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O Futuro Sustentável do Brasil passa por Minas

COBRAMSEG 2016 – Cong. Brasileiro Mec. dos Solos e Eng. Geotécnica – 19-22 Outubro, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil
© ABMS, 2016

(CÁLCULO E EXECUÇÃO DE TIRANTES ANCORADOS NO TERRENO. OBRAS REAIS.)

Luiz Antonio Naresi Junior (Apresentador)


PROGEO, BELO HORIZONTE, BRASIL, naresi@naresi.com

RESUMO:

Este trabalho aborda em detalhes as questões de contenção com utilização de tirantes, através da
execução das cortinas atirantadas e prevenção de danos de deslizamento e ao meio ambiente, focado
nos serviços de contenção o cuidado com a segurança do trabalho de seus colaboradose pela leis
vigentes exigidas no Brasil.
Um tirante é um dispositivo de obra de engenharia especializada utilizado para ancorar estruturas de
concreto armado ao terreno de forma a conter uma encosta, iremos descrever alguns métodos
executivos para a construção de uma cortina atirantada. É uma de contenção ativa de solução e uso
global para estabilização de taludes e encostas, pela introdução de uma força correspondente a um
empuxo estabilizante que reage de contra massas instáveis.
A execução de um tirante, assim como cortinas de concreto armado fazem parte da solução
estabilizante de maciços e envolve vários serviços de engenharia como perfuração em solo,
alteração de rocha e rocha, injeção de calda de cimento sob pressão, execução de forma, armação e
concretagem e finalmente a protensão dos tirantes, trabalhos geralmente executados sobre andaimes
concomitantes a escavações manuais e mecânicas. Todos os serviços presentes na execução de
tirantes envolve sérios riscos à segurança do trabalhador.
Na maioria das situações, as condições dos locais envolvem outros riscos de engenharia tais como;
trabalho em altura, escavações de vala e maciços em processo de deslizamento.
Neste trabalho o autor, que é Engenheiro Civil, Engenheiro de Segurança do Trabalho e Analista
Ambiental, e trabalhando desde que se formou com a arte da Geotécnia conseguiu abordar em
detalhes todos os procedimentos executivos e a correspondente abordagem concomitante à
segurança do trabalho e danos ao meio ambiente e será de grande utilidade para os profissionais
envolvidos nesta arte; engenheiros geotécnicos, projetistas, executores, engenheiros de segurança do
trabalho e seus respectivos SESMT’s e técnicos de segurança do trabalho.

PALAVRAS-CHAVE: CÁLCULO, EXECUÇÃO, TIRANTE, ANCORADO, TERRENO,


OBRAS.

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1. APRESENTAÇÃO DO TIRANTE
1.1. Protensão

Se a gente quiser levar uma porção de


livros de uma vez só, nós “os apertamos” como
mostra a Figura 01 e assim transportamos para o
lugar que a gente quer. Se a gente não apertar os
livros uns contra os outros, como mostra a
Figura 02, eles cairão no chão.
Figura 4: Esforço horizontal
Fonte: Acervo próprio

Esse parafuso nada mais é do que um


tipo de tirante.

2.2 Tirante

O tirante dá um pouco mais de trabalho,


Figura 1: O Forte - Esforço horizontal mas a idéia é a mesma.
Vocês sabem por que o nosso pé é para
frente?

Figura 2: O Fraco - Esforço Horizontal


Fonte: Acervo próprio Figura 5: Apoio do Pé – Esforços que atuam.
Fonte: Acervo próprio.
Este aperto, nós chamamos de "protensão".
É como se a gente fizesse um furo em Se nós cortarmos a ponta do nosso pé,
todos os livros, passando um parafuso nós iremos cair porque perdemos a nossa
rosqueado e colocasse uma porca em cada lado sustentação.
e apertasse, como mostra a Figura 04. Numa montanha, acontece a mesma
coisa. Se escavarmos o pé da montanha, ela
perde a sustentação, e escorrega: à parte de cima
desmorona sobre a parte de baixo. Se logo
depois de cortarmos a montanha, a gente
conseguir fazer pressão contra ela (como nos
livros sobre a mesa), a montanha não vai cair.

Figura 3: O forte impressionado

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2. PARA QUE SERVE UM TIRANTE

Como vimos acima, tirantes, são,


portanto, elementos que suportam forças de
tração e servem para equilibrar as forças
exercidas por maciços de terra.
Como nós vimos, não podemos demorar
na sua execução: em geral os terrenos são fracos
(se comparados com a resistência do aço e do
Figura 6: Desmoronamento de Talude concreto) e com a ajuda da água, que sempre
Fonte: Acervo Próprio está presente, desmoronam com facilidade.
Portanto, a rapidez e perfeição na
Mas, como fazer este aperto, se do outro execução de um tirante, em todas as suas fases
lado não tem ninguém para segurar? (perfuração do terreno, montagem e instalação
Aí alguém teve uma idéia: fez um furo dentro do furo, injeção de calda de cimento e
no barranco, inclinado para baixo, encheu o pretensão) são condições indispensáveis, tanto
furo com uma mistura de água e cimento e para a obra como para a segurança das pessoas
colocou uma barra de ferro dentro. que estão executando a mesma.
Quando o cimento endureceu, ele
“puxou” a barra de ferro para fora, como se
quisesse arrancá-la: o trecho aderente, não 3. Tipos de tirantes
deixou a barra sair. Aí ele fez um assoalho
(fogueira) de madeira, ou de perfis de aço ou de Hoje em dia existe uma enorme variação
concreto, e embutiu um dispositivo que não de tipos de tirantes, citamos a seguir os mais
deixasse a barra voltar para a posição original, e usuais que podem ser resumidos em :
soltou a barra. Quando a barra se soltou, ela
“empurrou” o barranco, com uma força na 3.1.1 Tirantes de fios
direção contrária ao do deslizamento não
deixando o barranco ou montanha escorregar. 3.1.2 Tirantes de cordoalha
Esta operação de “arrancamento” da
barra do terreno chama-se “protensão”, e 3.1.3 Tirantes de barras
quando solicitamos a barra, ela “pressiona” o
terreno (como nos livros sobre a mesa).
Esta força que aplicamos na barra
chama-se “tração” ou “tensionamento” e a barra
(pode ser uma só, ou várias agrupadas entre si)
chama-se tirante.

Figura 8: Esquema de um tirante de barra


Fonte: Acervo Próprio

Figura 7: Princípio da Cortina Atirantada


Fonte: Acervo Próprio

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Figura 12: Detalhe do trecho livre
Fonte: Acervo Próprio
Figura 9: Tirante de barra
Fonte: Acervo Próprio

Figura 13: Entre trecho ancorado e livre


Fonte: Acervo Próprio
Figura 10: Titantes de Fios / Cordoalhas
Fonte: Acervo Próprio

Figura 14: Detalhe da proteção


Fonte: Acervo Próprio

Figura 11: Tirante de 8 fios Ф 8 mm


Fonte: Acervo Próprio

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4.1. O relatório da sondagem

Diz o tipo de solo ou rocha que iremos


perfurar, se é mole ou duro, se tem água e se
tem matacão, etc.
Este relatório de sondagem é muito
importante para nos dizer, que tipo de
equipamento vamos empregar, que broca ou
martelo iremos usar e, se temos ou não que
revestir o furo, a maneira de injetar o tirante, as
pressões a serem aplicadas, os cuidados a serem
tomados para que não se danifiquem as
Figura 15: Final do trecho ancorado construções vizinhas, etc.
Fonte: Acervo Próprio
4.2. Desenho de locação do tirante

Mostra onde devemos iniciar a


perfuração: a tantos metros do topo, a tantos
metros do chão.
Colocar o tirante numa posição errada
poderá trazer transtornos mais tarde. Para isso é
muito importante saber em que posição fica a
cabeça do tirante em relação ao barranco.

4.3. Desenho informando a característica


do tirante
Figura 16: Tirante de Cordoalha a) Se, é de barra, de fios ou de cordoalhas;
Fonte: Acervo Próprio b) Quantas barras, fios ou cordoalhas;
c) Qual o comprimento do tirante: livre, de
ancoragem e de sobra (para fora do
terreno);
d) Qual a inclinação a ser dada na
perfuração?
e) Qual o tipo de proteção anticorrosiva:
a. pintura: tipo de tinta, quantas
demãos;
b. bainha: individual e/ou coletiva.

4.4. Boletins de execução


Figura 17: Tirante com injeção de bancada
Os boletins de execução registra a
Fonte: Acervo Próprio
história de cada tirante.
Por isso é fundamental o preenchimento
4. ELEMENTOS QUE DEVEM ESTAR
correio e completo que são: perfuração,
NA OBRA
montagem, injeção e pretensão.
Para a execução de tirantes, devemos
estar de posse na obra, obrigatoriamente dos
elementos que dizem respeito à execução.

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5.1. Os fios de aço

Tem que chegar na obra com certificado.


O certificado mostra a resistência dele, que
devemos comparar com a resistência marcada
no projeto.

5.2. Espaçadores

A função dos espaçadores é montar os


fios ou cordoalhas separadas entre si, para que
Figura 18: Boletim de montagem, perfuração e por ocasião da injeção, a calda envolva
injeção de Tirantes uniformemente os mesmos na zona de
Fonte: Acervo Próprio ancoragem. Eles são colocados a cada 0,5 metro
de fio/cordoalha ou 2,5 metros em tirante de
barra.
5.3. Bainhas

A bainha pode ser individual, coletiva


ou conjunta. A bainha vai isolar os fios ao longo
do trecho livre, do contato com a calda de
cimento. A bainha individual é um tubo de
plástico que colocamos em cada barra ou em
cada fio do tirante.
A bainha coletiva é um tubo ou
mangueira que envolve o conjunto de todos os
fios simultaneamente.
A bainha conjunta é a utilização das
duas bainhas, individual e coletiva, ao mesmo
tempo.
A bainha também não pode rasgar. Por
isso o tirante deve ser manuseado com cuidado,
principalmente quando for colocado dentro do
furo.

5.4. Massas plásticas

São colocadas na passagem da zona livre


Figura 19: Boletim de protensão para a zona de ancoragem em todos os tirantes,
Fonte: Acervo próprio sejam eles definitivos ou provisórios. No pé do
tirante, colocar a massa plástica somente
5. quando o tirante é definitivo. Em tirante M
MONTAGEM DE UM TIRANTE provisório não é necessário.
PROCEDIMENTO EXECUTIVO
5.5. As tintas
Primeiro, vamos relacionar os materiais
que comporão o tirante: os fios de aço; os Antes da pintura, os fios ou cordoalhas
espaçadores; as bainhas; as massas plásticas; as devem ser limpos cuidadosamente em toda a
tintas; o tubo central, com válvulas de injeção; o superfície para a remoção de áreas de oxidação,
arame. pontos de ferrugem, gorduras e resinas. A

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limpeza deve ser feita por escovamento manual 4. passar a barra, fios ou cordoalhas pêlos
ou escova circular elétrica de chicote, até a espaçadores distanciados a cada 50 cm ou 2,5
remoção total dos resíduos citados. metros na barra. Instalar o tubo de injeção (PVC
Imediatamente após a limpeza, os central) com o tampão de fundo e fixar o
fios/cordoalhas deverão receber a primeira conjunto com o arame. Em seguida, instalar as
demão de tinta. Essa tinta é composta por dois bainhas individuais no trecho livre do tirante,
componentes, mais o solvente. Este solvente, fixando-as firmemente com o arame. Se o
após a mistura dos componentes A e B deverá tirante for definitivo, colocar a bainha coletiva.
ser adicionado na quantidade mínima e A última etapa consiste em fixar e vedar a ponta
gradativamente, o necessário e suficiente, para do tirante e a região que separa a zona livre da
permitir a aplicabilidade na superfície dos zona de ancoragem.
fios/cordoalhas. Não esquecer de retocar os
pontos de apoio dos elementos na bancada. 6. INJEÇÃO DE TIRANTE
Após a lixada leve, quando a tinta da primeira PROCEDIMENTO EXECUTIVO
demão demonstrar pega suficiente, ou seja, ela
não desgrudar da superfície do aço, deverá ser A injeção de tirante serve para transferir
aplicada à segunda demão. a carga por aderência das barras / fios /
Deve-se ler a instrução de uso da tinta cordoalhas ao terreno, além de criar uma capa
constante na parte externa da lata para verificar de proteção adicional à pintura para que eles
o tempo de cura recomendado entre as demãos. não se oxidem com o tempo em contato direto
Nunca um tirante definitivo deverá ser com a água do subsolo.
montado sem que a barra, fios ou cordoalhas Essa etapa de trabalho é executada em
estejam pintadas e curadas. duas fases.

5.6. O tubo central 7. PROTENSÃO DE TIRANTE


PROCEDIMENTO EXECUTIVO
O tubo central, de PVC é a “coluna” ou
“espinha dorsal” do tirante. É ao redor dele que Passados 7 (sete) dias completos da cura
tudo vai ser feito. Ele deve ter o comprimento do cimento injetado (CP-II-E-32) ou 3 (três)
do tirante mais uma sobra para fora. Na zona dias completos quando se utiliza o cimento de
livre, ele é liso. Na zona de ancoragem, ele é alta resistência inicial (CP-V-ARI), o tirante
furado com furadeira elétrica, a cada 500 mm. poderá ser pretendido.
São 8 furos de 6,3 mm. Estes furos vão ser Todo tirante deverá ser testado com uma
cobertos por um tubete de borracha de 100 mm carga maior que aquela na qual efetivamente ele
de comprimento por 2 mm de espessura, com vai trabalhar.
batentes (colarinhos) laterais para evitar o seu
deslocamento ao longo do tubo. 8. CÁLCULO DA ESTABILIDADE DO
Esse tubete é que chamamos de válvula TALUDE:
manchete.
A seqüência de montagem é: Para o cálculo e dimensionamento do
sistema de contenção, levaremos em
1. cortar os fios do tamanho que o projeto consideração o trecho da cortina atirantada que
manda. Prestar atenção para acrescentar possui uma altura de 5,00 m e compreende
(aumentar) o comprimento em mais 1 metro ou 20,00 m de comprimento.
quanto o projeto exigir; Cálculo dos empuxos ativos atuantes:
2. lixar os fios com lixa ou com escova de aço.
Se for cordoalha, limpar bem as frestas; Solo 1: γ (kN/m³) = 1,8
3. pintar os fios com duas demãos de tinta, C (kPA) = 2,0
conforme descrito; ∅ (º) = 26

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Coeficiente de empuxo ativo: 238,10 tf : 35 tf/tirante = 6,80 tirantes
 Ka = 0,390
 √Ka = 0,625 Adotado 16 tirantes - FS= 2,35 - ok!

sha = γ.Z.Ka – 2.C.√Ka + q.Ka


9. CONCLUSÃO
Pressões na cota EL. 99,30 (topo da contenção)
Concluímos que a solução apresentada
sh = – (2 x 2,0 x 0,625) + (8,0 x 0,390) possui coeficiente de segurança acima do
sh = 0,624 tf / m² recomendado na Estabilidade Global e da
Contenção.
Pressões na cota EL. 94,30 (pé da contenção) Na Estabilidade Global, o sistema de
contenção possui um fator de segurança de
sh = (1,8 x 5,0 x 0,390) – (2 x 2,0 x 0,625) + 1,656, após a inserção dos elementos resistentes
(8,0 x 0,390) aos esforços atuantes, como tirantes e estacas.
sh = 4,138 tf / m² Os parâmetros de solo adotados foram os
descriminados acima.
Diagrama das Pressões atuantes: Na Estabilidade da Contenção, os
tirantes estão dimensionados com fator de
segurança de 2,35, também acima do
recomendado que é 2,0. O trecho analisado foi
os 20,00 m de contenção que possui 5,00 m de
altura com 16 da SAS Protensão de Ø 32 mm
de diâmetro CT= 35 tf nos comprimentos
indicados no projeto.

Figura 44: Diagrama de pressões atuantes


Fonte: Acervo Próprio

Empuxos na Contenção:

E1 = 0,624 x 5,00 = 3,120 tf / ml


E2 = 3,514 x 5,00 = 8,785 tf / ml
2,0

Empuxo Total Atuante:


3,120 + 8,785 = 11,905 tf / ml

Comprimento da Cortina: 20,00 m

Empuxo Total:
11,905 tf/m x 20,00 m = 238,10 tf

Para utilização de tirantes da SAS


Protensão – CT= 35 tf,

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