieto na
maior parte do tempo ontem.
— Sim — respondi, simplesmente.
— Sky tem razão e você também. — Pareceu contrariado a admitir. —
Você está mais feliz do que já me lembro de ter visto alguma vez nessa
vida.
— Não é só por causa de Vincent — o alertei, antes que falasse uma
bobagem. — Estou feliz por causa de mim.
— Eu vejo isso. — Ele foi sincero. — Você está bem consigo mesma.
Assenti.
— Eu estou conseguindo me aceitar da forma que eu sou, me
colocando em primeiro lugar para tudo e ainda liberando espaço para que
um homem me ame da mesma forma que eu estou começando a me amar.
— Admitir aquilo em voz alta foi mais fácil do que eu imaginava.
— Estou orgulhoso de você. — Estendeu os braços e eu fui ao seu
encontro. — Você amadureceu tanto nos últimos meses.
O abracei apertado.
— Finalmente, não é mesmo?
Ele riu.
— Prometo tentar aceitar esse relacionamento mais rápido —
prometeu. — Eu sou um pouco desconfiado e tenho medo de que você se
machuque novamente, mas tenho consciência de que você é uma mulher
adulta e sabe tomar suas próprias decisões.
— Isso significa muito para mim, obrigada.
Passos se aproximaram e voz de Nathan logo se fez presente:
— Ah, que lindo esse momento entre irmãos, não me chamaram por
quê?
— Ciumento. — Dei risada. — Está com o presente da mamãe?
— Deixei a caixa gigante na sala — avisou. — Você acha que ela vai
gostar?
— Eu tenho certeza — Sky respondeu, descendo de mãos dadas com
Caleb.
Meu cunhado iria passar o dia das mães conosco já que a mãe dele
morava em Portland.
— Bom dia — ele cumprimentou a todos.
Cumprimentamos de volta.
— Vincent vai aparecer? — Sky perguntou.
Neguei.
— Ele vai passar o dia com a mãe dele.
— Que pena, eu gostei dele. — Ela sorriu. — A forma como ele cuida
de você... acho que finalmente está com o cara certo.
— Concordo com a maninha — Nathan disse.
— Você não falou nada sobre o meu relacionamento com ele. —
Percebi naquele momento.
Meu irmão deu de ombros.
— O que me importa sempre vai ser a sua felicidade. — Se aproximou
de mim e beijou a minha testa. — Só vou me meter quando eu ver que tem
alguma coisa de errado, fora isso, você poderia arrumar alguém com
cinquenta anos e eu ainda aceitaria.
— Pelo amor de Deus, não! — A voz do meu pai chamou a nossa
atenção.
Ele e minha mãe entravam na cozinha.
— Até eu tenho que concordar que cinquenta anos é demais —
Ravenna falou.
Eu ri.
— Finalmente acordaram! Vem, vamos abrir o seu presente. — Minha
irmã pegou a mão de nossa mãe e a levou até a sala. — Vamos, pessoal!
Seguimos as duas.
— Eu falei que não queria presente — minha mãe lembrou.
— Sabemos disso, mas quando você disse que iria voltar a competir
não resistimos — Ty explicou. — Abra a embalagem.
Minha mãe observou a caixa gigante dentro de um pacote de presente.
— O que será que é tão grande assim, hein? — se perguntou.
Ela desfez o laço e retirou o pacote de presente, revendo a caixa
grande da bota de montaria que havíamos comprado para ela nessa semana.
— Não acredito... — Minha mãe sorriu e abriu a caixa. — E vem com
um chapéu?
— Tenho certeza que vai ser o seu favorito — comentei. — Olhe
dentro dele.
Meus irmãos sorriram ao ver a sua reação.
O chapéu era bem a cara de nossa mãe, com um estilo de garota do
campo e da cor branca, mas era o que havia por dentro dele que o tornava
único.
— Isso é...
— Nossos nomes — Nathan confirmou. — É para quando você
competir saber que mesmo não estando fisicamente presentes, ainda
estaremos com você.
Os olhos dela marejaram e ela largou a caixa no sofá para estender os
braços, nos chamando para um abraço.
— Feliz dia das mães, mãe — falamos quase em conjunto enquanto
quase a derrubávamos no sofá.
Ela gargalhou em meio as lágrimas de emoção.
— Eu sou a mãe mais feliz desse mundo, obrigada — agradeceu. —
Vocês são os melhores presentes da minha vida.
— Ah, desse jeito eu também quero um abraço. — Meu pai se
infiltrou no nosso meio.
Rimos e o abraçamos da forma que conseguimos.
— Amo cada um de vocês — ele também disse. — Vocês tornam os
meus dias melhores.
Mesmo que aquele final de semana tenha começado confuso e difícil,
ele seria finalizado da nossa forma: com muito amor e carinho, porque
aqueles eram os principais sentimentos da família Blossom.
Ninguém vai me amar melhor
Eu vou ficar com você para sempre
Ninguém vai me levar mais alto
Eu vou ficar com você
STICKWITU — THE PUSSYCAT DOLLS
— Ele mesmo.
Ryder pegou o microfone e deu aquele sorrisinho de lado que fez a
minha amiga suspirar. Quase ri, ela não era nenhum pouco discreta.
— Boa noite, senhoras e senhores! Bem-vindos a mais uma corrida —
ele saudou a todos, levando os jovens aos gritos. — Eu recebi muitas
apostas na noite de hoje e nunca torcia para estarem errados. Acham mesmo
que Tyler pode perder? Ashton não está aqui hoje!
Muitos resmungaram, jogando copo de bebidas no chão.
— Mas se acalmem — Ryder pediu. — Eu fiquei sabendo que Tyler
Blossom vai dar um show hoje à noite.
Ele levantou a mão aberta para cima e começou a contagem.
— 5... 4... 3... 2... — Olhou para Rebeca e piscou um dos olhos verdes.
— 1!
Os pneus dos carros rasparam o asfalto velho da antiga cidade dando
início a mais uma corrida.
Uma que já tinha um resultado certo.
A professora Mary era uma mulher legal, mas eu ainda sentia falta de
ver Vincent dando aulas e trocando olhares comigo durante quatro horas.
Quando as aulas dos dias acabaram, eu fui direto para casa e Rebeca
foi direto para os braços de Ryder Fraser.
Cada vez mais eles estavam se encontrando e cada vez mais eu
conseguia ver a minha amiga se apaixonando pelo cara errado. Ele foi
buscá-la na frente da universidade e segundo a minha amiga, iriam passear
de carro.
— Não fala nada, por favor — ela pediu quando viu que eu iria abrir a
minha boca para questionar o que estava acontecendo, provavelmente ela
achou que eu iria julgar.
Mas eu não podia fazer mais nada.
Eu mostrei todos os motivos que tornavam aquela reação errada, mas
mesmo que ela tenha me escutado no início, não conseguiu resistir por
muito tempo ao charme que o ruivo lançava a ela.
Ryder também parecia envolvido demais.
Percebi isso pela forma como ele a segurou pela nuca e a beijou,
encostado no carro e com os braços tatuados à mostra, segurando a minha
amiga como se ela fosse o bem mais precioso que ele tinha naquele
momento.
E ela era.
Eu só esperava que ele não a quebrasse no meio de tudo isso.
— Se divirtam. — Foi tudo o que eu disse para a minha amiga, antes
de virar as costas e pegar o táxi até a minha casa.
Mas assim que entrei no carro mandei uma mensagem pedindo para
gritar se algo acontecesse, porque ela sabia que eu iria até o inferno para
salvá-la. Rebeca me respondeu como toda apaixonada responderia: ela
confiava nele.
E eu confiava nela.
No caminho até em casa o meu telefone tocou e eu achei que fosse
minha amiga, mas estranhei ao ver que era uma chamada de um número
desconhecido.
— Alô? — Aquela voz...
— Sophie?
Quase não acreditei que era a voz dela do outro lado.
Com todos os últimos acontecimentos e também o tempo que se
passou desde que saí da clínica pensei que Penélope não havia entregado o
meu número para ela, ou então que a própria Sophie tivesse perdido.
— Sou eu. — Sua voz parecia mais lenta do que a última vez que
ouvi. — Como você está?
— Eu estou bem e você?
— Melhorando — respondeu.
— Pensei que não havia recebido meu número.
— É... — ela suspirou. — Desculpa não ter ligado antes, mas os
últimos meses têm sido muito difíceis.
— Eu imagino, não precisa desculpar — falei de todo o meu coração.
— O que aconteceu?
— Minha recuperação foi muito difícil e está sendo ainda —
confessou. — Por isso demorei para ligar.
— Quer conversar sobre isso?
— Você só precisa saber que eu estava fodida quando me encontrou
naquele jardim e que tudo que eu falava era uma grande mentira. — Riu
baixinho. — Odeio esses remédios e principalmente ser toda doente.
Ela provavelmente se referia também ao seu problema com a doença
sexualmente transmissível.
— Fiquei quase dois meses na clínica e quando saí ainda estava sob
cuidados de enfermeiros. — Respirou fundo, parecia irritada. — Meus pais
estavam me sufocando com essas mulheres por aqui.
— Elas não estão mais?
— Não, eles finalmente descobriram que eu posso tomar os remédios
sozinha. — Riu, sem humor algum. — Ou melhor, sem elas por perto,
porque a minha mãe ainda abre a minha boca toda vez para ver se não
coloquei fora.
Aquilo era muito difícil.
Mas eu entendia a mãe dela.
— Nos primeiros meses meus irmãos também me observavam tomar
os remédios — falei para ela não se sentir sozinha. — E os meus
medicamentos continuam na cozinha, não no meu quarto.
— É difícil, né?
— Um pouco, mas eu finalmente entendi que preciso deles — admiti.
— E você?
— Ainda os odeio — bufou. — Mas se eu não tomar essas merdas
posso morrer, né?
— É um dos caminhos. — Foi doloroso dizer aquilo. — Está podendo
receber visitas?
— Estou em casa com a minha mãe enchendo o saco, então sim, uma
visita seria ótima — ela disse, me fazendo sorrir. — Você está no
Tennessee?
— Não, mas vou aparecer nas minhas férias e ficar um tempo com os
meus pais — contei os meus planos. — Podemos marcar um dia e nos
vermos, o que acha?
— Seria incrível. — Ela parecia mais animada. — Esse é meu número
e você pode salvá-lo, assim você me liga ou me manda uma mensagem
quando estiver no Tennessee.
— Vou fazer isso — garanti. — Temos muito o que conversar.
— Você parece mesmo bem — ela observou. — Fico tão feliz por vê-
la assim. Gostaria de ter aceitado o tratamento mais facilmente, talvez eu
estaria da mesma forma.
— Mas você está aceitando agora e isso importa.
— Eu acho que é — concordou. — O que tem aprontado?
— Estou namorando.
— Meu Deus! Não me diga que é com o Chernobyl.
Eu ri pela forma que ela se referia a Jordan.
— Não, é com o meu professor, ou melhor, ex-professor.
— SUA SAFADA, SEM VERGONHA — gritou no telefone. — Eu
sabia que não estava tão louca ao enxergar um certo brilho nos seus olhos
com o pouco que me falou dele.
— É... parece que sempre esteve aqui.
O carro parou em frente à minha casa, estendi o dinheiro para o taxista
e agradeci antes de sair do táxi.
— E ele a trata bem?
— Ele é o melhor. — Sorri como uma boba. — Queria levá-lo para o
Tennessee, mas não sei se vai ser possível, meu pai meio que surtou quando
soube do nosso relacionamento.
— Por que os pais nunca nos entendem?
Eu ri.
— Acho que dessa vez a diferença de idade o apavorou — suspirei —,
mas ele permitiu que nos relacionássemos, isso é bom. Espero que no
próximo ano Vincent consiga conhecer o rancho.
— É só uma questão de tempo até o velho cair em si — Sophie disse,
me fazendo rir. — Louca para conhecer a sua família.
— Eles vão adorar você.
— Eu espero porque quando você vier passar as férias aqui vamos nos
encontrar a todo momento — prometeu. — Gosto muito de você, Alex.
— Eu também, Sophie.
Entrei em casa sendo recepcionada pela bagunça de Morg e também
de Jack, os dois estavam se dando tão bem que agora bagunçavam toda a
casa juntos. Skyller queria me matar.
E Tyler não estava longe disso.
Digamos que Morg havia mordido os tênis do meu irmão mais velho
acidentalmente.
Ok, talvez não tenha sido tão acidente assim.
O que realmente me surpreendeu foi meu pai estar na cozinha,
tomando um café na companhia dos meus irmãos.
— É... Sophie? Posso falar com você depois?
— É claro, você me liga para dizer quando estiver chegando — disse.
— Quero saber de tudo pessoalmente.
— Ótimo! Até.
— Beijos.
Ela desligou.
Coloquei a mochila em cima do sofá e me aproximei da minha família.
— Então agora você tem uma cachorra — meu pai disse. — Ela é
linda, filha.
— Obrigada. — O abracei. — O que está fazendo aqui?
— Precisava resolver alguns negócios no hospital de Nova Jersey.
Vincent também estaria lá.
Será que conversaram?
— Seu namorado está péssimo — disse, me fazendo ficar mais
preocupada. — A gripe o pegou de jeito.
— Ele pegou chuva.
— Ele me disse.
Precisava ir ver como Vincent estava com os meus próprios olhos e
preparar algumas coisas para ele, ou pelo menos fazer companhia, da
mesma forma que ele fez comigo quando eu estava passando por um
momento ruim.
— Então vocês conversaram?
Meu pai bateu no assento ao seu lado, indicando para eu me sentar.
Tive medo do que ele me falaria.
— A sociedade de vocês ainda continua? — Nathan perguntou,
curioso como sempre.
— Sim — meu pai respondeu, aliviando um pouco da tensão que eu
estava sentindo. — Eu e Vincent tivemos uma conversa hoje de manhã.
— Sobre o que conversaram? — Sky perguntou.
Ty apenas observava.
— Falei para ele que se quiser aparecer no rancho nas férias não
haverá nenhum problema e frisei que a nossa sociedade continua. — O que
disse me fez sorrir. — É claro que deixei muito claro para ele não a
machucar e...
Não deixei que terminasse.
Me atirei em cima dele, o abraçando fortemente.
— Aí! Eu já estou velho para pegar você praticamente no colo, Alex.
— Meu pai riu enquanto me abraçava. — Amo você, querida.
— Eu também te amo, muito. — Beijei sua bochecha. — Obrigada por
acreditar em Vincent.
— Eu acredito no amor e sei que ele vai fazê-la feliz, tem que se ver
comigo se não fizer.
Eu ri, me afastando dele e voltando a me sentar ao seu lado.
— Então o professor vai para o rancho? — Ty perguntou.
— Vou ter que convencê-lo a tirar férias, mas isso é fácil. — Sorri,
mais empolgada para o mês que vem, a minha sorte é que faltavam menos
de duas semanas. — E como mamãe está?
— Com saudades, como sempre — meu pai respondeu. — Não pôde
vir porque está treinando para as competições de hipismo.
— Ansiosa para vê-la nas pistas de novo — Sky comentou. — Ela
também deve estar.
— Você nem imagina o quanto.
Peguei o meu celular no bolso e enviei uma mensagem para Vincent.
“Meu pai disse que você não está bem. O que eu posso fazer para
ajudar?”
A resposta veio imediatamente.
“Sua companhia sempre me anima e é apenas um resfriado, não estou
nem com febre.”
“Vou ver se consigo ir aí te ver.”
“Estou esperando.”
Olhei para o meu pai e ele riu baixinho, percebendo o que eu pediria.
— Pode ir, logo eu já estou indo embora.
— Tem certeza?
— Temos três meses inteiros para aproveitar juntos nas suas férias. —
Beijou a minha testa. — Vai cuidar do seu namorado.
— Obrigada. — Olhei para Morg e para Jack. — O que acham de irem
junto?
Morg latiu.
Aquilo parecia um sim.
De calcinha nova, adiei o banho por alguns minutos porque queria ter
uma conversa séria com o meu namorado.
— Tem certeza que não está grá... vida? — ele perguntou.
— Não — falei a verdade —, mas esses testes vão confirmar a minha
teoria de que se desceu, não tenho que estar grávida.
Ele assentiu.
— Precisamos conversar — comentou e eu assenti. — Por... que
escondeu isso de mim?
— Por puro medo. — Me sentei na beirada da cama, ao seu lado. —
Olha a forma como você reagiu, eu queria ter a certeza do resultado para
depois ir falar algo com você.
— Se desse negativo você nunca falaria para mim?
— Provavelmente — murmurei.
Novamente ele assentiu, parecia muito chateado.
— Sabe o que eu pensei? — neguei. — Que você estava enjoando de
mim, que eu não servia mesmo para ser o seu na... morado...
Me virei para ele, meus olhos transmitindo todo o choque que eu
sentia por ele ter pensado algo do tipo. Segurei a sua mão, e ele ergueu o
rosto para mim, me fazendo encontrar aquela imensidão azul que eu me
apaixonava todos os dias.
— Eu nunca vou enjoar de você. — Minha mão livre tocou a sua
bochecha. — Eu nunca vou me cansar de ser sua namorada porque você é o
melhor namorado do mundo para mim. Você me conquistou, lembra? Com
esse seu jeitinho peculiar que aquece todos os dias o meu coração.
— Eu não sou o melhor namorado — resmungou, muito chateado
consigo mesmo. — Você não se sentiu à vontade para me contar algo que
me incluía. Você deixa de ir às festas para ficar comigo. Sky, você teve que
mudar para ficar comigo, e eu admiro muito isso, amo mais você por
respeitar os meus limites, mas esses dias que você se manteve mais distante
me perguntei se tudo não era difícil para você.
Neguei.
Ele não me deixou falar.
— E eu sou egoísta demais, sempre fui quando se trata de você —
admitiu em voz alta. — Não consigo deixar você ir, porque sou apaixonado
por você, desde a primeira vez que colocou os pés naquela faculdade.
— Que bom que você é egoísta demais porque a briga seria muito
séria se você me tirasse da sua vida, anjo da guarda. — Ele riu baixinho,
negando com a cabeça. — Desculpa ter trazido esses sentimentos à tona
dentro de você, não pensei que poderia causar tudo isso. Eu... só estava tão
assustada quanto você ficou.
— Eu consigo entender agora. — Beijou a minha mão.
Sorri. Ele havia amadurecido tanto na sua forma de se comunicar nos
últimos meses, será que ele conseguia perceber o mesmo que eu?
— Eu me tornei sim uma pessoa diferente, mas o amor torna a gente
os maiores tolos, lembra? — me referi a frase de Austen, o fazendo sorrir.
— Eu ainda amo ir em uma festa, mas eu gosto mais de me divertir com
você debaixo dos lençóis.
Ele riu.
— É impossível conversar com você seriamente, Sky.
— Isso é bom, não é?
— Eu amo você — se declarou. — Só me promete que nas próximas
vezes vamos lidar como um casal?
— Eu espero que não tenha próximas vezes — brinquei. — Eu
prometo. Me desculpa ter deixado o meu medo falar mais alto, vou tentar
controlá-lo mais nas próximas dificuldades que encontrarmos como um
casal.
— Isso já me deixa muito tranquilo. — Suspirou.
Me levantei da cama só para me sentar de lado no seu colo, Caleb
agarrou a minha cintura para não cair e eu amei ver aquelas bochechas
corarem como quase sempre acontecia quando estávamos juntos.
— Eu amo você, anjo da guarda.
O beijei.
Um beijo que eu sentia muita falta nos últimos dias. Detestei deixar o
medo novamente tomar conta de mim, mas era incrível como estávamos
evoluindo quanto a assuntos difíceis dentro de um relacionamento.
— Agora eu preciso fazer esses testes e depois... — Levei a minha
boca até o seu ouvido. — Você vai tomar banho comigo.
Caleb estremeceu embaixo de mim.
— Achei que você estivesse... naqueles dias. — Arrumou os óculos no
rosto.
— Eu estou impossibilitada, você não. — Pisquei e me levantei
rapidamente. — Já volto.
— Quer que eu vá com você?
Neguei.
— Posso fazer essa parte sozinha, mas na hora de ver o resultado
quero que esteja comigo.
Ele assentiu.
Entrei dentro do banheiro com a sacola da farmácia e depois de quase
cinco minutos deixei os três testes em cima da pia. Não ficaria os olhando,
decidi esperar pelo tempo que indicava nas instruções com Caleb.
— E então? — perguntou.
— Temos que aguardar cinco minutos — informei, me sentando ao
seu lado e voltando a segurar sua mão. — Esse dia está mais longo do que o
normal.
— Sua irmã está com o professor... eu nunca conseguiria imaginar —
Caleb disse.
— Eu já sabia, mas em respeito a ela não comentei nada com ninguém
— expliquei. — Ela está feliz, Caleb.
— Eu percebi isso.
— Acha que meu pai vai aceitar numa boa?
— Dylan parece meio bruto no início, mas acho que é só questão de
tempo para ele se acostumar — expôs os seus pensamentos. — O que mais
apavorou o seu pai foi a diferença de idade e medo de Vincent ser pior do
que Jordan.
— Nem comenta o nome desse traste. — Revirei os meus olhos.
Mais alguns minutos se passaram e percebi que mesmo tendo chance
de eu não estar grávida, ainda restava a dúvida que só seria sanada quando
olhasse para os resultados daqueles exames em cima da pia. Meu namorado
ainda estava um pouquinho nervoso e eu confesso que também.
Quando o tempo finalmente chegou ao fim, nos levantamos juntos e
fomos até o banheiro.
Olhar para aquele teste e ver os três com um risquinho, indicando
negativo foi um alívio para nós.
— Aqui a confirmação que precisávamos. — Suspirei. — Que tenso
passar por essas situações.
— Muito — Caleb concordou.
Coloquei os testes dentro da sacola.
— Eu conheço uma ótima forma de aliviar a tensão. — Sorri, retirando
a blusa e em seguida o sutiã.
Os olhos do meu namorado se arregalaram e ele corou.
— Seus pais es... estão lá embaixo — lembrou. — E nós acabamos de
descobrir que não vamos ser pais.
— Não vamos transar. — Me aproximei dele e retirei os seus óculos
do rosto —, mas você vai gozar.
Ele olhou para os meus seios firmes e já enrijecidos de excitação, e
engoliu em seco. Seu pau já estava criando um excelente volume na calça e
então eu soube que tinha vencido sem nem precisar lutar muito.
O ajudei a retirar as roupas e retirei a minha calça, ficando apenas de
calcinha. Peguei a sua mão e o levei para dentro do boxe.
— Você é impossível, sabia?
— E você não resiste a mim. — Pisquei, fechando o boxe e nos
trancando lá dentro.
Liguei o chuveiro e deixei que a água caísse sobre o nosso corpo, só
para então beijá-lo com desejo como sempre acontecia quando nos
conectávamos.
Caleb me apertou mais contra o seu corpo e eu senti o volume dentro
da sua cueca cutucar a minha barriga, ao mesmo tempo que a sensação de
ter nossas línguas duelando em um beijo molhado era eletrizante.
Desci meus lábios pelo seu pescoço, lambendo e chupando devagar
aquela pele. Caleb ofegou quando os meus lábios deslizaram mais para
baixo em direção a minha parte favorita do seu corpo.
Lambi toda a sua barriga e me ajoelhei na sua frente, segurando o
elástico da cueca preta que usava.
Olhei em sua direção e encontrei os olhos azuis brilhantes de desejo,
lambi meus lábios e deslizei a cueca para baixo revelando o pau duro que
escondia dentro daquele tecido.
Eu amava esse pênis.
De verdade.
— Sky... — ele gemeu quando toquei com a ponta dos dedos,
impulsionando o quadril na minha direção.
— Só cuidado com o som, namorado. — Lambi a pontinha o fazendo
gemer mais alto. — Alguém pode escutar.
Ele mordeu os lábios fortemente quando eu coloquei todo o seu pau na
boca e comecei a sugar. Caleb desistiu de se segurar nos azulejos à minha
frente e segurou os meus cabelos, da forma que eu gostava.
A água caía nas minhas costas, tornando tudo ainda mais erótico.
Com a mão livre alisei suas bolas enquanto o remetia em minha boca,
chupando e lambendo aquele pau maravilhoso.
Ele puxou mais forte o meu cabelo me deixando ainda mais excitada e
começou a foder com a minha boca automaticamente, saindo um pouquinho
e entrando, alucinado no prazer que só eu conseguia proporcionar a ele.
— Sky... droga. — Era o único “palavrão” que ele conseguia falar na
hora do sexo e eu achava aquilo fofo.
Dei mais intensidade nas minhas sugadas, o levando ao orgasmo
minutos depois. Engoli todo o líquido viscoso e só quando deixei aquele
pau limpinho que me levantei.
Agarrei seu pescoço e sorri encontrando o seu rosto corado, com a
respiração ofegante.
— Você vai me matar um dia, sabe disso, né? — Segurou o meu rosto.
— Desde que seja de prazer, eu não me importo — brinquei. — Amo
você, Caleb.
— Eu amo você, Sky.
Contatos:
Para falar comigo pode ser pelo Instagram ou por e-mail. Pode me
chamar que eu vou amar conversar com você.
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PROLOGO
UM
DOIS
TRÊS
QUATRO
CINCO
SEIS
SETE
OITO
NOVE
DEZ
ONZE
DOZE
TREZE
QUATORZE
QUINZE
DEZESSEIS
DEZESSETE
DEZOITO
DEZENOVE
VINTE
VINTE E UM
VINTE E DOIS
VINTE E TRÊS
VINTE E QUATRO
VINTE E CINCO
VINTE E SEIS
VINTE E SETE
VINTE E OITO
VINTE E NOVE
TRINTA
TRINTA E UM
TRINTA E DOIS
TRINTA E TRÊS
TRINTA E QUATRO
TRINTA E CINCO
TRINTA E SEIS
TRINTA E SETE
TRINTA E OITO
TRINTA E NOVE
QUARENTA
QUARENTA E UM
QUARENTA E DOIS
QUARENTA E TRÊS
QUARENTA E QUATRO
QUARENTA E CINCO
EPÍLOGO
BÔNUS
AGRADECIMENTOS